Convidada a fazer uma conferência a respeito da crítica, ela compareceu ante o auditório superlotado, carregando pequeno fardo.
Após cumprimentar os presentes, retirou os livros e a jarra de água de sobre a mesa, deixando somente a toalha branca.
Em silêncio, acendeu lâmpada potente, enfeitou a mesa com dezenas de pérolas que trouxera no embrulho e com várias dúzias de flores frescas e perfumadas.
Ante o público que lhe acompanhava todos os gestos, ansioso por lhe ouvir a palavra, com cuidado apanhou na sacola diversos enfeites de expressiva beleza, e os enfileirou com graça.
Tomou de um exemplar do Novo Testamento em rica capa dourada e o colocou ao centro da mesa.
Finalizando a arrumação, diante do assombro de todos, depositou em meio aos demais objetos pequenina lagartixa, num frasco de vidro.
Só então se dirigiu ao público, perguntando:
-O que é que os senhores estão vendo?
Muitas vozes se ergueram, desejosos quase todos de dizer o que viam sobre a toalha branca:
-Um bicho!
Um lagarto horrível!
Uma larva!
Um pequeno monstro!
Esgotados breves momentos, nos quais a convidada permitiu que a plateia se manifestasse, livremente, dizendo do que estava vendo, ela considerou:
-Assim é o espírito da crítica destrutiva, meus amigos!
Nenhum dos senhores mencionou a brancura e delicadeza da toalha de seda que recobre a mesa.
Não viram as flores, não elogiaram a sua beleza, nem sentiram o seu perfume.
Não perceberam as pérolas, nem os tantos objetos que espalhei, alternando tamanhos e cores.
Não atentaram para o Novo Testamento. Muito menos para a luz faiscante que acendi no início.
Mas não passou despercebida, aos olhos da maioria, a diminuta lagartixa, dentro de um vidro.
Sorridente, concluiu sua exposição esclarecendo:
Nada mais tenho a dizer...
Levantou-se e se retirou do ambiente.
* * *
Quantas vezes temos sido cegos para as coisas e situações valorosas da vida.
Acostumados a ver somente os fatos que evidenciam o lado ruim da sociedade humana, volvemos o olhar para os detritos morais das criaturas.
Assim, criticamos a mídia por enfatizar as misérias humanas, os desvalores, as fofocas e as intrigas.
Mas, em verdade, isso tudo só vem a lume, ganha espaço nas manchetes, nas redes sociais porque nós apreciamos.
Porque buscamos esses conteúdos e até deixamos nossos likes, depois da leitura ou da visualização.
Sem falar que nos tornamos os divulgadores porque compartilhamos com amigos, conhecidos, parentes próximos e distantes, alimentando nossos grupos de contatos.
É imperioso atentarmos para os nossos valores ou desvalores, antes de levantarmos a voz para criticar a sociedade e os meios de comunicação em geral.
É relevante descobrirmos os divulgadores de coisas edificantes e nos candidatarmos a engrossar essas fileiras.
Com esse procedimento, exaltando o bem, em detrimento do mal, evidenciando a paz em vez da guerra, com a elevação do perfume sobre os odores fétidos, estaremos colaborando, de maneira efetiva, para a melhoria deste mundo em que nos encontramos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 7,
do livro Bem-aventurados os simples, pelo Espírito
Valerium, psicografia de Waldo Vieira, ed. FEB.
Em 14.02.2025.
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