terça-feira, 31 de outubro de 2017

DESENCARNAÇÃO

Raul Teixeira
A existência terrena é delimitada por dois extremos: O nascimento e a morte. O primeiro corresponde à chegada do Espírito no plano físico. Os homens preocupam-se muito com esse instante. Enxovais são preparados, quartos são arrumados, as famílias se engalanam para receber seus novos membros. Isso é bom e correto, pois o ressurgimento na esfera carnal constitui uma bendita oportunidade de trabalho e progresso para aquele que nasce e para a família que o recebe. Em geral, não se trata exatamente de um novo membro, mas de um antigo e querido companheiro de lutas que retorna. Já o que se chama morte é o retorno do Espírito ao seu ambiente de origem. Todo homem é um Espírito que habita temporariamente um corpo. O organismo físico se desgasta, envelhece, adoece e morre. Mas o Espírito vive e evolui para sempre. A verdadeira pátria corresponde ao plano espiritual. Toda existência terrena é eminentemente transitória. Estranhamente, ao contrário do que se dá com o nascimento, em regra há pouco preparo para o fenômeno da morte, ou desencarnação, como chamamos. Esse tema é envolto em tabus e fantasias, como se não fosse algo natural. E constitui um fato inexorável. Toda criatura, mais cedo ou mais tarde, verá seu corpo físico perecer. Não há providência possível contra isso. Por ser um fenômeno natural, deve ser tratado com naturalidade e calma. Como todos morrerão um dia, nenhuma separação é definitiva. O ente querido que morre apenas retorna antes ao verdadeiro lar. Embora se trate de algo natural, isso não implica negar a sua gravidade. Ao nascer, o Espírito traz uma programação de vida, voltada ao seu progresso e burilamento. Ao término da existência, ele faz um balanço de seu comportamento, de suas vitórias e fracassos. O momento do encontro com a própria consciência pode ser terrível ou maravilhoso. Tudo depende do comportamento adotado durante a existência terrena. O corpo físico amortece enormemente as percepções e os sentimentos do Espírito. Após a desencarnação, tudo se torna muito mais vívido. A alegria de um Espírito pelo dever bem cumprido possui uma intensidade inimaginável para quem permanece vinculado à matéria. Mas também o remorso e a vergonha que experimenta por erros cometidos atingem proporções lancinantes. A ingenuidade humana muitas vezes afirma que a pessoa descansa ou se liberta ao morrer. Mas é difícil avaliar o que significa esse pretenso descanso para quem se permitiu semear dores e misérias na vida alheia. Do mesmo modo, quem gastou o tempo enredando-se em vícios e maldades não experimenta qualquer libertação ao término da existência. Quem morre não vai para o céu e nem para o inferno. O céu e o inferno são estados de consciência, que cada qual cria para si com o próprio proceder. A cada um conforme as suas obras, disse o Mestre Divino. A lição é cristalina e não permite enganos. O fenômeno da morte é natural, mas muito grave. Ele constitui um momento de balanço, de aferição de méritos ou deméritos. Assim, importa tratar do tema com serenidade e maturidade. Não há qualquer milagre ou favor envolvido. Para passar com tranqüilidade por esse momento, importa viver reta e dignamente. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 30 do livro Para uso diário, do Espírito Joanes, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. Em 27.08.2008.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

DESEJO DE VIVER

Richard Simonetti
A pequena entrou no banheiro e ficou olhando o pai a fazer a barba. Tão compenetrada estava que seu pai lhe surpreendeu um pequeno vinco na testa miúda. 
-O que foi, filha? O que está pensando? 
A menina se aproximou e fixou o olhar azul no rosto paterno, erguendo o pescoço em direção a ele. 
- Papai, você gosta de viver? 
-Ora, filhinha. É claro que gosto de viver. Quem não apreciaria a vida, tendo um tesouro como você? 
Ela não se deu por satisfeita. Apoiou as mãos na pia e tornou a perguntar: 
-Então, por que deseja morrer? 
O pai lhe respondeu que não desejava, nem pensava em morrer. Ele desejava viver, e muito. Queria ter a ventura de vê-la adentrar à escola, aprender as primeiras letras, deliciar-se com suas primeiras leituras, vê-la receber o diploma universitário, casar-se, ter filhos, dar-lhe netos.
-Papai, falou finalmente a garota, se não quer morrer, por que fuma tanto? 
 * * * 
Diariamente, as mensagens nos chegam dizendo que o cigarro, em qualquer quantidade fumada, faz mal para a saúde. Em síntese, por mais se busque não se consegue encontrar benefícios que o cigarro possa trazer. Em determinado curso promovido pelo próprio Ministério da Saúde foi apresentada a estatística de que 30% dos casos de câncer se devem ao uso do fumo. No Brasil, existem 250 mil casos novos da doença ao ano, 80 mil, portanto são causados pelo cigarro. Temos em torno de 100 mil pessoas morrendo de câncer ao ano, das quais 33 mil são devidas ao tabagismo. É de se admirar que, com tais números, prossigamos com a publicidade da forma como ela é feita hoje. Realizam-se eventos culturais, privilegiando o intelecto e lá está o cigarro presente, em letras garrafais, anunciando-se. Promovem-se eventos esportivos, onde o corpo escultural, forte, ágil, é apresentado como modelo mas, sob os auspícios do fumo. Incentivamos as crianças a fumarem através da propaganda enganosa que apresenta o ato como algo natural, além de charmoso e chique. Por outro lado, o acesso ao cigarro é fácil. Em qualquer esquina, nas ruas, nos bares, lanchonetes e restaurantes, é vendido a preço baixo. Diante da argumentação de que a venda é necessária para o sustento familiar, a sobrevivência de alguns, perguntamos se não haveria coisas mais úteis e saudáveis a serem comercializadas? Acaso, apreciaríamos que alguém se achegasse aos nossos filhos e lhes vendesse o pó da morte, a fumaça da enfermidade? A questão é simplesmente moral. Debelar o mal no mundo só depende dos homens. Nosso legado para nossos filhos, a Humanidade do amanhã, pode ser de alegria ou de infelicidade, de liberdade ou de dependência, de doença ou de bem estar. A decisão nos compete. 
 * * * 
O tabagismo já é considerado uma doença. Na Organização Mundial de Saúde existe um código para a enfermidade tabagismo. Existem doenças que nós mesmos, na atualidade, criamos para nós. Pode ser pelo tabagismo, alcoolismo, maus hábitos ou alimentação inadequada ou excessiva. 
Redação do Momento Espírita com base em artigo intitulado Fumar faz muito mal à saúde, do boletim SEI, de 20.06.1998 e do cap. 23, do livro Atravessando a rua, de Richard Simonetti, ed.Ide. Em 28.09.2009.

domingo, 29 de outubro de 2017

O DESEJO DE UMA CRIANÇA

Quando Gustavo nasceu, seu avô paterno presenteou sua mãe com um pequeno pássaro em uma gaiola. Acostumado a ter pássaros confinados em casa, ele não viu mal algum no presente. Pelo contrário, ele disse à mãe do pequeno bebê que mantivesse o pássaro sempre em um lugar no qual fosse possível escutar seu canto, pois isso acalmaria a criança quando ela estivesse agitada. O avô estava certo. A mãe costumava deixar a gaiola no corredor próximo ao quarto do bebê, algumas horas por dia, e percebia que, desde cedo, a criança fixava os olhos naquela direção sempre que o pássaro cantava. Com o tempo, passou a sorrir ao escutar o canto da ave, e gostava de olhar para ela quando a mãe o segurava próximo. O avô e a mãe sentiam-se orgulhosos. Gustavo cresceu acostumado ao canto do pássaro. Gostava de conversar com o passarinho. Conversas de criança. Quando a ave morreu foi rapidamente substituída por outra, para que sua falta não fosse sentida. Quando Gustavo contava quase quatro anos, tentou abrir a gaiola colocada em cima da mesa. Repreendido pela mãe, respondeu, em sua inocência, que o passarinho queria sair. Pouco tempo depois, fez nova tentativa, e chegou a abrir a portinhola, sendo repreendido agora pelo pai. Entristeceu-se. Em seu aniversário de seis anos, no momento em que apagava a vela do bolo, o desejo do garoto, dito em voz alta foi: 
-Eu quero ver o passarinho voando. 
Os convidados da família riram. Parecia apenas um capricho. Mas a criança não desistiu. Resolveu perguntar ao pai por que o pássaro ficava preso em uma caixinha tão pequena. Estava decidido: queria soltá-lo. O pai achou graça da insistência, e tentou lhe explicar que o pequeno animal não conseguiria comer sozinho. Ele sofreria, pois se voasse para longe não acharia o caminho de volta. E Gustavo retrucou: 
-Papai, e se ele encontrar a mamãe dele e ela der comida? Ele quer voar. 
O pai então se comoveu, entendendo que o filho não compreendia o confinamento do pássaro, e que desejava mesmo libertá-lo. Como explicar melhor para o garoto? Na verdade, ele era pessoalmente contra esse comércio de aves e as preferia soltas, mas nunca questionou a esposa. Conversaram, pai e mãe, e resolveram comprar uma gaiola maior. Com mais espaço, o pássaro alçava pequenos voos que divertiam a criança. Mas Gustavo nunca deixou de dizer que a ave queria ir embora. Quando, mais tarde, o pequeno animal morreu, compraram um bebedouro para aves e passaram a deixar, na varanda, pedaços de frutas. Havia, diariamente, muitos pássaros da redondeza que comiam, bebiam e cantavam alegres. E livres. O pequeno Gustavo ensinou aos pais uma lição importante: não temos o direito de tirar a liberdade de nenhum ser vivo, com a desculpa de nos dar prazer. Todas as criaturas na Terra têm seu lugar e não cabe a nós mudá-lo apenas por capricho, sem necessidade. O desejo de posse por prazer revela a inferioridade do Espírito. Respeitemos, pois, o lugar de cada um neste maravilhoso equilíbrio que é a natureza, para que também nós sejamos respeitados. 
Redação do Momento Espírita. Em 14.05.2009.

sábado, 28 de outubro de 2017

DESEJO A VOCÊ

Sérgio Jockymann
Existem poemas que demonstram grandiosa beleza e a profunda sensibilidade de seus autores. Dentre eles existe um que diz o seguinte: 
Desejo, primeiro, que você ame, e que, amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que, esquecendo, não guarde mágoa. 
Desejo também que tenha amigos, ainda que maus e inconsequentes. Que sejam corajosos e fiéis, e que pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar. 
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha adversários. Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas. 
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro. 
Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituível. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo, ainda, que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros. 
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais, e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que, sendo velho, não se entregue ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor, e é preciso deixar que aconteçam no tempo certo. 
Desejo, por sinal, que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia. E que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com a máxima urgência, acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos e infelizes, e que estão à sua volta. 
Desejo, ainda, que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o João-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal porque, assim, você se sentirá bem por pouca coisa. 
Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento, para que saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga: Isso é meu, só para que fique bem claro quem é o dono de quem. 
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que, se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar. 
Desejo, por fim, que você, sendo homem, tenha uma boa mulher, e que sendo mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes, e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar. 
 * * * 
Muitas vezes, desejamos que a vida seja feita apenas de coisas que nos parecem agradáveis, esquecidos de que são os obstáculos que nos fortalecem e nos fazem evoluir. São as responsabilidades que nos pesam aos ombros que nos mantêm com os pés no chão, e as forças contrárias servem de testes para nossa resistência. Assim sendo, só podemos avaliar o valor das circunstâncias pelas lições que nos deixam depois que passam. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em poema do jornalista Sérgio Jockymann, disponível em vários sites. Disponível no CD Momento Espírita, Coletânea v. 8 e 9 e no livro Momento Espírita, v. 4, ed. FEP. Em 1.7.2013.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

MORRER LENTAMENTE

Martha Medeiros
Morre lentamente quem não sorri para um novo manhã, quem esqueceu de olhar as estrelas na noite anterior e quem não se encanta com a grandiosidade da natureza à sua volta. Morre lentamente quem não encontra graça em si mesmo, quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão seu guru, ou sua única companhia. Morre lentamente quem não toma iniciativa alguma quando está infeliz com seu trabalho, quem não arrisca nem um pouco que seja, para ir atrás de um sonho. Morre lentamente quem passa os dias se queixando de sua má sorte ou da chuva incessante ou do sol intenso. Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, quem não pergunta sobre um assunto que desconhece, ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Morre lentamente quem não mais agradece a Deus pelos filhos que lhe deu, ou pelos pais que o receberam neste mundo. Morre lentamente quem não retribui o sorriso de um bebezinho, e quem não acha fascinante a forma pela qual chegamos todos a este mundo. Morre lentamente quem não abraça, quem não beija, quem não expressa carinho de alguma forma – mesmo que através de um olhar. Morre lentamente quem é adepto de expressões como este mundo não tem jeito mesmo, ou a coisa está cada dia pior. Morre lentamente quem se desespera com a perda de um amor, e não consegue perceber que há muitos que podem ser amados por nós, e muitos que podem nos amar profundamente. Morre, sem perceber, dia após dia, quem não se dedica à felicidade de alguém, quem não se doa, quem não divide o que tem - material e espiritualmente – com outras pessoas. 
 * * * 
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Estar vivo pressupõe agir, e não apenas reagir. Toda reação é perigosa, pois comumente não passa pelo processamento seguro da razão. Estar vivo implica em fazer avaliações constantes, não avaliações dos outros, mas de nós mesmos e de nosso viver. Quem não se avalia perde grandes chances de se aprimorar, de poder mudar de rumo quando percebe que a direção poderia ser outra. Estar vivo significa: entusiasmo - carregar Deus em nossa alma, levar a certeza de Sua presença em nossas vidas e a vontade de conquistar os altos páramos da felicidade. 
 * * * 
Vivo para que o sol tenha sentido, e é minha luminescência que ele espelha e devolve ao orbe, agradecido. Vivo para que a chuva lave o ar, e leve volte ao éter com meu perfume elegante, de árvore vigorosa de seiva sã. Vivo para que o amor tenha vazão, e não deseje razão – pois de condição o amar não precisa. Vivo para florescer outros jardins, e sem perceber o meu se abarrota de lírios, ciclames, girassóis... Vivo cada dia como se fosse cada dia. Nem o último nem o primeiro - o único. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Quem morre, de Martha Medeiros. Em 27.10.2017.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

DESEJANDO APRENDER SEMPRE

Era um espetáculo circense. Muitas famílias, com suas crianças, encantadas com as luzes, cores, acrobacias. Nenhum animal à vista. A cada número, o público reprisava as expressões de surpresa, com a performance de trapezistas, equilibristas, contorcionistas. Uma sucessão de habilidades, demonstrando criatividade e muito trabalho individual e coletivo. O palhaço, entre uma e outra apresentação, surpreendia aparecendo no meio do público, brincando com um, com outro, distribuindo balões e guloseimas. Então, adentrou o palco, com muito barulho, num carro luxuoso, o mágico, para delírio da criançada. Alguns números se sucederam, com maior ou menor brilho, até que ele pediu que uma criança da plateia o viesse auxiliar. Meninos e meninas correram mas, foi um garoto de quatro anos, descontraído, quem primeiro chegou à borda do palco e foi alçado pelo mágico. Depois dos naturais entretenimentos, muita conversa, luzes, som, o artista falou ao garoto do poder da mente. 
-Tudo que pensamos, podemos criar. Todos podemos ser mágicos, por isso, peço a você que pense em duas coisas que deseja muito, muito possuir. 
O menino fechou os olhos. A música foi ficando suave, as luzes diminuindo. Depois, à ordem do mágico, ele abriu os olhos: duas bailarinas sorridentes estavam à sua frente. 
-Foi este o seu desejo? – Perguntou o condutor do espetáculo. 
O garoto assentiu com a cabeça. E continuou respondendo sim a todas as demais perguntas que foram feitas, em seguida: 
-Você gostou delas? Você as achou bonitas? Elas sabem dançar bem? Você viu o elefante que estava com elas?
Silêncio na plateia. A criança, firme, moveu a cabeça afirmativamente. 
-Tem certeza? – Tornou a indagar o mágico. Ele era grande, enorme? 
- Sim, sim. – Foi a resposta. 
O espetáculo prosseguiu, entre gargalhadas e brincadeiras. Mas, ficamos a pensar quantas vezes nós, os adultos, agimos como aquela criança. Ela, decerto, imaginou que se dissesse que não vira o que não estava ali, poderia ser ridicularizada. Afinal, uma autoridade em magia o estava questionando e ele deveria saber do que estava falando. Quantas vezes dizemos que entendemos alguma coisa, que compreendemos o que foi dito, aquilo de que se está falando, quando, em verdade, não temos a mínima ideia. Tudo para não passar por tolo, ou desinformado. Para não fazer feio, ser considerado um alienado. E, agindo assim, continuaremos na nossa condição de quem não sabe. Tão mais fácil e lógico seria admitir que se desconhece do que se fala. Afinal, ninguém, neste mundo de informações tão rápidas, intensas, tem o dever de saber tudo ou de tudo estar informado. Aquele momento seria a oportunidade de aprender, de se ilustrar. Importante que comecemos a ser autênticos, honestos, corretos em nosso falar. Admitamos o desconhecimento e nos mostremos interessados em aprender. Somente teremos a ganhar com isso. E demonstraremos humildade, porque afinal o grande Sócrates, filósofo que nasceu em 470 a. C., ousou afirmar: 
-Só sei que nada sei. 
Isso porque quanto mais nos aprofundamos em ciência, filosofia, arte, mais nos damos conta de que há, ainda, um Universo a descobrir, estudar. Pensemos nisso e cresçamos um tanto mais. 
Redação do Momento Espírita. Em 14.7.2014.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

UM POUCO DE COMPAIXÃO

É verdade que algumas vezes nos irritamos com aquele que vem nos bater à porta de casa, nas horas mais inconvenientes, a nos pedir coisas. Acontece de nos incomodarmos com alguém que nos aborda na rua, a pedir um trocado, algo para comer, umas moedas. Às vezes, somos intolerantes com aquele que insiste em solicitar algo no sinaleiro, na calçada, cruzando nosso caminho nos momentos de maior pressa. É comum julgarmos aquele que pede, o que estende a mão aguardando moedas, o que faz da esmola a fonte de sobrevivência. Fazemos análises rápidas, usamos de conclusões que se tornam chavões, e rotulamos essas criaturas. Poucas vezes refletimos sobre o que teria levado essa ou aquela pessoa a essa situação de mendicância. Não encontramos tempo para outras análises e possibilidades para avaliar melhor a situação. Raramente nos colocamos em seu lugar, num exercício de empatia e compreensão. Alguns ali estão porque se deixaram levar no roldão dos vícios, perdendo família, emprego, relações sociais. Outros viram o desemprego desestruturar sua vida, jogando-os à margem da sociedade, sem recursos para manter-se e manter aos seus. Outros trazem histórias de vida difíceis, de famílias complexas, sem terem tido acesso aos bancos escolares, impedindo que muitas oportunidades lhes surgissem no caminho. Enfim, eles estão ali, vivenciando suas dores. De um modo geral, pensamos que aquele que quer, que tem força de vontade, que se esforça, consegue superar toda e qualquer adversidade. Sim, pode ser verdade. Mas, nem sempre. É verdade para aqueles com resistência emocional, com estrutura intelectual, com um caráter mais forjado e sólido. Contudo, são muitos os frágeis, que sucumbem às próprias agruras, sem forças para se erguerem. Já pensamos, em algum momento, se nós seríamos fortes, bravos, corajosos, se revezes semelhantes nos alcançassem? Se tivéssemos nascido em um lar desestruturado, se tivéssemos nos deparado com a fome, a miséria, se não tivéssemos nenhuma referência positiva, conseguiríamos tudo superar? Talvez se, em nossas reflexões, andarmos por essa via, ela nos ajude a termos um pouco de empatia. E, assim procedendo, colocando-nos no lugar desses que mendigam, possamos substituir, por um momento que seja, nosso julgamento apressado por um pouco de compaixão. Seria tão salutar se pudéssemos oferecer, a esses que passam por tantas dificuldades, um olhar de compaixão. Com certeza lhes faria bem que os olhássemos no fundo dos olhos, como irmãos, que verdadeiramente são. Um sorriso, um olhar de compreensão, um aceno ou um cumprimento, podem mudar o seu dia. Façamos esse exercício. Esvaziemos um tanto nossos corações dos frios julgamentos que colecionamos, para nos propormos a uma outra análise. Poderemos fazer isso um dia, outro dia, ao menos para uma pessoa. Será o início de um bom exercício, que poderá se desenvolver, em nossa intimidade, na sequência das semanas. E, com certeza, fará muito bem a quem perdeu sua autoestima, há muito tempo, ser olhado como um ser humano, alguém credor de um cumprimento, de um aceno, um sorriso. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita Em 24.10.2017.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

DESDE O PRINCÍPIO......

No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra era sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo. Mas, o espírito de Deus pairava sobre a face das águas. E disse Deus: “Faça-se a luz. E a luz foi feita.” Assim inicia o primeiro livro bíblico, chamado Gênesis, que, numa encantadora alegoria, fala do princípio da Criação. Sua autoria é atribuída ao grande legislador hebreu, Moisés, junto com os quatro livros seguintes: Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Tenha sido ele ou não, uma indagação nos vem à mente: Quem é essa criatura, poeta e sábio, que sintetiza em tão poucas palavras a grandeza do início de tudo? A ciência, através dos tempos, tem levantado teorias e estabelecido hipóteses de como tudo começou. Contudo, em recuadas eras, um Espírito ilustre sintetizou em palavras breves a grandiosidade do feito. Deus criou o céu e a terra. É o princípio. Na imaginação, concebemos uma imensa tela onde se desenham os céus... E a Terra. A terra era sem forma e vazia. E o espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Somente alguém inspirado pelas vias mediúnicas, poderia conceber, nesses moldes, um Criador, uma causa primária que a tudo dá origem. Como terá se dado essa percepção? Por intuição, pela visão mediúnica? Ou simplesmente, a excepcionalidade do que iniciava a descrever somente o poderia remeter a essa ideia? Grandeza ilimitada para ser produto de um homem limitado. Poeticamente, contemplando as trevas que se estendiam, ele concebe a Vontade Divina a expressar: “Faça-se a luz!” E a luz se faz. Nossa razão, de imediato, indaga: Que luz é essa, considerando-se que, na sequência da narrativa somente no quarto dia foram criados o sol e a lua? Luz. Uma luz diferente. Luz que define vida. E, então tudo começou. Uma nota primeira foi tocada e ressoou pelo infinito. Uma grande harmonia se espalhou. No concerto dos mundos, a grande bola de fogo inicia sua transformação para se tornar um lar. Um planeta. Uma casa para receber os filhos de Deus que viriam povoá-la, ao longo dos milênios. E como se terão formado as estrelas, esses pontos luminosos que nos fazem desejar alcançá-las, tocá-las? Alguns acreditam que a matéria existente no Universo formou primeiramente as galáxias, que ficaram tão grandes que se quebraram. Os pedaços formaram as primeiras estrelas... Os místicos afirmam que elas são o rastro de Deus que se move pelo espaço, pontilhando de luz sua passagem. Luz. Todos somos filhos da luz, emanados da Grande Luz. E, quer O chamemos Deus, Alá, Jeová, Arquiteto, Tupã, Ele é único. Criador de tudo. Pai de todos. Amor Incondicional. E, mesmo que, na pobreza dos nossos sentidos, imaginemos que o mundo é o produto do acaso, Sua Sabedoria a tudo preside. Ele vê além e acima das nossas parcas condições. Sua Lei é de ordem, progresso, harmonia. Estamos a caminho, envoltos em sombras, ainda. Envoltos em nossas dificuldades, mas o destino é um só: perfeição. Chegaremos lá. No seio da Grande Luz. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1, vers. 1 e ss, do livro bíblico Gênesis. Em 14.7.2017.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

DESCULPE, FOI ENGANO!

Você já fez, algum dia, uma ligação telefônica para um número que não era o desejado? Certamente, sim, pois isso é muito comum. E o que você costuma dizer numa situação dessas? Provavelmente pede desculpas pelo engano, ou desliga o telefone assim que ouve a voz que lhe atende. Mas também é muito provável que você já tenha atendido uma ligação em que alguém, do outro lado da linha, tenha dito: 
-Desculpe, foi engano. 
E o que você diz, nesses casos? Infelizmente, há muita falta de tolerância para com esse tipo de equívoco, cometido por um número expressivo de criaturas. O comum é se ouvir o telefone batendo com violência, ou reprimendas e palavrões ditos por aqueles que atendem a um telefonema indesejado do senhor engano. E isso acontece porque a pessoa que assim age conta com o anonimato, pois se alguém lhe bate à porta da casa, por engano, provavelmente não age dessa forma. No entanto, há casos belíssimos de telefonemas feitos aparentemente por engano, e que tiveram um desfecho inesperado. É o caso de um jovem rapaz que, há algum tempo, foi acordado pela campainha do telefone, por volta das quatro horas da madrugada. Ele atendeu e percebeu que a moça que falava do outro lado da linha, tinha a voz entrecortada pelas lágrimas e estava visivelmente transtornada. Ouviu, por alguns instantes, e notou que era engano, pois a jovem nem o deixou falar e já começou a fazer considerações como se estivesse falando com outra pessoa. Avisava-o que, por causa do seu comportamento, por tê-la abandonado quando soube da gravidez indesejada, havia tomado uma super dose de comprimidos, com a intenção de se suicidar. O moço procurou informá-la, com muito jeito, de que ela não estava falando com a pessoa que desejava, mas talvez tivesse ligado para a pessoa certa. A voz da moça estava cada vez mais fraca, suas forças estavam se esvaindo, mas o rapaz procurou manter o diálogo até saber o seu nome e endereço. Assim que desligou o telefone, providenciou o socorro, indicando aos médicos o endereço e também o que havia ocorrido. Algum tempo depois, estava o jovem rapaz pregando em seu templo religioso, quando percebeu uma moça chegar timidamente e sentar-se ao fundo da sala. Ao terminar a palestra, alguém lhe apresentou a jovem dizendo que ela estava à sua procura. Ela se apresentou e disse que era a moça do telefonema por engano, daquela madrugada amarga. Falou-lhe que o socorro chegou a tempo de salvá-la e que estava ali para lhe agradecer... Para lhe agradecer por não ter desligado o telefone quando percebeu que era engano, mesmo tendo seu sono perturbado em plena madrugada... Por ter ouvido seus xingamentos iniciais com tolerância e ainda lhe oferecer palavras de esperança, naquele momento de desespero... Por ter-lhe dito que o suicídio, além de não pôr fim à vida, ainda agrava os problemas. E, finalmente, agradecer-lhe por estar viva naquele momento, ela e seu filho por nascer, e poder ouvir novamente suas palavras de consolo e esclarecimento, acerca das leis que regem a vida. 
 * * * 
Pense nisso! Ao atender um telefonema indesejado, procure ser gentil. Geralmente a pessoa que se engana está atribulada, e não faz de propósito. E, se porventura você se der conta de que ligou para o número errado, desculpe-se com educação. Considere que, em tudo o que lhe acontece na vida, você sempre pode tirar a melhor lição. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. Em 26.12.2008.

domingo, 22 de outubro de 2017

DESCULPAS FREQUENTES

Quem já desenvolveu algum tipo de trabalho voluntário sabe o quanto é difícil conseguir que os companheiros persistam na tarefa e não a abandonem. Existem as desculpas mais frequentes para se desistir de qualquer empreitada. Poderíamos relacionar as cinco mais comuns: 
Primeira: Não tenho tempo. Essa é uma das frases mais ouvidas nos dias atuais. As pessoas correm de um lado para o outro, todos os dias. Dividem seu tempo entre o trabalho, o estudo, o lazer e mais uma infinidade de atividades. Porém, há coisas que não valem a pena. Muitas vezes desperdiçamos minutos valiosos em atividades ou em programas que se revelam, mais tarde, lamentáveis equívocos. Então, na verdade, o que sofremos não é a falta de tempo, mas sim a dificuldade de priorizar tarefas e de utilizar de modo razoável e útil as horas de que dispomos.
Segunda: Não sei fazer. Há pessoas que não sabem realizar determinadas tarefas e não têm o menor interesse em aprendê-las. Há quem diga: Não sei e tenho raiva de quem sabe. Em outras palavras, não querem a responsabilidade de saber para se esconder na ignorância e na incapacidade voluntária de realizar qualquer atividade diferente. Trata-se de uma omissão deliberada, negando-se a buscar um objetivo nobre. Na visão evangélica, são pessoas que enterram seus talentos e que nada produzem de bom. 
Terceira: Não tenho saúde. Pequenas indisposições costumam servir de desculpas para o afastamento das mais singelas atividades. Porém, não são suficientemente graves para impedir que a mesma pessoa deixe de buscar prazeres e lazeres dos mais variados, na mesma ocasião. Ou seja: só não se está bem o suficiente para trabalhar porque não há motivos reais para recusar as ofertas fúteis e vazias do mundo. 
Quarta: Tenho medo. Nessa situação, a frase mais comum é: Quem sou eu para fazer isso? Mais do que falsa modéstia, a pessoa que costuma valer-se de tal argumento, na verdade, quer eximir-se de novas atribuições. É muito cômodo alegar o receio de errar. Ora, não podemos esquecer que só erra quem faz. Aquele que nada realiza equivoca-se apenas por omitir-se, por deixar de realizar. No entanto, é melhor correr o risco de errar, produzindo algo de bom, do que simplesmente lavar as mãos e não errar nunca, mas também nada fazer. 
Quinta: Outra pessoa vai fazer isso. Muitos cruzam os braços na certeza de que a tarefa será levada a cabo por outras pessoas. Na verdade, boa parte das tarefas efetivamente poderá ser realizada sem o auxílio, sem a participação daqueles. No entanto, sendo cada pessoa única, o resultado que se obtém em cada obra pode ser diferente. Além disso, na maioria das vezes, a tarefa não precisa deles, mas são eles próprios que precisam dessa oportunidade para aprender e para se desenvolver. 
* * * 
O trabalho no bem é uma oportunidade abençoada que não deve jamais ser retardada ou abandonada, sob pena de prejudicar a evolução do próprio trabalhador envolvido. Evite desculpas vãs. Busque o trabalho, realize e cresça. 
Redação do Momento Espírita, com base no Boletim Al-non - Informativo Nacional nº 80, p. 7. Em 22.08.2011.

sábado, 21 de outubro de 2017

DESCONTROLE

Maurício Dias
Naquele dia de sol, Mário chegou feliz e estacionou o reluzente caminhão em frente à porta de sua casa. Após vinte anos de muita economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele conseguira. Comprara um caminhão. Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão. Ao chegar próximo do veículo, uma cena o deixou descontrolado. Seu filho, de apenas seis anos, estava martelando alegremente a lataria do caminhão. Irritado, aos berros, ele investiu contra o filho. Tomou o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou as mãozinhas do garoto. Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena. Na sequência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos levaram o filho ao hospital, para fazer um curativo nos machucados. O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal estrago que o garoto foi encaminhado para imediata cirurgia. Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e os dedinhos tiveram que ser amputados. De resto, falou ainda o médico, a criança era forte e tinha resistido bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguardá-lo no quarto para onde logo mais seria conduzido. Com a morte no coração, os pais esperaram que a criança despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai, o menino sorriu e falou: 
-Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão, como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo. 
O pai, com lágrimas a escorrer pela face, em desconsolo, se aproximou mais e lhe disse que não tinha importância o que ele havia feito. Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido estragada. O menino insistiu: 
-Quer dizer que não está mais bravo comigo? 
-Não mesmo, falou o pai. 
-Então, perguntou a criança, se estou perdoado, quando é que meus dedinhos vão nascer de novo? 
 * * * 
Toda vez que perdemos a calma, perdemos também a lucidez e o bom senso. Nesses momentos, podemos cometer muitas tolices. E quando investimos contra as criaturas que amamos, podemos machucá-las muito. Podemos feri-las com palavras e com atos. E, em se tratando de crianças, que são frágeis e ficam indefesas frente ao descontrole dos adultos, tudo assume maior gravidade. Jamais nos permitamos a ira, que é sempre má companhia. Domemos as nossas tendências e impulsos agressivos, recordando que nada na vida é mais precioso do que as pessoas. As coisas que possamos adquirir nos servirão por algum tempo, mas, somente os nossos amores estarão conosco sempre, não importando o local, as condições que venhamos a nos encontrar. Preservemos a calma e ofertemos para aqueles que são os sóis das nossas vidas somente o carinho, a ternura e as doces manifestações do amor. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Não vale chorar, de autoria de Maurício Dias. Em 14.5.2013.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

TRÊS PEDIDOS ATENDIDOS

Naquele ano, um grande baque atingiu o coração do jovem casal. Seu filho, de apenas sete anos, partiu para a Espiritualidade. Haviam sido meses exaustivos de cuidados até que a enfermidade o abraçou, minando-lhe a vida física. Um ano depois, em férias, optaram por visitar a Turquia. Entre tantas paisagens maravilhosas, uma visita especial a Éfeso, à casa de Maria, a mãe de Jesus. A edificação de pedra, no monte Rouxinol, recebe, anualmente, cerca de dois milhões de visitantes. A grande maioria relata intensas emoções ao adentrar o local. Não foi diferente com eles. De mãos dadas, andaram por entre aquelas paredes, lembrando a grandeza do Espírito de Maria de Nazaré. Recordaram o que haviam lido em obras que relatavam a respeito de João ter ido a Betânia buscar a mãe de Jesus para que viesse morar com ele. Recordaram... recordaram, enquanto os corações pareciam unidos em prece. Na saída, sentaram em uma pequena mureta, contemplando o que faziam quase todos os peregrinos: escreviam em um papel três pedidos e colocavam o bilhete entre as pedras de um extenso muro lateral. Ambos ficaram ali, olhando, e disseram um ao outro:
- Por que escrever em um papel o que desejamos, se Deus conhece o que vai na nossa intimidade? Ademais, pensaram, como podemos pedir algo mais à Divindade? Nosso filho se foi, mas guardamos a certeza de que vive na Espiritualidade. Nossa filha está bem. Nós temos saúde, emprego. Que mais poderíamos pedir? 
Numa prece silenciosa, rogaram ao Pai Supremo que, se algo pudessem receber a mais, por Sua vontade, então que Ele lhes enviasse. Retornaram ao Brasil e, mal passados dez dias, Oswaldo recebeu um telefonema. Era de uma cidade do Estado vizinho. A questão era simples: três meninas estavam à disposição para adoção. Ele gostaria de adotá-las? O número três lhe veio à mente, de imediato. Três pedidos poderiam ter sido feitos lá em Éfeso. Eles haviam deixado que Deus decidisse se mereceriam algo mais. Agora, Deus estava lhes enviando três joias para sua casa. O Divino Pai ouvira sua rogativa e a atendera. Entre a emoção e a gratidão, telefonou para a esposa e juntos foram buscar as três pérolas que Deus lhes encaminhara aos generosos corações. Dez anos se passaram. As joias cresceram, se desenvolveram e, repetidas vezes, entre abraços de amor, dizem ao jovem casal como sua presença é importante em suas vidas. 
 * * * 
Deus ouve sempre as rogativas que lhe dirigimos e as atende. Cabe-nos estarmos atentos para a correta tradução do que nos chega. De um modo geral, não sabemos interpretar a resposta recebida. Isso porque a nossa vontade é de que o pedido fosse atendido exatamente como o havíamos concebido, em todos os detalhes. Contudo, a Sabedoria Divina sabe o que nos seja melhor. Hoje, pode ser a negativa, o adiamento do que ardentemente desejamos. Ou, então, algo em que não pensáramos mas que vem para abençoar nossas vidas. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato, relatado por Oswaldo Feltrin. Em 20.10.2017.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

DESCOBRINDO O PASSADO

Muitas pessoas afirmam desejar conhecer suas encarnações anteriores. Uma boa parte delas espera ter animado importantes personalidades históricas. Reis e santos, poetas e intelectuais, sumidades as mais diversas não faltam no imaginário dos candidatos à recordação. Entretanto, é preciso lembrar que a lei do progresso vigora em toda a sua plenitude. Ela impede o retrocesso moral e intelectual. As condições sociais podem variar significativamente ao longo dos séculos. É possível passar-se da extrema riqueza à mais abjeta pobreza, de uma encarnação à outra. Esse movimento pendular presta-se a viabilizar a realização da justiça Divina. Mediante ele, o poderoso que elaborou leis iníquas para o povo, posteriormente a elas se submete. Quem lesou o patrimônio público terá oportunidade de se ressentir da falta de educação e segurança públicas eficientes. O mau patrão poderá experimentar a condição de empregado oprimido. Essa oscilação nas condições materiais também auxilia o despertar da sensibilidade. O homem que olha insensível a dor alheia candidata-se a experimentá-la. Nem toda dor é uma expiação. O sofrimento é corolário da imperfeição. Todo vício, toda insensibilidade, toda rudeza atrai a dor como um remédio necessário. Somente a perfeição moral e intelectual livra a criatura de experiências dolorosas. A partir de certo nível de desenvolvimento, o Espírito desvincula-se das experiências materiais. Sem necessidade de vivências terrenas, a elas retorna por espírito de amor e serviço. Cumprindo missões, dá exemplo de genuína elevação moral e intelectual. Mas o relevante é que a evolução conquistada jamais é perdida. Nenhuma alma generosa de repente se torna mesquinha. O homem intelectualmente superior não perde suas habilidades intelectuais. Por certo, quem utilizou mal a inteligência pode renascer na condição de idiota. Ou viver em condições difíceis que não lhe possibilitem adquirir cultura. Contudo, ordinariamente, a alma expressa o seu potencial. Assim, a criatura pode ter certeza de que se encontra no ápice de sua evolução. Ninguém jamais foi tão bondoso e inteligente como é hoje. Esse raciocínio auxilia a perder ilusões quanto ao próprio passado espiritual. Quem atualmente detesta estudar, certamente nunca foi um intelectual. O homem egoísta ou fútil de hoje pode ter como certo jamais ter sido um santo, na acepção da palavra. Raras pessoas têm recordações precisas do que viveram nos séculos precedentes. Entretanto, se a recordação detalhada não é possível, nem por isso é inviável ter uma noção do que se viveu. Para ter uma ideia do que se fez, basta analisar as tendências atuais. E pensar que ocorreu uma melhora, ao longo do tempo. As suas ideias inatas revelam o seu nível evolutivo e o caminho que você trilhou. Para se conhecer, preste atenção nos impulsos mais naturais de seu coração. Caso seu agir e seu sentir instintivos tenham algo de egoísta, insensível ou vulgar, convém refletir sobre isso. Enquanto não burilar o seu íntimo, você permanecerá tendo experiências dolorosas. Então, é de seu interesse mais direto modificar o próprio comportamento e livrar-se de velhas fissuras morais. Afinal, mais importante do que saber o que você já viveu, é garantir que o seu futuro seja pleno de felicidade e bem-estar. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 7.6.2014.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

DESARMAMENTO

No ano de 1997, a campanha pelo desarmamento das pessoas em geral mereceu destaque, em nosso país. Em algumas localidades, as autoridades optaram por trocar qualquer arma de fogo ou as chamadas armas brancas por cestas básicas. A imprensa abordou em debates televisivos a temática. Jornais e revistas buscaram, através de questionários com direito a prêmios, ouvir a opinião dos leitores, enfatizando, naturalmente, a questão do desarmamento como medida salutar para toda a sociedade. A todo momento, as notícias ventiladas traziam à tona os perigos do porte de armas. Informavam das sanções aos que as portavam de forma ilegal e as manchetes indicavam os primeiros a sofrerem tais sanções, por terem sido surpreendidos, com armas, sem a devida legalização. Enquanto toda essa campanha se processava, ganhando a simpatia dos que almejam e programam a paz em suas próprias vidas, observa-se, ainda hoje, um contrassenso total, no que tange às nossas crianças. Os brinquedos, imitando armas sofisticadas, que povoam a imaginação dos que acreditam que o Terceiro Milênio será a era da destruição maior, desde que dominaremos energias poderosas, segundo eles, são comercializadas e ofertadas em massa aos pequenos. Muitos desenhos infantis ainda não abandonaram a agressividade e alimentam as mentes dos homens do futuro com guerras nas estrelas, possantes máquinas voadoras que vencem distâncias astronômicas em segundos, com o objetivo de destruir o mais fraco ou o que comete erros contra os seus semelhantes. Miniaturas de heróis que literalmente limpam o Universo da escória humana são ofertadas aos pequenos. Suas roupas, à guisa de fantasias, ornamentam festas de aniversário dos petizes. Em nome da paz, prega-se a guerra e a violência. O mocinho tem o direito de matar o bandido, que é o elemento mau, indesejável e deve, sim, ser expurgado, para sempre, do meio que prejudica. Com tais atitudes, logicamente, a campanha do desarmamento que se pretende não alcançará êxito. Tolhem-se as armas dos adultos, mas se as distribui a mãos cheias às crianças. Toda mudança requer bases seguras. E as bases seguras se encontram na educação. Educação que se refere à reformulação dos caracteres. E, no caso mais específico, das crianças que formarão a nova e sadia sociedade, conforme pretendemos. Cumpre-nos meditar a respeito e escolher com mais propriedade os brinquedos que daremos aos nossos filhos. Dir-se-á que as crianças almejam tais brinquedos. Convenhamos, é porque não lhes mostramos outras opções, permitindo que elas estejam atentas somente para um lado do mundo. Dir-se-á, talvez, que elas trazem em si mesmas a agressividade. Por isso mesmo, é que pais e educadores nos devemos esmerar em lhes polir as qualidades positivas e lhes ofertar o brinquedo sadio, que contribuirá para sua formação de caráter, não alimentando os seus pontos negativos. 
 * * * 
SÃO LUCAS
O dia 18 de outubro é dedicado ao desarmamento infantil. Coincidentemente, também é o dia dedicado ao médico. Esta data foi escolhida porque é quando se rendem homenagens ao Evangelista Lucas, que foi médico. Ambas as lembranças são muito oportunas. Ocorrendo uma vez ao ano, nos recordam que preservar a vida é muito importante. Tal é a missão do médico: salvar vidas. Tal é a missão dos pais: salvar almas que são imortais. 
Redação do Momento Espírita. Em 18.04.2009.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

UM AMOR ESPECIAL

Jack Canfield, Mark Victor Hansen
Quando Jéssica veio ao mundo, trazia a cabeça amassada e os traços deformados, devido ao parto difícil vivido por sua mãe. Todos a olhavam e faziam careta, dizendo que ela se parecia com um jogador de futebol americano espancado. Todos tinham a mesma reação, menos a sua avó. Quando a viu, a tomou nos braços, e seus olhos brilharam. Olhou para aquele bebê, sua primeira netinha e, emocionada, falou: 
-Linda!
No transcorrer do desenvolvimento daquela sua primeira netinha, ela estaria sempre presente. E um amor mútuo, profundo, passou a ser compartilhado. Quando a avó recebeu o diagnóstico, anos depois, de mal de Alzheimer, toda a família se tornou especialista no assunto. Parecia que, aos poucos, ela ia se despedindo. Ou eles a estavam perdendo. Começou a falar em fragmentos. Depois, o número de palavras foi ficando sempre menor, até não dizer mais nada. Uma semana antes de morrer, seu corpo perdeu funções vitais e ela foi removida, a conselho médico, para uma clínica de doentes terminais. Jéssica insistiu para ir vê-la e seus pais a levaram. Ela entrou no quarto onde a avó Nana estava e a viu sentada em uma enorme poltrona, ao lado da cama. O corpo estava encurvado, os olhos fechados e a boca aberta, mole. A morfina a mantinha adormecida. Lentamente, Jéssica se sentou à sua frente. Tomou a sua mão esquerda e a segurou. Afastou daquele rosto amado uma mecha de cabelos brancos e ficou ali, sentada, sem se mover, incapaz de dizer coisa alguma. Desejava falar, mas a tristeza que a dominava era tamanha, que não a conseguia controlar. Então, aconteceu... A mão da avó foi se fechando em torno da mão da neta, apertando mais e mais. O que parecia ser um pequeno gemido se transformou em um som, e de sua boca saiu uma palavra: 
-Jéssica!
A garota tremeu. O seu nome. A avó tinha quatro filhos, dois genros, uma nora e seis netos. Como ela sabia que era ela? Naquele momento, a impressão que Jéssica teve foi que um filme era exibido em sua cabeça. Viu e reviu sua avó nos quatorze recitais de dança em que ela se apresentou. Viu-a sapateando na cozinha, com ela. Brincando com os netos, enquanto os demais adultos faziam a ceia na sala grande. Viu-a, sentada ao seu lado, no Natal, admirando a árvore decorada com enfeites luminosos. Então Jéssica olhou para ela, ali, e vendo em que se transformara aquela mulher, chorou. Deu-se conta de que ela não assistiria, no corpo, ao seu último recital de dança, nem voltaria a torcer com ela pelo seu time de futebol. Nunca mais poderia se sentar ao seu lado, para admirar a árvore de Natal. Não a veria toda arrumada para o baile de sua formatura, ao final daquele ano. Não estaria presente no seu casamento, nem quando seu primeiro filho nascesse. As lágrimas corriam abundantes pelas suas faces. Acima de tudo, chorava porque finalmente compreendia como a avó havia se sentido no dia em que ela nascera. A avó olhara através da sua aparência, enxergara lá dentro e vira uma vida. Lentamente, Jéssica soltou a mão da avó e enxugou as lágrimas que molhavam o seu rosto. Ficou de pé, inclinou-se para a frente e a beijou. Num sussurro, disse para a avó: 
Você está linda!
 Kimberly Kirberger

* * * 
Se desejas ensinar a teu filho o que é o amor, demonstra-o. Não lhe negues a carícia, a atenção, a palavra. O que faças ou digas é hoje a semeadura farta de bênçãos que o mundo colherá, no transcurso dos anos dos teus rebentos. E o mundo te agradecerá, por teres sido alguém que entregou ao mundo um ser que saiba amar, de forma incondicional e irrestrita. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Linda, de autoria de Jéssica Gardner, do livro Histórias para aquecer o coração dos adolescentes, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Kimberly Kirberger, ed. Sextante. Em 17.10.2017.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O VIAJOR E AS FLORESTAS

Imaginemos uma estrada longa, em cuja extensão se encontram enormes florestas que é preciso atravessar. À entrada de cada uma, a estrada, larga e magnífica, se interrompe, para só continuar na saída. O viajor, que segue por essa estrada, penetra na primeira floresta. Porém, não encontra caminho aberto, somente um emaranhado complexo em que se perde. A claridade do sol desaparece sob a espessa ramagem das árvores. Ele vagueia, sem saber para onde se dirige. Afinal, consegue chegar ao fim da floresta. Está cansado, dilacerado pelos espinhos, machucado pelas pedras. Ali está novamente a estrada e ele prossegue a sua jornada, procurando curar-se das feridas. Mais adiante, uma segunda floresta se apresenta, na qual o esperam as mesmas dificuldades. Mas, como ele já possui um pouco de experiência, sai dela menos ferido. Noutra, encontra com um lenhador que lhe indica a direção que deve seguir para não se transviar. A cada nova travessia, aumenta a sua habilidade, de maneira que transpõe cada vez mais facilmente os obstáculos. A estrada finaliza no alto de uma montanha, donde ele enxerga todo o caminho que percorreu desde o ponto de partida. Vê as diferentes florestas que atravessou e se lembra dos contratempos que passou. Mas, essa lembrança não lhe é penosa, porque chegou ao termo da caminhada. É como um velho soldado que, na calma do lar doméstico, recorda as batalhas a que assistiu. Aquelas florestas lhe parecem pontos negros sobre uma fita branca e diz para si mesmo: 
-Quando eu estava naquelas florestas, nas primeiras, sobretudo, como me pareciam longas de atravessar! Tudo ao meu derredor me parecia gigantesco e intransponível e que nunca eu chegaria ao fim. Penso que, sem aquele bondoso lenhador que me pôs no bom caminho, talvez eu ainda estivesse por lá! Agora, que contemplo essas mesmas florestas do ponto onde me acho, me parecem pequenas! Tenho a impressão de que eu teria podido atravessá-las, com um passo. A minha vista as penetra e lhes distingo os menores detalhes. Percebo até os passos em falso que dei. Encontrando um sábio, lhe pergunta: 
- Por que não há uma estrada direta do ponto de partida até aqui? Isso pouparia aos viajantes o terem de atravessar aquelas terríveis florestas. 
- Meu filho, responde o ancião, olha bem e verás que muitos evitam a travessia de algumas delas: são os que, tendo adquirido mais rapidamente a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegarem aqui. Essa experiência, porém, é fruto do trabalho que as primeiras travessias lhes impuseram, de modo que eles aqui chegam em virtude do mérito próprio. No entanto, o que saberias, se não houvesses passado por elas? A atividade que tiveste de desenvolver, os recursos de imaginação que precisaste empregar para abrir caminho aumentaram os teus conhecimentos e desenvolveram a tua inteligência. 
 * * * 
Somos o viajor. A estrada é a imagem da nossa vida. O lenhador é Jesus. As florestas são as existências corpóreas que nos levam ao alto da montanha da perfeição. Estamos a caminho. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O caminho da vida, do livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, ed. FEB. Em 16.10.2017.

domingo, 15 de outubro de 2017

DESCOBRINDO DEUS

Antoine de Saint-Exupéry
A grande paixão do escritor Antoine de Saint-Exupéry era a aviação e se notabilizou como pioneiro da aviação comercial no mundo. Foi destacado, pelo governo francês, para fazer a linha do correio aéreo Toulouse-Casablanca-Dakar-Casablanca. Jovem, entusiasta, ele considerava que religião, conceito de Divindade eram questões de secundária importância. Num desses voos, acompanhado pelo seu mecânico de bordo em um avião monomotor, foi vítima de uma pane. O avião caiu no deserto do Saara. Preparou-se para morrer. Não havia a mínima possibilidade de sobrevivência. Durante o dia, as temperaturas eram muito altas. À noite, desciam a vários graus negativos. Antoine e seu mecânico passaram a primeira noite de angústia. No dia seguinte, ele já esperava a morte, quando foi surpreendido pela presença de um pequeno rato do deserto, que transitava entre as dunas. Teve uma inspiração: se havia um animal, havia água. Por consequência, uma possibilidade de vida. Ele acompanhou o animalzinho correndo pelo deserto por algum tempo e chegou a uma duna que parecia fixa. Em uma das faces havia umidade e na umidade havia vários gravetos. Muitos caracóis estavam ali e também a comunidade de ratinhos, que se alimentavam de uma forma muito especial: eles comiam os caracóis velhos e poupavam os novos. Exupéry passou o dia a observar aquilo. De repente, deu um grito: Era possível haver Deus! Como aqueles animais podiam entender assim de sobrevivência? Se eles devorassem os caracóis mais novos, naturalmente se extinguiria a colônia, que era a fonte de vida. E todos morreriam. Tomado de grande alegria, saiu a correr. À distância, viu o mecânico que lhe acenava com uma camisa. Ele gritava que o avião estava funcionando. Em determinado momento, explicou depois, ele movera a hélice e o motor funcionara. Parecia um milagre! Exupéry alcançou o avião e chegou a Dakar, são e salvo. 
 * * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Deus existe. Não há dúvidas. Basta que se observe o instinto dos animais. Qual o engenheiro que ensinou ao João-de-Barro como ele deve construir a sua casa, para proteger a prole dos ventos invernais? Qual o farmacêutico que mostrou ao cão qual a erva que ele deve comer para determinadas indisposições? Quem foi o arquiteto que estabeleceu as linhas mestras aos passarinhos para entretecerem seus ninhos com tanto esmero? Qual o técnico vocal que adestrou as aves para que atinjam notas graves e agudas, em perfeita harmonia? Quem lecionou paciência à pantera para o êxito da sua caça? Quem informou às tartarugas, que nascem nas areias escaldantes, que a sua segurança está em atingir, com muita rapidez, as águas protetoras? Por fim, qual o aviador que deu lições à águia, ao condor? Quem os ensinou a planar, a envergar as asas, a alcançar alturas ou fazer voos rasantes? A tudo isso, somente cabe uma única resposta: Deus! Deus que tudo faz, tudo vê, tudo provê. 
Redação do Momento Espírita, com base nas Palavras iniciais, do livro Conversa fraterna, de Divaldo Pereira Franco, ed. FEB. Em 28.4.2017.

sábado, 14 de outubro de 2017

DESCOBRINDO A SIMPLICIDADE

Aos dez anos, aquele garoto viajou ao interior do país na companhia da família de um amigo. Nascido e criado em uma grande metrópole, já havia estado em outras pequenas cidades durante viagens com sua família, mas sempre em breves passagens. Dessa vez foi diferente. O convite era para que ele passasse uns dias na casa da avó do amigo, em uma cidadezinha sem grandes atrativos turísticos. Pela primeira vez teve a oportunidade de vivenciar a rotina de uma vida no interior. No retorno, a alegria estava estampada nos seus olhos. O sorriso era largo, espontâneo, parecia que tinha a alma leve. Obviamente que o passeio lhe fizera muito bem. Contou à família alguns episódios divertidos que vivenciara, sempre enfatizando que havia gostado muito da viagem. Nos dias seguintes ao seu regresso, todas as vezes que surgia uma oportunidade, o garoto comentava sobre a alegria de ter passado alguns dias naquele lugar e que se pudesse, voltaria quantas vezes fosse convidado. Mas ele mesmo não sabia explicar os motivos para tanto entusiasmo. Lembrava de outras viagens maravilhosas que havia feito e das quais tinha ótimas recordações, mas nenhuma delas remetia a esse sentimento que agora experimentava. Passados mais alguns dias, o menino abordou a mãe com certa aflição, pois havia encontrado os motivos de estar encantado com a viagem que fizera e queria dividir com ela a sua descoberta. Quase que num desabafo infantil, ele disse que havia gostado tanto do lugar que conhecera porque lá era tudo muito simples. Segundo ele, as pessoas não corriam para todos os lados o dia inteiro. Elas paravam para conversar quando encontravam algum conhecido e ficavam olhando nos olhos umas das outras, com atenção. Andavam a pé pelas ruas. As famílias almoçavam e jantavam reunidas. E as casas estavam sempre cheias de visitas de parentes e amigos. A impressão que ficou gravada foi a de que as pessoas não estavam perdendo tempo ao fazer tudo aquilo e sim, aproveitando a vida. 
 * * * 
Essa observação, vinda de um olhar infantil, nos leva a uma profunda reflexão sobre a forma como estamos vivendo nas grandes cidades e sobre os valores que estamos passando para nossos filhos. Sob essa ótica, ele observou o quanto faz bem ao coração uma vida calma, onde há tempo para as coisas mais simples. Vida na qual existem momentos para construir e consolidar os relacionamentos. É comum vivermos presos aos ponteiros do relógio, não nos permitindo cultivar as coisas simples e importantes. Por mais que estejamos atarefados e envolvidos com os compromissos assumidos, é indispensável fazermos uma revisão de nossas ações. Procuremos conduzir as horas com tranquilidade. Façamos com que nossos dias sejam luminosos, aproveitando-os com sabedoria e transformemos nossas horas em um rosário de bênçãos. 
Redação do Momento Espírita. Em 16.5.2013.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

DESCOBRINDO A PRÓPRIA FORÇA

Rachel Naomi Remen
Rachel tinha apenas dezesseis anos quando, certa noite, recolheu-se ao leito, no dormitório da escola. Acordou seis meses depois, numa cama de hospital, na cidade de Nova Iorque. Ela sofrera um forte sangramento intestinal que a fez mergulhar num longo estado de coma. Era o fim de sua vida como uma pessoa saudável e o início de uma vida como pessoa portadora de doença crônica. Foi nessa época que Rachel se recorda de ter verdadeiramente conhecido sua mãe. Até então, lembrava-se dela como a profissional que passava longas horas trabalhando. Rachel a via quando chegava em casa, tarde da noite, para lhe dar banho, ler uma história, dar-lhe um beijo de boa noite. Era uma figura passageira que tinha um perfume gostoso e tomava conta dela nos finais de semana. Durante os seis meses de seu coma, seus pais se tomaram de temores. O prognóstico médico era sombrio. Se saísse do coma, viveria como uma inválida, limitada por uma doença que os médicos não compreendiam, nem controlavam. Teria que se submeter a uma série de cirurgias importantes. Não deveria viver além dos quarenta anos. Sem chance de retornar aos estudos. Mas Rachel desejava ser médica. Ali, deitada na cama, ouvindo seu pai lhe dizer tudo isso, ela ficou zangada. Não importava o que diziam os médicos, ela iria voltar aos estudos, à faculdade. Queria ser médica. Nada a impediria.
-Ah, disse o pai, uma coisa a impedirá, sim. Não pagarei os seus estudos. 
Foi então que a mãe de Rachel, sem alteração na voz, afirmou: 
-Eu pago a faculdade. Tenho uma conta no banco há muitos anos. É toda sua, Rachel. 
Vinte e quatro horas depois, ela assinou um termo de responsabilidade e retirou a filha do hospital, contra a recomendação médica. Tomou um pequeno avião e levou Rachel de volta à faculdade. Nos seis meses seguintes, ficou levando a filha para as salas de aula, muitas vezes empurrando a cadeira de rodas, porque ela não conseguia andar. Então, quando percebeu que ela poderia cuidar de si mesma, a deixou. Telefonava todos os dias. Os dois anos seguintes foram de muitas lutas. Rachel não conseguia comer direito e tomava medicamentos fortes para controlar os sintomas. Mas foi descobrindo uma força que desconhecia. Encontrou uma maneira de viver essa nova vida e seguir em frente. Concluiu a faculdade e passou a clinicar. Anos depois, conversando com sua mãe, lhe perguntou porque a deixara sozinha em momento tão difícil. Afinal, ela era a sua única filha. 
-Eu temia por você. – Disse-lhe a mãe. Mas temia ainda mais pelos seus sonhos. Se eles morressem, essa doença dominaria a sua vida. 
A pior morte é permitir que sejam sepultados os próprios sonhos. 
 * * * 
Amparar a vida, por vezes, é algo muito complexo. Há momentos em que o melhor é oferecer a nossa força e a nossa proteção. No entanto, acreditar numa pessoa num momento em que ela não consegue acreditar em si mesma, tem uma importância toda especial. Essa nossa crença poderá se tornar o seu barco salva-vidas. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Uma questão de vida ou morte, do livro As bênçãos do meu avô, de autoria de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. Em 9.12.2015.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A ALMA INFANTIL

A alma infantil, nos diz Cecília Meirelles, como aliás, a alma humana, não se revela jamais completa e subitamente, como uma janela que se abre deixando ver todo um cenário. É necessário ter cuidado para entendê-la, e sensibilidade no coração para admirá-la. A autora nos narra que, certa vez, ouviu o comentário de uma professora que contava sobre alguns presentes recebidos de alunos seus: 
-Os presentes mais engraçados que eu já recebi de alunos, foram, certa vez, na zona rural: um, levou-me uma pena de pavão incompleta: só com aquela parte colorida na ponta. Outro, uma pena de escrever, dourada, novinha. Outro, um pedaço de vidro vermelho... 
Cecília afirma que seus olhos se alargaram de curiosidade, esperando a resposta da professora sobre sua compreensão a respeito de cada um dos presentes. A amiga, então, seguiu dizendo: 
-O caco de vidro foi o que mais me surpreendeu. Não sabia o que fazer com ele. Pus-me a revirá-lo nas mãos, dizendo à criança: “Mas que bonito, hein? Muito bonitinho, esse vidro...” 
E procurava, assim, provar-lhe o agrado que me causava a oferta. Ela, porém, ficou meio decepcionada, e, por fim, disse: 
-“Mas esse vidro não é para se pegar, não... 
-Sabe para que é? Olhe: a senhora põe ele assim, num olho, e fecha o outro, e vai ver só: fica tudo vermelho... Bonito, mesmo!” 
A professora finalizou dizendo que esses presentes são, em geral, os mais sinceros. Têm uma significação muito maior que os presentes comprados. Cecília Meirelles vai além, e busca ainda fazer uma análise de caráter psicológico: 
-O que me interessou, no caso relatado, foram os indícios da alma infantil que se encontraram nos três presentes. E os três parecem ter trazido a mesma revelação íntima: uma pena de pavão incompleta – reparem bem -, só com aquele pedacinho “colorido” na ponta, uma pena de escrever “dourada” novinha, e um caco de vidro “vermelho” são, para a criança, três representações de beleza. Três representações de beleza concentradas no prestígio da cor e desdobradas até o infinito, pelo milagre da sua imaginação. Essas três ofertas, portanto, da mais humilde aparência (para um adulto desprevenido), não devem ser julgadas como esforço entristecido da criança querendo dar um presente, sem ter recursos para comprar. A significação de dinheiro, mesmo nas crianças de hoje, ainda é das mais vagas e confusas. E sua relação de valor para com os objetos que a atraem é quase sempre absolutamente inesperada. 
-Eu tenho certeza - diz a autora ainda – de que uma criança que dá a alguém uma pena dourada, uma pena de pavão e um caco de vidro vermelho, os dá com certo triunfo. Dá com certa convicção de que se está despojando de uma riqueza dos seus domínios, de que está sendo voluntariamente grande, poderosa, superior. 
 * * * 
A infância não é somente útil, necessária, indispensável, mas é, ainda, a consequência natural das leis que Deus estabeleceu, e que regem o Universo. Com ela, aprendem os Espíritos que reencarnam – mais dóceis e influenciáveis quando no estado infantil. Aprendem também as almas que as cercam, colhendo desse período de inocência e magia o exemplo da pureza e da simplicidade de vida, que devemos todos encontrar em nosso íntimo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Os indícios da alma infantil, do livro Crônicas de educação, v. 1, de Cecília Meirelles, ed. Nova Fronteira. Em 12.10.2017.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A VISÃO DA INFÂNCIA

Diz-nos Cecília Meirelles que se fosse preciso ainda uma vez recordar a diferença profunda que existe entre a infância e a idade adulta, eu convidaria o leitor a relembrar os lugares por onde passou, quando pequeno. Então, comparar a impressão que lhe deixavam naquele tempo com a que lhe oferecem agora. O ambiente em que se desenvolveu a nossa meninice foi visto por nós com olhos tão diversos daqueles que veem depois as realidades do adulto, que geralmente sentimos uma enorme surpresa revendo esses lugares. Achamo-los tão mudados... no entanto, não mudaram, eles. Mudamos nós. As coisas... nós as víamos de perto, com um interesse e uma atenção de que já não dispomos. Nossos sentidos, donos ainda de raras sensações, analisavam cada espetáculo, linha por linha, percorrendo-os com verdadeiro deslumbramento. E, nessa encantadora viagem do olhar iam tecendo uma história que foi a primeira legenda, escrita por nós sobre as vidas que encontramos. Hoje, um inseto é para nós um inseto, apenas, com um lugar determinado na História Natural. Esse mesmo inseto foi um motivo decorativo de infinita beleza nos nossos tempos de criança. Conhecíamos com exatidão o desenho das suas asas, a cor que tomavam, com a luz, o movimento que tinham, a resistência que lhe era peculiar. Como eram enormes as nossas bonecas e os nossos carros! Se algum deles tivéssemos conservado até hoje, haveríamos de o achar insignificante, e ficaríamos admirados do tamanho que lhe supúnhamos. A eminente escritora brasileira termina então por questionar: Com toda essa diferença de visão, como querer fazer que as crianças sintam o que sentimos? Como forçá-las a compreender o nosso mundo com as proporções que lhe damos? Como arrancá-las ao seu prodigioso cenário, tão diverso deste que em geral se lhe quer impor, como o único autêntico? Muito há de se pensar sobre essas questões, certamente. Preciso se faz refletir sobre como estamos tratando nossas crianças, e ainda mais: sobre como tratamos a criança que mora em cada um de nós. Por que perdemos esta visão acurada ao longo do tempo? Será realmente uma mudança natural, necessária, inevitável? Não seria possível conservar, como um grande tesouro que se guarda, pelo menos um pouco dessa sensibilidade infantil? Nós, adultos, temos muito a aprender com as crianças. Primeiramente entendendo seu mundo, sua visão da vida, sua interpretação dos fatos, evitando exigir-lhes compreensões que são nossas apenas. Em segundo lugar, enamorando-nos de sua sensibilidade apurada, analisando-a com cuidado, e tomando-a como exemplo. Passemos algumas férias dentro do coração de nossos filhos, procurando viver em seu mundo por alguns instantes, de quando em vez. Será viagem inesquecível para ambos. Para eles será prova de amor, de companheirismo. Para nós, escola moral enriquecedora. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro Crônicas de educação, de Cecília Meirelles, ed. Nova Fronteira. Em 11.10.2017.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

QUANDO O AMOR SUPERA A MORTE

A jovem chegou na pacata localidade litorânea praticamente sem bagagens. Arrumou um emprego na lanchonete local e alugou uma casa longe de tudo e de todos. O seu objetivo era não criar laços afetivos para que ninguém, eventualmente, lhe pudesse descobrir a origem e os motivos que a haviam conduzido até ali. Apesar disso, uma pretensa vizinha, que dizia morar um pouco mais distante do que ela mesma, se aproximou. Demonstrou-se amiga, aparecendo nas horas de solidão, acompanhando-a nas idas e vindas do emprego para casa e vice-versa; aconselhando-a a ser menos rigorosa, nos seus posicionamentos e aceitar a ajuda que lhe oferecia o charmoso e gentil viúvo Alex, pai de dois filhos. A convivência com as duas crianças, que sentem, naturalmente, a ausência da mãe, que morrera, vitimada por um câncer, e as gentilezas de Alex acabam por fazer com que o coração de Katie se entregue à afeição. Então, em uma manhã radiosa, de forma inesperada, ele lhe entrega uma carta deixada pela esposa. 
Estava endereçada: Para ela
A letra é caprichada e as palavras surpreendentes, escritas com alma e coração: 
"Para a mulher que meu marido ama. Se você está lendo está carta, então deve ser verdade: ele ama você, sem sombra de dúvida. Eu só espero que você sinta por ele o mesmo que ele sente por você. Mas, eu quis lhe escrever uma carta porque queria que você soubesse uma coisa muito, muito importante: estou feliz por ele tê-la encontrado. Eu só queria poder estar aí, de algum modo, para conhecer você. Talvez, de alguma forma, eu esteja. Depois de meu marido e meus dois filhos lindos, você é a pessoa mais importante do mundo para mim porque eu parti e eles são seus agora. Está tudo bem. Você precisa cuidar deles, fazê-los rir, abraçá-los quando eles chorarem, defendê-los, ensiná-los a distinguir o bem do mal. Pensar que você está aí, me dá esperança. Esperança de que Alex se lembre de como é ser jovem e estar apaixonado. Esperança de que meu filho tenha de novo com quem pescar. Esperança de que minha filha tenha alguém para ajudá-la, no dia do casamento. Espero que um dia minha família esteja novamente completa mas, sobretudo, eu espero que um dia, eu esteja aí, com todos vocês, zelando por vocês."
A carta é emocionante. Carta de uma esposa e mãe, que, sabendo-se prestes a partir, pensou no marido jovem, na vida que poderia reconstruir, numa mulher que poderia surgir em sua vida para lhe ser a companheira, mulher que também deveria ser mãe para os seus filhos. O mais interessante, no entanto, é que, graças a uma foto encontrada junto à carta, Katie descobre que a sua amiga especial, aquela que, praticamente, a colocou no seio da família, era a esposa desencarnada. 
 * * * 
Sim, nossos amores prosseguem a se interessar pelos que permanecemos sobre a face da Terra, preocupam-se com o que nos ocorre, e, quando possível, por autorização da Bondade Divina, podem estar próximos. Pensemos nisso: a morte não mata o amor, nem a esperança, nem a saudade.
Redação do Momento Espírita, com base no filme Um porto seguro. Em 10.10.2017.