sábado, 15 de fevereiro de 2025

AS MELHORES COISAS

A gentil senhora caminhava a passos lentos na beira do mar. Seus pensamentos bailavam apressados em várias direções: os filhos, os netos, as recordações do passado, saudades tantas. 
Correu as mãos pelos cabelos cobertos pela neve do tempo e também pelas marcas profundas de seu rosto, que registravam todos os anos que haviam ficado para trás.
Todavia, havia marcas também em seu coração. 
A sensação era de que lhe faltava algo. 
Em meio a tantos pensamentos, ela nem havia percebido que a abóbada celeste tornara-se negra, salpicada do cintilar misterioso das estrelas. 
Cansada, sentou-se para contemplar o grande espetáculo que se apresentava à frente: no horizonte, o mar encontrava o céu, revelando a perfeita harmonia existente em toda a Criação. 
De repente, notou que, muito longe, uma estrela cadente riscava o firmamento, tornando o espetáculo ainda mais belo.
Ela se lembrou dos dizeres de sua avó, que recomendava fazer um pedido quando se presenciasse uma estrela cadente. 
Sem titubear, em seu foro íntimo buscou inspiração para realizar um pedido. 
Pensando em seus filhos, percebeu que todos, cada qual à sua maneira, estavam realizados e bem sucedidos nas suas vidas. 
Seus netos, igualmente, eram crianças saudáveis e felizes.
Seu casamento, embora fosse viúva há muitos anos, havia sido muito próspero, baseado no respeito mútuo e no companheirismo inabalável. 
A sua saúde, mesmo apresentando certa fragilidade trazida pelos anos, ia muito bem, possibilitando que ela tivesse dias afortunados e uma excelente qualidade de vida. 
Recorrendo mais uma vez à sua memória, lembrou-se de vários momentos de amargura pelos quais passou, ao longo dos seus quase oitenta anos. 
Por outro lado, percebeu que os havia superado, aprendido com eles, se tornado mais experiente e que muitos deles a haviam transformado numa pessoa melhor e mais forte.
Dessa forma, decidiu não realizar nenhum pedido. 
Respirando fundo e sentindo a brisa benfazeja do mar, apenas agradeceu. 
E a sensação de que algo lhe faltava desapareceu, pois ela percebeu que não era feita daquilo que lhe faltava e, sim, daquilo que já possuía. 
* * * 
Muitas vezes, no curso de nossas vidas, passamos largo tempo devotados àquilo que não temos, que nos esquecemos de valorizar o que já conquistamos. 
As mídias, de forma geral, nos impõem tantos padrões sociais e de beleza que quase não mais nos reconhecemos em função do que somos e sim em função do que temos. 
Por isso, no meio de tantos desejos e sonhos de conquista, lembremo-nos de agradecer ao Criador pela família, pelos amigos, pelo trabalho, pelos momentos felizes e, até mesmo, pelos de dificuldades, os quais contribuem, de forma expressiva, para nosso desenvolvimento intelecto-moral. 
Em nossas rogativas, não mais peçamos a Deus as melhores coisas do mundo, pois percebemos que as melhores coisas da vida Ele já nos concedeu. 
As melhores, pois são as mais necessárias para nosso progresso. 
Pensemos nisso hoje e sempre! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 18.9.2013.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

A CRÍTICA

Convidada a fazer uma conferência a respeito da crítica, ela compareceu ante o auditório superlotado, carregando pequeno fardo. 
Após cumprimentar os presentes, retirou os livros e a jarra de água de sobre a mesa, deixando somente a toalha branca. 
Em silêncio, acendeu lâmpada potente, enfeitou a mesa com dezenas de pérolas que trouxera no embrulho e com várias dúzias de flores frescas e perfumadas.
Ante o público que lhe acompanhava todos os gestos, ansioso por lhe ouvir a palavra, com cuidado apanhou na sacola diversos enfeites de expressiva beleza, e os enfileirou com graça. 
Tomou de um exemplar do Novo Testamento em rica capa dourada e o colocou ao centro da mesa. 
Finalizando a arrumação, diante do assombro de todos, depositou em meio aos demais objetos pequenina lagartixa, num frasco de vidro. 
Só então se dirigiu ao público, perguntando: 
-O que é que os senhores estão vendo? 
Muitas vozes se ergueram, desejosos quase todos de dizer o que viam sobre a toalha branca: 
-Um bicho! Um lagarto horrível! Uma larva! Um pequeno monstro! 
Esgotados breves momentos, nos quais a convidada permitiu que a plateia se manifestasse, livremente, dizendo do que estava vendo, ela considerou: 
-Assim é o espírito da crítica destrutiva, meus amigos! Nenhum dos senhores mencionou a brancura e delicadeza da toalha de seda que recobre a mesa. Não viram as flores, não elogiaram a sua beleza, nem sentiram o seu perfume. Não perceberam as pérolas, nem os tantos objetos que espalhei, alternando tamanhos e cores. Não atentaram para o Novo Testamento. Muito menos para a luz faiscante que acendi no início. Mas não passou despercebida, aos olhos da maioria, a diminuta lagartixa, dentro de um vidro. Sorridente, concluiu sua exposição esclarecendo: Nada mais tenho a dizer...
Levantou-se e se retirou do ambiente. 
* * * 
Quantas vezes temos sido cegos para as coisas e situações valorosas da vida. 
Acostumados a ver somente os fatos que evidenciam o lado ruim da sociedade humana, volvemos o olhar para os detritos morais das criaturas. 
Assim, criticamos a mídia por enfatizar as misérias humanas, os desvalores, as fofocas e as intrigas. 
Mas, em verdade, isso tudo só vem a lume, ganha espaço nas manchetes, nas redes sociais porque nós apreciamos. 
Porque buscamos esses conteúdos e até deixamos nossos likes, depois da leitura ou da visualização. 
Sem falar que nos tornamos os divulgadores porque compartilhamos com amigos, conhecidos, parentes próximos e distantes, alimentando nossos grupos de contatos. 
É imperioso atentarmos para os nossos valores ou desvalores, antes de levantarmos a voz para criticar a sociedade e os meios de comunicação em geral. 
É relevante descobrirmos os divulgadores de coisas edificantes e nos candidatarmos a engrossar essas fileiras.
Com esse procedimento, exaltando o bem, em detrimento do mal, evidenciando a paz em vez da guerra, com a elevação do perfume sobre os odores fétidos, estaremos colaborando, de maneira efetiva, para a melhoria deste mundo em que nos encontramos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 7, do livro Bem-aventurados os simples, pelo Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira, ed. FEB. 
Em 14.02.2025.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

UM HOMEM DE DECISÃO!

WALT ELIAS DISNEY
Em 5 de dezembro de 1901, na cidade de Chicago, nascia o gênio do desenho animado, Walter Elias Disney, quarto filho de uma família pobre. 
Walt Disney, como é conhecido, foi um homem que acreditou em seus sonhos e fez de tudo para realizá-los. 
Decisão, vontade, persistência e muita criatividade eram as virtudes mais marcantes desse homem que construiu um império, tendo como capital inicial apenas o seu talento artístico. 
Seu lema era: 
Se nós podemos sonhar, nós podemos fazer.
Quem não conhece muitos de seus sonhos que viraram realidade e encantam adultos e crianças, como o personagem Mickey Mouse e a Disneylândia, o primeiro parque temático do mundo? 
Ele nunca desanimou. 
Sua primeira criação foi o coelho Oswald. 
Um desentendimento com seu distribuidor ocasionou a perda dos seus direitos sobre esse personagem. 
Ele partiu para uma nova criação. 
Nasceu o ícone que se tornou o mais famoso rato do mundo. Walt Disney não pretendia sensibilizar somente os corações infantis, conforme ele mesmo afirmou: 
-Não faço filmes especialmente dedicados às crianças. Chamemos a criança de inocência. Mesmo o pior de nós não é desprovido de inocência, ainda que ela esteja profundamente enterrada. Em minha obra, tento alcançar e falar a essa inocência. 
Ele não se deixou levar pelas circunstâncias desfavoráveis que o rondavam. 
Um dia, resolveu segurar o leme de sua própria embarcação. Eis o que ele escreveu: 
-Depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar... Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las. Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução. Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis. Decidi ver cada noite como um mistério a resolver. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz. Nesse dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de superá-las. Nesse dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir. Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de "amigo". Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento. "O amor é uma filosofia de vida.” Nesse dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente. Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais. Nesse dia, aprendi que os sonhos existem para se tornarem realidade. E desde esse dia já não durmo para descansar... Simplesmente durmo para sonhar.
* * * 
Certamente, um homem de decisão. 
Um exemplo de perseverança e força de vontade. 
E nós, já resolvemos tomar o leme da nossa embarcação?
Caso ainda não tenhamos feito isso, hoje é o dia mais adequado, perfeito para isso. 
Afinal, se nós podemos sonhar, nós podemos fazer.
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com transcrição de texto atribuído a Walt Disney. 
Em 12.02.2025

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

O MELHOR DOS LUGARES

Conta a tradição persa que uma caravana viajava há dias pelo deserto. 
Já não havia uma gota d’água para aplacar a sede. 
De repente, os caravaneiros encontraram um poço. 
Fizeram descer por ele uma vasilha, mas a corda arrebentou.
Com a segunda e a terceira, aconteceu o mesmo. 
Decidiram, então, que um dos viajantes desceria amarrado a uma corda. 
Ele também não voltou. 
Desceu o segundo e esse também não voltou. 
Foi quando um sábio, que viajava com eles, se ofereceu para descer.
Assim foi feito. 
Ao chegar ao fundo do poço, ele encontrou um monstro horripilante que se achava o guardião do poço. 
Ele disse ao sábio: 
-Agora você também é meu prisioneiro e só terá sua vida poupada se der a resposta certa à minha pergunta. 
-Pois pergunte, disse o sábio. 
E o monstro questionou: 
-De todos os lugares do mundo, qual é o melhor? 
Diante da pergunta, o sábio pensou que estava cativo e impotente nas mãos do monstro. 
Se dissesse que o melhor lugar seria a sua própria terra, estaria desprezando a morada do monstro. 
Por fim, respondeu: 
-O melhor lugar do mundo é aquele onde se tem amigo íntimo, ainda que esse lugar seja o fundo da Terra. 
-Bravo! - Exclamou o monstro._ Você é um verdadeiro homem e sua sabedoria salvou a sua vida e a de seus amigos.
* * * 
O melhor dos lugares é onde se tem um amigo. 
Amigo sincero, devotado. 
Aquele que, no dizer do Mestre de Nazaré, dá a sua vida pela do seu amigo. 
Amigo é alguém que nos fala, olhando nos olhos e diz o que precisamos ouvir. 
Contudo, embora diga verdades e nos aponte erros, não nos destrói com sua fala ou com sua argumentação. 
Dosa as palavras, utilizando-as na medida certa e como se ofertasse uma pedra preciosa, coloca-a em um estojo aveludado, a fim de que não nos fira a sensibilidade. 
Quando nos aponta defeitos, não tem como intuito nos destruir, senão auxiliar o amadurecimento de nós mesmos.
Por isso, não nos repreende publicamente, nem expõe nossas mazelas, que conhece intimamente. 
Amigo é aquele que está conosco, não para matar o tempo, mas sim para viver em abundância horas de felicidade. 
É alguém que assiste um filme, lê um livro e enriquecendo-se com eles, os recomenda, sem, contudo, nos retirar o prazer de os conhecer por nós mesmos. 
Amigo é alguém que, quando distante, parece continuar presente. 
Sua voz, sua ternura, seus atos são acionados pela nossa memória, a cada vez que a saudade deseja fazer morada n´alma. 
Para essa criatura, devemos dar o melhor de nós próprios. 
Ele deve receber nossa atenção, nossa afeição, nossa lealdade. 
Se ventos borrascosos tentarem empanar o brilho do sentimento que nos une, não esqueçamos dos dias felizes, das horas amargas juntos vividas. 
Recordemos de quantas vezes a amizade dele nos socorreu, nos preencheu o vazio. 
Lembremos de quantas vezes compartilhamos desejos, ideais, esperanças, sem palavras. 
 Lembremos... Lembremos... 
* * * 
Cultiva a amizade, preserva os amigos nos dias felizes.
Quando chegarem as horas de solidão e sentires ausência de afagos, sempre encontrarás nas amizades sólidas o preenchimento das tuas necessidades. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto persa, de autoria ignorada. 
Em 22.05.20

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O MELHOR AMIGO DE TODO O MUNDO

Pai, sabia que você é o meu melhor amigo de todo o mundo?
Foi o que Bernardo, de cinco anos, disse ao seu pai algumas vezes. 
A noção de amizade para uma criança nessa idade é muito especial, e talvez nossa compreensão de adultos não consiga explicá-la racionalmente. 
O que ele entende como amigo? 
Quem está sempre junto; quem brinca com ele; quem está ali, por perto, quando ele precisa; alguém em quem ele confia, falando sempre a verdade; alguém com quem tem assuntos em comum. 
Os pais, que são também amigos de seus filhos, têm a oportunidade de conquistar seu amor de uma forma única e preciosa. 
Frisamos o também, pois os pais, na posição em que estão, não podem ser apenas amigos, pois têm outras responsabilidades, e há momentos em que a autoridade de pai, de mãe, precisa sobressair. 
Porém, o ingrediente amizade, na relação pais e filhos é fundamental. 
Quantos pais de filhos adolescentes estão por aí, hoje, desesperados, pois não conseguem se comunicar com seus filhos. 
Resolveram, tardiamente, serem amigos deles, bater um papo, serem confidentes, quem sabe... 
Mas sem nunca antes terem se aproximado, de forma adequada, para que hoje pudessem desfrutar dessa posição.
Sim. 
Quem quer poder ter um bom diálogo com seus filhos adolescentes, precisa merecer essa confiança, necessita ter conquistado esse lugar na vida deles desde cedo. 
E é isso que vemos pouco nas famílias.
Vemos dois mundos afastados: o mundo das crianças e o mundo dos adultos. 
Crianças não podem falar sobre questões de adultos, e adultos não valorizam os assuntos das crianças. 
E assim vamos criando um vale entre nós e eles. Um em cada mundo. 
Os diálogos são poucos. 
Gradativamente eles vão perdendo o interesse em conversar, em perguntar, pois desmerecemos a compreensão que eles têm de mundo. 
Grande erro nosso, como pais e educadores. 
As crianças precisam participar de nosso mundo, de nossos assuntos, de nossos problemas e soluções. 
Obviamente, com critério e cuidado, adequando a linguagem, as explicações e a profundidade do tema, veremos que podemos falar de tudo com elas hoje em dia. 
E elas precisam opinar, precisam ter a possibilidade de debater sobre os mais variados temas do dia a dia. 
Assim, não as ignoremos quando dão suas opiniões, por mais absurdas que possam parecer. 
Amigos falam a respeito de tudo. 
São confidentes. 
Não têm vergonha de expor suas fragilidades, suas dúvidas e incertezas. Amigos penetram um no mundo do outro. 
Assim, que tal, sempre que possível, fazer uma breve viagem pelo mundo das crianças, com seus heróis, brinquedos, com sua imaginação fantástica? 
Elas gostam tanto quando nos veem mergulhados em suas histórias, em suas brincadeiras! 
Vamos perceber que nos será agradável também. 
Basta se deixar levar. 
Há tanto que eles podem nos ensinar sobre a vida... 
Criando esse diálogo, essa abertura com eles, desde cedo, desde a barriga da mãe, certamente seremos amigos de nossos filhos também e, com isso ganharemos confiança e uma via segura para alcançar seu coração. 
Para ser o melhor amigo de todo o mundo, precisamos estar lá, no mundo deles, e sempre que possível, deixá-los conhecer o nosso. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 27, ed. FEP. 
Em 13.04.2024.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

POEMA PARA DEUS

Um dia, a alma desperta e se encanta com a manhã que se espreguiça no horizonte. 
Sente-se como que a pairar acima e além da escala humana.
Então, se recorda ser filha de um Pai amoroso e bom.
Recorda de um Criador que a tudo para todos provê. 
E plena de gratidão, extravasa em versos sua alma: 
Deus, inteligência das inteligências, causa das causas, lei das leis, princípio dos princípios, razão das razões, consciência das consciências. 
Bem tinha razão Isaac Newton ao descobrir-se, toda vez que pronunciava Vosso nome. 
Deus, Pai bondoso, eu vos encontro na natureza, vossa filha e nossa mãe. 
Eu vos reconheço, Senhor, na poesia da Criação, no vento que dedilha harmonias na cabeleira das árvores. 
Nas cores que se apresentam tão diversificadas em matizes e gradações. 
Nas águas que rolam, silentes, em córregos minúsculos, nas cachoeiras que se lançam, ruidosas, de alturas consideráveis, no verdor da grama que atapeta o jardim e as praças.
Reconheço-vos, Pai, na flor dos jardins e pomares, na relva dos vales, no matiz dos campos, na brisa dos prados. 
Senhor, eu vos encontro no perfume das campinas, no murmúrio das fontes, no rumorejo das menores ramificações das copas das árvores. 
Também vos descubro na música dos bosques, na placidez dos lagos, na altivez dos montes, na amplidão dos oceanos, na majestade do firmamento. 
Eu vos vejo, Senhor, na criança que sorri, brinca, pula e distribui alegrias, provocando risos. 
Eu vos reconheço, Pai, no ancião que anda lento, que tropeça. 
Mas, sobretudo, na inteligência que ele revela, resultado de suas experiências bem vividas. 
Eu vos descubro no mendigo que implora, na mão que assiste, na mãe que vela, no pai que instrui, no apóstolo que evangeliza. 
Deus! Reconheço-vos no amor da esposa, no afeto do filho, na estima da irmã, na misericórdia indulgente. 
E vos encontro, Senhor, na fé do que a tem, na esperança dos povos, na caridade dos bons, na inteireza dos íntegros.
Reconheço-vos, Senhor, na inspiração do poeta, na eloquência do orador, na criatividade do artista. 
Também vos encontro na sabedoria do filósofo, na intelectualidade do estudioso, nos fogos do gênio! 
E estais ainda nas auroras polares, no argênteo da lua, no brilho do sol, na fulgência das estrelas, no fulgor das constelações. 
Deus! 
Reconheço-vos na formação das nebulosas, na origem dos mundos, na gênese dos sóis, no berço das humanidades, na maravilha, no esplendor, no sublime do infinito! 
Por fim, entendo com Jesus, quando ora: Pai nosso, que estais nos céus... 
Ou com os anjos quando cantam: Glória a Deus nas alturas...
Redação do Momento Espírita, com base em poema de Eurípedes Barsanulfo, do livro Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da caridade, de Jorge Rizzini, ed. Correio Fraterno.
Em 10.2.2025

domingo, 9 de fevereiro de 2025

A MELANCOLIA

Dentre os vários problemas com que se debate a Humanidade, está a melancolia. 
A melancolia é um estado d'alma de difícil definição, porque se manifesta nas profundezas do sentimento. 
Sabemos que não nos encontramos pela primeira vez na Terra. 
Já vivemos aqui em outras épocas, em outros países, na companhia de outras pessoas. 
Viajores que somos da Eternidade, trazemos em nós as marcas das experiências vividas nas várias existências. 
Hoje estamos na Terra novamente, num corpo diferente, talvez nesse país por primeira vez, numa situação social diversa da vivida em outras épocas. 
Assim sendo, vez que outra nos deparamos com situações que tocam pontos guardados nos porões da nossa alma, e sentimos uma saudade de algo que não sabemos o que é.
Ou, ainda, sentimos uma vaga tristeza, uma depressão injustificável. 
Fatos, situações, pessoas, música, perfume são indutores dessas incursões inconscientes no passado e, conforme tenha sido a experiência, será o sentimento. 
Se o registro é de uma experiência feliz, nos sentiremos bem.
Se, ao contrário, foram experiências malfadadas, teremos o sentimento correspondente. 
Existem pessoas que, quando se deparam com o tempo nublado, frio e cinzento, sentem-se deprimidas. 
Outras, o tempo chuvoso lhes faz sentirem-se muito bem. Outras, ainda, quando ouvem uma música, sentem-se transportadas imediatamente de um estado d'alma a outro completamente inverso. 
Por vezes, pessoas do nosso relacionamento nos dizem alguma coisa que nos deixa tristes, melancólicos, sem que exista motivo para tanto. 
Mas o problema não está no que dizem, e sim em como dizem. 
Quando nos percebermos mergulhados em melancolia, devemos fazer esforços para mudar o clima psíquico, através da leitura edificante, de uma prece, da companhia de alguém que nos ajude a sair dela. 
Jamais deveremos dar asas a esse tipo de sentimento, para que não mergulhemos nele ainda mais, a ponto de perdermos o controle da situação. 
* * * 
Nos momentos de depressão, quando inconscientemente mergulhamos no passado, Espíritos infelizes ou antigos comparsas podem tentar nos envolver nas mesmas teias dos equívocos por nós cometidos anteriormente, levando­-nos a estados de difícil retorno. 
Por essa razão é que não devemos nos entregar aos braços da melancolia ou da depressão. 
É imperioso que façamos esforços, que busquemos com muita vontade mesmo, mudar nosso clima mental, buscando a sintonia com nossos Benfeitores Espirituais, que sempre nos amparam e auxiliam em todos os momentos da nossa existência. 
Agindo assim, guardemos a certeza que logo mais, num amanhã feliz, saberemos o quanto valeu a pena passarmos por essas situações com coragem e dignidade, porque, então, nos aguardarão de braços abertos, os afetos dos quais tanta saudade sentimos. 
* * * 
Expulse a melancolia da sua alma fazendo luz íntima. 
Acenda a lâmpada do Evangelho na sua mente. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 1, ed. FEP. 
Em 06.02.2024.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

RESPIRE FUNDO, EM BREVE JÁ SERÁ AMANHÃ

Olhe para trás. 
Outro ano se foi. 
Não há mais como voltar, não há mais como desfazer, não há mais como reviver. 
O que passou, passou. 
Será que você consegue respirar agora? 
Não aquele respirar automático que o mantém vivo, mas a verdadeira respiração, com intenção, enchendo o peito de ar e esvaziando-o bem lentamente... 
Então... 
Respire fundo. 
Talvez você perceba que não pôde fazer isso durante o último ano... 
Tudo foi tão rápido, tantas coisas para resolver, tantos problemas, tantas lutas. 
Mas você precisa parar um pouco. 
E este é o momento. 
O instante do balanço, da avaliação, da meditação, de olhar para dentro. 
De nada adianta continuar no mesmo ritmo frenético. 
O corpo não suporta. 
A alma se entristece. 
Pare, recolha-se. 
Avalie. 
A nau que não sabe em que águas esteve não tem condições de partir para novos mares. 
Em primeiro lugar, observe tudo com olhar de gratidão, pois você está aqui, venceu, manteve-se vivo, e certamente não fez isso sozinho.
Observe com olhos de alegria. 
A vida é uma oportunidade sem igual. 
Por mais que tenha sido tão difícil, você vai perceber que foi a dificuldade que o tornou mais maduro. 
Observe com olhar de atenção. 
Perceba os caminhos trilhados. 
Aprenda com os equívocos, não tenha vergonha deles, pois tudo faz parte do grande aprendizado na Terra. 
Leia nos rastros deixados as instruções preciosas para os novos caminhos a seguir. 
Observe os outros com amor. 
Celebre com os seus esta conquista. Deixe para trás as desavenças. 
Desculpe, perdoe, releve. 
Possivelmente, vão continuar com você em mais um ano.
Assim, por que não oferecer as mãos generosas? 
Não tenha pressa. 
Não permita que as festas, viagens, celebrações, sejam apenas mais um motivo de stress e agitação. 
Não, este não deve ser o objetivo dessas atividades familiares de final de ano. 
Aproveite cada momento, cada conversa, cada sorrir. Registre tudo com carinho e com calma. 
Conceda a você mesmo este presente. 
Em breve já será amanhã. 
O ontem será história, lembrança. 
Quanto mais conchas e pedras especiais você recolher das areias dos dias atuais, mais bela e vasta será sua coleção no futuro. 
* * * 
Você se sente um pouco mais velho? 
Cansado? 
Pois este é o momento de rejuvenescer um pouco. 
Imagine que se prepara para uma nova vida, que terá a chance de renascer criança, com as forças renovadas e sorriso no rosto. 
Um novo ano deve ser visto como uma nova vida. 
O Criador nos concede nova volta ao redor do sol, nova chance de construir, de acertar, de aprender, de reparar. 
Nós precisamos nos dar novas chances também. 
Eu posso ser melhor do que fui. 
Eu posso mudar. 
Eu posso superar este desafio. 
Eu sou capaz. 
Comandos mentais que inundam a alma de ânimo, de energia, e não nos permitem desistir. 
O novo ano não será fácil. 
Não estamos na Terra em férias. 
Este é um planeta de lutas, provações, expiações, desafios constantes, porém, somos capazes de sobreviver, somos capazes de vencer. 
Agora, respire fundo. 
Em breve já será amanhã. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 08.02.2025

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

MEIOS E FINS

RUBEM ALVES
Os fins justificam os meios. 
Esta afirmativa é muito comum, mas nem sempre podemos dizer que é acertada. 
Ouvimos, recentemente, essa desculpa de alguém que tentava ajudar um amigo, usando de expedientes ilegais e imorais. 
No seu modo de pensar, ele entendia que se o fim objetivado é nobre, os meios utilizados para atingi-lo, estão justificados.
No entanto, esse tema merece uma reflexão mais detida. 
Se alguém comete um crime, por exemplo, e contrata um advogado para defender seus direitos de cidadão, e esse profissional usa de recursos que contrariam o fim visado, que é fazer justiça, comete um ato extremamente contraditório.
Um profissional do direito tem, em primeiro lugar, que observar a situação como um todo, e não apenas parte dela.
Se o seu trabalho é fazer com que a justiça aconteça, não será cometendo outras tantas injustiças que ele terá cumprido o seu dever.
O fim, nesse caso, não justifica os meios, porque esses se chocam contra o fim. 
Assim também acontece nos sistemas carcerários de nosso país, em que se visa a correção do delinquente utilizando-se os meios mais impróprios para tal. 
Enquanto o homem não despertar sua consciência para essa realidade, suas ações em busca da justiça vão resultar nulas.
Se a intenção é nobre, os meios utilizados devem ser também nobres, justos e morais. 
Uma tese só pode ser derrubada por uma antítese. 
Caso contrário será reforçada, ao invés de anulada. 
O homem tem vivido com essas contrariedades e também acaba sendo vítima das suas próprias incoerências. 
O ser humano deseja, ardentemente, ser amado e respeitado, ter seus direitos garantidos e seu bem-estar conquistado. 
No entanto, acaba sendo vítima de si mesmo, nessa ânsia de chegar aos fins sem atentar muito para os meios utilizados.
Poderíamos dizer, até, que o próprio homem também acaba sendo usado como um mero meio para se chegar aos fins desejados. 
É o que acontece, em tese, numa boa parte das organizações modernas. 
No mundo civilizado, das organizações, será possível ter reverência pelo próximo? 
Na lógica das organizações não há "próximos" nem amigos. 
A lógica das organizações diz: cada funcionário é apenas um meio para o fim da organização, não importa quão grandioso ele seja! 
Não importa quantos anos de sua vida ele tenha dedicado à empresa... 
Não importam os seus sonhos, suas esperanças, seus planos para o futuro... 
Suas necessidades. 
Se hoje não é mais um meio útil para se atingir os lucros desejados ou se está pesando na folha de pagamento, ele é simplesmente descartado. ... 
Como qualquer outra máquina que tenha se tornado inútil!
Nesse caso, como em tantos outros, podemos afirmar que os fins não justificam os meios... 
Um ser humano não é um meio. 
Sua felicidade plena é o fim almejado pelo Criador. 
* * * 
Os fins não justificam os meios. 
É preciso que os meios sejam coerentes com os fins objetivados. 
Não se pode combater um mal com um mal maior ou equivalente. 
E, acima de tudo, é preciso que o homem não seja, jamais, usado como meio para se chegar a fins que não tenham relação direta com a sua felicidade e progresso intelecto-moral. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Em defesa da vida, do livro O amor que acende a lua, de Rubem Alves, ed. Papirus. 
Em 09.08.2012.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

MEIOS DE SUBSISTÊNCIA

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec fez a seguinte pergunta aos Espíritos superiores: 
-É freqüente a certos indivíduos faltarem os meios de subsistência, ainda quando os cerca a abundância. A que se deve atribuir isso? 
E os espíritos responderam: 
-“Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre. Depois e as mais das vezes, devem-no a si mesmos. Buscai e achareis: estas palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe para a Terra. É preciso procurar, não com indolência, e sim com ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a providência, para lhe experimentar a constância, a paciência e a firmeza.” 
Como podemos perceber, o egoísmo continua sendo a grande barreira no caminho dos homens. 
Kalil Gibram, em seu livro o profeta, fala sobre o egoísmo e a preguiça de forma poética: 
“A vós a terra oferece seus frutos, e nada vos faltará se somente souberdes como encher as mãos. É trocando as dádivas da terra que encontrareis a abundância e sereis satisfeitos. E, contudo, a menos que a troca se faça no amor e na justiça, ela conduzirá uns à avidez e outros à fome. Quando vós, trabalhadores dos campos e dos vinhedos, encontrardes no mercado os tecelões, os oleiros e os colhedores de especiarias, invocai o espírito mestre da terra para que desça sobre vós e santifique as balanças e os cálculos que comparam valor com valor. E não permitais que aqueles que têm as mãos vazias tomem parte nas vossas transações, eles vos venderiam suas palavras em troca de vosso labor. A tais homens devereis dizer: Vinde conosco aos nossos campos ou ide com nossos irmãos para o mar e jogai vossa rede, pois a terra e o mar serão tão generosos para convosco quanto o são para conosco. Mas quando vierem os cantores, os bailarinos e os flautistas, comprai de suas ofertas, pois eles também colhem frutos e incensos e, embora feitos de sonhos, seus produtos são vestimenta e alimento para vossas almas. E antes de deixardes o mercado, vede que ninguém se retire de mãos vazias. Pois o espírito mestre da terra não descansará em paz sobre o vento enquanto as necessidades do mais humilde dentre vós não tiverem sido satisfeitas.” 
Importante notar a lucidez nas palavras desses sábios que condenam o egoísmo e a indolência, e enaltecem as mãos operosas e justas. 
Existem pessoas que não têm o necessário para viver, por causa do egoísmo de alguns, mas também existem aqueles que vivem na miséria por pura preguiça. 
Desejam olhar para a terra e dela receber seus frutos, sem o menor esforço. 
Sentam-se confortavelmente em suas cadeiras cativas, sem nada produzir, e esperam seus polpudos salários no fim de cada mês. 
Mas como o Criador não privilegia nenhum de seus filhos, outorgou-lhes o trabalho como lei natural. 
Quem não trabalha e mesmo assim recebe, fica devendo às leis morais da vida e, mais cedo ou mais tarde deverá prestar contas dessa apropriação indébita. 
Jesus, o maior sábio que já pisou o solo terrestre, enalteceu essa dinâmica ensinando: buscai e achareis. 
-Batei e a porta se abrirá. 
Pensemos nisso, e coloquemos nossas possibilidades a serviço do progresso, sem egoísmo nem indolência. 
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em O Livro dos Espíritos, item 707, e no livro O Profeta, de Gibran Khalil Gibran, cap. As compras e as vendas.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

NÃO SOMOS NOSSOS PROBLEMAS

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Conta-se que Victor Hugo, o admirável escritor francês, quando no exílio, tinha por hábito, ao cair da tarde, chegar a uma parte em que havia uma colina próxima ao mar, e ali sentava-se, mergulhando em reflexões demoradas. 
Enquanto o grande gênio da língua neolatina meditava, crianças brincavam à sua volta. 
Depois de haver reflexionado suficientemente, o gigante da pena erguia-se, dobrava-se, tomava de uma pedra e a atirava ao mar. 
Tornara-se-lhe tão habitual este movimento que já o fazia por automatismo. 
Certo dia, porém, uma das crianças, vendo o grande escritor repetir o gesto de atirar ao mar uma pedra, perguntou, com o olhar traquinas e o sorriso infantil: 
-Senhor Hugo, por que o senhor, depois de meditar tanto, toma de uma pedra e a joga no mar? 
E o admirável exilado respondeu, com um toque de melancolia: 
-É que tenho muitos problemas e resolvi, diariamente, por meditar em um problema. Após equacioná-lo, atirá-lo ao mar do esquecimento. 
* * * 
Não permitamos que os problemas tomem conta de nossa vida e exauram todas as nossas energias. 
É necessária a compreensão de que estamos no problema, mas não somos o problema. 
Somos a solução para ele. 
Quando analisarmos cada um deles, devemos pensar: 
-Aqui está o meu problema. Fora de mim. 
Não somos este momento de aflição. 
Apenas transitamos por ele temporariamente. 
Encaremos cada problema como um desafio, algo que veio para fazer-nos crescer, amadurecer. 
E não para nos destruir. Isso permitirá que a vida o solucione com tranquilidade, sem desgastar-nos em demasia. 
Contemos com ajuda externa. 
Não acreditemos que tenhamos que resolver tudo sempre sozinhos. 
Há tanta gente disposta a nos ajudar, no mundo material, e no mundo invisível, onde encontramos os amores do ontem e os protetores de nossa reencarnação. 
Então, após resolver cada problema, atiremo-lo ao mar do esquecimento, não permitindo que ele permaneça em nossa casa mental. 
Renovemo-nos diariamente, não permitindo que resquícios de crises e dores amarguem a alma, e se transformem em prisão indesejada. 
Não nos assustemos com a palavra problema. 
Se ela nos parecer assustadora, troquemo-la por outra, como desafio ou obstáculo. 
Obstáculos existem para serem observados, compreendidos e transpostos. 
Saímos mais fortes de cada um deles, se desejarmos, em vez de mais fracos e abalados. 
Libertemo-nos desse negativismo que, por vezes, estraga nosso dia, quando a lente do pessimismo nubla nossa vista imperceptivelmente. 
Libertemo-nos do cinza, do escuro dos pensamentos que tanto nos aborrecem a alma. 
Nascemos para ser livres, então, libertemo-nos. 
Não somos nossos problemas. 
Apenas transitamos por eles temporariamente. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita com base na faixa 1, do CD Visualizações terapêuticas, de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 05.02.2025

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

UM HOMEM TAMBÉM CHORA

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Quando o pai voltava do trabalho, o garotinho corria com os braços abertos em busca de um abraço. 
O pai, acostumado à educação rígida que ele próprio recebera, afastava o filho e dizia:
-Homem não abraça homem. 
O menino ficava sem saber o que fazer com a vontade de demonstrar seu afeto àquele a quem amava. 
Seu pai era seu ídolo. 
Mas foi se acostumando a não abraçar o pai. 
Também não podia chorar, porque ele era homem e homem não chora, segundo o ensinamento que recebera do pai.
Quando a tristeza o dominava, prendia o choro na garganta e corria para os braços da mãe, a quem podia abraçar sem medo de ser menos homem. 
Os anos rolaram. 
O menino cresceu e cresceu também a dificuldade de extravasar seus sentimentos. 
Não conseguia abraçar os amigos, os colegas da escola, os familiares. 
Não conseguia chorar, por causa das orientações que recebera na infância. 
Tudo ficava dentro dele, represado. 
Entretanto, a convivência generosa de pessoas em seu entorno, abraçando-o, muitas e muitas vezes, permitiu que ele, ao longo dos anos, vencesse essa barreira. 
Décadas e décadas passadas, em torno dos oitenta anos, ele confessa que consegue se entregar num abraço sem medo de ser feliz. 
Chorar em público, no entanto, é algo que procura evitar, pois a frase, ouvida muitas vezes na infância, ainda o persegue:
Homem não chora. 
* * * 
Entretanto, sabemos que homens podem e devem chorar. 
O que faz um ser humano ser digno não é o fato de deixar de chorar, ou de evitar se envolver num abraço. 
O que dá dignidade a um homem é a sua capacidade de amar, de se entregar, de se deixar levar pela emoção sadia. 
O cancioneiro popular retratou essa realidade em versos musicais: 
Um homem também chora... 
Também deseja colo... 
Palavras amenas. 
Precisa de carinho, precisa de ternura. 
Precisa de um abraço da própria candura. 
Guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis. 
Guerreiros são meninos. 
No fundo do peito 
Precisam de um descanso, 
Precisam de um remanso. 
Precisam de um sonho que os torne refeitos. 
* * * 
Hombridade não é sinônimo de dureza. 
O homem é um Espírito temporariamente mergulhado num corpo masculino, um filho de Deus. 
Um homem também chora... 
Um homem também sente saudade... 
Um homem também se entristece quando parte um ser querido, quando a desilusão o maltrata, quando uma traição o fere. 
Um homem também se equivoca, também se arrepende, também se sente só. 
E, às vezes, a única maneira de aliviar um pouco o peito oprimido é deixar que as lágrimas jorrem com vontade.
Paulo de Tarso, o incomparável apóstolo, na luta para vencer a si mesmo, encontrava nas lágrimas uma forma de desabafo.
Aquele gigante do Cristianismo deixava, nas horas difíceis, as lágrimas aliviarem seu coração oprimido. 
A cada gota de pranto era um pouco de fel que expungia da alma, renovando-lhe as sensações de tranquilidade e de alívio. 
Jesus, o maior Homem de que se tem notícia, também chorou. 
Pense nisso e, se sentir vontade ou necessidade, abra as comportas do peito e deixe que as lágrimas lavem e aliviem seu coração, sem medo de ser feliz. 
Redação do Momento Espírita, com frase extraída do livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e versos da canção Um homem também chora (Guerreiro menino), de Gonzaguinha.
Em 04.02.2025.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

MEDOS INFUNDADOS

Declinava o dia e as sombras da noite se avizinhavam. 
Na casa, as luzes foram acesas. 
Retornando das atividades profissionais, a mãe, envolvida em preparar o jantar, atender a pequena que chegara da escola, ia de um lado a outro, a fim de que tudo ficasse pronto, no tempo devido. 
A garota de cinco anos foi até a cozinha. 
Afinal, depois de ficar distante da mãe tantas horas, desejava estar com ela. 
Sentou-se à mesa e ficou observando. 
Então, de repente, exclamou: 
-Nossa, mãe, eu vi um vulto preto enorme atrás de você.
A senhora se assustou: 
-Vulto preto, enorme, atrás de mim? Meu Deus, o que será que minha filha está vendo? 
Pela sua memória, repassou os últimos minutos de relance.
Teria se alterado? 
Por que estaria atraindo para o seu lar algo ruim? 
Um Espírito mau a estaria acompanhando?
Sua casa estaria à mercê de Espíritos de qualidade inferior?
Tentou acalmar os próprios pensamentos e, numa tentativa de tranquilizar a filha, a fim de que não se apavorasse, indagou:
-Como era esse vulto grande, filha? 
-Ah, ele era preto, grandão, e ficava se mexendo atrás de você. 
Então, a mãe olhou para a parede e viu a sua sombra projetada. 
Era escura e proporcionalmente maior do que sua própria estatura. 
Sossegou a alma e explicou: 
-Filhinha, é a sombra da mamãe. Está vendo? Eu levanto o braço, a sombra levanta. Eu ando, a sombra me acompanha.
E fez diversas brincadeiras, que levaram ambas a rir de forma descontraída.
* * * 
Em nosso cotidiano, muitas vezes, fatos nos ocorrem, que nos atemorizam. 
Alguém nos faz uma observação e, de nossa parte, deduzimos questões nem sempre positivas. 
A simples observação de uma criança pode desencadear desassossego e nos levar a ponderações inconsequentes.
Por isso, sempre importante que mantenhamos a mente alerta e, antes de pensar tolices, verificar o que é real, dentro da informação que nos chega. 
Alguns de nós, por vezes, nos deixamos envolver por medos tolos e sem razão alguma. 
Ante algo que nos pareça mau, tenhamos a certeza de que, se nos encontramos no caminho do dever, buscando realizar o melhor, somente teremos conosco os Espíritos do bem.
Deus, que é Pai de amor e bondade, vela por nós, tem Seus olhos atentos sobre todos Seus filhos. 
Temos nosso anjo de guarda, especialmente designado por Deus, para cuidar de nós. 
Temos ainda os Espíritos do bem, que nos secundam as atividades que desenvolvemos em prol do progresso dos nossos amores e do nosso próximo. 
Também os Espíritos simpáticos às tarefas em que nos envolvemos, na profissão, nas artes, no estudo. 
Isso quer dizer que é bem maior o número de Espíritos bons que têm os olhos postos em nós do que, eventualmente, um ou outro de qualidade inferior. 
Rodeados por uma nuvem de testemunhas, conforme dizia o Apóstolo Paulo de Tarso, guardemos a certeza de que se pensamos o bem, se realizamos o bom, somente teremos boas companhias. 
Nós, nossos afetos, nosso lar. 
Pensemos nisso e não nos deixemos afetar por medos infundados. 
Deus está conosco. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.10.2016.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

MEDOS INFANTIS

Existem crianças que têm medos inexplicáveis. 
Sem que ninguém as tenha amedrontado com figuras monstruosas, com a escuridão ou afogamentos, elas demonstram temer o escuro, o mar, o rio, as armas. 
Arrepiam-se e correm apavoradas para o colo dos pais ou ficam paradas, em choro alto, frente a determinadas situações. 
Observam-se bebês que dormem tranquilos no colo materno.
A mãe os deita no bercinho, beija-os com doçura e os cobre, cheia de carinho. 
Entretanto, quando ela sai do quarto e apaga a luz, eles acordam aos gritos, em tremendo pavor, demorando a se acalmarem. 
Algumas crianças têm dificuldades com o escuro. 
Não conseguem entrar em um local às escuras, mesmo acompanhadas. 
Registram o seu desconforto agarrando-se às mãos de quem está com elas e, mesmo assim, choram, pedem com insistência para que seja acesa a luz. 
Alguns pais, desejosos de que seus filhos cresçam sem medos, os obrigam a enfrentar tais situações, chamando-os de maricas, bobos e outros adjetivos ainda mais infelizes.
Obrigam o filho a entrar em uma sala escura e apanhar algum objeto, propositalmente, enraivecendo-se se a criança chorar, gritar e não fizer o que pedem. 
Para vencer o medo da água, adentram no mar, rio ou piscina com o filho nos braços, obrigando-o a ficar ali. 
A criança chega ao desespero, arranhando e gritando apavorada. 
Os medos infantis dessa ordem não são frutos desta vida, pois que são registrados desde os primeiros meses, sem nenhuma explicação razoável do agora. 
São registros que o Espírito traz por ter, em vidas anteriores, sofrido algum mal, talvez até a morte, em lugares escuros ou na água. 
Quem sabe sofreu um desabamento, ficando às escuras, por algum tempo, até se consumar a morte física. 
Ou teve morte por afogamento, às vezes até por imprudência própria. 
Eis porque tais medos infantis nos merecem todo o respeito e cuidado. 
A criança deverá ser levada, aos poucos, com extremo cuidado, a entender que agora está segura. 
Os pais poderão lhe afirmar isto, muitas e muitas vezes, dizendo que a amam e que a protegerão. 
Que ela não precisa temer a escuridão, que ela logo desaparece quando acendemos a luz. 
Levá-la ao mar, para molhar os pés devagarinho, brincar na areia e, a pouco e pouco, ir lhe falando da necessidade da prudência mas, também, que não há motivo para tanto medo.
Quiçá levar o filho a piscinas muito rasas e ficar com ele, incentivando-o a brincar na água. 
Jamais, em nenhuma circunstância, rir dos seus temores ou qualificá-lo de forma negativa. 
São problemas muito profundos do Espírito e, de forma delicada, cuidadosa e profundamente devem ser trabalhados.
* * * 
O filho que nos chega é sempre um Espírito pedindo ajuda para o seu crescimento interior. 
Confia em nós e por isto nos toma para pais. 
Não lhe falhemos nos momentos mais importantes. 
Ajudemo-lo a superar suas dificuldades, com calma. 
Não nos importe o aplauso do mundo, nem se ele não ostentará jamais as medalhas do homem mais corajoso ou do melhor nadador. 
O importante é que se torne um homem equilibrado, superando as dificuldades uma a uma, seguro e feliz.
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.06.2010.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

RÁPIDA PASSAGEM

CHRISTINA FELDMANN
Conta-se que, no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egito. 
Seu objetivo era visitar um famoso rabino. 
O turista ficou surpreso ao ver que o rabino morava num quarto simples, cheio de livros. 
As únicas peças de mobília eram uma mesa e um banco.
-Onde estão os seus móveis? - Perguntou o turista. 
E o rabino bem depressa perguntou também: 
-Onde estão os seus? 
-Os meus? - Disse o turista - Mas eu estou aqui de passagem.
-Eu também.- Falou o rabino. 
* * * 
JACK CORNFIELD
A vida na Terra é somente uma passagem. 
No entanto, vivemos como se fôssemos ficar aqui eternamente. 
A grande preocupação é amontoar coisas. 
São casas na cidade, na praia, no campo, no Exterior. 
Vários carros de cores, marcas e potências diferentes, para ocasiões diversas. Inúmeras roupas, dezenas de calçados, prédios, terrenos, joias. 
Quanto mais se possui, mais se deseja. 
Justo que o homem anseie pela casa confortável, vestimenta adequada à estação, boa alimentação. 
Tudo isso faz parte da vida material. 
São coisas necessárias para nos manter e podermos gozar de relativa segurança. 
Entretanto, por que ajuntar tantas coisas, utilizando um tempo enorme em trabalho constante, sem nos preocuparmos com a vida do Espírito? 
De um modo geral, afirmamos que não temos tempo para orar, para ler e estudar a respeito do mundo espiritual, do porquê nascemos e vivemos. 
Nossa preocupação é exclusivamente no campo profissional, para ter sucesso, ganhar sempre mais. 
Esta maneira de pensar é tão forte em nós que, ao auxiliarmos nossos filhos a se decidirem por essa ou aquela profissão, costumeiramente sugerimos que eles escolham a mais rendosa. 
Aquela profissão que, num tempo muito curto, trará excelente retorno. 
Preocupamo-nos com as notas da escola, com seu desempenho nos esportes, nas artes. 
Tudo muito correto! 
Mas, e quanto ao Espírito? 
Quando teremos tempo para lhes falar de Deus, da alma, de Jesus, da lei de amor? 
Quando nós mesmos teremos tempo para frequentar um templo religioso? 
Para ajuntar tesouros espirituais, trabalhando as virtudes em nós? 
Lembremos que a vida no corpo é uma passagem apenas.
Vivamos bem mas, de forma sábia, também cultivemos as coisas do Espírito, preparando a nossa vida para além da tumba. 
* * * 
A vida espiritual é a verdadeira vida. 
A vida terrena é breve e tem por objetivo o progresso do Espírito. 
Estamos na Terra exatamente como alguém que chegasse de um lugar distante, parasse em uma determinada estação, ali permanecesse por um tempo e, depois, tomasse a condução de volta ao ponto de origem. 
Assim são as nossas idas e vindas da Pátria espiritual para a Terra e daqui para lá. 
Por esse motivo recomendou Jesus na parábola do homem que encheu os seus celeiros e se preparou para aproveitar tudo, ao máximo: 
-Louco. Ainda esta noite a morte virá te buscar a alma.
Redação do Momento Espírita, com base emconto do livro Histórias da alma, histórias do coração, de Christina Feldmann e Jack Kornfield, ed. Pioneira. Disponível no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. 
Em 1º.02.2025