quinta-feira, 7 de agosto de 2025

UM MINUTO APENAS

Suely Caldas Schubert
Lúcia era uma mulher feliz. 
Como poucas, acreditava. 
Casada com o homem por quem se apaixonara nos verdes anos da adolescência, vivia o sonho da mulher realizada. 
Um filho lhe viera coroar a felicidade. 
Que mais ela poderia desejar? 
Acordava pela manhã e saudava o dia cantarolando. 
Com alegria realizava as tarefas do lar, cuidava do filho, aguardava o marido. 
Tudo ia muito bem. 
Até o dia em que descobriu que o homem que tanto amava, a traía. E não era de agora. 
O problema vinha tomando corpo de algum tempo. 
Magoada, se dirigiu ao marido. Exigiu-lhe e falou-lhe de respeito. 
A resposta foi brutal, violenta. 
O homem encantador tornou-se raivoso, briguento. Chegou a bater-lhe. 
Foi nesse dia que Lúcia teve a certeza de que seu casamento acabara. Era o cúmulo. 
Não poderia prosseguir a viver com alguém que chegara à agressão física. 
Então, acordou na manhã de tristeza, depois de uma noite de angústia e tomou uma séria decisão. Iria se matar. 
Acabar com a própria vida. 
Mais do que isto. Ela desejava vingança. 
Por isto, tomou o filho de quatro anos pela mão e decidiu que o mataria. 
Queria que o marido ficasse com drama de consciência. 
Seu destino era o Farol da Barra, na cidade de Salvador, na Bahia, onde residia. 
Ela sabia que era um local onde o mar batia com violência no penhasco. 
A rua por onde transitava era movimentada. Muitos carros. 
Enquanto aguardava para atravessar a rua, a criança lhe escapou das mãos e correu, entre os carros. 
Ela se desesperou. Estranho paradoxo. 
Conduzia a criança pela mão e tencionava jogá-la do penhasco ao mar para que morresse. 
Mas, quando a vê correr perigo, esquecida de si mesma, vai-lhe ao encontro, agarra-o, até um pouco raivosa. 
Puxa-­o pela mão. 
Neste momento, a criança se abaixa, alheia a tudo que se passava, e recolhe do chão um papel. 
Lúcia o arranca das mãos do pequeno e um título, em letras grandes, lhe chama a atenção: 
Um minuto apenas. 
Ela lê: Num minuto apenas, a tormenta acalma, a dor passa, o ausente chega. O dinheiro muda de mão, o amor parte, a vida muda. 
Vai andando, puxando a criança e lendo a página. 
Era uma página mediúnica que vinha assinada por um Espírito. 
Ela terminou de ler. Passou o ímpeto. 
Em um minuto. 
Parou, olhou ao redor e verificou que tinha chegado ao seu destino. O penhasco estava próximo. 
Sentou-se e teve uma crise de choro. 
O impulso de se matar havia desaparecido. 
Tornou a ler a mensagem. 
Ela se recordou de um senhor que era espírita e trabalhava no Banco, no mesmo onde seu marido trabalhava. 
Ela lhe telefonou, pediu-lhe orientação e ele a encaminhou a um Centro Espírita. 
Atendida por companheiro dedicado, que lhe ouviu os gritos da alma aflita, passou a buscar na oração sincera, na leitura nobre, no passe reconfortante, as necessárias forças para superar a crise. 
O marido, notando-lhe a mudança, a calma, no transcorrer dos dias, a seguiu em uma das suas saídas do lar.
Desconfiado, adentrou ele também à Casa Espírita. 
Para descobrir uma fonte de consolo e esclarecimento. 
Hoje, ambos trabalham na seara espírita. 
Reconstituíram sua vida, refizeram-se. Os anos rolaram.
O garoto é um adolescente e mais dois filhos se somaram a ele. 
* * * 
Em um minuto apenas, a Misericórdia Divina se derrama, cheia de bênçãos, nas vielas escuras dos passos humanos.
Corrige, saneia, repara, transformando-as em estradas luminosas no rumo da Vida Maior. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 24, do livro O semeador de estrelas, de Suely Caldas Schubert, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 1 e no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. 
Em 14.05.2024.

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