terça-feira, 30 de junho de 2015

OS ANJOS

William J. Bennett
O menino voltou-se para a mãe e perguntou: 
- Os anjos existem mesmo? Eu nunca vi nenhum. 
Como ela lhe afirmasse a existência deles, o pequeno disse que iria andar pelas estradas, até encontrar um anjo. É uma boa idéia, falou a mãe. Irei com você. Mas você anda muito devagar, argumentou o garoto. Você tem um pé aleijado. A mãe insistiu que o acompanharia. Afinal, ela podia andar muito mais depressa do que ele pensava. Lá se foram. O menino saltitando e correndo e a mãe mancando, seguindo atrás. De repente, uma carruagem apareceu na estrada. Majestosa, puxada por lindos cavalos brancos. Dentro dela, uma dama linda, envolta em veludos e sedas, com plumas brancas nos cabelos escuros. As jóias eram tão brilhantes que pareciam pequenos sóis. Ele correu ao lado da carruagem e perguntou à senhora: 
-Você é um anjo? 
Ela nem respondeu. Resmungou alguma coisa ao cocheiro, que chicoteou os cavalos e a carruagem sumiu na poeira da estrada. Os olhos e a boca do menino ficaram cheios de poeira. Ele esfregou os olhos e tossiu bastante. Então, chegou sua mãe que limpou toda a poeira, com seu avental de algodão azul. 
-Ela não era um anjo, não é, mamãe? 
-Com certeza, não. Mas um dia poderá se tornar um, respondeu a mãe. 
Mais adiante, uma jovem belíssima, em um vestido branco, encontrou o menino. Seus olhos eram estrelas azuis e ele lhe perguntou: 
-Você é um anjo? 
Ela ergueu o pequeno em seus braços e falou feliz:
-Uma pessoa me disse ontem à noite que eu era um anjo. 
Enquanto acariciava o menino e o beijava, ela viu seu namorado chegando. Mais do que depressa, colocou o garoto no chão. Tudo foi tão rápido que ele não conseguiu se firmar bem nos pés e caiu. 
-Olhe como você sujou meu vestido branco, seu monstrinho! 
Disse ela, enquanto corria ao encontro do seu amado. O menino ficou no chão, chorando, até que chegou sua mãe e lhe enxugou as lágrimas com seu avental de algodão azul. Aquela moça, certamente, não era um anjo. O garoto abraçou o pescoço da mãe e disse estar cansado. 
-Você me carrega? 
-É claro, disse a mãe. Foi para isso que eu vim. 
Com o precioso fardo nos braços, a mãe foi mancando pelo caminho, cantando a música que ele mais gostava. Então o menino a abraçou com força e lhe perguntou:
-Mãe, você não é um anjo? 
A mãe sorriu e falou mansinho: 
-Imagine, nenhum anjo usaria um avental de algodão azul como o meu. 
* * * 
Anjos são todos os que na Terra se tornam guardiães dos seus amores. São mães, pais, filhos, irmãos que renunciam a si próprios, a suas vidas em benefício dos que amam. As mães, sobretudo, prosseguem a se doar e velar por seus filhos, mesmo além da fronteira da morte, transformando-se em Espíritos protetores daqueles que na Terra ficaram, como pedaços de seu próprio coração. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Sobre anjos, de O livro das virtudes, v. 2, de William J. Bennett, ed. Nova fronteira. Em 02.01.2008.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

UM ANJO PARTIU

Foi aos onze meses que os pais observaram que algo não estava muito bem com a pequena Luana. Com pouco mais de um ano, ela passou a ser atendida pelo setor de transplante de medula óssea e os diagnósticos foram os mais diversos. Nenhum muito preciso porque os sintomas eram incomuns. Ela recebeu transplante de medula. O sucesso inicial, que deu esperanças e fez sorrir toda a família, logo se desvaneceria. A síndrome que apresentou, extremamente rara, foi se revelando quase insana. Os sangramentos intestinais levaram a muitas internações, a cauterizações por endoscopia, a transfusões inúmeras. Chegou a fazer quatro em um único dia. Tentou-se cirurgia no olho direito, pois a visão foi ficando comprometida. A falta de irrigação na retina fez com que o resultado fosse o insucesso. Sua mãe a chamava meu pequeno ipê amarelo, que floria o seu jardim. Luana nunca reclamava de coisa alguma. Encontrou alegria em meio à dor. Sem visão, ela enxergava muito bem com suas mãos miúdas. Com a alma via luz e vultos, o que lhe parecia extremamente suficiente para ser feliz. Rapidamente, ela ficou conhecida, conquistando médicos e enfermeiros. Não havia quem não a desejasse atender, sempre com um sorriso no rosto, mesmo entre procedimentos dolorosos que se faziam necessários. E logo, para amenizar tantas dores, mãe e filha criaram um código todo especial para se referirem às coisas do dia a dia. Um código que o pessoal do hospital logo aderiu: ver a pressão era fazer puf-puf; auscultar o coração era ouvir o tum-tum; o catéter se chamava caninho; as transfusões eram o papá do caninho e o clamp do caninho era o tic-tac que prendia o cabelo dele. E havia o Zé não qué para os dias em que Luaninha dizia não, não e não e a Maria reina para os dias em que ela fazia um pouco de birra. Ela não chegou a completar cinco anos. Partiu, tão docemente como chegara, sem aguardar o apagar das velinhas do aniversário, tão próximo. Na saudade, dias depois, escreveu-lhe a mãe: Minha linda. Já é seu aniversário! Parabéns! Aqui em casa, nada de barulho... Nem de preparativos. Nada de madrugadas enrolando brigadeiros, nem de manhãs enchendo balões. Nada de correria para entregar convites da princesa para outras princesas. Nada de café da manhã na cama, de roupa bonita, nem de velinha para o bolo. Aqui tudo silencia e sente sua ausência. Não tem o ranger do balanço, nem gargalhadas na varanda. Não haverá vizinhos dizendo, no dia seguinte, que ouviram sua vozinha o dia todo. Não tem caminhada na rua, nem florzinha colhida fresca para pôr na aguinha. Só o barulho incessante do ventilador e o ping da torneira se revezam com minhas lágrimas de saudade. Mas a rua está lá. Os vizinhos também. Ainda mora na varanda o seu balanço para que outras princesas possam brincar... Mora aqui também o seu riso e sua alegria e posso ouvir tudo isso, se fechar os olhos por um minuto! Mora aqui todo bem e as lições que você deixou. Mora aqui um coração de mãe aflito por saber se você vai apagar velinhas aí onde está. Amo você para sempre! Parabéns, meu anjo!
Redação do Momento Espírita, em homenagem a Luana Costa Macedo, desencarnada em 4.11.2012. Disponível no CD Momento Espírita, v. 26, ed. FEP. Em 9.9.2014.

domingo, 28 de junho de 2015

ANJO GUARDIÃO

Pelos caminhos da vida, um amigo invisível nos acompanha: nosso anjo guardião. Designado por Deus para acompanhar nossos passos na longa jornada pela Terra, esse Espírito nos aconselha, auxilia e pacifica nos momentos de crise. Também em nossas vitórias, quando sorrimos felizes, ao nosso lado está o divino emissário, em silenciosa prece de gratidão a Deus. Devemos pensar nele como um irmão mais velho, um companheiro que nos dedica a amizade mais pura e desinteressada. Estar em contato com esse bom companheiro é essencial. E podemos fazê-lo pela prece, em momentos de meditação. Para escutá-lo, é preciso silenciar a mente, acalmar o tumulto interior. Afinal, quem consegue ouvir algo quando tudo em volta é ruído? Assim, com a mente calma, ouviremos a voz do anjo amigo. Não será uma voz física, mas a voz interna, que ressoa apenas na alma. Os conselhos desse amigo celeste se farão ouvir pela intuição. É que Deus não quer que o anjo guardião faça o nosso trabalho maior, que é nos tornarmos pessoas melhores. A nossa tarefa de auto-aprimoramento é individual, intransferível. A figura do anjo guardião é um recurso que Deus utiliza para nos dar apoio. Mas a tarefa é nossa. E isso acontece para que cada um de nós tenha o mérito pelas boas obras e atitudes que pratica. É o nosso livre arbítrio, nossa liberdade de escolher o bem, o belo e o amor. Deus deseja a nossa felicidade. Ele nos dotou de força de vontade, inteligência e sensibilidade para que todos nós possamos progredir intelectual e moralmente. Se outra pessoa tomasse decisões por nós, qual seria o nosso mérito? Dessa forma, também não aprenderíamos as lições que a vida oferece. O fogo da experiência nos engrandece: traz maturidade, compreensão, paciência. Na imensa escola que é o Mundo, somos estudantes que têm deveres a cumprir, conteúdos a aprender. Nesta escola, há outros mais adiantados, que ajudam os que estão iniciando. Esses são os anjos guardiães ou Espíritos protetores. Eles não nos substituem, nem tomam as rédeas de nossa vida. Eles sugerem, aconselham, consolam. E como fazem isso? Quando falamos com eles? Fazem isso por sugestão mental e pela intuição. Também nos aconselham quando estamos dormindo. Sim, nessa hora em que estamos libertos do corpo, entramos em contato com o mundo espiritual. E nele vive nosso anjo guardião. Por isso os Espíritos protetores são sempre mais adiantados. É que precisamos de sua sabedoria para nos orientar. São sábios, pois somente um sábio poderia respeitar o livre arbítrio quando seu protegido faz enormes tolices e sofre por causa delas. É esse Espírito protetor que nos ouve nas horas calmas, quando aparentemente falamos para as paredes; quando lamentamos as oportunidades perdidas; quando admitimos a nossa imperfeição. Há coisas que falamos apenas para nós mesmos. Mas Deus as ouve. E determina ao Espírito amigo que também as escute. Nessas horas, quando a solidão nos alcança, a tristeza desaba sobre nossas cabeças e o desânimo se faz presente, o anjo de guarda nos abraça. Enlaça a nossa alma cansada, embala o nosso sono. Suas lágrimas regam nossa estrada, seus sorrisos iluminam nossos dias. Porque a missão dessa alma generosa é seguir conosco e nos amar. 
Redação do Momento Espírita. Em 07.03.2008.

sábado, 27 de junho de 2015

ANJO ESTELAR

Divaldo Pereira Franco
Em noite serena, na amplidão do firmamento, duas estrelas conversavam: 
-“Eu era a dor. Fui a mais fiel amiga do bem. Estive em toda parte, lapidando corações para oferecê-los ao nosso Pai Celeste. Maltratei e fui repelida, despertei sentimentos e fui desprezada, ajudei e amaldiçoaram-me, servi e não encontrei compreensão. E, quando desfaleci, exausta, fui recolhida e colocada aqui, no firmamento, para clarear a noite dos infelizes que desejem encontrar a estrada da ventura plena. E tu, donde vens, que passas tão ligeira?” 
-“Venho também do mundo. Meu ministério não foi tão difícil, porque a minha vida foi toda um hino de amor. Não tive tempo de examinar quem me ofereceu afeto ou quem me esqueceu. Confundi-me no dever e apaguei-me nas sombras do meu silêncio, quanto me foi possível. Estive, entretanto, de pé, vigiando e aguardando, enquanto a noite vestia a Terra. Ofereci-me quanto pude e, não obstante, reconheço não ter feito quanto devia... Chorei para que os meus amores não chorassem, pisei espinhos para que se arrebentassem em flores, a fim de que os pés deles recebessem leito macio e perfumado nas estradas... Tentei converter pedras em pães, e, quando os vi triunfar, retornei à minha quietude, sorrindo com a felicidade que lhes sorria nos corações... Não tive tempo sequer de ser arrebatada num êxtase. Quando fui chamada pelo nosso Pai para embelezar a natureza, reconheci-me sem valor, porque sem eles, esses santos amores, eu nada sou. Há tanta sombra na Terra e tantos corações em aflição, que roguei ao sublime Pai me permitisse retornar aos mesmos caminhos para aquecer os inesquecidos corações que lá ficaram na ventania... Sei que és missionária da vida e como tuas bênçãos não podem deixar de os visitar, ofereço-te o meu coração para que o buriles, e, juntas, possamos descer para recebê-los, novamente, em nossos braços, conduzindo-os à glória da Imortalidade.” 
-“E quem és”? 
-“Sou mãe!” 
* * * 
Estabeleceu-se uma grande quietude, depois da qual, milhares de gotas de prata caíram sobre a Terra, como lágrimas do anjo estelar. Foi nessa hora que, recebendo a dor no coração a mãe voltou, para sofrer em silêncio e ser, entre os homens, a mais bela estrela da vida, luminosa e sublime, redimindo com o seu amor angelical a Humanidade inteira. 
* * * 
Ser mãe é experiência única e aprendizado indispensável para a vida. Depois de vestir a maternidade, o Espírito nunca mais é o mesmo. Os laços que se formam, as emoções, os sentimentos, as dores purificadoras... Tudo se conjuga para a transformação do ser. Se você é mãe, não se deixe levar pelo desânimo, não se deixe levar pelos apelos materialistas do mundo que buscarão retirá-la de sua missão bendita, em troca de vaidades e interesses vis. Se você em breve se habilitará para a maternidade, prepare-se com desvelo, com carinho. Estude, pesquise, emocione-se. Estabeleça, desde já, um vínculo com os Espíritos que voltarão ao mundo através de você. Seja mãe no corpo, mas, principalmente, mãe na alma. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap.4, do livro Sementeira da fraternidade, por Espíritos diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 9.11.2013

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O ANJO DO ORFANATO

Até onde se deve estender o amor ao próximo? A célebre pergunta feita ao mestre Jesus: 
-Quem é meu próximo? - prossegue para muitas mentes. 
Para Chan, assistente social de Hong Kong, de trinta anos de idade, não havia dúvidas. Ela ouvira falar que as condições no orfanato de Nanning, na China, eram horríveis e decidiu ver pessoalmente. Em agosto de 1992, ela conseguiu chegar até o diretor e ter sua permissão para explorar o local à vontade. Ficou chocada com o que viu. Berços de metal enferrujado, onde bebês se amontoavam como sardinha em lata. Subnutrição, brotoejas, choro, foi o que ela encontrou. Eram trinta e seis bebês, quase todos meninas. Essas são abandonadas na China com frequência, por causa da política do país de um filho único e a preferência de séculos por meninos. Em verdade, os meninos que se encontravam no orfanato eram portadores de alguma deficiência. Naquela noite, quando retornou ao hotel, ela levou uma das crianças consigo. Ao menos lhe daria uma noite de carinho. Cuidou de suas feridas e das assaduras. No dia seguinte, ao ter que devolver o bebê, sentiu o coração apertado. Em média, quatro crianças eram abandonadas por dia naquele orfanato, onde a falta de recursos e funcionários fazia com que os atendentes dessem prioridade aos bebês saudáveis. Os fracos recebiam pouca atenção e quase não sobreviviam. Chan pensou em sua infância feliz. Seus pais lhe ofereceram um lar acolhedor e ela teve formação universitária no Canadá. O senso moral lhe foi dado pelos pais. Quando voltou a Hong Kong, decidiu. Deixaria o trabalho na creche e iria ajudar os órfãos de Nanning, embora isso significasse abrir mão de uma vida estável e de um emprego bem remunerado. Chan sabia que muitos ocidentais esperavam ansiosos pela oportunidade de adotar uma criança. Nos meses que se seguiram, ela estabeleceu uma ponte entre a China e os Estados Unidos. Então, relatórios de adoções ilegais levaram o governo de Pequim a proibir a adoção por estrangeiros. Ela não desanimou. Passou a bater de porta em porta, procurando pessoas que desejassem levar crianças para os seus lares. A missão era difícil, mas ela conseguiu sensibilizar algumas mulheres. Ela mesma passou a cuidar de alguns bebês, a fim de retirá-los da triste situação. Em 1993, o decreto contra adoção foi revogado e ela prosseguiu em sua jornada de conseguir lares para os órfãos. Dentre as primeiras mulheres, na China, que se dispuseram a abrigar uma criança abandonada, no programa da jovem Chan, havia uma cega de cinquenta e dois anos, que passara sua vida montando caixas de papelão em uma fábrica e era casada com um criador de porcos. Chan se dedicou a administrar um orfanato que ficou conhecido como Amor de mãe. O anjo do orfanato, como passaram a denominá-la, elegeu uma jornada de amor, agradecida pelo amor grandioso que ela recebeu de seus próprios pais. 
* * * 
Não limitemos nossa capacidade de amar e não nos permitamos afirmar que estamos sós ou em abandono. Saiamos em busca de alguém solitário e o amparemos. Levemos para casa um filho alheio, em abandono, e o amemos. O amor não tem limites e consegue superar obstáculos considerados intransponíveis. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O anjo do orfanato, de Seleções Reader´s Digest, de janeiro de 1999. Em 30.1.2013.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O ANJO DE KAREN

J.Raul Teixeira
A adolescente aguardou o final da aula e se dirigiu ao professor. Confiava nele e, por isso, desejava lhe contar a tormenta que estava vivenciando. Estava prestes a sair de casa, embora não soubesse para onde ir. Mas, não aguentava mais a situação. Sua mãe se prostituíra e, todos os dias, homens diferentes adentravam o que deveria ser o seu lar. 
-Era uma vergonha! - dizia Karen. Tenho vergonha de minha mãe. Não nos falamos há muito. 
O professor, experimentado nas questões do mundo, ouviu com atenção e sugeriu que ela conversasse com sua mãe. Alguma vez perguntara a ela o que estava acontecendo? Por que se permitia tal comportamento? Mãe e filha eram como duas estranhas vivendo sob o mesmo teto. Quando uma entrava, a outra saía. O tempo passou. Aquele ano se findou e meses depois, a jovem procurou o professor, outra vez. Estava diferente. O rosto irradiava felicidade. Ela falara com sua mãe. Um longo e doloroso diálogo. Contudo, se dera conta que sua mãe sofria de uma grave carência afetiva. A mãe falara de sua viuvez muito jovem, uma filha para criar, a rebeldia de Karen, a soma das dificuldades. E, por fim, do equivocado caminho pelo qual optara. Mais um tempo passado e Karen veio dizer ao professor que ela e sua mãe tinham transferido residência. Que se haviam tornado amigas. Que agora costumavam fazer tudo juntas. Que a mãe deixara a vida equivocada e se dedicava, com exclusividade a ela. Saíam, conversavam, faziam compras, trocavam ideias. 
-Como era boa aquela mãe - descobrira a jovem. 
Karen estava muito agradecida ao professor por ter sugerido que ela conversasse com sua mãe, que se aproximasse dela. Hoje, passados alguns poucos anos, Karen está casada e tem um filhinho. O genro encontrou na sogra uma pessoa especial, dedicada, carinhosa. Agora, quando o casal deseja viajar, ou necessita estender-se em horas a mais no trabalho, é a mãe dedicada que fica com o netinho. 
-Vovó, mamãe! 
Essas são as palavras mágicas que alimentam o coração da mãe de Karen. Em verdade, o anjo de Karen. O anjo de sua vida, que vela todos os dias por ela, pelo genro a quem acolheu como filho e ao netinho.
 * * * 
O diálogo franco, honesto ainda faz muita falta. No lar, as pessoas se isolam, magoadas umas com as outras, por palavras ditas ou não ditas, por atitudes impensadas. Tudo se tornaria bem mais fácil se as pessoas aprendessem a conversar, a perguntar porquês, a indagar de razões. Se, em vez de se falar às ocultas, criar desconfianças, gerar desencontros, aprendêssemos sempre a conversar, olhando nos olhos uns dos outros, a vida se tornaria mais fácil de ser vivida. Pois o que complica a vida é cada qual ficar em seu canto, imaginando que não é amado, querido, desejado. Quando seria tão simples perguntar: Por que você está agindo desta forma? Por que tomou aquela atitude? Por que não fez o que lhe pedi? Por que esqueceu do nosso aniversário? Pense nisso e adote, em sua vida, a atitude de nunca deixar para depois o elucidar qualquer questão. Converse mais, participe das questões familiares, seja amigo dos seus amores. Descubra, enfim, a riqueza de cada um e enriqueça-se interiormente, tornando a sua vida plena de amor, de atitudes de afeto e bem-querer. Experimente! 
Redação do Momento Espírita com base em fato narrado por J Raul Teixeira. Disponível no livro Momento Espírita, v. 7 e no CD Momento Espírita, v. 18, ed. FEP. Em 8.8.2013.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

UM ANIVERSÁRIO ESPECIAL

Alice Gray
Foi quando retornava de sua ronda habitual pela cidade, para saber das notícias recentes, das notícias vencidas e das que ficavam a meio caminho entre umas e outras, que o velho Gramps as viu: pessoas novas na cidade. Uma mãe e suas duas filhas pequenas acabavam de contornar o corredor da loja. Logo, Gramps passou de cliente da mercearia, onde somente chegara para comprar pão, para especialista em relações públicas. Em menos de oito minutos, a pequena família conhecia todos os detalhes da cidade. E ele, por sua vez, também já sabia que as meninas estavam comemorando o aniversário do pai naquela tarde. Por isso vieram comprar balões de gás para a festa. A família escolheu balões de todas as cores, que foram cheios com gás e amarrados a fitas. 
-O papai vai adorar isso! – Gritaram as crianças, felizes. 
A família se dirigiu ao caixa: primeiro as meninas, saltitantes com seus vestidos cor-de-rosa, depois a mãe carregando uma bolsa branca. A caixa era uma mãe de sete filhos, habituada a comprar dúzias de balões para os meninos e vê-los desaparecer da vista, rumo ao céu. Por isso, resolveu fazer uma recomendação às meninas: 
-Que lindos balões vocês compraram. É melhor vocês os segurarem com força. Com bastante força. Ouvi vocês falarem que vai haver uma festa de aniversário na casa de vocês. Todos nós queremos que esses balões cheguem lá, certo? 
As quatro mãozinhas seguraram os barbantes dos balões com mais força ainda e sorriram, olhando para a mãe. Assim que elas saíram de sob o enorme toldo da loja, as quatro mãozinhas se abriram e os balões subiram. Gramps viu tudo e correu para fora, com a velocidade de uma estrela cadente, pensando em conseguir ao menos agarrar alguns. Quando alcançou a família, ele lamentou o que aconteceu, mas ninguém lhe deu atenção. Suas palavras foram abafadas pela reação normal das crianças quando acompanham, com o olhar, os balões escalando o céu: gritos, risos, mãozinhas batendo palmas e pezinhos pulando de alegria. Os balões continuavam subindo, dançando, ganhando a liberdade. Tocando de leve no ombro da jovem mãe, Gramps pensou em se oferecer para comprar outros balões para as meninas. 
-Que pena! Lamentou. Os balões foram comprados para o pai delas. 
A mãe, olhando sorridente para o senhor tão gentil, respondeu: 
-Não se preocupe. Ele vai recebê-los daqui a pouco... No céu. 
* * * 
Nunca – nem antes nem depois – Gramps participou de uma festa de aniversário tão esplêndida. Uma festa de aniversário para quem estava no outro mundo, no espiritual. 
* * * 
Muitas vezes acreditamos que assuntos tristes como a morte não podem ser tratados com as crianças. E que, quando ocorrem desencarnações na família, elas devem ser afastadas, a fim de não tomarem contato com algo tão lúgubre. No entanto, se retirarmos a capa negra da morte e a apresentarmos como a grande viagem que todos realizaremos, as crianças poderão administrar muito bem a questão. Mesmo porque, enquanto crianças, trazem mais viva na sua intimidade, a mensagem da pátria espiritual de onde acabaram de sair e para onde, um dia, todos retornaremos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Subindo nas alturas, de Rochelle M. Pennington, do livro Histórias para o coração da mulher, de Alice Gray, ed. United Press. Em 24.5.2014.

terça-feira, 23 de junho de 2015

O ANIVERSÁRIO DE JESUS

CHICO XAVIER
Você anda pelas ruas e as cores lhe falam do Natal. Dourado, verde, vermelho. São bolas coloridas, laços vistosos de fitas, arranjos maravilhosamente dispostos nas vitrinas das lojas. As luzes iluminam as fachadas das casas e transformam as alamedas em estradas de sol, em plena noite. Tudo traduz alegria. Os apelos comerciais falam de presentes e de ofertas. É a época que antecede o Natal. As preocupações giram em torno da compra de presentes. As inquietações maiores têm a ver com o que dar aos afetos, aos amigos, conhecidos e clientes. É uma época especial. O próprio ar parece envolto em suave aroma, tornando-se mais leve. Na acústica da alma, as baladas melodiosas da paz se apresentam em concerto. É, sim, o Natal que chega de novo. Você já parou para pensar por que existe o Natal? Em meio a tantas coisas a providenciar, você se deu conta o que irá comemorar? Não esqueça que Natal é o Aniversário de Jesus. Não se esqueça de Lhe preparar uma festa especial. Uma festa que requer só um pouco de tempo e disposição. Uma festa que se faz na intimidade da alma e que se traduz na alegria que você propicia a alguém, em nome Dele, o Aniversariante. Por isso, quando passar pela rua, carregando pacotes, olhe ao seu redor. Descubra nas esquinas, na frente das vitrinas iluminadas, vários pares de olhos infantis ansiosos. Eles também sonham, com a única diferença que quase nunca os sonhos deles se realizam. Descubra nesses olhares perdidos nas terras dos sonhos, os desejos e ansiedades e aproxime-se. Fale com eles. Converse. Ouça-os. É possível que você não disponha de recursos para lhes concretizar os anseios, mas fale com eles, em nome de Jesus. Sorria, pergunte pela família, demonstre interesse. Alongue o braço. Esboce um gesto de carinho. É Natal. Lembre ainda que, enquanto você anda de um lado para o outro, entrando e saindo das lojas, consultando preços e catálogos, existem muitos que se encontram imobilizados em leitos de enfermidade e solidão. Busque-os também. Visite-os, em nome Dele, do Divino Amor que um dia caminhou pelas vias terrenas e que ainda hoje, prossegue, meigo e doce, nas vielas do mundo, procurando alguém como você. Alguém que disponha de uns minutos, que O ouça e O interprete para outro alguém com um tempinho, um carinho, um simples olá. Especialmente porque esta é a época do Natal. 
* * * 
Não perca o tesouro das horas nem a oportunidade de socorrer ao próximo. Você pode, ainda hoje, estender o agasalho a quem a noite pede perdão por ser longa e fria. Pode aliviar o suplício dos companheiros que a doença consome ou dizer a frase calmante para os que quase enlouquecem no sofrimento. Se você se dispuser a isso, sentirá que verdadeiramente está vivendo o espírito do Natal, e iluminará a sua vida de amor, transformando os seus dias em um perene dia de Natal. 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais extraídos do cap. 25 do livro O espírito da verdade, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Disponível no CD Momento Espírita Especial de Natal, v. 15, ed. Fep. Em 31.01.2010.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O ANIMAL SATISFEITO DORME!

Mário Sérgio Cortella
O pensamento que intitula esta reflexão é de Guimarães Rosa, e encerra, por trás de aparente obviedade, um profundo alerta existencial. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital, toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão. Rende-se assim à sedução do repouso e imobiliza-se na perigosa acomodação. A advertência é preciosa pois, segundo o pensador Mario Sérgio Cortella, que aborda o tema, a satisfação conclui, encerra, termina. A satisfação não deixa margem para a continuidade, para prosseguimento, para a persistência, para desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece. Diz ainda, que, quando alguém nos fala: Fiquei muito satisfeito com você ou Estou muito satisfeito com seu trabalho, é algo assustador. Explica ele que tal expressão pode ser entendida como uma barreira ao crescimento, dizendo que nada mais de nós desejam, ou que aquele é nosso limite, nossa possibilidade. O está bom como está pode ser um grande cerceador da evolução, pois pode nos acomodar à situação atual. Segundo ele, seria muito melhor ouvir a seguinte expressão: Seu trabalho é bom mas fiquei insatisfeito, e portanto, quero conhecer outras coisas. Percebamos que ele se utiliza da expressão insatisfeito, não para criticar ou depreciar o trabalho, mas para incentivar seu autor à continuidade. Um bom filme, por exemplo, não é aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando quietos para a tela, enquanto passam os créditos, desejando que não acabe? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos no colo, absortos e distantes, pensando que poderia não terminar? Uma boa festa, um bom passeio, uma boa viagem, não é aquela que desejamos se prolongue, que nunca acabe? É desta forma que, segundo Cortella, a vida de cada um também deve ser, afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar plenamente satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento. Termina ele dizendo que somos seres de insatisfação, e precisamos alguma dose de ambição em nossas existências. O animal satisfeito dorme, pois não tem objetivos de vida, não tem razão para sair do lugar. O ser insatisfeito, sedento por melhorar-se, pára por pouco tempo, avalia-se, celebra e valoriza o que já conseguiu. Depois, segue em frente, rumo ao inexplorado. 
* * * 
A reencarnação e suas leis são um grande incentivo ao progresso. Como se acomodar perante um horizonte sem limites? Como parar de caminhar sabendo que muito nos aguarda à frente? Como deixar de buscar o aprimoramento constante, se percebemos que quanto mais conseguimos, mais felicidade conquistamos? Despertemos, aqueles de nós que ainda dormimos o sono da acomodação! 
Redação do Momento Espírita com base no texto Não nascemos prontos, do livro Não nascemos prontos - provocações filosóficas, de Mário Sérgio Cortella, ed. Vozes.

domingo, 21 de junho de 2015

ANIMAIS

Eles estão ao nosso lado desde que a Humanidade passou a ter consciência de si mesma. Servem de alimento, vestimenta, calçado. São amigos fiéis e nada cobram por tantos serviços. Estamos falando dos animais, esses seres que apesar de nos doarem tanto, são as vítimas preferenciais de nossa crueldade. A cada ano, milhões de bois, carneiros, coelhos e frangos são sacrificados para nos alimentar, vestir e calçar. Descuidados, matamos, retiramos peles e ossos, aprisionamos, cozinhamos, sem nos deter para refletir sobre essas criaturas que, mergulhadas na inconsciência espiritual, nos sustentam o corpo físico. O mais grave não é a indiferença pela sorte dos bichos. O doloroso na espécie humana é a crueldade com que tratamos esses companheiros de jornada. Se é válida a escolha de alimentar-se de carne, o mesmo não se pode dizer do mercado de peles e dos milhares de animais sacrificados para que os homens tenham artigos de luxo. Uma norma deveria reger a nossa vida: o limite entre o necessário e o supérfluo. Uma coisa é usar os animais para sustentar o corpo, transformando-os no alimento necessário. Bem diferente é matá-los cruelmente por prazer, em caçadas que divertem apenas os caçadores. Igualmente abusivo é arrancar a pele dos animais apenas para ostentar casacos e roupas caras. E o que dizer dos pássaros mortos para retirar as plumas coloridas? Pobres animais, cujo único crime foi terem sido criados com belas plumagens ou pelos macios... Nos dias atuais, já não é mais possível calar-se diante dos excessos que a Humanidade comete. A mortandade dos bichos para satisfazer vaidades e excessos é um crime com o qual não deveríamos compactuar. Felizmente, a evolução moral já começa a se impor. Por isso, cada vez mais vemos pessoas e organizações que se preocupam com o tratamento dado aos animais. É a era da compaixão universal que inicia. Sim, compaixão com esses irmãozinhos menores, que são também criaturas de Deus. Amá-los, ser-lhes gratos é o mínimo que um coração sensível deveria cultivar. Os animais são princípios espirituais em evolução. Também estão aprendendo, como todos nós. A diferença é que temos consciência de nós mesmos. Em nós, seres humanos, há um Espírito que pensa, age, tem livre arbítrio. Nos animais, o Espírito ainda não existe, mas, com o passar dos milênios, eles evoluirão, pois Deus nada faz sem um objetivo profundo e sério. Para finalizarmos este programa, selecionamos trecho do texto Apelo em favor dos animais. Vós, que vedes luzes nestas letras que traçam a evolução espiritual, tende compaixão dos pobres animais! Sede bons para com eles, como desejais que o Pai Celestial vos cerque de carinho e de amor! Não encerreis os pássaros em gaiolas... Renunciai às caçadas... Acariciai os vossos animais! Dai-lhes remédios na enfermidade e repouso na velhice! Lembrai-vos de que os animais são seres vivos, que sentem, que pensam, que se cansam, que têm força limitada, que adoecem, que envelhecem... Os animais são vossos companheiros de existência terrestre! Como vós, eles vieram progredir, estudar, aprender! Sede seus anjos tutelares... Sede benevolentes para com eles, como é benevolente, para com todos, o nosso Pai que está nos céus! Redação do Momento Espírita, com versos do livro Gênese da alma, de Cairbar Schutel, ed. O Clarim. Em 02.03.2009.

sábado, 20 de junho de 2015

OS ANIMAIS E O HOMEM

Nirmala Toppo
Aconteceu em junho de 2013 e a notícia foi veiculada internacionalmente, tornando celebridade uma menina indiana, de apenas quatorze anos de idade. Nos últimos dez anos, muitos conflitos aconteceram entre elefantes e homens, no centro e no leste da Índia, resultando na morte de duzentos elefantes e oitocentas pessoas. Quando a área residencial da cidade de Rourkela foi invadida por uma manada de onze elefantes, vinda de florestas próximas, o pânico tomou conta da população. As autoridades tentaram conter a manada, sem sucesso. Finalmente, conseguiram direcionar os elefantes para um estádio de futebol. O que fazer com eles, como levá-los de volta para a floresta era a grande dificuldade. Foi quando Nirmala Toppo foi lembrada. Corria a notícia de que uma menina camponesa, que vivia na cidade próxima de Jharkhand, falava com os elefantes. Ela veio, acompanhada do pai e outros membros da tribo. Foi até a manada e a levou de volta à floresta, caminhando com ela durante horas. Como consequência, teve bolhas e infecções nos pés e nas pernas, necessitando, em seu retorno, de internamento hospitalar para o devido tratamento. Não há provas científicas, alegam muitos, de que elefantes selvagens consigam entender humanos. Alguns comentam que certas tribos convivem há tanto tempo com animais selvagens, inclusive elefantes, que conseguem se entender com eles. O fato é que, quando elefantes invadem uma aldeia e destroem colheitas, os moradores pedem ajuda a Nirmala. E ela sempre tem sucesso. A menina teve sua mãe morta por elefantes selvagens, o que a levou a desenvolver técnicas para afastá-los das regiões povoadas. Ela alega conversar com os animais no dialeto de sua tribo, Mundaari, e consegue persuadi-los a voltar para o seu lugar de origem. Com a ajuda do pai e de um grupo de garotos de sua aldeia, eles cercam a manada. Então, Nirmala ora e depois fala aos elefantes: Esta não é a casa de vocês. Vocês precisam voltar para seu lugar. 
 * * * 
Sempre haverá os que não creem e tudo creditam a crendices de tribos não muito instruídas. Contudo, recordamos que, no Século XII andou pelas terras da Europa um personagem peculiar, conhecido como o Cristo da Idade Média. Seu nome era Francisco de Assis. Célebre é o seu discurso às aves, nos arredores de Assis, na estrada entre Bevagna e Cannara, no seu retorno de Roma, após ter falado com o Papa Inocêncio III. E outro Francisco, o mineiro Xavier, não falava somente com cães e gatos, que demonstravam compreendê-lo, quanto falou com formigas, pedindo que se retirassem das roseiras de sua casa. Alertou-as que, no dia seguinte, seu amigo intencionava matá-las, e elas foram embora. Tudo em a natureza se encadeia por elos que ainda não podemos compreender. Os animais têm suas formas de comunicação entre si. Colocados para servir ao homem, achando-se a ele submetidos, por que não o poderiam compreender? Não dão mostras disso os nossos animais de estimação, que, dizemos, nos entendem? Quanto ainda temos a aprender em termos de natureza, a respeito da grande inter-relação que há entre todas as coisas, desse grande encadeamento entre todos os seres, obra do mesmo Pai. Pensemos a respeito. 
Redação do Momento Espírita, com dados extraídos do site www.sonoticiaboa.com.br e no cap. Oito, do livro Francisco de Assis, o santo relutante, de Donald Spoto, ed. Objetiva. Em 13.2.2014.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

OS ANIMAIS, NOSSOS IRMÃOS!

Quando nascem, despertam a atenção e o carinho dos humanos. São engraçadinhos, frágeis, tão pequenos. Cãezinhos de raças diversas são requisitados pelas crianças que desejam fazer deles seu brinquedo. E assim, eles são levados para casa. Por vezes, adquiridos a alto preço, pelo pedigree, pela pureza da raça. Enquanto pequenos, tudo é levado à conta de peraltices próprias de quem está descobrindo o mundo ao seu redor. A criança o leva para todo lugar, e o cãozinho a segue, sempre fiel. Não é raro que durmam juntos e, à mesa, o animalzinho fica ao lado, aguardando os bocados que o pequerrucho lhe passa à boca. Brincam juntos no jardim, no interior da casa, nas piscinas. A criança nem sempre é suficientemente cuidadosa e por vezes, pisa na cauda do cão, puxa-lhe as orelhas, aperta-o em demasia. O animal solta um latido meio sufocado, dizendo da dor que sentiu, mas continua fiel, nem pensando em revidar a agressão, mesmo involuntária. Pulam, saltam, correm um atrás do outro, enquanto as horas vão somando os dias... Cresce o animal. Agora, já não é tão engraçadinho assim. Ele solta pêlo por todo lugar e, porque ninguém lhe ensinou o que ele podia e o que não podia fazer, é castigado porque arranhou o sofá da sala. Porque mordeu o chinelo recém comprado. Porque rasgou a bola, com os dentes. E, até mesmo, porque as suas necessidades fisiológicas foram feitas em lugares inapropriados. A criança também cresce. Os interesses mudam. E, um dia, o animal que vivia em uma família, rodeado por todos, dentro de casa, gozando da confiança doméstica, se vê colocado no quintal. Mas, como faz buracos, traz terra para o piso da garagem, ele é preso a uma coleira e uma corda. Ao menos fosse em lugar confortável. Contudo, por vezes, fica exposto ao sol, à chuva, ao vento. Preso. Suas pernas desejam correr, pular. Sua cauda abana a cada barulho significativo, seu bem conhecido, que os ouvidos registram: o carro chegando; a algazarra das crianças vindo da escola; o barulho da bola quicando no muro, no chão, na mão, no muro... Quando as luzes se acendem na casa, ele olha e fica aguardando que alguém se lembre dele, outra vez. Finalmente, chega um dia em que ele é colocado no carro da família. Vai alegre. A viagem é longa, por estradas que não acabam nunca. Então, o veículo estaciona. Ele corre para fora, esperando que alguém o chame, que corra atrás dele. Mas, logo percebe que o carro fecha as portas de novo e arranca, perdendo-se na poeira da estrada. Ele corre, tenta alcançar. Por que eles não param? Por que o esqueceram? Indesejável, foi abandonado. A partir daí, sua vida será um peregrinar pelas estradas, pelas ruas, à cata de comida, água, um lugar para morar. Cachorro sem dono. Não chegue perto. Ele pode morder. Não toque nele. Deve estar doente. Veja como está magro. Cachorro de ninguém. Seus dias acabarão logo mais, sob as rodas de um automóvel, ou por enfermidade ou tristeza. 
* * * 
Pensemos, olhando nossos animais de estimação, como os estamos tratando. São seres vivos: têm fome, sede. Sentem cansaço, calor, frio. Sobretudo precisam de afeto, de atenção. Os animais estão sob a guarda e proteção dos homens. Assim dispôs a Lei Divina: que servissem ao homem e o homem, de sua vez, os protegesse e amparasse. Não percamos de vista este dever para com nossos irmãos inferiores, os animais. 
Redação do Momento Espírita. Em 20.05.2008.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

UM ÂNGULO ESPECIAL

Era uma manhã de um dia de semana, desses de céu aberto e muito sol. Um trabalhador dirigiu-se para seu local de trabalho. Passando em frente a um templo religioso, decidiu entrar. Era uma sala muito ampla e ele sentou num dos últimos lugares, bem ao fundo. Ali se pôs a fazer sua oração cheia de vida, dialogando com Jesus. Ouviu, então, em meio ao silêncio, uma voz de alguém, cuja presença não tinha percebido: 
-Escute, venha aqui. Venha ver a rosa. 
Ele olhou para os lados, para a frente e viu uma pessoa sentada num dos primeiros lugares. Levantou-se e a voz falou outra vez: 
-Venha ver a rosa. 
Embora sem entender, ele se dirigiu até a frente e percebeu que sobre a mesa havia realmente um vaso, no qual estava uma linda rosa. Parou e começou a observar o homem maltrapilho que, vendo-o hesitante, insistiu: 
-Venha ver a rosa. 
-Sim, estou vendo a rosa, respondeu. Por sinal, muito bonita. 
Mas o homem não se conformou e tornou a dizer: 
-Não, sente-se aqui ao meu lado e veja a rosa. 
Diante da insistência, o trabalhador ficou um tanto perturbado. Quem seria aquele homem maltrapilho? O que desejaria com aquele convite? Seria sensato sentar-se ali, ao lado dele? Finalmente, venceu as próprias resistências, e se sentou ao lado do homem. 
-Veja agora a rosa, falou feliz o maltrapilho. 
De fato, era um espetáculo todo diferente. Exatamente daquele lugar onde se sentara, daquele ângulo, podia ver a rosa colocada sobre um vaso de cristal, num colorido de arco-íris. Dali podia-se perceber um raio de sol que vinha de uma das janelas e se refletia naquele vaso de cristal, decompondo a luz e projetando um colorido especial sobre a rosa, dando-lhe efeitos visuais de um arco-íris. E o trabalhador, extasiado, exclamou: 
-É a primeira vez que vejo uma rosa em cores de arco-íris. Mas, se eu não tivesse me sentado onde estou, se não tivesse tido a coragem de me deslocar de onde estava, de romper preconceitos, jamais teria conseguido ver a rosa, num espetáculo tão maravilhoso. 
* * * 
É preciso saber olhar o outro de um prisma diferente do nosso. O amor assume coloridos diversos, se tivermos coragem de nos deslocarmos de nosso comodismo, de romper com preconceitos, para ver o diferente e o novo. Há uma rosa escondida em toda pessoa, que não estamos sendo capazes de enxergar. Há necessidade de sairmos de nós mesmos, de nos dispormos a sentar em um lugar incômodo, de deixar de lado as prevenções, para poder ver as rosas do outro, de um ângulo diverso. Realizemos essa experiência, hoje, em nossas vidas. Procuremos aceitar que podemos ver um colorido especial onde, para nós, nada havia antes, ou talvez, de acordo com nosso modo de pensar, jamais poderiam ser vistas outras cores. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida. Em 12.04.2012.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

ANDO DEVAGAR PORQUE JÁ TIVE PRESSA....

Ando devagar porque já tive pressa... 
Pressa de ter tantas coisas, de chegar a tantos lugares, pressa do ter, do parecer. Mas hoje ando a passo lento, pois já entendo que a vida é uma busca de si mesmo, do ser: ser melhor, ser amável, ser amigo, ser sensível, ser compassivo, ser caridoso... Hoje compreendo que é preciso paz para poder sorrir, pois o sorriso verdadeiro, a felicidade autêntica, vem da paz de espírito, a paz de consciência, de quem segue o caminho do bem a todo custo. Entendo também que as chuvas são bem-vindas, e que sem elas não há floradas, pois é preciso chuva para florir. A dor nos esculpe a alma, quando bem entendida, quando bem absorvida nos passos diários da lida. Ando devagar porque já tive pressa... Pressa do sucesso a qualquer custo, pressa de ser popular, de ser o primeiro, de agradar a todos... Mas hoje ando tranquilo, percebendo mais as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs, absorvendo a vida em toda sua plenitude. O viver pode ser o mesmo, as circunstâncias podem permanecer inalteradas, mas minhas lentes são outras. Enxergo tudo de outra forma. E o mais importante de tudo: descobri que para cumprir a vida, para cumprir meu papel, minha missão aqui, preciso compreender minha própria marcha. Sêneca, antigo sábio, afirmou que nenhum vento é a favor para quem não sabe para onde ir. Então, compreender a marcha é fundamental. Precisamos saber para onde estamos indo, precisamos saber o que é nossa marcha, nossa vida. Só então posso ir tocando em frente, com simplicidade e devoção, com alegria e coração. Pois todos temos talento, todos carregamos o dom de ser capaz e ser feliz. A felicidade não é para poucos, não, é para todos. E cada um a vai encontrando no seu tempo, no seu momento, da sua forma. Ando devagar porque já tive pressa... Pressa de partir, já quis desistir de tudo, em alguns momentos, mas hoje ando como que em câmera lenta, com a coragem de quem quer ficar e ver tudo até o fim. Carrego esse sorriso porque já chorei demais, mas isso não quer dizer que não voltarei a derramar alguma gota dos olhos. Significa apenas que os sorrisos serão a regra. A lágrima, exceção. Ando devagar no passo curto dos meus filhos, pois se resolver andar acelerado, os deixarei para trás. Ando devagar para perceber o sabiá cantador, pois se torno minha vida uma bomba-relógio, passo a não perceber a vida que passa ao largo de meus passos, e assim, os sabiás passam a não existir mais. Ando devagar para ainda conseguir olhar onde piso, e não esmagar nada, nem ninguém com minha desatenção ou deselegância. Ando devagar para pensar um tanto mais antes de agir, para escolher as palavras certas, para digerir uma ideia nova, para escolher um caminho, para silenciar a mim mesmo por alguns instantes. Ando devagar... Porque já tive pressa. 
* * * 
A vida é especialmente rica para que se passe por ela, às pressas, sem atentar para os detalhes. O mundo é pleno de belezas para que se o percorra aos saltos, sem nos determos a descobrir as belezas das flores, o segredo das matas, o encanto das fontes. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base na canção Tocando em frente, de Almir Sater. Em 28.11.2013.

terça-feira, 16 de junho de 2015

ANALFABETOS DE CÉU

Numa Escola de Ensino Fundamental, uma menina de 7 anos faz um desenho de uma paisagem com tintas coloridas. Era a tarefa do dia na aula. Pintar um lugar onde eles gostariam de estar. A menina se esmerou com a palheta de cores, e produziu, empolgada, sua obra de arte. Ansiosa, levantou-se da cadeira e foi mostrar à professora. Ao ver a pintura, a educadora notou algo estranho já de súbito. Disse baixinho um muito bem, para incentivar a criança, fez um carinho e pegou o desenho em mãos. Os trabalhinhos seriam expostos no outro dia no mural da Escola. No intervalo para o lanche, a professora não se conteve, pegou o desenho e foi mostrar às outras que se encontravam na secretaria da Escola. Ela queria uma opinião sobre aquilo. Algumas delas eram mais entendidas em psicologia infantil, e quem sabe poderiam ajudá-la a decifrar o que estava pintado ali. O que será que ela quis dizer com isso? Isso deve estar mostrando algum sentimento, algo que ela tem guardado. O que será? As amigas de profissão não souberam dizer. Algumas disseram que não era nada, que não deveria se preocupar. Mas ela estava encafifada. Voltou à sala de aula, e resolveu que, ao final do período, iria conversar com a menina e perguntar a ela o que significava. Chamou-a então, com discrição, à sua mesa e perguntou, com a pintura na mão: 
-Querida, você pode explicar algo para mim? 
A criança acenou com a cabeça. 
-Se o céu é azul, por que você desenhou um céu cor-de-rosa? 
-Mas o céu não é azul, professora! - Respondeu ela, com educação. Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu! Ontem, no final da tarde, o céu, atrás de minha casa, estava assim, rosa. Esses dias vi um céu laranja! À noite ele é sempre preto, ou azul escuro, mas de dia ele pode ser cinza claro, cinza escuro, vermelho... Sabe... Uma vez vi uma tempestade tão grande no céu, que ela chegou a pintar o céu de verde! Não é todo mundo que acredita, mas eu vi, era verde. 
* * * 
A menina fez um verdadeiro discurso sobre as cores do céu, deixando boquiaberta a professora desatenta. Ela nunca havia parado para pensar nisso. Aceitou tão facilmente a verdade, o clichê de que o céu é azul, que acabou esquecendo a variedade de cores possíveis no zimbório terreno. Percebeu então como as crianças têm uma sensibilidade admirável, e que muito tinha a aprender com elas. Com certeza, na próxima vez, antes de achar que possa existir algum problema numa criança, iria se analisar, para perceber se não era sua sensibilidade que precisava de escola. 
* * * 
Toda criança é especial, e merece ser tratada como tal. Da mesma forma como nem sempre o céu é azul, cada criança tem suas particularidades, e os educadores precisam estar atentos a elas. Não se pode usar uma mesma fórmula, um mesmo padrão de ensino ou educação no lar, para todas as crianças. Faz-se necessário ajustes, adequações, atenções individualizadas. Todo céu é belo, mesmo sendo amarelo, rosa, vermelho ou negro. 
Redação do Momento Espírita Disponível no CD Momento Espírita, v. 13, ed. Fep. Em 01.12.2008

segunda-feira, 15 de junho de 2015

AMULETOS

Conta-se que, certo homem ambicioso, ouvindo falar a respeito das curas extraordinárias que realizavam os Apóstolos, em nome de Jesus, aproximou-se deles. Durante algum tempo os acompanhou nas peregrinações. Teve oportunidade de observar como eles impunham as mãos e curavam as pessoas. Testemunhou o dia em que Pedro, subindo ao templo para orar, curou um paralítico de nascença com um abraço, em nome de Jesus. Mais de uma vez ele viu pessoas serem trazidas, dominadas por Espíritos infelizes e libertadas pelos Apóstolos, em nome de Jesus. Constatou que eles se alimentavam de frutas, pães e peixes. Nada especial. Também não utilizavam nenhuma fórmula para as curas. Contudo, pensava ele, eles devem ter um segredo. Quem sabe, por baixo do manto, eles trouxessem um talismã escondido? O tempo passou e é claro, os Apóstolos não puderam deixar de notar que aquele homem estava sempre presente em suas pregações, observando e observando. Pensando se tratar de alguém interessado em se tornar um seguidor de Jesus, Pedro se aproximou e lhe perguntou se desejava alguma coisa em especial. Talvez quisesse fazer parte do grupo, trabalhar pelo bem da Humanidade, servir e servir. O homem, convidado a falar pela bondade do Apóstolo, pediu: 
-Sigo os passos de vocês há bastante tempo por um motivo muito simples. Desejo aprender a arte de expulsar os Espíritos e curar as enfermidades. Em verdade o que eu desejo é que me vendam o amuleto que realiza essas coisas. Não importa o preço. Sou alguém que possui haveres e os posso dar em troca do talismã. 
O Apóstolo lhe disse que nada possuíam senão a fé e que o que os movia nas curas era o amor ao próximo. Mas o homem insistiu: 
-Não mintam para mim. Vocês possuem um talismã, uma pedra, alguma coisa que permita invocar e dominar os Espíritos dos mortos. Desejo dominar também para fazer com que trabalhem para mim. Quero ser poderoso como todos os seguidores desse Nazareno. 
E como o velho Apóstolo lhe explicasse que não possuíam outro objeto mágico senão suas virtudes, sua fé, seu respeito a Jesus, sua veneração a Deus, o homem ambicioso se desiludiu e foi embora. Saiu praguejando e dizendo que aqueles homens eram egoístas e desejavam dominar o mundo, sem contar os seus segredos. 
* * * 
Por vezes agimos como o homem ambicioso. Desejamos que os dons espirituais nos possam diminuir as canseiras da vida, resolvendo as nossas dificuldades. No entanto, as lições de Jesus são claras. Digno é o trabalhador do seu salário. E a cada um será dado segundo as suas obras. O prêmio do cristão é aprender a ser feliz, conquistando a perfeição. Suas riquezas são valores como amizade, respeito, perdão, honra e dever. Sua força está na fé que move as montanhas das dificuldades e arrasta a muitos pelos seus exemplos. Sua serenidade é resultado da compreensão de que tudo que lhe acontece é justo e que todas as dificuldades e contratempos são oportunidades de progresso e redenção. 
Redação do Momento Espírita. Em 11.01.2011

domingo, 14 de junho de 2015

AMO VOCÊ

Depois de vinte e um anos de casado, descobri uma nova maneira de manter viva a chama do amor. Há pouco tempo decidi sair com outra mulher. Na realidade foi ideia da minha esposa. 
-Você sabe que a ama, disse ela. A vida é muito curta. Você deve dedicar um tempo para essa mulher. 
-Mas amo você, eu respondi. 
-Eu sei. Mas, também a ama. Tenho certeza disso. 
A outra mulher, a quem se referia minha esposa, era minha mãe, que eu visitava ocasionalmente, desde que ela enviuvara, há dezenove anos. Naquela noite, a convidei para jantar e ir ao cinema. Antes de dizer que aceitava, ela foi perguntando: 
-O que você tem? Você está bem? 
Minha mãe é o tipo de mulher que acredita que uma chamada tarde da noite, ou um convite surpresa é sinal de más notícias. Sosseguei-a, dizendo que simplesmente queria sair com ela, passar algum tempo juntos, só nós dois. Depois de alguns dias, fui apanhá-la após meu expediente. Estava um tanto nervoso. Nervosismo de um primeiro encontro. E, coisa interessante, pude observar que ela também estava muito emocionada. Estava me esperando na porta. Havia feito um penteado e usava o vestido com que comemorara seu último aniversário de casamento. Seu rosto sorria e irradiava luz. Enquanto subia no carro, comentou: 
-Disse a minhas amigas que ia sair com você e ficaram muito impressionadas. 
Fomos a um restaurante aconchegante. Minha mãe se agarrou ao meu braço como se fosse a primeira dama. Quando nos sentamos, tive que ler para ela o menu. Seus olhos só conseguiam enxergar letras e figuras muito grandes. Fui lendo os nomes dos pratos e, quando levantei os olhos, ela estava sentada do outro lado da mesa e me olhava fixamente. Um sorriso saudoso se desenhava em seus lábios. 
-Quando você era pequeno, falou, era eu quem lia o menu. 
-Então é hora de relaxar e me permitir devolver o favor, respondi. 
Durante o jantar conversamos muito. Nada extraordinário. Só fomos colocando em dia a vida um para o outro. Falamos tanto que perdemos o horário do cinema. Quando a deixei em casa, ela comentou: 
-Só sairei com você outra vez se me deixar fazer o convite. 
Concordei, é claro e, quando cheguei em casa disse à minha esposa que a noite tinha sido muito mais agradável do que eu imaginara. Dias mais tarde, minha mãe morreu de um infarto. Tudo foi muito rápido. Não pude fazer nada. Depois de algum tempo, recebi um envelope com cópia de um cheque do restaurante onde havíamos jantado, minha mãe e eu. Junto, uma nota dizia: 
-Paguei um jantar antecipado. Estava certa de que não poderia estar com você outra vez. Paguei um jantar para você e sua esposa. Você jamais poderá entender o que aquela noite significou para mim. Amo muito você. 
Nesse momento, compreendi a importância de dizer amo você e de dar a nossos entes queridos o espaço que merecem. Nada na vida será mais importante do que o amor. 
* * * 
Enquanto você segue cantando, fale a quem acompanha os seus passos que você o ama. Enquanto cultiva o jardim do afeto, perfume a vida de quem você ama com as expressivas flores do carinho e da ternura. Não deixe para mais tarde. Amanhã, poderá acontecer que o canto morra em sua garganta, que a chuva inunde o jardim das suas alegrias ou que as flores do amor murchem por absoluta falta de atenção. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada. Em 10.5.2014.

sábado, 13 de junho de 2015

AMOR VERDADEIRO

Um famoso professor se encontrou com um grupo de jovens que falava contra o casamento. Argumentavam que o que mantém um casal é o romantismo e que é preferível acabar com a relação quando este se apaga, em vez de se submeter à triste monotonia do matrimônio. O mestre disse que respeitava sua opinião mas lhes contou a seguinte história: 
Meus pais viveram 55 anos casados. Numa manhã minha mãe descia as escadas para preparar o café e sofreu um infarto. Meu pai correu até ela, levantou-a como pôde e quase se arrastando a levou até à caminhonete. Dirigiu a toda velocidade até o hospital, mas quando chegou, infelizmente ela já estava morta. Durante o velório, meu pai não falou. Ficava o tempo todo olhando para o nada. Quase não chorou. Eu e meus irmãos tentamos, em vão, quebrar a nostalgia recordando momentos engraçados. Na hora do sepultamento, papai, já mais calmo, passou a mão sobre o caixão e falou com sentida emoção: 
-"Meus filhos, foram 55 bons anos... Ninguém pode falar do amor verdadeiro se não tem idéia do que é compartilhar a vida com alguém por tanto tempo." 
Fez uma pausa, enxugou as lágrimas e continuou: 
-"Ela e eu estivemos juntos em muitas crises. Mudei de emprego, renovamos toda a mobília quando vendemos a casa e mudamos de cidade. Compartilhamos a alegria de ver nossos filhos concluírem a faculdade, choramos um ao lado do outro quando entes queridos partiam. Oramos juntos na sala de espera de alguns hospitais, nos apoiamos na hora da dor, trocamos abraços em cada Natal, e perdoamos nossos erros... Filhos, agora ela se foi e estou contente. E vocês sabem por que? Porque ela se foi antes de mim e não teve que viver a agonia e a dor de me enterrar, de ficar só depois da minha partida. Sou eu que vou passar por essa situação, e agradeço a Deus por isso. Eu a amo tanto que não gostaria que sofresse assim..." 
Quando meu pai terminou de falar, meus irmãos e eu estávamos com os rostos cobertos de lágrimas. Nós o abraçamos e ele nos consolava, dizendo: 
-"Está tudo bem, meus filhos, podemos ir para casa. Este foi um bom dia." 
E, por fim, o professor concluiu: 
-Naquele dia entendi o que é o verdadeiro amor. Está muito além do romantismo, e não tem muito a ver com o erotismo, mas se vincula ao trabalho e ao cuidado a que se professam duas pessoas realmente comprometidas. 
Quando o mestre terminou de falar, os jovens universitários não puderam argumentar pois esse tipo de amor era algo que não conheciam. 
* * * 
O verdadeiro amor se revela nos pequenos gestos, no dia-a-dia e por todos os dias. O verdadeiro amor não é egoísta, não é presunçoso, nem alimenta o desejo de posse sobre a pessoa amada. Quem ama, verdadeiramente, prefere sofrer a causar sofrimento. Prefere renunciar à própria felicidade para promover a felicidade de quem ama. Alguns dirão que quem age assim não tem amor próprio, mas amor próprio, não quer dizer individualismo. O que geralmente acontece com o individualista, em caso de separação pela morte, é debruçar-se sobre o caixão e perguntar: O que será de mim? Já aquele que ama e se preocupa com o ser amado, perguntará: O que será dele? Ou, ou que será dela? Isso demonstra que seu amor é grande o suficiente para pensar mais no outro do que em si mesmo. E você, está aproveitando o seu casamento para construir um verdadeiro amor? 
Redação do Momento Espírita, baseado em história de autoria desconhecida. Disponível no CD Momento Espírita, v. 7, ed. Fep. Em 09.07.2009.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O AMOR VENCEU!

AMOR TUDO VENCE
Na sala simples, dessas que existem em muitas Casas Espíritas, um pequeno grupo de mulheres estava reunido para falar a respeito do Evangelho de Jesus. Aquela reunião semanal se destinava ao atendimento às mães financeiramente carentes, com o objetivo de promovê-las, ajudando-as ao soerguimento moral. Uma senhora de quarenta e poucos anos, de cabelos quase completamente encanecidos e que trazia as marcas que o tempo e os maus tratos se encarregaram de bordar-lhe no rosto, tomou a palavra e falou em linguagem simples e um tanto tímida: 
-Quando eu entrei aqui pela primeira vez, há cerca de um ano, vim tão-somente em busca do pão material. Fiquei sabendo que aqui se distribuía alimentos para os necessitados, e por isso me inscrevi. Agora, um ano depois, quero que todas saibam o quanto minha vida mudou. Eu tinha um filho de dezoito anos, sempre embriagado. Toda vez que chegava em casa, já era madrugada, e nós sempre discutíamos. Eu o odiava. Pensava comigo mesma como pudera tê-lo gerado. Ele, sempre agressivo, eu sempre irada. Nossa vida era um verdadeiro inferno. Mas aqui eu ouvi falar do amor, das montanhas que ele transporta. Ouvi falar de fé e de esperança. Ouvi falar também do Homem de Nazaré, que passou pela Terra com o objetivo de nos ensinar a amar. As guerras odientas portas adentro do lar me causavam horror, e por isso resolvi tentar o amor. Numa noite, fiz um prato de comida e guardei no forno do velho fogão. Esperei-o chegar, coloquei o prato sobre a mesa e lhe disse com carinho: 
-"Filho, deixei esta comida no fogão... Você deve estar cansado..." 
Ele me olhou assustado e respondeu:
-"Qual é, velha? Tá mudando, é?" 
Fiz de conta que não ouvi, e fui me deitar. Na noite seguinte repeti o gesto. Depois de várias noites, sentei-me com ele à mesa na tentativa de dialogar. Ele, um pouco desajeitado falou: 
-"Mãe, isso não é vida! Você trabalha e eu..." 
Ousei passar a mão nos seus cabelos... Tão rebeldes como ele mesmo. Iniciamos um diálogo. Há quanto tempo não fazíamos isso! A volta ao lar passou a ser mais cedo a cada noite. Largou a garrafa. Encontrou um emprego. Hoje, eu quero dizer que não era só o pão material que faltava em nosso lar. O verdadeiro pão da vida é o amor, e esse era o mais escasso. Agora eu sei que esse amor, do qual vocês falam aqui, funciona mesmo. Basta que tentemos com vontade e coragem, e a paisagem mais escura muda de cor. O amor dissipa as trevas, e nos faz ver novos horizontes, bem mais promissores. Hoje, meu filho e eu não nos odiamos mais. Nossa vida mudou completamente e eu gostaria que todas vocês soubessem disso. Hoje, eu tenho certeza de que, se um dia não houver comida para colocar na mesa, nós dois não brigaremos por isso, mas, juntos encontraremos uma saída. Agora nós sabemos que o dinheiro não é o mais importante. Que faz falta, sim, mas não faz a felicidade de ninguém. 
* * * 
Não há arma mais poderosa que o amor. Sua ação penetra as criaturas e as dulcifica. A ação do amor paralisa o ódio, imobiliza a violência, deixa sem ação a vingança. Se já temos tentado de tudo, sem conseguir resultado algum, tentemos o amor. Não há força capaz de sobrepujar a força que o amor exerce. Tentemos o amor! Mas tentemos com a mesma vontade da protagonista da nossa história. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato relatado no Centro Espírita Ildefonso Correia, em Curitiba, Paraná. Em 23.03.2009. http://momento.com.br/

quinta-feira, 11 de junho de 2015

AMOR SENTIMENTAL

A atriz Rita Hayworth tornou-se famosa vivendo nas telas o mito da mulher sensual. Em 1946, tornou-se deusa do amor interpretando o papel que lhe daria maior glória: Gilda. Dali em diante foi sempre difícil para ela conseguir que as pessoas separassem Rita de Gilda. As pessoas a olhavam e a viam como Gilda, a personagem do filme. Por isso mesmo, Rita chegou a se casar por sete vezes. Em suas entrevistas, ela dizia que jamais conseguira ser verdadeiramente amada. Os homens procuram Gilda, namoram Gilda, casam-se com Gilda e depois descobrem que sou Rita, simplesmente Rita. O que a famosa atriz queria dizer é que os homens não conseguiam vê-la como o ser humano, com defeitos, com desejos e anseios muito diferentes daqueles da personagem que interpretava no filme. Por isso, acabavam se desiludindo e abandonando-a. Isso acontece muito. Trata-se do que Erich Fromm chama de amor sentimental. É o amor que só é experimentado em fantasia e não nas relações concretas com a pessoa, que é real. Assim, homens e mulheres, que não se sentem felizes em seus casamentos, encontram satisfação no consumo de filmes, novelas, contos amorosos e canções de amor. Comovem-se até às lágrimas quando participam da feliz ou infeliz história de amor do casal, na tela, como se fosse a sua própria história. As mulheres que ficam aguardando um gesto de gentileza do marido, alguma atitude romântica e nada recebem, escolhem como seu ideal o galã da telenovela da atualidade. Sim, aquele é um homem verdadeiramente gentil. Ele sabe elogiar o cabelo, a roupa nova da sua amada. Tem a capacidade de renunciar à companhia dos amigos para estar com ela. Manda flores, escreve e fala frases bonitas. Assim também o homem que vê no papel da atriz o seu ideal de mulher e se torna espectador do amor alheio. Vibra com tudo o que a cena lhe mostra, mas quando retorna à sua vida real, se torna frio. No entanto, amar, antes de tudo, consiste em dar, não em receber. E o que uma pessoa pode dar para outra? A mais importante maneira de dar não está nas coisas materiais, está em dar de si mesmo, do que tem de mais precioso, dar de sua vida. Dar da sua alegria, da sua compreensão, da sua atenção, da sua tristeza, enfim, de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si. * * * O amor é de essência divina. Todos os homens, do primeiro ao último, têm, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. O amor é o mais elevado dos sentimentos. É esse sol interior que reúne em seu ardente foco todas as aspirações sobre-humanas. Quem ama encontra, todos os dias, razões para a própria felicidade que é, em síntese, a felicidade daqueles que ama. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. II e III, do livro A arte de amar, de Erich Fromm, ed. Itatiaia e nos itens 8 e 9 do cap. XI de O evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Em 4.7.2012.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O AMOR SE MULTIPLICA

Naquele dia frio de inverno, quando a mãe apanhou Melissa, de dezesseis anos, na escola, a garota se jogou no banco do carro. O seu time de basquete tinha acabado de ganhar uma partida importante. Ela estava exausta, embora entusiasmada. Foi então que a mãe lhe falou que fora ao médico. Melissa se assustou, pensando em quantas doenças poderiam estar atormentando a sua mãe. Entretanto, ficou muda quando ela lhe anunciou que estava grávida. Pensou que devia ser proibido aos pais terem filhos quando os demais já estivessem crescidos. De repente, ela se deu conta de que teria que dividir sua mãe com aquela coisinha que iria chegar. Um enorme ressentimento a dominou. À medida que crescera, o sentimento de que sua mãe não tivesse outro filho a fora dominando. Era um sentimento egoísta, mas Melissa relutava em dividir qualquer pedacinho de sua mãe. Nos dias que se seguiram, ela compartilhou da alegria dos pais em anunciar a chegada do bebê. Era visível sua alegria, mas, ao mesmo tempo, não sabia como lidar com sua raiva e seu medo. Do que ela teria que abrir mão? Temia perder a atenção de sua mãe. Ao mesmo tempo pensava em que talvez tivesse que se tornar a babá da irmãzinha, perdendo suas horas de liberdade. À medida que os dias do parto se aproximavam, as suas inseguranças aumentavam. Como seria sua vida, depois que a garotinha nascesse? Os pais, contudo, a fizeram participar de todos os preparativos para o bebê. Deu palpite sobre a decoração do quarto e ajudou a escolher o nome. Em alguns momentos, ela se sentia animada e feliz. Em outros, ficava apavorada em pensar que seria deixada de lado quando o neném chegasse. Quando ficava pensando em tudo o que aquele bebê iria tirar dela, o ressentimento brotava, superando a alegria. Todos, os pais, os amigos, os parentes não paravam de falar no bebê. Os pais resolveram que, se ela quisesse, poderia assistir o parto e quando o dia chegou, seu coração batia descompassado. Na sala de parto, Melissa sentia que suas inseguranças vinham à tona. Quando o médico anunciou que o bebê estava chegando, ela foi arrancada de seus pensamentos e sentiu uma incrível alegria. Ela tinha uma irmãzinha. E, agora, passados os meses, todos os seus medos e inseguranças tinham desaparecido. Naturalmente, ela contou com a ajuda de uma família carinhosa e compreensiva. Ela ainda sente ciúmes às vezes. Mas, quando vai para a escola pela manhã e da janela, aquela pessoinha fofinha lhe acena com sua mãozinha gorducha, ela se emociona. Quando chega em casa e nem consegue ter tempo de tirar o uniforme, porque a irmãzinha corre abraçar as suas pernas, puxar sua roupa e pedir que brinque com ela, Melissa sente que sua irmã, em verdade, não lhe tirou nada. Ao contrário, trouxe muitas coisas para a sua vida. Mais do que tudo, ela aprendeu que amor não se divide. Amor se multiplica. 
* * * 
Onde se apresente, o amor coloca colorido de esperança e beleza. Onde se manifeste, encontra-se alegria. Quanto mais ama o ser humano, mais se engrandece e se plenifica de felicidade e paz. O amor se pode multiplicar ao infinito, sem jamais perder a sua especial qualidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O amor se multiplica, de Melissa Esposit, do livro Histórias para aquecer o coração dos adolescentes, de autoria de Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Kimberly Kirberger, ed. Sextante. Em 20.11.2014.

terça-feira, 9 de junho de 2015

AMOR SEM PREÇO

Havia um garoto que, nos seus quase oito anos, adquirira um hábito nada salutar. Tudo para ele se resumia em dinheiro. Queria saber o preço de tudo o que via. Se não custasse grande coisa, para ele não tinha valor algum. Nem se apercebia o pequeno que há muitas coisas que dinheiro algum compra. E dentre essas coisas, algumas são as melhores do Mundo. Certo dia, no café da manhã, ele teve o cuidado de colocar sobre o prato da sua mãe um papelzinho cuidadosamente dobrado. A mãe o abriu e leu: 
- Mamãe me deve: por levar recados - 3 reais; por tirar o lixo - 2 reais; por varrer o chão - 2 reais; extras - 1 real. Total que mamãe me deve: oito reais. 
A mãe espantou-se no primeiro momento. Depois, sorriu, guardou o bilhetinho no bolso do avental e não disse nada. O garoto foi para a escola e, naturalmente, retornou faminto. Correu para a mesa do almoço. Sobre o seu prato estava o seu bilhetinho com os oito reais. Os seus olhos faiscaram. Enfiou depressa o dinheiro no bolso e ficou imaginando o que compraria com aquela recompensa. Mas então, percebeu que havia um outro papel ao lado do seu prato. Igualzinho ao seu e bem dobrado. Abriu e viu que sua mãe também lhe deixara uma conta. 
- Filhinho deve à mamãe: por amá-lo - nada. Por cuidar da sua catapora - nada. Pelas roupas, calçados e brinquedos - nada. Pelas refeições e pelo lindo quarto - nada. Total que filhinho deve à mamãe - nada. 
O menino ficou sentado, lendo e relendo a sua nova conta. Não conseguia dizer nenhuma palavra. Depois se levantou, pegou os oito reais e os colocou na mão de sua mãe. A partir desse dia, ele passou a ajudar sua mãe por amor. 
* * * 
Nossos filhos são Espíritos que trazem suas virtudes e suas paixões inferiores de outras existências. Cabe-nos examiná-las para auxiliá-los na consolidação das primeiras e no combate às segundas. Todo momento é propício e não deve ser desperdiçado. As ações são sempre mais fortes que as palavras. Na condução dos nossos filhos, cabe-nos executar a especial tarefa de agir sempre com dignidade e bom senso, o que equivale a dizer, educar-nos. Com exceção dos filhos extremamente rebeldes, uma boa dose de amor somada à energia, sempre dá bons resultados. 
* * * 
É no lar que recebemos os primeiros ensinamentos sobre as virtudes. Na construção do senso moral, dos conceitos de certo e errado são muito importantes os exemplos dados pelos pais. É no doce mundo familiar que se adquire o hábito da virtude que nos guiará as ações quando sairmos mundo afora. 
Redação do Momento Espírita. Em 26.02.2008.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

AMOR SEM ILUSÃO

Conta-se que um jovem caminhava pelas montanhas nevadas da velha Índia, absorvido em profundos questionamentos sobre o amor, sem poder solucionar suas ansiedades. Percebeu que, pelo mesmo caminho, vinha em sua direção um velho sábio. E porque não conseguia encontrar uma resposta que lhe aquietasse a alma, resolveu pedir ao sábio que o ajudasse. Aproximou-se e falou com verdadeiro interesse: 
-Senhor, desejo encontrar minha amada e construir com ela uma família, com base no verdadeiro amor. Todavia, sempre que me vem à mente uma jovem bela e graciosa e eu a olho com atenção, em meus pensamentos ela vai se transformando rapidamente. Seus cabelos tornam-se alvos como a neve, sua pele rósea e firme fica pálida e se enche de profundos vincos. Seu olhar vivaz perde o brilho e parece perder-se no Infinito. Sua forma física se modifica acentuadamente e eu me apavoro. Desejo saber, meu sábio, como é que o amor poderá ser eterno, como falam os poetas? 
Naquele mesmo instante, aproxima-se de ambos uma jovem envolta em luto, trazendo no rosto expressões de profunda dor. Dirige-se ao sábio e lhe fala com voz embargada: 
-Acabo de enterrar o corpo de meu pai, que morreu antes de completar 50 anos. Sofro, porque nunca poderei ver sua cabeça branca aureolada de conhecimentos, seu rosto marcado pelas rugas da experiência, nem seu olhar amadurecido pelas lições da vida. Sofro, porque não poderei mais ouvir suas histórias sábias, nem contemplar seu sorriso de ternura. Não sentirei suas mãos enrugadas tomando as minhas com profundo afeto. 
Naquele momento, o sábio dirigiu-se ao jovem e falou com serenidade: Você percebe agora as nuanças do amor sem ilusões, meu jovem? O amor verdadeiro é eterno porque não se apega ao corpo físico, mas se afeiçoa ao ser imortal que o habita temporariamente. É nesse sentimento sem ilusões nem fantasias que reside o verdadeiro e eterno amor. 
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A lição do velho sábio é de grande valia para todos nós que buscamos as belezas da forma física, sem observar as grandezas da alma imortal. O sentimento que valoriza somente as aparências exteriores não é amor, é paixão ilusória. O amor verdadeiro observa, além da roupagem física que se desgasta e morre, a alma que se aperfeiçoa, para prosseguir vivendo e amando pela Eternidade afora. 
* * * 
As flores, por mais belas que sejam, um dia murcham e morrem. Mas o seu perfume permanece no ar e no olfato daqueles que o souberam guardar em frascos adequados. O corpo humano, por mais belo e cheio de vida que seja, um dia envelhece e morre. Mas as virtudes do Espírito que dele se liberta, continuam vivas nos sentimentos daqueles que as souberam apreciar e preservar, na ânfora do coração. Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 11 e no livro Momento Espírita, v. 2, ed. Fep. Em 11.10.2010.