segunda-feira, 31 de março de 2025

PERDENDO TEMPO OU INVESTIMENTO?

DEUS PEDE ESTRITA CONTA DO MEU TEMPO...
É FORÇOSO DO MEU TEMPO JÁ DAR CONTA...
O tempo ainda é um desses mistérios que nos cabe desvendar.
Ultimamente temos ouvido muito a afirmação de que o tempo está passando mais rápido. 
No entanto, vivemos as mesmas vinte e quatro horas, em trezentos e sessenta e cinco dias. 
Então: Isso é verdade ou não? 
Para muitos cientistas, o tempo é uma construção humana, uma forma de medir e organizar os eventos. 
Dessa maneira, fora da Terra, não tem significado. 
Se lembrarmos da teoria da relatividade de Albert Einstein veremos que o tempo não é absoluto. 
Isso quer dizer que ele pode passar de forma diferente, em diferentes lugares do Universo. 
Com certeza, temos muito a descobrir, a entender. 
De qualquer forma, algo que costumamos afirmar, dependendo do que façamos é que perdemos tempo, que gastamos tempo, que desperdiçamos tempo. 
Para cada um de nós tempo é uma questão de administração. 
E o que temos certeza é de que nosso tempo sobre a Terra é limitado.
Sabemos que a vida tem prazo, tem duração. 
E como nenhum de nós recebeu ao nascer, uma caderneta que nos diga quantos anos temos na poupança da vida, o que nos cabe é aproveitar cada segundo. 
Aproveitar significa fazer o melhor uso possível do tempo de que dispomos. 
Tirar proveito de cada momento. 
Na prática, para cada um de nós, significa coisas diferentes, como fortalecer laços de amizade, fazendo-nos mais presentes na vida dos nossos amigos. 
Dedicar preciosos minutos em conversas edificantes, construtivas, que nos instruam, nos propiciem crescimento. 
Ou nos deliciar admirando um belo pôr do sol, sem pressa, com verdadeira admiração. 
Assistir a um filme, extraindo o melhor que nos possa ofertar em termos de trilha sonora, fotografia, interpretação, exemplo de perseverança, de lealdade, de patriotismo. 
Absorver a mente numa leitura que traduza conhecimento, orientação, descontração, bem-estar. 
Quiçá, simplesmente, nos quedarmos na janela olhando o voo dos pássaros que se divertem na manhã de sol, migrando de uma para outra árvore, numa grande algazarra. 
Ou atentar para as rolinhas que passeiam sobre o telhado da casa vizinha, indo e vindo, como à busca de algo. 
Ou será que como nós, humanos, estão realizando a sua caminhada, contando os passos? 
Ficarmos imóveis alguns minutos, de olhos fechados, sentindo a brisa da manhã nos acariciar a face, enquanto o sol ensaia seu despertar. 
Tudo isso será perder ou será investir tempo em algo que nos beneficia o corpo e a alma? 
Pensemos a respeito. 
Todos os dias temos vinte e quatro horas disponíveis. 
Sua administração somente a nós compete. 
Trabalhar muitas horas, dormir em demasia, fazer coisa nenhuma podem ser nossas opções. 
Ou dosar trabalho com breves intervalos de luz, o envio de uma mensagem a quem amamos, um olhar para a paisagem e uma oração de louvor: 
Que maravilha, meu Deus! 
Onde é que o Senhor descobre tantas cores diferentes a cada dia?
Tempo para a refeição com a família ou com os amigos, um momento de descontração para sorrir, para perguntar a quem está ao nosso lado: 
-E aí, tudo bem com você? 
Perder ou investir tempo, a opção é nossa. 
Redação do Momento Espírita 
Em 31.3.2025

domingo, 30 de março de 2025

MENINO DE RUA

Quando você passa e vê um menino de rua, pense um pouco: e se fosse seu filho? 
Quando você o olha e chama de pivete, pergunte-se se gostaria que alguém assim chamasse seu filho. 
Com certeza, você dirá que seu filho está bem protegido e cuidado, em sua casa. 
Que você não o deixa perambulando a esmo pelas ruas da vida. 
E tem razão. 
Você é um pai consciente e amoroso. 
E esse garoto que passa, descuidado e sujo, não tem quem se interesse de verdade por ele. 
Pense que talvez ele esteja nas ruas porque, embora toda a violência que elas apresentam, ainda são melhores do que ele conheceu um dia por lar ou família. 
Você abraça e beija seu filho todas as manhãs. 
Talvez esse menino não tenha recebido outros cumprimentos que palavras rudes e gestos agressivos. 
Também é possível que seus pais o tenham largado à própria sorte, por ser ele muito rebelde. 
Ainda assim, pense que, apesar de todas as malcriações de seu filho, as travessuras, você não o coloca para fora de casa. 
Antes, insiste para que ele se adapte à disciplina e às normas que você estabelece como adequadas. 
Esta é a grande diferença entre esse menino malcriado da rua e seu filho: o investimento da ternura, a disciplina do amor. 
À noite, antes de se recolher, você adentra o quarto de seu filho e o vai beijar. 
Com carinho, ajeita-lhe as cobertas, cobrindo-o, a fim de que ele não se resfrie, nas noites invernosas. 
Esse outro, filho das ruas, não tem sequer uma coberta. 
Muito menos quem o cubra.
Seu colchão é a grama dos jardins ou as pedras das calçadas. 
O único cobertor que recebe é do sereno que o envolve, à medida que a madrugada avança, fria e quieta. 
Quando seu filho apronta das suas, você o chama e enquanto o fixa nos olhos, passa-lhe as lições dos reais valores, dizendo com todas as letras o que você espera dele: que se transforme em um homem de bem, responsável e cônscio de seus deveres. 
Esse outro, menino desleixado e solto, ganha braços fortes de estranhos que o detém, na sua insânia. 
E enquanto se debate, tentando se libertar, somente ouve palavras que reprisam exatamente o que ele não gostaria de ser: vagabundo, sem–vergonha, ladrão. 
Pense: o seu filho tem todas as oportunidades de se tornar um cidadão honrado, que brinde a sociedade com suas boas obras. 
Esse outro, possivelmente, se transformará no celerado que a sociedade abominará, e para o qual somente indicará o encarceramento, a fim de se sentir, ela própria, mais segura. 
Pense: se você não existisse, pai consciente e responsável, seu filho poderia estar nas ruas, em idênticas condições. 
Se você não investisse nele todo seu cuidado, ele poderia estar engrossando as fileiras desses que passam por você, todos os dias, enquanto você dirige para o trabalho ou anda pelas avenidas. 
Poderia ser o flanelinha que no sinaleiro tenta limpar o para-brisa de seu carro, em troca de algumas moedas. 
Poderia ser o menino sem educação, que solta palavrões quando você não lhe oferece nada, e ele espera tanto. 
Poderia ser seu filho... 
Pense nisso e faça alguma coisa. 
Colabore com as instituições que se esmeram em criar lares de acolhimento para essas crianças sem lar. 
Ofereça-se como voluntário para ensinar um esporte, uma atividade produtiva. 
E, se você achar que não dispõe de recursos amoedados ou de tempo para colaborar, doe seu olhar de compreensão, a próxima vez que se deparar com um desses meninos, pivetes, cheiradores de cola, filhos de ninguém. 
Deixe de olhar para ele como um inimigo. 
Ele é também filho de Deus e espera da vida o que todos esperam: alegria, amor, oportunidade. 
Ah, se alguém o pudesse ajudar... 
* * * 
Todo ser que renasce na Terra traz o compromisso do crescimento para a luz. 
Alguns renascem como aves sem ninho, jogadas ao vento dos dias tormentosos. 
Certamente, tudo está no quadro das suas expiações e resgates. 
Mas, se Deus, às aves do céu providencia alimento, que não espera que Seus filhos façam aos seus irmãos, na carne? 
Pense nisso, na próxima vez que o seu olhar deparar com um garoto de rua, triste e solitário, à espera de que alguém descubra nele o Espírito imortal que é, e realize ali o seu investimento de amor.
Redação do Momento Espírita. 
Em 21.07.2014.

sábado, 29 de março de 2025

DETALHES DA INGRATIDÃO

Conta-se que, em Londres, vivia um funcionário de limpeza pública chamado Mollygruber. 
Idoso, era estimado por todos pelos valores morais que cultivava. Uma manhã, quando recolhia o lixo do parque onde trabalhava, viu que um menino se debatia desesperadamente nas águas do lago. Logo percebeu que o garoto estava se afogando. 
Pessoas se aglomeravam, observavam curiosas, barulhentas, sem nada fazer em auxílio à criança. 
O velho trabalhador, embora com suas dores reumáticas, se atirou na água gelada. 
Com dificuldade, trouxe o menino são e salvo, de volta às margens do lago. 
Dada sua saúde precária, caiu desmaiado ali mesmo. 
A ambulância foi chamada e ele foi levado ao hospital. 
Seu feito ganhou as páginas dos jornais. 
Enquanto isso, a mãe do menino que foi salvo, chegou ao local e começou a examinar o filho, totalmente transtornada. 
Em dado momento, olhou para a cabeça do menino e notou a falta do boné que ela dera de presente a ele, naquele dia.
Começou a gritar e a reclamar, dizendo que o velho roubou o bonezinho do seu filho. 
E exigiu que trouxessem de volta o boné. 
Como ninguém atendesse o desejo, por totalmente descabido, ela foi até o hospital. 
Nem se dera conta de que a vida de seu filho, o bem mais precioso, fora preservada. 
Que, graças a Deus, ele estava bem porque fora retirado da água, antes de ficar regelado. 
Não. 
O que ela queria era o bonezinho do garoto. 
Chegando ao hospital, quis ver o velho que realizou o furto. 
Tanto escândalo fez, que o médico de plantão, indignado, disse: 
-Se a senhora não deixar o nosso herói descansar e se recuperar em paz, eu chamo a polícia para prendê-la. 
Com isso, a mulher se calou e foi para casa. 
No dia seguinte, o idoso trabalhador morreu. 
Os moradores da região, onde ele era visto com retidão há anos, inundaram o parque de flores e de letreiros com mensagens de gratidão. 
Era uma sincera homenagem a quem doou a própria vida para salvar uma criança desconhecida. 
* * * 
Por vezes, esquecemos de ser gratos a dádivas que nos são ofertadas.
Em vez de lembrarmos das alegrias que nos chegam, dos amigos que nos brindam com sua presença, lembramos somente da maldade que  tivemos em algum momento. 
Assim, um amigo nos oferece seu carinho e atenção por anos. 
Certo dia, em que ele não está bem e nos dirige uma palavra infeliz, de imediato o descartamos de nossa convivência. 
E, dali por diante, a todos os que encontramos, diremos da nossa mágoa, das palavras que recebemos da má educação do ex-amigo. 
Contudo, nos dias de felicidade e bem-estar, não ficamos alardeando tudo o que aquela pessoa nos ofereceu. 
Esquecemos de que passou a noite conosco, no hospital, quando nos acidentamos e nossos familiares estavam distantes. 
Esquecemos a sua carteira farta, nos dias das nossas necessidades, nunca exigindo pagamento dos dispêndios que teve conosco. 
Não registramos os dias de alegria das férias compartilhadas, os passeios realizados, os momentos em que alimentamos nossa alma com a sua alegria e disposição. 
Pensamos apenas no ato infeliz de um dia, de um instante. 
Pensemos um pouco, antes das vitórias que nos chegam, se estamos despreparados como aquela mãe equivocada. 
Pensemos. 
Redação do Momento Espírita com baseado na história antiga. 
Em 29.03.2025

sexta-feira, 28 de março de 2025

MENINO BANDIDO

CHICO XAVIER
Na praça, a multidão, tumultuada, observava um homem triste, algemado, em plena rua. 
Os gritos de condenação ecoavam por todos os lados: 
-Assassino! Celerado! É uma fera solta! - Diziam uns. 
-É um monstro que merece o devido castigo. -Gritavam outros. 
-Donde vieste, matador cruel? 
E o infeliz, cansado, mal se aguentando nos pés, implora por misericórdia. 
-Por Deus, me poupem a lembrança! Já basta a aflição que me oprime a alma... Vocês me perguntam quem eu sou e de onde venho. Pois bem, eu vou lhes dizer. Eu fui aquela criança a quem todos fecharam a porta... Fui o pequeno mendigo que todos viram passar, indiferentes à minha sorte. Fui aquela criança sem lar, sem escola, sem saúde, sem esperança... Faminto, descalço e roto, a minha vida era assim... Cresci na lama do esgoto e nunca tive alguém por mim... Jamais provei um abraço caloroso de mãe ou de pai, de irmão ou de amigo. Hoje dizem que sou um réprobo, mas o que se pode esperar de alguém excluído da sociedade como eu? 
E, por fim, limpando o pranto abundante que lhe corria no rosto, conclui: 
-Nem eu mesmo sei quem eu sou. Talvez seja um monstro, um assassino cruel, um assaltante sem escrúpulo ou, quiçá, seja apenas um pequeno mendigo moral, diante dos olhos de Deus. 
A multidão silenciou... 
Nada mais se ouviu além dos passos trôpegos daquele homem triste a caminhar na direção do cárcere... 
* * * 
Se analisássemos a história de cada ser humano que se perde nos lodaçais do crime, talvez fôssemos menos implacáveis em nossos julgamentos. 
Lembremos que essas criaturas que vivem à margem da sociedade são nossos irmãos, necessitados de amparo e orientação. 
São seres que sentem, sofrem, lutam e se desesperam diante da nossa indiferença. 
Jesus, conhecedor da história de cada um dos Espíritos confiados à Sua guarda, sabia que os homens são mais frágeis do que perversos.
E é essa fragilidade que os faz amargos, rebeldes e violentos diante da própria impossibilidade de soerguimento. 
São esses os verdadeiros enfermos da alma que necessitam de médico, de tratamentos e não os sãos, conforme afirmou Jesus. 
* * * 
Existem países em que o regime penitenciário é totalmente voltado à regeneração do infrator e não de punição pura e simples. 
As autoridades entendem que a pessoa que comete crimes está enferma e como tal deve ser tratada. 
É por esse motivo que nesses países o delinquente trabalha e estuda.
Se tirou a vida de um pai, por exemplo, deve sustentar financeiramente a família da vítima, bem como a sua própria família, de maneira a não se constituir num peso para o Estado. 
Ao cumprir a pena, o indivíduo está apto a ser reintegrado à sociedade, da qual, em verdade, jamais foi excluído. 
Redação do Momento Espírita com base na poesia A primeira pedra, do livro Antologia dos imortais, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. Feb. 
Em 26.04.2010.

quinta-feira, 27 de março de 2025

A MENINA QUE DORMIA

ESPÍRITO AMÉLIA RODRIGUES
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Segundo consta do Evangelho, em certa ocasião Jesus foi chamado a intervir em favor da filha de um homem chamado Jairo. 
Entretanto, antes que chegassem à casa onde estava a enferma, foi recebida a notícia de que ela já havia morrido. 
Jesus consolou o pai aflito e lhe disse que nada deveria temer. 
Ao chegarem ao destino, havia muito choro e alvoroço. 
Entrando à residência, Jesus afirmou não haver razão para pranto, pois a menina apenas dormia. 
Tomando a mão da filha de Jairo, disse: 
-Menina, levante e ande, sendo imediatamente obedecido. 
* * * 
Essa bela passagem evangélica enseja várias linhas de reflexão. 
O sono espiritual por vezes se assemelha à morte. 
Os que observam quem dorme não raro o acreditam morto para as questões espirituais. 
A crueldade e a indiferença são identificadas como estados terminais.
O homem cruel não suscita simpatia e surge a ideia de que ele jamais se recuperará, em termos morais. 
Do mesmo modo, a criatura egoísta parece jazer em um esquife de indiferença. 
Justamente por isso, os que se consideram despertos e ativos abdicam de esforços em favor deles. 
Como na passagem evangélica, entendem que resta apenas lamentar a morte moral dessas criaturas. 
Contudo, a vida é inesgotável e ninguém jamais se transvia em definitivo. 
Muitos se comprazem em culposo sono, longe das responsabilidades que lhes cabem na sociedade em que vivem.
Outros até dão mostras de putrefação moral, ao se permitirem grandes baixezas. 
Para não se darem ao esforço da renovação íntima, optam pelo sono da negligência. 
Esse sono pode durar milênios, a denotar rebeldia com os propósitos superiores da existência imortal. 
Os que dormem ficam até irritadiços com quem lhes sinaliza a necessidade de levantar. 
Apegam-se a variadas espécies de anestesia da alma. 
Entregam-se ao gozo de sensações efêmeras, à busca de poder, até se justificam com a adesão a correntes de pensamento focadas no egoísmo. 
Mas sempre chega o momento de despertar. 
O crescimento íntimo constitui um desígnio divino e ninguém se furta dele. 
Seja mediante um grande amor, uma profunda dor ou mesmo pelo amargor que as ilusões do mundo produzem. 
Cedo ou tarde, a realidade da vida se impõe e a necessidade de se tornar fraterno e puro aparece. 
Gradualmente, o apetite pelas coisas mundanas cessa e um desolador vazio se instala na alma. 
Esse vazio apenas pode ser preenchido pelo atendimento ao amoroso convite do Messias Divino: 
-Levante e ande! 
Ciente disso, agilize seu despertar pela reflexão a respeito das mensagens cristãs. 
E também nunca se permita considerar seus semelhantes como perdidos! 
Um a um, todos despertarão para a sublime beleza do amor pujante e imortal.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2 do livro A mensagem do Amor Imortal, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 30.5.2019.

quarta-feira, 26 de março de 2025

A MENINA E O PÁSSARO

RUBEM ALVES
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. 
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. 
Os pássaros comuns vão embora, se a porta da gaiola estiver aberta, para nunca mais voltar. 
Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades... 
Suas penas também eram diferentes. 
Mudavam de cor. 
Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. 
Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão. 
-Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que eu vi, como presente para você... 
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. 
Até que ela adormecia e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez ele voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça. 
-Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes. 
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. 
E o pássaro amava a menina e, por isso, voltava sempre. 
Mas chegava sempre a hora da partida. 
Chorava a menina e chorava o pássaro. 
E a menina pediu ao pássaro que não mais partisse. 
-Eu vou lhe contar um segredo, disse-lhe o pássaro, as plantas precisam da terra, os peixes precisam dos rios, nós precisamos do ar... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar. 
Assim ele partiu. 
A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. 
Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. 
Nunca mais terei saudades e ficarei feliz. 
Com esses pensamentos, comprou uma linda gaiola e ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. 
Cansado da viagem, adormeceu. 
Foi então que a menina, cuidadosamente o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. 
E adormeceu feliz. 
Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro. 
-Ah! Menina... O que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias... Sem a saudade, o amor irá embora... 
A menina não acreditou. 
Pensou que ele acabaria por se acostumar. 
Mas isto não aconteceu. 
O tempo ia passando e o pássaro ia ficando diferente. 
Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas se transformaram num cinza triste. 
E veio o silêncio. 
Também a menina entristeceu. 
Não, aquele não era o pássaro que ela amava. 
E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... 
Até que não mais aguentou. 
Abriu a porta da gaiola. 
-Pode ir, pássaro, volte quando quiser.... 
-Obrigado, menina. Eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. 
E o pássaro partiu. Voou para lugares distantes. 
A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia...
-Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo... 
E colocava flores nos vasos à espera do seu amigo... 
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. 
Porque, em algum lugar ele deveria estar voando. 
De algum lugar, ele haveria de voltar. 
À noite, a menina ia para a cama com saudades, mas também com as esperanças do reencontro renovadas. 
-Ah! Mundo maravilhoso que guarda, em algum lugar secreto do Universo, em plena liberdade, o pássaro encantado que se ama... E que um dia, com certeza, vai voltar... 
Redação do Momento Espírita, com base em história do livro A menina e o pássaro encantado, de Rubem Alves, ed. Loyola. 
Em 13.08.2012.

terça-feira, 25 de março de 2025

Por que não somos felizes?

Estamos num mundo criado por Deus, idealizado, nos mínimos detalhes para que nos atenda às necessidades. 
Tudo pensado, preparado para que não nos falte o solo, o ar, a água, o pão, a beleza. 
Sabemos que somos filhos de Deus. 
Como Deus é amor, fomos, naturalmente, gerados por Seu amor.
Somos imortais, o que nos sinaliza que as possibilidades de crescimento são infinitas porque somos donos da Imortalidade.
Então, por que não temos paz? 
De um modo geral, dizemos que perdemos a paz quando perdemos o emprego. 
Perdemos a paz quando a enfermidade nos abraça, de forma violenta, castigando-nos o corpo. 
Perdemos a paz porque nos importamos muito mais com o que pensam os outros a nosso respeito, do que com nossa própria consciência. 
Se sabemos o que é certo e o que é errado, a paz de consciência nos alcançará quando agirmos conforme os ditames dela. 
Por vezes, perdemos a saúde porque não a preservamos. 
Nascidos saudáveis e numa família com histórico de vida longa, acreditamos que tudo podemos fazer. 
Dessa maneira, vamos dos exageros da mesa ao excesso de trabalho, sem os intervalos de descanso e lazer, tão importantes. 
Alimentamos a mente com as coisas tolas do mundo, deixando de supri-la com leituras agradáveis, de saber, de harmonia, de coisas positivas. 
Estamos mais ligados na vida alheia, no que conquistou, no que faz, para onde vai, do que com a nossa própria. 
Desejamos fazer o que dizemos que todos fazem. Importante que amadureçamos nosso senso crítico, deixando de nos comandar pela opinião da massa. 
Precisamos aprender a agir individualmente, mesmo porque não podemos garantir se a massa tomou consciência do que é certo ou errado. 
Cabe a nós agir corretamente porque responderemos individualmente por nossos atos. 
Muitas vezes dizemos que todos fazem. 
Por isso, podemos fazer também. 
Deixamos de lado nossos valores, a educação recebida nos anos da infância, para agir como os demais. 
Importante ajustarmos as nossas lentes para percebermos que muitos agem certo, que existem muitas pessoas no mundo que trabalham, se esforçam para ser melhores. 
O que acontece é que, de um modo geral, focamos mais nosso olhar naqueles que agem de forma equivocada, que têm vida desordenada e fútil. 
Não percebemos que uma maioria vive o bem, forma sua família e se preocupa com a educação dos filhos, desejando que se tornem cidadãos do bem. 
Uma maioria é honesta, cuida dos seus idosos e das suas crianças, frequenta um templo religioso, atende o voluntariado. 
Se desejamos seguir a maioria, vejamos esses. 
Lembremos que, desde o estabelecimento do Decálogo no mundo, o homem tem diretrizes seguras a seguir. 
Quem o faz, ganha a aprovação de sua própria consciência, desde que a Lei de Deus está na consciência de cada um. 
Assim, seremos felizes quando seguirmos os ditames de nossa consciência desperta, que nos diz que estamos na Terra para amar e progredir. 
Que somos seres imortais, destinados à perfeição, que somente pode ser conquistada no dia a dia das nossas vidas, com esforço e perseverança. 
Cresçamos para a luz e sejamos felizes, desde agora. 
Redação do Momento Espírita 
Em 25.03.2025

segunda-feira, 24 de março de 2025

NA MEDIDA CERTA

Ele adoecera gravemente. 
O diagnóstico fora quase aterrador. 
Parecia uma sentença de morte para quem estava prestes a cruzar a linha de chegada dos cem anos. 
O tratamento prescrevia quimioterapia e radioterapia. 
Sessões diárias, por semanas. 
Finalmente, conseguimos autorização dos que lhe compõem a família física e o pudemos visitar. 
O abatimento dele era visível.
Natural, pensamos nós, para quem está com tratamento tão agressivo e soma mais de nove décadas. 
Emagrecera muito. 
A voz não possuía o vigor de a pouco, quando ainda o ouvíamos em suas atividades doutrinárias. 
No entanto, o que mais nos chocou foi o olhar. 
Parecia ter perdido o brilho, aquele brilho que estávamos acostumados a ver. 
Olhar que sabia sorrir, de longe, quando avistava um amigo. 
Olhar que envolvia a pessoa, mesmo que ela estivesse à distância.
Aquele olhar de tantos benefícios. 
Conversamos pouco. 
Sabíamos que não poderíamos nos deter em seus aposentos por muito tempo. 
Fôramos avisados para sermos breves. 
Como se fosse possível marcar tempo para a amizade, que deseja abraçar, aconchegar, contar novidades, trazer para dentro de quatro paredes todo o dinamismo de um mundo que aprendeu a amar esse ser tão especial. 
Como se pudéssemos traduzir de forma abreviada todos os recados dos tantos amigos que o amam, que estão distantes mas presentes.
Como se rapidamente pudéssemos dizer dos que oram, dos que lhe enviam votos de recuperação, dos que gostariam de ter notícias suas... 
Quando acalmamos nossa torrente de notícias, o olhamos mais uma vez. 
Ele sorria, embora não fosse aquele sorriso espontâneo, atrás do qual estávamos acostumados a ouvir uma pergunta gentil, uma observação especial. 
Então, ele nos disse: 
-Atualmente, a única coisa que posso decidir em minha vida é se deixo a minha janela aberta ou fechada. 
A frase foi curta. 
Ligeira. 
Talvez se não tivéssemos ouvidos de ouvir nem tivéssemos percebido que o amigo, na atual condição de enfermidade que o maltrata, falava do quanto desejaria poder reger a própria vida. 
Como sempre fizera, desde os verdes anos da juventude quando saíra da casa paterna para conquistar o mundo, no mercado de trabalho.
Depois, conquistar o universo dos corações, com sua dedicação ao bem e oferta da sua amizade. 
Ficamos a cogitar quantas vezes, nós, por desejarmos preservar o nosso afeto, em situações semelhantes, lhe tolhemos a liberdade.
Estabelecemos regras rígidas de alimentação, de acomodação, de horários, do que pode ou não fazer. 
Não nos preocupamos em perguntar: 
-O que gostaria de fazer hoje? Quem sabe estar conosco à mesa? Gostaria que contatássemos algum amigo em especial para o vir visitar? Que podemos fazer para que você sinta que o amamos intensamente mas que não o desejamos sufocar com nosso amor? 
* * * 
O maior amor é aquele que renuncia em benefício do ser amado.
Saibamos dosar nossos cuidados, não retirando a liberdade de quem pode estar idoso ou enfermo, mas está lúcido e prezaria tomar suas próprias decisões. 
A alegria se faz de pequenas coisas. 
Não retiremos isso de quem amamos. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.03.2025

domingo, 23 de março de 2025

O MENESTREL DE DEUS

S.FRANCISCO DE ASSIS
Ele era um jovem nascido em Assis. 
Na sua mocidade, era alegre, apreciava cantar e sair com amigos.
Pensava em se tornar um cavaleiro, defensor de pobres e oprimidos.
Partiu para uma batalha, foi feito prisioneiro e retornou ao lar quase um ano depois, enfermo. 
Nunca mais foi o mesmo. 
Dentro de si sentia que tinha algo muito importante a realizar na Terra.
Então, ouviu uma voz que o convidava a agir. 
Francisco de Assis atendeu o convite e causou grande revolução no pensamento religioso da época. 
Ele se dizia o menestrel de Deus. 
Amava a música e compunha canções. 
Fazia um arco de viola imaginário com um graveto e cantava para seus amigos, enquanto andava pelas estradas. 
Embora não tenhamos registro da melodia, os versos de algumas dessas composições emocionam até hoje. 
Um dos grandes hinos que ele deixou brotar de sua inspiração é uma canção adiantada vários séculos em relação a seu tempo. 
Uma canção de sensibilidade e, podemos acrescentar, também ecológica. 
Francisco dizia que a criação de Deus não era somente bela, mas também era boa. 
Era boa porque retratava a bondade do Criador. 
Francisco reconhecia tudo o que havia na criação como irmã, irmão e amigo seu. 
Ele amava o sol, a lua e as estrelas, o vento, o ar, a água, o fogo.
Todo ser vivo, tudo que brotava da terra. 
Mesmo quando a cegueira lhe apagou a luz dos olhos, ele continuou a compor. 
As cores das flores eram somente lembranças, mas ele as louvava em cânticos. 
Para Francisco, a fraternidade ia além das pessoas. 
Tudo, dizia ele, vem de Deus, está ligado a Deus e encontra seu sentido em Deus. 
A canção Louvação a Deus foi composta após uma noite exaustiva de muitas dores físicas. 
É o primeiro exemplo de poesia em italiano vernáculo.
Altíssimo, todo poderoso, bom Deus, a Ti o louvor, 
A glória e a honra e todas as bênçãos. 
A Ti somente, Altíssimo, elas pertencem 
E homem algum é digno de mencionar Teu nome. 
Sê louvado, Senhor, com as Tuas criaturas, 
Especialmente o senhor irmão sol 
Que é o dia e por meio do qual nos dás a luz. 
E ele é belo e radioso com grande esplendor 
E feito à Tua semelhança, Altíssimo. 
Sê louvado, Senhor, pela irmã lua e as estrelas 
No céu as formaste, claras, preciosas e belas. 
Sê louvado, Senhor, pelo irmão vento, e pelo ar nublado e sereno 
E todos os tipos de clima por meio dos quais dás sustento a Tuas criaturas. 
Sê louvado, Senhor, pela irmã água, 
Que é muito útil e humilde, preciosa e pura. 
Sê louvado, Senhor, pelo irmão fogo, por meio do qual iluminas a noite 
E ele é belo e alegre. 
Sê louvado, Senhor, por nossa irmã, a mãe terra que nos sustenta e governa e que produz variados frutos, com flores e ervas coloridas. 
O jovem e romântico trovador se tornara o menestrel de Deus.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Quinze (1225-1226), do livro Francisco de Assis, o santo relutante, de Donaldo Spoto, ed. Objetiva. 
Em 28.07.2016.

sábado, 22 de março de 2025

MELINDRE OU AGRESSIVIDADE?

André Marcílio Carvalho de Azevedo
Melindre tem várias definições. 
Pode ser definido como amabilidade, delicadeza no trato, recato, pudor. 
No entanto, é quase certo que ao ser utilizado pelas pessoas, o conceito que expressa é de facilidade de se magoar, de se ofender, suscetibilidade. 
Nesse sentido, tem sido comum a sua invocação, nas relações humanas. 
As menores atitudes de um funcionário, de um amigo recebem a adjetivação imediata. 
Por isso, amizades se diluem, desentendimentos acontecem, duplicando mágoas de um e de outro lado. 
Nas várias facetas do trabalho voluntário, melindre tem sido utilizado para justificar defecções, traições, desajustes e quebra moral de contratos de voluntariado. 
Que ele existe, é verdade. 
Mas que as pessoas se dão, por vezes, um valor maior do que verdadeiramente possuem e aguardam tratamento especial, também é verdade. 
No entanto, um outro lado da questão se apresenta e tem sido esquecido, quase sempre. 
Se melindre é a manifestação do orgulho ferido, não menos verdade que medra, entre as criaturas, muita falta de tato, delicadeza e gentileza. 
Em nome de uma falsa caridade, de expressar a verdade, amigos e companheiros de trabalho se permitem lançar ao rosto do outro tudo que pensam. 
E não medem palavras nas suas expressões. 
É como se tomassem de pedras e as jogassem, sem piedade. 
E o que esperam é que o outro aceite tudo. 
Quando o agredido se insurge, quando toma uma atitude, quando fala de respeito, é tomado como aquele que se melindra. 
Contudo, em nenhum momento o agressor, aquele que foi indelicado e feroz, se desculpa. 
Não, ele está certo. 
O outro é que é portador de muito orgulho. 
Nesse diapasão, vidas honradas de trabalho têm sido literalmente jogadas no lixo. 
Servidores de anos têm tido seus esforços depreciados, como se fossem coisa alguma. 
E o que critica maldosamente, o que aponta os erros mínimos é o herói, a pessoa correta. 
Refaçamos os passos enquanto é tempo. 
Antes de destruirmos valores afetivos preciosos. 
Antes de atacarmos instituições centenárias com folha irrepreensível de dedicação e serviço à comunidade. 
Examinemos quantas vezes a culpa nos compete. 
Quantas vezes teremos sido nós os provocadores do afastamento de pessoas de nosso convívio. 
Ou da instituição a que prestamos serviço. 
Da nossa família, da nossa esfera de amizades. 
Recordamos que, certa vez, em reunião de trabalho, um voluntário interrompeu de forma agressiva a fala do coordenador. 
Reclamou e reclamou, ferindo e humilhando-o frente aos demais. 
O ferido se calou, dolorido. 
Depois de alguns dias, procurou o agressor em particular. 
A sós com ele, expressou a sua mágoa, com o sincero objetivo de modificar a emoção ferida e apaziguar seu mundo íntimo. 
O interlocutor, em vez de reconhecer a indelicadeza, reverteu a situação e deu o diagnóstico impiedoso: não houvera agressão de sua parte. 
O outro é que se melindrara. 
Pensemos nisso. 
Será que a constatação quase diária de melindre nos outros não se tornou uma válvula de escape para nós? 
Uma desculpa para a nossa rispidez cotidiana, o nosso relaxamento no trato com o semelhante? 
* * * 
Quem se melindra, deve trabalhar para se tornar menos suscetível.
Mas quem provoca o melindre não pode se esquecer da lei de caridade, da afabilidade e da doçura preconizados por Jesus: 
-Bem-aventurados os mansos e pacíficos. 
Redação do Momento Espírita com base em fato narrado no artigo O problema do melindre, de André Marcílio Carvalho de Azevedo, da Revista Presença Espírita nº 261, ed. Leal.

sexta-feira, 21 de março de 2025

A RIQUEZA DA MEMÓRIA

Algo espetacular em nossas vidas se chama memória. 
É ela que nos viabiliza viver, em tempo simultâneo, o ontem e o hoje.
É maravilhosa essa possibilidade que nos permite viajar pelo tempo, em velocidade mais rápida que o som. 
Vamos ao passado, ao vivido para tornar a nos emocionarmos, relembrando tempos em que amores estavam conosco. 
E, o mais importante, recordar suas falas, seus risos, que ilustraram nossos dias da infância, da adolescência. 
Um ontem vivido em todas as suas nuances. 
Dias em que as dificuldades eram muito grandes. 
Criança, cedo nos demos conta de que éramos diferente das colegas que frequentavam nossa mesma classe escolar. 
O uniforme nos igualava.
Contudo, bastava que a hora do recreio nos reunisse e podíamos distinguir a diferença nos lanches. 
Com nosso paladar faminto de sabores diversos do nosso pão com marmelada feita em casa, com os frutos do próprio quintal, devorávamos com o olhar cada bocado daqueles itens deliciosos.
Eram coloridos, vistosos, uns sanduíches com mais de uma camada, bolos recheados de creme e chocolate, cerejas, pêssegos. 
Tudo o que não tínhamos. 
Contudo, bastava adentrarmos nossa casa, para penetrar um mundo diverso. 
Um mundo com um quintal enorme, onde se multiplicavam as árvores frutíferas. 
Árvores que escalávamos todos os dias, para saborear os frutos que ofereciam: ameixas amarelas, deliciosas; laranjas e mimosas; caqui chocolate. 
Também andávamos debaixo das vinhas bem cuidadas pelo nosso avô, para beliscar os cachos das tantas espécies de uva: rosada, branca, negra, grãos graúdos, grãos miúdos. 
Nosso desafio era o abacateiro. 
Difícil de escalar. 
Os galhos estavam mais acima, como se quisessem se preservar das nossas peraltices de confiscar seus frutos. 
Hora das refeições era na mesa enorme da cozinha. 
De mãos lavadas, postura correta na cadeira de palha, lá estavam os avós, os pais, os irmãos. 
Como era generosa a refeição, com tantos à mesa, querendo se servir ao mesmo tempo, falando ao mesmo tempo. 
Hoje, quando escuto a passarada na árvore defronte à minha casa, não posso me furtar a pensar: 
-Parece a minha família, em anos passados, quando ainda estávamos todos do lado de cá. 
Detalhes importantes em nossa infância/adolescência foram a biblioteca da escola e a da cidade. 
Os livros eram nosso tesouro. 
Com alegria, recordamos que quando descobrimos o enigma das letras, passamos a desejar livros, muitos livros. 
Num trato muito especial, tínhamos autorização para comprar um exemplar por mês. 
Verdade que nem sempre era aquele que desejávamos pois tínhamos um limite de valor. 
Conservamos, ainda, em nossa biblioteca, espalhada em prateleiras, armários, mesas, aqueles livros adquiridos, com sacrifício da economia doméstica mensal. 
Itens de inestimável valor. 
Pelo conteúdo, pelo que significam de renúncia de quem no-los ofereceu. 
Então somos só gratidão. 
Gratidão pela vida, pelos desafios compartilhados, pelos afetos vivenciados, que hoje, da Espiritualidade, nos aguardam a chegada.
Abençoada memória que nos permite as viagens no tempo... 
Redação do Momento Espírita 
Em 21.03.2025

quinta-feira, 20 de março de 2025

A MELHOR VISÃO

O que faríamos se, depois de anos de vida com visão total, perdêssemos a possibilidade de ver? 
Por certo, alguns de nós diríamos que seria muito difícil de nos habituarmos. 
Afinal, quem nasce deficiente visual ou na infância é privado da visão, tem amplas possibilidades de adaptação.
Pois a canadense Elizabeth nos oferece um exemplo digno de ser relatado. 
Próximo aos setenta anos, ela perdeu a visão, por causa de uma degeneração macular. 
Conservou a visão periférica. 
Ela não pode preencher um cheque, nem dirigir, ler uma carta ou um livro, nem assistir a um filme ou uma peça. 
Não pode fazer uma lista de compras, maquiar-se, fazer um penteado, enfim, tudo o que achamos normal e necessário. 
Ela mora em Vancouver, sozinha e todos os dias passeia com seu cão, Kiri e sua bengala branca. 
Tem uma invejável disposição para aproveitar todos os seus momentos. 
Fala com todos os passantes, nem que seja apenas um animado Bom dia. 
Os que não a conhecem, ficam intrigados com os límpidos olhos azuis, que parecem tudo ver, mas que pouco enxergam. 
Acompanhá-la em suas caminhadas é um constante andar e parar, porque ela se detém a todo momento a falar com mais alguém. 
Para ela, todos são interessantes. 
Os donos das lojas a conhecem. 
As crianças a chamam pelo nome. 
Há algum tempo, uma amiga pediu que ela falasse com uma senhora que tinha degeneração macular em estágio inicial e estava arrasada.
Elizabeth recebeu ambas em sua casa, na sala ampla. 
E foi logo dizendo:
-Em primeiro lugar, é bom que você saiba que não se morre de degeneração macular. Em segundo lugar, devo lhe dizer que você tem direito a três boas crises de choro. Eu fiz isso. Você também é capaz. 
Durante mais de uma hora, tratou da vida prática: como e onde obter auxílio, como lidar com as questões diárias, as limitações que surgiriam a pouco e pouco. 
E se dispôs a acompanhá-la no processo de adaptação, frisando: 
-Mas, lembre-se, só três crises de choro! Depois siga em frente.
Elizabeth se acostumou com os livros falados, que recebe todos os meses. 
Tem muitos amigos e acha que se enxergasse, talvez não tivesse feito tantos. 
Ela nunca entrará numa livraria para folhear livros, ler o índice e decidir ou não pela compra. 
Não saberá a cor da roupa que estará comprando, a não ser que lhe digam. 
Não vê o rosto dos seus netos, mas adora ser paparicada por eles.
Também não vê, há mais de dez anos a face de suas filhas. 
Para isso, ela tem um remédio eficaz, que assim expressa: 
-Minhas filhas? Bem, nunca vão parecer mais velhas para os meus olhos. 
* * * 
Exemplos assim nos devem motivar à reflexão acerca dos dons de que dispomos. 
Especialmente a visão. 
Podemos nos encantar com as flores que desabrocham no jardim, a roupa nova que acabamos de vestir. 
Podemos vibrar com a estreia de um filme, olhar as pessoas.
Importante, no entanto, que adestremos a visão profunda, interior.
Exatamente aquela que concede essa força tremenda de superar limites e apreciar as coisas boas. 
Uma percepção que faz com que, em verdade, vejamos mais do que a maioria das pessoas e possamos nos tornar criaturas francas, simples, de bem com a vida. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O que importa para Elizabeth, de Pat Gould, da Revista Seleções Reader’s Digest, de janeiro/2004. 
Em 05.04.2016.

quarta-feira, 19 de março de 2025

O MELHOR PRESENTE

Marian Wright Edelman
Você já teve, alguma vez, dificuldade para escolher um presente para alguém? 
Isto é, ficou se questionando o que deveria comprar: o que fosse mais útil, o mais vistoso, o mais bonito, o mais caro? 
Uma mulher que procurava presentes para seus filhos, sem ter certeza do que eles usariam ou do que eles desejariam, escreveu mais ou menos assim: 
"Por vezes é importante recordarmos as lições sobre o que é presentear de verdade. 
Ganhei amor pela leitura porque meu pai me mandava ler e tinha um escritório cheio de livros, com os quais passava horas todos os dias.
Comprar livros para aprimorar as mentes dos cinco filhos era, para meu pai, uma prioridade superior a comprar brinquedos e roupas supérfluas. 
O exemplo de meus pais me deu a crença de que eu e outros podíamos fazer mais do que reclamar, torcer as mãos ou ceder ao desespero em face dos males que infestam o mundo. 
Meu pai, um professor e pastor, procurava educar a mente dos fiéis, além de tocar seu coração. 
Ensinava que a fé necessitava de ação e que a ação só podia ser sustentada pela fé, diante do desalento diário e da injustiça em nossa sociedade. 
A força que possuo hoje me foi presenteada pela firmeza de minha mãe perante duros desafios. 
Dela recebi o interesse pelas crianças sem lar, que ela adotou depois da morte de meu pai. 
Ainda hoje eu me envergonho de meu ressentimento quando me pediram que partilhasse o quarto, por alguns dias, com uma criança sem teto. 
Enquanto eu crescia, minha mãe me deu muitos irmãos e irmãs de criação. 
Quem me ensinou a lidar com o medo foi uma mulher que morava numa casa de quatro cômodos, sem pintura, com uma grande varanda na frente e outra, pequena, nos fundos. 
Eu adorava ficar com ela quando meus pais viajavam para alguma convenção ou para visitar algum parente. 
Certo dia, quando uma grande tempestade de verão ameaçava desabar, ela me pediu que apanhasse as roupas penduradas na varanda dos fundos, para que não ficassem encharcadas. 
Quando me dirigia para a varanda, ouvi um grande trovão. 
Corri de volta e disse para a senhora Thereza que tinha medo de ser atingida por um raio. 
Ela me explicou calmamente sobre a fé em Deus, enquanto ia comigo pegar as roupas. 
Enfim, verifico que nem sequer me lembro da maioria dos presentes que ganhei quando criança. 
Mas levo comigo, com o maior carinho, as lições de vida que na infância recebi de meus pais e dos adultos interessados e afetuosos da comunidade. 
Espero, sinceramente, que essas recordações me deem forças para parar de fazer compras e, em vez disso, dar a uma criança um presente de verdade: tempo compartilhado com um adulto que se interesse por ela e que lhe repasse valores que durarão para sempre."
 * * * 
Espírito Rabindranath Tagore
e Divaldo Pereira Franco
Quando acaricias o teu filho, agradas a ele ou te confortas a ti?
Quando o teu filho sonha, podes imaginar o país por onde ele viaja, nas asas do sono? 
Saberá alguém o que pensa a criança na rápida quadra infantil? 
As fadas dos sonhos, que habitam a aldeia da felicidade, essas sabem o que se passa com as crianças. 
Se abrires as portas do coração para que elas te venham ensinar, o seu canto de amor te dará a música para todas as melodias que deves ofertar às tuas crianças. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Os melhores presentes, de Marian Wright Edelman, de Seleções Reader´s Digest, de dezembro/2001 e versos finais do Canto XVII, do livro Estesia, pelo Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 11.12.2013.

terça-feira, 18 de março de 2025

TEA - te amo, te apoio, te ajudo

A frase está estampada numa xícara de chá: 
TEA - te amo, te apoio, te ajudo. 
Além da bem-humorada menção à palavra tea, que significa chá em inglês, a belíssima proposta é lema de uma campanha de conscientização sobre o autismo. 
Crianças e adultos atípicos necessitam dessa compreensão de todos nós, para poderem encontrar mínimas condições de sobrevivência. 
O te amo muito forte começa com os mais próximos, aqueles que aceitamos o desafio, antes do nascimento, de receber como filhos ou tutelados, 
Espíritos que passariam por essa prova específica. 
Amor incondicional, aconteça o que acontecer, enfrentando o que quer que se apresente, o que venha pela frente. 
Imaginemo-nos, por um instante, no lugar de um autista, no lugar de alguém com esse nível de desafio. 
Antes de nascer, sabendo que seria portador do Transtorno do Espectro Autista.
Imaginemos escutar, daqueles que serão os nossos pais, ou responsáveis: 
-Eu te amo do jeito que és. Não te preocupes. Terás nosso amor e vai dar tudo certo. 
Qual a sensação de estar diante de um desafio imenso, sabendo que não estaremos sozinhos? 
Pensemos sobre isso. 
A decorrência natural do te amo é o te apoio
Afinal, quem não precisa de apoio, quem não tem as suas dificuldades, as suas carências nessa ou naquela área? 
Apoio, reforço, paciência. 
Quem lida com educação atípica sabe do esforço redobrado, da paciência triplicada. 
E, além de tudo, da necessidade de sair do seu mundo para conhecer o mundo do outro. 
Nem todos aprendem como nós aprendemos. 
Nem todos raciocinam da nossa mesma maneira. 
Frases que, por vezes, usamos: 
-Isso é tão claro! Isso é tão óbvio! 
Não valem para todos. 
Alguns entendem mais pelo sentimento do que pela razão. 
Para muitos, isso que temos como tão seguro, que é um raciocínio lógico, prático, não se mostra assim. 
Mas, como? Se eu já repeti mil vezes! É tão claro! 
Para muitos, não é. 
Por isso, apoiar é sair da nossa zona de conforto, do nosso lógico e certo e conhecer o certo de alguém bem diferente de nós. 
Apoiar é doar-se, dar parte de si, perder algo, muitas vezes, para ganhar muito mais. 
Por fim, te ajudo significa que temos que caminhar juntos. 
Vamos juntos. 
Embora saibamos que precisamos incentivar o outro a ter autonomia, embora saibamos como é de importância o aprendizado, estarmos dispostos a caminhar ao lado, tanto quanto seja necessário, mesmo que sejam anos e anos, diz do nosso apoio para que o outro se sinta seguro, confiante. 
É frisarmos muitas vezes eu te ajudo a aprender. 
Eu te ajudo a passar por isso da melhor forma possível. 
A Bondade Divina nos deu o amor para amenizar todas as duras provas e torná-las suportáveis. 
Repitamos então: 
-Eu te ajudo. 
Num primeiro momento seguro nos teus dois braços para que percebas que tuas pernas podem caminhar. 
Em seguida, podemos andar de mãos dadas e perceberás que precisas pouco de mim para isso. 
Enfim, soltarei o último dedo quando disseres: 
-“Já consigo andar sozinho!” 
De qualquer maneira, estarei aqui ao lado, cuidando, observando, feliz com tua caminhada, porque te amo, te apoio, te ajudo.
Redação do Momento Espírita 
Em 18.03.2025

segunda-feira, 17 de março de 2025

MAIS FORTE QUE A DOR

Os tempos eram da Segunda Guerra Mundial. 
Quando as tropas alemãs adentraram a capital francesa, ele temeu pela sua e pela vida da filha, deficiente visual. 
Conseguiu evadir-se de Paris e, depois de muitas peripécias, chegou à casa de seu irmão, na cidade litorânea de Saint-Malo. 
Surpreendeu-se ao saber que ele era membro da resistência na cidade. 
Os participantes estavam no porto, no comércio de peixes, na padaria, no açougue. 
Aquele pai atencioso, desde cedo ensinara a menina a ser independente. 
Andava com tal desenvoltura em Paris que poucos poderiam imaginar que ela não contava com os olhos para auxiliá-la. 
Não foi diferente na nova residência. 
Logo, ela aprendeu a se deslocar, alcançando vários destinos. Sabendo manusear o rádio, ela passou a fazer transmissões, que pareciam muito inocentes, sem nexo, por vezes. 
Toda noite, ela lia capítulos específicos do livro Vinte mil léguas submarinas, de Julio Verne. 
Cada transmissão era de um capítulo diferente, determinadas páginas. 
Tratavam-se de códigos que informavam a localização das tropas alemãs ou de alvos estratégicos a serem atingidos. 
Não demorou muito para que os alemães desconfiassem que havia uma transmissão clandestina e se esmeraram para descobri-la. 
Os que eram surpreendidos, mesmo somente ouvindo uma transmissão, qualquer que fosse, tinham como prêmio a morte. 
Um oficial alemão tomou para si esse trabalho. 
Uma questão de honra encontrar quem, naquele local fortificado que era Saint-Malo, estava transmitindo aos aliados informações privilegiadas. 
Ouviu falar da menina que viera de Paris, que se escondia em algum dos imóveis e fazia as transmissões. 
Decidido, moveu céus e terra até conseguir aprisionar o pai da garota. 
Desejava que ele informasse a localização da filha. 
E o desafiou, dizendo: 
-Aposto que a dor é mais forte do que o seu amor, seja por sua filha, ou por sua pátria. Eu vou lhe provar isso. Tenho tempo. E paciência.
Durante horas, torturou aquele homem das mais variadas formas. Contudo, ele nada revelou. 
Em certo momento, antes que as energias vitais se esgotassem, levando-o à morte, afirmou o prisioneiro:
-Nada é mais forte do que o amor. Amor por minha filha. Amor por minha pátria, que desejo livre. A dor não é mais forte do que o amor.
*** 
Por amor, um ser de excepcional qualidade deixou as paragens celestiais, revestiu-se de um corpo de carne e veio viver entre os homens. 
Quando se fez o tempo, ele saiu a semear estrelas no campo dos corações. 
Estrelas de igualdade, de fraternidade. 
Estrelas de solidariedade. 
Num tempo de senhores e escravos, de dominados e dominadores,
Ele falou de um Pai de amor. 
Um Pai que por amor criou tudo e todos. 
Por amor sustenta o Universo e, todas as manhãs, renova Sua providência, enviando raios de sol, a bênção dos ventos e da chuva.
Amor não amado, Esse Semeador deixou-se imolar numa cruz. 
E afirmou: 
-Quando eu for erguido, atrairei todos a mim. 
Prossegue de braços abertos, aguardando-nos. 
Nada é mais forte do que o amor. 
Redação do Momento Espírita 
Em 17.03.2025.

domingo, 16 de março de 2025

A MELHOR PARTE DE AMAR

As declarações de amor revelam muito do que vai em nossa alma. 
Por vezes, elas nos descrevem com perfeição. 
Elas contam se somos possessivos ou ciumentos, se deixamos espaço para o outro crescer como indivíduo ou não. 
Por exemplo, quando somos enfáticos demais no "Eu preciso de você"; no "Não consigo viver sem você", revelamos, mesmo sem querer, que nosso amor é mais carência do que doação. 
Amar o outro, tendo, como razão e sustento desse amor, tudo aquilo que o outro nos dá, isto é, tudo que recebemos do parceiro, é certamente um amar frágil, que pode não se manter por muito tempo. 
Basta que o outro não mais nos forneça o que estava nos oferecendo, que não mais atenda nossas expectativas, para que todo aquele dito grande amor desapareça, como em um passe de mágica.
Recentemente, ouvimos uma declaração de amor que nos chamou a atenção, por apontar uma direção um pouco diferente da comum. 
Dizia assim: 
"A melhor parte de amar é ser o alguém de outra pessoa, e eu quero ser este alguém, o seu alguém..."
Vejamos que o princípio por trás da frase é diferente, e bastante nobre. 
Muito mais compatível com o verdadeiro sentido do amor, o amor maduro. 
Querer ser o alguém da outra pessoa é identificar que o outro também tem expectativas, que também quer ser amado, e se colocar na posição de dar-se ao outro, e não só na de receber, o que é bastante egoísta. 
As jovens e os jovens, em determinada idade, quando das primeiras paixões, chegam a fazer listas de exigências. 
Como ele ou ela precisam ser para ganhar o meu coração?... 
Notemos que, em momento algum, consideramos que o outro também tem sua lista, suas expectativas.
Pensamos apenas em preencher a nossa, o que eu quero, o que eu sonho. 
Mas e o outro? 
Não tem sonhos? 
Será que podemos atender aos anelos da outra pessoa? 
Será que preenchemos a lista dele ou dela? 
E que esforços fazemos para isso? 
Assim, querer ser o alguém do outro é levar tudo isso em consideração sempre, e não apenas exigir e exigir constantemente. 
Nesse nível de amor perceberemos que o que nos completa, o que nos faz feliz numa relação, é também o quanto fazemos pelo outro, o quanto nos doamos à outra pessoa. 
Dessa forma, esse patamar de amor nunca nos fará frustrados. 
Precisamos enxergar a tal via de mão dupla das relações amorosas, através de uma nova perspectiva, mais inteligente e mais altruísta. 
Querer ter outra pessoa ao lado, apenas para nos preencher, como se diz, é muito perigoso e frágil. 
A relação a dois é muito mais do que isso. 
Amar precisa sempre vir antes do ser amado. 
É o amar que nos fará grandes no Universo e não o ser amado. 
Foi o amar de tantos Espíritos iluminados que garantiu que a Terra continuasse a existir, e não sucumbisse por inteiro nas mãos do orgulho e do egoísmo. 
Que eu procure mais amar do que ser amado, pois é dando que se recebe... 
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.05.2019.

sábado, 15 de março de 2025

PARA ONDE VÃO AS ESTRELAS?

Para onde vão as estrelas, durante o dia? 
Essa foi a indagação que surpreendeu os pais, naquela tarde de primavera, em passeio junto ao riacho, com sua pequena de quatro anos. 
As crianças são muito inquisidoras. 
Têm esse espírito científico de tudo querer descobrir, sondar, pesquisar. 
De um modo geral, suas perguntas ficam sem respostas, porque não nos encontramos preparados para elas. 
Em verdade, desde há muito abandonamos essa criança que vivia em nós. 
A criança que tudo observava, que parava no caminho para acompanhar, devagarinho, para onde seguiam as formigas com seus fardos às costas. 
Que jogava uma pequenina pedra no lago e ficava a observar os tantos círculos que se formavam, contando-os, um a um, sem pressa.
E repetia o gesto e tornava a contar e contar. 
E via que o botão de rosa desabrochara, pela manhã, no jardim; que olhava as nuvens e descobria suas mil formas, como num desenho animado, andando pelo céu, compondo histórias. 
Éramos assim. 
Plenos de olhos de ver e ouvidos de ouvir. 
De perguntas sem fim: 
-O que os pássaros estão dizendo? Estão discutindo ou fazendo festa pelo reencontro? A chuva molha o rio? Quem segura as estrelas no céu? Por que elas não caem? Estão presas com barbante ou com cola? 
Os tantos silêncios, as tantas respostas mal-humoradas, os tantos pedidos para que ficássemos quietos foram nos desmontando por dentro. 
Foram nos calando, foram nos tornando menos inquisidores. 
Aqueles de nós que não nos deixamos abater e continuamos a fazer perguntas, a buscar respostas em algum lugar, com alguém que nos pudesse responder, nos tornamos os homens especiais que vivem hoje no mundo. 
São esses que habitam os laboratórios de pesquisas, que trabalham na elaboração das vacinas, na criação de medicamentos mais eficientes para debelar enfermidades dolorosas ou diminuir dores. 
São esses que compõem melodias de superior beleza, vitrais e quadros de expressivas cores, que reformulam leis, que escrevem poemas de excepcional profundidade falando de um grão de areia, de uma brisa leve, da folha que dança na balada do vento. 
Cientistas, sábios, filósofos, poetas, artistas de toda sorte.
Permanecem perguntando, indagando e descobrindo os mistérios que a alma humana ainda não desvendou. 
* * * 
Para onde vão as estrelas, durante o dia? 
Aquele pai atencioso levou a menina até a beira do riacho de águas cristalinas e lhe mostrou as pequeninas pedras que brilhavam ao fundo, tocadas pelos raios de sol. 
-Seriam estrelas? – Foi a vez dele perguntar. 
A menina mergulhou a mão nas águas, tomou de uma delas, segurou-a e gritou, triunfante: 
-Uma estrela! 
Durante dias, semanas e meses, ela conservou a estrela junto ao seu coração. 
Levava-a consigo para todos os lugares. 
À noite, quando olhava o céu estrelado, falava para sua pedrinha:
-Você não consegue voltar para o céu de noite? 
Colocava-a no peitoril da janela, dizendo: 
-Se quiser, você pode ir com suas irmãs. Mas volte depois para mim, tá? 
E a estrela nunca quis ir, porque havia encontrado outro céu, no coração da menina. 
Redação do Momento Espírita 
Em 14.3.2025