quarta-feira, 31 de julho de 2019

O ZELADOR DA FONTE

Charles R. Swindoll
Conta uma lenda austríaca que, em determinado povoado, havia um pacato habitante da floresta que foi contratado pelo Conselho Municipal para cuidar das piscinas que guarneciam a fonte de água da comunidade. O cavalheiro, com silenciosa regularidade, inspecionava as colinas, retirava folhas e galhos secos, limpava o limo que poderia contaminar o fluxo da corrente de água fresca. Ninguém lhe observava as longas horas de caminhada ao redor das colinas, nem o esforço para a retirada de entulhos. Aos poucos, o povoado começou a atrair turistas. Cisnes graciosos passaram a nadar pela água cristalina. Rodas d'água de várias empresas da região começaram a girar dia e noite. As plantações eram naturalmente irrigadas, a paisagem vista dos restaurantes era de uma beleza extraordinária. Os anos foram passando. Certo dia, o Conselho da cidade se reuniu, como fazia semestralmente. Um dos membros do Conselho resolveu inspecionar o orçamento e colocou os olhos no salário pago ao zelador da fonte. De imediato, alertou aos demais e fez um longo discurso a respeito de como aquele velho estava sendo pago há anos, pela cidade. 
-E para quê? O que é que ele fazia, afinal? 
Era um estranho guarda da reserva florestal, sem utilidade alguma. Seu discurso a todos convenceu. O Conselho Municipal dispensou o trabalho do zelador da fonte, de imediato. Nas semanas seguintes, nada de novo. Mas no outono, as árvores começaram a perder as folhas. Pequenos galhos caíam nas piscinas formadas pelas nascentes. Certa tarde, alguém notou uma coloração meio amarelada na fonte. Dois dias depois, a água estava escura. Mais uma semana e uma película de lodo cobria toda a superfície ao longo das margens. O mau cheiro começou a ser exalado. Os cisnes emigraram para outras bandas. As rodas d'água começaram a girar lentamente, depois pararam. Os turistas abandonaram o local. A enfermidade chegou ao povoado. O conselho municipal tornou a se reunir, em sessão extraordinária e reconheceu o erro grosseiro cometido. Imediatamente, tratou de novamente contratar o zelador da fonte. Algumas semanas depois, as águas do autêntico rio da vida começaram a clarear. As rodas d'água voltaram a funcionar. Voltaram os cisnes e a vida foi retomando seu curso. 
* * * 
Assim como o Conselho da pequena cidade, somos muitos de nós que não consideramos determinados servidores. Aqueles que se desdobram, todos os dias, para que o pão chegue à nossa mesa, o mercado tenha as prateleiras abarrotadas; os corredores do hospital e da escola se mantenham limpos. Há quem limpe as ruas, recolha o lixo, dirija o ônibus, abra os portões da empresa. Servidores anônimos. Quase sempre passamos por eles sem vê-los. Mas, sem seu trabalho, o nosso não poderia ser realizado ou a vida seria inviável. O mundo é uma gigantesca empresa, onde cada um tem uma tarefa específica, mas indispensável. Se alguém não executar o seu papel, o todo perecerá. Dependemos uns dos outros. Para viver, para trabalhar, para ser felizes! 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O zelador da fonte, de Charles R. Swindoll, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray, ed. United Press. 
Em 31.7.2019.

terça-feira, 30 de julho de 2019

EQUÍVOCOS

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
As experiências terrenas são sempre ricas de oportunidades para o aprendizado da alma. Ao reencarnarmos, iniciamos nova jornada, onde as lições se renovam, as oportunidades de conhecimento e entendimento dos mais variados aspectos da existência surgem, e as lições de crescimento pessoal se oferecem ricas. Porém, para que novos aprendizados se calem na intimidade da alma, em forma de valores e atitudes renovadas e nobres, faz-se necessário o esforço no caminhar e o ensaiar de novas experiências. Não é por outro motivo que a vida se mostra rica, a nos ensejar relacionamentos, oportunidades, situações, das quais se pode extrair lições valiosas e testemunhar valores que se ensaiam na intimidade da alma. Nada obstante, essas novas lições são sempre desafiadoras, posto que, ao nos oferecer novas situações, oferecem também testemunhos para a alma, que é testada em suas tendências e pendores. Por isso que, não raro, caímos em equívocos perante situações da vida, resultando em atitudes indesejadas. Anelávamos agir de uma maneira, porém, deixamo-nos vencer, tomando outro caminho. Imaginávamo-nos tomando tal atitude e, no momento, arrastamo-nos em outra direção menos nobre. Planejávamos tomar tal posicionamento e, na hora decisiva, tombamos em opção menos correta. São os equívocos naturais do aprendizado de quem ensaia seus primeiros passos para a construção de um mundo íntimo rico das coisas de Deus. Assim, se tombamos nos caminhos da vida, ergamo-nos e retomemos a caminhada. Se perdemos o caminho reto, a estrada feliz, adentrando por labirintos perigosos, em alguma encruzilhada da vida, refaçamos os passos sem medo de retomar a caminhada. Nenhum de nós está isento de equívocos perante a vida, de atitudes menos felizes e de ações pouco nobres. Portanto, não nos perturbemos demoradamente perante tropeços e falhas no nosso caminhar. Lamentações demoradas somente farão estragos maiores em nosso mundo íntimo. Paguemos em renovação interior as desditas e desatinos cometidos. Mudemos nossa paisagem íntima, agora mais amadurecida e esclarecida após as dificuldades, não perdendo tempo a olhar os dias que já se foram e não mais retornarão. Levantemo-nos e sigamos além. É verdade que encontraremos adiante a sementeira infeliz de hoje, e que bem poderíamos ter evitado. Quando isso ocorrer, colhamos os espinhos, resgatando com alegria os erros do ontem, projetando dias felizes, para logo mais. 
 * * * 
Cada manhã é bênção da vida, trazendo belezas novas a diluir os fantasmas do medo e da insegurança. Jesus é sempre o amigo seguro dos equivocados e caídos que O buscam, pois que somente nEle encontramos o apoio e a paz para a vitória que não tarda chegar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap 14, do livro Responsabilidade, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 24.11.2011

segunda-feira, 29 de julho de 2019

EQUÍVOCOS NA EDUCAÇÃO

A mãe é a grande responsável pela formação do caráter do filho, seguida pelo pai, como co-participante dessa grande tarefa. Por vezes, a mãe, investida da melhor das boas intenções comete equívocos na educação, que poderão infelicitar sobremaneira o filho, a quem ama e deseja ver feliz. Um desses equívocos é assumir a vida e os gostos da criança. É ela que adoça o café ou o suco do filho; é ela que sabe do que ele gosta ou deixa de gostar. É a mãe que responde quando alguém pergunta à criança se ela deseja isso ou aquilo. É ela que escolhe roupas, calçados, conforme as cores e modelos que gosta, muitas vezes abafando os desejos do filho, quando esse já tem idade para opinar. A mãe cria o filho ou filha com se fossem mentalmente inválidos. Embora não se duvide do amor que move essas atitudes, essas mães estão prejudicando sobremaneira a formação dos seus amores. Isso porque a criança cresce sem se conhecer, porque a mãe é quem sabe tudo sobre ela. Na fase da adolescência, os conflitos aumentam pois agora o filho já não aceita mais ser guiado pela mãe, mas submete-se, sem critérios, ao grupo com o qual passa a conviver. Daí, se veste como os da sua tribo, se comporta como o seu grupo estabelece, se caracteriza, enfim, como os demais. Não tem gosto próprio, pois a mãe sempre decidiu tudo por ele. A criança, que desde cedo aprendeu a ser passiva em tudo, agora não consegue se desvencilhar dessa dependência perigosa. Esse tipo de educação gera jovens sem opinião própria, sempre preocupados com o que os outros pensam ou dizem deles. São jovens sem iniciativa, sem senso crítico, sem maturidade, que estão sempre esperando que alguém lhes diga o que fazer e do que devem gostar ou desgostar. Infelizmente essas falhas na educação infelicitam em vez de formar homens e mulheres aptos para gerir as próprias vidas de forma lúcida e coerente. É por essa razão que moças se deixam iludir por promessas mirabolantes, como as feitas pelo maníaco do parque, que acenava com a possibilidade de fazê-las famosas, fotografando-as, nuas, no meio do mato. Se essas moças tivessem discernimento e senso crítico, certamente não aceitariam tal convite, por ser destituído de fundamento. Importante que mães e pais pensem com carinho a respeito da grande missão que lhes cabe como educadores e formadores de caracteres. Importante se pensar em educar os filhos para que tenham autonomia no pensar e no agir, por si mesmos, e não sejam conduzidos como marionetes, sem direito a pensar nem assumir responsabilidades. Importante que os pais atentem para essa questão e permitam que os filhos aprendam a se conhecer desde cedo. A fazer algo que os faça sentirem-se úteis e valorizados. Muito embora se tente combater o trabalho infantil dentro do lar, como se pequenas tarefas fossem prejudicar a infância, os pais conscientes sabem que se hoje têm os pés firmes no chão, é porque seus pais lhes colocaram responsabilidades sobre os ombros. Você que é mãe ou pai, e ama seus filhos, pense nisso e avalie até que ponto não está tomando para si a vida deles. E se perceber que está cometendo esse grande equívoco, não perca mais nenhum minuto. Corrija o passo e ofereça ao seu filho a bendita oportunidade de crescer. 
 * * * 
A educação deve promover o homem não apenas no meio social, mas prepará-lo para a vida essencial, que é realidade do ser imortal, filho da luz, que deve seguir, individualmente, seu caminho para a Grande Luz, que é o Criador. 
Redação do Momento Espírita, com base em Seminário proferido por Raul Teixeira, no VI Simpósio Paranaense de Espiritismo, em 27 de maio de 2003. Disponível no livro Momento Espírita v. 4, ed. Fep 
Em 12.12.2013

domingo, 28 de julho de 2019

EQUIPE SOLIDÁRIA

Nos dias tumultuados de hoje, em que geralmente cada um pensa somente em si, esquecendo de quem caminha ao seu lado, vale a pena refletir um pouco sobre a história do menino Shaya, contada por seu pai. Shaya era aluno de uma escola dedicada ao ensino de crianças deficientes, no Brooklin, Nova Iorque. Não podia entender as coisas nem podia se lembrar de fatos e números como as outras crianças. Contou o pai de Shaya que, numa tarde, ele e seu filho caminhavam por um parque onde alguns meninos que Shaya conhecia estavam jogando beisebol. Shaya perguntou ao pai: 
-Você acha que eles me deixarão jogar? 
O pai sabia que seu filho não era atlético e que a maioria dos meninos não o queria no time. Mas entendeu que se Shaya fosse aceito no time, isso lhe daria uma confortável sensação de participação. Aproximou-se de um dos meninos e perguntou se seu filho poderia jogar. O menino deu uma olhada ao redor buscando a aprovação dos seus companheiros de time. Mas, mesmo não conseguindo nenhuma aprovação, ele assumiu a responsabilidade sozinho e disse: 
-Nós estamos perdendo por seis rodadas e o jogo está na oitava rodada. Eu acho que ele pode entrar no time e nós tentaremos colocá-lo para bater até a nona rodada . 
O pai ficou radiante quando Shaya abriu um grande sorriso. Pediram ao menino para vestir uma luva e entrar no campo para jogar. No final da oitava rodada, o time de Shaya marcou alguns pontos mas ainda estava perdendo por três. No final da nona rodada, o time marcou novamente e, agora, com dois fora e as bases com potencial para a rodada decisiva, Shaya foi escalado para continuar. 
-Será que o time deixaria Shaya bater naquela circunstância e jogar fora a chance de ganhar o jogo? Pensou o pai, preocupado. 
Para surpresa de todos, foi dado o bastão a Shaya. Todo mundo sabia que era quase impossível porque ele nem mesmo sabia segurar o bastão. Porém, quando ele tomou posição, o lançador se moveu alguns passos para arremessar a bola suavemente de maneira que Shaya pudesse, ao menos, rebater. Foi feito o primeiro arremesso, Shaya balançou desajeitadamente e perdeu. Um dos companheiros do time foi até ele e, juntos, seguraram o bastão e encararam o lançador. O lançador deu novamente alguns passos e lançou a bola suavemente para Shaya. Quando veio o lance, Shaya e o seu companheiro de time rebateram a lenta bola do lançador. O lançador apanhou a bola e poderia tê-la lançado facilmente ao primeiro homem de base. Shaya estaria fora e isso teria terminado o jogo. Mas, ao invés disso, pegou a bola e lançou-a em uma curva longa e alta para o campo, distante do alcance do primeiro homem de base. Todo mundo começou a gritar:
-Shaya, corra para a primeira base. Corra para a primeira. 
Nunca na vida dele ele tinha corrido... Mas, saiu em disparada para a linha de base, com os olhos arregalados e assustado... E chegou lá. O jogador da direita pegou a bola e poderia tê-la lançado ao segundo homem de base, que colocaria Shaya para fora, pois ele ainda estava correndo. Mas o jogador entendeu quais eram as intenções do lançador e lançou a bola alta e distante, acima da cabeça do terceiro homem de base. Todo o mundo gritou: 
-Corra para a segunda, corra para a segunda. 
Shaya correu para a segunda base enquanto os jogadores, à frente dele, circulavam de propósito para a base principal. Quando Shaya alcançou a segunda base, todos gritaram: 
-Corra para a terceira. 
Quando Shaya contornou a terceira base, os meninos de ambos os times correram atrás dele gritando: 
-Shaya, corra para a base principal. 
Shaya correu para a base principal, pisou nela e todos os dezoito meninos o ergueram nos ombros fazendo dele o herói, como se ele tivesse conquistado a vitória para o seu time e vencido um campeonato. E o pai de Shaya disse docemente e com lágrimas caindo sobre sua face: 
-Eu nunca tinha visto um sorriso tão lindo no rosto do meu filho! 
* * * 
Nada pode significar mais do que um sorriso na face de uma criança especial. Nenhuma vitória pode ser mais valorosa que a vitória da solidariedade. 
Redação do Momento Espírita com base em história de autoria desconhecida. 
Em 06.06.2011.

sábado, 27 de julho de 2019

A EQUIPE MAIS IMPORTANTE

Era o dia das profissões na escola municipal. Os pais compareciam e relatavam detalhes de como exerciam sua profissão. Os alunos, curiosos, faziam perguntas. Algumas profissões encantavam a turma pela coragem necessária, como a dos bombeiros; ou excitavam a fantasia da criançada, como a de ator ou músico ou jogador de futebol. Quando o pai de Sérgio entrou na sala, o menino foi escorregando na cadeira, desejando se esconder. Ele ficou imaginando o que o pai iria dizer. Corou de vergonha. No entanto, Roberto, mostrando-se bem à vontade, contou que no momento estava desempregado. 
-Que profissão é esta? O que é, exatamente, que o senhor faz?
Perguntou, logo, um afoito garoto. 
-Bom, eu diria que minha principal ocupação, no momento, é procurar trabalho. 
Um grande silêncio se fez na sala. Corajoso, continuou o seu relato. 
-Imaginem vocês que somos uma equipe de futebol e estamos perdendo de quatro a zero. Então, temos duas alternativas: podemos desistir ou podemos lutar até o final do jogo e tentar reverter o placar. O que vocês fariam? 
A turma se entusiasmou e cada um foi dizendo que continuaria jogando, que faria cinco gols para ganhar a partida, que daria o melhor de si... 
-Pois é, continuou aquele pai, imagino quantos de vocês têm pais que trabalham o dia todo fora de casa e, à noite, quando chegam cansados, ainda se desdobram com as tarefas domésticas. Penso em quantos de vocês têm irmãos mais velhos que, depois de terem saído de casa, para ganhar a própria vida, sofreram dificuldades e tiveram que voltar para a casa dos pais. Tenho certeza que alguns de vocês vêm para a escola acompanhados por um irmão ou uma irmã. Isso é equipe. Um ajuda o outro, sustenta o outro, ampara. Eu sou o jogador de uma equipe maravilhosa, a mais sensacional equipe que se possa ter: minha família. 
Nesse momento, Sérgio levantou a cabeça, voltou a se sentar ereto e começou a prestar atenção no que dizia o seu pai. 
-Família é o que há de mais importante na vida. Minha família me sustenta, nesse período, em que saio, a cada dia, tentando conseguir um trabalho. Quando acordo pela manhã, é o sorriso da minha família que me anima a prosseguir lutando, buscando. Minha família suporta meu mau humor quando tenho um dia ruim. Somos uma equipe e, como no futebol, não importa em que posição estejamos jogando, não importa se estamos perdendo a partida, o que importa é como se joga, porque sempre há a possibilidade de se reverter a situação. Por isso, eu continuo, todos os dias, procurando um trabalho que me garanta auxiliar a minha família, enquanto ela mesma me sustenta, sem reclamar, sem acusar. Minha família é a melhor equipe, a mais importante da minha vida. E, para cada um de nós, é com certeza, a equipe, graças à qual, vamos em frente, não paramos perante os obstáculos que possam se fazer maiores. Família é amparo, é união, é auxílio. 
Quando Roberto concluiu, foi tão aplaudido quanto qualquer outro dos pais que por ali havia passado, descrevendo os lances emocionantes de sua profissão. Nos olhos das crianças havia o brilho da emoção. Em seus corações, a lição de um pai agradecido à esposa e filhos que lhe entendiam o esforço e lhe davam apoio. Uma lição que eles levariam impressa, de forma indelével, para as suas próprias vidas.
Redação do Momento Espírita, com base no link 
www.hirukide.com/es/index.php [visualização em 5.2.2014]. 
Em 17.3.2014.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

EQUILÍBRIO

Antonio Baduy Filho
Caridade é o amor em ação, aprendemos com o Apóstolo Paulo. Contudo, em nome da caridade, por vezes, cometemos algumas falhas. Por isso, é sempre bom considerar que é muito bom dar pão ao faminto. No entanto, não devemos esquecer a família. Aqueles que se encontram sob nossa guarda, nos merecem toda a atenção e cuidados. Distribuir o agasalho, cobrindo corpos desnudos, é gesto cristão. Mas em nome dessa ação, não podemos complicar a própria vida, criando problemas para nós e para os nossos afetos. É sinal de caridade socorrer o doente, providenciando-lhe o remédio, o médico, o hospital. Auxiliar aquele que tem dificuldades de tratar com a burocracia para conseguir um tratamento prolongado ou um internamento que se faz urgente. Entretanto, não podemos esquecer de tratar de nossa própria saúde, consultar o médico quando sintamos algo que nos desequilibra a organização física, submeter-nos a exames, tratamentos especializados, eventual cirurgia. É excelente ajudar na instituição beneficente, doando horas a favor do próximo. No entanto, não podemos esquecer que a cada um de nós compete trabalhar para prover a própria subsistência e da família. Quem não trabalha, se torna um peso que a sociedade deve arcar. A sociedade pode ser a parentela corporal, amigos ou instituições. Se desejamos servir, lembremo-nos antes de tudo que a Divindade não nos pede a totalidade das horas, mas aquelas que possamos dispor e que são as do nosso descanso; do nosso lazer, sem prejuízo das que precisamos permanecer nas lidas profissionais, garantindo nosso sustento. É importante direcionar recursos aos necessitados, colaborando com indivíduos ou instituições de beneficência. O que não devemos esquecer é de saldar as próprias dívidas. Se assim não procedermos, estaremos prejudicando aos que trabalharam para nos ceder suas mercadorias ou seus serviços, e aguardam que cumpramos com nossos compromissos a fim de se sustentarem. Importante visitar o lar infeliz pela viuvez, pela orfandade ou pela miséria, sem esquecer de cuidar do próprio lar. Dessa forma, amparemos o desorientado, mas conservemos a própria harmonia, não nos permitindo a perturbação por não conseguir resolver problemas alheios. Colaboremos na assistência social, mas respeitemos os próprios compromissos familiares, afetivos, profissionais. Façamos a caridade, mas não esqueçamos as próprias obrigações, quaisquer que elas sejam. Lembremos que o bem é fator de equilíbrio entre o amor ao próximo e o amor a si mesmo. 
* * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
Comecemos em nossa família a obra da fraternidade geral. Organizemos a nossa família, confiantes, entregando-nos a Deus e trabalhemos no bem, com equilíbrio, porque, em última análise, de Deus tudo procede, como atento Pai que é de todos nós. 
Redação do Momento Espírita com base na mensagem Fator de equilíbrio, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Antonio Baduy Filho, em 11.04.1999, no Sanatório José Dias Machado e no verbete Família do livro Repositório de sabedoria,v. 1, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 21.1.2013

quinta-feira, 25 de julho de 2019

FALANDO AO OCEANO

Algumas folhas de papel, caídas sobre a areia de uma praia pouco visitada, traziam as seguintes linhas: 
-Quando abraço o oceano com o olhar, volto a questionar milhões de coisas, tantas quanto as ondas que ganham a areia. Volto a questionar: Como alguém pode sentir-se só na presença do mar? Na presença desta brisa incessante? Na companhia deste perfume raro?! Como ainda posso me sentir só, sabendo que os braços do invisível me abraçam, que aqueles que partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção, somos amados por alguém!? Como ainda posso me sentir só? Talvez seja porque eu me isole do mundo, e seja exigente demais com as pessoas. Pode ser isso. Talvez seja porque eu não permita que os outros conheçam minha vida, meus sonhos, minhas dificuldades. Acho que há um pouco de orgulho nisso. Quem sabe seja porque eu procure a solidão, e não ela que me persiga, como eu imaginava. É... Talvez eu precise conversar mais com as pessoas, me interessar mais por suas vidas, ouvir. Há tempos que não ouço alguém; um desconhecido relatando os acontecimentos corriqueiros do dia a dia; um colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos. Meus irmãos: há tempos não converso com eles sobre assuntos profundos, como planos para o futuro, lembranças boas do passado. É curioso, pois lembro-me de que há algumas semanas ouvi uma mensagem de cinco minutos, num programa de rádio, que falava sobre isso, sobre como as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isto é prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é consequência da outra. O locutor dizia que quem ama não se sente só, pois está sempre se doando, se envolvendo com os corações mais próximos, na intenção de ajudar. Dizia ainda que, quando nos sentimos úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação, de nosso amor, também esquecemos da solidão. Acredito que ele tenha razão, pois lembro que naquele dia fui visitar uns tios que não via há muito tempo, e aquela visita fez-me tão bem! Falamos de assuntos comuns, como notícias de televisão, notícias da família, mas ao final saí de lá menos tenso, menos preocupado com a solidão. Abracei minha tia, e a ouvi dizer, por entre lágrimas discretas: 
-Gostamos muito de você, viu? Venha mais vezes! Não é sempre que recebemos visitas!
-Ela está certa. Não é sempre que recebemos visitas, pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu. Naquela tarde, vi que poderia ser útil em pequenas coisas, e que aquilo me afastava um pouco da solidão. Dentro do carro, voltando para casa, observando o movimento intenso nas ruas, lembro de fazer estas mesmas perguntas: como pode alguém sentir-se só na presença de tanta gente, de tanta vida!? Quantos desses corações esperam apenas por uma visita? E quantos deles estão dispostos a fazer uma? E aqui está você, amigo oceano, à minha frente, ouvindo todas estas minhas divagações. Acho que foi sua presença, rei das águas, que me ajudou a entender melhor o que se passa em meu íntimo. Agradeço profundamente por sua companhia, por conseguir me ouvir, e por me dizer, mesmo sem falar, que o que preciso fazer é visitar mais o coração de meu próximo. Muito obrigado. 
Redação do Momento Espírita, com base em narrativa de autor ignorado pela equipe. 
Em 25.7.2019.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O VALOR DE CADA UM

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Narra uma lenda indiana que um homem foi contratado para levar água do córrego à residência do seu amo, todos os dias. A sua tarefa consistia em encher um grande recipiente com a água cristalina. Para isso, lhe forneceram dois potes, amarrados com cordas a um pedaço de madeira especial, que ele carregava aos ombros, um de cada lado. Todas as manhãs, mal rompia o dia, lá estava ele enchendo os potes de barro, caminhando pela estrada e realizando o seu trabalho com muita alegria. Passados alguns meses, o trabalhador observou que um dos potes rachou. Assim, no trajeto do córrego até a casa do seu senhor, muita água se ia perdendo pelo caminho, de forma que em vez de chegar com dois potes cheios, ele chegava com somente um e meio. Numa manhã, o servidor foi surpreendido pela fala do pote rachado que lhe perguntou por que ele não o substituía por um novo. Ele estava rachado. Perdia muita água. Não servia mais. O homem, entusiasmado, lhe respondeu: 
- De forma nenhuma considero você inutilizado para o trabalho. Você talvez não tenha se dado conta mas vai sempre pendurado do meu lado direito. O fato de você ir derramando água pelo trajeto, fez-me perceber que a terra daquele lado ficou umedecida, mais verde. Então, vendo a terra assim tão disposta, arranjei algumas sementes de flores e as semeei. Se você prestar atenção, verificará que do lado direito há um canteiro de flores belas, perfumadas e coloridas. Graças à sua rachadura, transformei o caminho em um jardim agradável. 
Mas o pote voltou à carga. 
-Contudo, o seu amo está sendo lesionado e não deve estar gostando nada do seu desempenho. Você foi contratado para levar dois potes cheios de água, e chega somente com um e meio. 
Novamente, o homem respondeu, feliz: 
- Ao contrário. Cada dia meu amo mais aprecia o meu trabalho e a minha dedicação. Desde que as flores começaram a surgir, na sua profusão de qualidades e encantos, passei a colher algumas. Levo-as com cuidado e as deposito no vaso na mesa da sala do meu senhor. Ele se delicia com o perfume. E já o surpreendi, mais de uma vez, a acariciar as pétalas das flores, encantado. 
 * * * 
À semelhança do pote rachado, alguns de nós nos sentimos inúteis na vida. Parece-nos que não somos importantes a ninguém, que nada de útil ou bom fazemos. Mas não é verdade. Pensemos em quantas vidas influenciamos com a nossa presença. Pensemos no que, mesmo com nossos poucos recursos, podemos realizar a bem de quem vive à nossa volta. Quem dispõe de voz, pode usá-la para cantar uma canção e alegrar o dia. Quem dispõe de braços, pode estendê-los na direção do outro e agasalhá-lo nos dias da adversidade, como um colo de mãe protege o filho. Quem tem pernas saudáveis, pode direcioná-las no caminho da carência e aliviar dores escondidas em casebres, barracos e ruas. Quem tem um coração que ama, pode modificar o mundo, começando pelo seu local de trabalho, seu lar, sua rua, sua comunidade. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto narrado por Divaldo Pereira Franco, no IV Simpósio Paranaense de Espiritismo, em 22.8.1999, em Curitiba, Paraná. 
Em 24.7.2019.

terça-feira, 23 de julho de 2019

QUANDO A BONDADE SE EXPRESSA

Chris Benghue
O rapaz estava desempregado. Fora despejado e dormia no carro. Carro, aliás, que ele não tinha dinheiro para colocar combustível. Chegou o dia em que estava com fome. E sem dinheiro para comprar nada. Desesperou-se. Na noite fria, o estômago reclamando, ele entrou em uma lanchonete. Como não sabia quando seria sua próxima refeição, comeu a mais não poder. Quando chegou a hora de pagar, fingiu que tinha perdido sua carteira. Fez um barulho enorme. Começou a olhar por todo lugar. Virou a lanchonete de cabeça para baixo. De trás do balcão o cozinheiro, que era também o dono do lugar, saiu e foi até onde estava o rapaz. Abaixou-se, fingiu apanhar alguma coisa do chão e entregou a ele. Eram cem reais. Acho que você deixou cair quando entrou. Danilo ficou confuso mas pagou a conta e saiu rapidinho. 
-E se o dono do dinheiro aparecer? 
Ele se perguntava, andando pela rua. Até que se deu conta que na verdade o dono da lanchonete fingira achar o dinheiro. Ele colocou gasolina no carro e rodou para outra cidade. Enquanto rodava, agradeceu a Deus o gesto daquele desconhecido. E prometeu que se sua vida melhorasse, ele faria aos outros o que aquele homem fizera por ele. O tempo passou. Ele teve fracassos, reveses. Até que, afinal, as dores da pobreza passaram. Foi então que Danilo decidiu que era hora de honrar a promessa e completar o voto feito naquela noite escura de inverno. Pelos anos seguintes, ele iniciou sua jornada de doações. Queria dar, mas não queria que as pessoas o agradecessem. Começou a identificar pessoas realmente necessitadas. Assim, a família de um garoto de 14 anos, que sofria de leucemia, encontrou uma larga soma de dinheiro, em sua caixa de correio. Uma viúva, com sete crianças e dois netos, foi surpreendida com várias notas, colocadas embaixo de sua porta. Um jovem que precisava de um transplante de pulmão, respirou aliviado quando em sua conta apareceu a expressiva soma que precisava para a cirurgia. Ele pagou aluguel, prestações de carro, contas de mercado, sempre sem aviso e sem ficar por perto para elogios. A sua alegria era a expressão no rosto dessas pessoas. Agora só faltava ele agradecer a quem o socorrera. Ele procurou pelo dono da lanchonete por quase um ano. O local estava fechado. Arranjou em encontro, dizendo-se historiador e que desejava fazer uma matéria sobre pessoas antigas da localidade. Chegou carregado de presentes e uma grande quantia em dinheiro. 
-Eu sou aquele sujeito que você ajudou 29 anos atrás, disse Danilo. Você mudou a minha vida, naquela noite. 
O ex-dono da lanchonete, aposentado, com 81 anos de idade, chorou. Sua esposa estava doente, lutando contra o câncer e o mal de Alzheimer. Ele estava atolado em contas hospitalares. O dinheiro fora mandado por Deus. Para Danilo, era um simples gesto de gratidão. Para aquele idoso, era o acenar de um novo tempo, sem provações. 
 * * *
Fomos criados para amar. Importar-se com os outros é caminho para a felicidade. Se você segura a porta para a pessoa que está atrás de você, se leva uns docinhos para repartir com o pessoal do escritório, respire fundo. Respire e sinta o cheiro da bondade. O mundo em que vivemos depende dela. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O princípio do altruísmo, do livro Muito além da coragem, de Chris Benghue, ed. Butterfly. 
Em 23.7.2019.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

O EQUILÍBRIO ENTRE O SER E O TER!

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
Vivemos em um mundo que valoriza extremamente os bens materiais. Em sua maioria, as pessoas valorizam ou não o próximo, a partir do que o outro possui e aparenta, e não pela essência de seu ser. Em um mundo dominado por nações materialistas e ainda sem ter alcançado suficiente desenvolvimento espiritual, grande parte das pessoas dedica sua vida a acumular dinheiro e bens materiais. Desde cedo as crianças se acostumam a ter o que querem. E passam a valorizar seus amigos por suas aparências. O que ocorre é que, sem reservas morais suficientes, muitos se tornam verdadeiros escravos da posse material e, muitas vezes, escravizam outros para atingir seus objetivos. Sem dúvida que as posses materiais são uma conquista sócio-econômica do ser humano, ao longo de suas inúmeras jornadas na Terra. O desenvolvimento material das sociedades é importante, pois gera melhorias na qualidade de vida, incentiva o desenvolvimento da indústria, do comércio, das ciências, das artes. Todas essas conquistas permitem à Humanidade superar obstáculos de sobrevivência básica e, com isso, a possibilidade de desenvolver seu lado espiritual e moral. A conquista do ter é dever de todos. A família depende dos recursos materiais para seu desenvolvimento, bem como a sociedade. A conquista do ter, contudo, jamais deve ser mais importante que a do ser, que é a conquista dos valores morais e leva o indivíduo a elevar-se como Espírito. O risco da posse ou da aquisição da propriedade não está no fato em si, mas da maneira como isto se dá e no que representa emocionalmente. A aquisição de bens materiais não deve ter como base a avareza, e como objetivo a conquista de posição social passível de inveja ou de submissão de outrem. A conquista material deve ser resultado do trabalho digno e constante, frequentemente oriundo de uma profissão baseada em estudo e preparo. A conquista material deve prover conforto e equilíbrio àqueles que a possuem, mas jamais levar ao desequilíbrio das posses supérfluas e do modo de vida de ostentação e prazeres intermináveis. Quem acumula bens materiais em quantidade superior àquela necessária à sua dignidade bem como de sua família, tem uma obrigação moral: dividir seus bens de uma maneira inteligente e sensata. Obviamente que a doação àqueles que necessitam é necessária e nobre, mas a verdadeira divisão é baseada na geração de empregos e desenvolvimento. Para ter tal lucidez é preciso que o indivíduo já tenha maior evolução espiritual a fim de que possa perceber que de nada serve uma fortuna acumulada em instituições financeiras e transformada apenas em bens de uso próprio. É preciso ter equilíbrio, é preciso pensar no próximo, é preciso ser mais do que ter. A felicidade, na Terra, independe do que se tem, mas se constitui naquilo que o ser cultiva interiormente em termos de amor sincero, ilimitado e em simplicidade. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Propriedade, do livro Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco,ed. Leal. 
Em 01.04.2010.

domingo, 21 de julho de 2019

O EQUILÍBRIO DO UNIVERSO

LÉON DENIS
A Terra flutua sem ruído na imensidão. Essa massa de quarenta mil quilômetros de circunferência desliza sobre ondas do éter como um pássaro no espaço. Nada denuncia sua marcha imponente. Nenhum rangido de rodas, nenhum murmúrio sequer. Silenciosa, ela passa, rola entre suas irmãs do céu. Toda a potente máquina do Universo se agita. Os milhões de sóis e de mundos que a compõem, mundos junto dos quais o nosso e? apenas uma criança, todos se deslocam, se entrecruzam, prosseguem suas evoluções com velocidades apavorantes, sem que nenhum som, nenhum choque venha trair a ação desse aparelho gigantesco. O Universo permanece calmo. É o equilíbrio absoluto. É a majestade de um poder misterioso, de uma inteligência que não se impõe, que se esconde no seio das coisas, mas cuja presença se revela ao pensamento e ao coração. Se a Terra evoluísse com ruído, se o mecanismo do mundo se restabelecesse com tumulto, os homens, apavorados, se curvariam e acreditariam. Mas, a obra formidável é executada sem esforços. Globos e sóis flutuam no infinito, tão livres quanto plumas sob a brisa. Avante, sempre avante! A ronda das esferas se desenvolve, guiada por uma potência invisível. A vontade que dirige o Universo passa despercebida a todos os olhares. As coisas estão dispostas de maneira que ninguém seja obrigado a acreditar nelas. Se a ordem e a harmonia do cosmo não bastam para convencer o homem, ele e? livre para imaginar. Nada constrange o descrente para ir a Deus. 
 * * * 
Acontece o mesmo com as coisas morais. Nossas existências se desenvolvem e os acontecimentos se sucedem sem ligação aparente. Porém, a permanente Justiça domina do Alto e regula nossos destinos segundo um princípio irresistível, pelo qual tudo se encadeia numa série de causas e de efeitos. Seu conjunto constitui uma harmonia que o Espírito, liberto de preconceitos, iluminado por um raio de sabedoria, descobre e admira. O ser gravita um a um os degraus da escada gigantesca que conduz a Deus. E cada um desses degraus representa para ele uma longa série de séculos. Se os mundos celestes nos aparecessem de repente, sem véus, em toda a sua gloria, ficaríamos ofuscados, cegos. Mas, nossos sentidos exteriores foram medidos e limitados. Eles aumentam e se apuram a? medida que nos elevamos na escala do aperfeiçoamento. Acontece o mesmo com o conhecimento, com a posse das leis morais. O Universo se desvenda aos nossos olhos a? proporção que a nossa capacidade de compreender as suas leis se desenvolve e engrandece. Assim é a progressão dos mundos. Assim é a progressão das almas. * * * Reclina tua cabeça, jovem Espírito. Reverencia aquilo que é maior que tu, maior que tua compreensão, maior que teus próprios sonhos e imaginação. Aprecia o equilíbrio do Universo e te submete a ele alegremente, agradecido por fazer parte de algo tão majestoso. Teu crer ou não crer não abala as estruturas perfeitas do cosmo que te guarda, humilde, em seu regaço seguro. Influencia, no entanto, teus dias, tua esperança, tuas forças diante dos abalos que sofres a todo instante. Assim, a escolha sempre será tua. No Universo reina equilíbrio absoluto, independente de ti. Em tua intimidade, porém, a estabilidade estará sempre sob teu controle. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1, do livro O grande enigma, de Léon Denis, ed. FEP. 
Em 1º.10.2018.

sábado, 20 de julho de 2019

O EQUILÍBRIO DA SAÚDE

Alírio de Cerqueira Filho
É comum, em relação à questão da saúde, vivermos, quase sempre, procurando combater a doença, haja vista o número de remédios, farmácias, hospitais equipados com alta tecnologia para diagnóstico e tratamento, planos de saúde, etc. Por esses meios buscamos a libertação de nossos males, no entanto, continuamos doentes e mais ansiosos em nos vermos livres das doenças. Novas doenças aparecem a cada dia, doenças milenares ressurgem com toda a força. Tudo isso acontece num momento em que a Medicina conta com recursos avançadíssimos de diagnóstico e tratamento. Por que isso acontece? Em uma abordagem profunda, querer se livrar da doença não significa a mesma coisa que buscar a saúde. Desenvolver a saúde requer um movimento do indivíduo em direção a ela. Não é possível nos livrarmos da doença de fora para dentro. Muito menos, através de uma atitude de ansiedade e inquietação no sentido de arrancá-la de nós, por meio de recursos externos. Arrancá-la só nos trará um alívio temporário para que, posteriormente, possamos agir de outra maneira. A causa das doenças, tanto as mentais quanto as físicas, estão no Espírito doente que ainda somos, comprometidos com a ignorância e a ilusão, a rebeldia e a violência, o egoísmo e a negação do dever. Todos esses fatores são geradores de sofrimentos, de enfermidades e dores. O ser, então, sem a ética necessária ou o sentimento de superior eleição, atira-se nos cipoais dos conflitos que geram a desarmonia das defesas orgânicas. Essas cedem à invasão de micróbios e vírus que lhes destroem a imunidade, instalando-se, insaciáveis, devoradores. Certamente, as terapias convencionais ajudam na recuperação da saúde, na sua relativa manutenção. Todavia, somente os fatores internos que respondem pelo comportamento emocional e social podem criar as condições permanentes de bem-estar, erradicando as causas penosas e promovendo o equilíbrio estrutural do ser. Encobrir uma ferida não impede que ela permaneça decompondo a área, na qual se encontra instalada. Jesus sintetizou no amor a força poderosa para a anulação das causas infelizes do sofrimento e para a sua compensação pelo bem. Na fé, a canalização de todas as possibilidades psíquicas alterando a ação das forças habituais. A fé tudo pode, pois aciona inexplorados mecanismos íntimos do homem, geradores de forças não utilizadas, modificando por completo a paisagem interna e, posteriormente, a paisagem externa do ser. Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, através da observância das lições do Evangelho e das diretrizes propostas pelos Espíritos Superiores, aludindo a Jesus, apresentou a caridade como sendo a via real para a salvação, a aquisição da saúde integral. Pense nisso Somente uma ação decisiva, firme, visando a saúde espiritual, nos libertará definitivamente das doenças que, em si mesmas, são caminhos para a conquista da saúde do Espírito. É na transformação moral do indivíduo para melhor e na ação da caridade que a cura se processa e o sofrimento se dilui, cedendo lugar à paz e ao equilíbrio psicofísico. 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
Redação do Momento Espírita com base em texto explicativo do livro Saúde espiritual, de Alírio de Cerqueira Filho, ed. Ebm e do cap. VIII do livro Plenitude, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

BALEIAS OU SEREIAS?

Estamos vivendo a época do culto ao corpo. Naturalmente que cuidar desse precioso instrumento de trabalho é muito importante. Contudo, criou-se a ideia de que as pessoas precisam ter corpos esculturais. Cresce o número de escolas para modelos e muitas adolescentes sonham em se tornar top model. Em serem ricas e famosas. Nas lojas, encontram-se manequins que se direcionam para esse segmento de mercado, em número expressivo. As academias anunciam fórmulas diversas para se atingir o objetivo de um corpo perfeito. Medicamentos, drogas são receitadas e utilizadas para se conseguir o efeito almejado. A propósito, lemos que uma determinada academia, colocou, no início do verão, um outdoor com o seguinte apelo: 
-Neste verão, você quer ser sereia ou baleia? 
Uma mulher dirigiu à academia a seguinte resposta: 
-Ontem vi um outdoor da academia, com a foto de uma moça escultural, de biquíni, e a frase: “Neste verão, qual você quer ser? Sereia ou baleia?” Respondo que as baleias sempre estão cercadas de amigos. Elas engravidam e têm filhotinhos fofos. Elas amamentam. Nadam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares maravilhosos como as banquisas de gelo da Antártida, ou os recifes de coral da Polinésia. Baleias esguicham água e brincam bastante. Baleias cantam muito bem e têm até CDs gravados. Baleias são lindas e amadas. E quanto às sereias? Bom, sereias não existem. Se existissem, viveriam em crise. Elas não têm filhos, pois matam os homens que se encantam com sua beleza e sua melodia. São lindas, mas tristes e solitárias.
 * * *
A resposta encaminhada nos leva a refletir em como temos dado excessiva ênfase ao corpo. Ênfase que se reflete na sociedade, de um modo geral. Tanta que, por vezes, pessoas com maior peso têm dificuldades para entrar em determinados lugares, para se sentar em bancos pequenos, estreitos. É claro que o descuido com o corpo gera uma série de inconvenientes, de enfermidades. Não menos o exagero que leva as pessoas a não se alimentarem, a desenvolverem fobias por gramas a mais, a padecerem de bulimia. E em tudo isso temos esquecido de algo muito importante: o ser que habita o corpo é mais importante do que o corpo. Assim, nem tanto ao mar, nem tanto à Terra, como diz a sabedoria popular. Mais adequada está determinada marca de produto que, no verão, aproveitou para divulgar que o sol, o mar e a praia são para todas as mulheres. Mesmo aquelas que não têm um corpo escultural. Assim, preservar-se, alimentar-se de forma adequada, exercitar-se. Tudo muito bom. Mas, sem exageros, a fim de que não se caia no desleixo ou no excesso de cuidados. E, mais que tudo, recordar que é preciso cultuar valores imperecíveis, que não acabam com o corpo. Uma pessoa é amada e tem valor real não pelo peso de seu corpo, pela forma harmoniosa ou não, mas pelo seu conteúdo. Conteúdo que não perece com os anos, não enruga, não envelhece. Conteúdo que se traduz em saber granjear amigos, manter a família, produzir para o benefício de todos. Assim, sejamos sábios e aproveitemos o que há de bom na sereia e na baleia. Cuidado exterior, sim. Beleza interior, também. E, por fim, lembremos que somos seres imortais, destinados à perfeição. Hoje, somos humanos. Amanhã, seremos anjos, benfeitores dessa e de outras Humanidades, espalhadas por esse imenso Universo de Deus. 
Redação do Momento Espírita, a partir de texto sem menção a autoria. 
Em 19.7.2019.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

ARMA PODEROSA

ANTOINE LAVOISIER
O sábio Lavoisier afirmou que no mundo nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Isso aprendemos na escola e é exato. O que temos observado, contudo, é que atualmente, as transformações estão sendo cada vez mais rápidas. Recordam-nos os autores espirituais que, para construir a floresta, a natureza demora séculos sobre séculos, partindo das sementes simples até à grandiosidade das sequoias e a resistência do carvalho. Para destruí-la basta a chispa de fogo, muitas vezes consequência do descuido e do descaso humanos. Para construir um avião, equipe de técnicos primorosamente escolhidos associa os prodígios da inteligência, agindo em conjunto. Todos os detalhes são pensados e revistos, na busca pela segurança e arrojo tecnológico. Para destruir uma aeronave, é suficiente um erro de cálculo. Para a edificação de uma cidade os homens empregam anos e anos de sacrifício. Constroem a escola, o hospital, os jardins, as casas. Cada detalhe é examinado e projetado para melhor servir às necessidades humanas. Para destruí-la, suficiente se faz uma bomba. Para construir são precisos amor e trabalho, estudo e competência, compreensão e serenidade, disciplina e devotamento. Para destruir são suficientes golpes de martelo, um artefato explosivo, um fósforo esquecido. Assim também acontece com a reputação de uma pessoa, que é resultado de anos de esforço e dedicação, em que demonstra, paulatinamente, seus valores e competência, seja no âmbito científico, social, religioso. É o trabalho continuado que atesta a capacidade do trabalhador. No entanto, o poder vigoroso de uma língua mal intencionada tem a capacidade de denegrir a imagem de pessoas íntegras e instituições nobres. Tudo começa como um rastilho de pólvora, para estourar adiante, arrojando por terra anos de renúncias, dedicação, assistência. Muito oportuno se meditássemos um pouco sobre essa arma mortal, que é a nossa língua, direcionando sua utilização para o bem, o bom, o belo. Usar a língua de forma apropriada, construindo, é também demonstração de sabedoria. 
 * * * 
CHICO XAVIER
Você sabia que certa vez um califa prendeu um de seus maiores inimigos? Desejando dar um fim ao desafeto, pediu a opinião de seu melhor ministro. O servidor, exemplificando como se pode utilizar as palavras com harmonia, argumentou: 
-Príncipe, se o matares, terás feito o que outros fazem. Se o perdoares, serás único.
Falar, edificando, é sinal dos que admitem Jesus como Mestre e O seguem. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 61, do livro Ideal Espírita, por Espíritos Diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC. 
Em 18.7.2019.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

É PROIBIDO CHORAR?

Quando uma dor muito grande chega aos corações dos que se afirmam cristãos e, em especial, dos espíritas, ela se extravasa pelos olhos, em gotas de pranto. Nessa hora, é muito comum os adeptos da mesma filosofia, amigos, parentes se mostrarem admirados ante as lágrimas vertidas e formularem questões como: 
-Por que você está chorando? Você não é espírita? Onde está a sua fé? 
E os que choram, já com a alma despedaçada, pelo evento triste pelo qual passam, ainda devem administrar essas atitudes que ferem a sensibilidade como lâmina afiada. Então, esses companheiros sofridos, que aguardavam um ombro amigo para chorar, um aperto de mão, um abraço, passam a sofrer em silêncio. Choram por dentro. Porque por fora lhes foi vetado, por censuras tolas e inconsequentes. 
* * * 
Quem disse que não se pode chorar ante um ser amado que parte para a pátria verdadeira? Quem disse que não se pode verter lágrimas quando a carência bate à porta, nos braços do desemprego; quando o filho se envolve com drogas; quando a ingratidão chega, com seu punhal cruel? Para os que elegemos como Modelo e Guia o Mestre Jesus e nos preocupamos em conhecer a Sua biografia, encontramos nos Evangelhos informações preciosas a respeito da dor e da lágrima. Ao chegar a Betânia e ter a notícia da morte de Lázaro, ante as interrogações que lhe dirige Maria, a irmã de Lázaro, Jesus Se senta sobre uma pedra e chora. Por que teria chorado? Com certeza não pelo amigo que sabia não estar morto, somente em estado letárgico. Contudo, deixou que as lágrimas corressem livres. Talvez tenha chorado pela incompreensão das pessoas a respeito de quem Ele era, dos objetivos da vida e da certeza da vida imortal. Quando Madalena adentra a sala do banquete, em casa de um certo Simão, e derrama as lágrimas da sua dor, do seu remorso, misturadas às da alegria por ter encontrado o amor que buscava há tanto tempo, Jesus não a repreende. Antes, ensina ao anfitrião: 
-Simão, entrei em tua casa e não me deste água para os pés. Ela, porém, os banhou com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. 
No trajeto doloroso ao Gólgota, ao Se deparar com as mulheres de Jerusalém, que choram a morte do justo, do ser que lhes abençoou os filhos tantas vezes, Jesus Se detém. Não as recrimina por estarem a chorar. Antes lhes diz que não devem chorar por Ele, que Se encaminha para a glorificação na cruz, mas por elas mesmas e por seus filhos. Vê-se, portanto, que o Modelo e Guia da Humanidade jamais falou contra as lágrimas da dor ou do arrependimento. Assim, justo é que se chore quando a alma se veste de luto, quando se envolve no manto da dor. O fato de ser cristão ou de ser espírita-cristão não nos transforma em criaturas insensíveis. Ao contrário, aprende-se a sentir a dor alheia inclusive. O que não é coerente é o desespero, a lástima, a queixa. Mas, lágrimas? Por que não, se elas traduzem o estado d´alma em lamento? Por que não, se o próprio Cristo chorou! Ele, o ser perfeito. Pensemos nisso e sejamos mais autênticos e sensatos, com ponderações bem ajustadas sobre a dor alheia, que nos merece, ao demais, todo respeito. Afinal, foi Jesus que nos lecionou: 
-Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 28.09.2009.

terça-feira, 16 de julho de 2019

A PALAVRA DA INOCÊNCIA

XUE XINRAN
Quase sempre acreditamos que as crianças não entendem o que acontece ao seu redor. Tomamos decisões, inclusive a respeito de suas próprias vidas, sem nos importar com seus sentimentos. Assim acontece nas separações conjugais, em que se decide com quem ficarão os filhos. Assim é quando se decide mudar de residência e até mesmo quando se opta por transferi-los de uma para outra escola. No entanto, as crianças estão atentas e percebem os acontecimentos muito mais do que possamos imaginar. A jornalista Xiran que, apesar do regime de opressão e abandono que viveu na China, manteve um programa de rádio, em Nanquim, conta uma história singular, em seu livro As boas mulheres da China. Havia uma jovem que se casou com um rapaz muito culto e de projeção política na China. Durante três anos, pelo seu status, ele foi estudar em Moscou. Ela viveu anos de felicidade ao seu lado. Um casamento que foi abençoado com dois filhos. Era uma mulher de sorte, comentava-se. Então, exatamente no momento em que o casal se alegrava com o nascimento do segundo filho, o marido teve um ataque cardíaco e morreu, repentinamente. No final do ano seguinte, o filho mais novo morreu de escarlatina. Com o sofrimento causado pela morte do marido e do filho, ela perdeu a coragem de viver. Um dia, pegou o filho que restava e seguiu para a margem do rio Yang-Tsé. Seu intuito era se unir ao marido e ao bebê na outra vida. Parada à beira do rio, ela se preparava para se despedir da vida, quando o filho perguntou, inocentemente: 
-Nós vamos ver o papai? 
Ela levou um choque. Como é que uma criança de cinco anos podia saber o que ela pretendia fazer? E perguntou: 
-O que é que você acha? 
Ele respondeu: 
-É claro que vamos ver o papai! Mas eu não trouxe o meu carrinho de brinquedo para mostrar para ele! 
Ela começou a chorar. Nada mais perguntou. Deu-se conta de que ele sabia muito bem o que ela pretendia. Compreendia que o pai não estava no mesmo mundo que eles, embora não fizesse uma distinção muito clara entre a vida e a morte. As lágrimas reavivaram nela o instinto materno e o senso de dever. Tomou o filho no colo e, deixando a correnteza do rio levar a sua fraqueza, retornou para sua casa. A mensagem de suicida que tinha escrito foi destruída. Enquanto fazia o caminho de volta ao lar, o menino tornou a perguntar: 
-E então, não vamos ver o papai?
Procurando engolir o pranto, ela respondeu: 
-O papai está muito longe. Você é pequeno demais para ir até lá. A mamãe vai ajudá-lo a crescer, para que você possa levar para ele mais coisas. E coisas muito melhores. 
Depois disso, ela fez tudo o que uma mãe sozinha pode fazer para dar ao filho o melhor. 
 * * * 
As crianças não são tolas. E muito mais do que possamos imaginar permanecem atentas, em especial a tudo que lhes diga respeito. Percebem os desentendimentos conjugais, as dificuldades domésticas, a ponto de ficar enfermas. Por tudo isso, preste mais atenção ao seu filho. E, sobretudo, fale com ele sobre as dificuldades e sobre as soluções possíveis. Não o deixe crescer ansioso e triste. Ajude-o a viver no mundo, seguro e firme.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A catadora de lixo, do livro As boas mulheres da China, de autoria de Xinran, ed. Companhia das Letras. 
Em 16.7.2019.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

É PRECISO SABER VIVER!

ERASMO E ROBERTO CARLOS
Dois grandes vultos da música brasileira, certa vez, compuseram os seguintes versos: 
Toda pedra do caminho você pode retirar. 
Numa flor que tem espinho, você pode se arranhar. 
Se o bem e o mal existem, você pode escolher. 
É preciso saber viver!
A canção expressa uma grande verdade. A vida é feita de escolhas. Todos nós, diariamente, nos deparamos com pessoas, com situações e fatos que nos instigam, exigindo-nos um posicionamento. Não há quem transite pelas estradas do mundo sem pedras em seu caminho. Nenhum de nós pode alimentar a ilusão de que não haverá espinhos que nos poderão ferir, mesmo que levemente. O que nos cabe é escolher como encarar tais situações, como lidar com pedras e espinhos. Alguns de nós acreditamos que a melhor forma de enfrentar essas situações é tendo como lema o olho por olho, dente por dente, conforme os registros do Antigo Testamento. Em outras palavras, se alguém nos dificulta a vida, fazermos o mesmo, tanto quanto possível. Se somos vítimas de maledicência, traição, calúnia, arquitetarmos situações para retribuir da mesma forma. Se é a grosseria, a má educação, a falta de civilidade que alguém nos impõe, imediatamente adotarmos a mesma postura, repetindo aquilo de que fomos alvo. No entanto, nos esquecemos de que, conforme cantam os poetas, se o mal e o bem existem, podemos fazer nossa opção. Se somos vítimas do mal, se alguma situação inconveniente nos alcança, quer sejam coisas corriqueiras ou graves, vale a pena refletir. É importante parar e analisar a ocorrência. É valioso ponderar antes de agir. Muitas vezes, nos sentimos provocados por situações desagradáveis, reagimos por impulso para, no momento seguinte, nos arrependermos pelas consequências que nos alcançam. Sem a reflexão, a ponderação, sobram-nos os instintos e os comportamentos menos nobres, que ainda trazemos como padrões de atitude e de ação. Portanto, o que nos cabe, como sugere a canção, é saber viver. Entre tantas possibilidades de agir, é necessário saber escolher. Se nos deixamos levar pelo atropelo das circunstâncias, pelas limitações e dificuldades dos outros, não teremos outro resultado que não sejam dificuldades e problemas. Saber viver talvez possa ser simplesmente mudar nossa postura perante a vida. Perante a calúnia, nos mantermos dignos, agindo corretamente, apoiados na consciência tranquila. Frente à grosseria e à descompostura de alguém, oferecermos a paciência que aguarda, a gentileza ou o silêncio, que desarmam as pessoas. Diante da traição, da covardia e do erro, oferecermos a compreensão, que alivia; trabalharmos o perdão, que dulcifica; aguardarmos o tempo, que oferece ponderação. Recordemos as palavras sábias do Amigo Jesus: Já ouvistes: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo, amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Tudo isso, conclui o Mestre da Galileia, para que nos tornemos filhos de nosso Pai. Em síntese, vivamos bem para vivermos mais tranquilos e mais felizes. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 21.8.2018.

domingo, 14 de julho de 2019

É PRECISO OUVIR...

O turista viajava pelo Oriente e, atraído pelo que ouvira falar a respeito de renomado guru, resolveu visitá-lo. Sabedor que todos o tinham em extraordinário conceito pelos conselhos que dava a quem o buscava, pensou em lhe pedir orientação para sua vida, que estava um autêntico caos. Foi introduzido em uma saleta, junto a outros que, igualmente, seriam atendidos. A casa era simples e pequena. O guru procedia à cerimônia do chá, com que desejava brindar os visitantes. O turista, afoito e impaciente, começou a falar sem interrupção. Falava dos seus problemas, das suas dificuldades, acompanhando todos os passos do dono da casa, conforme ele se movia de um lado para o outro. Segurou a chávena que lhe foi entregue, sem muita atenção. Contudo, quando o guru nela despejou um pouco de chá, estando virada para baixo, inverteu o sentido das suas palavras para protestar: 
-O senhor viu o que fez? A chávena estava ao contrário e o chá derramou... 
Calmamente, respondeu o guru: 
-Exatamente como a sua mente! Você está tão preocupado em falar, que não escuta nada do que se lhe diga. É como despejar um bule cheio de chá na chávena virada para baixo. Mude a sua conduta. Pense antes de falar. Fale pouco, analisando o que diz. Quando agir assim, a sua vida vai melhorar. E concluiu: Pode se retirar. A consulta acabou. 
 * * * 
Quantos de nós nos assemelhamos a esse turista. Dizemos que desejamos respostas às nossas indagações. Entretanto, não paramos de fazer perguntas, não permitindo ao interlocutor possa nos responder. E, se ele tenta falar, o nosso gesto logo diz que ele deve esperar um pouco, porque não concluímos nossa narrativa. Isso quando não começamos a dar as respostas, conforme acreditemos devam ser. Como se lê no capítulo três, do livro bíblico Eclesiastes: 
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Portanto, devemos concluir que, no relacionamento pessoal, há um tempo para falar e outro tempo deve ser dedicado a escutar. Grandes problemas se resolveriam em minutos se tivéssemos a calma para ouvir o que o outro tem a dizer. Desentendimentos sequer viriam a existir, se nos permitíssemos ouvir as pessoas. Aprenderíamos mais se nos dispuséssemos a ouvir quem deseja nos ensinar. E ouvir não quer dizer simplesmente, escutar. É ouvir com atenção, é buscar entender o que o outro expressou e, se não entendeu, humildemente, pedir:
-Pode repetir, por favor? O que você quer dizer, exatamente? 
E se dispor a ouvir um tanto mais. Se observarmos nosso organismo, veremos que Deus nos dotou de um par de ouvidos e uma só boca. Sabiamente, já prescrevia que mais se deve ouvir, e menos falar. Ouvir os conselhos dos mais maduros, dos que já vivenciaram certas experiências e podem nos auxiliar a não cair nos mesmos erros. Ouvir o que tem a dizer os nossos filhos: suas queixas, seus problemas, suas dificuldades com os amigos, os professores, no trabalho, no namoro. Aquele que tem ouvidos para ouvir, que ouça! Foi o registro do Evangelista Mateus, como advertência do sábio Mestre da Galileia. Disponhamo-nos a ouvir: a voz do outro, a sinfonia do mundo, o próprio silêncio. Ouçamos.
Redação do Momento Espírita, a partir de conto oriental, de autoria ignorada. 
Em 30.10.2014.

sábado, 13 de julho de 2019

É PRECISO ESFORÇO

Certo dia, um homem caminhava por uma estrada deserta e começou a sentir fome. Não estava prevenido, pois não sabia que a distância que ia percorrer era longa. Começou a prestar atenção na vegetação ao longo do caminho, na tentativa de encontrar alguma coisa para acalmar o estômago. De repente, notou que havia frutos maduros e suculentos em uma árvore. Aproximou-se mas logo desanimou, pois a árvore era muito alta e os frutos inacessíveis. Continuou andando e foi vencido pela fome e o cansaço. Sentou-se na beira do caminho e ficou ali lamentando a sorte. Não demorou muito e ele avistou outro viajante que vinha pelo mesmo caminho. Quando o viajante se aproximou, o homem notou que ele estava comendo os frutos saborosos que não pudera alcançar e lhe perguntou: 
-Amigo, belos frutos você encontrou. 
-É, respondeu o viajante. Eu os encontrei no caminho. 
-A natureza é pródiga em frutos suculentos. Mas você tem a pele machucada. 
Observou o homem. 
-Ah, mas isso não é nada! São apenas alguns arranhões que ficaram pelo esforço que fiz ao subir na árvore para colher os frutos. 
E o homem, agora com mais fome ainda, ficou sentado resmungando, de estômago vazio, enquanto o outro viajante seguiu em frente. 
 * * * 
Algumas vezes, fatos como esse também ocorrem conosco. Ficamos sentados lamentando o sofrimento mas não abrimos mão da acomodação para sair em busca da solução. Esquecemos que é preciso fazer esforços, lutar, persistir. É muito comum ouvir pessoas gritando por um lugar ao sol, mas as que verdadeiramente querem um lugar ao sol, trazem algumas queimaduras, fruto da luta pelo ideal que almejam. Outras, mais acomodadas, dizem que Deus alimenta até mesmo os pássaros. Por que não haveria de providenciar o de que necessitam? Essas estão certas, em parte, pois se é verdade que Deus dá alimento aos pássaros, também é certo que Ele não o joga dentro do ninho. O trabalho de busca pelo alimento é por conta de cada pássaro, e muitas vezes isso não é fácil. Há situações em que eles se arriscam e até saem com alguns arranhões. Por essa razão, lembre-se sempre de que Deus a todos ampara, mas a caminhada, os passos, a busca, é por conta de cada um. Por vezes a escalada é árdua, exaustiva, solitária. Mas é preciso fazer esforços para alcançar o fruto desejado, principalmente em se tratando dos frutos que saciam a sede da alma. Jesus ensinou: 
-Batei, e a porta se abrirá. 
Mas os passos até chegar à porta e o esforço por bater, são necessários. 
-Buscai e achareis. 
Outra recomendação na qual está contida a ação necessária. Buscar é movimento, é esforço, é ação. Seria diferente se Jesus tivesse dito: 
-Espere passivamente que a porta se abrirá, ou, fique aí parado que o que deseja chegará até você. 
No entanto, é preciso saber o que se busca e por qual porta desejamos entrar. Ainda aí nossa escolha é totalmente livre. Nossa vontade é que nos conduzirá aonde queremos chegar. Sendo assim, façamos a nossa escolha e optemos por chegar lá, e chegar bem. 
 * * * 
Deus dá asas a todos os pássaros, mas enquanto as andorinhas voam em busca dos climas primaveris e os colibris descobrem novas flores, os abutres farejam a morte para se alimentarem com os restos dos animais vencidos. 
Redação do Momento Espírita
Em 16.11.2010.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

É POSSÍVEL AGIR

Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram alguns desempregados, mas como eu tenho um emprego, também não me importei. Agora... Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo. 
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O poema grave é de Bertolt Brecht, influente dramaturgo e poeta alemão do século XX. A questão gravíssima é do ser humano, desnudado em linhas poéticas, exposto pelo pensador que aqui nos convida a refletir sobre a indiferença. A vida individualista, que prioriza o eu em detrimento do outro, apresenta-se como um dos problemas mais sérios da atualidade humana. O egoísmo, a cobiça, o medo, transformaram grande parte dos seres em autômatos ilhados. Autômatos, sim, pois evitam pensar, refletir, ponderar, em nome de uma falsa falta de tempo. Autômatos que se plugam na tomada pela manhã, e se desplugam à noite, sem terem realmente estado presentes em seus dias, em suas próprias vidas. Ilhados também, pois se isolam das pessoas, do contato humano. Não se pode mais confiar em ninguém, não se pode mais contar com ninguém. Todos são suspeitos... – Afirmam alguns. Ilhados, usam das tecnologias do mundo moderno, que visam apenas auxiliar o homem em suas tarefas, para manterem uma distância segura do mundo. E o virtual parece ser mais seguro, mas fácil do que o real... Enganamo-nos em nome de uma suposta segurança. Assim deixamos de nos importar com os outros, vivendo um constante salve-se quem puder, como se o desespero fosse grande auxílio. E quanto mais nos afastamos, mais difícil é a volta. Amizades que deixamos de cultivar na infância, na juventude, hoje fazem falta a muitos homens e mulheres, vítimas de transtornos psicológicos, como a depressão. Relacionamentos familiares fortes, envolvendo cumplicidade e carinho, no futuro nos farão falta, pois quando precisarmos nos abrir, desabafar, perceberemos que não temos intimidade com ninguém para tal. É preciso agir. Agir enquanto há tempo. Será tão difícil dar atenção, se importar com aqueles que estão ao nosso redor? Será tão difícil romper esta barreira da indiferença, e perguntar: Como você está? – realmente desejando saber como anda a vida do outro? O mundo não sou eu mas os outros. O mundo somos nós. Estamos todos expostos ao mesmo tipo de experiências, às mesmas provações, aos mesmos aprendizados. É preciso agir. É preciso se importar mais. 
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Quebra o gelo da indiferença, e perceberás que as águas que irão verter aplacarão tuas sedes mais secretas. Desperta ainda hoje, e perceberás que o brilho do sol é mais seguro do que a escuridão dos olhos fechados. 
Redação do Momento Espírita, com base em poema de Bertolt Brecht (1898-1956), a partir de poema escrito originalmente por Martin Niemoller, que viveu na Alemanha nazista. Disponível no livro Momento Espírita, v. 7, ed. FEP. 
Em 24.1.2017.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A PAZ DE CRISTO

CHICO XAVIER E EMMANUEL
O Evangelista Mateus anotou palavras de Jesus que, até hoje, causam um certo espanto ao estudioso dos Evangelhos, ao menos no primeiro momento. Dentre elas, a afirmativa: 
-Não cuideis que vim trazer a paz à Terra. Não vim trazer a paz, mas a espada. 
Acontece que o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos está viciado. Na expressão comum, ter paz significa ter atingido garantias do mundo, dentro das quais possa o homem viver, sem maiores cuidados. Paz, para muitos, significa ter a garantia de grandes somas de dinheiro, não importando o que tenha que fazer para as conseguir. Isso porque muito dinheiro significa poder se rodear de servidores, de pessoas que realizem as tarefas que, normalmente, a criatura deveria executar. Também tem a ver com viagens maravilhosas para todos os lugares possíveis, ida a restaurantes caros, roupas finas, perfumes exóticos. Desfrutar de tudo o que é considerado bom no mundo. Naturalmente, Jesus não poderia endossar esse tipo de tranquilidade, onde o ser vegeta e não vive realmente. Assim, em contrapartida ao falso princípio estabelecido no mundo, Jesus trouxe consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, para que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. Jesus veio instalar o combate da redenção. É um combate sem sangue, uma frente de batalha sem feridos. A guerra que o Senhor Jesus propõe é contra o mal. Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos. Convidado a se sentar no Sinédrio, junto aos poderosos do templo de Jerusalém, optou, sem desprezar ninguém, por se dedicar à gente simples, para quem ensinou bondade, compaixão, piedade. Exatamente numa época em que a lei do mais forte imperava. O dominador romano mandava e o povo escravo deveria obedecer. Uma época em que os portadores de hanseníase, que conheciam como lepra, eram colocados para fora das cidades, longe do convívio dos seus amores, sem cuidado algum. Uma época em que as crianças enjeitadas eram abandonadas nas ruas, entregues a ninguém. Há mais de vinte séculos a Terra vive sob esses impulsos renovadores da mensagem de Jesus. Buscar a mentirosa paz do conforto exclusivo, pensando somente em si próprio, é infelicitar-se. Todos aqueles que pretendem seguir Jesus encontram, pela frente, a batalha pela conquista das virtudes. Mas, igualmente, a serenidade inalterável, na divina fonte de repouso dos corações que se unem ao amor de Jesus. Ele é o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sinceros. 
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A conquista da paz do Cristo, em essência, é fácil. Basta seguir pequenas regras: não ter ambição em demasia e saber valorizar o que se tem. Amar e perdoar, sem acumular mágoas, que somente pesam na economia da alma, infelicitando-a. Cumprir fielmente os seus deveres, na certeza de que a paz de consciência se alcança com o dever retamente cumprido. Finalmente, entregar-se confiante aos desígnios de Deus. O bom Deus que cuida das aves do céu e dos lírios do campo, vela incessantemente por todos nós.
Redação do Momento Espírita com base no cap. 104, do livro Caminho, verdade e vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e no verbete Paz, do livro Repositório de sabedoria, v.2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 11.7.2019.