sábado, 30 de novembro de 2019

A ÁGUIA DE ASAS PARTIDAS

AMÉLIA RODRIGUES
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ele possuía muitas riquezas. Tinha as arcas abarrotadas de ouro e gemas preciosas. A juventude lhe sorria e os amigos sempre se faziam presentes nos banquetes. Habituara-se a dormir em seu leito de ébano e marfim. Dormir e sonhar. Em seus sonhos, misturava-se a realidade das tantas vitórias que lhe enriqueciam os dias. E um desejo de paz que ainda não fruía. Ele amava as corridas de bigas e quadrigas. Recentemente comprara cavalos árabes, fogosos. E escravos o haviam adestrado durante dias. Tudo apontava para a vitória nas próximas corridas no porto de Cesareia. Mas os momentos de tristeza se faziam constantes. A felicidade não era total. Faltava algo. Ao mesmo tempo, ele temia perder a felicidade que desfrutava. Por isso, ouvindo falar daquele homem singular que andava pelas estradas da Galileia, O procurou. 
-Bom Mestre, que bem devo praticar para alcançar a vida eterna? 
Desejava saber. Como desejava. A resposta veio sonora e clara: 
-Por que me chamas bom? Bom somente o Pai o é. À tua pergunta, respondo: “Cumpre os mandamentos, isto é, não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás teu pai e tua mãe.” 
-Tudo isso tenho observado em minha mocidade. No entanto, sinto que não me basta. Surdas inquietações me atormentam. Labaredas de ansiedade me consomem. Falta-me algo! 
-Então – propõe-lhe a Luz – vende tudo quanto tens, reparte-o entre os pobres. Vem, e segue-me! 
A ordem, a meiguice daquele homem ecoava em seu Espírito. Ele era uma águia que desejava alcançar as alturas. E o Rabi lhe dizia como utilizar as asas para voar mais alto. Pela mente em turbilhão do jovem, passam as cenas das glórias que conquistaria. Os amigos confiavam nele. Tantos esperavam a sua vitória. Israel seria honrada com seu triunfo. Sim, ele podia renunciar aos bens de família, mas ao tesouro da juventude, às riquezas da vaidade atendida, os caprichos sustentados...? Seria necessário renunciar a tudo? A águia desejava voar mas as asas estavam partidas... Recorda-se o jovem que os amigos o esperam na cidade para um banquete previamente agendado. Num estremecimento, se ergue: 
-Não posso! – Murmura.-Não posso agora. Perdoa-me.
E afastou-se a passos largos. Subindo a encosta, na curva do caminho, ele se deteve. Olhou para trás. Vacilou ainda uma vez. A figura do Mestre se desenha na paisagem, aos raios do luar. A luz parece chamá-lo uma vez mais. Indecisa, a alma do moço parece um pêndulo oscilante. A águia ainda tenta alçar o voo. O peso do mundo a retém no solo. Ele se decide. Com passos rápidos, quase a correr, desaparece na noite. Os Evangelistas Mateus, Marcos e Lucas narram o episódio e dizem de como o jovem se retirou triste e pesaroso. Nem poderia ser diferente: fora-lhe dada a oportunidade de se precipitar no oceano do amor e ele preferira as areias vãs do mundo. 
* * * 
O Divino Amigo nos chama, diariamente, para a conquista do reino de paz. Alguns ainda somos como o moço rico. Deixamos para mais tarde, presos que ainda estamos a muitas questões e vaidades pessoais. É bom analisar o que vale mais: a alegria efêmera do mundo ou a felicidade perene que tanto anelamos. Depois, é só optar.
Redação do Momento Espírita com base no cap. O mancebo rico, do livro Primícias do Reino, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Sabedoria. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, ed. FEP. 
Em 29.11.2019.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O MAIS RICO DO MUNDO

É comum ouvirmos histórias envolvendo pessoas ilustres da nossa atualidade. Nem sempre verídicas. Algumas muito positivas mas que, após uma pesquisa, se revelam totalmente sem fundamento. Optamos então por narrar o fato, de excelente lição, sem apontar o eventual envolvido. 
Conta-se que um dos homens mais ricos da atualidade, ao ser indagado a respeito de alguém que lhe sobrepujasse em fortuna, teria respondido com a seguinte narrativa.
Quando eu ainda não era famoso, certa feita, no aeroporto de Nova York, vi um vendedor de jornais. Desejei comprar um exemplar, mas descobri que não tinha moedas suficientes. Devolvi o exemplar ao jornaleiro, agradeci, dizendo que me faltava dinheiro para pagar. O vendedor insistiu para que eu levasse o jornal mesmo assim. 
-“Estou lhe dando”, falou, firme. 
Passados uns dois ou três meses, no mesmo aeroporto, o fato tornou a acontecer. De igual forma, o rapaz me ofereceu o jornal, sem que eu tivesse o suficiente em moedas para lhe pagar. Recusei, mas ele disse: 
-“Pode levar. Compartilho isso dos meus ganhos. Não estarei perdendo”. 
E lá fui eu com meu exemplar outra vez. O tempo passou. Quase vinte anos depois, famoso e conhecido no mundo, lembrei daquele vendedor. Estaria ainda no aeroporto, na mesma função? Procurei-o e afinal o encontrei. Perguntei se ele sabia quem eu era. 
-“Claro que sim”, disse logo. “Quem não sabe?” 
E disse meu nome. Perguntei em seguida: 
-“Você lembra que me deu o jornal gratuitamente?” 
-“Sim, lembro, e foram duas vezes.” 
-“Pois então”, eu lhe falei, “quero pagar a ajuda que me deu naquela época. O que você gostaria de ter? O que quiser, eu lhe dou. 
-“Bem”, falou o homem, “o senhor realmente acredita que pode igualar a minha ajuda? Veja bem: quando eu lhe dei os jornais, era um pobre vendedor. O senhor agora, muito rico, deseja me dar algo. Acha que a sua doação pode se igualar com a minha?” 
E concluiu o entrevistado: 
-Nesse dia, eu percebi que o vendedor de jornais era mais rico do que eu porque ele não esperou se tornar rico para ajudar alguém. 
 * * * 
Se pensarmos, de forma apressada, poderemos qualificar o vendedor de jornais como alguém orgulhoso. No entanto, precisamos extrair a lição, exatamente como no-la ensina o Evangelho. Observando as doações, no templo, Jesus diz que as duas pequenas moedas depositadas pela viúva eram uma doação muito mais significativa do que as inúmeras moedas deixadas pelos ricos fariseus. A questão é a criatura se privar de algo para ofertar ao outro, que atravessa uma necessidade. Em essência, essa pessoa é a potencialmente rica porque rico é o seu coração, que pensa no semelhante, antes que em si mesma. Afinal, quando damos daquilo que nos sobra, daquilo que não nos faz falta, naturalmente tem seu mérito, porque denota nosso desprendimento, nossa vontade de auxiliar. Contudo, mais excelente doação é daquela criatura que dá do que lhe poderá fazer falta. Reparte o pão que tem para saciar a própria fome. Oferece a água para aplacar a sede de alguém embora também se ache sedento. Essa é a verdadeiramente rica. 
Redação do Momento Espírita, a partir de nota que circula pelas redes sociais. 
Em 28.11.2019.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A AMIZADE REAL

CHICO XAVIER E NEIO LÚCIO
Um homem que amontoara sabedoria, além da riqueza, auxiliava diversas famílias a se manterem com dignidade. Sentindo-se envelhecer, chamou o filho para instruí-lo na mesma estrada de bênçãos. Para começar, pediu ao moço que fosse até o lar de um amigo de muitos anos, a quem destinava determinada quantia mensal. O jovem viajou alguns quilômetros e encontrou a casa indicada. Esperava encontrar um casebre em ruínas mas o que viu foi uma casa modesta, mas confortável. Flores alegravam o jardim e perfumavam o ambiente. O amigo de seu pai o recebeu com alegria. Depois de inteligente palestra, serviu-lhe um café gostoso. Apresentou-lhe os filhos, que se envolviam num halo de saúde e contentamento. Reparando a fartura, o portador regressou ao lar sem entregar o dinheiro. Para quê? Aquele homem não era um pedinte. Não parecia ter problemas. E foi isso mesmo que disse ao velho pai, de retorno ao próprio lar. O pai, contudo, depois de ouvir com calma, retirou mais dinheiro do cofre, dobrou a quantia e disse ao filho: 
-Você fez muito bem em retornar sem nada entregar. Não sabia que o meu amigo estava com tantos compromissos. Volte à residência dele e entregue-lhe esse valor, em meu nome. De agora em diante, é o que lhe destinarei. A sua nova situação reclama recursos duplicados. 
O rapaz relutou. 
-Aquela pessoa não estava em posição miserável. Seu lar tinha tanto conforto quanto o deles. 
-Alegro-me em saber, falou o velho pai. Quem socorre o amigo apenas nos dias do infortúnio, pode exercer a piedade que humilha em vez do amor que santifica. Quem espera o dia do sofrimento para prestar favor, poderá eventualmente encontrar silêncio e morte, perdendo a oportunidade de ser útil. Não devemos esperar que o irmão de jornada se converta em mendigo a fim de socorrê-lo. Isto representaria crueldade e dureza de nossa parte. Todos podem consolar a miséria e partilhar aflições. Raros aprendem a acentuar a alegria dos seres amados, multiplicando-a para eles, sem egoísmo e nem inveja no coração. O amigo verdadeiro sabe fazer tudo isto. Volte pois e atenda ao meu conselho. Nunca desejei improvisar necessitados em torno da nossa porta e sim criar companheiros para sempre. 
Entendendo a preciosa lição, o rapaz foi e cumpriu tudo o que lhe havia determinado seu pai. 
 * * * 
O verdadeiro amigo é aquele que sabe se alegrar com todas as conquistas. Se ampara na hora da dor e da luta, também sabe sorrir e partilhar alegrias. O amigo se faz presente nas datas significativas e deixa seu abraço como doação de si próprio ao outro. Incentiva sempre. Sabe calar e falar no momento oportuno. Pode estar muito distante, mas sua presença sempre perto. O verdadeiro amigo é uma bênção dos céus aos seres na Terra. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 18, do livro Alvorada cristã, pelo Espírito Néio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 27.11.2019.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

À ESPERA DOS PAIS!

DIVALDO PEREIRA FRANCO
A dama da alta sociedade costumava desfilar, em sua carruagem de luxo, pelas ruas de São Francisco, sob olhares de admiração e inveja. Um dia, os jornais publicaram o falecimento de uma tia e ela, obedecendo às convenções sociais, teve que permanecer no lar por uma semana. Indignada por ter que ficar sete dias dentro do enorme palácio, buscou o marido, então Governador do Estado, e esse a fez lembrar-se de que poderia passar os dias brincando com o filho. Ela gostou da ideia. Adentrou a ala esquerda do palácio, que tinha sido liberada para o pequeno príncipe, que vivia rodeado por profissionais de diversas nacionalidades, a fim de lhe ensinarem idiomas e costumes de outros povos. Quando o pequeno Leland avistou a mãe, exultou de felicidade e lhe perguntou por que ela estava ali, naquele dia e hora não habituais. Ela lhe contou o motivo e ele, feliz, lhe perguntou quantas tias ainda restavam. Leland estava ao piano tocando uma balada que aprendera com sua babá francesa. A mãe, impressionada, ficou ouvindo, por alguns instantes, aquela balada que lhe pareceu um tanto melancólica. Pediu ao filho que cantasse, ele cantou. Falou-lhe para que a traduzisse e ele a traduziu. Era a história de um menino que era levado pela sua mãe todos os dias até à praia, de onde ficavam olhando o pai desaparecer na linha do horizonte, em seu barco pesqueiro. Todos os dias a cena se repetia, até que um dia, o barco do pai não retornou. A mãe conduziu o filho novamente à praia e lhe pediu que ficasse esperando, pois ela iria buscar o marido. Adentrou o mar e o filho ficou esperando na praia, pelo pai e pela mãe, que jamais retornaram. A balada comoveu a grande dama. Falou ao filho que era muito triste. Ele respondeu que cantava porque se identificava com o menino da praia. A mãe não entendeu em que consistia a semelhança e retrucou ao filho: 
-Você tem tudo. Não lhe falta nada. Tem mãe e pai e é herdeiro de um dos homens mais importantes deste Estado. 
Leland respondeu com melancolia: 
-Mas o papai adentrou há muitos anos o mar dos negócios e nunca o posso ver. Você o seguiu e eu fiquei aqui à espera de um retorno que nunca acontece. Como você pode perceber, minha história é muito semelhante à do menino solitário da praia.
Daquele dia em diante, a dama passou a conviver mais com o filho de onze anos a quem não conhecia e, por esse motivo, aprendeu a amá-lo. A convivência estreita com a mãe trouxe a Leland um brilho novo. Por algum tempo a vida lhes permitiu desfrutar da alegria do afeto mútuo, das experiências vividas, um em companhia do outro. Fizeram uma longa viagem de navio e Leland adoeceu. A mãe fez tudo o que podia para lhe salvar a vida, mas foi em vão. O navio retornou e Leland não pôde mais contemplar a mãe com os olhos físicos. Todavia, naquele breve tempo de convívio, o menino ensinou à mãe outros valores. Ela construiu orfanatos e outras obras de assistência para a comunidade carente. Leland não herdou a fortuna dos pais, mas a fortuna rende frutos até hoje, junto à sociedade daquele Estado. Dentre elas, a Universidade Stanford.
 * * * 
Não há motivo que justifique o abandono dos filhos por parte dos pais. Não há filhos que aceitem, de boa vontade e em sã consciência, trocar o afeto dos pais por qualquer outro tesouro. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em palestra de Divaldo Pereira Franco. Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. Fep. 
Em 23.11.2012.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

ESPELHO DA ALMA

Quando somos jovens, geralmente temos uma boa relação com o espelho. Paramos diante dele e nos olhamos de corpo inteiro e por todos os ângulos. Temos mais coragem de nos observar, de enfrentar possíveis desajustes físicos, e o futuro está a nosso favor. Somos mais flexíveis, desarmados, versáteis, e mais dispostos às mudanças. Gostamos de trocar opiniões e acatamos idéias novas com facilidade. Nossa alma, tanto quanto nosso corpo está em constante transformação. Estamos sempre à procura de novos significados para velhas idéias. Com o passar do tempo, vamos evitando espelhos que reflitam nosso corpo por inteiro. Procuramos aqueles que mostrem apenas do pescoço para cima. Fugimos da nossa aparência, por não gostar dela ou porque ainda desejamos ver refletido aquele corpo jovem, a cabeleira abundante, a pele lisa e brilhante. E porque não gostamos da nossa imagem, fugimos do espelho, como se isso resolvesse o nosso problema. Assim também acontece com as questões da alma. Quando somos jovens temos coragem de refletir sobre nossas atitudes, gostamos de aprender coisas novas e estamos dispostos a enfrentar desafios. Buscamos respostas para nossas dúvidas e não tememos as críticas, por entender que elas nos ajudam a crescer. Mas quando as gordurinhas do comodismo vão se acumulando em nossa alma começamos a fugir de espelhos que nos mostrem tal qual somos. As idéias vão se cristalizando e não temos mais tanta disposição para reciclar as nossas memórias. Posicionamo-nos numa área de conforto e nos deixamos levar pelas circunstâncias, sem tantos esforços. Para muitos é como se uma influência paralisante lhes tomasse de assalto. Não se interessam mais pelo conhecimento, nem por fazer novas amizades ou cuidar um pouco do corpo e da saúde. Esquecidos de que a sabedoria não está na espinha dorsal nem na pele jovem ou na basta cabeleira, entregam-se ao desânimo como se tivessem chegado ao fim da linha. Não se dão conta de que enquanto estamos respirando é tempo de aprender e crescer, de fazer exercício e eliminar as gorduras indesejáveis. Enquanto podemos contemplar o espelho físico, podemos nos observar e envidar esforços para corrigir o que julgamos necessário. Enquanto a vida nos permite, devemos voltar o olhar para o espelho da consciência e ajustar o que seja preciso, para que fiquemos mais belos e mais sábios. Arejar os pensamentos e reciclar as memórias infelizes que teimamos em arquivar nos escaninhos do ser. Repensar conceitos, refazer idéias, rever atitudes e posturas. Só assim afastaremos o desejo constante de fugir do espelho, de fugir de nós mesmos, fingindo que somos felizes e mascarando a realidade. Pense nisso e não lute contra a natureza, desejando segurar o tempo com as mãos. Não deixe que a sua sabedoria se esconda nas rugas da pele nem perca o viço entre os cabelos brancos. A beleza da sua alma é independente do corpo físico. A sua grandeza se reflete na sua forma de pensar, sentir e agir, e não na imagem projetada no espelho. Pense nisso e observe-se de corpo e alma, por inteiro. Lembre-se de que cabe somente a você a decisão de assumir a realidade e modificá-la, quando, como e se julgar necessário. 
Pense nisso! 
Pior do que estar insatisfeito com o corpo é a insatisfação com a própria consciência. Essa insatisfação lhe rouba a paz, a alegria, a vontade de crescer e ser feliz. Por isso é importante lembrar que você pode modificar essa realidade quando desejar. Basta investir na sua melhoria íntima arejando a mente, eliminando preconceitos e adquirindo conhecimentos que lhe tragam satisfação e paz de consciência. 
Pense nisso, mas pense agora. 
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

UM ESPECIAL TESOURO

Richard Simonetti
Na Epístola aos Efésios, capítulo 5, versículos 14 a 17, Paulo de Tarso conclamava os homens no seguinte sentido:
-“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará. Andai prudentemente, não como néscios e, sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual é a vontade do Senhor.” 
Paulo indicava o ideal cristão como sendo a sublime meta a ser alcançada pelo homem. Ao dizer que “os dias são maus”, reportava-se aos problemas, às dificuldades cotidianas que, ontem como hoje, marcam nossas existências. Diversas são as dores que afligem nossos dias. Provas e expiações são características constantes do mundo em que vivemos. Por isso, devemos conduzir nossos passos com cautela, não como tolos que não sabem o que fazem. Devemos cultivar a reflexão, resgatando o tempo perdido nas veredas dos erros. O tempo é um tesouro de valor inestimável concedido a todos, por Deus, de forma indistinta. Os minutos, os dias, os séculos têm a mesma duração para todos os seres. Mas como utilizamos esse tempo? Afinal, o modo como nos valemos dele é que faz a diferença, o resultado. Usamos nosso tempo ou apenas o desperdiçamos? “Matamos” o tempo, valemo-nos de meros “passatempos”, ou o investimos como uma moeda valiosa capaz de nos trazer grandes lucros? Onde estivermos, poderemos adquirir valiosos patrimônios de experiência e de conhecimento, de virtude e de sabedoria. Para tanto, não podemos permitir que os minutos se escoem improdutivamente. Muitas pessoas passam a vida como se estivessem mergulhados em um sonambulismo, embalados no sonho da ilusão. Deixam que séculos decorram, semeando apenas inconsequências e vícios, comprometendo o futuro com a colheita inevitável de sofrimentos. É imperioso, portanto, que aproveitemos as horas. Podemos começar tentando corrigir nossas próprias imperfeições. Os vícios, por exemplo, não representam apenas perda, mas também comprometimento futuro do tempo. Quantos minutos perde o fumante, por ano, no ritual das baforadas de nicotina? Quantas horas precisa trabalhar para alimentar seu vício? Quantos dias abreviará de sua existência em virtude das moléstias que decorrem do uso do cigarro? Quantos anos sofrerá, mesmo depois da própria morte, para reequilibrar o próprio Espírito? E o maledicente? Quantos minutos perde diariamente divagando sobre o comportamento alheio? E quantas existências gastará depois, às voltas com males que sedimentará em si mesmo? Tantas são as opções para quem pretende aperfeiçoar o próprio espírito! Tantas são as oportunidades diárias que surgem para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir! Disciplinar palavras e emoções. Ensaiar atitudes de humildade. Treinar a paciência. Ampliar seus conhecimentos. Conter a língua ferina. Eis aí algumas sugestões iniciais para quem se disponha a aplicar valiosamente seu tempo em seu real benefício. Afinal, Deus nos oferece a bênção do tempo para as experiências humanas, mas, cedo ou tarde, deveremos prestar contas à Divindade, da forma como utilizamos esse precioso presente. Pensemos nisso, desde agora. 
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. O grande tesouro, do livro Uma razão para viver, de Richard Simonetti, ed. São João.

domingo, 24 de novembro de 2019

ESPECIAL GRATIDÃO

Todd Burpo
A gratidão é um sentimento nobre. Somente almas de superior qualidade a externalizam. Quase sempre, o bem que se recebe é esquecido, tão logo circunstâncias outras se apresentem. Mas, aquele garotinho de quatro anos era mesmo um ser especial. Quando começou a passar mal, seus pais o levaram ao médico. Os sintomas de vômito, febre e dor na barriga foram diagnosticados como gastroenterite. O diagnóstico errado conduziu o pequenino a uma cirurgia de emergência. Um apêndice perfurado causara um grande estrago interno. De tal forma que o médico optou por deixar a incisão aberta e dois drenos. Todas as manhãs, o médico vinha verificar a incisão e fazer o curativo. O garotinho gritava feito louco durante essas visitas. E começou a associar o médico com tudo de ruim que lhe estava acontecendo. Durante uma semana, os drenos deixaram escorrer o veneno de dentro do seu corpo de apenas dezoito quilos. A melhora se instalou e pai, mãe e filho se dispuseram a deixar o hospital. Já no elevador, com as portas começando a fechar, eles viram o médico correr em sua direção. Um exame de sangue de última hora havia detectado uma queda radical na contagem de glóbulos brancos. O menino retornou para a cirurgia para limpeza de novas bolsas de infecção no seu abdômen. Finalmente, depois de vários dias de tratamento, muitos sustos para os pais, que viram a sombra da morte colocar suas cores no rosto do filho, eles foram para casa. Agora, outro problema se apresentava: as contas a pagar. O pai ficara muito tempo afastado da atividade profissional, por conta da enfermidade do filho. Havia contas domésticas, da empresa e, acrescidas, ademais, por enormes contas hospitalares. A primeira dessas era de trinta e quatro mil dólares. 
-Poderia ser um milhão, disse o pai. Tanto faz. Não tenho como levantar essa quantia. Não podemos pagar isto agora, disse ele para a esposa.
Naquele exato momento, o filho veio da sala e surpreendeu o casal com uma estranha declaração. Ele ficou de pé na extremidade da mesa, colocou as mãos na cintura e falou: 
-Papai, Jesus usou o doutor para ajudar a me consertar. Você precisa pagar a ele.
Então, se virou e saiu. Marido e mulher se entreolharam. O que fora aquilo? Ambos foram pegos de surpresa, de vez que o garoto entendera que o cirurgião era a fonte de todas as apalpadelas, cortes, espetadelas, drenagens e dores. E o pai ficou a pensar como fora estranha aquela proclamação na cozinha. Afinal, quantas crianças de quatro anos analisam as angústias financeiras da família e exigem o pagamento para um credor? E, principalmente, um credor de quem ele nunca gostou particularmente...
 * * * 
Os que ouvimos a história dessa família concluímos: o garoto estava agradecido e, na sua gratidão, não podia deixar de pedir que quem o salvara da morte, recebesse o seu justo pagamento. Deixemo-nos contaminar por esse belo sentimento e recordemos se a alguém ou a vários alguéns não estamos devendo expressões de gratidão. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. Nove, dez e onze, do livro O céu é de verdade, de Todd Burpo com Lynn Vincent, ed. Thomas Nelson Brasil.
Em 26.03.2012.
http://momento.com.br/

sábado, 23 de novembro de 2019

ANJOS DA PONTE

Mia Munayer
A ponte Golden Gate, na baía de São Francisco, Califórnia, Estados Unidos, é a ponte mais visitada por turistas. Não há quem não admire sua imponência e a vista que oferece a quem por ela transite. No entanto, o monumento guarda um outro recorde, nada animador: é um dos principais pontos de suicídio do planeta. A questão é tão séria que a ponte tem a sua própria equipe de voluntários, a Bridgewatch Angels - anjos da brigada da ponte, dedicada a detectar potenciais suicidas e salvar suas vidas com um método simples: ouvir o que têm a dizer. Desde sua inauguração, em 1937, a ponte conta com o triste índice de mais de mil e setecentos suicídios. No ano de 2018, duzentas e quatorze pessoas tentaram pular. O fato de apenas vinte e sete terem realizado o seu desejo é um sinal do sucesso do trabalho conjunto desses voluntários com a polícia. Apesar de viver na região, a policial Mia Munayer não tinha conhecimento do legado sombrio da Golden Gate, até assistir em 2010 ao documentário The Bridge. Tinha que fazer algo para ajudar a impedir que mais pessoas morressem, diz ela, que fundou a Bridgewatch Angels. Desde 2011, os voluntários percorrem a ponte em datas importantes, como Dia dos namorados, véspera de Natal, e outras. São treinados para abordar qualquer pessoa que acreditem possa estar em perigo. Munayer gastou mais de dez mil dólares do próprio bolso para financiar as campanhas, que incluem seminários para pessoas interessadas em ajudar a patrulhar a ponte em épocas de maior preocupação. A policial treina os voluntários para lidar com aqueles que parecem isolados e angustiados. 
-Eles aprendem a detectar os sinais de alerta e maneiras de reagir a isso. Os voluntários fazem perguntas que podem começar com um simples 
-Você está bem? 
É uma questão de estimular a pessoa a falar. Conversamos com as pessoas. Mostramos que não estão sozinhas. Nós ouvimos. Às vezes, essa é a melhor resposta. Mas é importante tentar não tocar em assuntos sensíveis e apenas mantê-las conversando. - Diz a policial. 
* * * 
Talvez não tenhamos parado para pensar sobre isso, mas próximo a nós pode haver alguém pensando em desistir da própria vida. Fiquemos atentos, mostremos que ninguém está só, que juntos podemos nos ajudar a solucionar os problemas e que não é desistindo de tudo que fará com que o sofrimento, a dor, vá embora. O suicídio é uma saída enganosa, uma saída falsa, uma infração às leis maiores do Universo. A vida nos foi dada para evoluirmos. Para isso passamos por provas e expiação. Importante suportá-la e ainda, retirar de todos os dias o seu aprendizado, pois mesmo os maiores erros, os maiores deslizes têm algo a nos ensinar. Estamos aqui para viver e viver é lidar com tudo isso, fortalecendo-nos em cada luta. Não estamos sós. Temos nosso Espírito protetor ao nosso lado, temos amores que se importam conosco aqui na Terra, temos o Criador da vida no coração aguardando que nos aproximemos dele.  
Redação do Momento Espírita, com base em reportagem do site BBC News Brasil. 
Em 22.11.2019.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A ALEGRIA DOS OUTROS

Um jovem, muito inteligente, certa feita se aproximou de Chico Xavier e indagou-lhe:
-Chico, eu quero que você formule uma pergunta ao seu guia espiritual, Emmanuel, pois eu necessito muito de orientação. Eu sinto um vazio enorme dentro do meu coração. O que me falta, meu amigo? Eu tenho uma profissão que me garante altos rendimentos, uma casa muito confortável, uma família ajustada, o trabalho na Doutrina Espírita como médium, mas sinto que ainda falta alguma coisa. O que me falta, Chico? 
O médium, olhando-o profundamente, ouviu a voz de Emmanuel que lhe respondeu:
-Fale a ele, Chico, que o que lhe falta é a “alegria dos outros”! Ele vive sufocado com muitas coisas materiais. É necessário repartir, distribuir para o próximo...A alegria de repartir com os outros tem um poder superior, que proporciona a alegria de volta àquele que a distribui. É isto que está lhe fazendo falta, meu filho: a “alegria dos outros”. 
 * * * 
Será que já paramos para refletir que todas as grandes almas que transitaram pela Terra, estiveram intimamente ligadas com algum tipo de doação? Será que já percebemos que a caridade esteve presente na vida de todos esses expoentes, missionários que habitaram o planeta? Sim, todos os Espíritos elevados trazem como objetivo a alegria dos outros. Não se refere o termo, obviamente, à alegria passageira do mundo, que se confunde com euforia, com a satisfação de prazeres imediatos. Não, essa alegria dos outros, mencionada por Emmanuel, é gerada por aqueles que se doam ao próximo, é criada quando o outro percebe que nos importamos com ele. É quando o coração sorri, de gratidão, sentindo-se amparado por uma força maior, que conta com as mãos carinhosas de todos os homens e mulheres de bem. Possivelmente, em algum momento, já percebemos como nos faz bem essa alegria dos outros, quando, de alguma forma conseguimos lhes ser úteis, nas pequenas e grandes questões da vida. Esse júbilo alheio nos preenche o coração de uma forma indescritível. Não conseguimos narrar, não conseguimos colocar em palavras o que se passa em nossa alma, quando nos invade uma certa paz de consciência por termos feito o bem, de alguma maneira. É a lei maior de amor, a lei soberana do Universo, que da varanda de nossa consciência exala seu perfume inigualável de felicidade. Toda vez que levamos alegria aos outros a consciência nos abraça, feliz e exuberante, segredando, ao pé de ouvido: É este o caminho... Continue... 
 * * * 
Sejamos nós os que carreguemos sempre o amor nas mãos, distribuindo-o pelo caminho como quem semeia as árvores que nos farão sombra nos dias difíceis e escaldantes. Sejamos nós os que carreguemos o amor nos olhos, desejando o bem a todos que passam por nós, purificando a atmosfera tão pesada dos dias de violência atuais. E lembremos: a alegria dos outros construirá a nossa felicidade. 
Redação do Momento Espírita, com base em relato sobre episódio da vida de Francisco Cândido Xavier, de autoria ignorada. Disponível no CD Momento Espírita, v. 20, ed. FEP. 
Em 21.11.2019.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

ENTRE PROBLEMAS E BÊNÇÃOS

É comum, quando falamos a respeito de otimismo e pessimismo, citarmos a questão de quem olha o copo e diz estar meio cheio ou meio vazio. Em se tratando de nossas próprias vidas, quando fazemos o balanço das dificuldades que nos envolvem e as bênçãos que nos alcançam, não se faz diferente o panorama. Lemos que um famoso escritor, numa tarde em que o atormentavam certos pensamentos, escreveu: 
-No ano passado, precisei fazer uma cirurgia para a retirada da vesícula biliar. Tive que ficar de cama por um bom tempo. Completei sessenta anos e precisei renunciar ao meu trabalho favorito: a redação de um editorial. Eu havia permanecido, nessa tarefa, durante trinta anos. Foi ainda nesse ano que experimentei a dor pela morte de meu pai. Meu filho sofreu um acidente de automóvel e ficou hospitalizado por vários dias. A destruição do carro foi total. Outra grande perda. 
E, triste, concluiu: 
-Foi um ano muito mau! 
Sua esposa entrou na sala e o viu, mergulhado em imensa tristeza. Aproximou-se. Leu o que ele havia escrito. Saiu da sala em silêncio para, algum tempo depois, retornar com uma folha de papel, que colocou ao lado daquela que seu marido escrevera. Nessa, ela havia redigido o seguinte: 
-No ano passado, finalmente me desfiz de minha vesícula biliar, depois de passar anos com dor. Completei sessenta anos com boa saúde e me retirei do meu trabalho. Agora posso utilizar meu tempo para escrever com maior paz e tranquilidade. No mesmo ano, meu pai, aos noventa e cinco anos, sem depender de nada e sem nenhuma condição crítica, realizou a grande viagem de retorno à Espiritualidade. Ainda, nesse mesmo ano, Deus abençoou o meu filho com uma nova oportunidade de vida. Meu carro foi destruído, mas meu filho ficou vivo, sem nenhuma sequela. Em resumo: esse ano que passou foi uma grande bênção! 
 * * * 
Essa mulher, de forma sábia e ponderada, reescrevera tudo o que seu marido considerara tragédia, agora sob outro ponto de vista. O ponto de vista do que poderia ter acontecido, de forma pior, e não aconteceu. Ela viu bênçãos onde somente estavam relacionados problemas. Esta é uma lição que precisamos aprender. Olhar para cada acontecimento que nos atinge e avaliar o quanto fomos protegidos. O acidente que poderia ter sido fatal e não foi além de perda de bens materiais. A cirurgia que nos liberou de um problema grave, permitindo-nos a continuidade da vida. A aposentadoria que nos possibilita renovar propósitos, realizar o que antes a falta de tempo não nos permitia. A morte, que nos arrebatou um ser querido, que lhe permitiu abandonar o corpo de carne e retornar, livre, para a Espiritualidade. A morte, que nos fere, pela ausência física dos amores mas que nos confere a certeza de que eles prosseguem a viver, de pé, no mundo do Espírito. Dificuldades. Problemas, bênçãos. Tudo depende do nosso ponto de vista, da forma como encaramos cada senão que nos alcança. Pensemos a respeito. Reflexionemos de uma forma diferente. E aprendamos a ser mais gratos ao Senhor da Vida por tudo que nos confere, a cada dia, a cada hora. 
Redação do Momento Espírita, com base em relato de fato de autoria ignorada. 
Em 20.11.2019.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

ORDEM E PROGRESSO

O lema em nossa Bandeira Nacional é a divisa política do Positivismo. Ou seja, a forma abreviada da frase de autoria do francês Auguste Comte: 
-O amor por princípio e a ordem por base. O progresso por fim. 
É a expressão dos ideais republicanos de respeito aos seres humanos, salários dignos, educação e instrução para os cidadãos, melhoramentos para nosso país, em todos os aspectos. Oferecer a melhor escola para fomentar o progresso intelectual, que deve ser seguido pelo progresso moral. A expressão foi idealizada por Raimundo Teixeira Mendes e a bandeira pintada pela primeira vez pelo artista Décio Villares. Ordem e Progresso é uma síntese da lei. Ambas as palavras indicam o cumprimento das leis estabelecidas nos relacionamentos e ocorrências sociais. Assim, as leis existem como demonstração do progresso da legislação humana, estabelecendo a ordem na vivência nacional. Mas, se desejarmos olhar além das leis humanas, que são mutáveis, e adentrarmos pelo campo das leis divinas, verificaremos como o lema nacional enfeixa todas elas. Se examinarmos as leis divinas de reprodução e de igualdade, constataremos a presença da Ordem que respeita a gestação e não provoca o aborto. A Ordem que permite o nascimento de um novo cidadão, para o Progresso de si mesmo e contribuindo para o progresso geral. A igualdade que atesta que todas as criaturas são iguais perante Deus, sem privilégios ou preferências está estabelecida na Ordem e no Progresso que preside aos relacionamentos. Ordem e Progresso estão presentes no devido uso da liberdade, que não é absoluta, mas relativa. Liberdade de ir e vir, de expressar suas opiniões, de viver sob as luzes do Cruzeiro do Sul, em harmonia e paz. Por outro lado, a lei de trabalho é a própria expressão da Ordem e do Progresso. Pelo trabalho, os cidadãos asseguram seu sustento, adquirem seus bens, sustentam seus filhos, contribuem para o progresso da nação. As relações interpessoais são reguladas pela lei de sociedade. O homem foi criado para viver em sociedade e, auxiliando-se mutuamente, conjugam ainda e sempre a lei do progresso. A própria lei de destruição, entendida como transformação, também se enquadra perfeitamente no lema, pois tudo se transforma no transcorrer dos dias, os seres orgânicos, a paisagem, os locais. A lei de conservação e as leis de amor, justiça e caridade, traduzem por si mesmas o pleno entendimento da Ordem e Progresso. E, claro, o dever moral de autoaprimoramento completa o quadro, ao lado da lei natural que estabelece o equilíbrio do Universo. Notável perceber isso! A inspiradíssima frase resume a lei. Se a observássemos não teríamos tantos equívocos sociais. As leis divinas são imutáveis, as humanas vão sofrendo alterações conforme o amadurecimento da mentalidade, mas são leis que devemos observar e respeitar. Ordem significa respeito, dignidade, solidariedade e as virtudes em geral, inclusive trabalho, que se desdobram fatalmente no Progresso para todos. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Ordem e Progresso, de Orson Peter Carrara, publicado em O Espírita Fluminense, do Instituto Espírita Bezerra de Menezes, de Niterói, RJ, em março/abril de 2014. 
Em 19.11.2019.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

ESPALHANDO O BEM

Quanto bem existirá na Terra? 
-Quando as manchetes nos enchem os olhos e os ouvidos com as histórias de violência e maldade que atingem tantas pessoas, nos indagamos se haverá alguém em quem possamos confiar. 
-Quando ouvimos falar de pessoas simples, que se deixaram enganar, na tentativa de solucionar seus problemas; quando nos relatam tantas ações ruins que ocorrem, todos os dias, quase desacreditamos que haja pessoas boas nesta Terra. 
E, no entanto, o que falta é a imprensa escrita, falada, televisionada lançar sua atenção para outro lado e focar nas coisas boas deste mundo. E são muitas. Enquanto o mal alcança a mídia e as redes sociais, transmitido, postado e replicado, uma enorme rede de bondade silenciosamente se estende pelo mundo. Basta que uma dificuldade se apresente e muitas mãos, mentes e corações se voltam, na tentativa de auxiliar. E, conforme a exortação evangélica de a mão esquerda não saber o que oferece a direita, tudo fazem de forma anônima, sem alarde. 
Aquela adolescente, de apenas dezesseis anos, aprendeu isso, por experiência própria. Ela se entregara à prostituição porque entendera ser a forma mais rápida de obter os recursos de que sua família precisava. Assim, conseguia colocar comida à mesa, e medicamentos, e roupas. Ninguém a aconselhara, de forma diferente. Ou lhe sugerira outro caminho. Mesmo quando se descobriu grávida, continuou nas ruas. Embora o ventre fosse mostrando, paulatinamente, a gestação que avançava, ela não viu diminuírem seus clientes. Até o dia em que foi abordada por um policial. Estranhamente, ele a convidou para ir à sua casa. E ali lhe ofereceu abrigo, alimentação, todo o apoio de que precisasse, para ela e para o filho que estava a caminho. De imediato, lhe disse que estava abrindo as portas do seu lar, para que ela abandonasse a prostituição. Que a desejava amparada e ao filho. Deu-lhe as chaves da casa, comprou-lhe roupas, ajudou-a a preparar o enxoval para a criança. O que ele desejava com essa atitude? Somente que ela mudasse de vida. E Marília se deixou ficar ali. Desconfiada, de início, que algo ele exigisse, em troca. No entanto, os dias lhe mostrariam o contrário. O bebê nasceu e ela continuou no lar daquele homem que a vira nas ruas e tivera compaixão dela. Que a vira como uma filha que precisava ser amparada, cuidada. Mais tarde, ela conheceu um jovem, namoraram e ela se consorciou, formando o seu próprio lar, levando o filho consigo. 
Quando ela contava sua história, dizia que tudo devia àquele homem, àquele policial que a vira, na noite fria, ofertando o corpo a quem desejasse, a barriga saliente, demonstrando a gravidez de meses. Aquele homem fora o bom samaritano em sua vida. Não lhe pedira nada, não lhe exigira nada além de que abandonasse as ruas e se voltasse para o filho, a nascer, em breve.
 * * * 
Sim, existe muito bem espalhado pelo mundo. Pessoas anônimas que amparam aqui, aconselham adiante, sustentam além. Pessoas que reconhecem a necessidade quando a veem. E conseguem vislumbrar o ser humano, além da fachada externa. O ser humano que deseja atenção, apoio, abrigo. Que precisa de um teto sobre a cabeça, alimento à mesa, um aceno de esperança para os dias futuros. Quantos de nós somos dessas pessoas que realizam o bem? Quantos de nós desejamos aderir a esse bem, anônimo, eficiente, propagador de esperança? 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. 
Em 11.10.2018.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

ESPALHANDO ALEGRIA

CÍCERO MARTINS
De um periódico do Estado de Santa Catarina, colhemos a notícia feliz de alguém que se importa com o bem-estar e felicidade do seu próximo. A nota em destaque tem como endereço a Praia Central de Balneário Camboriú. Como personagem, um gari que, junto a outros tantos, tem a responsabilidade de executar a limpeza da praia. Pois Cícero Martins usa o rastelo e o sorriso espontâneo para fazer muito mais do que o próprio trabalho. Todas as manhãs, na altura da Rua Dois Mil, ele escreve na areia um caprichado e enorme Bom dia. Ele já se tornou conhecido de muitos. Vez ou outra, recebe um cumprimento vindo de um dos prédios em frente à praia. Alguém, de lá de cima, grita: 
-Bom dia, Amarelinho. 
Amarelinho é o apelido que recebeu, inspirado na cor do uniforme que ele usa para trabalhar. 
-Eu escrevo para animar. Às vezes, vejo pessoas tristes pelos bancos da praia e acho que, dessa maneira, posso ajudar. 
Conta o simpático homem de quarenta e cinco anos. O funcionário encanta quem mora nos arranha-céus da Avenida Atlântica e aos que visitam a praia. Por vezes, interrompe o passo sem pressa de um turista que caminha, com o olhar vago em direção ao mar e se surpreende com o Bom dia, escrito na areia. Ele não ganha nada a mais para escrever o seu Bom dia. Nada, em termos materiais, porque a sua atitude já lhe rendeu novas amizades. E também estimulou alguns a pensarem a respeito das próprias atitudes pois, por vezes, se acorda pela manhã e não se dá Bom dia nem para quem mora com a gente. Há os que param, indagam da autoria da proeza e o vão cumprimentar, abraçar. Há os que afirmam que a atitude desse gari lhes modificou a forma de encarar a vida. Porque, enquanto os outros vão à praia para tomar sol, passear, descansar, ele está lá, dia após dia, limpando a praia, uniformizado. Com sol forte, com brisa ou sem ela, ele cumpre a sua tarefa, sem reclamar, com alegria. E distribuindo bom ânimo aos outros. Acrescenta o seu algo mais, que diz da sua própria alegria de viver. 
* * * 
Não aguardemos o aplauso do mundo. Não esperemos que os nossos atos sejam louvados pelos que transitam ao nosso lado. Seja a nossa caminhada assinalada pelas pegadas de claridade na Terra, a fim de que, aquele que venha após os nossos passos, encontre as setas apontando o caminho. Sejamos os que cantam o hino da alegria plena na ação que liberta consciências, na atividade que nos irmana e no amor que nos felicita. Se cada um de nós se decidir por viver o amor, por expressar a sua alegria de viver, a paisagem atual do mundo se modificará. No planeta em convulsão, a primavera reflorescerá. Nas almas empedernidas, as flores dos sorrisos irão despontar. Nos seres em cuja intimidade jazem ressecados os galhos da fraternidade, brotos novos se apresentarão. Sejamos nós os promotores dessas mudanças. Ainda hoje, principiemos a espalhar alegrias. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato da vida do gari catarinense Cícero Martins e com pensamentos do cap. 11, do livro Momentos enriquecedores, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 08.06.2012.

domingo, 17 de novembro de 2019

A ESPADA E A CRUZ

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
A História nos diz que a espada começou a ser usada, pelo homem, de forma tosca, no chamado período paleolítico, como instrumento de defesa contra os animais. Também como auxiliar em algumas atividades, no intuito de melhorar as condições da própria existência. Com o passar do tempo, foi se transformando em uma arma agressiva, ceifando vidas humanas nos ferozes combates entre tribos e clãs. Deu origem, de alguma forma, para a lança e a flecha, que serviam para a caça e a pesca. Mas, especialmente, para a guerra. Mais tarde se converteu em troféu de honra e galardão para os cavaleiros e os chefes de Estado. Por sua vez, a cruz tem origem na Caldeia Antiga, como instrumento de aflição e morte dolorosa. Os romanos a utilizaram largamente, com o objetivo de torturar as vítimas, lhes impondo grandes sofrimentos, matando-as pela asfixia, além de todas as dilacerações terríveis que produzia nos condenados à morte. Os Evangelhos narram que, no episódio da prisão de Jesus, no Horto das Oliveiras, o apóstolo Pedro tomou da espada que levava e com ela decepou a orelha do soldado Malco. A intervenção de Jesus não se fez esperar, curando o ferimento e, ao mesmo tempo, advertindo Pedro a que guardasse sua espada. Como Príncipe da Paz, Jesus jamais poderia aderir a qualquer tipo de violência, mesmo que fosse para preservar a Si próprio. Interessante se observar que a espada tem o mesmo formato da cruz, no entanto, enquanto a primeira agride, a segunda se tornou símbolo da entrega e do sacrifício total, com o suplício de Jesus. Depois dEle, muitos cristãos foram presos à cruz do martírio, por amor à verdade, por desejarem pregar a paz e o amor entre todas as criaturas. 
 * * * 
Hoje, ainda existem muitos que utilizam a espada. Não necessariamente a de metal ou ferro, mas a da calúnia, que rouba a paz e a harmonia dos caluniados; a espada da maledicência, que gera tragédias e destroça vidas nobres; a da intriga e da censura perversa que, com suas lâminas afiadas, aniquilam sentimentos e despertam a inveja dos maus. Todos os que sofrem, com coragem e resignação, os efeitos danosos dessas espadas destrutivas em suas vidas se encontram supliciados em invisíveis cruzes. Ao ser crucificado, Jesus transformou o instrumento de punição em bênçãos. Com ela, Ele criou um hífen de luz entre a Terra dos homens e o infinito de Deus. Os que somos os Seus seguidores O devemos imitar. Sermos simples de coração, adornando a própria alma com as condecorações sublimes das cicatrizes morais dos testemunhos silenciosos. Testemunhos somente conhecidos pelo Senhor da Vinha, que permanece atento, sustentando os fiéis servidores. Como Ele, jamais erguer a espada do revide para ferir o agressor. Antes, utilizar o recurso do perdão, que engrandece e liberta quem o oferece, proporcionando paz. Assim agindo, tomaremos da espada que tenta nos mutilar as melhores intenções, a cravaremos no solo, transformando-a numa cruz, através da qual alçaremos voo ao Alto, rumo ao bem, à alegria e a paz. Pensemos nisso. Conquistemos nossa felicidade, seguindo o exemplo do Modelo e Guia. 
Redação do Momento Espírita, com base na mensagem Ante a cruz e a espada, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 28 de agosto de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. 
Em 16.4.2015.

sábado, 16 de novembro de 2019

PÁTRIA - UM LUGAR PARA AMAR!

Giuseppe Fortunino Francesco Verdi
Giuseppe Fortunino Francesco Verdi foi um compositor de óperas do período romântico italiano. Considerado, então, o maior compositor nacionalista da Itália. Foi um dos compositores mais influentes do século XIX. Suas obras são executadas com frequência em Casas de Ópera em todo o mundo e, transcendendo os limites do gênero, alguns de seus temas estão, há muito, enraizados na cultura popular. Entre esses, Va, pensiero, o coro dos escravos Hebreus, da ópera Nabucco. 
Nabucco é uma ópera em quatro atos, escrita em 1842. Conta a história do rei Nabucodonosor da Babilônia. Por ter sido escrita durante a ocupação austríaca no norte da Itália, dadas as tantas analogias que apresenta, suscitou o sentimento nacionalista italiano. O coro dos escravos hebreus, no terceiro ato da ópera, tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano da época. No mês de março de 2011, no Teatro da Ópera de Roma, esse coro levou os cantores e músicos à muita emoção. E o público presente, ao delírio, numa grande demonstração de fé patriótica.
Riccardo Muti
O maestro Riccardo Muti acabara de reger o célebre coro dos escravos, Va, pensiero. O público aplaudia incessantemente e bradava bis! O maestro, então, se volta para a plateia e recorda o significado patriótico do Va, pensiero que, além de sua intrínseca beleza, que é inexcedível, tem enorme apelo emocional, até hoje, entre os italianos. Riccardo pede ao público presente que o cante agora, com a orquestra e o coro do teatro, como manifestação de protesto patriótico contra a ameaça de morte contida nos planejados cortes do orçamento da cultura. Ele rege o público, enquanto a orquestra e o coro se irmanam na execução do hino, cujos versos podemos assim traduzir: 
-Voa, pensamento, com tuas asas douradas. Voa, pousa nas encostas e no topo das colinas, onde perfumam mornas e macias as brisas doces do solo natal! Cumprimenta as margens do rio Jordão, as torres derrubadas de Jerusalém... Oh, minha pátria tão bela e perdida! Oh, lembrança tão cara e fatal! Harpa dourada dos grandes poetas, por que agora estás muda? Reacende as memórias no nosso peito, fala-nos do bom tempo que foi! Traduz em música o nosso sofrimento, deixa-te inspirar pelo Senhor para que nossa dor se torne virtude! 
As câmeras passeiam pela plateia, mostrando a emoção, a unção. Quem sabia a letra, cantou. Quem não a sabia, acompanhou a melodia. Foi uma verdadeira prece. Prece ao Senhor, rogativa às autoridades. Um exemplo de patriotismo. Um maestro que clama, chora e concita o povo a bradar pela manutenção do bom, do belo, da cultura. Alguém que, consciente da sua cidadania, vai além do seu dever como artista. Serve-se do palco, da plateia, para esclarecer, para despertar consciências, para lutar pelo ideal que defende. Que se repitam no mundo, em todas as nações, tal grandioso exemplo para que não se percam as raízes, para que se preserve a cultura, a arte, o belo. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 33, ed. FEP. 
Em 15.11.2019.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A ESPADA DE DÂMOCLES

Era uma vez um rei chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Vivia num palácio cheio de requintes e de belezas, atendido por uma criadagem sempre disposta a fazer-lhe as vontades. Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe frequentemente: Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo! Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa. Assim, certo dia propôs ao amigo a experiência de passar um dia, um dia apenas em seu lugar, como monarca, desfrutando de tudo aquilo. Este aceitou imediatamente com alegria. No dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e os criados reais lhe puseram na cabeça a coroa de ouro, e o trataram como rei. Recostou-se em almofadas macias e sentiu-se o homem mais feliz do mundo. 
- Ah, isso é que é vida! - Confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade. Nunca me diverti tanto. 
Subitamente, Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só queria ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse. Percebeu que pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Ficou paralisado, preso ao assento. Tentou levantar, mas não conseguiu, por medo de que a espada, com um movimento seu, pudesse lhe cair em cima. 
-O que foi, meu amigo? - Perguntou Dionísio. - Parece que você perdeu o apetite.
-Essa espada! Essa espada! - Disse o outro, num sussurro. - Você não está vendo? 
-É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio. Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono. Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer ser líder precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe? 
-É claro que percebo! - Disse Dâmocles. Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas coisas em que pensar além de sua riqueza e fama. Por favor, assuma o seu lugar e deixe-me voltar para a minha casa. 
Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o rei, nem por um momento sequer. 
 * * * 
Antes de deixar que a inveja cresça em nosso coração, lembremos da espada de Dâmocles. Toda riqueza, todo poder, toda fama vem com uma série de decorrências naturais que devem ser consideradas. Não nos deixemos consumir por esta luta incessante do orgulho, da vaidade não satisfeita. 
 * * * 
A inveja é uma das mais feias e das mais tristes misérias do nosso globo. A caridade e a constante emissão da fé farão desaparecer todos esses males. 
Redação do Momento Espírita, com base em lenda grega e trecho da Revista Espírita, de julho de 1858, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 16.11.2010.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

COMEÇO DE UM NOVO DIA

É madrugada. Despertou-me a preocupação. O dia começa a se espreguiçar, boceja e ainda permanece indeciso se lançará logo mais as suas luzes. Ergo-me da cama para iniciar uma nova jornada, antecipando-me às horas. Muitas tarefas me aguardam e algumas delas, com datas que apontam hoje como o derradeiro prazo. São compromissos profissionais que não podem tardar e tarefas no âmbito do voluntariado, que exigem dedicação. Ouço o canto do bem-te-vi. É uma das primeiras aves a sinalizar o amanhecer. Indago-me se será um anúncio ao dia ou um chamado ao seu par. Detenho-me a escutá-lo nesse complexo arranjo de notas, emitidas de um modo rítmico, pelos minutos afora. Anúncio de um dia de paz, penso eu. Também de intenso trabalho, dulcificado pela sinfonia desse amigo e dos demais que logo se lhe associam. A árvore, em frente à minha casa, é um lugar de muitos trinados, cantos e discussões. Sim, em meio à cantoria, destacam-se alguns tons que parecem discussão. Imagino se estão disputando território. Por vezes, chego a comentar: Devem estar discutindo o valor do condomínio porque, afinal, a generosa árvore, com sua ramada abundante, é o lar de alguns deles que a deixam pela madrugada e retornam quando as cores do dia principiam a desmaiar, no horizonte. Sem que eu o possa ver, ouço o som de um avião que sobrevoa os céus. Fico a imaginar quantas pessoas estarão dentro dele. Para onde irão? Por que estão viajando? E, principalmente: Chegarão ao seu destino? Será um voo tranquilo, sem turbulência ou eventuais percalços que envolvam alguma falha mecânica? Quantas horas permanecerá no ar? Atravessará o espaço aéreo de quantas cidades, Estados? Talvez países? Atravessará mares e oceanos? Ou pousará logo mais, em um local próximo? Enquanto o dia resolve, finalmente, despertar e toca levemente o sol, para que ele principie a iluminar as horas, fico a pensar como tantas pessoas vêm de tantos lugares diferentes para viajarem juntas, durante um curto ou largo tempo. Quantos sonhos ocuparão aquelas mentes? Ou serão preocupações, negócios? Quem as aguarda no destino final? Não vejo a aeronave e me indago quantas almas carregará em seu bojo. Quantas viajam felizes porque estão indo ao encontro de seres amados, para uma festa de casamento, de aniversário, o nascimento de um novo ser. Quantas viajam atormentadas por notícias amargas, que dizem de um ente querido hospitalizado de forma emergencial, de uma cirurgia complicada de resultado incerto, de alguém que desencarnou... Quantas viajam pensando no negócio que deverão empreender, do qual depende o seu futuro na empresa, o sustento da sua família. Quantas viajam a caminho de concurso que deverão prestar e que definirá sua carreira profissional. Quantas viajam a caminho de tarefas voluntárias, como palestrantes, ou atendimento a sofridos seres na face da Terra. Meu Deus! Quantos pensamentos em tão poucos minutos... Dou-me conta de que o dia despertou totalmente. Os sons se confundem. A passarada voa. Ergo minha prece e digo ao Senhor da vida: Obrigado, pai. Segue comigo. Tenho tanto a fazer. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 14.11.2019

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

ESOPO E A LÍNGUA!

Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia. Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro, sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente: 
-Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está à venda no mercado. 
-Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do que estás falando? Como podes afirmar tal coisa? 
-Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei a maior virtude da Terra. 
Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns minutos, voltou carregando um pequeno embrulho. Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de língua, e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para explicar-se. 
-Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar, esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinos dos filósofos são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se tornam conhecidas de todos. Acaso podeis negar essas verdades, meu amo? 
-Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo? 
-É perfeitamente possível, senhor, e com nova autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de toda a Terra. 
Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e, dali a minutos, voltava com outro pacote semelhante ao primeiro. Ao abri-lo, os amigos encontraram novamente pedaços de língua. Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente resposta: 
-Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela, as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo? Indagou Esopo. 
Impressionados com a inteligência invulgar do serviçal, ambos os senhores calaram-se, comovidos, e o velho chefe, no mesmo instante, reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como escravo, deu-lhe a liberdade. Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador de fábulas muito conhecido da Antiguidade e, cujas histórias, até hoje, se espalham por todo o mundo. 
 * * * 
Clareia e adoça tua palavra, para que o teu verbo não acuse nem fira, ainda mesmo na hora da consagração da verdade. Fala pouco. Pensa muito. Sobretudo, faze o bem. A palavra sem ação não esclarece a ninguém. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto da Apostila Subsídios para a organização de um curso de expositores da Doutrina Espírita, 1998, ed. Feb. 
Em 27.08.2010.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

MESMO QUE NÃO SAIBAMOS OS NOMES!

Botânica é o estudo da fisiologia, morfologia, ecologia, evolução, anatomia, classificação, doenças, distribuição, dentre outros aspectos, das plantas. A História dessa área das ciências naturais nos remete a um passado bem distante. Por exemplo, no ano 370 a.C., um filósofo grego chamado Teofrastus, discípulo de Aristóteles, escreveu dois tratados: Sobre a História das plantas e Sobre as causas das plantas. O alemão Otto Brunfels, no século XVI, publicou uma obra denominada Herbarium, com informações precisas sobre algumas espécies de plantas. Dois séculos depois, o botânico sueco Lineu propôs uma nomenclatura que classificava as plantas, com base na posição e número de estames na flor. Ambos são considerados como os pais da Botânica Científica. Em nosso país, o estudo dos vegetais foi impulsionado pela chegada da corte portuguesa, ao Rio de Janeiro, em 1808. Em 13 de junho daquele mesmo ano, o príncipe regente português D. João VI decidiu instalar um jardim para aclimatação de espécies vegetais de vários países do mundo. Surgia o Jardim Botânico, uma das mais belas e bem preservadas áreas verdes da Cidade Maravilhosa. É um grande exemplo da diversidade da flora brasileira e estrangeira. Mais de seis mil e quinhentas espécies ali se encontram, ao ar livre e em estufas. Algumas delas, ameaçadas de extinção. Com certeza, os que somos os simples amantes das flores, sem títulos na área da Botânica, não sabemos senão os nomes de algumas dessas espécies. Possivelmente, não saibamos os nomes científicos, somente aqueles populares, pelos quais elas são conhecidas. Contudo, nos sensibilizamos com tamanha diversidade, em que se harmonizam, beleza, cores, tamanhos e formas. Se nos pomos a observar, mais de perto, e sem pressa, com certeza descobriremos formas muito peculiares. Como a da flor que parece exatamente uma bailarina dançando: braços ao alto, pernas retas, a saia curta imitando o tutu italiano. Sem se falar naquelas que têm desenhadas a cabeça, com pontinhos que se assemelham a olhinhos espertos. E que dizer daqueloutras que parecem aves das mais diversas espécies? Papagaios, pombas, pelicanos. Formas tão bem delineadas que paramos para admirar e nos indagamos: É uma planta ou é um pássaro preso a uma haste, sem condições de voar? E quando o morro desce pelas encostas como numa cascata de flores, mesclando cores e perfumes, nos perguntamos quem bordou tanta beleza. Será que, enquanto dormimos, semeadores invisíveis tudo isso providenciam? Coisa surpreendente. Desejamos viajar pelo espaço e descobrir novos mundos. É de estarrecer quanto ainda temos por descobrir aqui, neste pequeno e insignificante pontinho azul, chamado Terra. É de nos admirarmos, sem cessar, e aprender a louvar essa Onipotência que tudo rege, tudo cria, tudo governa. Podemos chamá-la Deus, Alá, Jeová, Todo-Poderoso, Arquiteto do Universo. Não importa. Ele é o Artista Mor. Nosso Pai Celeste. Pai de todas as Humanidades. Aprendamos a louvar-lhe a glória que se manifesta na natureza.
Redação do Momento Espírita. 
Em 12.11.2019.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A ARTE DE OUVIR

 
Ela era uma senhora solitária, envolta no luto da dor, desde que o marido morrera. Vivia só, na grande casa do meio da quadra. Casa com varanda e cadeira de balanço. Todas as manhãs, o entregador de jornais, garoto de uns dez anos, passava pedalando sua bicicleta e, num gesto bem planejado, atirava o jornal nos degraus da varanda. Nunca errava. Paff! Era o sinal característico do jornal caindo no segundo degrau. Então, numa manhã de inverno, quando se preparava para lançar o jornal, ele a viu. Parada nos degraus da varanda, de pé, acenando-lhe para que se aproximasse. Ele desceu da bicicleta e foi andando em direção a ela. 
-O que será que ela quer? - Pensou o garoto.- Será que vai reclamar de alguma coisa? 
-Venha tomar um café, falou a senhora. Tenho biscoitos gostosos. 
Enquanto ele saboreava o lanche que lhe aquecia as entranhas, ela começou a falar. Falou a respeito do marido, de suas vidas, da sua saudade. Passado um quarto de hora, ele se levantou, agradeceu e saiu. No dia seguinte e no outro, a cena se repetiu. O menino decidiu falar a seu pai a respeito. Afinal, ele achava muito estranha aquela atitude. O pai, homem experiente, lhe disse: 
-Filho, ouça apenas. A senhora Almeida deve estar se sentindo solitária, após a morte do marido. Deixe-a falar. Recordar os dias de felicidade vividos deve lhe fazer bem ao coração. É importante que alguém a ouça. 
Nos dias que se seguiram, nas semanas e nos meses, o garoto aprendeu a ouvir, demonstrando interesse em seus olhos verdes e espertos. Quando a primavera chegou, ela substituiu o café quentinho pelo suco de frutas. O verão trouxe sorvete. Ao final, o entregador de jornais já iniciava sua tarefa pensando na parada obrigatória em casa da viúva. Habituou-se a escutar e escutar. Percebeu, com o tempo, que a velha senhora foi mudando o tom das conversas. Como a primavera, ela voltou a florir, nos meses que vieram depois. Quando o ano findou, o menino foi estudar em outra cidade. O tempo se encarregaria de lecionar mais esperança no coração da viúva e amadurecer ideias no cérebro jovem. Muitos fatores contribuíram para que o garoto e a viúva não tornassem a se encontrar. Contudo, uma lição o acompanhou por toda a vida. Ele nunca se esqueceu da importância de ouvir as pessoas, suas dificuldades, seus problemas, suas queixas. Lição que contribuiu também para o seu sucesso como esposo, pai de família e profissional. 
* * * 
Saber ouvir é uma virtude. De um modo geral, nos cumprimentamos, perguntando uns aos outros, como está a saúde e a dos familiares. Raramente esperamos por uma resposta que não seja a padrão: Tudo bem. Normalmente, se o outro passa a desfiar o rosário das suas dores e a problemática da família, nos desculpamos apontando as nossas obrigações e quefazeres. Entretanto, quando nos sentimos tristes, desejamos ardentemente que alguém nos ouça, que escute a cantilena das nossas mágoas. Pensemos nisso. Mas pensemos agora, enquanto ainda nos encontramos a caminho com nossos irmãos, na estrada terrena. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto O que aprendi com os vizinhos, de Seleções Reader´s Digest, de abril de 1999. 
Em 11.11.2019.

domingo, 10 de novembro de 2019

ESGOTAMENTO NERVOSO

Paulo de Tarso Monte Serrat, Dr.
Um psiquiatra teve oportunidade de abordar a delicada questão da doença mental, mencionando alguns preconceitos das pessoas. Afirmava ele, em bem elaborado artigo, que quase sempre quando a doença mental se apresenta, as pessoas falam que ela é produto de esgotamento nervoso. E, como causa do tal esgotamento estariam todos os grandes esforços que o ser humano realiza. Um exemplo clássico é o do personagem de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, cujo desequilíbrio é atribuído aos seus muitos estudos. Um outro motivo é o trabalho. Ora, diz o psiquiatra que a ciência médica nos aponta que nem o trabalho, nem o estudo são responsáveis por desgaste de nervos. O que ocorre, sim, é que as pessoas têm conflitos interiores e, num processo de fuga, se entregam a estudos e trabalhos extenuantes. Quando os desequilíbrios emocionais se apresentam, então culpam a um e outro como causas de seus sofrimentos. Fosse o trabalho algo que pudesse desequilibrar o homem não o teria o Mestre Jesus recomendado, assinalando ainda que Ele e o Pai trabalhavam sem cessar. Nas Suas pregações, Ele Se refere repetidas vezes aos trabalhadores. Fala dos trabalhadores da primeira e da última hora, dignos todos do salário. Fala de semeadores, de guardadores de ovelhas. Discorre sobre o homem que trabalha no campo e encontra um tesouro. Da mulher que perde seu dinheiro e varre toda a casa, à sua procura. E, para assinalar que a ociosidade é algo danoso, usa a figura da figueira estéril, que seca, por nada produzir. Finalmente, Ele mesmo, às despedidas, na última ceia com os discípulos, toma de uma toalha, uma bacia com água e lava os pés dos Seus Apóstolos. Fosse o estudo algo danoso e não o recomendariam os luminares do Senhor Jesus. Ele próprio afirmou que a verdade nos libertaria. Como conhecer a verdade, senão nos submetendo a estudos? Como venceria o homem a enfermidade se não se dobrasse sobre livros e microscópios, em exaustivas pesquisas? Sem o estudo não teria alcançado as conquistas de se projetar para além da Terra e alcançar a Lua. Não mandaria sondas para o espaço, não teria vencido a batalha contra pestes e enfermidades. Fosse o estudo pernicioso e não teríamos tantos exemplos de homens e mulheres, ao longo da História que se dobraram aos anos, mantendo-se lúcidos e ativos. Graças aos seus profundos estudos, igualmente, todos nos beneficiamos. Por isso, estudemos e trabalhemos, sem receios, naturalmente dentro dos limites de nossas possibilidades físicas e mentais. Com certeza, isso nos deixará muito felizes, tanto quanto nos poderemos transformar em instrumento de felicidade para as pessoas que convivem conosco. 
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A poetisa mexicana Juana Inés de La Cruz, que viveu no século XVII, estudou música, teologia moral, medicina e astronomia. Ela chegou a organizar uma biblioteca com quatro mil volumes. E Vicente de Paulo, já passados seus sessenta anos, continuava a se levantar às cinco da manhã. Ele orava, pregava e ensinava, mesmo depois de as pernas não mais lhe permitirem se locomover à vontade. Ambos desencarnaram atuantes e lúcidos, servindo ao próximo. 
Redação do Momento Espírita, com informações colhidas do artigo Esgotamento nervoso existe?, de Paulo de Tarso Monte Serrat, publicado no jornal Gazeta do povo, de 24.09.1999. 
Em 26.01.2011.

sábado, 9 de novembro de 2019

ESFORÇOS NECESSÁRIOS

O homem observava com atenção a pequena abertura que apareceu no casulo pendurado em um galho da árvore do seu quintal. Sentou-se e acompanhou, por várias horas, os esforços da borboleta tentando sair do casulo. Tanto se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco, que o homem já estava ficando impaciente. Notando que a pequena borboleta não alcançava muito progresso, o homem decidiu ajudá-la. Pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente, mas seu corpo ainda não estava pronto. Era pequeno e suas asas estavam amassadas como se estivessem grudadas por uma substância pegajosa. O homem continuou a observar a borboleta esperando que, a qualquer momento, suas asas se abrissem para suportar o peso do corpo e ela pudesse voar livre pelo ar. Mas, para sua surpresa, nada disso aconteceu. Na verdade, a borboleta passou o resto da vida rastejando, com as asas encolhidas, e nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço da borboleta para passar através da pequena abertura eram necessários para o fortalecimento de suas asas. Não compreendendo e, por essa razão, não confiando nas leis da natureza, o homem fez um grande mal à borboleta, pensando em fazer um bem. Na tentativa de ajudá-la, não permitiu que ela fizesse os esforços necessários ao próprio desenvolvimento. 
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Muitos de nós, porque não compreendemos as Leis Divinas, achamos que, pelo fato de termos que fazer esforços e passar por algumas dificuldades na vida, estamos sendo prejudicados. Todavia, o esforço é justamente o de que precisamos para desenvolver as asas da liberdade. Se Deus nos permitisse passar pela vida sem quaisquer obstáculos, nós não iríamos ser fortes, nem capazes de alçar voos mais altos, na direção da luz. Assim, quando evitamos que os nossos filhos ou educandos façam esforços para vencer os desafios naturais, estamos impedindo que fiquem fortes o bastante para romper o casulo da ignorância e crescer com as próprias experiências. Muitas vezes, na tentativa de ajudar, acabamos prejudicando sobremaneira aqueles que tanto amamos, fazendo por eles as tarefas que lhes competem. Deus, que é a Suprema Bondade, oferece a todos os Seus filhos oportunidades de elevação nas lutas do dia-a-dia. Assim também agem os pais conscientes. Observam de perto seus filhos, mas deixam a eles os esforços necessários ao próprio crescimento. 
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Se você aspira à subida para conviver com a luz, não se negue ao esforço de abandonar o vale de sombras em que o seu coração vem respirando agora. 
Redação do Momento Espírita 
Em 24.08.2010.