sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A ÚLTIMA CARTA

Um amoroso pai de família, dias antes de ser hospitalizado, enviou, pela Internet, uma carta a seus filhos, com a seguinte mensagem: 
-Filhos amados. Quando as coisas estiverem difíceis, abram bem os olhos e busquem o céu. Vejam como é imenso. Olhem a natureza e percebam como ela é incrivelmente linda, em cada detalhe. Olhem as cidades, seus prédios, os carros e notem tudo o que a vontade do homem já foi capaz de produzir. Sintam que cada um de vocês faz parte da Criação de Deus. Que cada um integra a própria natureza. E que cada um também tem de construir e de alterar um pouco de sua própria cidade. Percebam que vocês, aqui e agora, fazem parte de uma sociedade que constrói um mundo novo. Apesar da sensação de pequenez diante da grandeza do Universo e, embora, por vezes, vocês se sintam sozinhos e sem forças, na verdade, cada um é importante e necessário na sinfonia da vida. O amor e a alegria de vocês produzem uma energia única, capaz de transformar o meio em que vivem e as pessoas que os cercam. Cada um pode levar mais luz ao caminho que palmilha, por intermédio de seu sorriso e de seu trabalho. E assim, pode iluminar outras vidas e enternecer outros seres. Não esperem que o mundo, que os outros façam algo por vocês. Respirem fundo e pensem: “O que eu posso fazer pelo mundo? O que posso fazer pelos outros?” Nunca esqueçam que cada um colhe aquilo que plantou. Que os espinhos que hoje nos ferem as mãos são o resultado de uma semeadura equivocada do passado, próximo ou não. Se desejam uma estrada ladeada de flores, é preciso que elas sejam semeadas desde agora, por cada um de vocês. Acreditem: Deus está presente em tudo e em toda parte. Um dia a própria ciência humana, ainda tão limitada, será capaz de admitir e de comprovar essa valiosa verdade.
 * * * 
Embora seu corpo físico não tenha resistido à doença que subitamente o atingiu, as palavras de amor e de fé daquele pai ainda ecoam no coração daqueles que o amam. Foi sua última carta. Uma mensagem estimulando seus amores ao caminho do bem, na direção do Criador.
 * * * 
A fragilidade de nossa existência corpórea não nos permite ter certeza de que nossos olhos se abrirão na próxima manhã. Não sabemos quando será o nosso momento de partir para o outro plano da vida. Talvez ele tarde, talvez não. Quem sabe se as palavras que dissemos há pouco não foram as últimas desta existência? Como saber se o Até logo com que nos despedimos de nossos amores, minutos atrás, não foi o último adeus que esta vida nos ofereceu? Por isso, despeça-se sempre com palavras de carinho e de otimismo. Aproveite todas as oportunidades que tiver para transmitir mensagens positivas a quem quer que seja. Dê bons exemplos e seja coerente em suas atitudes. Diga àqueles que lhe são caros, sempre que possível, o quanto os ama e como eles são importantes para você. Um dia, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, a partida será real e então, as lágrimas serão decorrentes da saudade e não do arrependimento pelas oportunidades desperdiçadas.
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem redigida por Elias Siqueira Saliba a seus filhos, recebida via Internet. 
Em 31.1.2020.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

VOCÊ SENTIRÁ SAUDADES?

Um famoso pensador, ao ser entrevistado, afirmou que uma das perguntas de maior teor filosófico que mais o fez pensar nos últimos tempos, tinha vindo de sua filha, uma menina de poucos anos de idade. Afirmava o entrevistado que, certa feita, ao dar o beijo de boa noite para sua pequena, ela o surpreendeu com a seguinte pergunta: 
-Pai, quando você morrer, irá sentir saudades de mim? 
A pergunta da menina, longe da ingenuidade infantil, traz no seu bojo profundos questionamentos filosóficos. Você mesmo já se surpreendeu pensando naqueles que lhe antecederam na viagem de retorno ao mundo espiritual? Já se perguntou onde estarão eles? Sentirão saudades de mim? Ou já pensou em algum momento: 
-Como pode o manto da morte ser capaz de destruir sonhos, romper laços fraternos, separar aqueles que se amam? 
E já se questionou se aqueles a quem queremos bem, que nos são caros ao coração, que convivemos anos a fio, compartilhando anseios, dúvidas, desafios, medos, com a morte ficam irremediavelmente afastados de nós? É comum dizermos 
-Perdi meu pai, ou Perdi meu filho, quando esses se vão com o fenômeno da morte. 
Será verdade que os perdemos? A razão nos diz que não. Como pode a morte vencer os laços construídos ao longo dos dias, dos anos, feitos no olhar, na dedicação, na cumplicidade, no compartilhar de dores e felicidades? Como pode o fenômeno biológico vencer os sentimentos verdadeiros, que nascem nos refolhos da alma e são guardados no coração? Pensar dessa forma é imaginar que Deus pouca importância daria para o amor. Afinal, de que valeria amar alguém, se isso tudo nos levasse ao nada? Já que a morte do corpo é inevitável, inevitável seria então perder nossos amores. A lógica nos conduz ao entendimento das leis de Deus, a nos explicar que os laços de amor vencem as distâncias provocadas pelo tempo e pelo espaço. Aqueles que se amam, onde estiverem, continuarão se amando, mesmo que momentaneamente apartados. E é isso que a morte do nosso corpo físico nos provoca. Temporariamente, ficamos apartados daqueles a quem amamos. No entanto, logo mais, em um tempo que a vida nos dirá, nos reencontraremos, com as saudades daqueles que, após longa viagem, se reencontram para reviver o carinho, afeto e sentimentos que sempre existiram. Quem parte de retorno ao mundo espiritual, pelo fenômeno da morte do corpo físico, é alguém que nos antecede na viagem de volta. Como nos ama, de lá fica nos aguardando, para um reencontro inevitável. Naturalmente sentem saudades como nós, sentem nossa falta, como sentimos nós a deles. 
 * * * 
Quando a saudade dos amados apertar nosso peito, que nossos pensamentos sejam de carinho, com a certeza de que nos reencontraremos. Aguardemos sem revolta pois, afinal, dia desses lá estaremos nós, a revê-los, no retorno que também faremos ao mundo espiritual. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP. 
Em 29.1.2020.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

ESSE NOVO MUNDO

Vivemos na Terra um momento de muita riqueza espiritual. Em cada lugar que vemos uma criança, impossível não perceber o potencial interior que traz em si. Em um recente programa da mídia vimos dezenas delas com elevado talento artístico. Sensibilidade incrível associada, especialmente, à música. Não houve quem, em assistindo, não se admirasse do cabedal de cada uma delas. Porém, comentários abordam não somente a sua capacidade musical e técnica, mas outras características, como a meiguice, a beleza, a educação. Algumas com comportamento ético-moral contagiante. Em nossos lares, também, sem apresentarem a genialidade que possa ser admirada pelo mundo, temos exemplos de crianças maravilhosas. Como aquela menina de apenas dois anos, que se dirige para a casa da avó, todas as manhãs. Quando encontra a porta levemente aberta, como se estivesse à sua espera, fala: 
-Vovó, cadê você? Eu vim para dar um beijo. 
Entra e procura pela avó, que se esconde para criar mais expectativa, até que o encontro se faz entre muitos abraços, beijos e declarações de amor. Diz a avó que o sorriso da menina parece um sol brilhando. E o encontro das manhãs continua com canções, brincadeiras, muitos sorrisos. Por sua vez, surpreende a criatividade de uma pequena, que ainda não completou dois anos. Apenas observando a irmã, consegue escrever o próprio nome e o dos pais. Mas, aquele menino de quatro anos, atento a tudo ao seu redor, encanta pela forma como já entende o que sejam normas de trânsito e cuidados ecológicos. 
-Pai, você não viu que o sinal está vermelho? Por que você não parou? 
-Mãe, por que você jogou fora aquele papel? Devia guardar para usar do outro lado. 
E a lista das crianças excepcionais, habitantes desse mundo novo, que se delineia, não para: ali é um garoto de seis anos, encantado pela robótica e que já construiu, sem maior esforço, alguns robozinhos. A garotinha que nem sabe pronunciar corretamente as palavras, mas sussurra preces em que pede bênçãos para papai, mamãe e todo mundo. 
 * * * 
Encontramo-nos em plena concretização dos tempos novos: Uma geração nova está chegando, trazendo consigo valores intrínsecos, que auxiliarão a impulsionar o progresso em nosso planeta. Este é o processo de renovação, idealizado pelo Pai Maior, através das leis naturais da vida. Enquanto alguns ainda nos demoramos a adquirir valores morais e éticos, outros, com valores já conquistados, estão chegando. A época atual é de transição, conforme anunciado. Por enquanto estamos ainda misturados, joio e trigo. Porém, em breve, o trigo se apresentará em abundância, alimentando as almas com moralidade, amor e caridade. Assim se processa a renovação do mundo: uns partem encerrando um ciclo, outros chegam, com suas mentalidades abertas ao progresso, iniciando uma Nova Era. Pensando nisso, colaboremos nós mesmos com o acelerar desse mundo novo, renovando-nos igualmente.
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.5.2016.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

ENTREVISTA IMAGINÁRIA

Lemos um artigo que falava de uma suposta entrevista com Deus. Alguém imaginou que um repórter se achegou ao Soberano Senhor e lhe perguntou: 
-O que mais o surpreende a respeito dos homens? 
E a resposta foi: 
-Que eles se chateiam em ser crianças, têm pressa de crescer e quando crescem, desejam ser crianças outra vez. Que eles perdem a sua saúde na tentativa de ganhar muito dinheiro e então precisam gastar o dinheiro para recuperar a saúde. Que, por pensarem ansiosamente a respeito do futuro, esquecem o presente, de modo que não vivem nem o presente e nem o futuro. Que vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido. 
Porque o silêncio se fizesse espontâneo, o entrevistador aproveitou para perguntar outra vez: 
-Como pai, que lições de vida quer que seus filhos venham a aprender? 
A resposta generosa não se fez esperar: 
-Aprender que eles não podem fazer que ninguém os ame. O que podem fazer é permitir serem amados. Aprender que o mais valioso não é o que eles têm em sua vida, mas quem eles são em suas vidas. Aprender que não é bom se comparar com os outros. Cada um tem seu valor, com sua cota de conquistas virtuosas e defeitos a serem trabalhados. E todos são filhos amados, com os mesmos direitos à felicidade, as mesmas oportunidades de progresso. Aprender que uma pessoa rica não é a que tem mais, mas a que precisa menos. Existem criaturas que têm muito e, no entanto, se sentem insatisfeitas. Sempre lhes falta algo mais. Aprender que são necessários poucos segundos para abrir feridas profundas em pessoas que amamos. E podemos levar muitos anos para curá-las. Aprender que essas criaturas são exatamente as colunas de sustentação das suas vidas. Aprender a perdoar, exercitando o perdão, mesmo que tenham que começar somente por desculpar. Aprender que há pessoas que os amam sinceramente, mas simplesmente não sabem expressar seus sentimentos. É preciso aprender a ler nos olhos delas, nos pequenos gestos, nas palavras que não chegam a ser pronunciadas. Aprender que o dinheiro compra qualquer coisa, menos a paz de consciência. Aprender que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e vê-la de forma completamente diferente. Aprender que nem sempre é suficiente ser perdoado pelos outros, mas é necessário perdoar a si mesmo. 
 * * * 
As pessoas esquecem, com facilidade, o que dizemos. Também esquecem o que fazemos. Mas elas nunca esquecem o que as fazemos sentir. Dessa forma, invistamos no amor, na gratidão, no bem-querer. Tornemo-nos pessoas que distribuam alegria, tranquilidade, exatamente o que gostaríamos de encontrar no nosso local de trabalho, no trânsito, na escola, no nosso lar. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, a partir de texto de autoria ignorada. 
Em 27.1.2020.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O ESSENCIAL E O ACESSÓRIO

Ela fora uma menina muito esperta, aprendendo tudo com facilidade e se esmerando na prática do que fazia, tanto no lar como na escola. Quando jovem estava muito à frente de sua idade, recebendo carinho e respeito pelo seu comportamento e pela integridade moral. Formou-se professora primária e chamava a atenção pela competência, dedicação e carinho para com as crianças. Dizia estar feliz com a escolha realizada e sonhava com a possibilidade de um dia poder dirigir a sua própria escola. No templo religioso a que estava vinculada, evangelizava crianças com tanto carinho e esmero, que as conquistava para Jesus, de imediato. No entanto, sua vida trazia planos mais urgentes e determinados, que precisavam ser realizados. Ao se casar, com alegria esperou pelo seu primeiro filho, que chegou trazendo consigo necessidades especiais. Imprescindível sua presença junto ao pequeno, totalmente dependente, em tempo integral. Suspendeu seus planos anteriores, programando e mantendo apenas as suas atividades espirituais no templo. Buscou, desde então, utilizar seus dons, aprendizados, paciência e dedicação junto ao pequeno, que se tornou seu maior tesouro. Décadas rolaram, e sua vida continuou sendo totalmente entregue ao filho. Quando lhe perguntavam sobre os sonhos da juventude, apenas dizia que na vida é necessário distinguir e optar para o que é essencial, entre tudo o mais, que se torna acessório. 
 * * * 
Nem todos conseguimos ter essa clareza de visão. Muitos damos mais valor para o que é acessório, do que para as coisas que são realmente essenciais. Inadiável identificarmos o que é essencial, o que é realmente importante para nós. Devemos ter plena consciência de que o essencial sempre ocupará posição mais destacada e decisiva em nossas vidas. O essencial se realçará em nosso sentimento, mesmo que o acessório possa ter melhores aparências materiais. Focar no que é essencial é elevarmos ao máximo nosso potencial de contribuição a algo, ou alguém. Importante sermos uma pessoa que valoriza a essência, e não a simples aparência dos fatos e da vida. É mais producente cultivarmos os valores reais do que nos tornarmos um mito vazio, em um mundo de ilusões. Quando abandonamos o que nos é essencial, perdemos a identidade. Vivemos em grandes conflitos, porque colocamos a nossa vontade à frente da vontade divina. É sinal de humildade deixar o Senhor conduzir nossa vida, porque sozinhos nada somos, nem podemos. Aceitando a vontade de Deus em nossas vidas, tudo se torna simples, porque Deus é Pai de amor, justiça e caridade. Ele só nos pede as coisas essenciais, só Ele sabe o que é melhor para cada um de nós. Deus é a puríssima essência. Ter foco no que é de fato essencial envolve aparentemente perder, para efetivamente ganhar. O segredo da vida não é ter tudo que se quer, mas aceitar e amar tudo que Deus nos propõe. É atender o projeto de Deus para nós. Amar a Deus, a nós mesmos e ao próximo é sentir o sol brilhando mesmo em um dia chuvoso. Amar é ser feliz ao lado de quem se ama, não importando as condições do ser amado. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 26.1.2019.

domingo, 26 de janeiro de 2020

ESQUECER PARA APRENDER

FERNANDO PESSOA
Fernando Pessoa, o brilhante poeta português, escreveu certa feita:
-Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me, e ser eu. 
O poeta, na ânsia de entender os porquês da vida, percebia que muito do que nos falam, ensinam, mostram, funciona, aos poucos, como camadas de tintas, a nos encobrir, a nos moldar. Quantas vezes ouvimos nos dizerem: 
-Emprego bom é emprego que paga bem, tentando nos convencer que o valor do salário deva ser a preocupação número um na nossa vida profissional. 
Outras tantas pessoas insistem em afirmar que importante é ter, possuir, gozar a vida naquilo que brilha aos olhos. Há ainda, os que vivem pautados no egoísmo e auto-centrismo, cuidando para que tudo, a princípio, seja deles para, em segundo momento, ser para eles, e em um terceiro momento, para os seus, jamais pensando no próximo ou na sociedade. Frente a tantas camadas de tintas que insistem em nos pintar, há que se perguntar: 
-Por quais valores devo me pautar? Como viver? Qual a melhor bússola para me guiar? 
Inevitável, para responder a essas perguntas, lembrarmo-nos de quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É inevitável esquecer que somos apenas um corpo material, que vivemos apenas essa existência, e que todas as nossas experiências estão restritas entre o berço e o túmulo de uma única vida. Há que se aprender que somos Espíritos eternos. E para aprender de um lado, há que se esquecer do outro. Como nos ensina o educador Rubem Alves, toda aprendizagem produz esquecimento. Assim, esqueça que lhe ensinaram que você está aqui a passeio. Esqueça que lhe fazem crer que esta é sua única experiência. Esqueça que insistem em lhe convencer que as coisas acontecem por mero acaso, sem uma ordem Divina.
 * * * 
É necessário esquecer essas ilusões que vivemos, para aprender que somos Espíritos imortais, rumando à perfeição, construindo passo a passo nossa estrada redentora de auto-iluminação. É necessário esquecer as ilusões que os sentidos e a memória nos provocam, achando que nada houve antes do nosso nascimento. É necessário aprender que trazemos na nossa bagagem emocional e intelectual todas nossas conquistas, felizes e infelizes, frutos de nossas próprias opções, sendo, cada um de nós, herdeiro de si mesmo. Nesse exercício de esquecimento dessas ilusões, iremos aos poucos raspando a tinta com que nos pintaram os sentidos, iremos desencaixotando nossas emoções verdadeiras, desembrulhando-nos para, efetivamente, vivermos como Espíritos imortais. Viveremos como quem não pertence à Terra, muito embora aqui estagie por um período, entendendo que aqui estamos para aprender as coisas de Deus.
Redação do Momento Espírita. 
Em 07.10.2009.

sábado, 25 de janeiro de 2020

RENOVANDO OS ARES ESPIRITUAIS

O grande anfiteatro oval romano, que conhecemos como Coliseu, foi mandado construir pelo imperador Vespasiano, por volta do ano setenta. O imperador Domiciano o concluiu no ano oitenta e dois. Suas arquibancadas tinham capacidade para oitenta mil pessoas. Os assentos eram de mármore e, para evitar problemas nas saídas dos espetáculos, os arquitetos projetaram oitenta escadarias. Assim, em menos de três minutos, o coliseu podia ser totalmente evacuado. Ao ensejo da sua inauguração, as festas e jogos duraram cem dias. Nesse período, morreram nove mil animais e dois mil gladiadores. Ao longo dos anos, serviu também à representação de tragédias e comédias. Chegaram mesmo a se realizar simulações de batalhas navais. Também foi local onde muitos cristãos perderam a vida, lançados às feras. Esses espetáculos sangrentos, de triste memória, eram assistidos em quase delírio. Hoje, as ruínas ainda permanecem carregadas de um clima misterioso, símbolo do império romano e da cidade eterna. Curiosamente, nesse mesmo local onde os cristãos entravam na arena cantando hinos de louvor, a caminho do martírio, outros hinos de louvores se erguem, vez ou outra. Assim foi quando da apresentação do quarteto Il Divo que, entre unção e emoção, interpretou Amazing Grace. O hino tem muito significado, vez que foi composto por John Newton, após o que é considerada a sua conversão. Newton era um traficante de escravos africanos. Durante uma de suas viagens, seu navio foi fortemente afetado por uma tempestade. Lutando contra a borrasca, ele sentiu como estavam todos, no navio, frágeis e desamparados, concluindo que somente a graça de Deus os poderia salvar. Estimulado por esse acontecimento e posteriores reflexões que fez do livro Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, ele resolveu abandonar o tráfico de escravos e se tornou cristão. E, então, compôs a canção Amazing Grace, cujos versos podemos traduzir mais ou menos assim: Sublime Graça! Quão doce é o som, que salvou um náufrago como eu. Eu estava perdido mas agora fui encontrado. Eu estava cego, mas agora eu vejo. Foi a Graça que ensinou meu coração a temer. E a Graça aliviou meus medos. Quão preciosa aquela Graça que apareceu na hora em que acreditei. Por muitos perigos, dificuldades e armadilhas eu passei até aqui. Esta Graça me trouxe em segurança de tão longe... E esta Graça me conduzirá para casa. Quando estivermos, há dez mil anos, claros e brilhantes como o sol, não teremos menos dias para cantar e louvar a Deus do que nos dias quando começamos.
 * * * 
Enquanto as vozes se elevam aos céus, lembramos que alguém disse, certa vez, que arar é orar. E, de nossa parte, afirmamos: cantar tal hino é uma verdadeira prece de louvor e gratidão ao Senhor da Vida. Imaginamos quantas bênçãos tenham alcançado aquela imensa plateia, envolvida na harmonia dos sons e na beleza dos versos. Graça maravilhosa... Música renovando a psicosfera de sangrentos dias. Prece ao Senhor da Vida pela própria vida. Gratidão. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 25, ed. FEP. 
Em 24.1.2020.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

ESSE NOVO MUNDO

Vivemos na Terra um momento de muita riqueza espiritual. Em cada lugar que vemos uma criança, impossível não perceber o potencial interior que traz em si. Em um recente programa da mídia vimos dezenas delas com elevado talento artístico. Sensibilidade incrível associada, especialmente, à música. Não houve quem, em assistindo, não se admirasse do cabedal de cada uma delas. Porém, comentários abordam não somente a sua capacidade musical e técnica, mas outras características, como a meiguice, a beleza, a educação. Algumas com comportamento ético-moral contagiante. Em nossos lares, também, sem apresentarem a genialidade que possa ser admirada pelo mundo, temos exemplos de crianças maravilhosas. Como aquela menina de apenas dois anos, que se dirige para a casa da avó, todas as manhãs. Quando encontra a porta levemente aberta, como se estivesse à sua espera, fala: 
-Vovó, cadê você? Eu vim para dar um beijo. 
Entra e procura pela avó, que se esconde para criar mais expectativa, até que o encontro se faz entre muitos abraços, beijos e declarações de amor. Diz a avó que o sorriso da menina parece um sol brilhando. E o encontro das manhãs continua com canções, brincadeiras, muitos sorrisos. Por sua vez, surpreende a criatividade de uma pequena, que ainda não completou dois anos. Apenas observando a irmã, consegue escrever o próprio nome e o dos pais. Mas, aquele menino de quatro anos, atento a tudo ao seu redor, encanta pela forma como já entende o que sejam normas de trânsito e cuidados ecológicos. 
-Pai, você não viu que o sinal está vermelho? Por que você não parou? Mãe, por que você jogou fora aquele papel? Devia guardar para usar do outro lado. 
E a lista das crianças excepcionais, habitantes desse mundo novo, que se delineia, não para: ali é um garoto de seis anos, encantado pela robótica e que já construiu, sem maior esforço, alguns robozinhos. A garotinha que nem sabe pronunciar corretamente as palavras, mas sussurra preces em que pede bênçãos para papai, mamãe e todo mundo. 
 * * *
Encontramo-nos em plena concretização dos tempos novos: Uma geração nova está chegando, trazendo consigo valores intrínsecos, que auxiliarão a impulsionar o progresso em nosso planeta. Este é o processo de renovação, idealizado pelo Pai Maior, através das leis naturais da vida. Enquanto alguns ainda nos demoramos a adquirir valores morais e éticos, outros, com valores já conquistados, estão chegando. A época atual é de transição, conforme anunciado. Por enquanto estamos ainda misturados, joio e trigo. Porém, em breve, o trigo se apresentará em abundância, alimentando as almas com moralidade, amor e caridade. Assim se processa a renovação do mundo: uns partem encerrando um ciclo, outros chegam, com suas mentalidades abertas ao progresso, iniciando uma Nova Era. Pensando nisso, colaboremos nós mesmos com o acelerar desse mundo novo, renovando-nos igualmente. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.5.2016.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O ESSENCIAL E O ACESSÓRIO

Ela fora uma menina muito esperta, aprendendo tudo com facilidade e se esmerando na prática do que fazia, tanto no lar como na escola. Quando jovem estava muito à frente de sua idade, recebendo carinho e respeito pelo seu comportamento e pela integridade moral. Formou-se professora primária e chamava a atenção pela competência, dedicação e carinho para com as crianças. Dizia estar feliz com a escolha realizada e sonhava com a possibilidade de um dia poder dirigir a sua própria escola. No templo religioso a que estava vinculada, evangelizava crianças com tanto carinho e esmero, que as conquistava para Jesus, de imediato. No entanto, sua vida trazia planos mais urgentes e determinados, que precisavam ser realizados. Ao se casar, com alegria esperou pelo seu primeiro filho, que chegou trazendo consigo necessidades especiais. Imprescindível sua presença junto ao pequeno, totalmente dependente, em tempo integral. Suspendeu seus planos anteriores, programando e mantendo apenas as suas atividades espirituais no templo. Buscou, desde então, utilizar seus dons, aprendizados, paciência e dedicação junto ao pequeno, que se tornou seu maior tesouro. Décadas rolaram, e sua vida continuou sendo totalmente entregue ao filho. Quando lhe perguntavam sobre os sonhos da juventude, apenas dizia que na vida é necessário distinguir e optar para o que é essencial, entre tudo o mais, que se torna acessório. 
 * * * 
Nem todos conseguimos ter essa clareza de visão. Muitos damos mais valor para o que é acessório, do que para as coisas que são realmente essenciais. Inadiável identificarmos o que é essencial, o que é realmente importante para nós. Devemos ter plena consciência de que o essencial sempre ocupará posição mais destacada e decisiva em nossas vidas. O essencial se realçará em nosso sentimento, mesmo que o acessório possa ter melhores aparências materiais. Focar no que é essencial é elevarmos ao máximo nosso potencial de contribuição a algo, ou alguém. Importante sermos uma pessoa que valoriza a essência, e não a simples aparência dos fatos e da vida. É mais producente cultivarmos os valores reais do que nos tornarmos um mito vazio, em um mundo de ilusões. Quando abandonamos o que nos é essencial, perdemos a identidade. Vivemos em grandes conflitos, porque colocamos a nossa vontade à frente da vontade divina. É sinal de humildade deixar o Senhor conduzir nossa vida, porque sozinhos nada somos, nem podemos. Aceitando a vontade de Deus em nossas vidas, tudo se torna simples, porque Deus é Pai de amor, justiça e caridade. Ele só nos pede as coisas essenciais, só Ele sabe o que é melhor para cada um de nós. Deus é a puríssima essência. Ter foco no que é de fato essencial envolve aparentemente perder, para efetivamente ganhar. O segredo da vida não é ter tudo que se quer, mas aceitar e amar tudo que Deus nos propõe. É atender o projeto de Deus para nós. Amar a Deus, a nós mesmos e ao próximo é sentir o sol brilhando mesmo em um dia chuvoso. Amar é ser feliz ao lado de quem se ama, não importando as condições do ser amado. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 26.1.2019.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

VISITA DE UM AMIGO

-Querido companheiro, é com muita alegria que te faço esta visita. Sou um amigo que não podes ver com os olhos físicos, mas que te conhece há muito tempo, bem antes do que imaginas. Onde quer que estejas, estou contigo. Sou teu anjo da guarda, e te protejo desde antes do teu nascimento. Vi teus primeiros passos e te acompanho em todos os momentos da tua vida. Mesmo que não me percebas conscientemente, sei que tua alma já sentiu minha presença. Algumas vezes, nós, os anjos guardiães, acompanhamos nosso protegido por várias existências corporais. Durante a tua caminhada na Terra, muitas dúvidas passaram pelos teus pensamentos. Achas que não sei? Quantos erros e quantos acertos! Gostaria que soubesses que, a cada alegria, conquista, dúvida, medo, angústia e decepção, estive e estarei sempre ao teu lado, vibrando por ti e consolando-te quando necessário. Lembro-te que és falível. Assim, quando errares, o importante é aprenderes com o erro e tentares fazer diferente da próxima vez. Por mais difícil que pareça, todo problema tem uma solução. Nesses momentos de dificuldade, tens que fortificar a fé e confiar em Deus nosso Pai. Agir buscando as soluções que estão ao teu alcance, com resignação, sem revoltas, fazer a tua parte, lembrando de entregar nas mãos de Deus o teu caminho, confiando. Não te esqueças de mim nesses momentos de aperto no coração, pois jamais te esqueço. Sou um instrumento do Pai Criador e estou aqui para ajudar-te a progredir. Minha missão é te guiar pelo caminho do bem, ajudar-te com os meus conselhos, levantar-te o ânimo e consolar-te nas aflições. Para facilitar o meu trabalho, nunca te esqueças de orar e alimentar bons pensamentos. Como Espírito protetor, posso te ajudar através da intuição, do pensamento e dos sonhos. Chama-me pelo nome que quiseres e aí estarei a te amparar. Guarda a certeza de que nunca te abandono. És tu que, por descuido ou fraqueza, às vezes não me escuta e se entrega às más influências. Quando erras, eu lamento. Posso não estar fisicamente tão próximo, mas a minha sintonia contigo faz meus pensamentos vibrarem por ti. Faze de mim o teu melhor amigo e divide comigo as tuas alegrias, porque quando vejo que estás feliz, vibro de felicidade. A tua alegria é minha também. Agradece ao Pai bondoso e misericordioso que permite que cada vida na Terra seja acompanhada por um Espírito protetor. Vibro para que sigas pelo caminho do bem e acertes nas tuas escolhas. Tens o teu livre-arbítrio e sei que as escolhas dependem de ti. Rogo, então, a Deus para que os bons valores morais sirvam de orientação em cada uma das decisões que tomares. Fica em paz! 
Redação do Momento Espírita, com base nos itens 489 a 504 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 22.1.2020.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

UM HOMEM DIFERENTE

Thrity Umrigar
O que faz que uma pessoa se destaque, no contexto social? 
Dirão alguns, talvez, que a soma dos valores que detém em contas bancárias, aplicações, rendas, bens móveis e imóveis. Poderão pensar outros que o destaque se pode dar no ambiente artístico, cultural, político. A pessoa também poderá se destacar pela inteligência, pela visão de mundo, adiante de seu próprio tempo. Ou pela beleza, pelo porte, pelo discurso fácil, ágil, atilado. No entanto, o maior destaque, com certeza, é no campo moral. A intimidade do ser. Porque alguém pode ser muito rico, belo, de discurso impecável, um cientista, uma alta inteligência e ser moralmente pobre. Na atualidade, o tom dominante parece ser o de fazer o que todos fazem. Assim, os homens desejam mostrar virilidade, sendo comandantes de sua própria casa. As mulheres desejam demonstrar que são belas e desejadas, que jamais a solidão as haverá de abraçar. E assim por diante... Dizemos que isso faz parte da cultura do país onde se vive, do mundo onde nos movemos. 
Será que não podemos destoar do comum? Será que não podemos nos destacar, exatamente por sermos diferentes? 
Na Índia, entre os parses, a mulher é educada para servir ao homem. Ela deve lhe dar muitos filhos, pois se assim não for, significa que algo errado existe na relação matrimonial. Ela deve ser-lhe a servidora, preparando-lhe os pratos de arroz, lentilhas, carnes, a cada dia. Deve zelar pela sua roupa, porque ele precisa parecer impecável aos olhos do mundo. Pois aquela mulher nascida em Calcutá se apaixonara por um jovem de Bombaim. Conhecera-o em casa de uma amiga, em uma festa. Pouco mais de quatro meses depois, estava casada. Logo que os dois se casaram, ela havia insistido em passar a ferro as camisetas finas para ele. Ele, no entanto, fincara pé e lhe dissera que se casara com ela por amor e para ter a sua companhia. Se desejasse simplesmente alguém que lavasse e passasse a sua roupa teria se casado com quem trabalhava exatamente para cuidar do seu vestuário. Seu senso de justiça, sua indignação moral diante do status inferior das mulheres, entre os seus, era inigualável. Mais de uma vez a jovem sentira a inveja das amigas. 
-Qual é o segredo? -Indagavam-lhe.-Como foi que você o treinou tão bem? 
Mas ela dizia que nada tinha a ver com isso. Ele chegara a ela desse jeito. 
-Ele é a pessoa mais justa que eu conheço. Acredita na igualdade de direitos para as mulheres. 
 * * * 
Um homem diferente, destoando entre os de sua estirpe. Dentro de sua própria comunidade. Isso nos diz que não importa onde vivamos, a cultura que se nos impõe. Cada qual pode, dentro de seus parâmetros de justiça e moral, ser diferente. Destoar para melhor. Ser uma flor perfumada, colorida, num campo cinzento de erva seca e dura. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, a partir de informações colhidas no livro A doçura do mundo, de Thrity Umrigar, ed. Nova Fronteira. 
Em 21.1.2020.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

O ESSENCIAL

CHICO XAVIER E NÉIO LÚCIO
Existe uma técnica pedagógica em que se propõe para a pessoa a seguinte situação: ela deve ir para uma ilha deserta e somente pode levar três coisas. 
-O que deseja levar? 
Ante o questionamento, não são poucos os que ficam confusos porque, afinal, são tantas as coisas que se desejaria levar, e que acreditamos nos sejam indispensáveis. Em tempos remotos, quando a Águia Romana dominava o mundo com a extensa sombra das suas enormes asas, existiu uma patrícia muito rica. Tendo que realizar uma grande viagem, ela tomou uma luxuosa galera e seguiu com seu filho de apenas cinco anos. Sua bagagem despertou curiosidade no embarque. Dois escravos carregaram muitos volumes de joias diferentes. Eram colares e braceletes, redes de ouro, pedrarias, camafeus riquíssimos. Todo o pessoal de serviço se inclinou perante a dama nobre, em sinal de respeito pelo tesouro que ela trazia para bordo. Durante os primeiros dias de viagem ela foi o centro das atenções. Era convidada para a mesa das festividades e todos se interessavam em estar com ela, para poder observar os adornos brilhantes que usava. Em certa manhã de sol, a embarcação se chocou em traiçoeiro recife. Uma grande brecha se fez na galera e as águas a invadiram. Todos a bordo começaram a lutar, tentando resolver o problema. Finalmente, verificaram que havia necessidade de abandonar o navio. Alguns botes foram colocados à disposição dos viajantes para o salvamento. A rica dama se apresentou, tão logo foi chamada. Nos braços trazia o filho, envolto em manta bordada a ouro e um pequeno pacote que segurava com vigor. Todos imaginaram que a bela senhora levava consigo as joias mais caras. Entretanto, porque a viagem arriscada até o porto mais próximo se demorava horas intermináveis, ela abriu o embrulho, mostrando aos irmãos de infortúnio o seu conteúdo. Eram dois pães e dez figos maduros, com os quais se alimentaram durante as horas que os separavam da terra firme. Estreitando o filho de encontro ao coração, ela falou: 
-Meu filho é o que tenho de mais precioso. E o que considero de mais útil, nesta circunstância, é o alimento que nos manterá vivos. 
 * * * 
A felicidade real não se fundamenta em riquezas transitórias. Sempre chega um dia em que o homem é convidado a se separar delas. Os que vivem o hoje se apegam a terras, construções, moedas e prazeres. O Espírito prudente, porém, não desconhece que todos os patrimônios da Terra devem ser usados para o enriquecimento da virtude. Também sabe que as bênçãos mais simples da natureza são as bases da nossa tranquilidade essencial. Convém recordar a recomendação de Jesus: Procurai antes o Reino de Deus e a Sua justiça e todas as demais coisas vos serão acrescentadas. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 44, do livro Jesus no lar, pelo Espírito Néio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. 
Em 24.01.2011.

domingo, 19 de janeiro de 2020

ESSÊNCIA IMORTAL

Um homem adquiriu uma casa antiga. Mais de um século de construção, mas bem conservada. Contudo, logo que entrou na edificação, se deu conta de que muitos consertos eram necessários. Um detalhe aqui, outro ali. E, com certeza, ela precisava de uma pintura nova. Por isso, ele decidiu retirar a tinta antiga e começou a raspar as paredes, a cor velha, um azul sujo e desbotado. Para sua surpresa, na medida em que ia retirando a cor azul, foi aparecendo por baixo uma outra cor, rosa, mais velha do que a anterior. Raspou tudo. Aí apareceu uma terceira camada de tinta, cor creme. Depois o branco. Ele foi descobrindo que cada morador que por ali passara, pintara a casa da cor que lhe agradava, sempre cobrindo a anterior. Constatando isso, ele decidiu descobrir qual seria a cor original daquela velha casa. Obstinado, pacientemente, foi retirando camada por camada. Finalmente, quando acabou o seu trabalho, teve uma grande surpresa. Mais bonita do que qualquer tinta, havia uma madeira linda, o maravilhoso pinho de riga, com nervuras formando arabescos cor castanha contra um fundo marfim. Ficou encantado e profundamente feliz – pinho de riga puro, sem nenhuma mão de tinta. Um tesouro para ser admirado. 
 * * * 
Nós somos como a casa velha, com camadas e camadas de tintas de cores diversas. Para cada ocasião, apresentamos uma das cores: o azul para os momentos de alegria, o rosa para aqueles serenos, harmoniosos, o vermelho para as horas turbulentas... As pessoas, que privam do nosso cotidiano, nos conhecem de uma ou de outra forma, dependendo das horas que estejam conosco. Alguns dirão que somos alegres, outros que somos muito sérios, outros ainda, que somos agitados, tensos. Tantas são as cores para os períodos mais diversos que, por vezes, nós mesmos temos dificuldades em descobrir como somos realmente. 
Somos o amarelo do intelecto, o verde das festas ruidosas, o branco envelhecido dos dias de cansaço? Quem somos, afinal? Como somos, de verdade? 
Importante que nos autoconheçamos, que saibamos em profundidade dos nossos sentimentos, das nossas aspirações, dos nossos pensamentos. Autoconhecimento. E, com um detalhe muito importante: saber que não somos um corpo que anda, fala, trabalha, executa tarefas, se locomove de um para outro lado. Somos um Espírito imortal. Sim, o pinho de riga puro. A essência imortal. E esse Espírito imortal é quem sente, pensa, idealiza e conduz o corpo com todas suas camadas grossas ou finas de diferentes pinturas. Definirmo-nos como ser humano integral é o que nos compete. Permitir que apareça, com toda sua beleza, esse pinho de riga puro, com seus arabescos maravilhosos. Descobrir que precisamos retirar a camada rude da nossa indiferença para deixar que o fundo marfim do amor se apresente. Extravasar em ação nossa vontade de aprender, nosso intuito de melhorar, de apresentar o que tenhamos de melhor para esse mundo maravilhoso em que se movimenta o corpo que comandamos. Essência imortal, filhos de Deus, herdeiros da Sua luz e do Seu amor. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, pt. 1, do livro Um céu numa flor silvestre, de Rubem Alves, ed. Verus. 
Em 24.11.2017.

sábado, 18 de janeiro de 2020

A ESSÊNCIA DA COMPAIXÃO

RUBEN ALVES
Numa mesa de almoço, um avô percebe que a neta de onze anos está calada. Subitamente, ela desaba a chorar e se dirige para outro aposento da casa. O avô, intrigado, segue a neta querida, que já se sentava sobre o sofá da sala com a cabeça baixa. 
-O que foi, minha querida? O que aconteceu? 
-Vovô, quando vejo uma pessoa sofrendo eu sofro também. O meu coração fica junto ao coração dela... 
O avô compreendeu que ela chorava porque se lembrava de alguém que estava sofrendo. A menina, de pouco mais de uma década de vida, descobria ali a essência da compaixão. 
FERNANDO PESSOA
Fernando Pessoa, através de Ricardo Reais, diz assim: 
- Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Nem distingue a memória do que vi, do que fui. Aqui se encontra uma das marcas da nossa humanidade. 
Proclama Ruben Alves. 
-Vejo algo fora de mim. Mas os meus olhos trazem o que está fora para dentro de mim. Aquele arbusto - ora, aquele arbusto... Vegetal, nada tem a ver com o poeta. Mas os meus olhos o veem e percebem que ele está fenecendo. Sou movido por uma imensa e irracional compaixão. Recolho o arbusto que fenece dentro de mim. E eu feneço também. 
 * * * 
A compaixão tem tal poder, e por isso é agente supremo do amor na Terra. É através dela, inicialmente, que a caridade poderá se manifestar. Precisamos estar no lugar do outro, sentir o que ele sente, e esse sentimento provocar em nós a urgência da ação. A compaixão é diferente da pena. A pena é estática, distante, não exige envolvimento com o outro. A compaixão, por sua vez, é dinâmica, proativa, e implica no envolvimento profundo com a vida alheia. Em tudo quanto olha, ela fica em parte, sim. Em tudo quanto olha, ela se identifica, pois não consegue se ver sozinha neste mundo. Ela enxerga muito mais o nós do que o eu. É ela que está salvando este mundo. É ela que está acelerando a mudança para o bem que vem se operando na Humanidade nos últimos tempos. É a agente da regeneração. Irmã bendita da caridade. Sem ela a insensibilidade toma conta, congela, paralisa. Sem ela somos apenas instinto de sobrevivência, sem sentimento algum. Sem ela, estagnamos a evolução individual, pois sem envolvimento com o ser coletivo, o crescimento pessoal é limitado. Compaixão... Tenhamos hoje esta virtude como meta. Como anda o desenvolvimento dela em seu coração? O que você pode fazer para colocá-la em prática hoje? As oportunidades virão. Precisamos estar prontos para ela. Sejamos agentes de transformação do mundo, de braços dados com a compaixão, sempre.
Redação do Momento Espírita com trecho do cap. 33, do livro O sapo que queria ser príncipe, de Ruben Alves, ed. Planeta. 
Em 14.07.2009.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

VERDADES E FANTASIAS

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Em certo trecho do Evangelho, Jesus discursa sobre Sua missão. Ele fala de modo especial da desconfiança de muitos fariseus a Seu respeito. Diz que eles, por terem desejos estranhos, não podiam entender a Sua linguagem. E afirma que não acreditavam nEle, porque dizia a verdade. O homem costuma mesmo buscar soluções fáceis para os problemas mais difíceis. Guiado pela lei do menor esforço, almeja tudo resolver sem qualquer sacrifício. Esse gênero de ilusão medra mesmo entre os cristãos. Muitos entendem que basta seguir alguns rituais para resolver o problema de sua redenção espiritual. Nessa linha, o relevante se resumiria em dar algum dinheiro para uma organização religiosa, nela comparecer com frequência e se submeter a certas práticas. Arrependimentos de última hora, sem a correspondente reparação, anulariam uma vida toda de mau proceder. Outros já acreditam que basta aceitar Jesus para ficar rico, saudável e virtuoso, sem a necessidade de tomar a própria cruz, por entre renúncias, a fim de seguir o Cristo. O mundo sempre distingue ruidosamente os expositores de fantasias. É comum observar-se, em quase toda parte, a vitória dos homens que prometem milagres e fantasias. Esses merecem das criaturas grande crédito. Basta encobrirem a enfermidade, a ignorância ou a fraqueza humanas, para receberem acatamento. Não acontece o mesmo com os cultivadores da verdade, por mais simples que esta seja. Através de todos os tempos, para esses últimos, a sociedade reservou a fogueira, a cruz, a punição implacável. O homem, em regra, aprecia meios de fugir da própria situação espiritual. A receita da paz, consistente na reforma íntima e na vida honesta, costuma parecer muito onerosa. Alvitres como perdoar e pedir perdão, trabalhar duro e assumir as consequências dos próprios atos soam antipáticos. Então, ele prefere soluções mais fáceis. Inventa métodos e simpatias para atrair boa sorte. Se as coisas vão mal, quer acreditar em fantasias e soluções milagrosas. Quem inventa as mentiras mais brilhantes, como a prosperidade sem trabalho, tem a clientela mais numerosa. Por isso, o alerta de Jesus segue muito atual. É preciso cuidar para não simpatizar com mentiras agradáveis, em detrimento da realidade. A cada um segundo suas obras. O homem é o arquiteto de seu destino. Quem deseja prosperidade, precisa estudar e trabalhar com afinco. A paz é construída mediante atitudes dignas e consistentes. A saúde física resulta de uma vida regrada. Para ter bons amigos é preciso ser uma pessoa boa. A fim de merecer perdão para os próprios erros, impõe-se aprender a perdoar o semelhante. A preguiça e a venalidade podem fazer surgir o desejo de perseguir ilusões. Mas a felicidade é construção pessoal e intransferível. 
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 78, do livro Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 17.1.2020.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

INDEPENDÊNCIA PARA NOSSOS FILHOS

XUE XINRAN
Xinran é uma chinesa, nascida em Pequim. É escritora e jornalista, mas foi como apresentadora de um programa de rádio, na China, que colheu histórias muito interessantes do seu povo. Em 1997 ela se mudou para Londres. A partir de então, todos os outonos ela recebe ligações telefônicas de seu país. São pais cujos filhos vêm estudar nas Universidades do Reino Unido e da Europa e que lhe pedem para que ela os cuide. Xinran responde a todas as questões e se propõe a ajudá-los, na nova vida que enfrentarão. Contudo, ela precisa impor limites. Porque algumas mães lhe pedem que vá cozinhar para seu filho todos os dias. Que ela o cuide da mesma forma que a mãe o faria. Os exageros são muitos, diz a jornalista. E conta o caso do jovem que veio a Londres para estudar em uma Universidade. Logo depois que ele chegou à capital inglesa, a escritora recebeu um telefonema da mãe do rapaz: 
-Não me importa o que você acha que é bom para seu filho. Mas, neste momento, meu filho precisa de sua ajuda para desfazer as malas. 
E lá se foi Xinran ajudar o rapaz. Quando ele abriu uma das duas malas gigantescas que trouxera, tirou páginas de instruções sobre como pendurar roupas, como fazer a cama, o que pôr na gaveta das roupas íntimas. Olhando aquilo, Xinran perguntou ao jovem: 
-Como você se virou quando estava na Universidade na China?
A resposta dele a desconcertou: 
-Minha mãe vinha ao meu dormitório todas as semanas. 
 * * * 
Se queremos que nossos filhos cresçam e desfrutem de suas próprias vidas, temos de liberá-los um pouco. O melhor a fazer é ajudá-los a ser independentes, o mais cedo possível. Eles não podem viver embaixo das asas da mãe a vida inteira. Por isso, pequenas tarefas no lar, desde a tenra idade são importantes: dobrar a roupa, guardá-la no armário, pendurá-la nos cabides. Retirar a louça da mesa, passar a vassoura, limpar a calçada. Nas compras, permitir ao filho algumas escolhas, a fim de que ele aprenda o que significa decidir-se. Permitir-lhe realizar pagamentos em supermercados, lojas, shoppings, planejar o que fará com a sua mesada, escolher a roupa que usará para ir ao cinema, sair com os amigos, ir ao templo. Torná-lo responsável e participativo nas questões familiares, delegando-lhe o cuidado de irmãos menores, no auxílio a atravessar uma rua, conduzir à escola. Pensemos que nosso filho vai viver no mundo e que o precisamos preparar para isso. Se viermos a faltar ao seu lado, se ele for viver longe de nós, necessitará estar pronto. Exercitemo-lo, portanto, a cada dia, enquanto estamos com ele. Ele, como nós, nasceu para progredir, para crescer. Se lhe fizermos todas as tarefas e o superprotegermos, ele se tornará um incapaz, um inútil. 
Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita com base no cap. Meus amigos na China..., do livro O que os chineses não comem, de Xinran, ed. Companhia das Letras. 
Em 16.1.2020.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

ESSE INCRÍVEL AMOR...

Dizem que é esse arroubo que faz o coração disparar, o sangue fluir ao rosto, as pernas tremerem ante a visão do ser amado. Afirmam que amar é abraçar forte e, abraçados, assistirem o sol se aconchegar no poente, para adormecer até ser despertado pela manhã. Falam que o amor é esse sentimento que emula o ser a escrever poemas, a declamar sonetos e compor serenatas... 
Sim, todas essas são expressões do amor. Do amor de um ser para o outro. Mãos que se entrelaçam, corpos que se aproximam, que se movimentam ao som da música que os embala. Abraços, beijos. Mas o amor verdadeiro é quando tudo isso persiste após anos de convivência. Amar é sentir prazer de estar com o outro, ouvi-lo, acalentá-lo. Nos dias tristes, o amor é a nota melódica que cantarola esperança em ouvidos atentos. É fazer uma declaração de amor, cantando versos, depois que as rugas fizeram arabescos na face e os cabelos se tingiram de neve e prata, ao toque dos delicados dedos do tempo. Amar é, depois de filhos crescidos, netos à vista, dançar à luz do luar, no jardim da casa, na varanda do apartamento, observados por um céu de estrelas. Amar é surpreender o outro com uma flor, um mimo em data qualquer. É sair para tomar um suco, um só, no mesmo copo, com dois canudinhos. Só para poder encostar o nariz um no outro e os olhos sorrirem. É repartir a pizza, para dividir as calorias. É tantas coisas pequenas, grandes, imensas... É dizer: Deixe que eu faço.Você está tão cansada. É buscar as crianças, banhá-las, dar-lhes o lanche e quando ele chegar, estar pronta para convidar: Vamos jantar só nós dois, em algum lugar? É descobrir o que pode fazer o outro mais feliz. É preocupar-se com ele. É comentar o novo penteado, elogiar a roupa nova. É segurar a mão, no hospital, enquanto o ser amado convalesce. É falar de esperança, acenando melhores dias, quando as sombras do desalento comparecem no céu familiar. Amar é ter tempo para assistir juntos um filme, comentar depois e... assistir outra vez, para reviver as emoções positivas da primeira vez. É lembrar do dia do aniversário, é surpreender. Enfim, o amor verdadeiro é aquele que solidifica nos anos, amadurece no tempo e se perpetua pela vida afora.
Pense nisso e se pergunte se você ama de verdade. Pense quando foi a última vez que fez uma declaração de amor, fez um elogio, deu um presente. Quando foi a última vez que saiu para jantar, para dançar, para passear. Quando foi a última vez que saíram de mãos dadas, que assistiram a um show de cabeças coladas uma à outra...
Pense.  
E se descobrir que faz muito tempo, surpreenda seu amor ainda hoje. Convide. Invente, mostre que em seu coração o sentimento sublime ainda vige forte, rijo, maravilhosamente presente. Mas, faça isso, hoje. Não estanque o gesto, nem perca a chance. O amanhã poderá ser o momento que não chegue. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita v. 12 e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. 
Em 8.1.2014.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

ESSE AMOR A SER DESCOBERTO

Todd Bachman-Brittany Pack
Cendrosky
O que é o amor?
De um modo geral, amamos a quem nos ama, a pessoa que sorri nas manhãs e nos segura a mão, na noite das amarguras. Amamos os filhos, carne da nossa carne. E aqueloutros, filhos do coração, que nasceram alhures e os fomos resgatar para lhes ofertar a dádiva de nós mesmos. Amamos os familiares. Dividimos afeições com amigos da infância, da juventude, dos tempos atuais. Ofertamos afeto a colegas de trabalho com os quais ombreamos dificuldades e compartilhamos os sucessos. Quando, no entanto, a barca do matrimônio sofre avarias e acontecem as separações, é comum haver mágoas de um lado ou de outro. Ou de ambos. Como cada qual, ao se consorciar, idealizou o melhor para si naquele relacionamento, quando a separação se faz, o que era dedicação se transforma em desavença, o que era interesse se dilui em uma raiva surda. Isso porque, de um modo geral, quando a infelicidade nos alcança, costumamos culpar os outros por ela, não cogitando que uma parcela dos dissabores nos cabe. Juntos idealizamos um conto de fadas. Juntos, não o conseguimos construir e manter. Há, no entanto, casais que se separam, de forma cordial e conseguem manter um bom relacionamento. Alguns, vão além do respeito para com o novo cônjuge do outro, ofertando amizade. Isso porque, quando existem filhos, é comum surgirem as figuras do padrasto ou da madrasta, que assumem, em muitas horas, pela convivência mais próxima, o papel de pai ou mãe. A cena inusitada, ocorrida no casamento de Brittany Pack, de vinte e um anos, em Ohio, nos Estados Unidos, fala desse reconhecimento de um pai pelo padrasto de sua filha. Todd Bachman comoveu os familiares e todos os internautas, ao redor do mundo, com sua atitude, depois que a fotógrafa Delia postou as fotos, no facebook. Durante o cerimonial em que conduzia sua filha para entregá-la às mãos do noivo, teve uma atitude emocionante. Interrompeu a sua marcha, foi até o padrasto da filha e o tomou pela mão. Depois, juntos, caminharam com Brittany até a frente do altar, em que se realizaria a cerimônia. Assim, a jovem foi acompanhada por quem lhe dera a vida física e por quem, por anos, a sustentara, muito de perto, cuidando de sua saúde, levando-a para a escola, vivenciando, enfim, seu dia a dia. O padrasto, Todd Cendrosky, emocionou-se às lágrimas e, ao ser entrevistado, disse: Quando Todd pegou a minha mão, e me permitiu dividir a caminhada com ele, foi o melhor momento da minha vida. O pai da jovem explicou que reconhecia que o padrasto fazia parte da vida de sua filha e por isso, achava justo que ele estivesse ao lado dela, naquele momento especial. 
 * * *
Amor é isso. Vai muito além de dizer: Eu te amo. Vai além de oferecer presentes, de estar ao lado, de participar de momentos agradáveis e desagradáveis. Amor quer dizer, também, se preocupar com os sentimentos do outro. E, nesse caso, um pai desprendido pensou no dilema de sua filha que, se o amava, também amava àquele que, de mais perto, lhe acompanhara os sucessos e insucessos, a cada dia. Amor, extraordinário sentimento que traduz vida plena, rica. Vida de gestos inusitados, de atitudes altruístas, de emoção e alegrias surpreendentes. 
Redação do Momento Espírita, com base em nota do site www.globo.com, de 30.9.2015. 
Em 25.2.2016.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

NOSSOS PRESSENTIMENTOS

Thrity Umrigar
No jardim, na camaradagem do silêncio, Tammy pensava. Como eram diferentes os dias de agora. Diferentes porque seu amado não estava com ela. Rustom, com sua risada franca, sua confiança ilimitada. Rustom que era capaz de entrar em qualquer lugar e, em poucos minutos, se pôr imediatamente à vontade, deixando as pessoas ao seu redor também à vontade. Rustom, seu amado marido, que era capaz de fazer rir à sua nora, ao seu filho. As folhas das árvores farfalharam, trazendo mais lembranças para Tammy. Ano anterior. Seu marido e o filho na piscina do hotel. Ambos com água pelos joelhos, brincavam. E Rustom gritou para a esposa e a nora:
-Vocês sabem o que estamos fazendo? Estamos criando lembranças para o futuro. Uma coisa alegre para vocês recordarem, quando os velhos já não estivermos por perto. 
O filho puxara a cabeça do pai para perto de si, apertando-a contra o peito e argumentara que, rijo como era seu pai, com certeza ele sobreviveria a todos eles. Rustom respondera com um sorriso e versos do poeta Omar Khayyam: 
-Quando a hora chega, chega. Move-se a mão que escreve e, tendo escrito, segue adiante. 
Tammy agora pensava se o marido tivera uma intuição de que ia morrer. E lembrava dos dias seguintes, de ternuras redobradas, atenções multiplicadas, sorrisos explodindo a toda hora. Seu marido estava lhe ofertando momentos de alegria para recordar depois, quando a saudade vibrasse forte? Fora um choque ter a notícia de que aquele coração generoso parara de bater. Sístoles, diástoles, tudo cessara. A bomba cardíaca deixara de operar e logo a morte enrijecia aquele corpo, cuja ausência ela sentia tanto. 
- Será, continuava a pensar Tammy, será que podemos saber o momento de nossa morte?
* * * 
JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ninguém avança pela estrada do progresso espiritual sem o auxílio da Divindade, por intermédio dos nobres Espíritos que se transformam em guias da Humanidade. São eles que assessoram os homens, zelando por eles, na qualidade de anjos guardiães. São essas almas excelsas que, conhecendo as ocorrências que, de forma geral, estão delineadas para os seus pupilos vivenciarem, os inspiram ou guiam pela senda mais apropriada. Através dessa inspiração é que acontece o chamado pressentimento. Também acontece que o próprio Espírito reencarnado recorda, de forma espontânea, da programação que para si traçou, antes de reencarnar. Dessa forma, pode ter, como intuição, a advertência de que seus dias na Terra estão finalizando. Por isso, idealiza passeios, diligencia providências que evitarão transtornos para sua família, torna-se mais alegre ou mais introspectivo. Em uma palavra, ele se vai despedindo da vida, deixando um rastro de bondade, de alegria para que os seus amores tenham recordações positivas para alimentar a imensa saudade dos dias da sua ausência. 
 * * * 
Fiquemos atentos aos pressentimentos, analisando-os de forma clara e tranquila, quando ocorram. Avaliemos qual a mensagem de advertência ou socorro de que se fazem portadores. Apuremos nossa sintonia com os Espíritos guias, a fim de que com maior facilidade possamos registrar e direcionar de forma saudável e proveitosa os pressentimentos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1 do livro A doçura do mundo, de Thrity Umrigar, ed. Nova Fronteira e no cap. 13 do livro Lições para a felicidade, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 13.1.2020

domingo, 12 de janeiro de 2020

ESSAS OUTRAS VIOLÊNCIAS

RAUL TEIXEIRA
-Você seria capaz de cravar um punhal no coração da sua mãe, da sua esposa, do seu marido, do seu filho ou da sua irmã? 
Talvez a pergunta tenha lhe causado um grande choque. Quase podemos adivinhar a resposta de alguns: 
-Eu jamais seria capaz de fazer uma coisa dessas a ninguém, muito menos às pessoas que amo. 
É provável que aqueles que deram essa resposta estejam certos. Mas, ainda assim, vamos refletir um pouco mais sobre o assunto. Você diz que nunca cravaria um punhal no coração da sua mãe, no entanto, cada vez que a agride com palavras amargas, você a mata um pouquinho. Toda vez que você fica indiferente aos seus nobres conselhos, o seu coração enternecido morre um pouco. Cada vez que você sai, sem dizer para onde vai, e volta altas horas da madrugada, a vitalidade da sua mãezinha vai se apagando junto com as horas de vigília e preocupação madrugada adentro... Quando você, por se achar mais esperto e moderno que seus pais, resolve enveredar pelo caminho das drogas, eles morrem, dia após dia, pela incerteza do futuro que o aguarda e pela dor que sentem no próprio peito a cada tragada ou picada que você se permite. Toda vez que sua ingratidão fere o coração de seus pais, esteja certo de que você os está matando, ainda que não traga nas mãos nenhum punhal. Mas você afirma que não teria coragem de matar sua esposa. No entanto, cada vez que não percebe os apelos silenciosos nos seus olhos suplicantes, você a está matando um pouquinho. Toda vez que não se envolve na educação dos filhos, mesmo diante da sua insistência, e prefere assistir ao telejornal, fazendo-se surdo-mudo, ela morre um pouquinho. Quando você fica indiferente aos esforços que ela faz para lhe agradar, preparando sua comida predileta ou uma surpresa, é como se cravasse em seu peito um punhal. Cada vez que você alega excesso de serviço para não acompanhá-la ao médico ou a uma festa na escola dos filhos, a sensação de estar só destrói um pouco a sua vitalidade. 
Quantas vezes você já não cravou o punhal da indiferença no coração do seu esposo? 
Quantas vezes você matou seus sonhos, que eram o sustento dos seus dias, fazendo-se fria aos seus carinhos para buscar, noutros braços, a ilusão de uma aventura passageira? 
Mas você também assegura não ser capaz de dilacerar o coração do seu filho com arma alguma. No entanto, quando ignora suas necessidades de carinho, atenção, respeito e educação, você o está envenenando da forma mais cruel. Quando nega a seu filho a proteção de um lar sólido, harmonioso, capaz de fazê-lo sentir-se amparado, seguro e amado, a pretexto de não estragar a sua felicidade, estará levando aos lábios dele a taça envenenada com o fel do egoísmo, capaz de provocar-lhe morte lenta e dolorosa. Assim, vale pensar nessas outras formas de violência, veladas, que muitas vezes promovemos sem perceber. A ingratidão, a indiferença, as palavras amargas, a infidelidade, o desrespeito, as chantagens emocionais, são causadoras de muitas mortes lentas e muito mais doloridas que um punhal cravado no peito. Talvez você nunca tenha parado para pensar a esse respeito, mas essa é a dura realidade. Nossos afetos também morrem de desgosto. Por todas essas razões, comecemos agora a prestar atenção em nossas ações e esforcemo-nos para fazer aos outros o que gostaríamos que eles nos fizessem. Eis uma receita infalível, recomendada pelo Cristo, há muitos séculos.
 * * * 
Seja você alguém sempre atento às pessoas que fazem parte da sua experiência evolutiva. Aprenda a sentir as súplicas, muitas vezes veladas, daqueles que estão mais próximos. Ouça seus apelos mais secretos, pois só assim conseguirá a sublime ventura de construir a felicidade do seu próximo e, por conseguinte, a própria felicidade. 
Redação do Momento Espírita, a partir de palestra de Raul Teixeira, proferida no Teatro Carlos Gomes, em Blumenau-SC, em 08/01/2000. 
Em 23.12.2010.

sábado, 11 de janeiro de 2020

VOCÊ PODE FAZER A DIFERENÇA

Doutor Theodore Stoddard
Você pode fazer a diferença No primeiro dia de aula, ela parou em frente aos seus alunos da quinta série e lhes disse que gostava de todos. No entanto, ela sabia que isso era quase impossível. Na primeira fila estava um garoto chamado Teddy. A professora havia observado que ele não se dava bem com os colegas de classe e, muitas vezes, suas roupas estavam sujas e cheiravam mal. Ao iniciar o ano letivo, era solicitado a cada professor que lesse com atenção a ficha escolar dos alunos, para tomar conhecimento das anotações feitas em cada ano. A senhora Thompson fez isso alguns meses depois que as aulas tinham iniciado. Quando leu a de Teddy ficou surpresa. A professora do primeiro ano havia anotado: 
-Teddy é um menino brilhante e simpático. Seus trabalhos sempre estão em ordem e muito nítidos. Tem bons modos e é agradável estar perto dele. 
A professora do segundo ano escrevera: 
-Teddy é um aluno excelente e muito querido por seus colegas. Tem estado preocupado com sua mãe que está com uma doença grave. A vida em seu lar deve estar muito difícil. 
Da professora do terceiro ano: 
-A morte de sua mãe foi um golpe duro para Teddy. Ele procura fazer o melhor, mas seu pai não tem nenhum interesse e logo sua vida será prejudicada se ninguém tomar providências para ajudá-lo. 
A professora do quarto ano escrevera: 
-Teddy anda muito distraído e não mostra interesse pelos estudos. Tem poucos amigos e muitas vezes dorme na sala de aula. 
A senhora Thompson se deu conta do problema. Lembrou dos presentes que os alunos lhe haviam dado, envoltos em papéis coloridos, exceto o de Teddy, que estava enrolado num papel marrom de mercado. Os outros garotos riram ao ver uma pulseira faltando algumas pedras e um vidro de perfume pela metade. Ela disse que o presente era precioso, pôs a pulseira no braço e um pouco de perfume sobre a mão. Naquela ocasião, Teddy ficou um pouco mais de tempo na escola. Lembrou-se que ele dissera que ela estava cheirosa como sua mãe. Nesse dia, a professora Thompson chorou... Em seguida, mudou sua maneira de ensinar e passou a dar mais atenção aos seus alunos, especialmente a Teddy. O menino foi se animando e se tornou o melhor da classe. Seis anos depois, a professora recebeu uma carta de Teddy contando que havia concluído o ensino médio e que ela tinha sido a sua melhor professora. Então, um dia, ela recebeu uma carta assinada pelo Doutor Theodore Stoddard, seu antigo aluno Teddy. Quando os dois se encontraram, no casamento dele, abraçaram-se por longo tempo e Teddy lhe disse ao ouvido: 
-Obrigado por acreditar em mim e me fazer sentir importante, demonstrando-me que posso fazer a diferença. 
Ela, com os olhos banhados em pranto, sussurrou: 
-Você está enganado! Foi você quem me ensinou que eu podia fazer a diferença, afinal eu não sabia ensinar até que o conheci. 
 * * * 
Mais do que ensinar a ler, escrever, explicar matemática e outras matérias, é preciso ouvir os apelos silenciosos que ecoam na alma do educando. Mais do que avaliar provas e dar notas, é importante ensinar com amor, mostrando que sempre é possível fazer a diferença... 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autor desconhecido. 
Em 10.1.2020.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

ESSAS OUTRAS CRIANÇAS

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Quando abraces teu filho, no conforto doméstico, fita essas outras crianças que jornadeiam sem lar. Dispões de alimento abundante para que teu filho se mantenha em linha de robustez. 
Essas outras crianças, porém, caminham desnorteadas, aguardando os restos da mesa que lhes atiram, com displicência, após o repasto. Escolhes a roupa nobre e limpa com a qual teu filho se vestirá, conforme a estação. Todavia, essas outras crianças tremem de frio, recobertas de andrajos. 
Defendes teu filho contra as intempéries, sob teto acolhedor, sustentando-o como se fosse uma joia. Contudo, essas outras crianças cochilam estremunhadas na via pública. 
Abres, ao olhar deslumbrado de teu filho, os tesouros da escola. E essas outras crianças suspiram em vão pela luz do alfabeto, acabando, muita vez, encerradas no cubículo das prisões, à face da ignorância que lhes cega a existência. 
Conduzes teu filho a exame de pediatras distintos sempre que demonstre leve dor de cabeça. Entretanto, essas outras crianças minadas por moléstias atrozes, agonizam em leitos de pedra, sem que mão amiga as socorra. 
Ofereces aos sentidos de teu filho a festa permanente das sugestões felizes, através da educação incessante. No entanto, essas outras crianças guardam olhos e ouvidos quase sintonizados no lodo abismal das trevas. 
Afaga assim, teu filho no trono familiar, mas desce ao pátio da provação onde essas outras crianças se agitam em sombra ou desespero e ajuda-as quanto possas! 
Quem serve no amor de Cristo, sabe que a boa palavra e o gesto de carinho, o pedaço de pão e a peça de vestuário, o frasco de remédio e a xícara de leite operam maravilhas. Proclamas a cada passo que esperas confiante o esplendor do futuro, mas, enquanto essas outras crianças chorarem desamparadas, clamaremos em vão pelo mundo melhor. 
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem do Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Em 06.06.2011.