terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

DOIS PESOS

CHICO XAVIER
Coisa estranha! O meu defeito. 
Em mim é coisinha à toa, 
Mas toma a forma de crime 
Se o vejo noutra pessoa.
A pequena trova revela uma prática de muitos de nós, a de apontarmos, escandalizados, os defeitos dos outros. 
Apontamos e apontamos, quando não em palavras, julgando pelo pensamento. 
Já paramos para pensar por que temos esse comportamento? 
Por que nos escandalizamos com isso ou aquilo? 
Por que certas coisas nos incomodam tanto? 
Será que somos os grandes defensores da verdade, dos valores e dos bons costumes? 
Ou haverá, em nós, algo mais que não estamos percebendo?
Consideremos que, em grande parte das vezes, existem atitudes e reações nossas, que nos passam despercebidas. 
Em verdade, para não precisarmos lidar com algumas questões internas, preferimos apontá-las nos outros. 
É uma forma de transferência. 
Por falta de autoconhecimento, ao invés de enxergarmos os nossos vícios, encarando-os de frente, acabamos descobrindo-os numa espécie de espelho: o outro. 
Somos muito parecidos moralmente. 
Muitos estamos aqui para cuidar de áreas semelhantes da alma, trabalhar questões comuns do caráter que precisam de reforma urgente. 
O espelho do outro nos mostra aquilo que deveríamos ver em nós mesmos. 
Isso nos incomoda de uma forma indescritível, gerando a crítica mordaz, gerando a condenação, o comentário menos feliz. 
Curioso como não existe fórmula para fugir de nós mesmos e de nossa realidade. 
E como é fundamental e urgente a jornada do autodescobrimento.
Uma vez percebendo quem somos, onde estamos, com o que precisamos lidar, podemos, inicialmente, acolher a nós mesmos, validando tudo isso, sem qualquer mecanismo de negação. 
Não se trata de passar a mão na própria cabeça ou vitimizar-se. De forma alguma. 
Trata-se de uma postura de autocompaixão na qual nos permitimos ser quem somos e nos amarmos por isso. 
Trata-se de uma visão madura de quem se vê como está e se prepara para ser como estará mais adiante, entendendo-se como ser em evolução. 
Olharmo-nos e dizer: 
-Isso é o que construí até hoje. 
Muitas lacunas a serem preenchidas? 
Desequilíbrios em diversas áreas? 
Com certeza, sim. 
Porém, também muitas conquistas, pontos fortes a serem considerados, potencialidades e virtudes em andamento.
Autodescobrir-se é perceber-se como um ser em formação, fortalecido por tudo aquilo que já está alcançado e sem vergonha do que ainda não está pronto. 
Uma das consequências imediatas quando iniciamos a trilhar o caminho do autoconhecimento é julgar menos, é notar menos o cisco no olho do outro. 
Cuidaremos então da nossa administração, sem querer ditar regras para a vida alheia ou mesmo mostrar ao outro o quão equivocado ele está. 
Percebamos que práticas como essas satisfazem mais os vícios do nosso ego do que desenvolvem os gérmens da caridade adormecida na intimidade do ser. 
Cuidemos dos nossos defeitos, sem nos preocuparmos com os do outro. 
Já teremos realizado um substancial trabalho a bem do mundo que desejamos melhor. 
Muito melhor. 
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Dois pesos, o livro Chão de flores, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 18.02.2025

Nenhum comentário:

Postar um comentário