domingo, 31 de agosto de 2025

A MISSÃO EDUCADORA DOS PAIS

Lydienio Barreto
de Menezes
Vivemos em um mundo de constantes mudanças e, sem dúvida, temos que nos adaptar a elas. 
A mulher hoje tem amplo acesso ao mercado de trabalho e a figura de mãe presente ao lado de seus filhos, sempre que esses não estejam na escola, quase não existe mais. 
O pai tornou-se mais participativo no cuidado das crianças, no entanto, ainda passa a maior parte de seu tempo dedicado ao trabalho, a fim de prover as necessidades materiais da família. 
Consequentemente, as crianças e os jovens, habituados à televisão e ao computador, distanciam-se de seus pais e esses, atarefados, quase não se aproximam de seus filhos.
Encontramos até mesmo pais que dizem ser a escola o local de educação de seus filhos. 
Em verdade a escola é local onde há transmissão de conhecimentos, bem como orientação sobre o comportamento das crianças, adolescentes e jovens. 
No entanto, ela jamais pode substituir a educação do lar. Allan Kardec nos diz que o ensino é a transmissão de conhecimentos, de informações ou de esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação. 
Desta frase podemos deduzir que a educação é muito mais ampla que o ensino formal, ao qual as escolas se dedicam.
Ainda, segundo Kardec, o educador real não é somente aquele que fala de uma tribuna como o professor. 
Educador é qualquer pessoa que, pelo processo da explicação ou das experiências, procura passar ensinamentos úteis para outra pessoa. 
Neste sentido estão incluídos os pais, os avós ou quem, com paciência e dedicação consiga, através do entendimento do educando, modificar a conduta deste. 
Para educar de verdade não é necessária uma ocasião especial, pelo contrário, a qualquer momento, através da conversa e dos exemplos, a educação pode ser feita. 
Aos casais não faltam orientações de livros, revistas e profissionais dispostos a ajudá-los na educação de seus filhos. 
No entanto, vivemos hoje em uma sociedade com numerosos jovens que não se ajustam a regras ou leis, muitos deles delinquentes, e nos perguntamos o porquê. 
Ao observarmos o crescente distanciamento que os múltiplos afazeres dos pais impõem, bem como o distanciamento que se impõe aos filhos ao dar a eles dias cheios de atividades, começamos a entender o que ocorre. 
Sem dúvida o modelo de pai e mãe como profissionais é quase irreversível, pois é uma consequencia dos novos tempos. 
Mas tal modelo não pode ser uma desculpa para nos esquecermos de uma das maiores responsabilidades que o Criador dá a quem se torne pai ou mãe: a educação. 
Se o dia é cheio, que as noites sejam de aconchego. 
Ao invés de televisão, computador ou telefone, a refeição em família na qual se pode comentar o dia e se inteirar das atividades dos filhos demonstrando-lhes amor. 
Mesmo cansados, pais que amam dedicam, diariamente, momentos para monitorar tarefas da escola de seus filhos. 
Em hora adequada, pais dedicados acompanham seus filhos em uma oração antes do merecido descanso. 
Se a semana é de correria, que os fins de semana sejam de paz e harmonia entre a família, com atividades que permitam a convivência e o entendimento entre pais e filhos, a fim de adequadamente educá-los. 
Que a tarefa sagrada da educação seja realizada amplamente para que, um dia, possamos responder com tranquilidade à pergunta: 
-O que fizeste dos filhos que a ti foram confiados? 
Redação do Momento Espírita com base no cap. III do livro A educação à luz do espiritismo, de Lydienio Barreto de Menezes, ed. Celd. 
Em 04.09.2009.

sábado, 30 de agosto de 2025

MISSÃO DE PAI

Ela estava em viagem. 
Fazendo escala em um grande aeroporto do país, deparou-se com uma cena comovedora: um pai, bastante jovem, aguardava seu voo para a conclusão da viagem. 
Trazia consigo um filho pequeno, com uma perna engessada.
Rumavam para tratamento em hospital especializado, na capital brasileira. 
Era tanta atenção e carinho do pai no trato com a criança semideitada na cadeira de rodas, que ela não se conteve e aproximou-se, puxando assunto. 
Vinha ele do Interior do Estado e levava o filho para o necessário atendimento. 
Há muito faz essa rota, confessou, pois seu filho tem uma doença rara, conhecida como ossos de vidro ou ossos de cristal. 
Trata-se de uma fragilidade dos ossos que se quebram com enorme facilidade. 
Sua causa é a deficiência na produção do colágeno do tipo um, o principal componente dos ossos. 
Como ainda não existe cura para essa deficiência, o tratamento visa apenas melhorar a qualidade de vida do seu portador. 
Conversando, ela ficou observando os cuidados paternos, que emocionavam por tantos gestos de carinho e atenção. 
Disse-lhe o jovem pai que o menino é inteligente, esperto e alegre, submetendo-se sem problemas às terapias exigidas.
Que ele, pai, apenas fazia sua parte, conduzindo-o, sempre que necessário, embora as dificuldades financeiras da família.
Mais tarde, ela ficou a pensar no sacrifício de tantos pais, como aquele, devotados aos cuidados a um filho com limitações. Também se lembrou de quantos, embora sem filhos portadores de deficiências, participam de forma efetiva na formação deles, manifestando e cultivando o amor, através do toque, da carícia, da presença e dos exemplos positivos.
Recordou-se de que lera, em precioso livro, que a paternidade é, sem contestação possível, uma missão. 
É ao mesmo tempo um dever muito grande e que envolve, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade quanto ao futuro. 
Deus colocou o filho sob a tutela dos pais para que estes o dirijam pela senda do bem. 
E lhes facilitou a tarefa dando ao filho uma organização frágil e delicada que o torna acessível a todas as impressões. 
E concluiu: como se faz preciosa a presença do pai na vida do filho. 
E como o filho se sente mais seguro quando se percebe objeto desse cuidado que recebe; quando seu ídolo se faz presente e cumpre com o que promete. 
Quando percebe o quanto se esforça o pai, para lhe dedicar um espaço de tempo aqui, outro ali. 
Quando o aceita como é, sem desejar que ele seja superior, seja o melhor ou vença sempre, em todas as situações da vida. 
Que suas atitudes são coerentes e suas advertências são serenas e firmes, em momentos oportunos. 
Que respeita a maturidade do filho, compatível com cada fase de seu crescimento. 
Que nunca compactua com o erro. 
E que participa das horas felizes e das difíceis, oferecendo segurança. 
* * * 
Ser pai é ser um amigo especial, diferente dos demais, por ter autoridade junto ao filho. 
Ser pai é ter transparência, credibilidade, imagem definida.
Ser pai é uma missão sagrada que necessita ser vivenciada em todos os momentos da vida. 
Abençoados sejam os pais que bem cumprem sua missão.
Benditos os filhos que contam com a presença de um verdadeiro pai. 
Redação do Momento Espírita, com transcrição do item 582, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 21.01.2017.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

UM SER SUPERIOR

Léon Denis
O caos e o acaso não saberiam produzir a ordem e a harmonia. 
Acima dos problemas da vida e do destino levanta-se a questão de Deus. 
Se estudamos as leis da natureza, se procuramos o princípio das verdades morais que a consciência nos revela, se pesquisamos a beleza ideal em que se inspiram todas as artes, em toda parte e sempre, acima e no fundo de tudo, encontramos a ideia de um Ser Superior. 
Um Ser necessário e perfeito, fonte eterna do bem, do belo e do verdadeiro, em que se identificam a Lei, a Justiça e a Suprema Razão. 
O mundo físico ou moral é governado por leis e essas leis, estabelecidas segundo um plano, denotam uma inteligência profunda das coisas por elas regidas. 
Não procedem de uma causa cega. 
Tal entendimento se faz necessário, uma vez que os seres carecem de nova compreensão a respeito da realidade da vida. 
Ceder ao perigoso materialismo se torna muito mais difícil, quando se tem consciência da grandiosidade do Universo e da perfeição de suas leis, regendo a vida em sua esfera palpável e moral de todos nós. 
Por vezes apequenamos a existência, transformando-a numa busca incessante pelo prazer, pelos desejos imediatos, sempre ligados à matéria. 
Desconsideramos que estamos em um contexto maior, imensamente belo, de diversas existências sucessivas que nos conduzem para a felicidade. 
Felicidade da alma, construída ao longo das eras, através da conquista das virtudes, dessas potências maravilhosas do Espírito a caminho do bem. 
A perfeição do Criador nos colocou em um processo de busca por nossa própria excelência interior. 
Se nosso modo de vida nos afasta dessa busca, estamos literalmente perdendo tempo, estamos nos arriscando a cair e estacionar. 
Se, ao contrário, traçamos planos de vida, nas esferas familiar, profissional, religiosa, artística e social, que incluem como prioridade o crescimento espiritual, eis que a perfeição vai sendo desenhada em nós. 
Assim, observar o Criador, Inteligência Suprema, Causa Primeira de tudo, e aprender com Ele é fundamental para se ter uma pequena dimensão da grandiosidade que é a vida humana e seus propósitos maiores. 
Percebendo a presença dessa Força Maior, sentimo-nos abraçados e amparados. 
Na vida moral, saberemos que nada acontece por acaso e que toda ação gera consequências. 
Saberemos também que há uma Justiça maior, por trás da justiça vacilante dos homens da Terra, colocando cada coisa em seu devido lugar. 
Justiça maior e também Amor maior regendo tudo, uma vez que Deus é soberanamente justo e bom. 
Um Pai amoroso... 
Mais dedicado e atencioso do que qualquer exemplo de paternidade e maternidade da Terra. 
Um Ser Superior, que comanda o Universo de forma magistral, sem erros, sem insegurança, sem incerteza. 
Você e eu fazemos parte de tudo isso. 
Somos como filhos dando os primeiros passos rumo aos braços amorosos e seguros de nosso amado Pai. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap.9, do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. FEB. Disponível no CD Momento Espírita, v. 23, ed. FEP. 
Em 29.08.2025

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A MISSÃO DE CADA UM

Ramiro Sápiras
Invadiu-me certa vez uma inexorável perplexidade acerca do sentido da vida. 
Decidi, então, peregrinar por este mundo em fora, para decifrar tão profundo enigma. 
A todos os seres que encontrava propunha a questão. À frondosa árvore, enraizada no centro de grande praça, supliquei que me revelasse sua verdadeira missão. 
Explanou-me ela: 
-"Em primeiro lugar, devo manter-me viva, forte, saudável, para melhor poder cumprir meu papel. Em segundo, descobrir exatamente qual seja este papel. E, por fim, desempenhá-lo diligentemente. A mim cabe proteger os peregrinos que por aqui passam, nos tórridos dias de verão, ofertando-lhes minha generosa sombra." 
Segui adiante e deparei-me com um belo gato siamês.
Segredou-me ele que sua missão consistia em fazer companhia a uma velha senhora, ofertando a ela todo seu encanto e ternura. 
Por muitos e muitos dias, por escabrosas veredas, feri meus pés à procura de respostas à pungente dúvida. 
O esforço foi sobejamente recompensado. 
Mas eu sentia que era preciso ainda ouvir uma sábia opinião de um representante do gênero humano. 
Finalmente, após fatigante busca, no alto de um outeiro, encontrei um sábio anacoreta, longas barbas brancas, olhar perdido no horizonte, a meditar... 
Acolheu-me amavelmente. 
Após ouvir, todo paciência e atenção, meu relato e minhas súplicas, sentenciou gravemente: 
-"Meu prezado buscador. Os sábios seres da natureza propiciaram a ti as respostas. Já és possuidor do inefável segredo. Não obstante, mais posso aduzir: Caso descobrires que és uma árvore, sejas realmente uma árvore; se fores um gatinho, não te constranjas em ofertar toda tua meiguice; e se um leão, coloca sempre toda tua energia em tudo que fizeres. Enfim, é preciso descobrir teus verdadeiros talentos, aprimorá-los, produzir os melhores frutos, e então, ofertá-los generosamente." 
* * * 
Ninguém habita este planeta sem objetivo, sem finalidade maior. 
Aquele que cultiva a terra realiza uma missão. 
Como aquele que governa ou que instrui. tudo se encadeia na natureza.
Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, dessa forma, para a realização dos desígnios da Providência. 
Cada um tem sua missão na Terra.
Cada um pode ser útil para alguma coisa.
Desta forma, buscadores que somos, o que devemos encontrar é a nós mesmos, descobrindo depois no que podemos ser úteis. 
Que habilidade temos? 
Quais são nossos talentos? 
O que podemos fazer pela comunidade ao nosso redor? 
É tempo de descoberta e de ação. 
Cada dia na Terra é oportunidade única que não pode mais ser desperdiçada com as distrações e ilusões que criamos ao longo das eras.
Redação do Momento Espírita com base em texto do livro A magia das palavras, de Ramiro Sápiras, ed. Recanto das letras e no item 573 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 19.10.2009.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

CONHECER DEUS

Algum dia você já ficou imaginando como seria Deus? 
Qual seria a imagem de Deus?
De um modo geral, nos vem à mente a figura de um ancião, barbas longas, brancas, muitas vezes sentado em um majestoso trono, a cuidar das coisas daqui de baixo... 
A herança cultural que carregamos nos traz essa imagem que, ao ser analisada mais detidamente, vemos ser distante do que possa ser real. 
Vejamos: Em que parte do espaço estaria Deus olhando para baixo? 
Qualquer que seja essa resposta, nos perguntaríamos: 
-E os outros planetas, os outros corpos celestes, que estarão acima, ao lado, atrás... Como Ele cuidará de todos esses, se já não estarão sob Seu olhar? Ainda, por que a figura de Deus como um ancião? Será que Ele já foi jovem um dia? O tempo Lhe alterou o semblante, como acontece conosco? E como pode o tempo alterar a figura de Deus, se Deus é a causa primeira, a origem de todas as coisas? 
Podemos nos perguntar ainda, por que a figura masculina a representar Deus? Não poderia ser uma figura feminina, como acreditavam algumas culturas antigas? 
Na dificuldade de transcender nosso pensamento, damos a Deus a figura humana, emprestamos ao Criador do céu e da Terra a pobre imagem humana, como se isso fosse suficiente e mesmo necessário para ver e entender Deus. 
Ao considerarmos Deus como a Inteligência Suprema e a causa primária de todas as coisas, já não teremos a necessidade de representar a figura de Deus. 
Como O sabemos a causa e origem de tudo é fácil entender que não há como representá-lO na limitação de nosso pensamento e sentimento. 
Percebemos que, se ainda não conseguimos entendê-lO ou não há como representá-lO, já O podemos sentir. 
E sentimos Deus ao contemplar um pôr do sol a desdobrar o céu em inúmeros matizes, colorindo o horizonte, a cada dia, de maneira diferente. 
Sentimos o Criador e toda a pujança do Seu amor a nos tocar, na grandiosidade da natureza que se faz bela, harmoniosa e generosa, dando-nos o suporte para a vida física no planeta.
Sabemos da presença de Deus quando nos emocionamos com o milagre da vida, que se repete infinitas vezes no ventre materno, permitindo que uma simples célula dê origem a um organismo complexo e ordenado, após nove meses de elaboração. 
Se não conseguimos representar, entender ou ver Deus, já é possível tê-lO em nossa intimidade. 
Sem a necessidade de materializar ou personificar Sua figura, mas apenas senti-lO, nos mínimos detalhes da vida. Seja no microcosmo, na intimidade da organização celular, ou no macrocosmo, nas galáxias e estrelas infindas, aí estará a presença de Deus e do Seu amor, a cuidar de cada um de nós, Seus filhos. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 23, ed. FEP 
Em 27.08.2025

terça-feira, 26 de agosto de 2025

A MISSÃO DA MATERNIDADE

O bispo de La Serena, Chile, dom Damon Angel Jara, teve oportunidade de escrever um texto muito poético que diz: 
Uma simples mulher existe que, pela imensidão de seu amor, tem um pouco de Deus. 
Pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo. 
Que, sendo moça, pensa como uma anciã e, sendo velha, age com as forças todas da juventude. 
Quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida. 
Quando sábia, assume a simplicidade das crianças. 
Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama.
Rica, sabe empobrecer-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos. 
Forte, estremece ao choro de uma criancinha. 
Fraca, se revela com a bravura dos leões. 
Viva, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam. 
Morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios. 
Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de lágrimas esse álbum. 
Porque eu a vi passar no meu caminho. 
Quando crescerem seus filhos, leiam para eles esta página.
Eles lhes cobrirão de beijos a fronte. 
Digam-lhes que um pobre viandante, em troca da suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria mãe. 
Na atualidade, a mulher assumiu muitos papéis. 
Lançou-se no mundo e se transformou na operária, juíza, cientista, professora, militar, policial, secretária, empresária, presidente, general e tudo o mais que, no passado, era privilégio do homem. 
A mulher se tornou em verdade uma supermulher que, além dos afazeres domésticos, conquistou o seu espaço no mercado de trabalho. 
Naturalmente, não para competir com o homem, mas para somar com ele, pois dos esforços de ambos resulta o sustento e o bem-estar da família. 
A rainha do lar se transformou na mulher que atua e decide na sociedade. 
Das quatro paredes do lar para o palco do mundo. 
Contudo, essa mulher senadora, escriturária, deputada, médica, administradora de empresa não perdeu a ternura. 
Ela prossegue a acolher em seu ninho afetivo o esposo e os filhos. 
Equilibrada e consciente, ela brilha no mundo e norteia o lar.
Embora interprete muitos papéis, ela não esqueceu do seu mais importante papel: o de ser mãe. 
* * * 
Dentre todas as mulheres que se projetaram no mundo, realizando grandes feitos, a nossa lembrança recua no tempo buscando uma mulher especial. 
A História não lhe registra grandes discursos, mas o Evangelho lhe aponta gestos e palavras que valem muito mais. 
Mãe de um filho que revolucionou a História, manteve-se firme na adversidade, na dor, exemplificando o que Ele ensinara.
Não deixou testamento, riquezas ou haveres mas legou à Humanidade a excelente lição da mulher que gera o filho, alimenta-o e o entrega ao mundo para servir ao mundo. 
Seu nome era Maria... Maria de Nazaré. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Um poético e autêntico retrato de uma genitora – nossa homenagem à toda mulher-mãe, do Jornal Correio Fraterno do ABC, de maio de 2000 e no texto Retrato de mãe, de Dom Ramon Angel Jara, Bispo de La Serena, Chile, tradução de Guilherme de Almeida. 
Em 10.05.2018.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O MAIOR PRODÍGIO DE JESUS

Os que mergulhamos a mente na leitura dos Evangelhos, com certeza nos encantamos com os ditos e feitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. 
Não é que por vezes pensamos como teria sido bom encontrá-lO, ouvi-lO, acompanhá-lO e assistir aos Seus feitos? 
Profundo conhecedor da estrutura psíquica humana, das leis que regem nosso mundo, manipulava os fluidos e os comandava. 
Por isso, no festim das Bodas de Caná, tomou da água e lhe conferiu o sabor específico que desejava, ensejando aos convivas o retorno à lucidez. 
Devolveu movimentos a quem vivia à beira do tanque de Betesda, em Jerusalém, há mais de três décadas. 
Deteve o quadro enfermiço da mulher hemorrágica, que viera das terras distantes de Cesareia de Filipe, com uma virtude que ela atraiu para si com sua fé. 
Possivelmente, o deslumbramento maior se faz quando Ele adentra a cidade de Naim, ordena que pare o cortejo fúnebre, toca no caixão do que iria ser enterrado e ordena que ele se levante. 
Único filho e arrimo da mãe viúva, Jesus o devolve a ela. 
Ou quando Ele entra a casa do chefe da sinagoga, Jairo, e lhe diz que sua filha apenas dorme. 
Seu modo de explicar àquela gente, que desconhecia a letargia, o processo pelo qual passava a menina. 
E a entrega aos pais, ordenando-lhe: 
-Menina, levanta! 
O mais assombroso foi se dirigir ao túmulo de Lázaro, ali encerrado havia quatro dias. 
Afirmara, quando lhe foram relatar da enfermidade, que o abraçara, que ela não era para a morte, mas para a glória de Deus. 
Frente ao túmulo, ordena: 
-Lázaro, vem para fora. 
Poderá, acaso, existir algo mais maravilhoso do que trazer de retorno à vida os que haviam mergulhado no sono letárgico, semelhando à morte? 
Aos olhos do mundo, essa maravilha assume grandes proporções. 
Contudo, um prodígio ainda maior, mais eloquente, realizou o Mestre de Nazaré: a ressurreição do Espírito. 
Jesus trouxe de retorno à vida Lázaro, que, anos depois, veio a morrer, como morrem todos os seres vivos. 
Mas Ele trouxe à vida Madalena. 
Ressuscitou sua alma, que estava morta para a Espiritualidade. 
Ela nunca mais morreu, porque o que ressurgiu nela foi o Espírito. 
Os homens ficam extasiados com os prodígios de devolver seres à vida física. 
O céu se extasia com o ressurgimento de Madalena. 
O mundo vê o auge do poder tornar a viver o que considerava um cadáver. 
O céu vê a glória na alma redimida. 
O mundo contempla, sem entender, um morto que sai de um túmulo de pedra.
O céu se rejubila ao contemplar uma alma resgatada que sai das trevas para as serenas regiões da luz. 
Madalena representa o produto, o resultado, o fruto bendito da obra redentora do Salvador do gênero humano. 
Nesses termos é que podemos entender as palavras de Jesus: 
-Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E o que vive e crê em mim nunca jamais morrerá. 
Igualmente, podemos compreender o que disse aos apóstolos: 
-Ide, pregai o evangelho, ressuscitai os mortos. 
É da ressurreição do Espírito que Ele falava. 
Ressurjamos todos ao influxo da Sua proposta de redenção.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Ressurreições, do livro Nas pegadas do Mestre, de Vinícius, ed. FEB. 
Em 25.08.2025

domingo, 24 de agosto de 2025

MISSÃO PATERNIDADE

RAUL TEIXEIRA
Ser pai é missão com que o Senhor da Vida brinda o homem, abençoando a sua masculinidade, homenageando a sua função cocriadora, ao lado da mulher, que se faz mãe, pelos vínculos carnais. 
Ser pai é ser protetor, guardião, amigo. 
Desde tempos muito antigos, essa figura foi tida como importante na formação dos filhos. 
Remonta, há mais de quatro mil anos, um cartão escrito em argila, encontrado na Mesopotâmia, no qual um jovem de nome Elmesu homenageia seu pai, formulando votos de sorte, saúde e vida longa. 
Possivelmente, revivendo aquele gesto, no ano de 1909, Sonora Luise, na cidade de Spokane, nos Estados Unidos, motivada pela admiração por seu genitor, decidiu homenageá-lo e criou O dia dos pais. 
Não demorou muito para que outras cidades norte-americanas se interessassem pela data que, no ano de 1972, foi oficializada como festa nacional, pelo presidente Richard Nixon. 
A comemoração naquele país ocorre no terceiro domingo do mês de junho, enquanto no Brasil passou a ser celebrada no segundo domingo de agosto. 
Atribui-se o seu surgimento ao publicitário Sílvio Bhering e a primeira comemoração se deu no dia 14 de agosto de 1953, data dedicada, segundo a tradição católica a São Joaquim, patriarca da família. 
Ter um dia para receber homenagens é sempre grato ao coração de quem ama. 
Momento especial, ademais, para pensar e repensar a respeito dessa importante missão. 
Nos dias em que se vive a tormenta dos vícios, do tóxico, em particular, que destroça a criança, ainda nas primeiras experiências infantis, é de nos questionarmos o quê, na qualidade de pais, temos feito. 
Verdade que há uma grande preocupação com a manutenção doméstica e por vezes, o cansaço nos toma as forças.
Contudo, a presença paterna é imprescindível, ao lado da materna, no sentido de educar a prole, acompanhar o passo dos pequenos e dos mocinhos. 
Fazer-se presente é preciso. 
Olhar nos olhos dos filhos para lhes sentir as realidades íntimas, por essas janelas da alma. 
Renunciar a um lazer para estar com eles. 
Verificar seus compromissos escolares, participar de uma ou outra atividade social, a fim de que eles se sintam apoiados por sua presença. 
Dialogar com os filhos, ouvindo-lhes as opiniões sobre a vida, as pessoas, os fatos, cooperando no esclarecimento de equívocos, auxiliando-os a caminhar pelas vias do discernimento. 
* * * 
Com certeza, pai amoroso que você é, ama seus filhos.
Contudo, não esqueça que o amor deve ser vigilante e perspicaz, para que, em seu nome, não se instale a insensatez e a sombra se estabeleça. 
Pense nisso e dê o melhor de si a esses rebentos, filhos de Deus, confiados aos seus cuidados pelo Pai excelso de todos nós. 
Pense: esta é a sua missão na qualidade de pai. 
Redação do Momento Espírita, com base em informações colhidas no Boletim SEI nº 2160, de 22.8.2009 e no cap. 30, do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em06.08.2015.

sábado, 23 de agosto de 2025

MISERICÓRDIA NA JUSTIÇA DIVINA

Por desconhecermos a grandeza das leis divinas, falamos, de forma equivocada, a respeito da Justiça de Deus. 
O Pai, que é a bondade suprema, não castiga os Seus filhos.
Deseja somente que caminhem em sua direção, no rumo da felicidade desejada. 
Enquanto nós julgamos os fatos pelas aparências e circunstâncias do momento, a Justiça Divina abrange um contexto muito mais amplo. 
As leis divinas consideram a intenção que move os atos, nunca apenas os atos em si mesmos. 
Um filme nacional que retrata a vida dos habitantes do sertão nordestino, apresenta uma cena comovedora. 
É o momento em que vários personagens estão sendo julgados num tribunal do Além. 
A sentença, percebe-se, será o envio para uma zona de sofrimento, a fim de sanarem tantos atos equivocados cometidos. 
Então, o protagonista apela para a Mãe de Jesus que atende ao chamado e intercede por aquelas almas. 
-É preciso levar em conta, diz ela, a pobre e triste condição do homem. Os homens começam com medo e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer... É o medo. Medo de muitas coisas... Do sofrimento, da solidão. No fundo de tudo, medo da morte... 
Compadecida com a miséria daqueles pobres Espíritos, chamados a prestar conta de seus atos, ela recorda os padeceres deles, enquanto homens sobre a Terra. 
Lembra que eles, desde muito cedo, precisaram se acostumar com o pão escasso, com a fome, com a seca que castigava.
Que necessitaram abrir mão da infância para o trabalho duro.
E quando não podiam mais suportar o fardo sobre os ombros... oravam. 
A cada vez que o chão se partia por falta de chuva, formava-se um grupo de retirantes, que deixava aquelas terras. 
E tornava a voltar, com os primeiros pingos d'água, como se a esperança fosse uma planta que nascesse com a chuva. 
* * * 
Retirando a alegoria e a forma fantasiosa das licenças cinematográficas, podemos concluir que o filme reflete um pouco da realidade. 
O Pai Maior sempre leva em conta os motivos dos nossos tropeços e considera nossa real capacidade de autossuperação. 
A Misericórdia Divina compreende nossos medos, nossas fraquezas, nossa falta de fé. 
E não se pode conceber um pai que deixa seus filhos padecerem a mais dolorosa miséria só para os infelicitar.
Todas as situações, pelas quais Deus nos permite passar, têm o objetivo de nos fazer crescer espiritualmente e aprender a viver. Naturalmente, o Criador conhece nossos pensamentos e sentimentos mais secretos. 
Por isso de nada nos adiantará inventarmos desculpas para os atos praticados por maldade e egoísmo. Mas o que fica evidente é que, por vezes, o que para nossa visão deficitária parece não ter perdão, merece da Misericórdia Divina uma visão realmente profunda e justa.  
* * * 
Quando a dúvida nos assaltar, busquemos o auxílio de Jesus. Ele nos mostrará a verdade. 
Quando a esperança tentar fugir pela janela, confiemos nossas preocupações ao Sublime Pastor, que nunca abandona Suas ovelhas. 
Se cometermos erros, que seja por fragilidade. Jamais pelo desejo do mal. 
Agindo assim, sempre teremos quem interceda por nós, em nome da misericórdia e do amor. 
Redação do Momento Espírita 
Em 08.05.2025

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

AMIGOS PARA A VIDA

Christopher Reeve e Robin Williams
Conta-se que foi em Nova Iorque, lá pelo ano de 1972, que dois jovens se conheceram. 
Ambos vinham de famílias modestas e haviam sido selecionados como os únicos ganhadores de prestigiosa bolsa de estudo para a escola de ensino superior de música, dança e dramaturgia. 
A partir daquele momento, compartilharam o mesmo quarto. 
E criaram um vínculo que perduraria no tempo, no sucesso e até mesmo na tragédia. 
Durante os anos de estudo, eles se apoiaram mutuamente, enfrentaram juntos os desafios do treinamento teatral. 
E selaram um pacto silencioso: ser o ombro um do outro nos momentos de dificuldade. 
Depois de terminar a escola, seus caminhos profissionais decolaram. 
Atores de cinema, um se notabilizou por filmes de ação. 
O outro se transformou num gigante da comédia. 
A fama não lhes diminuiu o afeto, a amizade. 
Vinte e três anos depois, um trágico acidente durante uma competição equestre mudou radicalmente a vida de um deles.
O ator, atleta, esposo e pai ficou paralisado do pescoço para baixo. 
Passaria a depender de cadeira de rodas e de um ventilador para respirar. 
Caído em profunda depressão, ele recebeu uma visita inesperada em seu quarto de hospital: um engraçado médico russo, com um forte sotaque e uma barba desgrenhada.
Foram necessários somente poucos segundos para ele identificar o amigo cômico e começar a rir. 
Ante a dor, o desespero, a vontade de morrer, o amigo compareceu disposto a aliviar todo aquele quadro, uma nota para quebrar situação tão triste. 
Estava ali para oferecer o que de melhor ele sabia fazer: provocar risos. 
De um modo geral, quando visitamos alguém hospitalizado e, sobretudo, em estado grave, comparecemos de face carregada, denotando a nossa preocupação pelo seu estado.
Isso somente torna mais pesado o ambiente. 
Seria verdadeiramente salutar se alterássemos essa nossa maneira de ser, levando sorrisos, as flores do coração, um arco-íris para afastar as nuvens prenunciadoras de tempestade. 
O que nos recorda um personagem criado por um escritor francês em 1957: 
O menino do dedo verde, que encheu de flores o quarto da menina doente, para que ela sentisse alegria e desejasse viver. 
Essa deve ser a nossa tônica. 
Naturalmente, não fazer estardalhaço num lugar de padecimentos e de vida oscilante. 
Mas podemos comparecer com a face serena. 
E por que não sorrir? 
Afinal, de rostos preocupados, o doente está mais do que bem servido. 
Continuando nossa história, aquele amigo foi além de uma presença amorosa. 
Cuidou de despesas médicas não cobertas, participou de campanhas de arrecadação de fundos para pesquisas sobre lesões na medula espinhal e permaneceu ao lado do amigo até a sua morte, quase dez anos depois. 
Essa amizade, nascida na juventude, alimentada no transcorrer dos anos, solidificou-se no desafio da tragédia. 
Um raro exemplo de dedicação, amor profundo. 
Um vínculo que nos lembra o quão poderosa a lealdade pode ser entre duas almas que se escolheram muito antes de o mundo saber sobre elas. 
Como fala a canção: Amigos para sempre. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos dos atores Christopher Reeve e Robin Williams.
Em 22.08.2025

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

VENCEDOR DA MORTE

Os homens crucificaram Jesus. 
A inveja e a maldade urdiram esquemas e mataram o Homem, pensando matar o Ideal de que Ele era portador. 
A gratidão de uma mulher Lhe enxugou a face, no rumo do Calvário. 
Um amigo sincero, esquecendo da segurança de sua própria vida, resgatou-Lhe o corpo, junto às autoridades. 
Descido da cruz, Seu corpo foi envolvido em lençol de linho, às pressas, e foi depositado em sepulcro jamais utilizado e que pertencia a um amigo. 
Mulheres piedosas, num domingo de luz, foram ao sepulcro para honrar, com o devido preparo, o Seu corpo. 
Encontraram a pedra da entrada removida, o sepulcro vazio.
Dois jovens de vestes radiantes lhes disseram que o Senhor não estava mais ali. 
No local onde o corpo fora depositado, jazia o lençol.
O pano com que tinham coberto a cabeça de Jesus, estava dobrado, com cuidado. 
Depois disso, Ele se fez reconhecer pela mulher de Magdala, que O procurava, aflita. 
E lhe disse que fosse dar a boa notícia aos demais: Ele estava vivo. 
Apóstolos que seguiam à cidade de Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém, O encontram e realizam a viagem com Ele. 
Não O reconhecem a princípio, mas se encantam com a Sua interpretação das escrituras. 
Ao cair da tarde, chegando a Emaús, O convidam para cear e, então, quando Ele abençoa o pão e o parte, dão-se conta que é o Mestre Jesus. 
Em Jerusalém, Ele Se permite tocar pelo Apóstolo incrédulo, mostrando-lhe as chagas que trazia. 
Durante quarenta dias, Ele permanece com os Apóstolos e seguidores. 
Come com eles, aguarda-os na praia com o fogo aceso e assa alguns peixes que trazem da pesca. 
Ele vive! Senhor dos Espíritos! Senhor da Imortalidade! 
Na estrada de Damasco resgata um rabino da escola do grande Gamaliel, trazendo-o para suas fileiras. 
Na via Ápia, conversa com Simão Pedro, que acabara de deixar a prisão, em Roma. 
Pleno de luz, dirige os passos para a capital do Império Romano, dizendo ir ao encontro dos corações que sofriam o cárcere e a injustiça, por amor do Seu nome. 
* * * 
Jesus permaneceu na cruz durante algumas horas, entregando o Espírito ao Pai. 
Ao terceiro dia, ressurgiu, atestando a Imortalidade do Espírito, conforme sempre ensinara. 
Convive com os amigos, orienta, faz-Se visível aqui, ali.
Demonstra que a vida prossegue, vibrante. 
A Sua é a mensagem da vida que nunca morre. 
Não é estranho que ainda O mentalizemos, tantas vezes, pregado à cruz? 
Poucos O lembramos como vencedor da morte. 
Raros Lhe recordamos a ascensão, na Galileia, sob o olhar dos quinhentos discípulos ali reunidos. 
* * * 
Pensemos nisso! 
O Senhor Jesus nos legou a mensagem da Imortalidade. 
Todo Seu ensino é de vitória sobre o mundo das formas.
Meditemos a respeito e O recordemos glorioso, no encontro com Maria de Magdala, com os Apóstolos. 
Recordemos sobretudo que Ele nos disse: 
-Não vos deixarei órfãos. Eu sou o Bom Pastor. 
E abracemos a esperança, certos de que, como Ele, todos nós venceremos a morte. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 21, ed. FEP. 
Em 21.08.2025

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

ESTRELAS ESQUECIDAS

Cecilia Payne-Gaposchkin 
Fala-se muito em gratidão, em agradecer aos amigos, colegas, colaboradores, todos os que se fazem presentes em nossas vidas. 
Aqueles que nos oferecem sua ternura, seu apoio em horas difíceis. 
Aqueles que oram por nós, para que nos mantenhamos no caminho do bem. 
Aqueles que nos deram a vida, nos sustentam com seu carinho. 
Enfim, uma infinidade de pessoas. 
Contudo, quase sempre nos esquecemos de pessoas que viveram muito tempo antes de nós, que perlustraram os caminhos deste mundo em décadas de ignorância, de trevas e de preconceitos. 
Algumas, simplesmente, esquecidas ou que tiveram seus nomes sepultados nas areias do tempo. 
No entanto, quanto devemos a algumas delas. 
Lembramos de Santos Dumont, que concedeu asas ao homem; de Thomas Edison, que iluminou a Terra; de Alexander Fleming, que nos brindou com a penicilina.
Reverenciamos os heróis da pátria, como Filipe dos Santos, Tiradentes, o Barão do Serro Azul, Ana Néri, Anita Garibaldi.
Poetas, literatos, dramaturgos que nos deixaram versos e peças de insuperável valor, como Castro Alves, Vitor Hugo, Shakespeare. 
Bom lembrar de alguns quase desconhecidos... 
Como Cecilia Payne, que escreveu uma tese de doutorado tão brilhante que mudou a ciência para sempre. 
Quase ninguém sabe seu nome ou o que fez. 
Nascida na Inglaterra, era uma criança prodígio. 
Apesar de seu brilhantismo, a Universidade de Cambridge recusou-se a conceder-lhe um diploma, simplesmente por ser mulher. 
Ela, decidida a mostrar ao mundo que poderia modificar conceitos e ampliar estudos, mudou-se para os Estados Unidos da América. 
Obteve o primeiro doutorado em astronomia pelo Radcliffe College, na Universidade de Harvard. 
Atmosferas estelares. 
Uma contribuição para o estudo observacional de alta temperatura nas camadas reversas de estrelas foi a sua tese, a primeira de doutoramento em astronomia do Radcliffe College, em 1925. 
Cecilia descobrira que o sol e todas as estrelas são compostos principalmente de hidrogênio e hélio, elementos raros na atmosfera da Terra. 
Na época, isso foi chocante. 
Ela se tornou uma das maiores especialistas do mundo em estrelas variáveis, lançando as bases para gerações de pesquisas em astrofísica. 
Durante vários anos, não teve posição oficial, até que, em 1938, foi-lhe outorgado o título oficial de Astrônoma. 
Em 1956, ela fez história novamente, tornando-se a primeira mulher a ser promovida a professora titular em Harvard e a primeira a chefiar um departamento. 
Cecilia Payne-Gaposchkin reescreveu o Universo. 
É hora do Universo se lembrar do nome dela. 
*** 
É bom, vez ou outra, adentrarmos pesquisas para descobrir celebridades ocultas, não reverenciadas, e externarmos a nossa gratidão. 
Ao mesmo tempo, abrirmos nossas mentes de maneira que não reprisemos os erros de alguns dos nossos antepassados, que criaram obstáculos para o desenvolvimento de ideias revolucionárias. 
Ideias que nos guindariam mais cedo à glória do saber, do conhecimento do Universo, do planeta em que vivemos, do quanto podemos ser melhores em tantas coisas. 
Pensemos a respeito. 
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos de Cecilia Payne-Gaposchkin (1900 – 1979) 
Em 20.08.2025

terça-feira, 19 de agosto de 2025

MISERICÓRDIA E JUSTIÇA

O Espiritismo ensina que Deus rege o Mundo com base em leis perfeitas, plenas de justiça e misericórdia. 
Nenhum ato moral de Suas criaturas fica sem consequências.
Sempre há a justa resposta, dada no tempo certo.
Como se trata de um Pai amoroso, a incidência de Suas leis objetiva o aperfeiçoamento de todos. 
A opção pelo bem é sempre premiada com maiores recursos.
Uma atmosfera de paz e oportunidades forma-se ao derredor de quem se esforça em ser digno e bondoso. 
De tempos em tempos, o amante do bem é defrontado com testes, a fim de que cresça ainda mais. 
Mas sempre com o devido amparo das forças celestes. 
O equivocado também segue sob os auspícios do Alto. 
Ao longo dos séculos, os equívocos preponderaram. 
Muitos se permitiram atos de pirataria e rapinagem, pelos quais semearam a tragédia na vida do semelhante. 
Outros lucraram com a escravidão. 
Houve guerras e perseguições de índole racial e religiosa.
Não raros se dispuseram a desempenhar o triste papel de sedutores, na busca de prazeres efêmeros. 
Ainda hoje, há quem faça da fé objeto de comércio. 
Na política, persiste a busca do interesse próprio, por trás dos belos discursos. 
Todos esses desatinos são objeto de minucioso registro na consciência de cada um. 
A fim de permitir o soerguimento moral, a misericórdia divina providencia o esquecimento. 
A cada encarnação, o Espírito tem a oportunidade de recomeçar. 
Contudo, o registro do que ele fez persiste indelével em sua estrutura íntima. 
As figuras genuinamente virtuosas são um tanto raras na história da Humanidade. 
Assim, para o homem comum a recordação plena do que viveu no curso dos milênios seria desastrosa. 
Se todas as consequências de seus atos o atingissem de uma vez, ele não resistiria. 
A excelsa compaixão, atenta à fragilidade humana, permite que se pague no varejo o débito contraído no atacado. 
Ela consente que o Espírito esqueça o mal que fez e se reconstrua no bem, mediante pequenas lutas e conquistas.
Entretanto, é necessário realmente optar pelo bem. 
Após tantas existências, para a Humanidade terrena o tempo urge. 
Uma nova era de paz e responsabilidade se avizinha e é preciso ser digno dela. 
O momento reclama uma boa aplicação dos próprios talentos. Como a reabilitação é necessária, um contínuo abuso da misericórdia funcionará como um clamor para a incidência da justiça. 
Ciente disso, reflita sobre o que tem feito dos recursos amorosamente depositados em suas mãos pelo Excelso Poder. 
Pondere que o auxílio ao próximo é um dever, não um favor. 
A Providência desde sempre lhe ampara os passos enquanto aguarda que você aprenda justamente a lição da fraternidade.
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 06.04.2009.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

NEM TUDO QUE PESA É NOSSO


Já nos demos conta de que, algumas vezes, estamos carregando peso em demasia? 
Tudo parece recair sobre nossas costas: a família, o trabalho, os cuidados com o corpo, os cuidados com a alma. 
Some-se a isso os problemas do mundo, a insegurança, o sustento financeiro, as expectativas dos outros, a necessidade de estarmos conectados para não nos sentirmos excluídos da sociedade. 
Tudo pesa. E pesa muito. 
Será que precisamos abraçar todo esse peso? 
Alguns nos deixamos afetar por tudo. 
Somos almas que andamos de portas escancaradas.
Qualquer vento entra, qualquer tempestade faz uma grande bagunça. 
Se temos andado com portas e janelas abertas, precisamos de disciplina e silêncio interior. 
Precisamos organizar nossos pesos, nossas responsabilidades. 
Saber destacar o que é nosso e o que não é. 
O que podemos controlar e o que não podemos. 
O que é para agora e o que é para depois. 
Mesmo na esfera da família, onde estão nossas maiores responsabilidades, precisamos de disciplina dos pensamentos e emoções. 
Como pais, por exemplo, se formos esmagados pela ansiedade, pelas expectativas exageradas antes da hora, estaremos carregando pesos desnecessários. 
Certamente, presenciamos a situação em que, num tom de brincadeira, amigos falam para o pai de uma menina de quatro ou cinco anos: 
-Já pensou na adolescência? Primeiro namorado? Essa vai dar trabalho! 
E quase morremos do coração, só de imaginar. 
Naturalmente, trata-se de uma brincadeira.
Mas ela demonstra muito bem como temos esse costume de antecipar sofrimentos, de carregar pesos antes da hora, de criar tensões sem necessidade. 
Alguns de nós, mesmo com os filhos adultos, donos de si, continuamos carregando aquele mesmo peso da primeira infância, quase que as mesmas preocupações. 
Será que estão bem? 
Será que estão se alimentando bem? 
Será que fulano está tratando bem a minha filha? 
Acabamos nos envolvendo em demasia na vida dos filhos, prejudicando o seu desenvolvimento. 
Esquecemos de soltar e vamos carregando um peso que não precisa ser nosso. 
Podemos também colocar referências e expectativas exageradas, distorcidas, para nós mesmos. 
Elegemos ídolos, modismos, meios de vida esdrúxulos, baseados nessa ou naquela crença, por vezes debaixo da bandeira de uma suposta saúde do corpo físico, e acabamos nos escravizando. 
Peso demais! 
Peso demais que nos prejudica a máquina corporal a longo prazo, em nome da beleza, do fisiculturismo, pois colocamos na mente: 
-Eu preciso! 
Será que precisamos mesmo de todo esse peso? 
Vale a pena a reflexão. 
Com um pouco de silêncio interior e disciplina, perceberemos que nem todo peso que carregamos precisa ser nosso.
Elejamos o que ler, o que assistir, com o que nos preocupar, e em que momento. 
Isso é disciplina de pensamento. 
Do contrário, o esgotamento chega antes do que imaginamos e de formas que nos deixarão bastante infelizes. 
Lembremos: nem tudo que pesa é nosso. 
Redação do Momento Espírita 
Em 18.08.2025

domingo, 17 de agosto de 2025

MISÉRIA

Maurice Druon
O garoto levantou cedo.
Naquele dia, junto com os demais colegas, eles iriam conhecer uma favela. 
Meninos ricos, estudando em um colégio maravilhoso, receberam a proposta do professor de sociologia para conhecer as diferenças sociais. O garoto nem podia imaginar o que era uma favela. 
É claro que ele já havia visto meninos de rua, que lhe haviam dito serem filhos de ninguém. 
Mas uma favela, ele jamais vira. 
Todos foram aconselhados a vestir roupas mais simples, a fim de não afrontar a miséria que visitariam. 
Logo que o ônibus foi se aproximando do local, Pedrinho pôde perceber porque aquele local era conhecido na cidade como um flagelo, uma desgraça muito grande que atinge muita gente ao mesmo tempo. 
Não havia estrada asfaltada e, como chovera na noite anterior, a rua era um lamaçal enorme que, com dificuldade, o ônibus ia vencendo. 
Não havia jardins, nem postes, calçadas, vitrinas. 
Nem caminhões de limpeza urbana. 
O lixo se amontoava por toda parte. 
Quando chegaram enfim, à entrada da favela, o que viu foram caminhos estreitos, lamacentos, malcheirosos, insinuando-se por entre tábuas apodrecidas, juntadas de qualquer jeito. 
As tábuas pareciam formar casebres, mas tão esburacados que era difícil acreditar que se pudessem manter em pé. 
As portas eram remendadas com papelão ou velhos pedaços de lata. 
Pedrinho lembrou de sua casa enorme, em que cada um tinha seu próprio quarto, com banheiro individual, uma sala de jogos, uma para televisão, a sala de visitas, de jantar. 
Tantos cômodos. 
E ali, as pessoas se amontoavam nos barracos onde sempre vivia mais gente do que podiam conter. 
Vivendo tão apertados uns com os outros, deveriam se sentir muito mal, ele pensou. 
E infelizes. 
Com certeza, aquela cidade repelente envergonhava a cidade limpa, de cimento e tijolos, varrida todas as manhãs e bem iluminada todas as noites. 
Pedrinho viu um homem batendo na mulher e uma criança chorando, assustada. 
Descobriu que a miséria torna os homens ruins. 
E também propiciava o roubo, que se apoderava das carteiras dos outros. 
O vício, sempre à espreita de qualquer coisa desonesta. 
O crime, sempre de revólver na mão. 
Pedrinho concluiu que, para acabar com aquilo tudo, era necessário amor. 
Só o amor poderia chegar ali e oferecer trabalho. 
Com trabalho, as pessoas conseguem dinheiro. 
O dinheiro permite comprar coisas e aquelas crianças teriam colchão para dormir e cobertas para as noites frias. 
Não passariam fome porque haveria pão e leite sobre as mesas. 
Assim, elas não precisariam mais revirar o lixo, procurando restos de comida. 
Só o amor poderia chegar ali e orientar as pessoas a melhor construir suas casas, ofertando madeira de melhor qualidade.
E as criaturas poderiam se acomodar melhor, não como coelhos dentro de uma toca. 
Só o amor saberia transformar a lama em jardim, os caminhos estreitos em ruas bem alinhadas, com calçadas de pedra. 
Só o amor lembraria de construir uma escola, uma creche para abrigar todas as crianças que ali viviam. 
Com as crianças na escola e na creche, suas mães também poderiam procurar trabalho, que significaria melhores condições para a família. 
Só o amor poderia se lembrar que todos somos filhos de Deus e merecemos viver com dignidade. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 10 do livro O menino do dedo verde, de Maurice Druon, ed. José Olympio. 
Em 31.05.2012.

sábado, 16 de agosto de 2025

A MISÉRIA HUMANA

O homem é habitualmente apontado como o rei da Criação.
Ele sobrepuja o restante dos habitantes do planeta. 
Animais muito fortes e perigosos são domados e vencidos pelo engenho humano. 
Inteligente e dotado de múltiplos talentos, o homem moderno constitui o ápice de uma longa jornada evolutiva. 
Uma retrospectiva histórica revela o quanto a raça humana se aprimorou no curso dos séculos. 
Doenças que no passado dizimaram populações inteiras, hoje não mais assustam. 
Meios relativamente modernos de comunicação, como Rádio, TV e Internet, revolucionam os costumes. 
Mas os recursos da modernidade são freqüentemente mal utilizados. 
Na TV, preponderam programas com conteúdo vulgar e sensacionalista. 
A violência e a sexualidade desregrada são endeusadas em filmes e novelas. 
São freqüentes as notícias sobre corrupção e crueldades. 
A rigor, permanece angustiante o estágio moral da Humanidade. 
As enfermidades e as dores são inerentes à vida material.
Todo corpo humano mais cedo ou mais tarde se desgasta e se extingue. 
A ciência avança e torna menos atrozes as dores, mas não logrará converter em imortal nenhum organismo material. 
É compreensível a tristeza que suscita a morte de alguém querido.
Mas isso está de acordo com as leis da natureza e em geral não causa escândalo. 
O que realmente gera tristeza são as crueldades e baixezas que os seres humanos freqüentemente se permitem. 
Quem poderá aquilatar a desolação de um pai ao saber que seu filho tornou-se criminoso? 
Assim, embora a evolução intelectual e científica dos últimos tempos, a Humanidade continua miserável em muitos aspectos. 
A genuína nobreza é bastante rara. 
Bondade, generosidade e pureza são características bem pouco usuais. 
A ampla maioria dos homens chafurda em vícios e paixões.
Preocupados com seus gozos e interesses, pouco se importam com os estragos que causam na vida do próximo.
Não falta quem afirme que a raça humana desmente a bondade de Deus. 
Se Deus é infinitamente bondoso, tudo pode e sabe, por que fez o homem tão miserável, sob o prisma moral? 
Contudo, é preciso ter em mente que a Humanidade toda não se acha representada na Terra. 
Não é possível aferir o caráter de um povo a partir da população de uma penitenciária. 
A análise da saúde de uma comunidade também não pode ser aquilatada a partir dos internados em um hospital. 
Quem fizesse tal análise, concluiria que todos os habitantes do país são doentes ou criminosos. 
O mesmo ocorre quando se toma por padrão a conduta dos habitantes da Terra em relação à totalidade da Criação. 
Os Espíritos ensinam serem infinitos os mundos habitados. 
A Terra é dos mundos menos evoluídos e por isso constitui morada de seres moralmente atrasados. 
Ela funciona à semelhança de um hospital e de um presídio e abriga Espíritos rebeldes e viciosos. 
Os seres altamente moralizados que, por vezes, aqui aportam estão em missão, à semelhança de médicos em um hospital.
Quem consegue libertar-se de vícios e paixões e se acerta com as Leis Divinas segue para mundos de paz e regeneração. 
Saiba que está em suas mãos conquistar sua libertação.
Dedique-se a domar seu egoísmo e suas paixões. Experimente a ventura de agir com honestidade, pureza e bondade e incorpore esse modo de vida em seu caráter. 
A Justiça Divina é infalível e logo o conduzirá a locais compatíveis com a sua realidade íntima. 
Então, você mudará de idéia a respeito da miséria humana.
Compreenderá que ela é como uma enfermidade. 
Causa algumas dores, mas passa, quando corajosamente combatida. 
Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

CONHECENDO O VELHO PAI

MAURÍCIO DE SOUZA
-Filho, acorda! São oito horas! Você vai se atrasar! 
De um salto, o rapaz se levantou. 
Contudo, logo se deu conta que era seu primeiro dia de férias.
-Atrasar para quê, mãe? 
-Para pescar com seu pai. 
O jovem perdeu todo o entusiasmo. 
Sim, ele prometera, quando estivesse em férias, pescar com seu pai. 
Mas, tinha que ser logo no primeiro dia de férias? 
Enfim, ele foi, mesmo a contragosto. 
Sentado ao lado do pai, que dirigia, cantando, ele pensava em como seu pai estava ficando velho e meio lelé. 
Ficava cantando músicas antigas, ria, conversava e conversava. 
Finalmente, chegaram. 
Quer dizer, o carro estacionou, mas o pai disse que ali não era local apropriado para pesca. Só dava peixe pequeno.
Andaram durante duas horas, no meio de mata densa, até chegar ao pesqueiro secreto do pai. 
-Claro que é secreto, falou o rapaz, incomodado. Ninguém, a não ser você vem aqui. Nem os peixes. 
-Isso é o que você pensa! – Falou o pai. -Aqui é que se reúnem as maiores tilápias da represa. 
E, disposto, colocou botas altas, calças impermeáveis e entrou na água para cortar o mato que tomava conta quase total do lago. 
Tudo aquilo estava parecendo muito doido ao filho. 
Que graça podia ter tudo aquilo? 
Quando o pai preparou a vara e jogou o anzol, ele não aguentou e falou: 
-Pai, estou preocupado com você. Essa maluquice de vir até este fim de mundo para pescar tilápias. E a mamãe falou que você nunca volta com peixe. Já pensou em procurar um psicólogo? 
-Estou ótimo, falou o pai. O Freitas, que vem sempre aqui comigo, é psicólogo. O Tavares é psiquiatra. 
Nesse momento, ele sentiu a fisgada no anzol, puxou a linha e lá estava ela: uma grande tilápia. 
O rapaz estava surpreso. 
-Pai, você já pescou peixe grande assim, antes? 
-Sempre, meu filho. 
-Mas eu nunca vi você levar para casa nenhum. 
-Eu vou mostrar porque, falou o pai. 
E fotografou o filho segurando o peixe. 
Depois, pegou a tilápia e a devolveu à água. 
-Eu pesco por prazer, não para encher a barriga.
Aquilo sim era legal, pensou o filho. 
O resto do dia, passou pescando com o pai. 
E devolvendo às águas o que pescava, depois de fotografar.
-Vá procurar o seu irmão, dizia, soltando o peixe. 
Ao final do dia, no retorno ao lar, confessou que fazia tempo que não se divertia tanto. 
Aquilo era radical. 
À noite, enquanto se preparava para dormir, pensou que seu pai não tinha nada de louco ou de desequilibrado. 
Seu pai sabia viver. 
Seu pai era um gênio. 
E ele descobrira naquele dia. 
* * * 
Você já se dispôs a passar um dia inteiro ao lado de seu velho pai, bebendo da sua sabedoria? 
Já tentou puxar conversa dos tempos em que ele passava brilhantina no cabelo para ir namorar sua mãe? 
Você já pensou que seu pai também foi moleque, adolescente, rapaz? 
Que teve sonhos? 
Olhe seu velho com esses olhos de quem valoriza a experiência, os anos da madureza, as lutas que lhe nevaram os cabelos. 
E, sem receio, abrace seu velho, agradeça por todos os dias de alegria que ele lhe proporcionou. 
Faça isso. 
Mesmo que seja pela primeira vez. 
Hoje, enquanto é tempo e ele está ao seu lado. 
Redação do Momento Espírita com base na história Meu pai... o rei do peixe, de Maurício de Sousa, da Revista Cebolinha, n. 224. Disponível no CD Momento Espírita, v.19, ed. FEP. 
Em 15.08.2025

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

OS MISERÁVEIS

Conta-nos Victor Hugo, em seu livro Os miseráveis que, na França, no século dezoito, viveu um homem que se chamava Jean Valjean. 
Na prisão passou boa parte de sua juventude, embrutecendo seu espírito, acostumando-se a ser tratado como uma fera e agindo como tal. 
Quando foi posto em liberdade, após o cumprimento da pena, recebeu um documento que, segundo lhe disseram, informava seu nome e mencionava que ele era um ex-condenado muito perigoso. 
Na verdade, seu crime fora ter quebrado uma janela e ter roubado um pão para se alimentar e aos filhos de sua falecida irmã, que estavam sob seus cuidados. 
Embora livre, seu futuro era incerto. 
Vagava entre um vilarejo e outro, quando, numa noite muito fria, atreveu-se a bater na porta de uma casa que alguém lhe indicou como sendo de um homem piedoso. 
Um senhor de expressão bondosa e serena o atendeu e, sem fazer perguntas, convidou-o para entrar e comer. 
Valjean entrou, sem acreditar que alguém o pudesse receber com tão poucas reservas e de forma tão acolhedora. 
Quem assim o recebia era o Monsenhor Benvindo, homem caridoso e bom. 
Era assim que ele tratava qualquer criatura que batesse à sua porta, a qualquer hora e em qualquer circunstância. 
Sem questionamentos, servia o que de melhor tinha e tratava o mais simples viajante como se fosse um irmão muito querido. 
Era esse o tratamento que oferecia a Valjean que, embora desconfiado, comeu sem cerimônias e aceitou, sem hesitação, a oferta para dormir ali. 
Na calada da noite, porém, abandonou o vilarejo correndo, carregando um pequeno embrulho e levando em seu coração muita culpa. 
Traindo a confiança e a bondade do monsenhor, Valjean roubara-lhe os talheres de prata e partira sem destino, nem rumo certo. 
Na manhã seguinte, entretanto, foi levado por guardas à presença do seu anfitrião, uma vez que, tendo sido preso portando tais preciosidades, alegou tê-las recebido de presente do bondoso senhor. 
O monsenhor recebeu soldados e acusado com tranquilidade dizendo que deveriam soltar Valjean porque ele havia lhe dado toda sua prataria e que, embora Valjean tivesse levado os talheres, havia esquecido de levar os castiçais. 
Os guardas, espantados, partiram, deixando Valjean com o monsenhor que, sem demora, colocou junto aos talheres os castiçais de prata que possuía. 
O ex-condenado, ante aquela atitude, arrependeu-se ainda mais de sua vergonhosa conduta da madrugada. 
O doador, porém, segurou-o pelos braços e olhando-o fixamente nos olhos, disse-lhe: 
-Jean Valjean, empregue o dinheiro obtido com a venda dessa prataria no esforço de tornar-se um homem de bem. 
Tomado de espanto pela atitude inesperada, Valjean partiu sem jamais esquecer aquela promessa que, embora não tivesse partido de seus próprios lábios, guiou seus passos pelo resto de sua existência. 
* * * 
Deus auxilia os homens através dos próprios homens. 
Vale-se daqueles que se dispõem a ser instrumentos divinos, na tarefa de auxílio e conforto aos seus irmãos.
Por vezes, gestos inesperados e até singelos, são capazes de verdadeiros prodígios para aqueles que os recebem, modificando-os para sempre, conduzindo-os de forma definitiva para o caminho do bem. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Os miseráveis, de Victor Hugo, ed. FTD. 
Em 21.01.2015.