quarta-feira, 31 de agosto de 2016

COMPARANDO-NOS COM OS OUTROS

Em um mundo onde a competição toma conta das relações, os modelos são sempre superlativos. Precisamos ser os mais rápidos, desejamos ser os mais belos, lutamos para ser os mais fortes. Comparamo-nos o tempo inteiro, e parece que a perfeição está sempre no outro. No corpo da apresentadora de TV, na grande demonstração de afeto da esposa do vizinho, no grande emprego conseguido pelo ex-colega da faculdade, etc. O escritor e educador Rubem Alves vê na comparação um exercício dos olhos: Vejo-me - estou feliz. Vejo o outro. Vejo-me nos olhos do outro – ele tem mais do que eu. Vendo-me nos olhos dos outros eu me sinto humilhado. Tenho menos. Sou menos. O autor narra que ele mesmo só descobriu que era pobre quando deixou o interior de Minas para morar no Rio, e foi parar num colégio de cariocas ricos. Então, começou a se sentir diferente, falava com sotaque caipira, não pertencia ao mundo elegante dos colegas, e sentiu vergonha de sua pobreza. Até então, Rubem morava com uma família numa casa velha de pau-a-pique, numa fazenda emprestada. Diz ele: Eu sou muito ligado a esse passado, foi um período de grande pobreza, mas eu não sabia que era pobre. O sentimento da infelicidade nasce da comparação. Foi um momento de grande felicidade, um período sem dor. Só dor de dente, dor de espinho no pé. 
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Baseados nisso tudo podemos questionar: Como não se comparar? Como viver sem referência alguma? Não seria possível, obviamente. A não ser que nos ilhássemos definitivamente – uma solução que traria uma centena de outras conseqüências negativas. Como lidar equilibradamente com tudo isso, então? Uma primeira idéia seria a de cuidar para que a competição não tome conta das relações, sejam elas afetivas, familiares ou profissionais. Se isso acontecer – e normalmente acontece - que tal transformar a competição em cooperação? Como? Percebendo que não estamos nas relações apenas para dar e receber, e sim para cooperar, construir um bem comum. Ver os outros como companheiros e não como adversários faz uma grande diferença. Uma segunda resolução seria buscar ver a vida do outro como ela realmente é, e não como julgamos que ela seja. Estamos num mundo de provas e expiações, onde os embates contra nossas imperfeições, ainda insistentes, são constantes. E essas pelejas não poupam ninguém. Todos temos conflitos, inseguranças, cometemos equívocos e sofremos as conseqüências do que plantamos. As leis maiores do Universo regem a vida de todos igualmente. Não há favorecidos nem desajudados por Deus. Ver a perfeição, a felicidade, apenas naquilo que não se tem ou no que os outros têm, é um tipo de comportamento que só gera insatisfação. 
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ALLAN KARDEC
Allan Kardec em seu O evangelho segundo o Espiritismo trouxe um esclarecimento especial a respeito do homem de bem. Diz ele que o homem de bem é aquele que estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera. 
Redação do Momento Espírita com base no artigo Você não é perfeito, de autoria de Elisa Correa, publicado na Revista Vida Simples, de julho de 2008 e no cap. XVII, item 3 do livro O evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Em 21.08.2008.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

COMPANHIA PERTURBADORA

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Nem sempre estamos bem acompanhados, e uma dessas companhias perturbadoras é a que nos faz infelizes ao perceber a felicidade do outro. A inveja não está na simples constatação do triunfo alheio. Ela se apresenta quando essa constatação nos faz mal, produz em nós sentimentos negativos de revolta, de indignação. Essa filha do orgulho instala-se em nossa alma e nos leva aos precipícios morais do ódio sem razão. Muito mais fácil do que buscar nossa felicidade, nossas próprias conquistas é criticar, questionar, destruir a dos outros. A inveja é preguiça moral, é acomodação do Espírito que ainda não está desperto e disposto a empreender a necessária luta pelo crescimento. Ao invés de se empenhar na autovalorização, o paciente da inveja lamenta o triunfo alheio e não luta pelo seu. Apela, muitas vezes, para a intriga e a maledicência, fica no aguardo do insucesso do suposto adversário, perseguindo-o, buscando satisfazer seu prazer mórbido. Egocêntrico, não saiu da infância psicológica e pretende ser o único centro da atenção, credor de todos os cultos e referências. Insidiosa, a inveja é resultado da indisciplina mental e moral, que não considera a vida como patrimônio divino para todos. Trabalha, por inveja, para competir, sobressair, destacar-se. Não tem ideal, nem respeito pelas pessoas e pelas suas árduas conquistas. Esse sentir doentio descarrega correntes mentais prejudiciais dirigidas às suas vítimas, que somente as alcançam se estiverem em sintonia. Porém, os danos ocorrem em quem gera esse sentir, perturbando-lhe a atividade, o comportamento. Assim, o invejoso sempre sairá perdendo. Não apenas não resolverá seu problema - se é que ele existe - como sempre aumentará sua frustração, sua infelicidade. 
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A terapia para a inveja consiste, inicialmente, na cuidadosa reflexão do eu profundo em torno da sua destinação grandiosa, no futuro. Consiste em avaliar os recursos de que dispõe e considerar que a sua realidade é única, individual, não podendo ser medida nem comparada com outras em razão do processo da evolução de cada um. O cultivo da alegria, pelo que é e dos recursos para alcançar novos patamares, enseja o despertar do amor a si mesmo, ao próximo e a Deus. Esse despertar facultará à criatura a perfeita compreensão dos mecanismos da vida e as diferenças entre as pessoas, formando um todo holístico na grande unidade.
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Fazei vossa felicidade e vosso verdadeiro tesouro sobre a Terra em obras de caridade e de submissão, as únicas que devem contribuir para serdes admitidos no seio de Deus. Essas obras do bem farão vossa alegria e vossa felicidade eternas. A inveja é uma das mais feias e das mais tristes misérias do vosso globo. A caridade e a constante emissão da fé farão desaparecer todos esses males, à medida que os homens de boa vontade se multiplicarem. 
Redação do Momento Espírita com base em texto da Revista Espírita, de Allan Kardec, de julho de 1858 e no cap. 5 da obra O ser consciente, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Em 02.03.2011.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

COMPANHEIROS DE JORNADA

Ao longo da história evolutiva, o cavalo tem sido um animal que muito tem servido ao homem. Além de ser útil em várias tarefas no campo, montar cavalos e estar em contato com a natureza é bom para a saúde e bem-estar de muitos de nós. As pessoas que apreciam essa prática sabem o quanto é envolvente. Cavalgar é sentir o chão sob os pés e o destino nas próprias mãos, o que traz uma sensação de liberdade, como se nada nos impedisse de seguir em frente. Mas, hoje, o contato com esse animal também tem ajudado muitas crianças e adultos a superarem dificuldades cognitivas e de mobilidade. É a equoterapia. Esse é um método terapêutico e educacional, no qual o cavalo é o inter­mediador entre o praticante e o terapeuta. Apesar do grande porte físico, ele é dócil, se deixa conduzir e desenvolve um importante laço afetivo com as pessoas que com ele mantêm contato. Cada passo completo do cavalo apresenta padrões semelhantes aos do caminhar humano e, na medida em que o praticante anda sobre ele, há um ajuste natural do seu corpo ao ritmo da marcha do animal. A adaptação a esse ritmo é um dos pontos mais importantes da equoterapia. Além disso, a troca de apoio das patas, os movimentos da cabeça e do pescoço impõem ao cavaleiro um ajuste de todo o seu corpo, em resposta aos desequilíbrios provocados por esses movimentos. 
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Esse é o exemplo de apenas um animal que nos serve em diversas circunstâncias e nos traz a certeza da benevolência Divina, que colocou esses companheiros para caminhar ao nosso lado na existência terrestre. Outras espécies também nos auxiliam de formas diversas, no trabalho, no lazer, em tratamentos de saúde, além daquelas que nos servem de alimento necessário ao corpo físico e ao próprio vestuário. Infelizmente, vemos ainda situações em que eles são vítimas da indiferença e crueldade. Uns abandonados, outros levados ao extremo da força física em trabalhos pesados, por vezes à custa de açoites. Alguns presos e outros perseguidos sem piedade. Busquemos olhar para esses seres com compaixão, dedicando-lhes a consideração que merecem, pois são também criaturas de Deus. Sejamo-lhes gratos pelo tanto que nos oferecem sem nada pedir em troca e, como cristãos, ofertemo-lhes a nossa proteção. Para Francisco de Assis, a natureza e todos os seres eram dignos de apreço e admiração porque significavam a expressão da Divindade. Ele amava profundamente os animais.Externando a humildade e grandeza de sua alma, frequentemente se referia a eles como irmãos da Humanidade. Demonstrou um imenso amor pela natureza e nos ensinou que todas as criaturas merecem o nosso respeito. Façamos a nossa parte no mundo de hoje. Defendamos e protejamos esses seres que Deus colocou sob nossa tutela. Lembremos que, à semelhança de outros tantos, esses também se constituem talentos da Divindade às nossas vidas. E, como todos os demais, teremos que dar conta do que fizermos com eles. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 14.8.2013.

domingo, 28 de agosto de 2016

UM COMPANHEIRO INSEPARÁVEL

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
Para muitas criaturas humanas, Deus ainda é alguém a ser descoberto. Alguns dizem crer nEle mas, não sabem exatamente como isso lhes possa melhorar a qualidade de vida. Outros simplesmente afirmam crer na Sua existência como algo distante, ou Alguém que fica observando o que se passa no Universo, como um mero espectador. Inserir Deus no contexto da própria vida é algo que exige reflexão e entendimento. Por isso, alguém que começou a se deixar penetrar pela ideia desse Pai amorável, justo e bom, escreveu um dia: 
-Em princípio, eu via Deus como um observador, um juiz que não perdia de vista as coisas erradas que eu fazia. Desse modo, quando eu morresse, Ele saberia se eu mereceria ir para o céu ou para o inferno. Ele estava sempre lá, como um presidente. Eu reconhecia a imagem dEle quando a via, mas não O conhecia de verdade. Mais tarde, quando O conheci melhor, pareceu que a vida era como um passeio de bicicleta para duas pessoas e percebi que Deus estava no banco de trás, me ajudando a pedalar. Não me lembro quando Ele me sugeriu que trocássemos de lugar. A partir desse momento, a vida não foi a mesma... A vida, com o Seu poder superior, tinha se tornado muito mais excitante. Quando eu detinha o controle, sabia o caminho. Era um tanto entediante, mas previsível – sempre a distância mais curta entre dois pontos. Mas quando Deus assumiu a liderança, porque Ele conhecia atalhos maravilhosos, passei a subir montanhas e atravessar terrenos pedregosos em velocidade vertiginosa! Tudo que eu podia fazer era seguir em frente! Embora tudo aquilo parecesse loucura, Ele ficava dizendo: “Pedale, pedale!” Eu ficava preocupado e ansioso e perguntava: “Afinal, para onde o Senhor está me levando?” Deus apenas sorria e não me dava uma resposta. Foi aí que me vi começando a confiar nEle. Logo me esqueci da minha vida entediante e comecei a participar da aventura. Quando eu dizia que estava assustado, Ele se virava para trás e tocava minha mão. Deus me levou até pessoas com dons de que eu precisava: dons da aceitação e da alegria, dentre outros. Essas pessoas me deram ajuda para prosseguir na minha jornada. Quer dizer, nossa jornada, de Deus e minha. E prosseguimos sempre pedalando. Então, Ele me disse: “Doe o que você tem de seu, toda a bagagem extra, pois pesa demais.” Descobri que quanto mais eu dava, mais eu recebia. E, além disso, o meu fardo ficava mais leve. O Senhor conhecia os segredos da bicicleta. Sabia como incliná-la para fazer curvas fechadas, pular para evitar lugares cheios de pedras, aumentar a velocidade para encurtar os caminhos difíceis. Aprendi com Ele a pedalar nos lugares mais complicados e a apreciar a paisagem e a brisa fresca em meu rosto. Tudo com o meu ótimo e constante companheiro, Deus. E quando estava certo de que não podia mais seguir em frente, Ele apenas sorria e dizia: “Pedale.” * * * A presença de Deus em nossas vidas proporciona paz, aumentando as resistências humanas para os embates cotidianos. Sutil e poderosa ao mesmo tempo, é um dínamo gerador de energias que recarrega as baterias da alma, da mente e do corpo, mantendo-os em condições estáveis de equilíbrio e ação. A presença de Deus em nossas vidas nos permite pensar corretamente, falar com sabedoria e agir com precisão. Com Deus, o temor desaparece, oferecendo lugar à coragem, que expressa bem-estar e segurança íntima. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Pedalando com Deus, de autoria ignorada e pensamentos finais do cap. 11, do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 13.11.2013.

sábado, 27 de agosto de 2016

COMPAIXÃO

Hamilton é um homem simples. Trabalha como operador de escavadeira, na cidade de Salvador, Bahia. Em certa manhã, ele recebeu uma missão difícil de realizar: deveria destruir as duas casas singelas onde Telma morava com o marido, sete filhos e mais cinco parentes. O terreno em que Telma construíra suas casinhas, fora doado a sua mãe por um antigo patrão, mas o patrão teria vendido essa propriedade a um engenheiro. O suposto comprador entrou na justiça com o pedido de reintegração de posse e o processo foi julgado a seu favor. A família de Telma deveria ser despejada. E lá foi Hamilton... Tomou o volante da máquina e apontou para as casas, mas não conseguiu avançar. A cena era comovente... Sentada na calçada, com alguns dos filhos, estava Telma. Com seu salário de merendeira, certamente não teria condições de alugar uma casa para abrigar sua família numerosa. Com a cabeça apoiada nas mãos, Telma chorava discretamente. Hamilton, pai de nove crianças, não resistiu e também chorou. Desligou a máquina. Desobedecendo a ordem de um dos policiais que estava lá para garantir o despejo, ele se recusou a executar o serviço. Endureça seu coração e cumpra a ordem, falou o policial. O operário não se moveu. Pela desobediência, recebeu ordem de prisão. Como era hipertenso, Hamilton passou mal e teve de ser levado ao hospital. A história entrou nos noticiários da noite. Hamilton teve a prisão revogada e virou herói nacional. Duas semanas depois, a Prefeitura de Salvador anunciava que regularizaria o terreno de Telma, para que ela pudesse morar sem temer outra ação de despejo. 
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A compaixão é um sentimento nobre, que brota nos corações daqueles que se deixam sensibilizar pelo sofrimento dos outros. Sem se importar somente com a parentela corporal, quem tem compaixão se coloca no lugar daqueles que sofrem, mesmo que jamais os tenha visto. É um sentimento que, segundo Jesus, deveria animar o coração do cristão verdadeiro. Colocar-se no lugar dos semelhantes, fazer o que gostaria que lhe fosse feito: eis um princípio de fraternidade e solidariedade verdadeiras. Como Hamilton, o operário que virou herói nacional, existem muitos anônimos que lutam pelos direitos dos outros com disposição e coragem. E a compaixão é muito comum onde a pobreza é mais acentuada. Quem sofre ou já sofreu, geralmente se compadece quando percebe alguém sofrendo. Essa empatia, no entanto, não se constitui regra, pois existem pessoas que são indiferentes ao sofrimento alheio, ainda que conheçam de perto o que é sofrer. Jesus, o Mestre, ergueu bem alto essa bandeira, recomendando que façamos ao próximo o que gostaríamos que o próximo nos fizesse. E quem não gostaria de receber do próximo sentimentos de compaixão e indulgência? Bem, a receita está aí. E a Humanidade já a conhece há, pelo menos, dois milênios. É simples e não precisa ter dinheiro nem poder para exercê-la. Basta ter um coração piedoso, como o de Hamilton. 
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A piedade fraternal, que é o amor em começo, filha dileta da caridade excelsa, logo descobre como coparticipar de todo esse triste festival de angústias no cenário desolador das dores humanas. 
Redação do Momento Espírita, com base em matéria publicada no Almanaque Brasil de Cultura Popular, nº 55, de outubro de 2003 e no verbete Piedade, do livro Repositório de sabedoria, v. II, ed. Leal. Em 6.8.2012.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

COMPAIXÃO SOLIDÁRIA

Sala do terceiro ano do ensino fundamental. Antigo primário. Um garoto de nove anos está sentado na sua carteira. De repente, uma poça se faz entre seus pés. Ele sente as calças molhadas.
-Como foi acontecer isso? – ele se pergunta, aterrorizado. 
Pensa que seu coração vai parar de bater a qualquer minuto. Nunca aquilo lhe havia acontecido antes. Sabe que, quando os meninos descobrirem, não o deixarão mais em paz. E quando as meninas descobrirem, então! Será o fim do mundo. Nunca mais elas falarão com ele. Ele abaixa a cabeça e ora: 
-Querido Deus, isto é uma emergência! Eu necessito de ajuda agora! Mais cinco minutos e serei um menino morto. 
Levanta os olhos. A professora vem em sua direção. 
-Fui descoberto! – é o que ele pensa. 
E se encolhe. Nesse exato momento, enquanto a professora anda até ele, uma coleguinha, a Susie, carrega um aquário cheio de água. Susie tropeça na frente da professora e, inexplicavelmente, despeja toda a água no colo do menino. Ele se assusta, se ergue e fica olhando para si mesmo. Encharcado. Literalmente encharcado da cintura para baixo. Por dentro, ele diz: 
-Obrigado, Senhor! Obrigado, Senhor! 
De repente, em vez de ser objeto de ridículo, o menino é alvo de compaixão. A professora desce apressadamente com ele e lhe consegue um shorts de ginástica para vestir, enquanto as suas calças secam. Todas as demais crianças limpam a sua carteira, o chão. A própria Susie tenta ajudar, mas é rechaçada. 
-Você já fez demais, sua desastrada! – dizem os colegas.
Finalmente, no fim do dia, enquanto estão esperando o ônibus, o menino caminha até Susie e lhe sussura: 
-Você fez aquilo de propósito, não foi? 
Ela se vira para ele e sussurra: 
-Eu também molhei minha calça uma vez. 
Pode parecer uma simples história de crianças. Mas nos remete a reflexões. Quantas vezes, em nossas vidas, já padecemos humilhação? Quantas vezes já nos encontramos em situações vexatórias? E o que sentimos, o que passamos, serviu-nos para quê? Recordamos dessas experiências desagradáveis, sofridas, quando vemos outras criaturas em situações semelhantes? A experiência das dores deve nos servir para que possamos avaliar o que outros sentem. E auxiliá-los. Isso se chama empatia. Estabelecer ações, acionar providências para auxiliar o outro se chama compaixão. Solidariedade. Amor ao próximo. O nome pouco importa. Importa a virtude que se estará ensaiando. E o mundo melhor que se estará construindo. 
Pense nisso. 
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Todos possuímos males que nos maceram interiormente. O que não nos impede de contribuir para o bem de outros. Assim, distendamos o lenço do conforto, enxugando lágrimas. Ofertemos a moeda da esperança ao desafortunado. Ofereçamos o ombro amigo, o regaço acolhedor, a mão fraterna. Para isso, não apontemos dificuldades, nem pensemos demasiadamente em nós próprios. Saiamos ao encontro do outro. Socorramos. Descubramos a felicidade de exercitar compaixão, solidariedade. Amor ao próximo. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autor desconhecido.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A COMPAIXÃO INDISPENSÁVEL

A busca pelo bem-estar é inerente à natureza humana. O desejo do homem de livrar-se do sofrimento propiciou notáveis descobertas em todos os setores do conhecimento. Analgésicos e anestésicos podem ser citados como conquistas humanas na procura de bem-estar. Ar condicionado, colchões ortopédicos e mesmo a singela água encanada também compõem o espectro de invenções destinadas a tornar a vida confortável. Na busca de conforto e tranqüilidade, um dia o homem voltará sua atenção para os problemas morais que a sociedade enfrenta. Então compreenderá que o egoísmo é a causa de todas as desgraças sociais. Ele é que permite a um homem investir sobre o patrimônio, a honra e a vida de outro, qual uma fera selvagem. O egoísmo é a matriz de todos os vícios. Quando ele for combatido, todos os seus desdobramentos, como vaidade, ganância, maledicência e corrupção, perderão a força. A disseminação das idéias espíritas é um poderoso elemento de combate ao egoísmo. O Espiritismo deixa claro que todo vício gera dor e que a Lei de Causa e Efeito rege a vida. Todo mal feito ao semelhante é uma semeadura de dor no próprio caminho. Quem quer ser feliz deve tratar o próximo com todo o respeito e generosidade com que desejaria ser tratado. A vinculação da própria felicidade à felicidade que se proporciona torna evidente o quanto é tolo ser egoísta. Ao buscar seu interesse, em detrimento ao do próximo, o egoísta apenas se candidata a vivenciar grandes dores. Ao se conscientizar da inexorabilidade da Lei de Causa e Efeito, a Humanidade reverá seus valores e prioridades. Entretanto, é preciso reconhecer que uma idéia nem sempre é fácil de ser posta em prática. Provavelmente você já se conscientizou de que a Justiça Divina é infalível. Mas ainda titubeia em sua caminhada e por vezes comete leviandades em prejuízo do próximo. Uma boa tática de renovação moral é parar de apenas pensar e começar a sentir. Raciocinar é necessário, mas amar é imprescindível. O melhor caminho para o genuíno amor fraterno é a compaixão. Compaixão é a tristeza que se sente com a infelicidade alheia. Mas também é o desejo de livrar o próximo do sofrimento. Para desenvolver esse nobre sentimento, deixe de fugir ao espetáculo das misérias humanas. Permita-se conviver com os doentes e os viciados do corpo e da alma, conforme fez o Cristo. Faça-se companheiro e amigo de idosos e enfermos. Visite asilos, orfanatos, hospitais e presídios. A título de preservar sua paz, não cultive a indiferença. Deixe que seu coração se enterneça com a dor alheia. A compaixão impede que um homem siga satisfeito em meio à tragédia que devasta a vida do outro. Ela possui um certo encanto melancólico, pois nasce ao lado da dor e da desolação. Contudo, constitui a mais eficiente forma de cura das ilusões e paixões humanas. A compaixão desperta as fibras mais íntimas da alma e a prepara para as experiências sublimes do devotamento e da caridade. Não receie sofrer ao se tornar compassivo. Ao avançar nesse caminho, você logo se tomará do ideal de aliviar a dor do semelhante e começará a agir. Então, a tristeza inicial se converterá no júbilo de quem amorosamente socorre e ampara os desprotegidos do Mundo. A alegria de ser útil e bondoso iluminará sua vida e o acompanhará pela eternidade. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

COMO VIVEM AS FLORES

Era uma tarde quente de verão, e o vendaval agitava a folhagem com violência, anunciando a tempestade que se aproximava rapidamente... Pelas janelas abertas, um suave perfume enchia a casa... Lá fora, um espetáculo digno de nota acontecia... Açoitados pelo vento, os pés de manjericão, alfavaca e lavanda dobravam-se e liberavam um delicioso perfume. Era impressionante notar a maneira como as flores e folhagens respondiam aos golpes violentos do vento... Os primeiros pingos de chuva enfeitavam as rosas abertas como se fossem diamantes líquidos... Mas o temporal anunciado logo chegou e as gotas da chuva, agora misturadas com o vento forte, pareciam um bombardeio cruel macerando as suaves pétalas, que respondiam à agressão liberando um perfume inconfundível... Era incrível aquela lição viva de generosidade e resignação! Ante a violência do temporal, instintivamente as plantas se dobravam para não quebrar... As plantas não pensam, não são seres racionais, mas cumprem, silenciosas e submissas, a tarefa que o Criador lhes confia, apesar das tempestades da vida... Assim também agem algumas pessoas. São como as flores que, mesmo maceradas pela enfermidade cruel, pela agrestia da vida, respondem com o perfume do otimismo e da alegria. Seres racionais que são, sabem que todas as lições que lhes chegam são oportunidades de crescimento e auto-superação. Isso acontece com uma jovem senhora, agredida por um câncer cruel que tenta lhe roubar o corpo, minando-o aos poucos e insistentemente. Quando soube que teria que fazer quimioterapia novamente, não se desesperou. Eu venci essa doença uma vez e vou vencê-la de novo. Falava com fé e disposição. A família, preocupada com seu estado de saúde, insistia para que ela ficasse em casa, repousando, mas ela prefere trabalhar. Trabalha como vendedora e sempre supera as metas estabelecidas. Quando faz o tratamento quimioterápico, ela passa muito mal. Mas a dor não a impede de estar o dia todo com um sorriso nos lábios, distribuindo otimismo junto aos seus colegas. Sempre gentil, ela dribla a doença, trabalha, confia, sofre, espera... Uma pessoa assim é como uma flor que, mesmo açoitada pelos ventos fortes e pela violência da chuva, exala perfume e não deixa de florescer a cada primavera. Parece que Deus permite que pessoas assim nasçam na Terra para exemplificar a resignação, a confiança, o otimismo... Pessoas que não se deixam desanimar, mesmo diante dos quadros mais graves e desesperadores. O corpo sofre as agressões da doença, não há dúvida. Mas o Espírito está intacto, lúcido, ofertando o perfume da gratidão a Deus pela bênção da vida. E vive intensamente. Enquanto muitas pessoas saudáveis reclamam por coisas mínimas, faltam ao trabalho sem motivos justos, aquela mulher-flor abre suas pétalas de esperança dignificando a oportunidade de crescer que o Criador lhe concede. Sem dúvida, um exemplo incomum... Em vez de se deixar derrotar pela enfermidade, ela luta com vigor e coragem, e, acima de tudo, com confiança plena em Deus... Quando, em algum momento, sua coragem ameaça vacilar, pensa nas pessoas que sofrem mais que ela e firma o passo outra vez, seguindo em frente. Imitando as flores que, mesmo tendo suas pétalas rasgadas pelo granizo, não deixam de exalar perfume, também essa moça valente não permite que a doença lhe roube a paz de Espírito e a imensa vontade de viver... Pense nisso, e busque viver com otimismo, por mais que a situação esteja difícil... Lembre-se sempre de como vivem as flores... 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 11, ed. Fep Em 31.01.2010.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

COMO UM BUMERANGUE

Você já deve ter ouvido falar, com certeza, sobre o bumerangue, esse objeto de arremesso, cuja origem não se tem certeza, considerando que diversos tipos foram encontrados, em várias partes do planeta, em diferentes continentes. Algumas notas apontam que o bumerangue mais antigo de que se tem notícia foi encontrado na Polônia, em 1987. Teria sido construído a partir de uma presa de mamute, há mais de vinte mil anos. De um modo geral, associamos o bumerangue à Austrália, país que ficou famoso no mundo como o país do bumerangue. Os aborígenes australianos se serviam dele, tanto para atividades lúdicas quanto o utilizavam em atividades cotidianas. Com ele cortavam carnes e vegetais, cavavam a terra em busca de raízes comestíveis ou golpeavam a superfície da água durante a pesca. Também o usavam na caça de pássaros, aproveitando a revoada dos bandos, na expectativa de acertar algum deles. Entretanto, o que chama a atenção nessa peça arqueada de madeira é que, após descrever uma curva, retorna às mãos do arremessador. Isso nos leva a algumas reflexões em torno de ações em nossas vidas. Tudo o que pensamos, falamos se projeta no mundo e realiza uma trajetória. Nossos pensamentos criam uma atmosfera salutar ou não, correspondente às suas qualidades boas ou más. Nossas palavras alcançam pessoas, alteram rumos de vidas, beneficiam ou prejudicam instituições. Quantas vezes uma frase, um abraço, um sorriso altera o pensamento, a decisão de outra pessoa? Um programa radiofônico, um filme, um livro. Um pensamento lido no portal de alguma biblioteca ou museu. Tudo influencia e altera vidas. Em uma admirável lei, que chamamos causa e efeito ou ação e reação, o que projetamos, retorna para nós. Algo semelhante à ação do bumerangue, porque retorna para nossa própria economia, beneficiando-nos ou nos fazendo mal. Exatamente na mesma medida do que pensamos, falamos, agimos. A seu tempo, o Mestre Jesus já lecionara: A cada um será dado segundo as suas obras. Enquanto, por vezes, ofertamos benefícios a quem não se esforça, a quem nada faz por merecê-los, simplesmente por uma questão de simpatia, amizade, ou interesse, a Lei Divina não se equivoca. E dá a cada um exatamente o que merece, o que construiu. Por isso, quando dizemos que estamos melhor do que merecemos, cometemos um erro. Estamos afirmando que Deus se engana. Isso porque cada um de nós vive no clima que constrói para si. Cada um de nós recebe, para sua vida, o que pensa, o que aos outros deseja. Não poderia ser de outra forma. Como se poderia pensar em alguém que, preguiçoso, erguesse um casebre de tábuas mal dispostas, pudesse desejar habitar um palácio? Como imaginar que quem semeia flores não possa, logo adiante, se beneficiar com as cores e o perfume de sua abençoada semeadura? Bumerangue, lei de causa e efeito, lei do mérito. A cada um segundo as suas obras. Não importa como concebamos a questão. O que precisamos ter em mente é como é importante pensarmos no bem, agirmos no bem, desejarmos o bem a todos. Tudo isso para nosso próprio bem, nossa alegria, nosso conforto espiritual. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 14.3.2016

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

COMO TEMPERAR UM AÇO!

PAULO COELHO
Era uma vez um ferreiro que, depois de uma juventude cheia de excessos, decidiu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos trabalhou com afinco, praticou a caridade mas, apesar de toda a sua dedicação, nada parecia dar certo em sua vida. Muito pelo contrário: seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais. Uma bela tarde, um amigo que o visitava, e que se compadecia de sua difícil situação, comentou: 
-É realmente muito estranho que, justamente depois de você resolver se tornar um homem que crê em Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas, apesar de toda a sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado. 
O ferreiro não respondeu imediatamente: ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar, e terminou encontrando a explicação que procurava: 
-Eu recebo, nesta oficina, o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isso é feito? Primeiro, eu aqueço a chapa de aço num calor muito intenso, até que ela fique vermelha. Em seguida, sem nenhuma piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico vários golpes, até que a peça adquira a forma desejada. Logo ela é mergulhada num balde de água fria, e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita: uma vez apenas não é o suficiente. 
O ferreiro fez uma longa pausa, olhou ao seu redor, respirou fundo, e prosseguiu:
-Às vezes, o aço que chega às minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você viu na entrada da minha ferraria. 
Mais uma pausa, e o ferreiro concluiu: 
-Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceitado as marteladas que a vida me dá e, às vezes, me sinto tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço é: 
-Meu Deus, não desista até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser. 
 * * * 
A sabedoria do ferreiro é imensa, pois compreendeu que todos os sofrimentos, todas as aflições, existem apenas para o nosso bem. Nada no mundo acontecerá para nos destruir, mesmo que, algumas vezes, sejamos os causadores desses males que nos alcançam. Eles existirão para nos corrigir, para nos colocar de volta no prumo certo da evolução. Sabemos que, por vezes, são experiências extremamente penosas e difíceis de serem enfrentadas, mas precisamos nos manter firmes, e procurar ver tudo sempre como uma lição, da qual iremos extrair muitos aprendizados. Ninguém sai de um abismo da mesma forma que entrou. A dor nos ensina muito - nos faz mais fortes e maduros. Vejamos sempre o sofrimento como as mãos invisíveis de um escultor que pretende nos tornar cada vez mais úteis. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Como temperar o aço, do livro Histórias para pais, filhos e netos, de Paulo Coelho, ed. Globo. Em 21.12.2013.

domingo, 21 de agosto de 2016

COM OS OUVIDOS DA ALMA!

O fato é narrado por uma mulher que vivia nas colinas da Escócia. Era inverno, próximo ao Natal. Roberto, o marido, era ferreiro. Ela, mãe ocupada, cuidava dos quatro filhos. O menor era o que lhe dava maior preocupação. É que o garoto era surdo. Ela ficara muito doente durante a sua gestação e o menino nascera com aquela deficiência. De resto, era esperto e depressa aprendeu a ler. Para manter a conversação com a mãe e os irmãos, André se servia de gestos e, como aos cinco anos já sabia escrever muitas palavras, usava papel e caneta para expressar aquilo que não conseguiam entender por seus gestos. Naqueles dias, próximos ao Natal, o marido foi chamado para prestar serviços em uma fazenda distante e ela ficou só com as quatro crianças. A tempestade veio e durou dias. A caixa de lenha ao lado do fogão começou a ficar vazia. Na quase véspera do Natal, Elizabeth agradeceu a Deus pela colheita do verão ter sido boa, pelas compotas terem dado certo e pela boa caça do seu marido. Assim, eles teriam o suficiente para se alimentarem até acabar aquele inverno ingrato. Mas a lenha acabou. Ela reuniu os quatro filhos, calçaram e se agasalharam bem e saíram quando o tempo deu uma trégua. Os pequenos Mary, Alice e André brincavam entre as árvores, felizes por estarem fora de casa. Corriam de um lado para outro, enquanto ela e o filho maior, de 15 anos, cortavam troncos em pedaços pequenos e colocavam no trenó. Num piscar de olhos, o tempo mudou. O vento soprou forte e a neve caiu violenta. Ela conseguiu encontrar as duas meninas mas não o pequeno André. Por mais que chamasse, ele não a ouviria. Era surdo. Voltaram para casa a fim de não congelarem. As horas angustiosas passaram lentas. Quando a tempestade acalmou, ela se preparou para ir procurar o menino. Estaria vivo? Teria caído, cego pela tempestade, em algum penhasco? Então, alguém bateu na porta. Era o pequeno André, sorridente. Entre gestos e escritos no papel explicou que logo que a tempestade começou, ficou agachado atrás de um tronco. Depois, escreveu que ouviu chamar o seu nome: André. Foi até onde a voz vinha e não tinha ninguém. Então ouviu de novo: Venha, André, venha para casa. Continuou caminhando, seguindo a voz, embora não visse ninguém. E assim foi até chegar em casa. Então a mãe caiu de joelhos, abraçou seu tesouro e agradeceu a Deus por ter enviado um mensageiro Seu, aquela voz para guiar o seu filho. Uma voz que não vinha do mundo exterior, mas que se fez ouvir na alma do pequenino André. A voz dos invisíveis. 
 * * *
O Natal é uma época de esperança, de confiança e de fé. É uma época de acreditar no invisível e em maravilhas que o Divino Pai nos proporciona. Uma época em que os Mensageiros de Deus cantam, falam e os surdos ouvem as Suas vozes. Natal é o momento em que a Terra toca os céus, aquieta os seus gritos para ouvir o excelso canto da esperança. Jesus nasceu em Belém. A esperança se renova. Comemoremos. 
Redação do Momento Espírita, com base no conto Tempestade nas montanhas, de autoria ignorada. Em 10.12.2010.

sábado, 20 de agosto de 2016

COM OS OLHOS DA ALMA!

Glenda Maier
O que aconteceria se todos nós, em nosso cotidiano, saíssemos às ruas com a câmara fotográfica da alma, a máquina filmadora da mente e o microfone do coração? Isso mesmo. Que tal se todos nos tornássemos repórteres de um jornal imaginário mas importantíssimo: O nosso diário? Estamos habituados a ler as manchetes jornalísticas que falam da violência, da queda das bolsas de valores, de maldades e tragédias. Não seria excelente se criássemos um jornal particular de coisas boas, elevadas, sadias? Será que existem? Dia desses fizemos uma experiência. Saímos em nosso carro, levando justamente os aparelhos que mencionamos. Depois de rodar por ruas e esquinas, fomos surpreendidos próximo a uma favela por um movimento diferente. Seria um protesto? Logo, um homem enorme, de bermuda e camiseta, interrompeu o trânsito. Um grupo de moradores da super-favela pareceu vir em nossa direção. Seria um assalto? Eram homens, mulheres e crianças com foices e tesouras. Atravessaram a rua carregando carrinhos pequenos e grandes cheios de mato. Então, ligamos a câmara fotográfica da alma e o microfone do coração para registrar a cena. Eram os moradores da super-favela. Trabalhadores. Mulheres faxineiras, domésticas e homens habituados ao trabalho braçal, de sol a sol. Era seu dia de folga. As crianças também não tinham aula naquele dia. Porque o mato do lado da favela já estava a mais de um metro de altura, eles haviam resolvido limpar o terreno que bem poderia servir para os garotos chutarem bola nos finais de semana e feriados. Os menores, andar de bicicleta e correr. Os bebês, tomarem sol no colo das suas mamães. Dia de descanso. Dia de limpeza geral. Mutirão da ecologia. Lição de solidariedade. Trabalho conjunto para o bem de todos. Quando a longa fila terminou de desfilar, o trânsito foi liberado e prosseguimos. Dia seguinte passamos por uma escola. Hora de aula, mas três garotos, de uniforme, estavam no jardim. Um deles tinha uma mangueira e outros dois estavam com regadores. Ligamos o microfone do coração e a filmadora da mente para não perder a cena. As flores balançavam ao vento, agitando suas hastes, felizes pelas gotas d'água que as refrescavam do calor do dia. Um caco de vidro resmungou: 
-Por isso o Brasil não vai para frente. Ao invés de estudar, eles ficam molhando plantinhas. 
O canteiro, cheio de rosas coloridas, atraiu uma garotinha da primeira série que se aproximou e falou:
-Eu gosto desta escola porque tem flores. João, eu posso ajudar? 
Descemos do carro, recolhemos o caco de vidro e o jogamos em uma lata de lixo logo adiante. Voltamos para casa com belas fotos, interessantes histórias e imagens maravilhosas de cenas de amor à natureza e aos homens.
 * * * 
Quando cada qual se dispuser a realizar a parte que lhe toca, no concerto do mundo, sem se importar com o que o outro deve fazer, o mundo terá alcançado grande progresso. As ruas se mostrarão limpas, as calçadas livres de entulhos, as casas bem pintadas, as escolas cheias de flores, os hospitais com belos jardins, para alegrar os que se encontram em recuperação de suas enfermidades. Quando todos nos empenharmos em fazer o melhor que pudermos, a nossa parte, por menor que seja, teremos atingido o mundo melhor que todos sonhamos. 
Redação do Momento Espírita, com base em reportagem de Glenda Maier, publicada no Jornal O repórter, de maio/junho 1999. Em 13.09.2010.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

COMO SER AGRADÁVEL

Dale Carnegie
Um jardineiro tratava com cuidado da propriedade de influente juiz de Direito. Pouco se falavam, e sua relação beirava a frieza. O juiz raras vezes se dirigia àquele empregado para transmitir alguma orientação mas, naquele dia, foi ao seu encontro para dar sugestões sobre onde plantar uma e outra árvore. As orientações foram passadas de forma direta, séria, sem rodeios e gentileza. Num determinado momento, mudando o rumo da conversa, o jardineiro disse: 
-Sr. Juiz, o senhor tem uma excelente distração! Estive admirando seus lindos cães. Penso que o senhor já conseguiu vários primeiros lugares em exposições! 
O efeito dessa pequena dose de apreciação foi grande. 
-Sim. - respondeu o juiz, esboçando sorriso orgulhoso. Os meus cães me servem de excelente distração. Gostaria de ver o meu canil? 
Passou quase uma hora mostrando-lhe os cães e os prêmios que eles tinham recebido. Ele mesmo foi buscar os pedigrees e explicou os cruzamentos responsáveis por tanta beleza e inteligência. Depois de um tempo, o juiz, de cenho já muito modificado, virou-se para o jardineiro e perguntou: 
-Tem algum filhinho? 
A pergunta pegou o jardineiro de surpresa, pois nunca antes lhe havia sido feito um questionamento pessoal. 
-Sim, tenho. - respondeu, timidamente. 
-Bem, ele não gostaria de um cachorrinho? 
-Oh, o seu contentamento não teria limites! - afirmou o homem com sorriso nos olhos. 
-Pois bem, vou dar-lhe um. - disse o juiz. 
Então começou a ensinar como alimentar o cãozinho. Parou um pouco. Você esquecerá de tudo quanto eu lhe disser. É melhor que eu escreva. O juiz entrou, escreveu à máquina o pedigree e as instruções sobre alimentação e as entregou ao jardineiro, junto com o cachorrinho valioso. Gastou mais de uma hora de seu tempo explicando, ensinando, pois havia sido conquistado pelo comportamento agradável daquele homem simples. Analisando melhor toda cena, veremos que o jardineiro nada mais fez do que um rápido elogio, proferindo algumas palavras agradáveis ao outro. O juiz, sentindo-se valorizado, teve prazer em estender a conversa e ainda deixou brotar em si um sentimento de fraternidade, pensando no outro, em seu filho, terminando por lhe oferecer um presente. 
 * * * 
Gentileza gera gentileza. Ser agradável contagia e derruba qualquer cenho carregado, qualquer mau humor momentâneo. Numa sociedade onde tantas palavras desagradáveis correm soltas aqui e ali, onde tantas reclamações e xingamentos incendeiam os ânimos e machucam as almas, faz-se importante aprender a ser agradável. Ser agradável sempre, independente da situação que estejamos vivendo, independente de como estamos sendo tratados e recebidos. Agindo assim filtramos o ambiente pesado do mundo, e espalhamos o perfume da fraternidade. Tal comportamento traz sempre frutos bons e surpreendentes pois representa, em sua essência, o amor. 
Redação do Momento Espírita inspirado no cap. 6, do livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie, ed. Companhia Editora Nacional. Em 17.11.2009.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ

Ao retornarem para casa, depois de um dia normal de aula escolar, mãe e filho falavam sobre os acontecimentos daquela tarde. Durante o trajeto, era costume conversarem sobre amenidades. Como o fim do ano se aproximava, a mãe resolveu perguntar ao menino qual a impressão que ficara para ele, a respeito dos professores. O garotinho contou detalhes sobre alguns deles, buscando com cuidado, encontrar palavras que exprimissem suas verdadeiras impressões. Mas acabou surpreendendo a mãe ao fazer a seguinte observação: 
-Eu gosto mesmo é da professora de História, sabe por quê? 
E, sem dar tempo da mãe pensar em algo que justificasse o seu encantamento, ele seguiu com a resposta: 
-É porque ela trabalha com a nossa turma desde o começo do ano e em todos os dias ela fica tão empolgada e feliz como se fosse o primeiro dia de aula! 
* * * 
Essa percepção infantil nos leva à reflexão de que, com o passar do tempo, é comum que a maioria de nós diminua o interesse que mostramos, no momento inicial das nossas atividades. É como se o comodismo fosse um comportamento esperado. E, quando a empolgação inicial por nossos compromissos permanece, trata-se de uma exceção, quando deveria ser o contrário. Que tal experimentarmos olhar as coisas ao nosso redor como se nunca as tivéssemos visto antes? Para nos sentirmos motivados a agir assim, basta que recordemos as emoções que sentimos quando vivemos boas experiências pela primeira vez. Quem não se recorda do turbilhão de sentimentos que tomou conta de nossa alma quando nos deparamos, pela primeira vez, com a imensidão do mar? E o indescritível amor que nos invadiu quando carregamos, pela primeira vez, um filho nos braços? E a emoção de ter fitado os olhos da pessoa amada, pela primeira vez? A satisfação pelo primeiro caderno, a felicidade ao concluir as várias etapas escolares, a conquista do primeiro trabalho. Procuremos nos lembrar dessas boas sensações e mantê-las vivas em nosso íntimo, permitindo que elas nos impulsionem a uma atuação enérgica e dedicada. Não deixemos que o entusiasmo pela tarefa que abraçamos diminua a cada dia, pois, se assim permitirmos, quando nos dermos conta, estaremos agindo apenas com automatismo e nos sentindo sobrecarregados. Sigamos o exemplo dessa professora, que consegue transmitir continuamente às crianças, o amor à tarefa e a viva satisfação de ter a oportunidade do trabalho. Qualquer que seja nossa atividade, busquemos desempenhá-la com dedicação. Assim agindo, nosso dia se tornará mais agradável e, com certeza, também levaremos leveza e alegria àqueles que nos cercam. Procuremos fazer com que o prazer em nossas tarefas seja a nossa marca registrada, contagiando, inclusive, aos que nos cercam. Busquemos olhar as coisas à nossa volta como se fosse a primeira vez. E verificaremos que isso nos trará certo encantamento. 
Redação do Momento Espírita. Em 4.6.2013

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

COMO SE FAZ UM HERÓI!

Nicolas Winton
Talvez um herói se faça com umas gotas de amor, idealismo e uma grande vontade de promover o bem. Ao menos para o jovem britânico Nicolas Winton a fórmula foi essa. Tudo começou no ano de 1938, quando ele tinha somente 29 anos e viu cancelado seu plano de férias de final de ano. Atendendo ao convite de um amigo, ele foi para a Tchecoslováquia. O que Winton viu o deixou estarrecido. Eram milhares de refugiados desesperados que tinham que deixar o país rapidamente. De imediato ele percebeu que deveria fazer algo por eles. E fez. Teve a ideia de retirá-los daquela terra, já sob o poder da Alemanha nazista. Por conta própria, escreveu a vários países pedindo ajuda. Organizou uma primeira lista de nomes e recebeu resposta positiva da Suécia e da Grã-Bretanha. De volta ao seu país, conseguiu o apoio de organizações beneficentes e encontrou pessoas dispostas a adotar os refugiados. Também obteve os recursos necessários para o transporte e quando o primeiro trem chegou à Grã-Bretanha, lá estava ele, na plataforma, para a recepção. Foram salvas 669 crianças por esse jovem. Crianças que se transformaram em escritores, engenheiros, biólogos, cineastas, construtores, jornalistas, guias turísticos. Todos adultos generosos, que adotaram crianças, trabalham como voluntários, fazem o bem, como gratidão pelas suas próprias vidas. Infelizmente, lamenta Nicolas, um novo grupo com quase 200 passageiros não pôde partir para a liberdade, porque no dia 1º de setembro de 1939 eclodiu a guerra. Todos os meios de transporte foram bloqueados e os que não conseguiram sair, foram enviados aos campos de concentração. Dizem que quem salva uma vida, salva a Humanidade. Que se pode dizer de alguém que salvou mais de 600? Mas, um herói não para depois de um ato heroico. E, por isso, Nicolas tornou-se voluntário da Cruz Vermelha, na França, durante a guerra. Trabalhou posteriormente nas Nações Unidas e, ao se aposentar, dedicou-se exclusivamente ao trabalho voluntário. Vivendo no interior da Inglaterra, ele cuida do seu jardim e ainda usa o tempo para ajudar um asilo. Não se considera um herói porque diz que fez o que todos consideravam impossível, simplesmente porque o seu lema é: Se não é obviamente impossível, deve haver uma maneira de fazer. Discreto, nem à esposa com quem se casou em 1948, ele narrou o que fizera. Foi em 1988 que o fato se tornou conhecido e ele passou a receber homenagens do Governo tcheco, da Rainha da Inglaterra, dos Estados Unidos e dos que foram salvos por sua atitude heroica. Sua vida, seus méritos e a operação de resgate estão contidas na biografia escrita por nada menos do que uma das crianças que ele salvou: Vera Gissing, que o conheceu nos seus 80 anos de idade.
 * * * 
Um herói se faz com umas gotas de amor, idealismo e uma grande vontade de promover o bem.
Redação do Momento Espírita, com base em fatos da vida de Nicolas Winton. Em 31.03.2010.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

COMO SE ESCREVE...?

Alice Gray
Quando Joey tinha somente cinco anos, a professora do jardim de infância pediu aos alunos que fizessem um desenho de alguma coisa que eles amavam. Joey desenhou a sua família. Depois, traçou um grande círculo com lápis vermelho ao redor das figuras. Desejando escrever uma palavra acima do círculo, ele saiu de sua mesinha e foi até à mesa da professora. 
-Professora, como a gente escreve...? 
Ela não o deixou concluir a pergunta. Mandou-o voltar para o seu lugar e não se atrever mais a interromper a aula. Joey dobrou o papel e o guardou no bolso. Quando retornou para sua casa, naquele dia, ele se lembrou do desenho e o tirou do bolso. Alisou-o bem sobre a mesa da cozinha, foi até sua mochila, pegou um lápis e olhou para o grande círculo vermelho. Sua mãe estava preparando o jantar, indo e vindo do fogão para a pia, para a mesa. Ele queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para ela. 
-Mamãe, como a gente escreve...? 
-Menino, não dá para ver que estou ocupada agora? Vá brincar lá fora. E não bata a porta. - Foi a resposta dela. 
Ele dobrou o desenho e o guardou no bolso. Naquela noite, ele tirou outra vez o desenho do bolso. Olhou para o grande círculo vermelho, foi até à cozinha e pegou o lápis. Ele queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para seu pai. Alisou bem as dobras e colocou o desenho no chão da sala, perto da poltrona reclinável do seu pai. 
-Papai, como a gente escreve...? 
Joey, estou lendo o jornal e não quero ser interrompido. Vá brincar lá fora. E não bata a porta. 
O garoto dobrou o desenho e o guardou no bolso. No dia seguinte, quando sua mãe separava a roupa para lavar, encontrou no bolso da calça do filho, enrolados num papel, uma pedrinha, um pedaço de barbante e duas bolinhas de gude. Todos os tesouros que ele catara enquanto brincava fora de casa. Ela nem abriu o papel. Atirou tudo no lixo. Os anos rolaram... Quando Joey tinha vinte e oito anos, sua filha de cinco anos, Annie, fez um desenho. Era o desenho de sua família. O pai riu quando ela apontou uma figura alta, de forma indefinida e disse: 
-Este aqui é você, papai! 
A garota também riu. O pai olhou para o grande círculo vermelho feito por sua filha, ao redor das figuras e, lentamente, começou a passar o dedo sobre o círculo. Annie desceu rapidamente do colo do pai e avisou: 
-Eu volto logo! 
E voltou. Com um lápis na mão. Acomodou-se outra vez nos joelhos do pai, posicionou a ponta do lápis perto do topo do grande círculo vermelho e perguntou: 
-Papai, como a gente escreve amor? 
Ele abraçou a filha, tomou a sua mãozinha e a foi conduzindo, devagar, ajudando-a a formar as letras, enquanto dizia:
-Amor, querida, amor se escreve com as letras t...e...m...p...o.
 * * * 
 Conjugue o verbo amar todo o tempo. Use o seu tempo para amar. Crie um tempo extra para amar, não esquecendo que para os filhos, em especial, o que importa é ter quem ouça e opine, quem participe e vibre, quem conheça e incentive. Não espere seu filho ter que descobrir sozinho como se soletra amor, família, afeição. Por fim, lembre: se você não tiver tempo para amar, crie. Afinal, o ser humano é um poço de criatividade e o tempo... bom, o tempo é uma questão de escolha. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Círculo de amor, de Jeannie S. Williams, do livro Histórias para o coração da mulher, de Alice Gray, ed. United Press. Em 5.7.2013.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

COMO SE EDUCA UM FILHO

Não há pai ou mãe, preocupado com a educação de seu filho, que não pare para refletir quais os melhores caminhos a seguir ou como agir corretamente na educação. Educar sempre gera insegurança, pois amiúde estaremos questionando se nossas ações são as melhores e as mais efetivas. Houve épocas, ainda nos lembramos, onde criança educada era criança que obedecia ordens, que não questionava, que não se envolvia em assuntos de adulto, que ficava calada. Nessa época, educar era o esforço em se fazer cumprir as ordens sociais, em agir conforme os valores vigentes, sempre rígidos, em cumprir as regras. O excesso de rigidez, de inflexibilidade, somado às grandes transformações da sociedade, colocaram esse modelo em cheque, quando não, em profundo desuso. Com medo de serem repressores, antiquados e ultrapassados, pais e mães passaram a evitar esse comportamento. E, para terem certeza que não estavam resvalando no antigo, passaram a agir no sentido oposto. A partir disso, reprimir, definir regras, impor limites, foram ferramentas abandonadas, desnecessárias para se educar. Porém, entre esses dois modelos extremos, há uma multidão de educadores, pais, mães, a se perguntar: Com que ferramentas se educa um filho? Quais os parâmetros para se educar? Se lembrarmos que educar é formar o caráter de alguém, é infundir-lhe conceitos, provocar-lhe o hábito, para nascer daí seus valores, vemos que a tarefa é complexa e longa. Assim, comecemos com os conceitos. Devemos eleger quais valores consideramos importantes para nosso filho. É necessário tê-los claros e conversar sobre eles com nosso filho. Discutir, refletir, buscar exemplos na sociedade, na televisão, nos noticiários. Em seguida, vivenciarmos com ele tais valores. Fazer de nós mesmos o exemplo, mostrando-lhe que também estamos em um processo de educação, nessa grande escola chamada Terra. Depois, dar-lhe a oportunidade de decidir e tomar algumas iniciativas, para logo mais refletir com ele a respeito das ações que ele vem tomando, e das consequências dessas ações. Fazer com que ele perceba que se sofre as consequências das boas e más ações, conforme as atitudes e decisões. A partir daí, será da insistência, do repetir das ações e da vivência, que se irão inserindo os valores no coração de nossos rebentos. Apenas através de hábitos novos é que se conseguirá modificar valores antigos, ou criar novos valores. E novos hábitos serão construídos a partir de bons conceitos que se tiver em mente. Desta forma, não se deixe levar apenas por modismos, e nem se preocupe em ser moderno e atual. Para educar, o coração será sempre um bom guia onde, pautados por valores nobres, seguiremos em direção segura. E ainda, se estivermos atentos, com olhos de cuidado e desvelo sobre aqueles a quem temos a responsabilidade de educar para a vida, teremos boas chances de ter sucesso nesse grande desafio que se chama educação. 
Redação do Momento Espírita. Em 11.02.2011.

domingo, 14 de agosto de 2016

AO MEU QUERIDO PAI

Olá, pai! Eu, que já fui criança um dia e que agora sou jovem, quase adulto, gostaria de dizer o que vai aqui dentro do meu coração, neste dia especial. Eu sei que temos tido alguns desentendimentos, mas creia papai, você é e sempre será meu grande herói. Sabe, pai, quando observo suas mãos fortes, embora algumas marcas feitas pelo tempo, penso no quanto elas significam para mim, pois foram as primeiras a acariciar as minhas, inseguras na infância. Quando vejo seus passos firmes, não esqueço de que foram eles que orientaram meus primeiros passos... Quando você me pede para ler algumas palavras que seus olhos já não conseguem ver com precisão, faço isso com carinho, pois não esqueço das palavras que você repetiu inúmeras vezes para que eu aprendesse a falar. Percebo que hoje suas decisões são mais lentas, mas sei também que minhas primeiras decisões foram por elas balizadas. Talvez você não esteja tão atualizado, quanto às novas tecnologias, mas eu me lembro bem que você pensou muito pouco em si mesmo, para fazer de mim uma pessoa de bem. Se hoje sua saúde anda um pouco debilitada, sei que muito do seu desgaste foi para garantir a minha saúde. E se você não pronuncia corretamente alguma palavra, eu entendo, pois se esqueceu de si mesmo para que eu pudesse cursar uma universidade. Se hoje sua memória o trai, não esqueço das tantas vezes que advogou a meu favor, nas situações difíceis em que me envolvia. Hoje eu cresci, papai, já não sou mais aquela criança indefesa, graças a você. Hoje a juventude me empolga as horas... Mas eu não esqueci minha infância, meus primeiros passos, minhas primeiras palavras, meus primeiros sorrisos... Acredite que tudo isso está bem vivo em minha memória, e eu sei que nesse seu peito, já cansado, ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora... É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta, pois você esteve sempre ao meu lado, disposto a me proteger e a me ensinar... Sabe velho, embora eu não tenha muito jeito para falar coisas bonitas, desejo lhe dizer o quanto você têm sido importante em minha vida. Hoje você pode não ser mais aquele moço forte, quanto ao corpo, mas tem um certo ar de sabedoria que na sua imagem de ontem não existia. Eu sei, pai, que apesar de o tempo ter passado, em seu peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso... Que o afeto que você cultivou agora floresce em minha alma... Que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos... Hoje eu reconheço, meu pai, que apesar dos longos invernos suportados, você ainda mantêm acesa a chama de amor e ternura pelos seres que embalou na infância... Por isso tudo, e muito mais, eu quero lhe agradecer de todo meu coração: "Pela amizade que você me devota... Pelos meus defeitos que você nem nota... Por meus valores que você aumenta... Pela minha fé que você alimenta... Por esta paz que nós nos transmitimos... Por este pão de amor que repartimos... Pelo silêncio que diz quase tudo... Por esse olhar que me reprova mudo... Pela pureza dos seus sentimentos... Pela presença em todos os momentos... Por ser presente, mesmo quando ausente... Por ser feliz quando me vê contente... Por ficar triste, quando estou tristonho... Por rir comigo, quando estou risonho... Por repreender-me quando estou errado... Por meus segredos, sempre bem guardados... Por me apontar Deus a todo instante... Por esse amor fraterno sempre tão constante..." (Texto final, entre aspas, de uma mensagem recebida pela Internet, sem menção ao autor)

sábado, 13 de agosto de 2016

AO MEU PAI

Recordo-o ainda. Ele saiu, em um dia de sol, para viajar e nunca mais retornou para nossos olhos físicos. Quando o trouxeram, era somente um corpo dentro de um caixão. Lacrado, ao demais, tendo em vista os dias passados desde a sua morte. Meu pai era um homem alegre. Gostava de música, de dança, de estar com amigos, conversar, contar causos. E ele os tinha às centenas. Toda vez que retornava de viagem, os filhos, éramos três os menores, nos reuníamos em torno da mesa, na cozinha ampla, para ouvi-lo. Ele contava causos de forma pausada. Ia descrevendo as cenas, uma a uma, reproduzia os diálogos. Por vezes, meu irmão e eu, mais impacientes, o interrompíamos: E daí, o que aconteceu? Conta logo. Ele sorria mostrando seus dentes curtos, bem moldados. E continuava com a mesma calma, até o desfecho da história. Tê-lo em casa era muito bom e significava que um de nós iria dormir na cama dos pais. Por vezes, nossa mãe nos dizia que desejava ficar a sós com ele. Mas, mal despertava a madrugada, quem primeiro acordasse, corria para o quarto e se enfiava entre os dois. Ele acordava e brincava conosco, fazendo cócegas, jogando travesseiro. Era uma festa! Meu pai! Quantas saudades! Ele não era letrado. Desde bem jovem conhecera o trabalho duro. Constituíra família cedo e os cinco filhos lhe exigiam que desse o máximo de si. Insistia que precisávamos estudar. E estudar muito. A duras penas, pagou para cada um de nós o ensino fundamental, em escola particular. Escolheu a melhor escola da cidade. Pagou cursos de piano, acordeon, violino para minha irmã, que cedo entrou para o mundo da música. Meus irmãos e eu não chegamos a tanto, mas fomos brindados com o que ele tinha de mais precioso. Ensinou-nos a honestidade, ensinou-nos que melhor era ser enganado do que enganar. Viveu no tempo em que a palavra de um homem era documento mais válido do que nota promissória, duplicata ou qualquer título financeiro. Legou-nos um nome honrado e disse-nos que o dignificássemos, ao longo de nossa vida. Olhava para mim, com orgulho e dizia: Um dia você será uma pessoa muito importante! Hoje, quando viajo pelas estradas, muitas delas velhas conhecidas de meu pai, eu o recordo. Será que ele sabia que um dia eu seria alguém que viajaria, esclarecendo pessoas, ofertando cursos? Ele não conheceu todos os netos. Partiu para a Espiritualidade, em anos jovens, deixando-nos um grande silêncio n'alma. Em homenagem a ele, em nossos aniversários, nas festas de Natal e Ano Novo, nos encontramos. Rimos, ouvimos música, dançamos. Porque ele nos ensinou a sermos assim. A vida é dura, mas nós a podemos adoçar, se quisermos. - É o que dizia. Meu pai, meu mestre, onde estejas, Deus te guarde. Especialmente nesta época em que os pais são recordados pelos filhos, que os brindam com presentes. Meus irmãos e eu te brindamos com a prece da nossa gratidão: Obrigado por nos terdes dado a vida. Obrigado por nos terdes ensinado a bem vivê-la.
Redação do Momento Espírita. Em 08.08.2011.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

COM O QUE TENS

Wallace Leal Rodrigues
Narram os versículos primeiros do capítulo 3 de Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, que Pedro e João subiram ao templo para orar. Perceberam, ao lado da porta, um coxo de nascimento, que era diariamente trazido, e ali deixado, a fim de esmolar. Ao ver os dois apóstolos por ele passarem, fez a sua rogativa. Pedro pôs nele os olhos e lhe disse: 
-"Olha para nós." 
O homem os olhou com atenção, ficando na expectativa de que eles lhe dessem alguma coisa. Mas o velho apóstolo, passando as mãos ao longo da túnica rústica, emocionado, falou: 
-"Não tenho prata nem ouro." 
Na seqüência, distendeu os braços na direção do mendigo e com os olhos marejados de sentidas lágrimas, usou a voz embargada para falar: 
-"Mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te, e anda." 
Tomou-lhe da mão direita, levantou-o e imediatamente as pernas se consolidaram, os pés se firmaram e o coxo pôs-se a andar, exultando de felicidade. Meditemos na profundidade da lição. Pensemos em como seria o Mundo se todos os homens estivessem resolvidos a dar o que possuem para a edificação do bem geral. Ainda hoje, muitos dizemos: 
-"Como poderei dar se não tenho?" e outros: 
-"Quando tiver, darei." 
Contudo, para o serviço real do bem, não necessitamos, em caráter absoluto, dos bens perecíveis da Terra. O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades com os necessitados que encontre pelo caminho. Entretanto, se não realizou em si mesmo o sentimento do amor, que é sua riqueza legítima, não fixará dentro de si a luz e a alegria que nascem das dádivas. Todos trazemos conosco as qualidades nobres já conquistadas. Não há ninguém tão pobre que não possa se dar. Dar de si mesmo. Pedro ofereceu seu amor ao pedinte e lhe devolveu o uso das pernas, o que o retirou, desde então, da condição de mendigo. Curado, a possibilidade do trabalho e o conseqüente ganho honrado se lhe abriram. Também nós podemos dar do que temos, agora, no momento que se faz precioso. Todos os que esperamos pelo dinheiro, pelas posses, para contribuir nas boas obras, em verdade ainda nos encontramos distantes da possibilidade de ajudar a nós próprios. Doar-se é servir com desinteresse. Dar das nossas horas, do nosso tempo, das nossas habilidades. Há tanto para dar, desde que cada criatura, na Terra, é depositária da enorme fortuna que angariou ao longo dos séculos, nas várias vidas. Fortuna que não se guarda em cofres ou casas bancárias, mas se aloja na intimidade do coração e na lucidez da mente. 
 * * * 
O discípulo de Jesus que, na relação dos apóstolos, é chamado Pedro chamava-se Simão. Ele nasceu em Betsaida, mas na época do seu encontro com Jesus morava em Cafarnaum. Pedro é a forma masculina que em grego significa rocha. Talvez por isto mesmo tenha recebido de Jesus, desde o primeiro encontro, o apelido aramaico de Cefas, que significa rocha. 
Redação do Momento Espírita, com base nos versículos 1 a 8, do cap. 3 de Atos dos apóstolos; no cap. XXVI do livro Esquina de pedra, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim e no verbete Pedro (I) do Dicionário enciclopédico da bíblia, de A. Van den Born, ed. Vozes. Em 21.01.2008 
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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

COM O QUE TENHAS!

Della Reese
Na vida, é bastante comum as pessoas invejarem umas às outras. Algumas apreciariam ter facilidade de se expressarem em público porque, afinal, para tantos isto parece tão fácil. Outras gostariam de ser admiradas pela sua beleza, à semelhança de criaturas que o são, parecendo atraírem os olhares onde quer que estejam. Enfim, é um desfilar contínuo de desejos de ser como o outro, de ter o que o outro tem etc. Uma cantora e estrela da TV americana teve oportunidade de narrar uma de suas experiências de vida. Algo, diz ela, que lhe aconteceu em torno de seus treze anos de idade e que influenciou definitivamente sua carreira e seu modo de ser. Foi nessa época que ela recebeu a chance de realizar uma tournê por várias cidades americanas com uma famosa cantora. Apresentando-se em ambientes fechados de igrejas, elas atraíam público sempre entusiasta. Della Reese afirma que toda vez que se apresentava dava o máximo de si. Buscava entoar as notas mais altas, sustentava-as por tempo mais longo, enfim, era um show em que se exibia. Esquecia-se muitas vezes que estava cantando em templos religiosos e entoando hinos que deveriam ter o objetivo único de louvar ao Senhor e sensibilizar as criaturas para as coisas espirituais. Com o tempo ela foi observando que o seu modelo, a famosa Mahalia Jackson inspirava ao povo sentimentos diferentes dos que ela conseguia. As pessoas a ouviam com respeito e assombro. Afinal, o que será que ela tinha que Della Reese não tinha? Foram necessárias muitas apresentações para ela descobrir. Aconteceu, afinal que, em uma determinada localidade, encontraram uma garota, uma lavradora de tranças longas que cantava maravilhosamente. Foi o suficiente para a jovem sentir-se enciumada. Com certeza, ela seria preterida. No entanto, quando manifestou seu mau humor e sua raiva à famosa Mahalia, esta lhe deu em poucas palavras a lição: Não se trata de cantar melhor, de sustentar por mais tempo as notas ou de alcançar tonalidades mais agudas. Trata-se de sentir a presença de Deus. Não estamos numa competição. Estamos a serviço de Deus. E concluiu: Fique feliz por Ele ter chamado você. Mas, lembre-se de que você não é a única a quem Ele chamou. 
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Saibamos observar e descobrir como Deus coloca talentos nos lugares mais estranhos. Della Reese afirma que jamais conseguiu cantar como cantoras extraordinárias que a inspiraram, mas conseguiu ser ela mesma. Cantar como ela mesma, dar o que tinha de seu. E considerou que a presença daquela mulher em sua adolescência foi a dose exata da Providência Divina se manifestando para que ela aprendesse a ser grata e valorizasse o que possuía. 
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Todos somos filhos de Deus e todos possuímos dádivas que nos foram dadas por Ele. Todos trazemos a este mundo talentos que nos cabe aproveitar bem. Uns possuem a inteligência aguçada, a sabedoria, recursos materiais. Outros a facilidade para as artes, a comunicação etc. Cada um de nós está colocado estrategicamente em um lugar especial, para ali crescer e auxiliar os outros a crescerem, para progredir e ajudar o progresso dos que convivem conosco. 
Redação do Momento Espírita com base no artigo O toque de um anjo, de Seleções Reader´s Digest, de abril de 1998. Em 26.07.2010.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

COMO FAZER ACONTECER

Há algum tempo recebemos, com alegria, um pequeno folheto, produzido por uma empresa de material escolar, intitulado Como fazer acontecer. Nele encontramos uma lista de dicas, de orientações muito seguras para conseguir sucesso nas empreitadas de nossa vida. Sob o subtítulo de Caminhos para um efetivo fazer acontecer, lemos o seguinte: 
Primeiro: visualize, com detalhes, como se tudo já estivesse realizado – imagine com pormenores o estado desejado. Essa imagem cristalina é algo que irá naturalmente orientá-lo quanto ao que deve ser feito, como começar etc. 
Segundo: dê rapidamente o primeiro passo – confie nos “lampejos” que você tem. Se você sente confiança interior, aja sem hesitação e dê o primeiro passo. A natureza fará a sequência acontecer.
Terceiro: faça tudo de corpo e alma – não seja “morno”, “fazendo por fazer”. Até o impossível se torna possível quando nos envolvemos integralmente. 
Quarto: faça tudo com boa vontade e prazer – a probabilidade de dar certo aumenta tremendamente quando fazemos tudo com a mente alegre. 
Quinto: seja otimista – não se deixe influenciar pelos cínicos e pelos pessimistas. Ajude a construir o ideal, a cada dia dando o passo do dia. 
Sexto: concentre-se em seus pontos fortes – ao invés de se deixar bloquear por eventuais pontos fracos, ancore-se no que você tem de melhor. 
Sétimo: concentre energia – evite desperdiçá-la fazendo as coisas pela metade, ou começando muitos projetos sem nada concluir. 
Oitavo: seja natural – não se deixe derrotar pelo “excesso de esforço”. Faça o que tem que ser feito e mantenha a tranquilidade interior. Dê espaço e tempo para a natureza também fazer a sua parte.
Nono: seja transparente – nem sequer pense desonestamente, pois isso drena sua energia. Já imaginou quanto de energia gastamos para “proteger” a mentira contada ontem? Ser transparente faz multiplicar energia. 
Décimo: seja generoso – “a generosidade move montanhas.” As coisas fluem melhor à sua volta porque a generosidade faz agir. Picuinhas, ao contrário, imobilizam as pessoas. 
Décimo primeiro: aja sempre com justiça, isto é, evite a postura de tirar vantagem de tudo. Aja pensando em benefícios para todos. As coisas passam a acontecer com mais fluidez. 
Décimo segundo passo: confie 100% em sua força interior – fazer acontecer exige fé, principalmente em si mesmo. É essa convicção que o deixa solto para fazer o que é necessário. 
Finalmente, décimo terceiro: busque excelência, sempre – um fazer acontecer efetivo deve estar ancorado na busca do melhor, do perfeito, do ideal. O tempo que levaremos para chegar à perfeição é outra coisa. O alvo, porém, deve sempre ser a perfeição. 
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A acomodação pode tornar-se um vício perigoso em nossa vida. Utilizamos a palavra vício, pois, se permitirmos, ela vai nos dominando, nos dominando, até fazer parte de nosso estado natural de ser. O que começa hoje com uma pequena preguiça, com um pequeno desânimo, pode ganhar proporções maiores e nos lançar a processos de depressão e tristeza. Assim, permaneçamos atentos a qualquer indício desses sentimentos que não são nada bem-vindos, e logo os espantemos para longe de nós.
Redação do Momento Espírita, a partir do texto Como fazer acontecer, distribuído gratuitamente pela empresa Tilibra. Em 18.11.2013.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

COMO ESTRELAS NA TERRA

Os filhos são, sem dúvida, empréstimo Divino. Deus proporciona o ensejo da paternidade e maternidade para que nos dediquemos a transformar as nossas crianças em pessoas de bem e prepará-los para serem cidadãos do mundo. Porém, existem pais e mães muito especiais que, na sua caminhada, têm filhos igualmente especiais. Crianças que nascem com alguma limitação, física ou intelectual, e que necessitarão de cuidados por toda a vida. Com certeza, essa é uma grande e inadiável chance de crescimento espiritual para esses pais. Temos casos em que os genitores delegam para instituições especializadas o cuidado integral com filhos portadores de necessidades especiais. Por outro lado, temos exemplos em que pais e mães, muitas vezes, mesmo sem ter as condições físicas e financeiras adequadas, movem o mundo para oferecer o melhor em termos de tratamentos de saúde e conforto para seus filhos. Qualquer obstáculo se torna pequeno quando o objetivo é promover o desenvolvimento e o estímulo de suas crianças. Vibram com cada pequena conquista. Cada sorriso, cada novo movimento aprendido, por menor que seja, é motivo de grande alegria. Pais maravilhosos e sensíveis que percebem que cada indivíduo tem o seu talento e que enxergam que o potencial de cada um é infinito como o céu. E estão sempre, de alguma forma, preparando-os para o mundo. Olhemos para essa criança especial, com todo o amor que possamos ter em nossos corações, e tenhamos a certeza de que se ela está no seio da nossa família, em nosso lar, não é por acaso. Abramos as janelas do coração e olhemos lá dentro para ver como as pequeninas gotas de chuva encontram o sol, formando um arco-íris. Olhemos para essas crianças como gotas frescas de orvalho repousando nas folhas, presentes do céu, esticando e virando, escorregando e caindo, como pérolas delicadas. Não deixemos que se percam essas pequenas estrelas na Terra. Assim como o brilho do sol em um dia de inverno banha o jardim dourado, elas afugentam as trevas dos nossos corações e aquecem o nosso ser. São como um bom sono onde os sonhos flutuam, como fonte de cores ou borboletas sobre as flores, doces anjos, mostrando-nos que o amor se basta. Elas são ondas de esperança, são a aurora dos sonhos e eterna alegria. Elas são a chama que dispersa o temor, como a fragrância de um pomar que preenche os ares, como um caleidoscópio e suas miríades de cores, como flores crescendo em direção ao sol. Como notas de flauta em uma quieta floresta. Elas são o sopro de ar fresco, o ritmo e música da vida. São como a vida que pulsa, como botões destinados a florir. Sonham acordadas, com os olhos abertos. Perto das nuvens fica seu mundo. Deixe-as entrar, existem outras assim, sonhando acordadas, pisando, tropeçando, não estão sozinhas. Só querem ter mil asas para voar, para explorar os vastos ares e então flutuar como um pássaro. Não deixemos que se percam essas pequenas estrelas na Terra.
Redação do Momento Espírita, com base, na trilha sonora do filme Taare Zameen Par, do produtor indiano Aamir Khan. Em 02.02.2012.