quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O CONVITE DO PASTOR

Narra o Evangelista João que Jesus foi a Jerusalém porque havia uma festa entre os judeus. Não se sabe ao certo que festividade seria porque não fez questão de mencionar. Mas assinala que havia, próximo à porta das ovelhas, um tanque chamado Betesda, que em hebreu quer dizer Casa de Misericórdia. Tratava-se, em verdade, de uma grande piscina, com acesso por cinco pórticos. O local fora edificado pela administração pública. Alguns o consideravam dedicado a Asclépio, deus da medicina e da cura. Em outras anotações, encontramos que o local era administrado por judeus que chegavam a negociar os melhores lugares, ou seja, os mais próximos à borda da piscina. Espalhara-se a lenda de que, periodicamente, um mensageiro celeste descia à piscina e revolvia suas águas. O primeiro que então adentrasse, sarava de qualquer enfermidade. Interessante que fosse procurada por grande multidão de cegos, mancos, paralisados, considerando que a algumas centenas de metros, estava o Templo de Jerusalém. 
Por que não buscavam os judeus as graças de Yaweh no Templo em que consideravam devia ser adorado e aderiam, ao contrário, a uma crendice?
Ontem, como hoje, parece que quando se trata de alcançarmos algo que muito desejamos, rapidamente desprezamos crenças ainda não sedimentadas em nós. 
Ora, havia ali um homem, paralítico há trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava há tanto tempo nesse estado, se aproximou e lhe perguntou: 
-Queres ficar curado? 
Aquele homem não sabia quem era Jesus. No entanto, seria natural que respondesse: 
-Sim, quero. 
No entanto, a sua é a lamentação de que não tem quem o lance na água, assim que seja agitada. Quando conseguia chegar próximo, alguém já adentrara antes dele. Jesus lhe ordena então: 
-Levanta-te, toma o teu leito e anda. 
O homem se ergue, e se vai, andando. 
O que causa estranheza é que a multidão necessitada nada percebeu.
Cada um estava focado somente em seu próprio problema, sem olhar ao redor. 
A grande lição de Jesus passou despercebida de todos eles, que poderiam, igualmente, se terem beneficiado do poder do Mestre.
Continuaram ali, ao redor da piscina, aguardando o próximo movimento das águas. 
Ao curar o paralítico, testificava Jesus que a cura não estava na água. Ele, o Divino Pastor, era a cura para todos os males. 
* * * 
Não somos nós como aqueles doentes? 
O Pastor se oferece para nos socorrer, para aliviar a enfermidade das nossas almas, para aplacar nossa sede de amor, as carências que nos atormentam. 
Mas, as aparências do mundo, o encanto de promessas tolas nos distraem. 
Desejamos algo mágico, fácil, que aconteça de repente. 
Contudo, a doença que nos chega, a morte que abraça os que amamos, as dificuldades financeiras, tudo poderia ser melhor superado, se tivéssemos em conta o convite de Jesus: 
-Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. 
Sigamos o Pastor. 
Redação do Momento Espírita, com base no Evangelho de João, cap. 5, vers. 1 a 9 e no Evangelho de Mateus, cap. 11, vers. 28 a 30. 
Em 30.9.2021.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A GRANDE RENÚNCIA

Xinran
Em 1946, Jingyi entrou para a Universidade de Qinghua. 
Logo no primeiro dia de faculdade, viu Gu Da. Enquanto todos os rapazes disputavam as atenções da bela e meiga chinesa, Gu Da sentava sozinho, num canto da sala. Certo dia, ele adoeceu. Pneumonia aguda. Sem recursos hospitalares no campus de Qinghua, o médico receitou algumas ervas medicinais e disse que alguém precisava cuidar dele. A jovem se apresentou como sua noiva e conseguiu uma licença especial do sub-reitor para atendê-lo. Durante os quatro anos de Universidade, ajudaram-se mutuamente. Juntos ingressaram no então clandestino Partido Comunista. Juntos sonharam uma nova vida, filhos e felicidade. Com a fundação da nova China, foram convocados para o exército. Era uma época especial. O dever dizia que as missões tinham que ser executadas até o fim. Ela foi enviada para uma base militar no noroeste e ele para uma unidade do exército na Manchúria. Com os movimentos políticos dos anos cinquenta, ela foi mandada para uma região rural. Perdeu toda a liberdade de movimento e de comunicação. Quase enlouqueceu de saudade de Gu Da. Retornando para sua base militar, durante a campanha antissoviética, ela retomou seu posto, nove anos depois. E continuou a procurar por seu amor. Soube que ele passara por várias prisões. Entretanto, não o encontrou. Nunca perdeu a esperança e nunca se casou. Em 1994, ela foi convidada para a celebração do 83º aniversário da Universidade de Qinghua. Ao entrar em uma sala, ela viu um homem de costas. Era o seu amado. O pulso acelerou. Começou a tremer. Quando se aproximou para o tocar, ouviu que ele apresentava a esposa e as três filhas a alguém. Ela congelou. Ele se virou e ficou paralisado ao vê-la. Arquejou e disse à esposa: 
-Esta... é Jingyi. 
A esposa a conhecia de nome. Quarenta e cinco anos tinham se passado. Os três, comovidos, permaneceram em silêncio. Em lágrimas, a esposa disse a Jingyi que Gu Da só se casara com ela ao ser informado da sua morte. Soube, então, que Gu Da se chamava agora Gu Jian. Numa das prisões em que estivera, o líder dos guardas vermelhos tinha o seu mesmo nome. Assim, mudaram o nome do prisioneiro. Nunca mais ele conseguira recuperar o nome antigo. Por causa disso, Jingyi não o conseguira localizar, em parte alguma. As filhas de Gu Da disseram a Jingyi que os ideogramas iniciais dos seus nomes formavam uma frase em homenagem a ela. Segundo os pais, era para que ela fosse sempre lembrada em suas vidas. Houve um momento em que a esposa quis deixar os dois a sós, mas Jingyi a reteve. 
-Por favor, não se afaste. O que tivemos ficou no passado, quando éramos jovens. Agora, no presente, vocês têm uma família completa. Saber que Gu Da é feliz será um consolo muito maior para mim. 
E, enquanto todos seguiram para o salão para a reunião comemorativa, ela se retirou. Nunca mais Gu Da ou sua família a viram. Ela desapareceu de suas vidas, para não lhes empanar a felicidade. 
* * * 
O verdadeiro amor se reveste de renúncia. 
O verdadeiro amor suplanta a própria dor e pensa, primeiramente, no ser amado. 
O verdadeiro amor ama, acima de tudo, sem nada esperar em troca.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 10, do livro As boas mulheres da China, de Xinran, ed. Companhia das Letras.
Em 6.1.2014.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

O GRANDE OBSTÁCULO

CAMILO CASTELO BRANCO
E
RAUL TEIXEIRA
O que nos impede de uma maior aproximação com Deus? 
Com sinceridade? 
O nosso comodismo. 
O comodismo, filho do egoísmo e da preguiça, é capaz de aprisionar a criatura em cadeia escura, onde a vaidade se faz conselheira e promove infeliz continuidade do processo da paralisia da vontade. Por causa do comodismo, um sem-número de seres estaciona pelos caminhos da vida, quando tanto tem a realizar no bem. 
Uns esperam que, no amanhã, as coisas estejam melhores... Mas, sempre transferem para adiante esse amanhã. 
Outros afirmam serem jovens, podendo deixar para depois as atitudes de respeito à vida e de prestação de serviço luminoso, esquecidos de que nem todos os moços alcançam, no corpo, a madureza dos anos. 
Muitos alegam, continuamente, o fato de serem idosos, desgastados, e que, por isso, já que envelheceram assim, preferem ficar assim, uma vez que desconsideram ou ignoram que o ancião de agora será a criança e o jovem de logo mais, através dos renascimentos corporais. 
O comodismo paralisa os religiosos, que se consideram salvos para sempre, sem maiores esforços pela sua remissão. Toma em suas teias pensadores das filosofias, que se julgam com o privilégio de deterem o Juízo Universal, sem mais coisa alguma em que se devam melhorar. Arruína a tantos cérebros de cientistas, admitindo, por imaturidade, que desvendaram os últimos segredos sob os céus, a tudo mais menosprezando e a tudo negando valor, inclusive a Deus. 
Há os que, por acomodação, não se associam a nenhuma mensagem de fé religiosa, que lhes aponte rumos novos de evolução, preferindo suas próprias e acanhadas idéias comuns. Tampouco adotam os posicionamentos científicos progressistas, por não os terem assimilado devidamente. São os que morreram para o progresso, achando-se muito vivos na pauta do que supõem ser a mais lúcida verdade. 
Importante que, enquanto dispomos do corpo e das horas, não negligenciemos nem nos acomodemos. 
Jamais sintamo-nos completos ou sábios, com um livro só, com um pensamento apenas, ou com uma visão somente. 
Reflitamos, reformemo-nos, reergamo-nos, esperando a Providência Divina, em pleno afã de crescer um pouco mais, aproximando-nos do Criador. 
Assim pensando, certamente, entenderemos que o grande impedimento a que nos desenvolvamos nas áreas do bem, é a sombria acomodação, que tanto nos prende a processos de enfermidade obsessiva, impedindo nossa ascensão rumo às estrelas.
* * * 
Acorde e saia desse seu estado que só lhe faz mal. 
Ore e busque o Senhor Jesus, que trabalha sempre, como o Pai Celeste. Ilumine-se com o bendito ensejo que a vida lhe oferece. 
Quando perceber que já não tem gosto, nem disposição para a realização do bem em você mesmo, busque, imediatamente o socorro médico. 
Ou a assistência necessária, pois, com toda certeza, você está sob contágio de alguma doença, ou debaixo de grave influenciação de idéias negativas, geradas por alguém de sua relação, inclusive Espírito infeliz e infelicitador. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O grande obstáculo, do livro Nossas riquezas maiores, do Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 06.02.2008.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O GRANDE MOVIMENTO

Os que temos a certeza das vidas sucessivas sabemos que os Espíritos realizam sobre a Terra, quando encarnados, suas missões.
Os que temos bom senso, raciocínio claro, de igual maneira assim pensamos. 
Nada nos é dado de forma mágica. Podemos receber intuições dos amigos espirituais, mas realizar o trabalho compete aos que nos encontramos no planeta. 
Dessa forma, quando uma invenção, uma nova técnica, algo que beneficie a Humanidade precisa ser apresentado ao mundo, um Espírito renasce entre nós e a isso se dedica. 
Como homem, como dizia Thomas Edison, com sua transpiração, seu suor, acrescenta sua gema preciosa na coroa da sabedoria humana.
Periodicamente, observamos que alguns grandes vultos do passado retornam, nem sempre para atuar no mesmo campo que ilustraram anteriormente. 
Desde alguns anos, temos visto proliferarem os pequenos gênios.
Crianças que se sobressaem nas ciências, avançam na astronomia, estarrecem com sua profunda filosofia. 
Também e em expressivo número temos observado a precocidade no campo da música. 
Crianças que conduzem orquestras sinfônicas, que executam peças clássicas, em tenra idade. 
Dominam os instrumentos e parecem ter a pauta da música erudita em sua mente. 
Um exemplo é a britânica Alma Elizabeth Deuscher
Aos dois anos, iniciou seus estudos na música. Ela é pianista, violinista e cantora. Nascida em 2005, aos seis anos, compôs uma Sonata para piano e aos nove, um Concerto para violino, com mais de trinta e cinco minutos de execução. Aos doze anos, compôs um Concerto para piano, que foi apresentado pela primeira vez no Festival de Verão da Caríntia, em 2017, pela Orquestra de Câmara de Viena. Como um grande compositor, ela descreve a sua criação, em detalhes, dizendo o significado de cada movimento da peça: o conflito entre a escuridão e a luz; o movimento de tristeza até o final, em que parece haver uma discussão entre o solista e a orquestra. Mas, no encerramento, ambos fazem as pazes e continuam a brincar felizes juntos. Ela apareceu na imprensa pelo fenômeno das redes sociais. Um amigo criou um canal no YouTube para compartilhar com a família as composições da menina. Os vídeos viralizaram e os repórteres surgiram. Sua performance no palco demonstra leveza, e expressividade em alta concentração. Parece estar se divertindo, com o domínio que tem sobre si e sobre a plateia. Falando da ópera Cinderella, iniciada aos nove e finalizada aos doze anos, Alma se preocupa em apresentar a inteligência da personagem principal. Em sua versão, Cinderela é uma compositora que perde seus sapatos. Dessa forma, Alma recria o conto de fadas à sua maneira. Uma Cinderela não somente bonita, mas com sua própria mente e seu próprio espírito. 
Ouvindo-a e a sua história de vida, nos perguntamos: 
-Será Mozart retornando? Que importa? Mozart, Beethoven, Listz, Chopin.
Ou talvez outro músico que no passado não galgou os degraus da fama. 
O importante é sabermos que, graças a criaturas assim, o mundo está ficando melhor, embora as tragédias, as dores e problemas tão presentes.
O mundo está se enchendo de harmonia. 
E nossos corações agradecem. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados extraídos de reportagens, a respeito de Alma Elizabeth Deuscher. 
Em 12.11.2020. 

domingo, 26 de setembro de 2021

A GRANDE MESTRA

A vida não é vivida por todos da mesma forma. 
Cada um tem sua maneira particular de viver, de sentir. Até de receber e administrar as dificuldades que lhe chegam. 
É interessante observarmos pessoas que sofrem intensas dores, que passam os dias imersos em graves problemas e, no entanto, mantêm o sorriso nos lábios e a disposição de viver. Quem as observe à distância, desconhecendo-lhe os dramas que enfrentam, acreditam que são criaturas totalmente felizes, sem dificuldade alguma que as alcance. Parecem plantas a florescer em pleno inverno. 
Algo semelhante ao ipê, essa árvore teimosa. Enquanto as outras escolhem florescer no clima ameno da primavera e nos dias quentes e chuvosos do verão, ela engalana as quadras finais do inverno. Indiferente às baixas temperaturas, apresenta as suas flores amarelas, brancas, roxas em abundância. E quando chega a ventania gélida, ela lhe entrega os ramos, e deixa-se despir das flores lindas, bordando o chão. Esperançosa, aguarda a primavera. 
Bom seria se fôssemos como o ipê, oferecendo nossas floradas de sentimentos ao mundo, mesmo nas quadras invernais das nossas existências. 
Ou que imitássemos aquelas outras flores que atingem o esplendor justamente no tempo gelado, como a gérbera, parente das margaridas. 
Ou a tulipa que exige, para seu desenvolvimento, o clima frio. 
Ou a camélia que exibe todo seu esplendor em plena invernia. 
Quadras invernais todos as temos. 
Aquelas em que o ar gelado da solidão nos castiga, os problemas se somam como flocos de neve caindo, de forma incessante, sobre nossas cabeças. 
Ou então a chuva fina, gélida das dificuldades se faz insistente. 
Bom seria florir enquanto outros se mostram entorpecidos, adormecidos pelas horas invernosas. 
Florir em meio à estação fria dos sentimentos alheios. 
Florir em meio à indiferença de tantos. 
Florir quando os corações já se despiram de esperanças e os cenhos carregados dizem das preocupações que lhes tomam as horas. 
Ofertar flores coloridas quando os céus se apresentam cinzentos, as nuvens carregadas, anunciando chuvas intensas, logo mais. 
Oxalá pudéssemos ser como a natureza que se renova, esplendorosa, depois da tempestade que a violentou, e lhe despedaçou os ramos, despetalou as flores. 
Pudéssemos nos reerguer como o bambu que se dobra à fúria da ventania e, passada a tormenta, se ergue, viçoso, novamente. 
Temos tanto a aprender com a natureza que todos os dias nos leciona fortaleza, bom ânimo. 
Que não se abala com a destruição porque reconhece seu próprio poder de refazimento.
Que após a chuva torrencial, oferece o ar límpido, leve e aguarda a chegada do carro do sol, triunfante, despejando ouro. 
Que, caprichosa, pincela as nuvens de cores enquanto esculpe formas delicadas que enchem de imaginação a cabecinha das crianças: carneiros, leões, uma águia... 
Sim, a natureza é mestra exemplar. 
Se a observássemos mais, descobriríamos muitas formas de nós mesmos sermos mais felizes, imitando-a. 
Não nos permitiríamos o desespero ante os abalos sísmicos da alma, nem a depressão ante os percalços que a vida nos apresenta.
Natureza. 
Obra das mãos Divinas que nos oferece beleza, harmonia, lições de bem viver. 
Aprendamos com ela, nossa mãe natureza. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 16.5.2018.

sábado, 25 de setembro de 2021

UM GRANDE HOMEM

O que é que determina a grandeza de um homem? 
Pode-se dizer que grandes homens são aqueles que realizam grandes feitos. Façanhas como a de Charles Lindenberg, que atravessou o atlântico em seu pequeno avião, num vôo solitário. 
Grandes homens são os que oferecem ao mundo extraordinárias descobertas nos campos da ciência e da tecnologia. 
Ou os que se lançam ao espaço, arriscando a própria vida, a bordo de ônibus espaciais. 
Grandes homens são os que interferem na política mundial, a bem dos povos, deixando gravados os seus nomes na memória da humanidade.
Grandes homens são os têm seus nomes retratados nos jornais, na televisão por atos de coragem ou de abnegação que tenham realizado.
Grandes homens são também os que lutam todos os dias para sustentar com dignidade a família. 
São os que saem de casa antes do alvorecer para o trabalho e retornam ao cair da noite, extremamente cansados, sabendo que garantiram, com seu esforço, o pão, o agasalho, o teto à família numerosa. 
São os que, após a jornada exaustiva, ainda têm tempo para se interessar pela lição escolar do filho, a aula de dança da menina e a dor de cabeça da esposa. 
Grandes homens são todos os pais anônimos, diligentes e dedicados. 
Pais que merecem ouvir o que um garoto de quinze anos escreveu ao seu próprio pai: 
-Um grande homem morreu hoje. Ele não era um líder mundial, nem um médico famoso, nem um herói ou um ídolo do esporte. Não era um magnata dos negócios e vocês nunca viram o nome dele no jornal. Mas ele foi um dos melhores homens que já conheci. Esse homem era o meu pai. Ele nunca esteve interessado em receber créditos ou honrarias. Fazia coisas banais, como pagar as contas em dia e ser diretor da associação de pais e professores. Ajudava os filhos com o dever de casa e levava a mulher para fazer compras nas noites de quinta-feira. Achava o máximo levar seus filhos adolescentes e os amigos deles aos jogos de futebol. Esta é a minha primeira noite sem meu pai. Não sei o que fazer. Hoje me arrependo pelas vezes em que fui impaciente com ele, dei respostas malcriadas, ou não tomei conhecimento do que ele dizia. Mas estou agradecido por muitas outras coisas. Estou agradecido por Deus ter me deixado ficar com meu pai por quinze anos. E fico feliz por ter podido dizer a ele o quanto o amava. Esse homem maravilhoso morreu com um sorriso no rosto e com o coração realizado. Ele sabia que era um grande sucesso como marido, como pai, como irmão, filho e amigo. 
*** 
Grandes homens são todos os que conseguem fazer o mundo um pouco melhor graças à sua existência. 
Educando uma criança ou colaborando pela sua ida à escola. 
Dedicando algumas das suas horas mais preciosas aos seus amores.
Grandes homens são os que fazem a diferença na vida de alguém. 
São os que sabem semear o jardim das afeições com as delicadas flores da atenção e da presença, nos momentos mais marcantes ou decisivos das suas existências. 
Equipe de Redação do Momento Espírita com base no cap. Um pai famoso, de autor desconhecido, do livro Histórias para aquecer o coração dos adolescentes de Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Kimberly Kirberger, ed. Sextante.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

SEJAMOS ESTRELA

Andrey Cechelero
Diz o poema: 
Se desejas luz na tua vida 
Sê estrela na noite de alguém. 
Pode parecer fantasista demais, romântico em excesso, mas há um sentido profundo e prático na proposta do poeta. Quando nos dispomos a iluminar a noite de alguém, quando nos propomos ao auxílio, à solidariedade desinteressada, naturalmente fazemos luz em nosso próprio caminho. 
Curioso? Misterioso? 
Não, é parte intocável das leis universais. Leis que ainda estamos aprendendo a conhecer. O amor é lei universal e as nuances do funcionamento, da ação dessa lei, são deslumbrantes. Tudo foi criado por amor e para amar. Os desvios, oposições e turbulências que enxergamos nos dias, são apenas anomalias do caminho. Logo retornam ao estado fundamental, ao equilíbrio, justamente pela atuação das leis maiores. Dentro da proposta apresentada vejamos um exemplo simples: 
Estamos num quarto escuro. A ausência de iluminação nos faz tatear. Falta-nos entendimento e compreensão do que está próximo de nós, muitas vezes. Uma lâmpada se acende. Por mais fraca que seja, uma nova realidade se apresenta. Percebemos muito mais do que antes. Alguns conseguimos até caminhar, pelo cômodo, sem esbarrar em nada e nos ferirmos. 
Aprendamos a ser gratos aos que são esses focos luminescentes em nossas vidas, pois fazem a diferença em nosso viver. 
Agora enxerguemos a cena por outro ponto de vista: da lâmpada. Quando ela se acende, quase que instantaneamente clareia o ambiente. No entanto, olhos mais atentos perceberão um detalhe: a primeira superfície que se ilumina, em verdade, é a própria lâmpada. Olhos humanos não captam, a lâmpada não percebe, mas é o que ocorre na prática: ela se ilumina antes de iluminar o mundo exterior. 
É um exemplo simples, uma tentativa acanhada de penetrar na grandiosidade do Criador e Sua legislação, porém, nos oferece uma forma de entender o que se passa toda vez que nos propomos a ser estrela, a ser lâmpada. 
Iluminamo-nos, em primeiro lugar, sempre que nos lançamos a clarear os caminhos de algum irmão, sempre que nosso coração compassivo adentra na escuridão de alguém fazendo breve luzeiro. 
Assim, sejamos lâmpada, sejamos estrela, sejamos qualquer luzinha possível e veremos a mudança que poucos raios brilhantes fazem em nossa própria casa íntima. 
* * * 
Na máxima: Fora da caridade não há salvação podemos entender perfeitamente a proposta do sermos estrela. 
Ao praticar a caridade nos doamos, somos benevolentes, indulgentes e perdoamos. Jogamos luz sobre nosso próximo. No entanto, notemos bem que, ao agirmos no bem, ao cultivarmos a indulgência e o perdão estamos igualmente nos salvando. 
Salvar-se é uma figura de linguagem que representa a ideia de autoiluminação, de autoconquista. 
O amor age em todos os sentidos, por isso é lei universal. 
Ao amar, estamos cultivando amor-próprio e, ao cuidar dessas duas formas fundamentais de amor, estaremos irradiando amor ao Criador. 
Por isso: 
Se desejas luz na tua vida 
Sê estrela na noite de alguém.
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Sê Estrela, de Andrey Cechelero, da obra O Essencial e o Invisível, ed. Immortality Books. 
Em 24.9.2021.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A GRANDE DOR DE UM PAI

Um adolescente, que cresceu no sul da Espanha, em uma pequena comunidade chamada Estepona, conta que, certo dia, seu pai lhe disse que poderia levá-lo de carro até um vilarejo isolado, mais ou menos a trinta quilômetros dali. A condição única era de que levasse o carro a uma oficina ali perto. Jason acabara de aprender a dirigir e aceitou na hora a gloriosa oportunidade. Levou o pai até a localidade, prometendo que retornaria às quatro horas da tarde. Foi até a oficina, deixou o carro para conserto e, como tivesse algumas horas livres, decidiu assistir a dois filmes, em um cinema perto da oficina. Empolgado pelos filmes, não viu a hora passar e, quando acabou a sessão, eram seis horas. Ele estava com duas horas de atraso. Imaginou que seu pai ficaria muito zangado e nunca mais o deixaria dirigir. Por isso, pegou o carro na oficina e foi até o local onde deveria se encontrar com seu pai, que aguardava, pacientemente, na esquina. Pediu desculpas pelo atraso e disse a ele que tinha vindo o mais rápido que pudera. O problema é que o carro havia necessitado uns consertos maiores e então se atrasara. Nunca mais Jason haveria de esquecer de como seu pai o olhou naquele momento. 
-Fico desapontado por você achar que precisa mentir para mim. Quando você não apareceu na hora combinada, liguei para a oficina para ver se havia acontecido alguma coisa e eles disseram que o carro já estava pronto há muito tempo. Você é que não tinha aparecido. 
Uma onda de culpa tomou conta de Jason, que resolveu contar toda a verdade. O pai ouviu com atenção, enquanto seu rosto se cobria de tristeza. 
-Estou muito triste. Não com você, mas comigo. Sabe, eu me dou conta de que fracassei como pai, porque depois de todos esses anos você ainda acha que precisa mentir para mim. Fracassei porque criei um filho que não consegue nem dizer a verdade ao próprio pai. Vou voltar para casa andando, para poder pensar onde errei. 
-Pai, disse Jason. São trinta quilômetros até nossa casa. Está escuro. Você não pode voltar andando. 
Mas os protestos do garoto de nada adiantaram. O pai começou a andar pela estrada empoeirada, mãos nos bolsos, cabisbaixo. Rapidamente, o adolescente pulou para dentro do carro e o seguiu de perto, esperando que ele fosse desistir. Durante todo o caminho, ele implorou, dizendo que estava muito arrependido. Mas o pai continuou a caminhar em silêncio, pensando e sofrendo. Jason dirigiu atrás dele por trinta quilômetros, numa média de oito quilômetros por hora. Ver seu pai sofrendo tanto física, quanto emocionalmente, foi a experiência mais perturbadora e dolorosa que Jason já havia enfrentado. Foi, também, a melhor das lições. Ele decidiu nunca mais mentir. 
 * * * 
Pais decididos a bem orientarem seus filhos têm posturas definidas e não se importam o quanto lhes custe para ensinar o que seja correto. 
Pode ser apenas uma longa caminhada de trinta quilômetros, ou pode ser uma quase interminável jornada de toda uma vida. 
O importante é que os filhos cresçam para a luz, o bem e o amor, porque este é o objetivo maior da vida na Terra. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Um longo caminho para casa, de Jason Bocarro, do livro Histórias para aquecer o coração dos adolescentes, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Kimberly Kirberger, ed. Sextante. 
Em 26.6.2014.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

PRESENTE PARA VOCÊ!

Se um dia ao acordar, você encontrasse ao lado de sua cama, um lindo pacote embrulhado com fitas coloridas, com certeza o abriria para ver o que haveria dentro. Talvez houvesse ali algo de que você nem gostasse muito. Então guardaria a caixa, pensando no que fazer com aquele presente. Mas, no dia seguinte, lá está outra caixa. Mais uma vez você abre correndo e, dessa vez, há alguma coisa da qual goste muito. Uma lembrança de alguém distante, uma roupa que viu na vitrine, um casaco para os dias de frio ou simplesmente um ramo de flores de alguém que se lembrou de você.
Isso acontece todos os dias, mas nós nem percebemos. 
Todos os dias quando acordamos, lá está, à nossa frente, uma caixa de presentes enviada por Deus especialmente para nós: um dia inteirinho para usarmos da melhor forma possível. 
Às vezes, ele vem cheio de problemas, coisas que não conseguimos resolver, tristezas, decepções, lágrimas. Mas, outras vezes, ele vem cheio de surpresas boas, alegrias, vitórias e conquistas. 
O mais importante é que todos os dias, enquanto dormimos, Deus embrulha para nós com todo o carinho, nosso presente: o dia seguinte. Ele cerca nosso dia com fitas coloridas, não importa o que esteja por vir. A esse dia, quando acordamos, chamamos presente, o presente de Deus para nós. 
Nem sempre Ele nos manda o que esperamos ou o que queremos. Mas, Ele sempre nos manda o melhor, o de que precisamos e que, muitas vezes, pode ser mais do que merecemos. 
Abra seu presente todos os dias, primeiro, agradecendo a Quem o mandou, sem se importar com o que vem dentro da embalagem. 
Sem dúvida, Deus não se engana na remessa dos pacotes. 
Se hoje não veio o presente que você aguardava, espere. 
Abra o de amanhã com mais carinho, pois pode ser que, a qualquer momento, os seus sonhos cheguem embrulhados em um presente, de acordo com os planos de Deus para você. 
Deus não atende as nossas vontades e sim nossas necessidades. 
* * * 
Agradeçamos a Deus por cada dia a mais que temos a oportunidade de viver. 
Cada dia é realmente um presente de Deus. 
Em um dia apenas, podemos ter mais uma chance de aprender algo novo sobre a vida ou sobre nós mesmos, de corrigir um erro, de tropeçar, levantar e nos sentirmos mais fortalecidos, de perdoar ou sermos perdoados. 
É outra chance que temos de crescer como Espíritos e dar mais um passo em direção à felicidade. 
Agradeçamos por mais um ano que se finda no calendário da nossa vida.
Agradeçamos infinitamente, por mais um ano que se inicia em nosso calendário. 
Ter um ano inteiro pela frente é como ter um caderno em branco aonde se vai caligrafar. 
Nesse caderno podemos deixar registradas histórias coloridas ou em preto e branco, de amores ou dores, de luzes ou de sombras. 
Tudo dependerá do que carregarmos em nosso íntimo. 
A escolha pelo caminho do bem, da resignação, da fé e do amor é de cada um. 
Que nossas escolhas agradem a Deus, para que um dia a realização dos nossos sonhos faça parte do plano Divino. 
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem de autor desconhecido.
Em 22.9.2021.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

O GRANDE DOADOR

Ele não tinha o diploma de médico, no entanto, utilizou a medicina do amor para levantar paralíticos, curar cegos e restaurar portadores de hanseníase. Não era advogado diplomado. Contudo, ninguém quanto Ele se elegeu como o supremo defensor de todos os injustiçados do mundo. Ergueu Sua voz para defender a mulher. Esteve em casa de desprezados cobradores de impostos, afirmando com Seus atos, a isenção de preconceito com os excluídos da época. Ele não possuía fazendas, nem herdades de qualquer sorte. Mesmo assim, estabeleceu o novo reino na Terra. O reino do bem, da paz, do amor. E para isso, se serviu da intimidade dos corações. Não improvisou festas, mas compareceu às que lhe foram tributadas, com Sua presença enriquecendo os convivas e anfitriões. Sem deter títulos na área específica, tornou-se o consolo dos tristes e desprezados, acenando-lhes com perspectivas de bom ânimo e esperança. Conhecedor da alma humana, detectava-lhe as dores e a confortava. Por isso, devolveu o filho à pobre viúva de Naim que o acreditava morto. E às irmãs em Betânia, o irmão enterrado há dias. Não era professor consagrado, tendo-se feito, porém, o Mestre da evolução e do aprimoramento da Humanidade. Não recebeu lauréis ou premiação alguma. Apesar disso, foi o maior criador e contador de histórias de que a Humanidade já teve notícias. As suas parábolas revolviam os pensamentos dos que as ouviam e até hoje são recontadas e reflexionadas. Não teve lugar entre os doutores da lei, não ocupou cadeira no Sinédrio. Criou, antes, a universidade sublime do bem para todos os Espíritos de boa vontade. Incompreendido, sofrendo amarguras, desde o lar, reconfortou a todos que O buscaram. Ao desprezado Zaqueu conforta com Sua presença, afirmando assim que le era filho de Deus e credor do Seu amor. À equivocada da Samaria oferta a palavra lúcida e o convite à nova jornada. Ao moço rico diz da pressa de atender à mensagem do reino que Ele apresentava. Tolerando aflições sem conta, semeou a fé e a coragem, apresentando-se como Aquele que cuida de todas as ovelhas que lhe foram confiadas. Ferido embora, pensou as chagas morais das mulheres sofridas, do cireneu que o auxilia no transporte do madeiro, da mão benevolente que lhe enxuga o suor da face. Supliciado, vilipendiado pelos homens, expediu a mensagem do perdão em todas as direções. Esquecido pelos mais amados, ensinou a fraternidade e o reconhecimento, orando ao Pai por todos e entregando mãe e filho, um ao outro. Vencido na cruz, revelou a vitória da vida eterna, em plena e gloriosa ressurreição, renovando os destinos das nações e santificando o caminho dos povos. Ele não tinha posses materiais. Era um carpinteiro. Mesmo assim, engrandeceu os celeiros dos séculos. E até hoje continua a ser despenseiro fiel e prudente, zelando pela Humanidade inteira. De braços abertos, sempre. 
* * * 
Seguindo o exemplo de Jesus, mesmo anônimo ou aflito, apagado ou esquecido, atende à santificada colaboração com Deus, a benefício da Humanidade. 
Oferece o teu coração e, em homenagem ao Divino amor na Terra, serve, com o que tenhas, onde te encontres. 
Se não és um portentoso luzeiro, sê a lamparina acesa na janela da pousada, como um aceno de esperança ao viajor perdido na estrada.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 59, do livro Antologia mediúnica do Natal, de diversos Espíritos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Disponível no CD Momento Espírita, v. 15, ed. FEP. 
Em 11.6.2018.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

QUANTO CUSTA UM MILAGRE ?

Uma garotinha esperta, de apenas seis anos de idade, ouviu seus pais conversando sobre seu irmãozinho mais novo. Tudo que ela sabia era que o menino estava muito doente e que estavam completamente sem dinheiro. Iriam se mudar para um apartamento num subúrbio, no próximo mês, porque seu pai não tinha recursos para pagar as contas do médico e o aluguel do apartamento. Somente uma intervenção cirúrgica muito cara poderia salvar o garoto, e não havia ninguém que pudesse emprestar-lhes dinheiro. A menina ouviu seu pai dizer a sua mãe chorosa, com um sussurro desesperado: 
-Somente um milagre poderá salvá-lo. 
Ela foi ao seu quarto e puxou o vidro de gelatina de seu esconderijo, no armário. Despejou todo o dinheiro que tinha no chão e contou-o cuidadosamente, três vezes. O total tinha que estar exato. Não havia margem de erro. Colocou as moedas de volta no vidro com cuidado e fechou a tampa. Saiu devagarzinho pela porta dos fundos e andou cinco quarteirões até chegar à farmácia. Esperou pacientemente que o farmacêutico a visse e lhe desse atenção, mas ele estava muito ocupado no momento. Ela, então, esfregou os pés no chão para fazer barulho, e nada! Limpou a garganta com o som mais alto que pôde, mas nem assim foi notada. Por fim, pegou uma moeda e bateu no vidro da porta. Finalmente foi atendida! 
-O que você quer? Perguntou o farmacêutico com voz aborrecida. Estou conversando com meu irmão que chegou de Chicago e que não vejo há séculos, disse ele sem esperar resposta. 
-Bem, eu quero lhe falar sobre meu irmão. 
Respondeu a menina no mesmo tom aborrecido. 
-Ele está realmente doente... E eu quero comprar um milagre. 
-Como? Balbuciou o farmacêutico admirado. 
-Ele se chama Andrew e está com alguma coisa muito ruim crescendo dentro de sua cabeça e papai disse que só um milagre poderá salvá-lo. E é por isso que eu estou aqui. Então, quanto custa um milagre? 
-Não vendemos milagres aqui, garotinha. Desculpe, mas não posso ajudá-la. 
Respondeu o farmacêutico, com um tom mais suave. 
-Escute, eu tenho o dinheiro para pagar. Se não for suficiente, conseguirei o resto. Por favor, diga-me quanto custa. 
Insistiu a pequena. O irmão do farmacêutico era um homem gentil. Deu um passo à frente e perguntou à garota: 
-Que tipo de milagre seu irmão precisa? 
-Não sei. 
Respondeu ela, levantando os olhos para ele. 
-Só sei que ele está muito mal e mamãe diz que precisa ser operado. Como papai não pode pagar, quero usar meu dinheiro. 
-Quanto você tem? 
Perguntou o homem de Chicago. 
- Um dólar e onze centavos. 
Respondeu a menina num sussurro. 
-É tudo que tenho, mas posso conseguir mais se for preciso. 
-Puxa, que coincidência, sorriu o homem. Um dólar e onze centavos! Exatamente o preço de um milagre para irmãozinhos. 
O homem pegou o dinheiro com uma mão e, dando a outra mão à menina, disse: 
-Leve-me até sua casa. Quero ver seu irmão e conhecer seus pais. Quero ver se tenho o tipo de milagre que você precisa. 
Aquele senhor gentil era um cirurgião, especializado em neurocirurgia. A operação foi feita com sucesso e sem custo algum. Alguns meses depois, Andrew estava em casa novamente, recuperado. A mãe e pai comentavam alegremente sobre a sequência de acontecimentos ocorridos. 
-A cirurgia, murmurou a mãe, foi um milagre real. Gostaria de saber quanto deve ter custado. 
A menina sorriu. 
Ela sabia exatamente quanto custa um milagre... 
Um dólar e onze centavos... 
Mais a fé de uma garotinha... 
* * * 
Não há situação, por pior que seja, que resista ao milagre do amor.
Quando o amor entra em ação, tudo vence e tudo acalma. 
Onde o amor se apresenta, foge a dor, se afasta o sofrimento e o egoísmo bate em retirada. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria desconhecida. Disponível no CD Momento Espírita, V. 6, ed. FEP. 
Em 20.9.2021.

domingo, 19 de setembro de 2021

A GRANDE DIFERENÇA

Elisabeth Klüber-Ross
Os alunos residentes estavam reunidos discutindo suas dificuldades. Todos eram unânimes em afirmar que o maior problema no hospital era o Dr. M. Ninguém gostava daquele médico que tinha aos seus cuidados pacientes portadores de câncer. Ele era brilhante em seu trabalho, mas intolerável no trato pessoal. Era áspero, arrogante e nunca admitia que alguém falasse que um de seus pacientes iria morrer. A médica psiquiatra que a tudo escutava, inesperadamente falou: 
-Não se pode ajudar uma outra pessoa sem gostar um pouquinho dela. Há alguém aqui que goste dele? 
Depois de muitas caretas, risos e gestos hostis, uma moça ergueu a mão hesitante. Era uma enfermeira. 
-Vocês não conhecem esse homem, ela começou. Não conhecem a pessoa que ele é. Todas as noites, depois que todos os médicos já se retiraram, ele visita os pacientes. Começa no quarto mais distante do posto de enfermagem e vem seguindo, entrando de quarto em quarto. Quando entra no primeiro, parece seguro, confiante, de cabeça alta. Mas, de cada quarto que sai, suas costas vão se curvando mais. Quando sai do último quarto, está arrasado. Sem alegria, esperança ou satisfação por seu trabalho. O que eu mais desejaria é quando ele está assim triste, pousar minha mão no seu ombro, como uma amiga. Mas nunca o fiz porque sou só uma enfermeira e ele é o chefe do departamento de Oncologia. 
Nos momentos seguintes, todos se uniram e insistiram para que ela se esforçasse e seguisse o impulso do seu coração. Aquele homem precisava de ajuda. Uma semana depois, reunidos novamente, a enfermeira entrou sorridente e disse: 
-Consegui. 
Na sexta-feira anterior, ela vira o médico sair arrasado do plantão. Dois dos seus pacientes haviam morrido naquele dia. Aproximou-se dele e, inesperadamente, ele a levou para o seu consultório e desabafou. Ele falou como sonhava curar seus pacientes, enquanto os seus amigos, da mesma idade que ele, estavam constituindo família. Sua vida tinha sido aprender uma especialidade. Agora, ele ocupava uma posição que podia fazer a diferença para a vida dos enfermos. E, no entanto, todos eles morriam. Um após outro, todos morriam. Ele era um homem acabado, vencido. Quando ouviram essa história, os residentes se deram conta de como todos somos frágeis e necessitados de afeto. Também de como uma pessoa tem o poder extraordinário de curar outras, apenas tomando coragem e agindo sob o impulso do coração. Um ano depois, o Dr. M. era outro homem. Abriu o seu coração às pessoas e redescobriu as maravilhosas qualidades que possuía, o afeto e a compreensão que o haviam motivado a se tornar um médico.
* * * 
Um gesto, uma atitude, um olhar podem mudar a vida de uma criatura.
Pessoas ásperas, de trato rude, quase sempre estão ocultando as suas mágoas e pesares profundos. 
Por vezes, basta um pequeno toque para que elas abram o coração e demonstrem toda a sua fragilidade. 
E o que faz a grande diferença na vida de tais pessoas é a demonstração de afeto, que pode ser de um grande amor, de um amigo, de um irmão ou de um colega de trabalho. 
Por tudo isso, esteja atento. 
Olhe ao redor e descubra se você, com sua atitude, não pode fazer a grande diferença na vida de alguém. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 20, do livro A roda da vida, de Elisabeth Klüber-Ross, ed. Sextante. 
Em 25.1.2019.

sábado, 18 de setembro de 2021

A GRANDE DESPEDIDA

Nós nascemos frágeis. 
                
De todos os seres vivos do planeta, somos os mais indefesos. Sem quem nos alimente, nos cuide, vele por nós, perecemos. Guardados pelo amor de nossos pais ou de generosas mãos que se nos estendem, no carinho de tios, avós, nos desenvolvemos. Aos poucos, dominamos o corpo, erguemo-nos para andar, apoiando-nos no que esteja por perto. Depois, aprendemos a correr, a saltar, a subir em árvores. E ninguém mais nos segura. Dominamos o alfabeto, os números. Dos bancos escolares dos primeiros anos, alcançamos os universitários. Tornamo-nos profissionais, disputamos o mercado. Cada ano é uma conquista, uma vitória. Aprendemos algo mais e algo mais nos é permitido. E tudo é celebrado de forma vibrante. O diploma, o concurso, a vaga disputada na empresa de renome, a promoção alcançada. Dentre tantas conquistas, possivelmente uma das mais emocionantes é ter em mãos a Carteira Nacional de Habilitação. Entrar no carro, dirigir, ir de um lado para outro nos confere ares de liberdade mais ampla. Sem dependências, sem aguardar ser levado. Sem precisar esperar para ser apanhado depois da aula, depois da festa, depois do baile. 
Liberdade. 
E, na medida em que os anos dobram, essa independência vai se alargando mais. Ir ao mercado, ao teatro, ao cinema, ao parque. Viajar para o campo, para a praia, para a montanha. Não há limites. Planejamos e concretizamos. No entanto, quando se chega a determinada idade, parece que aos poucos tudo nos vai sendo retirado. As limitações se estabelecem, problemas de saúde vão se apresentando. Para quem ultrapassa os sessenta e cinco anos de idade, em nosso país, as regras para a renovação da Carteira de Habilitação ficam mais severas. O período de validade é de três anos, somente. E, como apresentamos limitações de saúde, a permissão para dirigir passa a ter regras exclusivas. Por exemplo, poder dirigir somente até o pôr do sol. Quando não conseguimos a renovação, não deixamos de registrar certa tristeza. Desejando homenagear alguns idosos que não terão mais sua Carta de Habilitação, uma empresa de automóveis idealizou algo emocionante. Num autódromo, eles foram convidados a andar em um dos mais rápidos carros do mundo, ao lado de motorista experiente. Depois, eles mesmos puderam tomar o volante nas mãos e dirigir, velozmente, pela pista. Tudo com direito a acompanhantes de motos e plateia vibrando por cada um deles. 
Uma alegria enorme! 
Uma bela despedida do volante! 
E cada um ganhou uma carteira especial de habilitação, emoldurada, como um troféu por sua proeza de dirigir tantos e tantos anos. 
Maravilhoso gesto de gratidão para quem deu tanto de si, através dos anos, e vai perdendo, a pouco e pouco, sua liberdade de ir e vir, sem limites. 
Como seria bom se lembrássemos um pouco mais dos nossos idosos e lhes pudéssemos massagear o coração e a vontade de viver, com essas pequenas grandes coisas que os fazem felizes. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no vídeo A grande despedida, da Nissan. 
Em 14.11.2017.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

FIDELIDADE A JESUS

Houve, em tempos passados, uma localidade denominada Sebastes.
MÁRTIRES DE SEBASTE
Situava-se entre a Judeia e a Síria. Foi ali que quarenta legionários da Décima Segunda Legião Romana deram sua vida por amor à verdade. Presos por professarem o Cristianismo, os quarenta jovens marcharam saindo da cidade, escoltados por outros tantos soldados. À frente se desenhava o lago de águas tristes e frias. O sol se afundava na direção do poente e o vento soprava gelado. Os tambores soavam, ditando o ritmo da marcha. E os prisioneiros foram entrando no lago. Um passo, dois, três, dez, vinte. Os pés foram agitando a água e eles entrando mais e mais. Só ficaram as cabeças descobertas fora d’água. Os superiores haviam lhes decretado uma terrível forma de morrer. Ali parados, impassíveis e silenciosos, iriam morrer enregelados. As luzes do crepúsculo se envolveram num manto dourado e se retiraram, deixando que a noite se apresentasse com seu cortejo de estrelas. Ao redor do lago, nas margens, familiares e amigos oravam silenciosos. E silenciosos permaneciam os jovens dentro d’água. Então, em nome de César, falou um oficial. Eles eram jovens e, levando em conta a sua inexperiência, seriam perdoados se jurassem fidelidade aos deuses protetores do Império. Era tudo muito simples. Bastaria queimar algumas ervas, perante o improvisado altar a Júpiter Olímpico, na outra margem. Dentro do lago, nem um mínimo movimento. O ar foi se fazendo mais frio e uma névoa começou a se erguer das águas. Os guardas acendiam fogueiras nas margens, batiam as mãos, andavam para se aquecer. Mas os quarenta legionários permaneciam imóveis. Então, eles começaram a cantar e mais forte do que o vento, o hino se ergueu como um grito vitorioso. Era como uma cascata de esperanças feita de fé, ternura e renúncia. Um a um, no transcorrer das horas, aquelas chamas foram se apagando na Terra, para tremeluzirem na Espiritualidade. Quando nasceu o dia, somente um vivia. Um guarda se aproximou de uma mulher e lhe disse que seu filho vivia. Como ele vivera até então, teria sua vida poupada. Que ela o retirasse das águas e, em nome dele, oferecesse sacrifício aos deuses romanos.
-Nunca! - Foi a resposta dela. 
Se ele consciente não o fez, como poderia me aproveitar da sua agonia para traí-lo? Firmemente, avançou para as águas e ali esteve com o filho até que o coração dele parasse de bater. Depois, apertando-o firmemente nos braços, tomou o seu corpo e o veio depositar aos pés do oficial da guarda. 
* * *
Há mais de dois mil anos, na Judeia, um homem amou e morreu por muito amar. 
A maravilhosa fé que soube despertar teve o poder de modificar vidas. 
A Sua voz convidava para viver a verdadeira vida, a vida que se desdobra para além da morte. 
Dentre os Seus ensinos, lembramos: 
-Quem perseverar até o fim, este será salvo. Quem crer em mim, mesmo morto viverá. 
A Sua mensagem atravessou os séculos e permanece viva até hoje, estabelecendo diretrizes seguras aos Seus seguidores. 
A Sua é a mensagem do amor, da fé, da fidelidade até o fim. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XXVIII, do livro A esquina de pedra, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim. 
Em 17.9.2021.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

ERRAR OU QUASE ACERTAR?

JOANNA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Na manhã ensolarada, pai e filha aproveitam o tempo juntos, numa quadra de esportes. Ela, do alto de seus nove anos, faz o pai de goleiro e chuta seguidas vezes a bola mirando no desejado gol. Falta prática, falta experiência, naturalmente, e a maioria das tentativas é frustrada. Cada vez que a bola vai para fora ela ouve:
-Pra fora, ou Errou! 
O pai percebe que ela vai se desestimulando, perdendo a paciência consigo mesma, emitindo sons de raiva, toda vez que a bola não segue na direção esperada. Ele, então, muda a estratégia. Não quer facilitar simplesmente as coisas para ela, pois sabe que não é assim que se prepara um filho para o mundo. Mas, ao invés de dizer errou ou pra fora, com tom frustrado, ele começa a gritar: 
-Quase! 
E esse quase vem com tom de empolgação, de alegria, de quase lá, de faltou pouco! Incrivelmente, o humor da criança se transforma. Ela continua chutando muitas vezes para fora, na trave, mas numa alegria imensa, alegria de quem continua tentando sem se desestimular. 
Naquele "quase" empolgante do pai estava o elogio à tentativa, estava a congratulação pela persistência, pelo esforço, mostrando que quanto mais tentativas houvesse, mais bolas dentro ela conseguiria. E foi isso mesmo que ocorreu. Ela começou a acertar muito mais que antes. E cada antigo erro, virou um divertido 
Quase!, cheio de risadas. 
* * * 
Pensemos em nossas vidas, em nossas atitudes. Na maioria das vezes, queremos acertar, nossas intenções são boas e estão dentro da compreensão que temos sobre essa ou aquela situação. 
Chamar de erro, de falha, de defeito, parece crueldade conosco mesmo.
Quem sabe se trocarmos o não consegui, o errei, o não deu certo, pelo quase, consigamos perceber que tentamos, que fomos atrás e que precisamos nos dar novas chances. 
As leis divinas nos dão novas chances sempre. 
Por que nós mesmos não nos daríamos? 
Não se trata de iludir-se com palavras amenas, como alguns podem pensar. 
Trata-se de ser autoexigente, sim, mas exigirmos da maneira correta, sem julgamentos frios, sem autodesestímulo ou autodepreciação. 
O "quase" da brincadeira de pai e filha será correspondente a dizer ou sentir: 
-Dessa vez não consegui. Cheguei perto e agora sei como fazer melhor. Ou Ainda não cheguei lá. 
Quando alguém fracassa, em qualquer atividade, isso não representa debilidade de esforço ou falta de vontade bem direcionada, antes transforma-se em um elemento de experiência para futuras tentativas.
Todo tentar que não resulta como um sucesso, transforma-se em mensagem de conquista de valor que poderá ser utilizado em nova ocasião, facultando o êxito em outro momento. 
A vontade, por isso mesmo, não cede quando falecem os resultados, repetindo a experiência quantas vezes sejam necessárias até que se atinjam os interesses que se têm em mente. 
Desenhado um objetivo interior, de imediato forças complexas se apresentam para que ele seja conquistado. 
Repetindo-se a tentativa, cria-se o hábito de agir e, por consequência, o mesmo se torna elemento vital para a vontade. 
Sem uma vontade bem direcionada, não há vida saudável. 
Redação do Momento Espírita, com frases do cap. 2, item Vontade, do livro Triunfo pessoal, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 16.9.2021

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

UMA GRANDE COVARDIA

O hábito da maledicência é bastante arraigado em nossa sociedade. Chega a constituir exceção uma criatura que jamais tece comentários maldosos sobre seus semelhantes. Mesmo amigos, não raro, se permitem criticar os ausentes. Quase todos os homens possuem fissuras morais. Seria sinal de pouca inteligência não perceber essa realidade. Não é possível ver o bem onde ele não existe. Também não é conveniente ser incapaz de perceber vícios e mazelas que realmente existam. Mas há uma considerável distância entre identificar um problema e divulgá-lo. Encontrar prazer em denegrir o próximo constitui indício de grande mesquinharia. Esse gênero de comentário é ainda mais condenável por ser feito de forma traiçoeira. Freqüentemente quem critica o vizinho não tem coragem de fazê-lo frente-a-frente. É uma grande covardia sorrir e demonstrar apreço por alguém e criticá-lo pelas costas. 
Antes de tecer um comentário, é preciso ter certeza de que ele traduz uma verdade. Sendo verdadeiro um fato, torna-se necessário verificar se há alguma utilidade em divulgá-lo. A única justificativa para apontar as mazelas alheias é a prevenção de um mal relevante. 
Se o problema apresentado por uma criatura apenas a ela prejudica, o silêncio é a única atitude digna. 
Assim, antes de abrir a boca para denegrir a reputação de alguém, certifique-se da veracidade dos fatos. 
Sendo verídica a ocorrência, analise qual o seu móvel. Reflita se seu agir visa evitar um mal considerável, ou é apenas prazer de maldizer. Na segunda hipótese, é melhor calar-se. 
É relevante também indagar se você tem coragem de comentar a ocorrência na frente da pessoa criticada. 
Se o fizer, dará oportunidade para defesa. 
Certamente a pessoa, objeto do comentário, possui a própria versão dos fatos. 
Por todas essas razões, e outras tantas, jamais seja covarde. 
A covardia é uma característica muito baixa e lamentável. 
O fraco sempre escolhe vítimas que não podem oferecer defesa. 
Agride de preferência as pessoas frágeis. 
Quando não tem coragem para atacar diretamente, utiliza subterfúgios. Enlameia a honra alheia, faz calúnias, espalha insinuações maldosas aos quatro ventos. 
O homem que é alvo do ataque de um covarde geralmente nem sabe o que lhe aconteceu. Apenas se espanta ao deparar com sorrisos irônicos onde quer que vá. Em ambientes em que era recebido calorosamente, agora só encontra frieza. Percebe perplexo, o afastamento de amigos e parentes. As fisionomias outrora benevolentes tornam-se sisudas. Raramente alguém lhe esclarece a razão do ocorrido. Assim, ele é julgado e condenado sem possibilidade de defesa. 
Analise seu proceder e verifique se, por leviandade, às vezes você não age de forma maldosa e covarde. 
Pense nos prejuízos que suas palavras podem causar na vida dos outros.
Imagine se fosse você a vítima do comentário ferino. Certamente gostaria que a generosidade fizesse calar os seus semelhantes. Ou ao menos que eles fossem leais o suficiente para falar às claras com você. 
É preciso eliminar o hábito da maledicência. 
Trata-se de um comportamento eivado de covardia. 
E sem dúvida o seu ideal de vida não é ser um covarde. 
Pense nisso! 
Equipe de Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

OS PEDIDOS DA ALMA

Comecemos o dia na luz da oração. 
O amor de Deus nunca falha. 
Oração espontânea, sem fórmulas prontas ou ensaios elaborados. 
Um sincero diálogo da alma com a Potência Suprema. 
Se a tristeza morar em nossa alma, será um grito, um lamento dirigido aos céus. 
Se a alegria brilhar em nosso íntimo, será um cântico de amor, um manifesto de adoração. 
Pode se resumir em um simples pensamento, uma lembrança, um olhar erguido para o céu. 
Quando oramos, uma janela se abre para o infinito e através dela recebemos mil impressões consoladoras e sublimes. 
Uma excelente maneira de iniciar o nosso dia. 
A sabedoria não está em pedir que somente tenhamos horas de felicidade, que todas as dores, as decepções, os reveses sejam afastados. 
A nossa deve ser a rogativa por auxílio das forças superiores a fim de que cumpramos os nossos deveres, com dignidade. 
E possamos suportar a eventualidade de um dia difícil, de horas más. 
Se pedimos por nós, podemos estender os mesmos benefícios da rogativa para os familiares, os amigos. 
Se tivermos uns minutos mais, que os possamos dedicar à rogativa ao Pai de todos nós. 
Haverá muito a pedir. 
O mundo está tão sofrido. 
Não bastasse a pandemia, as notícias nos chegam de furacões, de vendavais, de países arrasados pela fúria dos ventos e das águas. 
Pela nossa mente, transitam as figuras de crianças, de idosos, de corações de mães destroçados pelo desaparecimento ou morte dos seus filhos. 
Recordamo-nos das palavras do Mestre falando dos últimos tempos, das tantas infelicidades que alcançariam a Humanidade. 
Imaginamos quantas ainda deveremos enfrentar. 
Por isso, oração pelo nosso e pelo fortalecimento alheio. 
A prece nunca é inútil. 
Com certeza, não alteraremos a lei divina das provas e expiações dos que amamos e daqueles que nem conhecemos. 
Mas podemos lhes remeter vibrações de calma para as situações atormentadoras, resignação para as profundas dores. 
Lembremos quantas vezes as nossas preces acalmaram alguém em sentido pranto, quantas vezes asserenamos a angústia de um amigo... 
* * * 
Prece é fortalecimento moral. 
É na oração que o Divino Mestre demonstra toda Sua glória, no monte Tabor. 
Ele se plenifica de luz e estabelece sublime diálogo com o legislador Moisés e o profeta Elias, luminares do povo hebreu. 
Diante da tumba onde estava o corpo de Lázaro, Ele ora ao Pai. 
E depois convoca o amigo para reassumir o comando da vida que ainda não se findara. 
Antes da prisão, que determinaria Seu julgamento, suplício e morte, Ele ora, no Jardim das Oliveiras. 
E na cruz, encerra Sua prece com as palavras: 
-Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. 
Como Jesus, roguemos para que os bons Espíritos, que têm por missão assistir os homens e conduzi-los pelo bom caminho, nos sustentem nas provas desta vida. 
Que as possamos suportar sem queixumes. 
Que nos livrem da influência daqueles que queiram nos induzir ao mal.
Enfim, que este dia, apenas esboçado, seja de progresso, luz e paz. 
Horas abençoadas nos aguardam. 
Redação do Momento Espírita, com frase do cap. 37, do livro O Espírito da Verdade, por Autores diversos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier e com base no cap. 51, do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. FEB. 
Em 14.9.2021.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

COMO CHUVA GENEROSA

RAUL TEIXEIRA
Quando o sol parece castigar a terra com a intensidade dos seus raios, habitualmente, amados e desejados; quando os dias se sucedem, muito quentes, parecendo que a atmosfera se torna quase insuportável; quando a terra vai se abrindo em frinchas, parecendo gemer em sentimento de dor; quando as plantas se deitam sobre o solo, por não conseguirem manter a altivez, pela desidratação sofrida; quando parece que tudo queimará, secará, findará... 
Pensamos nos campos semeados e nos perguntamos se os grãos conseguirão tomar forma, crescer e amadurecer, para abastecer as nossas mesas. 
Olhamos para as árvores e nos indagamos se haverá floração para que se transforme em abençoados frutos. 
Contemplamos os tímidos filetes d’água, aqui e ali, onde antes se agitavam caudalosos rios, povoados por peixes de variadas espécies.
Adiante, o leito seco deixa entrever as pedras nuas, brilhando ao sol. 
Aqui e ali um tronco de árvore deitado, como quem se tivesse agachado para sorver uma última gota d´água do solo seco. 
O abastecimento nas residências, fábricas e hospitais sofre interrupções, com danos para a indústria, a saúde, a higiene. 
Então, quando o céu escurece e nuvens escuras se apresentam, todos os olhos se fixam nelas. 
Aguardamos. 
Aguardamos a chuva que, por vezes, desaba forte, tempestuosa. 
Seu primeiro objetivo é lavar a atmosfera para que se torne respirável, leve. 
E quando as águas atingem o solo, é uma sinfonia, um concerto inigualável de sons. 
É o barulho da terra, sorvendo o líquido em largos goles, os rios desejando alargar as margens para a recepção mais ampla. 
As cascatas voltam a cantar, as fontes brilham. 
As plantas bebem por todas as dimensões de si mesmas. 
As aves observam dos seus ninhos, os animais de suas tocas, alguns se precipitando para fora para se deixarem banhar... 
Sentimos a leveza do ar, depois da chuva torrencial, e agradecemos pelo reabastecimento que se fará gradual, na constância da sua presença.
Chuva, generosa chuva. 
Violenta ou branda, caindo mansa, é um benefício. 
Quanto dependemos dela. 
* * * 
Assim como a chuva podemos nos tornar benefício para nossos irmãos.
Com o frescor das nossas ideias cristãs, podemos aliviar a sede de consolo e esperança, em almas ressequidas, que vivem a tensão de ambientes domésticos áridos. 
Como a chuva que suaviza a atmosfera, podemos abrandar a atmosfera de muitas vidas. 
São amigos, colegas, companheiros que necessitam de um sutil aroma de ternura. 
Aguardam ouvidos que se disponham a ouvir suas mágoas e lhes ofertar algumas gotas de aconchego. 
Aliviemos o calor das dores de quem sofre há muito tempo e quase está a perder a esperança. 
Como chuva mansa, sirvamo-nos da nossa voz para lhes balbuciar a canção do amanhã que surgirá, renovado. 
Pensando no bem, derramemos consolo sobre algumas existências que gravitam ao nosso redor. 
Participemos delas e tenhamos a certeza de que, na medida certa, obediente às leis de Deus, estaremos promovendo vultosas ondas de amor e de alegrias. 
Imitemos a natureza, convertendo-nos em vida para nosso semelhante, como chuva generosa... 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 18, do livro Rosângela, do Espírito homônimo, psicografia de Raul Teixeira, ed. FRÁTER. Em 13.9.2021.

domingo, 12 de setembro de 2021

O GRANDE AMOR FRATERNAL

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Ela contava quase oitenta anos de idade. 
Então, certa manhã, acordou repassando mentalmente os anos vividos. Pela memória, foi relembrando as tantas pessoas que haviam passado por sua vida, quantas amara e de que formas tão diversas. Criança e adolescente, sua mãe fora seu grande amor, assinalado por um clima de carinho sem fim. 
Lembrou do pai. 
Com ele, tinha uma relação de um certo temor, porque era muito exigente e um tanto autoritário. Nem por isso deixara de gostar dele, algo como um amor feito de respeito. Era um homem trabalhador, correto, atento às questões que envolviam a esposa e os filhos. 
Quanto às irmãs, recordava que ora tinha vontade de estar perto, ora de se afastar, quando não a entendiam. 
Amigas não tinham sido muitas, mas algumas lhe haviam até despertado a vontade de ser como elas, despreocupada, leve. 
Ao recordar de quando conheceu aquele que viria a ser seu marido, a lembrança era dos dias em que seu coração parecia querer pular fora do peito. 
Uma louca paixão. 
A recordação do nascimento do primeiro filho lhe trouxe à mente um sentimento que superou tudo que havia sentido, até então: um amor especial. E quando esse filho se casou, seu coração doeu muito. 
Parecia que o iria perder. 
Logo compreendera que o filho nascera para o mundo, não para si. 
E, afinal, sem muito tardar, surgiram outros amores, os netos. Eles lhe haviam transformado o coração em doçura, numa relação feita de ternura.
Os anos transcorridos, o casal a sós e ela se deu conta de que o amor que sentia por seu marido havia se modificado. 
Ele envelhecera, ela também. 
A paixão se transformara num doce sentimento de amizade. 
Entendia, nessa rememoração, que o amor verdadeiro não ferve o tempo todo. 
Transforma-se, mas continua vivo. 
Revivendo tantas experiências, percebeu que aprendera a amar a todos que a cercavam, de uma maneira mais tranquila, sem cobranças. 
É como se tivesse conquistado mais equilíbrio na arte de amar. 
* * * 
Os amores familiares são os compromissos maiores da alma. 
Os laços consanguíneos são conquistas que podemos concretizar para a eternidade. 
Os laços de amizade surgem de simpatias naturais, que nos envolvem em desejos e sonhos que vêm e que vão. 
Já o sentimento nobre da fraternidade, que nos deve acompanhar em todos os relacionamentos, é mais duradouro. 
Preservar esse sentimento entre os seres que nos são queridos é o que demonstra maturidade, equilíbrio e bom senso. 
Afinal, a fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas. 
Fraternidade quer dizer afeto de irmão para irmão, definindo o que na realidade somos: todos irmãos perante o Pai Celestial. 
Ora reencarnamos em uma posição familiar, ora noutra, mas o que importa realmente é a nossa posição espiritual. 
Deus é nosso Pai Criador, logo, como irmãos é que devemos nos amar.
Compondo a grande família universal, todas as formas de amor haverão de se fundir, um dia, em um grande e uníssono amor fraternal. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 141, do livro Pão Nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 8.10.2016.