domingo, 31 de julho de 2022

A IMPORTÂNCIA DOS DETALHES

Você já pensou na importância dos detalhes? 
Muitas pessoas falam de moralidade, virtude e bondade, mas são raras as que praticam essas qualidades no dia-a-dia, com as pessoas com as quais convivem. 
Seus olhares geralmente estão voltados para o todo, para a comunidade, mas se esquecem de que o todo é formado pelos indivíduos. 
Para que se possa efetivamente aumentar o bem-estar geral, é preciso iniciar por praticar virtudes como a de responder gentilmente a um familiar ou colega de trabalho, no momento em que este solicita. 
Quem não dá importância aos detalhes, não terá êxito nas grandes coisas, pois as coisas grandiosas são compostas pelas pequeninas. 
Pensando assim, chegaremos à conclusão de que detalhes não existem de fato. 
O que nos parece um detalhe é a parte mais importante, e a que realmente faz a diferença. 
É inegável que a vida se torna mais leve quando somos tratados com pequenos gestos de gentileza, cortesia e atenção. 
Ainda que possam parecer insignificantes as ações benevolentes provocam um efeito semelhante ao que ocorre quando jogamos uma pedra num lago. 
Pequenas ondulações surgem e vão se espalhando pela superfície líquida.
Assim também os pequenos gestos de bondade provocam ondulações no caráter de quem os recebe. 
Essas atitudes têm um grande poder de transformação, pois quem as experimenta se deixa penetrar pelas vibrações agradáveis e tende a repeti-las com as outras pessoas. 
Por isso, se você se importa mesmo com o bem geral, comece por promover a sua melhoria íntima, nos mínimos detalhes. 
Comece a observar suas ações no dia-a-dia e se questione sempre: 
-“Esta minha atitude está contribuindo para que eu me transforme no tipo de pessoa que desejo ser? Minha maneira de agir com as pessoas que cruzam o meu caminho está contribuindo para o bem-estar geral?” 
Um único minuto de atenção que damos a alguém pode significar muito para o bem geral. 
Da mesma forma, uma palavra áspera, a indiferença diante da dor de alguém e a falta de atenção podem gerar dissabor em grande escala. 
Por todas essas razões, se você deseja construir um mundo melhor comece a prestar atenção nos detalhes. 
Olhe para dentro de cada coração e descubra ali os valores existentes e use-os para gerar harmonia e bem-estar. 
Um indivíduo que se sente feliz e valorizado, será, certamente, mais um aliado seu para melhorar o mundo. 
Um aliado que irá, tanto quanto você, vislumbrar o imenso horizonte a ser conquistado, a ser cultivado com as flores da amizade, do respeito e da bondade. 
Quando prestamos atenção nos detalhes e aproveitamos cada oportunidade para fazer o bem, estamos construindo o bem comum.
Agindo assim chegaremos à essência da vida. 
E a essência da vida é o amor. 
Não um amor geral, destituído de significado, mas um amor ativo, criativo e atencioso nos mínimos detalhes. 
* * * 
Todas as pessoas que fizeram e fazem a diferença no mundo, cuidaram dos detalhes. 
Um olhar de ternura, uma resposta gentil, um pequeno favor, a atenção aos que são desprezados pela maioria, são qualidades das pessoas de bem. 
Assim, se desejamos realmente fazer o bem devemos fazê-lo nos mínimos detalhes... 
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.

sábado, 30 de julho de 2022

IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
O diálogo confiante e fraterno vem se tornando raro. 
Muitos são os fatores mas, em síntese, o diálogo escasseia por ausência de entendimento. 
Contudo, ele é tão importante para trocar opiniões, aprofundar ideias, traçar caminhos, esclarecer dúvidas! 
Fator imprescindível no diálogo é a arte de saber ouvir. 
Ouvir com paciência, com interesse, valorizando tudo que o outro expressa. 
Outro ponto fundamental é a simplicidade na expressão do verbo. 
Desde que não se trata de um discurso, as colocações devem ser feitas de forma simples e clara, a fim de gerar simpatia em quem ouve. 
Depende ainda o sucesso do diálogo do desejo de ser útil, não nos esquecendo de que toda pessoa tem algo para ensinar, como resultado de sua experiência individual. 
O diálogo estreita as relações entre pessoas bem educadas, pois cada qual se revela, informando sobre os seus recursos pessoais. 
O diálogo é indispensável para a vida em sociedade. Jesus lecionou com sabedoria a respeito de sua eficácia. 
Quando procurado pela arrogância dos adversários gratuitos, que O desejavam perder, utilizava palavras precisas, não permitindo duplas interpretações. 
Quando buscado pela simplicidade do povo, acudia com parábolas comovedoras, que falavam da realidade daquela gente. 
Lições que sobreviveram aos séculos, ensinaram gerações e prosseguem hoje, com o mesmo vigor, a apontar o caminho reto e seguro para a felicidade. 
Se amigos O procuravam, ouvia-os bondoso. 
Depois, gentil, os esclarecia, usando constantemente uma linguagem perfeitamente compreensível a todos. 
Diante da dor, sabia escutar e participar, chegando às lágrimas mais de uma vez. 
No Seu banquete de fraternidade, participava intensamente de cada momento de cada vida. 
Otimista, usava do verbo para elevar sempre. 
Mesmo na cruz não Se permitiu o receio, dialogando com o equivocado que Lhe solicitava socorro, acenando-Lhe com a possibilidade de reforma.
Expressão do amor puro, manteve diálogo com Sua mãe e João, no Gólgota dos testemunhos. 
* * * 
Estes são dias que exigem diálogos fraternos, objetivos. 
A dor aperta o cerco e falsos conceitos buscam se afirmar no mundo, confundindo os menos avisados. 
É o momento de dialogar sem pressa, auxiliando com o esclarecimento libertador. 
É o momento de conquistar os corações para a paz, em nome de Jesus. 
O diálogo projeta claridade sempre que é realizado em termos elevados.
Utilizando-o, com sabedoria, estaremos fazendo brilhar nossa luz no mundo, em nome da Verdade, exatamente como nos aconselhou Jesus. 
* * * 
A palavra, a serviço da vida, é operária do progresso, da felicidade e do bem geral. 
A boa comunicação resulta da qualidade do tema e da forma como se apresenta. 
Aprendamos a falar com propriedade, evitando gírias, conceitos de duplo sentido, expressões chulas, que somente conduzem à agressividade e ao primitivismo. 
Não falemos apenas por falar. 
Falemos edificando, ajudando, libertando ouvintes. 
Comuniquemo-nos com o próximo irradiando alegria e paz, como fazia Jesus. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 35 do livro Terapêutica de emergência, por Espíritos diversos e cap. 4 do livro Momentos de iluminação, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 12.02.2010.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

O CULTIVADOR

Dolores Bacelar
Havia um homem que cultivava a terra, a plantar um trigal. Vivia debruçado sobre a enxada, do amanhecer ao pôr do sol. Então, juntava-se à família para gozar as delícias do aconchego familiar da esposa e dos filhos. Não importava o tempo que fizesse. Sol, chuva, vento, frio ou calor. Lá estava o homem a amainar a terra, a libertá-la das ervas daninhas, a providenciar o adubo, colocar a semente na intimidade da cova, providenciar a água. Aquela atividade contínua despertou o interesse de um viajante que por ali transitava com regularidade. E, certo dia, o viajante se aproximou do cultivador e lhe perguntou: 
-Bom homem, vejo que estás velho e cansado. Por que não descansas dessa lida tão rude? 
Sem se deter, o agricultor respondeu: 
-Não posso. Amo a terra. Amo meu trabalho. E por estar velho e cansado devo andar mais depressa. Tenho menos tempo a dispor e muito a fazer.
O viajante alongou a vista pelo imenso trigal, que balançava ao vento como mar de ouro líquido e comentou: 
-A terra recompensa o teu amor. O trigal está maravilhoso e será produtiva a colheita. 
- Mas não sou eu quem colhe, respondeu o agricultor. Eu apenas planto. Minha mulher e meus filhos é que fazem a colheita da generosidade do solo. 
O viajante se despediu e seguiu o seu caminho. Necessitando empreender uma grande viagem, ausentou-se por vários meses. Retornando, ao passar pela mesma estrada, encontrou o homem às voltas com a sua lavoura. Era uma tarde fria, sem sol. A natureza toda parecia chorar, desanimada. O viajante se aproximou do trabalhador incansável e observou que sulcos profundos lhe vincavam a face. Estava mais cansado, envelhecido e triste. Vestia-se de luto. 
-Perdeste algum ente querido? - perguntou. 
O cultivador, com voz arrastada, respondeu: 
-Perdi, senhor. Toda minha família. Em poucas semanas, um a um se foram, devorados por febre maligna. Fiquei sozinho. 
O viajante se comoveu com tanta dor. Entretanto, por observá-lo ainda a trabalhar, sem descanso, na terra, ousou indagar: 
-Se toda tua família morreu, por que continuas nesta tarefa cansativa? Já não tens mais quem colha os frutos. Semeias o trigo, mas nem tua mulher, nem teus filhos irão colher as espigas maduras. 
-Ah, senhor, respondeu o outro, parando por um instante seu trabalho. Isto não me preocupa. Prosseguirei plantando. Quem necessite, virá colher o trigo farto. E são tantos os que têm necessidades. 
Surpreso pelo desprendimento do camponês, o viajante concluiu: 
-Tens razão, bom homem. Oxalá fossem muitos como tu, a plantar sem esperar a colheita. 
A noite descerrou seu manto e tudo escureceu. Naquela noite, o agricultor se recolheu com a alma invadida por intensa saudade. Recostou-se no leito e dormiu. Despertou, logo além, em um trigal pleno de luz, onde o aguardavam seus amores, felizes, de braços abertos, para juntos ficarem sem mais separação. E todos eles guardavam o coração repleto de satisfação e alegria, por terem cumprido com seus deveres perante o próximo e perante Deus. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O cultivador, do livro À sombra do olmeiro, pelo Espírito Um jardineiro, psicografia de Dolores Bacelar, ed. Correio Fraterno do ABC. 
Em 29.7.2022.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

ROGATIVA DO CULPADO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Caro amigo: 
Desejo pedir perdão pelo mal que te fiz. Infelizmente, naquela ocasião, eu me encontrava infeliz, mal comigo mesmo, sem a capacidade de discernir entre o bem e o mal. O que deveria e o que não deveria fazer. Reconheço que te magoei com a minha insolência e desequilíbrio, te causando sofrimentos desnecessários. Aprendi a lição da dignidade, após atravessar os caminhos sombrios do remorso, procurando reparar a culpa, tentando reabilitar-me através das boas ações, a fim de me encorajar a te pedir perdão. Reconheço que é mais infeliz aquele que acusa indevidamente, aquele que comete o erro de ofender o outro do que a sua vítima. Quando o ofendido supera a situação deplorável, se eleva no rumo da iluminação, enquanto o seu adversário mergulha no abismo do desequilíbrio, assinalado pela culpa de que não se consegue libertar. Tem piedade, portanto, de mim, conforme hoje dou-me conta da própria inferioridade. Sei que não será fácil compreender tudo quanto sinto e gostaria de te dizer... No entanto, prossegue na tua jornada, olhando para trás e estendendo a mão para mim, em socorro, eu que me encontro na retaguarda. Desejo, porém, que saibas quanto estou feliz por poder haver chegado a esta conclusão, a este momento, conseguindo te dizer, embora em poucas palavras, o que me vai na alma, reabilitando-me, pelo menos um pouco, do mal que te fiz. 
* * * 
Pedir perdão é vencer uma grande batalha dentro de nós. 
É vencer o orgulho que, sempre, através das épocas, foi vencedor em nossa intimidade desequilibrada. 
Pedir perdão, de coração, é grande passo na conquista do acerto final e completo com as Leis Divinas. 
Há humildade em tal pedido. 
Também sabedoria. 
Baixar a fronte. 
Reconhecer-se imperfeito, porém, perfectível, mutável. 
Se pedíssemos perdão mais vezes, certamente seríamos mais felizes. 
O pedido de perdão verdadeiro nos faz mais fortes, porque com ele vem o reconhecimento do erro, e a autoproposta de não mais errar. 
No pedido de perdão vem o desejo do bem ao outro. 
Desejo exatamente oposto àquele que gerou toda a situação desastrosa entre as almas de um e de outro. 
Por carregar tal aspiração, representa grande vitória do bem contra o mal.
Dessa forma, ao reconhecer que magoamos alguém, que prejudicamos alguém, disponhamo-nos a pedir perdão. 
Procuremos o outro e, de alguma forma, demonstremos que estamos cientes do erro, que nos arrependemos do que dissemos, ou fizemos em seu prejuízo e que, agora, somente lhe desejamos o bem. Não esperemos contrapartida. 
A vitória de quem sabe pedir perdão está dentro de si mesmo, e não depende da aceitação da outra parte. 
Eventualmente, o outro não estará preparado ou disposto a nos conceder o perdão. 
Isso, na essência, não importa. 
A nós, compete reconhecer o erro, pedir perdão, estabelecer o propósito de não tornar a cometer a mesma falta. 
Finalmente, dependendo do que tenhamos dito ou feito, nos disponhamos a reparar o mal que tenhamos causado. 
Quando tomarmos essa decisão, estaremos no início da grande jornada da felicidade, que é a paz de uma consciência íntegra. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, do livro O amor como solução, pelo Espírito Joanna de Ângelis, Psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 27.7.2022.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

A IMPORTÂNCIA DE UM DIA

Um dia é uma unidade de tempo que transcorre, em determinada região da Terra, entre o instante do nascer do sol e o do seu ocaso. 
Um intervalo igual a vinte e quatro horas. 
É uma medida interessante que define coisas importantes para nossas vidas. 
Vejamos que foi um dia que Colombo resolveu empreender a viagem que desvelou o caminho para a América.  Foi um momento de quebra de fronteiras, pois o homem começou a explorar o Oceano Atlântico. 
Foi um dia que Gandhi decidiu que seu povo deveria ficar liberto do jugo estrangeiro e iniciou sua campanha da não violência, até alcançar o seu intento. 
Foi um dia que Martin Luther King organizou e liderou a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, reunindo mais de duzentas e cinquenta mil pessoas. 
Foi um dia que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a vergonha da escravidão em nosso país. 
Foi um dia que o Divino Pastor decidiu nascer entre os Seus tutelados, abandonando as estrelas, peregrinando no mundo terreno. 
Foi um dia que Verônica deixou as terras de Cesareia de Filipe, em busca da cura de seu terrível mal. 
Foi um dia que chegou a Cafarnaum, encontrou o Mestre, recebendo a cura do corpo e o convite para sua renovação espiritual. 
Foi um dia que o médium mineiro escreveu a primeira página psicográfica, iniciando sua produção mediúnica, que foi além de quatrocentos livros de consolo e esclarecimento. 
Foi um dia que o templo religioso que frequenta teve lançada a sua pedra fundamental. 
Foi um dia... 
Foi um dia que adentramos a escola, para ilustrar a nossa inteligência e aprender a respeito do mundo, suas leis, nossos direitos e deveres. 
Foi um dia que iniciamos a nossa atividade profissional, inseguros, incipientes, para nos engrandecermos na carreira de aprendizado e serviço ao próximo. 
Foi um dia que nos tornamos pais e mães, recebendo do Criador a especial incumbência de orientar, na Terra, um dos Seus espíritos. 
Neste planeta, tudo é assim. 
Começa um dia. 
Um dia plantamos, no outro regamos, adubamos, aguardamos a floração.
Colhemos os frutos. Importante é nos darmos conta de que nas vinte e quatro horas de um dia, nossa vida pode se alterar. 
Podemos mudar nossos rumos, definir a carreira profissional, buscar ajuda e nos libertarmos da sombra que nos envolve. 
Um dia. 
Vinte e quatro horas de oportunidades. 
Enquanto disponhamos dessas horas, nos sirvamos delas, para crescer intelectual e espiritualmente. 
Desejando os benefícios do amanhã, espalhemos o bom, o útil no dia de hoje. 
Não deixemos escoar os minutos, sem nada fazer. 
Podemos observar o cenário da natureza e descobrir as suas maravilhas, nos encantando. 
Podemos tomar de um livro, realizar uma pesquisa e aprender algo novo. Podemos assistir a um filme e extrair lições. 
Podemos olhar ao redor e descobrir onde a nossa mão de obra se faz necessária para melhorar o panorama geral do mundo. 
Um dia... 
Que não percamos o dia de hoje, com sua riqueza de segundos, minutos, horas. 
Porque, exatamente como as águas do rio que se vão, o dia de hoje jamais retornará. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Um dia, do Espírito Isabel de Castro, do livro Falando à Terra, por diversos Espíritos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 22.4.2022.

terça-feira, 26 de julho de 2022

SEM LIMITAÇÕES

RAQUEL BUENO
Quantas vezes reclamamos por ter muito trabalho? 
Ter peso a carregar? 
Ter alguma coisa mais difícil para elaborar?
É comum que nos afirmemos incapazes de realizar isso ou aquilo. 
Quer dizer: damo-nos por vencidos, antes mesmo de tentar, de batalhar para conseguir. 
Muitas pessoas, no entanto, nos dão exemplos de que para quem deseja, nenhum obstáculo é bastante forte para impedir o alcance do objetivo.
Recordamos Beethoven que, totalmente surdo, compôs oito das suas sinfonias. É um testemunho do triunfo do Espírito sobre a matéria.
Ravel compôs um concerto de piano para a mão esquerda, especialmente dedicado a um pianista amigo que perdera a mão direita na guerra. 
Um dos mais extraordinários exemplos de triunfo sobre a matéria nos dá o polonês Arystarch Kaszkurewicz. Poucos devem ter ouvido falar a respeito desse homem ímpar que morreu, no ano de 1989, no anonimato, em São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo. Dedicou-se à arte sacra, notadamente à arte de vitrais, mosaicos e afrescos. Também fez cerca de vinte vitrais contando a História da Colonização do Brasil. Sua arte está espalhada em dezenas de igrejas, templos, basílicas e hospitais pelo país. Uma autora o chamou de O arquiteto dos deuses. A História desse artista poderia ser como tantas outras não fosse pela peculiaridade com que se desenrolou. Arystarch era pós-graduado em Direito em Varsóvia e cursou Belas Artes na Alemanha. Nascido em 1912, durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu a perda das duas mãos e do olho esquerdo, em consequência da explosão de uma granada. A limitação física e a perseguição aos poloneses fizeram com que ele escolhesse o Brasil para continuar vivendo com sua esposa e seu filho. Desejava reconstruir sua vida. Na época, havia um decreto em nosso país proibindo a imigração de deficientes físicos. O país precisava de mãos laboriosas para a produção. Foi por intervenção de uma instituição religiosa alemã que, em 1952, o presidente Getúlio Vargas lhe deu a autorização. Ele desembarcou no porto de Santos com a reduzida família e se fixou, posteriormente, em São Bernardo do Campo. A princípio, trabalhou como empregado em uma casa especializada em vitrais. Somente pedia uma coisa: que lhe arregaçassem as mangas. Usava os tocos dos dois pulsos para segurar o lápis, a caneta, o pincel e trabalhava com rapidez. Peregrinou por todo o país, que adotou como lar, espalhando a beleza e a esperança, através de sua arte. Avesso à publicidade, morreu no anonimato. A poesia dos seus vitrais encanta as criaturas, mesmo que suas obras não tragam sua assinatura. 
* * * 
Não nos deixemos abater pelas tempestades da vida. 
Se temos um corpo perfeito, pensemos em quantos gostariam de usufruir dessa ventura. 
E, mesmo em suas limitações, se encantam pela vida e deixam a sua poesia, a sua alegria e a sua esperança para que outros com elas se felicitem. 
Limitados, se superam. 
Mutilados, afirmam com sua obra que o Espírito é soberano, senhor do corpo a quem governa. 
Pensemos nisso e não nos permitamos deixar de produzir o bem, o bom, o belo. 
Redação do Momento Espírita, com base na biografia de Arystarch Kaszkurewicz, do livro Arystarch, o arquiteto dos deuses, de Raquel Bueno. 
Em 25.7.2022.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

A IMPORTÂNCIA DA INFÂNCIA

RAUL TEIXEIRA
Qual a utilidade da infância para o Espírito que retorna à Terra através da reencarnação? 
Por que, como seres humanos, temos uma infância tão longa, comparada a todos os animais irracionais? 
A resposta a estas perguntas tem nuances muito interessantes e importantes para nossa vida. 
Primeiramente precisamos compreender que esse ser pequenino, que os genitores conduzem em seus braços carinhosos, não passa de milenário viajor da evolução para o Criador. 
Sim, exatamente: um Espírito imortal que volta ao orbe terrestre com objetivos muito claros, envolvendo a autossuperação, a reestruturação do caráter moral e abrilhantamento intelectual. Este ser passa sempre por um processo de esquecimento do passado, recebendo a nova existência como uma nova oportunidade. 
É um verdadeiro começar de novo. 
Renasce desprotegido, totalmente dependente, inspirando cuidados e amor a todos que estão ao seu redor. 
Para não lhe impor uma severidade muito grande, Deus lhe dá todo o toque da inocência. 
Essa inocência não é uma superioridade real sobre o que era antes. Não, é a imagem do que deveria ser. 
E a bondade e beleza dos desígnios divinos não param por aí, pois não é apenas por esse ser que o Criador lhe dá esse aspecto. 
É também e, principalmente, por seus pais, cujo amor é necessário para sua fragilidade. 
Esse amor seria notoriamente enfraquecido frente a um caráter impertinente e rude, ao passo que, ao acreditar que seus filhos são bons e dóceis, os pais lhes dão toda afeição e os rodeiam com os mais atenciosos cuidados. 
Ainda há uma segunda razão, uma segunda utilidade para o período conhecido como infância. 
O Espírito, encarnado para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento. 
A criança é verdadeira esponja a sorver tudo o que acontece à sua volta.
Através dos exemplos que recebe, molda sua nova personalidade com características saudáveis ou não. 
O que virem como usual no comportamento dos progenitores e tutores, tomarão para si com facilidade muito grande. Imitarão o palavreado, os gestos e as atitudes frente a esta ou aquela situação.
É desta forma que aqueles que estão encarregados de sua educação desempenham um papel fundamental. 
Assim, eis a séria advertência do Espiritismo aos pais e educadores:
Desde pequenina, a criança manifesta os instintos bons ou maus, que traz da sua existência anterior. 
A estudá-los devem os pais aplicar-se. 
Todos os males se originam do egoísmo e do orgulho. 
Espreitem, pois, os pais os menores indícios reveladores do gérmen de tais vícios, e cuidem de combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas. 
Façam como o bom jardineiro, que corta os brotos defeituosos à medida que os vê apontar na árvore. 
Redação do Momento Espírita, com base nos itens 383 e 385 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB; no cap. XIV, item 9, do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB e na pt. 1, do livro Desafios da educação, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 23.1.2019.

domingo, 24 de julho de 2022

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA

Andando com pressa, esbarrei em um estranho. Reconhecendo minha imprudência, voltei-me e lhe pedi que me perdoasse. De imediato, ele respondeu: 
-Desculpe-me, por favor, também não o vi. 
Fomos muito educados um com o outro. Sorrimos e demos prosseguimento ao nosso caminho. Mais tarde, em casa, envolvido em tarefas, pensava no ocorrido, em como me comportara de forma tão urbana. Imerso nessas reflexões, não percebi meu filho de apenas sete anos, que se aproximou e se postou atrás de mim. Ao me virar, assustei-me, quase o derrubei e acabei gritando com ele, que se retirou triste. E nem me dei conta de como agira de forma equivocada. Foi depois que vi umas flores lindas no chão, perto da porta, que algo me tocou. 
Pensei: 
-Fui tão gentil com o estranho na rua, e tão ríspido com meu filho em casa.
Recolhi as flores e o procurei para me desculpar. Mas foi ele quem falou primeiro, se escusando, dizendo que entrara de mansinho para me surpreender. Senti-me mal e constrangido. 
-Tudo bem, disse, abraçando-me, amo você de qualquer jeito. 
Foi nesse momento que decidi valorizar mais aqueles amores que Deus colocou ao meu lado, na formação do valioso grupo familiar. 
* * * 
A família é referência fundamental para qualquer criança. 
É o seu primeiro espaço de convivência. 
O mundo se transforma constantemente, os conceitos mudam, os valores se alteram, mas nada destrói a importância da família. 
Não importa qual seja a sua aparência, a sua formação, o seu ritmo, é na família que se aprende e se fortalecem os valores éticos. 
É onde se vivem sagradas experiências afetivas, emocionais e morais. 
É o primeiro espaço que ocupamos no mundo, e nada a substituirá em nossos corações. 
Verdadeiro ninho de sobrevivência e proteção onde o grupo cria e alimenta laços de estima insuperável, capaz de promover a solidariedade e instaurar as bases do amor. 
É no seio familiar que se faz a transmissão de valores, costumes e tradições de um clã. 
Quando se realiza uma boa educação dentro do lar, seus elementos levarão consigo uma base sólida e segura para os desafios da sociedade.
Mesmo com os problemas que ocorrem cotidianamente, é junto da família que construímos a fortaleza que nos protegerá e sustentará nas lutas da vida. 
Sem a família, com toda a importância que representa para as criaturas, o mundo seria um verdadeiro caos. 
O diálogo, a amizade, o carinho familiar conferem a estrutura emocional para uma vida repleta de bons sentimentos e o cultivo das virtudes que tanto nos enriquecem. 
Podemos afirmar que a família é a esperança sempre viva para uma Humanidade melhorada. 
É a instituição capaz de solidificar atitudes afetivas e sentimentos mais profundos e significativos. 
Reveste-se de especial importância por seu valor inestimável. 
Ao reunirmos nossos amores no recinto familiar não percamos a oportunidade de lhes declararmos nosso amor, carinho e respeito. 
E, em nossas orações, agradecidos a Deus, peçamos a bênção suprema para a nossa maior riqueza na face da Terra. 
Valorizemos agora e sempre, a nossa família! 
Redação do Momento Espírita 
Em 29.1.2018.

sábado, 23 de julho de 2022

A IMPIEDADE

A falta de piedade e de indulgência na apreciação do comportamento dos outros, tem causado infelicidade e desgosto na vida de muitas pessoas.
Um dia desses uma senhora narrava o seu desconforto, quando percebia os comentários ácidos a seu respeito, quando ela e o marido buscavam os primeiros lugares para se sentar, nos eventos de que participavam. 
Ela, uma senhora muito jovial, sempre sorridente, simpática e cordial, é portadora de uma deficiência auditiva grave.
Mesmo com a ajuda dos aparelhos precisa da leitura labial para entender o que as pessoas falam. 
É esse o motivo pelo qual sempre busca os primeiros lugares, e o esposo lhe faz companhia. 
Na tentativa de evitar os comentários maldosos, ela costumava se justificar, sempre que havia alguém por perto, quando ia se sentar na primeira fila. 
Com o passar do tempo, notou que não bastava dar satisfação a uns, pois sempre restava alguém para comentar maldosamente a sua atitude. 
Como o casal se tornou conhecido em muitos dos lugares que frequenta, é comum encontrar duas poltronas reservadas, bem à frente, para se sentar.
E isso incomoda os impiedosos de plantão. 
Mais uma vez temos que dar razão a Jesus, quando recomendou o "Não julgueis". 
Quem desconhece todos os porquês das atitudes de cada pessoa, e estabelece julgamentos precipitados e maldosos, acaba agindo com impiedade e injustiça. 
Foi o que ocorreu com uma jovem cantora, portadora de deficiência visual, que se apresentava num restaurante. 
Um cliente, que simpatizou com a moça, passou a fazer gestos de aprovação e a lhe mostrar, vez ou outra, um copo com bebida, oferecendo-lhe um drinque. 
Como a moça não demonstrava nenhum sinal de interesse ou agradecimento, ao final da apresentação, ele foi até o palco e despejou um copo de bebida com pedras de gelo sobre os pés dela, e falou: 
-Isto é para você deixar de ser mal-educada e indiferente aos meus galanteios! 
A moça, que não sabia o que estava acontecendo, saiu tateando, assustada, em busca de alguém que a ajudasse a entender a situação. 
E o rapaz, só depois do vexame, se deu conta de que a cantora não era mal-educada, nem indiferente, apenas não podia vê-lo. 
Casos como esses nos levam a refletir sobre como somos impiedosos ao julgar indivíduos que desconhecemos. 
Não seria mais justo e coerente não julgar? 
E o que é mais lamentável é que mesmo percebendo que fomos injustos e impiedosos, dificilmente pedimos desculpas. 
A consciência nos acusa, mas o orgulho nos impede o gesto de humildade. 
E o orgulhoso sofre mais, não há dúvida. 
Ele prefere a autopunição, com enfermidades variadas, a um pedido sincero de perdão. 
É mais fácil para o orgulhoso amargar uma doença, causada pela consciência de culpa, do que reconhecer que falhou na apreciação de pessoas ou situações. 
E como a consciência nos acompanha dia e noite, e não podemos fazê-la calar-se, é preciso ouvi-la com mais atenção. 
* * * 
Procure observar o mundo com olhos de fraternidade, de piedade, de compaixão. 
Considere que as aparências podem nos enganar, muitas e muitas vezes.
Para construir um mundo onde a felicidade esteja mais presente, é preciso corrigir o nosso olhar e a nossa forma de apreciação de pessoas e situações. 
Pensemos nisso, sempre que a tentação de julgar os outros se apresentar.
Redação do Momento Espírita, com base em fatos. 
Em 23.5.2018.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

SEGURANÇA ÍNTIMA

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Todos, neste mundo, desejamos viver com tranquilidade mas, nem sempre conseguimos. 
No entanto, observamos que algumas pessoas, que convivem conosco, demonstram grande segurança interior, o que lhes confere tranquilidade.
Recebem impactos dolorosos sem desespero. 
Enfrentam obstáculos grandiosos sem alterar o humor. 
De certa forma, as invejamos. 
Gostaríamos de poder ser como elas. 
Em verdade, podemos. 
Existem pequenas regras que, se observadas, nos auxiliarão a construir essa segurança íntima. 
Primeira: comecemos a edificação da paz em nós, observando que precisamos pensar por nós mesmos, embora as influências das ideias alheias. 
Segunda: aceitemo-nos como parcelas da imensa família humana, verificando que os nossos percalços não são maiores que os dos outros.
Terceira: compreendamos que, por sermos Espíritos imperfeitos, não estamos isentos de cometer determinados erros. Erros que nos devem convidar a parar e reexaminar ações. 
Quarta: aprendamos que a estrada dos nossos entes queridos pode ser muito diferente da nossa. Não desejemos para eles o que a vida não lhes oferece. 
Quinta: saibamos zelar pela condução da nossa vida, sem interferir na do próximo, desde que cada viajor, no carro da existência, tem seu próprio roteiro. 
Sexta: auxiliemos os familiares, nos contratempos que lhes surjam, assim como desejamos ser amparados, na nossa marcha. 
Sétima: afastemo-nos dos julgamentos precipitados e das condenações indevidas. 
Oitava: compreendamos que cada criatura é um ser individual, com seus anseios, compromissos, conquistas, virtudes e paixões, e nos abstenhamos de impor condições ou exigir que tenham conosco essa ou aquela postura. 
Nona: reflitamos que compete a cada um de nós proteger seu próprio corpo. Dessa forma, não provoquemos desastres que nos ameacem ou ameacem aos outros. 
Respeitemos em cada ser vivo uma obra da Criação. 
Optemos pela simplicidade no cotidiano. 
Estejamos atentos às pequenas coisas pois, em síntese, são elas que promovem a nossa felicidade hoje, e no futuro. 
Construamos o nosso refúgio de serenidade, permitindo-nos usufruir das experiências, sem abalos que nos façam sucumbir à tristeza, desânimo ou desespero.
* * * 
A serenidade não é uma aquisição espiritual que se possa conseguir num toque de mágica. 
É fruto do trabalho perseverante da paciência em ação. 
É fruto da constância nos bons pensamentos, nos bons propósitos, do exercício das boas ações. 
Ninguém possui a serenidade que não construiu. 
Por isso, é necessária a vigilância em nós mesmos. 
Não dramatizemos nossos problemas pessoais. 
Não sejamos arautos de calamidades e desgraças. 
Protejamos nossos ouvidos do veneno dos boatos. 
Aprendamos a ouvi-los e esquecê-los, não nos permitindo passar adiante, porque a ninguém beneficiam. 
Ante pressentimentos de ocorrências infelizes, silenciemos. 
Sirvamo-nos da oração e vibremos pela nossa e pela paz alheia.
Adquiramos segurança íntima, a pouco e pouco. 
Serenidade para nosso viver. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Segurança íntima e no cap. Mantendo a serenidade, do livro Calma, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. GEEM. 
Em 22.7.2022.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

IMPERMANÊNCIA

Vinicius de Moraes
Refletindo sobre a brevidade da vida, escreveu certa feita o poeta Vinícius de Moraes, um poema que intitulou Poema de Natal: 
Para isso fomos feitos: para lembrar e ser lembrados. 
Para chorar e fazer chorar - para enterrar os nossos mortos. 
Por isso temos braços longos para os adeuses, mãos para colher o que foi dado, dedos para cavar a terra. 
Assim será a nossa vida: uma tarde sempre a esquecer, uma estrela a se apagar na treva, um caminho entre dois túmulos.
Por isso precisamos velar, falar baixo, pisar leve, ver a noite dormir em silêncio. 
Não há muito o que dizer: uma canção sobre um berço, um verso, talvez de amor, uma prece por quem se vai. 
Mas, que essa hora não esqueça e que por ela os nossos corações se deixem, graves e simples. 
Pois para isso fomos feitos: para a esperança no milagre, 
Para a participação da poesia, para ver a face da morte. 
De repente, nunca mais esperaremos... 
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas nascemos, imensamente. 
* * * 
Que sentimento nasce em nós quando pensamos sobre a brevidade da vida? 
Será de tristeza, melancolia ou de entendimento e paz? 
Somente a plena noção, ou mesmo convicção da imortalidade é que nos permite entender essa brevidade. 
Embora Espíritos imortais que somos, estamos vivendo apenas por uma temporada em uma casa mortal: o nosso corpo. 
E aqui, nesta morada, todas as coisas são fugidias, não perenes, passageiras. 
Nosso olhar sobre a brevidade da vida nos permite compreender que tudo o que é externo a esse olhar, se acaba, tem fim. 
Da mesma forma que aquilo que guardamos dentro d’alma permanece.
Assim entendendo a vida, os adeuses se transformam em até breve. 
As dores, em pequenas lições de um aprendizado que se constrói de forma paulatina. 
Os embates que a vida exige, exercícios a nos conferir fibra e virtudes.
Tudo na vida, daquilo que se guarda na intimidade, permanece. 
Tudo o mais, terá a perenidade de uma existência. 
Por isso, o sábio conselho de Jesus, para que não nos detenhamos a juntar os tesouros da Terra porque são breves, o ladrão leva, a ferrugem corrói, as traças consomem. 
Dessa forma, não são coerentes os esforços despendidos apenas para ajuntar tesouros que nos servirão por curto período de tempo. 
Tesouros que deixaremos quando retornarmos ao verdadeiro lar. 
Portanto, não nos aflijamos ante a impermanência da vida física. 
Ela é, somente, o intervalo entre dois túmulos, reflete o poeta. 
Logo mais retornaremos à casa. 
Lá estarão nossos amores que chegaram antes de nós. 
E lá igualmente ficaremos aguardando outros que virão, concluída sua própria missão. 
Com a morte, despertaremos para nova realidade. 
Por isso, vivamos intensamente as oportunidades da vida, na certeza de que ela sempre será pródiga, generosa, justa e amorosa no que nos oferta. 
Também no entendimento de que tudo será breve, porque breve é nossa passagem pelo planeta, por mais se alonguem os anos da nossa vida física. 
Amanhã, logo mais, estaremos de retorno ao lar paterno. 
Redação do Momento Espírita, com versos do Poema de Natal, de Vinícius de Moraes. 
Em 27.6.2016

quarta-feira, 20 de julho de 2022

A ARTE DE RESOLVER CONFLITOS

Christina Feldman
O trem atravessava, sacolejando, os subúrbios de Tóquio, numa modorrenta tarde de primavera. Chegando a uma estação, as portas se abriram e a quietude foi rompida por um homem que entrou gritando, com violência, palavras sem nexo. Era um homem forte. Estava bêbado e imundo. Cambaleando, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia. Felizmente nada aconteceu ao bebê. Demonstrando toda sua fúria, agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la. Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava. O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo. Um jovem lutador de aikido, em excelente forma física, resolveu agir porque considerou que havia pessoas em perigo. Em seu treinamento, ele aprendera que não deveria lutar, porque aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o Universo. Mas, no fundo do coração, ele desejava uma oportunidade legítima em que pudesse testar suas habilidades marciais, salvar os inocentes, destruir os culpados. Levantou-se e foi na direção do homem furioso, que logo percebeu a chance de canalizar a sua ira. 
-Você vai levar uma lição - esbravejou o perturbado passageiro. 
E se preparou para atacar. Mas, antes que pudesse se mexer, alguém deu um grito: 
-Ei! 
O jovem e o bêbado olharam para um velhinho japonês, sentado em um dos bancos. Devia ter mais de setenta anos. Sorriu e, como se tivesse um importante segredo para contar, convidou: 
-Venha aqui. Venha conversar comigo. 
O homenzarrão obedeceu, mas perguntou com aspereza: 
-Por que devo conversar com você? 
O velhinho continuou sorrindo. 
-O que você andou bebendo? - perguntou, com olhar interessado. 
- Não é da sua conta! – rosnou o embriagado. 
Com muita ternura, o velhinho começou a falar da sua vida, do afeto que sentia pela esposa, das tardes em que sentavam num velho banco de madeira, no jardim, um ao lado do outro. 
- Ficamos olhando o pôr do sol e vendo como está crescendo o nosso caquizeiro, comentou. 
Pouco a pouco o criador do tumulto foi relaxando e disse: 
-É, é bom. Eu também gosto de caqui... 
-São deliciosos, concordou o velho, sorrindo. E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa. 
-Não, falou o operário. Minha esposa morreu. 
-Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar. 
-Eu não tenho esposa, não tenho casa, não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo. 
Lágrimas escorriam pelo seu rosto. O jovem lutador ficou ali, ouvindo e assistindo àquela cena inusitada. O trem chegou à outra estação e ele desceu. Voltou-se para dar uma última olhada. O homem furioso estava deitado no banco, com a cabeça no colo do velhinho, que afagava seus cabelos emaranhados e suarentos. Enquanto o trem se afastava, o jovem ficou meditando... 
-O que pretendia resolver pela força foi alcançado com algumas palavras meigas. 
Nesse dia, ele aprendeu, através de uma lição viva, a arte de resolver conflitos. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto do livro Histórias da alma, histórias do coração, de Christina Feldman e Jack Kornfield, ed. Pioneira. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. 
Em 20.7.2022.

terça-feira, 19 de julho de 2022

O LIMITE DE CADA UM

O garoto olhava as gotas de chuva que batiam suavemente na janela. Embora seu olhar estivesse fixo, a mãe podia perceber que seu pensamento estava muito distante. Aproximou-se e acariciando-lhe os cabelos, perguntou: 
-Que está acontecendo, meu filho? O que preocupa você? 
Ele continuou calado. Ela o abraçou e esperou que ele mesmo começasse a falar. Não tardou para que ele ficasse um tanto inquieto entre os braços da mãe e dissesse, sem levantar os olhos: 
-Não quero participar da apresentação do teatro este ano. 
A mãe se sentou e colocou o pequenino no seu colo. 
-Por que, meu filho? Você acha que não vai ser legal? 
Balançando a cabeça timidamente, ele respondeu: 
-Sei que é legal. É que um dos meus colegas disse que eu nunca vou conseguir decorar todas as falas. 
A mãe estreitou o menino e disse com ternura: 
-E você, meu filho? Concorda com ele? Acredita que não será capaz de decorar as falas? 
Seu tom de voz era sereno. O menino levantou os olhos e encontrou os da mãe que o fitavam carinhosamente. 
-Sabe, durante sua vida, muitas pessoas vão tentar convencê-lo a respeito do que você pode ou não pode fazer. Tentarão fazer acreditar que elas sabem mais de você do que você mesmo. Dirão muitas coisas legais, e outras muito chatas. Na maior parte das vezes, essas pessoas poderão estar fazendo isso por inveja, por ciúme, ou por simples ignorância. Elas não têm como saber tudo, nem como conhecer profundamente os outros. Muitas apenas falam por falar, ou para magoar. O importante, meu filho, é que você tenha a capacidade de não se influenciar por essas palavras. Se elas são certas, ou não, somente você poderá dizer. O seu limite apenas você é capaz de estabelecer. Você, somente você, pode dizer aonde seu trabalho e seu esforço poderão lhe fazer chegar. 
Os olhos do garoto estavam cheios de lágrimas, emocionado pela confiança transmitida. Beijou suavemente o rosto da mãe e agradeceu sorrindo pela mensagem que haveria de ficar para sempre gravada em seu coração. 
* * * 
É bastante comum as pessoas manifestarem suas impressões a nosso respeito. 
Algumas o fazem, com tamanha convicção, que parecem ser desbravadores do continente da nossa alma. 
Elas se consideram peritas em julgamento e apreciam apontar os destinos alheios, como se fossem profetas legítimos das suas vidas. 
O que nos cabe é não lhes dar crédito. Importante é que nos mantenhamos firmes em nossas convicções, em nossos anseios, reconhecendo as nossas capacidades. 
Quem poderá nos dizer que não conseguiremos algum feito, se ainda não tentamos realizá-lo? 
Quem poderá saber dos nossos limites, da nossa resistência, da nossa vontade? 
Dessa forma, não devemos abandonar nossos ideais, nossos sonhos, em função de pareceres sem sentido. 
Prossigamos com garra e determinação. 
Nossas fragilidades poderão ser motivo de mais empenho e dedicação, mas nunca fatores impeditivos impostos por terceiros. 
Somente nós podemos determinar a fronteira das nossas limitações.
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita 
Em 18.7.2022.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

IMPERFEIÇÃO

As faculdades intelectuais distinguem o homem no contexto da criação.
Diferente das demais espécies vivas, ele reflete sobre o significado da vida. 
Um questionamento sempre presente na história da humanidade refere-se à finalidade do viver. 
Em todos os tempos, sábios debruçaram-se sobre essa intrincada questão. 
O Espiritismo, com base no ensinamento dos Espíritos, afirma que o objetivo da vida é viabilizar a evolução dos seres. 
A vida é regida pela lei do progresso. 
É inegável a permanente metamorfose que vigora em todos os quadrantes conhecidos do universo. 
Gradualmente, as espécies animais e vegetais se transformam e surgem aprimoradas. 
Com o homem não é diferente. 
Ele está sempre em processo de aprendizado e crescimento. 
A sociedade humana reflete esse lento elaborar. 
As leis culturais e as instituições lentamente se aprimoram. 
A extinção da escravidão e o reconhecimento da igualdade da mulher são exemplos dessa evolução. 
Os homens, em sua condição de espíritos, foram criados em estado de simplicidade e ignorância. 
Mas possuem desde o princípio os germens de todas as virtudes, que lhes incumbe desenvolver. 
Um dia todos serão anjos. 
Frequentemente, surge a indagação:
-“Se Deus pode tudo, por que não criou os Espíritos já perfeitos? Afinal, o processo de evoluir por vezes é deveras penoso. Não seria melhor de outro modo?” 
Deus, em sua sabedoria, manifestada em todas as coisas, optou por nos criar perfectíveis, mas não perfeitos. 
Constitui temeridade afirmar a razão pela qual a divindade deliberou agir de uma forma, e não de outra. 
Entretanto, nada nos impede de refletir sobre isso. 
O resultado da perfeição imediata, generalizada e desde o princípio seria o ócio total. 
Seres perfeitos, plenos de virtudes e talentos, nada teriam para fazer.
A obra da criação estaria completa, perfeita, acabada.
Aos anjos restaria a inutilidade. 
Nada fazer talvez seja o sonho do preguiçoso. 
Mas a sensação de ser útil, de ter um propósito na existência, é uma necessidade de seres psicologicamente saudáveis. 
Na realidade, o homem tem um papel a desempenhar no concerto da criação. 
Ele é útil, há uma finalidade seu viver. 
O papel que lhe cabe guarda relação com o seu desenvolvimento. 
Em mundos superiores, habitados por seres sublimes, o trabalho é todo intelectualizado e transcendental. 
Em esferas ainda materializadas, como a terra, as tarefas permanecem penosas e materiais. 
Tendo em vista que a lei do progresso rege a vida, os homens devem observá-la em seu proceder. 
Incumbe-lhes serem agentes do progresso. 
Eles devem auxiliar a tornar o mundo que habitam um local aprazível, justo e fraterno. 
Assim, não se preocupe em excesso com as dificuldades que lhe batem às portas. 
Elas se destinam a prepará-lo para seu luminoso porvir. 
Com esforço e disciplina, a dificuldade de hoje se tornará a facilidade do amanhã. 
Se você deseja cumprir sua missão na terra, esforce-se em ser melhor a cada dia. 
Empenhe-se em amealhar tesouros intelectuais e morais. 
A angelitude é a sua meta. 
O ônus e o mérito de atingi-la são exclusivamente seus. 
Pense nisso. 
Equipe de Redação do Momento Espírita.

domingo, 17 de julho de 2022

O VERDADEIRO LAR

O mundo daquela mãe havia desabado, com o divórcio. Herdou muitas contas atrasadas, incluindo as prestações da casa e o plano de saúde. Seu emprego de meio expediente gerava uma renda muito pequena e poucos benefícios. Sem nenhum apoio financeiro, ela perdeu a casa. Para não ficarem ao relento, com muito sacrifício, conseguiu alugar um trailer, que ficava estacionado num acampamento local, para ela e seu filho de cinco anos. Aquilo era só um pouco melhor do que morar em seu pequeno carro, mas ela desejava, de coração, poder proporcionar algo mais para sua criança. Certa noite, depois de brincar um pouco com um jogo de tabuleiro e ler algumas histórias, ela disse ao filho que fosse brincar do lado de fora até a hora de ir dormir. Enquanto o garoto se distraía, ela sofria sobre o talão de cheques. De repente, ouviu vozes. Deu uma olhada pela janela. Lá estava o gerente do acampamento falando com o pequeno:
-Ei, garoto, você não gostaria de ter um lar de verdade? 
A mãe ficou tensa, prendeu a respiração e chegou mais perto da janela para ouvir a resposta. Uma emoção muito forte tomou conta do seu coração, tão sofrido, quando ouviu a resposta de seu filho: 
-Mas nós já temos um lar de verdade. Só não temos, por enquanto, uma casa para colocá-lo. 
* * * 
Em sua inocência, aquele garotinho de apenas cinco anos de idade, sabia o que é um verdadeiro lar. 
Há construções luxuosas, mansões imensas, que servem apenas para proteger seus habitantes das intempéries, mas não se prestam a oferecer o calor do afeto de um lar aconchegante. 
O espaço físico pode ser amplo, contudo, se não houver os laços do amor, não será um lar de verdade. 
Uma casa pode ser construída. 
Também é fácil de desmoronar. 
Basta uma forte tempestade, uma inundação, um terremoto ou outro fenômeno equivalente. 
A construção de um lar requer um investimento diferente. 
É preciso muita atenção, renúncia, entendimento, perdão, ternura, afeto, companheirismo e confiança. 
Um lar assim jamais será destruído porque seus alicerces são invisíveis e resistentes até mesmo às mais ameaçadoras catástrofes. 
Dentro desse lar, dificilmente, o vício terá acesso. 
Mas, se por acaso penetrar sorrateiramente, será vencido pelo diálogo amoroso, que faz parte dessa construção. 
As lutas podem ser difíceis, parecendo quase impossíveis de serem vencidas. 
Porém, a união baseada no amor vencerá sempre porque suas estruturas são inabaláveis. 
Quantas famílias vivem sob o mesmo teto e não se conhecem... 
Quantos familiares se isolam nos vastos cômodos, carregando sozinhos seus dramas sem compartilhar com ninguém, pois são estranhos vivendo na mesma casa. 
Mas, se há um lar verdadeiro, podem faltar recursos financeiros e até o necessário, mas os laços do afeto estarão sempre bem apertados, dando sustentação e esperança para aqueles que nele vivem. 
* * * 
O lar é um templo onde podemos cultivar e manter as mais puras afeições e os mais sagrados laços de amor. 
Dessa forma, façamos do nosso lar um santuário onde se possa aspirar o aroma da felicidade e fruir o néctar da paz. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. 
Em 16.7.2022.

sábado, 16 de julho de 2022

IMPACIÊNCIA E IRRITAÇÃO

Você costuma se irritar com facilidade? 
Em caso afirmativo, já pensou por que isso acontece? 
Sem uma reflexão mais detida, costumamos dizer que as pessoas são as responsáveis pela nossa irritação, afinal, elas sempre estão onde não deveriam, e na hora errada. 
E quando não são as pessoas é a situação em si que nos tira do sério. 
Por exemplo: se estamos indo para casa ou para o trabalho, sempre tem muita gente na nossa frente, o que ocasiona um terrível congestionamento capaz de nos fazer perder a calma. 
Se vamos ao shopping para umas compras rápidas, lá estão também aquelas pessoas inconvenientes. 
Vamos encontrá-las outra vez nas filas dos bancos, supermercados e até no cinema. 
Logo, são elas as grandes culpadas pela nossa impaciência. 
Quando não são as pessoas, são as situações que tramam contra a nossa paciência. 
Planejamos uma viagem de final de semana ao litoral, e só temos dois dias para curtir a folga merecida. Saímos da nossa cidade com um céu azul e um sol maravilhoso. Quando faltam alguns quilômetros para chegar à praia, o sol se esconde e as nuvens se encarregam de roubar a nossa paz. 
É que não estávamos preparados para enfrentar uma situação diferente da planejada e isso nos faz ficar irritados. 
Se, por acaso, você está nessa lista dos que se irritam por causa dos outros ou das situações, pare e pense um pouco sobre o assunto. 
Será que são as pessoas que irritam você, ou é você que se permite irritar com as pessoas? 
Será que as situações são irritantes ou você está se deixando levar pelas circunstâncias sem se preservar da irritação? 
É importante, até mesmo para a nossa saúde física e mental, que aprendamos a relevar situações inesperadas. 
Quando saímos de casa ou do escritório, preparemo-nos para enfrentar um trânsito congestionado, se for necessário, sem que isso nos deixe irritados. 
Se vamos ao supermercado, ao banco ou ao shopping, pensemos que muitas pessoas podem ter a mesma ideia e consideremos a possibilidade de enfrentar filas, sem perder a paciência. 
Se o motorista que segue à nossa frente para no semáforo e não sinaliza que vai virar à esquerda, preparemo-nos para uma eventual decepção quando abrir o sinaleiro. Ele pode ter esquecido de avisar e só lembrar quando tiver que esperar os veículos que vêm em sentido contrário passarem. 
Essas e outras tantas situações somente nos farão perder a paciência se nós permitirmos. 
E se você já perdeu muitas vezes a paciência com situações e pessoas, poderá responder com conhecimento de causa: 
Sua irritação já resolveu algum problema? 
Ou só serviu para lhe causar dor de cabeça ou outra indisposição qualquer? 
Por tudo isso, vale a pena cultivar a arte de ser paciente, mesmo nas situações mais difíceis e aparentemente impossíveis.
* * * 
Um dia o homem perguntou ao trabalho: 
- Qual o elemento mais resistente que você já encontrou? 
E o trabalho respondeu: 
-A pedra. 
A água, que corria calmamente em derredor, escutou a conversa e, em silêncio, descobriu um meio de pingar sobre a pedra. 
Em algum tempo, abriu-lhe grande brecha, através da qual podia passar de um lado para outro. 
O homem anotou o acontecimento e perguntou para a água qual fora o instrumento que ela utilizara para realizar aquele prodígio. 
A água humilde respondeu simplesmente: 
-Foi a paciência. 
(ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA TANTO BATE ATÉ QUE FURA)
Redação do Momento Espírita com pensamento extraído do Boletim Ser em foco, nº 02/00. 
Em 15.10.2010.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

TATO DE MÃE

PABLO NERUDA
Um menino, com um breve poeminha à mão, entrou correndo pela porta do quarto dos pais, ansioso para que o lessem. Encontrou os pais numa discussão acirrada a respeito de um tema que desconhecia. À maneira que só as crianças conseguem fazer, ficou ali, ao lado, quase invisível, tentando ser escutado. 
-Pai, mãe, olha o que escrevi! 
Repetiu esse acalanto algumas vezes, falando cada vez mais alto, tornando a balbúrdia no aposento quase insuportável. Ninguém se entendia e todos queriam ser ouvidos. Repentinamente, o pai, já sem paciência, tomou a folha de papel das mãos do filho, amassou com força e disse: 
-Já não expliquei que agora não posso!? 
Atirou o papelote na lixeira mais próxima, o que deixou o filho sem chão e repleto de lágrimas. Mais tarde, a mãe, que não havia ficado satisfeita com a cena presenciada e se enchia de compaixão, procurou o menino. Ela carregava na mão esquerda uma folha de papel enrugada. Tinha a expressão emocionada e condoída. 
-Filho... Foi você quem escreveu este poema? 
O menino, que ainda estava cabisbaixo, apenas acenou com a cabeça que sim. 
-Que coisa mais linda! Você é um poeta, meu filho! Você é um poeta! 
E abraçou, carinhosamente, a criança. A partir daquele dia, diz a história desse menino, ele resolveu definitivamente ser poeta. O relato é do próprio autor que conta que, se não fosse pela destreza e tato de sua mãe, possivelmente não se dedicaria à poesia. Assim, graças à sensibilidade daquela mulher, o mundo pôde conhecer a arte e inspiração de Pablo Neruda. 
* * * 
O tato é essa capacidade que temos, ou não, de lidar com situações delicadas. 
Saber dizer as coisas certas na hora certa. 
Saber calar. 
Saber abraçar e chorar junto. 
Para se ter tato faz-se necessário desenvolver a empatia, essa capacidade sublime de colocar-se no sentimento do outro. 
A amorosidade também faz parte da conquista do tato, pois tudo aquilo que é dito com amor, com carinho, tem muito mais chance de ser bem recebido pelo outro. 
Ficamos a pensar quantos Neruda deixamos de conhecer no mundo, pela simples falta de tato de pais e educadores, que não promoveram o incentivo necessário ou que simplesmente abafaram, silenciaram talentos tão importantes. 
Assim, olhemos nossas crianças com atenção. 
Operemos sempre com muito tato, psicologia, em tudo que façamos, falemos ou deixemos de falar a eles. 
Nem sempre serão grandes talentos ou gênios. 
Porém, um incentivo aqui, um elogio ali são os responsáveis primeiros pela formação de uma boa autoestima. 
Tratemos o lar como a terra que necessita estar sempre fértil, preparada para receber as mudas da filiação bendita, que Deus nos dá como presente e responsabilidade. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 15.7.2022.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

IMORTALIDADE EM VERSOS

CASTRO ALVES

Caminheiro, que passas pela estrada,

Seguindo pelo rumo do sertão,

Quando vires a cruz abandonada,

Deixa-a dormir em paz na solidão.

 

É de um escravo humilde sepultura,

Foi-lhe a  vida o gozar de insônia atroz.

Deixa-o dormir no leito de verdura,

Que o Senhor dentre a selva lhe compôs.

 

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,

A sepultura fala a sós com Deus.

Prende-se a voz na boca das cascatas,

E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

 

Caminheiro! Do escravo desgraçado

O sono agora mesmo começou!

Não lhe toques no leito de noivado,

Há pouco a liberdade o desposou.

 

Estes são versos da autoria de Castro Alves, o poeta dos escravos.

É um lamento de dor pela situação do negro, escravo de uma civilização que se denominava cristã, mas não se pejava em escravizar seus irmãos, sem piedade alguma.

Retirados à força do seu país natal, alguns deles chefes tribais, tinham desprezados todos os seus direitos.

Direito de ser tratado como ser humano, direito ao descanso, à família, à expressão do seu culto religioso, à dignidade.

O desejo de ser livre, de poder se expressar em seu próprio idioma, de cultuar seus deuses, tudo lhes era vedado.

A rebeldia era punida com castigos horrendos e a morte.

É a morte que, justamente, o poeta dos escravos exalta como a libertadora.

E em seus versos revela a verdade inconteste da Imortalidade.

Extinto o corpo, a alma estava liberta para andar pelos campos espirituais.

Como ser espiritual, imortal, poderia retornar aos ares do seu país natal, poderia reencontrar os amores que houvessem partido antes dele.

*   *   *

Embora muitos haja na Terra que, ainda, insistem em afirmar que nada existe para além da vida física, somos imortais.

Ninguém morre. Finda-se o corpo, mas a essência permanece.

Liberta do corpo, a alma retorna ao grande lar. Busca os amores, recompõe-se das lutas travadas durante a vida terrena e prossegue na conquista do progresso.

É assim que os que sofreram muito sobre a Terra encontram o restabelecimento das forças e as recompensas pelo bem sofrer.

A imortalidade é a grande porta que se abre para o reencontro dos que se amam e daqueles que ainda necessitam exercitar o amor uns pelos outros.

É o repouso das lutas, é o reabastecer de energias para novas etapas de progresso do ser que nunca morre e cujo destino final é a perfeição.

 Redação do Momento Espírita, com versos da poesia A cruz da estrada, de autoria de Castro Alves.Disponível no CD Momento Espírita, v. 20, ed. FEP.

Em 28.7.2015