sábado, 27 de agosto de 2016

COMPAIXÃO

Hamilton é um homem simples. Trabalha como operador de escavadeira, na cidade de Salvador, Bahia. Em certa manhã, ele recebeu uma missão difícil de realizar: deveria destruir as duas casas singelas onde Telma morava com o marido, sete filhos e mais cinco parentes. O terreno em que Telma construíra suas casinhas, fora doado a sua mãe por um antigo patrão, mas o patrão teria vendido essa propriedade a um engenheiro. O suposto comprador entrou na justiça com o pedido de reintegração de posse e o processo foi julgado a seu favor. A família de Telma deveria ser despejada. E lá foi Hamilton... Tomou o volante da máquina e apontou para as casas, mas não conseguiu avançar. A cena era comovente... Sentada na calçada, com alguns dos filhos, estava Telma. Com seu salário de merendeira, certamente não teria condições de alugar uma casa para abrigar sua família numerosa. Com a cabeça apoiada nas mãos, Telma chorava discretamente. Hamilton, pai de nove crianças, não resistiu e também chorou. Desligou a máquina. Desobedecendo a ordem de um dos policiais que estava lá para garantir o despejo, ele se recusou a executar o serviço. Endureça seu coração e cumpra a ordem, falou o policial. O operário não se moveu. Pela desobediência, recebeu ordem de prisão. Como era hipertenso, Hamilton passou mal e teve de ser levado ao hospital. A história entrou nos noticiários da noite. Hamilton teve a prisão revogada e virou herói nacional. Duas semanas depois, a Prefeitura de Salvador anunciava que regularizaria o terreno de Telma, para que ela pudesse morar sem temer outra ação de despejo. 
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A compaixão é um sentimento nobre, que brota nos corações daqueles que se deixam sensibilizar pelo sofrimento dos outros. Sem se importar somente com a parentela corporal, quem tem compaixão se coloca no lugar daqueles que sofrem, mesmo que jamais os tenha visto. É um sentimento que, segundo Jesus, deveria animar o coração do cristão verdadeiro. Colocar-se no lugar dos semelhantes, fazer o que gostaria que lhe fosse feito: eis um princípio de fraternidade e solidariedade verdadeiras. Como Hamilton, o operário que virou herói nacional, existem muitos anônimos que lutam pelos direitos dos outros com disposição e coragem. E a compaixão é muito comum onde a pobreza é mais acentuada. Quem sofre ou já sofreu, geralmente se compadece quando percebe alguém sofrendo. Essa empatia, no entanto, não se constitui regra, pois existem pessoas que são indiferentes ao sofrimento alheio, ainda que conheçam de perto o que é sofrer. Jesus, o Mestre, ergueu bem alto essa bandeira, recomendando que façamos ao próximo o que gostaríamos que o próximo nos fizesse. E quem não gostaria de receber do próximo sentimentos de compaixão e indulgência? Bem, a receita está aí. E a Humanidade já a conhece há, pelo menos, dois milênios. É simples e não precisa ter dinheiro nem poder para exercê-la. Basta ter um coração piedoso, como o de Hamilton. 
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A piedade fraternal, que é o amor em começo, filha dileta da caridade excelsa, logo descobre como coparticipar de todo esse triste festival de angústias no cenário desolador das dores humanas. 
Redação do Momento Espírita, com base em matéria publicada no Almanaque Brasil de Cultura Popular, nº 55, de outubro de 2003 e no verbete Piedade, do livro Repositório de sabedoria, v. II, ed. Leal. Em 6.8.2012.

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