sexta-feira, 31 de março de 2023

UMA PALAVRA MARAVILHOSA

Ela fora levada pelo pai e pela madrasta, para Tianjin, há mais de mil quilômetros da residência da família. 
Sempre fora a filha rejeitada. 
Mais do que isso, odiada. 
Estava acostumada aos maus tratos da madrasta, à total indiferença do pai. 
Todos a culpavam pela morte da mãe, alguns dias depois de lhe dar à luz. 
Os irmãos a maltratavam porque sofriam o desprezo da madrasta. 
Se a mãe estivesse viva, seu pai não teria tornado a se casar. 
E eles, como filhos do primeiro casamento, não seriam tratados como indesejáveis, vivendo em cômodo separado da nova família paterna. 
No avião, quase chegando ao destino, outro grande baque para a menina de apenas onze anos. 
Seu pai se sentou na poltrona vazia ao seu lado e perguntou: 
-Como é o seu nome chinês? Preciso preencher o cartão de desembarque e não lembro como você se chama. 
Ela era tão insignificante que o pai nem recordava seu nome verdadeiro.
-Realmente, concluiu, não valho coisa alguma. Cada dia, mais me convenço disso.
A pergunta seguinte foi ainda mais devastadora: 
-Qual é a data do seu aniversário? 
Como ela poderia saber? 
Jamais ela tivera uma comemoração pelo aniversário. 
Como não soubesse informar, o pai disse que colocaria a sua própria data de nascimento. 
Quando chegaram ao destino, ela foi simplesmente deixada no portão de enorme colégio. 
Seu pai nem descera do táxi. 
A diretora a levou ao imenso dormitório. 
Logo ela descobriria que fora abandonada em local perigoso. 
Os comunistas haviam derrubado o governo e avançavam. 
Os dias passavam tristes. 
Ela era a única aluna. 
Todas haviam partido, com suas famílias, para outras localidades, temerosas das ações dos vencedores. 
Quando Adeline recebeu a visita da irmã de sua madrasta, gelou, pensando em mais maus tratos. 
No entanto, o que ela viveu, durante a travessia de navio a Hong Kong, os dias em que conviveu com a tia, lhe fizeram compreender o que significava família. 
O irmão ajudava a irmã, tinha carinho para com ela, ensinava tudo que sabia.
Quando, na apertada cabine do navio, Adeline se preparava para dormir no chão, porque somente havia duas camas, ouviu da tia que nada ali era imposto. 
Através de um sorteio, foi definido que a prima é quem dormiria no chão. 
Era inacreditável. 
Ela era tratada como se pertencesse àquele conjunto. 
Uma família na qual existia o respeito, a afeição. 
Compreensão entre o casal, amizade, companheirismo entre os filhos. 
E ela? 
Ela era a terceira filha, recebendo tudo o que os primos recebiam: a mesma comida, cuidados, atenção. 
Pela primeira vez em sua vida, recebeu carinho, sentiu-se gente. 
Não era um lixo que se jogava, literalmente, aos lobos. 
Ou seja, no meio de um conflito, deixada à própria sorte. 
Acostumada a receber bofetadas em pleno rosto, ao ponto de sangrar, a levar uma surra homérica porque diziam ser mentirosa, naqueles dias, ela viveu o verdadeiro sentido de família. 
Algo que levaria para sempre, em sua vida. 
E, ao constituir a sua própria, anos mais tarde, traduziria exatamente assim: aconchego, atenção, afeto. 
Em uma palavra maravilhosa: amor. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 15 e 16, do livro Cinderela chinesa, de Adeline Yen Mah, ed. Companhia das Letras. 
Em 31.3.2023.

quinta-feira, 30 de março de 2023

INVENÇÃO E INVENTOR

Já pensamos em como vivíamos antes da invenção do relógio?
Imaginemos marcar um compromisso: 
-Quando a sombra daquela árvore alcançar a pedra, nos encontraremos, certo?
Ou então: 
-Quando o sol bater na sua janela, esperarei você na praça da cidade. 
A ideia de marcar o tempo é muito antiga. 
Criamos a ampulheta, o relógio de areia, por volta de 600 a.C. 
Em 725 d.C., o monge budista chinês Yi Ching fabricou o primeiro relógio mecânico de que se tem notícia. 
Ele funcionava utilizando um conjunto de engrenagens e sessenta baldes de água, correspondentes aos sessenta segundos que compõem um minuto.
Foi em 1500, época das grandes navegações e descobertas que, em Nuremberg, Peter Henlein fabricou o primeiro relógio de bolso da História. 
Por seu formato oval e sua procedência, passou a ser conhecido como Ovo de Nuremberg. 
Era fabricado inteiramente em ferro, do exterior ao complexo mecanismo interno.
Sua corda durava quarenta horas, confeccionada com pelos de porco, uma espécie de protótipo das molas espirais que seriam comuns anos mais tarde. 
O relógio de pulso tem, igualmente, muitas histórias. 
Alguns atribuem sua invenção ao relojoeiro Abraham Louis Breguet. 
Teria sido encomenda da irmã de Napoleão Bonaparte, a princesa de Nápoles, Carolina Murat. 
Porém, as fontes são escassas e não há como comprovar a veracidade dessa informação. 
A hipótese mais aceita é a de que o inventor do relógio de pulso tenha sido o mesmo do avião: o brasileiro Alberto Santos Dumont. 
Conta-se que o Pai da Aviação necessitava de uma solução prática para poder cronometrar os seus voos. 
Como todo mundo, ele possuía um relógio de bolso preso a uma corrente, mas teve a ideia de encomendar um relógio que pudesse ser preso ao braço, facilitando o controle das horas. 
O pedido foi feito ao amigo e famoso relojoeiro Louis Cartier. 
Em 1904, Cartier lhe entregou o que é considerado, por muitos, como o primeiro relógio de pulso do mundo. 
O objeto ganhou o nome de seu dono: 
O relógio Santos. 
* * * 
Sempre que surge uma invenção, desejamos saber quem seja o inventor. 
E, por isso, pesquisamos e fazemos o registro, a fim de atribui-la, de forma devida, ao correto autor. 
O filósofo e escritor francês, Voltaire, disse certa vez: 
-O mundo me intriga. Não posso imaginar que este relógio exista e não haja relojoeiro. 
Contemplando o Universo, a excelência da natureza que nos mostra uma diversidade inigualável, beleza ímpar, criatividade, continuamos com Voltaire: 
Se o palácio anuncia o arquiteto, como poderia o Universo não demonstrar a Inteligência Suprema? 
Que planta, que animal, que elemento, que astro, não traz a marca daquele a quem Platão chamava o Eterno Geômetra? 
São evidentes as lições da natureza. 
Se o relógio nos fala da necessidade de um relojoeiro para inventá-lo, que não se dizer dos esplendores que contemplamos todos os dias? 
Olhos de ver, como conclamava Jesus. 
Ver a Inteligência Suprema, 
Deus, nas coisas simples, na sabedoria e zelo com que tudo dispôs para a Sua criatura: o ser imortal. 
Abramos nossos olhos. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 28.03.2023.

quarta-feira, 29 de março de 2023

QUEIXUMES

Caetano Cury
Uma tirinha publicada em um jornal mostra dois personagens que dialogam. 
De um lado um menino com suas incertezas, dúvidas e dores do mundo. 
Do outro uma amiga, uma borboleta que transborda calma e equilíbrio. 
Cada conversa é como uma parada na estação sabedoria. 
Ele pergunta, em tom reflexivo: 
-Você está sempre plena, não sofre, não sente dor. Qual é o seu segredo? 
Ela responde, segura: 
-O segredo é que eu não me queixo. 
Curiosa e sábia reflexão. 
Primeiramente analisemos que, na visão dele, ela não sofria, não sentia dor. 
E por isso era plena. 
Por vezes, enxergamos assim a existência daqueles que julgamos ter uma vida muito mais feliz do que a nossa. 
Invejamos, queríamos estar lá, vivendo aquele papel e não o nosso. No entanto, a plenitude da amiga alada não estava na ausência de aflições, mas na forma de lidar com elas. 
Viver se queixando é uma das maneiras de amplificar o sofrimento, de tornar as provas mais duras ainda. 
Os queixumes não resolvem problemas. 
A reclamação por si só não nos coloca no caminho das soluções. 
Alguns de nós tornamos as queixas algo tão corriqueiro, tão frequente, que não percebemos que ela se instalou em nossa mente como um vício. 
Um vício, exatamente. 
Uma prática do pensamento e da palavra que nos faz reclamar de tudo. 
Nada está bom. 
Tudo poderia ser diferente e melhor. 
Lamentamos e lamentamos. 
Queixamo-nos porque chove demais. 
Depois, nos queixamos dos dias secos e das altas temperaturas. 
Na sequência é a vez de nos queixarmos dos parentes, dos políticos. 
Nada está bom. 
Ninguém presta. 
Com isso, nos tornamos naturalmente pessimistas, pois quanto mais nos queixamos, mais enxergamos apenas o lado negativo das experiências cotidianas, mais nos cobrimos com essa espessa névoa de negatividade. 
Conforme o tempo vai passando, vamos nos acostumando com essas lentes escuras. 
Então, fica mais difícil abandonar os óculos de sol. 
Estar insatisfeito com aquilo que julgamos não estar correto em nós e no mundo, obviamente, se faz necessário em certa dose. 
A exata dose que nos deve impulsionar a mudar. 
A dose que nos deve estimular a agir. 
Um certo incômodo precisa estar presente dentro de nós, para que possamos sair do lugar onde nos encontramos e seguir nosso caminho de ascensão. 
Entretanto, o simples reclamar e mais reclamar não faz isso. 
Apenas tornamos a realidade mais dura e ainda, contagiamos os que estão ao nosso redor. 
Quando percebemos, estamos cercados desses que pensam como nós, que se queixam sem parar, que somente veem a noite escura das coisas que incomodam.
Atraímos os pares, os semelhantes, do mundo material e do outro. 
Em breve, nos tornamos uma sinfonia de reclamações e nada mais. 
Uma música triste que faz doentes do Espírito e do corpo.
* * * 
Abandonemos as queixas frequentes. 
Retiremos do pensar e do falar esse tom derrotista, esse timbre de desapontamento e comecemos a trabalhar. 
Quem trabalha no bem, quem está com a mente ocupada em tarefas edificantes não tem tempo para reclamar. 
Redação do Momento Espírita, com base em tirinha do livro Téo e o Minimundo, o lugar do outro, de Caetano Cury, ed. Caetano Cury. 
Em 29.03.2023.

terça-feira, 28 de março de 2023

JESUS E OS DIAS DE HOJE

Aqueles dias, nos quais esteve Jesus cantando as glórias de Deus, pelas terras da Palestina, eram dias de grandes dificuldades morais. 
As aflições, dramas pessoais, dificuldades de relacionamento, de entendimento entre povos e culturas faziam-se constantes. 
A incompreensão, o preconceito, a preocupação com a aparência externa e com o aspecto social era a tônica, nos relacionamentos, principalmente nas classes mais abastadas. 
Não muito diferente dos dias de hoje. 
Em termos morais e valores íntimos, ainda somos muito parecidos com aqueles que encontraram Jesus, durante Seu périplo de amor. 
Os dramas vivenciados há mais de dois mil anos, na intimidade daquele povo, se assemelham muito aos desafios emocionais que hoje enfrentamos. 
Por isso, os conselhos de Jesus são ainda tão atuais. 
Ele falava para um povo que vivia em um mundo sem recursos tecnológicos, utilizava de analogias e comparações que pudessem ser compreendidas, pelas gentes simples. 
Não obstante, Seus conceitos e orientações são ainda atuais. 
Jesus não Se preocupava com as coisas do mundo. 
Ensinava as coisas da alma. 
Sem preocupar-Se com os valores temporais, era, por excelência, o Sábio dos valores da alma, que os conhecia em profundidade. 
Assim, Seus conceitos atravessaram os séculos chegando até nós com atualidade arrebatadora. 
Nestes dias onde o estresse emocional e a ansiedade são doenças crônicas, Jesus nos aconselha a deixar a cada dia suas próprias preocupações e necessidades, sem nos afligirmos com o futuro desconhecido. 
Ensina-nos a ter confiança e fé em Deus. 
Serve-Se do exemplo das aves dos céus, que não semeiam, nem ceifam e dos lírios do campo, que não tecem, nem fiam, mas têm uma beleza incomparável, para falar da Providência Divina. 
Alerta-nos a não termos atitude inercial, esperando um salvacionismo ilusório, dizendo-nos que é necessário buscar para achar e bater para que as portas se abram. 
Nestes dias em que, muitas vezes, nos colocamos como omissos e descomprometidos com nossa vida em sociedade, Jesus nos fala que somos o sal da Terra. 
E o sal deve atender à sua finalidade de preservação e de sabor. 
Quando se mostra tão frequente o descrédito com o ser humano, Jesus nos alerta que somos a luz do mundo e que devemos fazê-la brilhar em nós, através das boas obras que somos capazes de executar. 
Nestes dias onde o ter costuma sobrepujar o ser, onde a cobiça e o comprar são as grandes sensações, é Jesus que nos alerta para não nos preocuparmos com tesouros que a traça e a corrosão consomem. 
E mais: que onde estiver nosso tesouro, aí estará nosso coração. 
Os conceitos de Jesus talvez jamais tenham sido tão importantes como nos dias desafiadores que registra a Humanidade. 
Nestes dias, em que os valores e as instituições são questionadas e abalam-se, perante a sociedade e os homens, Jesus prossegue como Modelo e Guia. 
É Ele a referência indispensável para bem atravessarmos os mares encapelados da atualidade, para que Sua luz seja o farol que nos haverá de conduzir ao porto seguro que nos aguarda, após a tempestade. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no cd Momento Espírita, v. 21, ed. Fep.
Em 09.04.2012.

segunda-feira, 27 de março de 2023

JESUS E ORAÇÃO

Jesus foi o grande revolucionário do comportamento humano, em Seu constante convite ao amor. 
Conhecendo os propósitos divinos em toda sua extensão, Seu viver foi todo voltado a nos ensiná-los.
Servia-se das oportunidades diárias para apresentar Suas lições, deixando de lado as aparências, as externalidades, demonstrando a essência das Leis de Deus. 
Em uma cultura onde a oração se fazia cercada de rituais próprios, Ele buscava as montanhas, o lago para se conectar com o Divino. 
Foi nesse contexto que um dos Seus apóstolos, intrigado pela forma como o Mestre se dirigia a Deus, rogou-lhe que os ensinasse a orar. 
Não que eles não o fizessem, pois eram vinculados ao judaísmo e atendiam às obrigações dos dias de sábado, as idas à sinagoga e as liturgias religiosas a que estavam afeitos. 
Porém, jamais haviam visto alguém buscar Deus na natureza. 
Nunca tinham conhecido a oração destituída de intermediários. 
Sem um dia determinado ou local específico, sem apetrechos ou vestimentas especiais, viam o Mestre simplesmente afastar-se, buscar o recolhimento interior, e orar. 
Era isso que os intrigava e, ao mesmo tempo, fascinava. 
Será possível que Deus está em toda parte? 
Será que nos escuta a todos, mesmo os mais simples, pobres ou ignorantes? 
Foi por isso que pediram: 
-Mestre, ensina-nos a orar. 
E, daquele momento em diante, a Humanidade aprendeu que orar é o ato de conversação íntima e individual com Deus. 
A partir daquele instante, a Humanidade pôde compreender que Deus não distingue nenhum de nós, pois somos todos Seus filhos. 
Aprendemos que Deus é Pai, e como todo pai, vela por todos. 
Aprendemos que orar não é só a rogativa buscando amparo perante as necessidades, o que é lícito e adequado. 
Mas, também, orar é buscar a Deus para louvar e agradecer, reconhecendo Seu amparo e amorosidade plena. 
Quando nos colocamos em oração, conectamos nossas emoções com vibrações de elevado teor que, ao repercutir em nossa intimidade, nos traz bem-estar. 
Em oração, a intuição se potencializa, os medos se aplacam, o coração se acalma.
Qual brisa suave em dias tormentosos, nos tranquilizamos, aumentando nossa esperança no que esteja por vir. 
Fazer da oração hábito diário é proporcionar momentos de reestruturação, refazimento e organização emocional para nós mesmos. 
É na oração que encontramos bálsamo para as dores, fortaleza para as incertezas, coragem para as provações. 
Dessa maneira, nunca deixemos de orar.
O dia amanheceu? 
Guardemos uns minutos para agradecer à Divindade por estarmos reencarnados. 
A noite decreta a conclusão das atividades do dia? 
Louvemos a Deus pelo Seu amparo e auxílio nas labutas da jornada que termina.
Assim agindo, estaremos todos nós mais fortalecidos. 
Seja perante as dores que nos chegam, ou dos males que nos visitam; seja nas alegrias das conquistas ou nos dias de calmaria, quando vinculados a Deus pela oração, nossos dias se farão mais leves e suaves. 
Pensemos a respeito.
Redação do Momento Espírita 
Em 26.5.2022.

domingo, 26 de março de 2023

JESUS E O MUNDO

EMMANUEL E CHICO XAVIER
É comum os que nos afirmamos cristãos, demonstrarmos desânimo com a corrupção do mundo. 
Entretanto, o Cristo é o maior exemplo de confiança na regeneração dos homens.
Infinitamente superior a todos os seres que passaram pelo planeta, Ele ensinou e exemplificou o bem. 
Renunciou, temporariamente, de sua natural morada junto aos anjos, para conviver com seres rudes. 
Suportou demonstrações de ignorância e crueldade, ao ponto de aceitar a dor do martírio. 
Assim O fez certamente por acreditar no progresso da Humanidade. 
Jesus, o Modelo da Perfeição, não recusou o convívio com os doentes do corpo e da alma. 
Ele afirmou que os que gozam de saúde não necessitam de médico. 
Portanto, como Divino Médico das almas, Ele veio para os que se encontravam equivocados. 
Por consequência, nós, os Seus seguidores não devemos agir de modo diferente.
Assim, não é viável perdermos a esperança ou desanimarmos, diante das pequenas e abençoadas lutas que o céu a todos nos concede. 
As sombras das experiências humanas são provas purificadoras. 
Desta bendita escola saíram, diplomados em santificação, Espíritos sublimes. 
Hoje eles se constituem em abençoados patronos da evolução terrestre. 
Os que seguimos na retaguarda, por entre dificuldades morais, não podemos menosprezar o plano de aprendizado que a vida nos oferece. 
Se compreendemos um pouco as leis superiores que regem o Cosmo necessitamos dar a nossa cota de exemplo e sacrifício. 
Se o melhor não auxiliar o pior, inutilmente aguardaremos a melhoria da Humanidade. 
Se o bom desamparar o mau, a fraternidade não passará de uma ilusão. 
Se o sábio não auxiliar o ignorante, a educação não passará de uma perigosa mentira. 
Caso o humilde fuja do orgulhoso, o amor se converterá em palavra inútil. 
O aprendiz da gentileza não pode desprezar o prisioneiro da impulsividade e da grosseria. 
Se assim fizermos, o desequilíbrio terminará por comandar a existência humana. 
A virtude precisa socorrer as vítimas dos vícios e o bem necessita amparar os que se lançam nos despenhadeiros do mal. 
Caso contrário, a admiração e o encanto pela figura do Cristo de nada nos servirá.
O Mestre não era deste mundo, mas a ele veio para a redenção de todos. 
Sabia que Seus apóstolos não pertenciam ao acervo moral da Terra. 
Mas os enviou para que, sob sua influência, o planeta se convertesse em um reino de luz. 
* * * 
Se, como cristãos, fugimos ao contato do mundo, a pretexto de nos preservarmos do erro, seremos como uma flor improdutiva na árvore do Evangelho. 
A Seara do Senhor não necessita de cânticos e ladainhas, mas de trabalhadores abnegados e fiéis. 
Do nosso esforço é que deverá brotar a sementeira renovada de um amanhã pleno de paz e fraternidade. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29, do livro Coragem, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC. 
Em 27.7.2018.

sábado, 25 de março de 2023

JESUS E O EVANGELHO

Quando, finalmente, a Terra, após o longo período inicial da sua civilização alcançou uma época de conquistas compatível com ensinos mais elevados, as legiões magnânimas do Cristo entenderam ser o momento para que Ele estivesse entre nós. 
Dessa forma, nas proximidades do planeta assembleias de mensageiros celestes prepararam a Sua vinda para implantar o amor nos corações humanos. 
Inúmeros Espíritos iluminados trabalharam para organizar o sagrado momento, a fim de que o anunciado Filho de Deus pudesse estar conosco. 
E, naquela noite especial, música suave com entonações Divinas invadiu o ar. 
Os anjos entoaram Aleluias lhe dando as boas vindas. 
Os astros brilharam com especial luminosidade, enquanto a estrela guia traçava o percurso para quem O quisesse ir glorificar. 
Aqueles que conheciam as profecias e O aguardavam, sempre vistoriando os céus à procura de um sinal, seguiram a rota da grande estrela, em busca dAquele que chegava para dividir as eras na face da Terra. 
O Filho de Deus tomou um corpo de carne para viver entre nós e nos ensinar o caminho que deveríamos seguir se quiséssemos alcançar o reino dos céus. 
Sua primeira grande lição foi a da humildade, tendo por leito a manjedoura improvisada, aquecida pelos animais que na gruta se abrigavam. 
Desde então Seus pais tiveram a difícil tarefa de protegê-lO das perseguições daqueles que, desconhecendo Sua real meta, O supunham usurpador de tronos. Sua segunda grande lição foi a do trabalho. 
Ainda criança se entregou às lides na marcenaria do pai, nos mostrando pela prática, a excelência de ser útil. 
Trazia em si uma forma de agir que chamava a atenção pela educação e respeito a tudo e a todos. 
Sua sabedoria selecionou alguns homens, para fazer deles Seus mais próximos seguidores, ensinando-lhes suas diretrizes, tornando-os pescadores de almas.
Durante quase três anos espalhou luzes e ensinamentos, até hoje despercebidos de muitos dos que não nos desejamos amoldar às Suas lições.
Ele nunca teve por meta as coisas terrenas. 
Seu objetivo era esclarecer os homens sobre a realidade do mundo espiritual. 
* * * 
À medida que o entendimento humano progride na direção desse conhecimento, encontramos mais sentido nas Suas lições e exemplos. 
Embora nada tenha escrito, Seus discípulos, para não perderem Seus ensinamentos passaram a registrar Seus ditos e Seus feitos. 
Dessas anotações surgiu o maior manual de comportamento humano, o Evangelho ou a Boa Nova, traçando um roteiro para a conquista do reino dos céus. 
Como Divina luz, ilumina a Terra e leciona o findar das guerras, implantando a paz. 
Suprema força, ergue o doente, que alegria sente das energias renovadas. 
Roteiro amigo, mostra o caminho muitas vezes áspero, mas que nos conduz no rumo da felicidade autêntica... 
Acorda os homens que não creem na vida, que vivem na lida terrena, sem maiores objetivos... 
Ninho de amor, aconchega a alma. 
Despertador, acorda o ser, e o faz compreender sua verdadeira finalidade no planeta azul. 
Bendito Evangelho de Jesus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 17.2.2018.

sexta-feira, 24 de março de 2023

NINGUÉM DEVERIA RECEBER ESTA MEDALHA

Marilyn Wills
Marilyn Wills deixou sua mesa e foi para a sala de conferências, naquela manhã. Enquanto pensava em como seria demorada a reunião, houve uma grande explosão, que atingiu a parede atrás dela. Ela olhou para cima e viu uma bola de fogo. A força da explosão a jogou do outro lado da sala. Havia fumaça. Pessoas gritavam. De joelhos, engatinhou, procurando chegar na porta mais próxima. Estava muito quente. Isso significava fogo do outro lado. Então, com os joelhos ensanguentados, foi rastejando através da fumaça, para o outro lado, com a manga do suéter na boca, para respirar. Alguém agarrou a parte de trás de sua calça. Era uma mulher que trabalhava em seu escritório. A tenente-coronel Wills ofereceu a outra manga do suéter para ela. Depois para um soldado e outro oficial. Ela começou a rezar: 
-Senhor, me tire daqui. 
Lembrou das duas filhas.
-Não quero morrer, Senhor. 
Viu um pequeno raio de luz e rastejou para lá. Um soldado jogou uma impressora ou algo parecido contra aquela janela. Sem resultado. As janelas do Pentágono são feitas para não serem rompidas. Alguém arrancou freneticamente a moldura da janela. E a corajosa mulher foi ajudando os companheiros a sair. Quando finalmente ela saiu, perdeu a consciência e acordou dois dias depois no hospital. Inalara muita fumaça e apresentava queimaduras. Foi presenteada com a Medalha do Soldado, por seu heroísmo, durante esse ataque de 11 de setembro de 2001. Pelos ferimentos sofridos, ela recebeu, mais tarde, o Coração Púrpura, condecoração oferecida a soldados feridos ou mortos, durante o serviço militar. Em uma entrevista disse a corajosa mulher: 
-Ninguém deveria receber um Coração Púrpura.
Imaginamos porque ela teria assim se expressado. 
E nos demos conta: ninguém deveria ser ferido ou morto em combate. 
Isso significaria abolir a guerra, os conflitos armados, as ações terroristas. 
Isso significaria colocar em prática o Amai-vos uns aos outros. 
Perdoai os vossos inimigos. 
Lições que atravessaram milênios mas ainda não alcançaram os nossos corações, porque não aderimos a essas convocações. 
Em plena transição planetária, enquanto as ciências e as artes encantam sempre mais o mundo, continuamos a nos agredir. 
Agressões no estreito círculo familiar, agressões na escola, no trabalho. 
Parece que não aprendemos que a violência não é ruim somente quando nos atinge ou a quem amamos. 
Então, erguemos a bandeira branca, gritando por paz. 
Mas a paz começa em nós, em nossa intimidade, sufocando o orgulho, a sede de poder, de mando e comando. 
-Aprendei de mim, disse o Sábio Galileu, que sou manso e humilde de coração e encontrareis repouso para as vossas almas. 
A tenente-coronel retornou ao trabalho, apenas onze dias depois dos ferimentos sofridos. 
Manteiga de cacau nas cicatrizes, confiança em Deus e vontade de auxiliar companheiros e famílias dos mortos a fizeram superar a grave crise. 
Tudo servindo-se da sua compaixão e do mestrado em aconselhamento psicológico. 
Ela acredita que a superação ao ataque é difícil para todos. 
Porém, agradece por ter sobrevivido e poder auxiliar. 
Uma bela lição. 
Redação do Momento Espírita, com dados colhidos em entrevistas e redes sociais sobre Marilyn Wills e no Evangelho de Mateus, cap. 11, vers. 29. 
Em 24.03.2023.

quinta-feira, 23 de março de 2023

PRECIOSA BAGAGEM

Foram árabes nômades, os Nabateus, que elegeram construir a cidade de Petra, em meio a canyons rosados e rochas de arenito. 
A localidade deve ter sido escolhida pela proximidade das rotas comerciais entre a Península Arábica e Damasco, na Síria. 
Toda a cidade é construída em pedra. 
Calcula-se que duzentos anos foram necessários para a edificação das casas, templos, teatro, tumbas. 
As ruínas foram descobertas no século XIX e atraem turistas do mundo todo. 
A imponência das construções causa admiração. 
O teatro, por exemplo, construído no estilo romano, tinha capacidade para sete mil espectadores. 
As ruínas do que teria sido um luxuoso SPA, com piscinas de água quente, fria, sofisticado sistema de aquecimento, causa espanto. 
Não menos extraordinários os reservatórios e filtragem de água, canais, abastecendo a cidade o ano inteiro. 
Contemplando tanta engenhosidade, trabalho artístico, urbanismo e os cuidados com a segurança, cogitamos como algo tão espetacular desapareceu nas areias do tempo. 
A História registra que entre os anos 64 e 63 a.C., os territórios Nabateus foram conquistados pelo General Pompeu e anexados à República Romana. 
O domínio do império romano, com uma forte pressão econômica, gradualmente fez com que o comércio dos Nabateus entrasse em declínio. 
No século III Petra não estava mais nas rotas comerciais, e sua economia ficou cada vez mais decadente. 
Porém, o que determinou o fim da cidade foram dois terremotos nos séculos IV e VI, que a destruíram. 
Nesse momento, ela foi abandonada. 
* * * 
A História da Cidade rosa, como também é conhecida, nos leva a meditar como tudo na Terra é impermanente. 
Impérios, soberanias, monumentos estupendos, luxo e poder, tudo perece. 
E acompanhamos a poesia do filósofo francês Léon Denis quando descreve: 
-Vi, deitadas em suas mortalhas de pedra ou de areia, as cidades famosas da Antiguidade. Cartago, em brancas elevações, as cidades gregas da Sicília, os arredores de Roma, com os aquedutos partidos e os túmulos abertos. Vi os túmulos que dormem um sono de séculos, debaixo das cinzas do Vesúvio. Vi os últimos vestígios das cidades longínquas, outrora formigueiros humanos, hoje ruínas desertas, que o sol do Oriente queima com suas carícias ardentes. Evoquei as multidões que se agitaram e viveram nesses lugares. Eu as vi desfilar, diante do meu pensamento, com as paixões que as consumiram, com seus ódios, seus amores e suas ambições. Também com seus triunfos e reveses. Tudo consumido pelo sopro dos ventos. 
* * * 
Somos Espíritos imortais. 
Vivamos como tal. 
Tudo passará mas, quando chegar a nossa hora de partir, permita-nos Deus que possamos levar uma boa bagagem conosco. 
Que possamos dizer que nossa passagem pelo mundo não foi estéril. 
Que contribuímos para diminuir ao menos uma dor; que esclarecemos ao menos uma inteligência em busca da verdade. 
E que tenhamos reconfortado ao menos uma alma vacilante e angustiada. Pedra, concreto, grandes monumentos podem ser apagados pelo tempo. 
Nós, Espíritos imortais, providenciemos nossa preciosa bagagem. 
Redação do Momento Espírita, com base em documentário a respeito da cidade jordaniana de Petra e na introdução do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. FEB. 
Em 23.3.2023.

quarta-feira, 22 de março de 2023

JESUS E O AMOR

Como parte de nossa essência, o amor é sentimento buscado e sonhado por toda criatura humana, desde sempre. 
Da poesia aos profundos tratados de filosofia, da escultura ao teatro, as expressões mais nobres da cultura e da arte se debruçam sobre esse sentimento. 
E cada um de nós, à sua maneira, definimos, buscamos e aspiramos pelo amor.
Para alguns, significa posse. 
Para outros, conquista. 
Tantos o consideram ilusão. 
Não poucos, o supõem razão de sofrimento. 
Natural que assim seja. 
Somos criaturas em diferentes níveis evolutivos, no campo das emoções. 
Para que o amor desabroche e se faça presente, de forma lúcida e perene, em nossas vidas, necessária se torna uma longa e segura aprendizagem. 
Doutrinas, filósofos e religiosos trouxeram suas contribuições e melhores reflexões a seu respeito, em épocas e sociedades diferentes. 
Porém, ninguém jamais se igualou a Jesus em matéria de lições do amor. 
Quando a mulher equivocada O procurou, nEle encontrou o amor fraterno. 
Quando a mãe zelosa solicitou tratamento especial aos seus dois filhos, dentre os demais do colégio apostólico, recebeu a lição do amor justiça. 
Quando lhe indagaram a respeito do maior mandamento da Lei de Deus, ofertou o ensino do amor ao próximo. 
Ante a mulher surpreendida em adultério e que estava para ser apedrejada em praça pública, Ele demonstrou o amor indulgência. 
Na cruz, sob suplício inenarrável, ao entregar João como filho para Sua Mãe Santíssima, falou do amor universal. 
Por vivenciar o amor na sua expressão mais profunda, ainda nos recomendou o amor aos inimigos, a oração a quem nos persegue e calunia, a oferta da face da não violência a quem nos ofende. 
Ninguém antes nem depois dEle, cantou o amor em tal plenitude e amplitude. 
O amor que não retém, não prende, nem controla. 
Todas as Suas lições são as do desprendimento, da compreensão e da generosidade, valores que acompanham o verdadeiro amor. 
Por isso nos recomendou: 
-Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. 
Disse, ainda, que os Seus discípulos seriam reconhecidos por muito se amarem.
Assim, sejam quais forem as nossas necessidades ou por quais caminhos estejamos vivenciando o amor, ou nos ressentindo da sua falta, busquemos Jesus como referência. 
Se não temos um companheiro ou companheira para amar, amemos ao mais próximo, ao desconhecido, ao abandonado, ao mais carente que nós mesmos. 
Se vivemos um relacionamento a dois, experimentemos também o amor na forma da empatia, da fraternidade, da generosidade. 
Aos colegas de difícil convivência, ofereçamos o amor revestido de paciência, de benevolência, de compreensão. 
São inúmeras as oportunidades que a vida nos oferece para aprendermos a amar.
Toda relação com o próximo é um imenso convite para vivenciarmos o amor. 
E, ao nos propormos a amar, tenhamos Jesus como Modelo. 
NEle teremos roteiro seguro para que o amor floresça em sua melhor expressão, em nossa intimidade. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 02.02.2021.

terça-feira, 21 de março de 2023

JESUS E NÓS

É inegável que a História do Cristianismo confunde-se em muito com a da civilização ocidental. 
É impossível rememorar esses dois mil anos passados, sem percorrer acontecimentos do Cristianismo. 
Afinal, é o próprio Cristo quem divide a contagem do tempo, em antes e depois de Sua vinda. 
E é de tal forma contundente Sua vinda e Sua passagem entre nós, é de tal força a Sua mensagem, que Ele não apenas conseguiu dividir o calendário terreno, mas dividiu também a vida de muitos, em antes e depois do encontro que tiveram com Ele. 
Para alguns, esse encontro foi pessoal, direto. 
Após isso, nunca mais foram os mesmos. 
Pedro foi capaz de largar suas redes para se tornar pescador de almas, como Jesus lhe propôs. 
Mateus, coletor de impostos, voltou as costas ao mundo para contabilizar as riquezas celestes. 
Outros, encontraram-nO na intimidade da visão psíquica, com os olhos da alma, como Saulo de Tarso, na estrada de Damasco. 
Após o encontro com Jesus, entregou-se à Sua causa, não olhando para trás, para sua vida antes dEle. 
Francisco, da bucólica Assis, conquistou o mundo tornando-se o irmão menor de todos. 
Teresa de Jesus, em Ávila, ganhou as estradas a fim de fundar casas de assistência em nome dEle. 
Juana Inés de La Cruz, no México, abandonou seus estudos, a imensa biblioteca, para atender aos pobres e miseráveis, em nome do amor a Jesus. 
Teresa de Calcutá, na Índia, ergueu mais de quatrocentas casas, em nome da causa de Jesus, em nome do amor ao próximo. 
O musicista Albert Schweitzer abandonou sua carreira musical e de orador religioso, tornando-se médico, partindo para a África Equatorial Francesa, a fim de vivenciar o amor, junto aos irmãos esquecidos. 
Chico Xavier, da singela Pedro Leopoldo, foi capaz de reestruturar vidas e ensinar a seguir Jesus, na proposta de amar ao próximo. 
Sem dúvida, todos esses, e tantos mais, entregaram-se e entregaram suas vidas à proposta do Cristo. 
Após encontrá-lO, já não mais pensaram em si, não mais tiveram preocupação consigo, mas, plenos do mais sublime amor, viveram a Sua mensagem. 
* * * 
É bem verdade que não temos ainda os recursos emocionais e a grandeza moral desses que fazem de sua vida um hino de louvor a Deus. 
Porém, nada impede que possamos, aos poucos, iniciar nosso caminho nessa direção. 
Todas as vezes que deixarmos de pensar em nós e pensarmos no próximo; quando usarmos da humildade, da benevolência, da compreensão, ao invés da arrogância, da crítica e da prepotência, estaremos dando os primeiros passos nesse rumo.
Começando assim, dia virá em que, à semelhança de Paulo de Tarso, também perceberemos que Cristo vive em nós, pois estaremos vivendo em abundância o amor que rege todo o Universo.
Redação do Momento Espírita. Disponível no cd Momento Espírita, v. 21, ed. Fep.
Em 09.04.2012.

segunda-feira, 20 de março de 2023

AMOR SEMEADO

Ela tinha oito anos. 
E o que mais desejava em sua vida era saber como era o rosto de sua mãe, que morrera quando ela viera à luz. 
Um ano depois da sua morte, seu pai tornara a se casar e ordenara que todas as fotos da primeira esposa fossem queimadas. 
Por isso, não adiantava Adeline pedir à tia que lhe mostrasse alguma fotografia do rosto da mãe. 
Não havia nenhuma. 
Com os maus tratos da madrasta, bem mais jovem do que seu pai, a saudade da mãe querida foi aumentando e aumentando. 
Então, a menina chinesa passou a tecer quadros mentais. 
Ela não sabia bem se tudo era produto da sua imaginação ou se quando sonhava, ia realmente para a casa de sua mãe. 
Era uma terra encantada, em cima das nuvens. 
Tinha flores perfumadas, altos pinheiros, rochas bonitas, bambus que quase tocavam o céu e passarinhos que cantavam. 
Ali, toda criança podia entrar sem bilhete, e as meninas eram tratadas do mesmo jeito que os meninos. 
Ninguém era desprezado, nem castigado sem razão. 
A casa ficava em um jardim cheio de árvores, flores, pedras e pequenas aves canoras. 
Chamava-se paraíso. 
Era para ali, que nos dias mais tristes, de maus tratos, desprezo e humilhações, a garota se dirigia. 
Sua experiência nos recorda a do menino Francisco, que perdeu sua mãe aos cinco anos de idade. 
Conduzido a uma casa estranha, conheceu muitas dificuldades para continuar vivendo. 
A senhora que o acolheu sofria de desequilíbrios e por coisa alguma, lhe batia severamente. 
Seu consolo era ir para os fundos do quintal, chorar e chamar por sua mãe. 
A primeira vez em que a viu, pediu que o abençoasse, como estava habituado.
Triste, perguntou se fora mandada por Jesus, para buscá-lo. 
Ela confirmou que vinha em nome de Jesus. 
No entanto, era preciso que ele, Francisco, como todos os seus irmãos, que estavam espalhados, em diversas casas, aguardassem um pouco. 
Assim, dia após dia, espancado, choroso, ele ia para o quintal orar e falar com sua mãe. 
Ela o acarinhava, lhe pedia para ter paciência porque Jesus mandaria um anjo para cuidar dele e dos irmãos. 
O anjo se chamava Cidália, com quem seu pai se casou e que exigiu que os filhos do primeiro casamento retornassem ao lar. 
Ela foi a mãe carinhosa para todos eles.
* * * 
Ambas as histórias, que são verídicas, nos remetem à Imortalidade do Espírito. 
E nos sinalizam que, de onde se encontram, os que partiram prosseguem amando e velando pelos que ficaram na Terra. 
Que doce esperança essa que nos acalenta a alma! 
Sabendo, além do mais, que eles estão conosco.
O que nos compete é ter a mente e o coração abertos para os poder perceber. 
Estão ao nosso lado, quando a dor nos atormenta, quando a saudade nos maltrata.
E nos abraçam, nos confortam. 
Por isso, em certos momentos, do nada suas lembranças acionam repentinamente nossas memórias.
Aqueles de nós que somos mais sensíveis, os podemos ver. 
Outros, lhes podemos sentir o abraço carinhoso, aconchegante. 
Prosseguem a nos amar porque o amor não acaba nunca. 
Semente generosa, plantada, ramifica-se e frutifica em expressões de carinho e ternura, todos os dias. 
Redação do Momento Espírita, com base nos cap. 9 e 10 do livro Cinderela Chinesa, de Adeline Yen Mah, ed. Companhia das Letras. 
Em 20.3.2023.

domingo, 19 de março de 2023

JESUS EM MINHA VIDA

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Em todas as religiões cristãs, Jesus é o Modelo de conduta, é o grande Mestre que ensina a viver melhor, é o Modelo e Guia. 
Jesus nada escreveu, mas falou a todos aqueles que O quiseram escutar fosse por necessidade, por curiosidade, ou, até mesmo, por desejo de combatê-lO. 
Suas ideias e ensinamentos disseminaram-se rapidamente pois aqueles que o ouviam comentavam, encantados, suas palavras com outrem. 
Depois de Sua morte física, os Apóstolos levaram Seus ensinos a lugares distantes, aumentando o número daqueles que os conheceriam. 
Alguns dos seguidores escreveram a respeito do que viram e ouviram de Jesus, e esses textos formaram os Evangelhos. 
Sua vida e Sua obra, eternizadas por esses textos, são as mais comentadas e discutidas pelas civilizações da Terra, através dos tempos. 
Em todas as religiões cristãs o Evangelho é a base dos estudos e das pregações possibilitando, a todos, reflexão. 
O Evangelho pode ser considerado como um testamento que Jesus deixou para a Humanidade, sendo o mais belo poema de esperanças e consolações a que podemos ter acesso. 
Ainda hoje, Sua voz alcança os ouvidos de todos aqueles que O buscam, com lições de beleza e de felicidade, dando oportunidade de esperar por melhores dias à medida que nos ensina a autossuperação. 
Nos dias atuais, conhecer e estudar o Evangelho está ao alcance de todos, diferentemente do que acontecia quando isso era reservado apenas aos líderes espirituais de algumas religiões. 
Mas, será que o conhecimento do que disse Jesus, dos Seus exemplos, das Suas ideias nos serve para realmente modificar nossas vidas? 
Será que procuramos ser simples e humildes como Ele nos ensinou? 
Será que, diante de um ato violento seja físico ou moral, feito contra nós, sabemos mostrar a outra face ao agressor, dando-lhe um exemplo de brandura e não de revide? 
Será que, ao nos sentirmos ofendidos, sabemos perdoar, da mesma maneira que, quando ofendemos queremos ser perdoados? 
Será que somos capazes de dialogar com todos, a despeito de quaisquer diferenças, mantendo-nos calmos e pacíficos? 
Somos capazes de tratar com amor alguém, cujas atitudes não estejam de acordo com nosso padrão moral, sem fazer julgamentos? 
Somos capazes de refletir sobre aquilo que nos faz sofrer, sem nos julgarmos vítimas, mas sim responsáveis, e, dessa maneira, conseguirmos usar este sofrimento para nos modificarmos interiormente? 
Será que temos, realmente, ouvidos de ouvir, ou decoramos as passagens dos Evangelhos e as repetimos superficialmente sem nada colocar em prática? 
Nosso querido Mestre Jesus esteve entre nós porque desejava deixar um caminho a seguir. Se queremos realmente conhecê-lO não basta apenas ler ou ouvir o que Ele falou, mas sim experimentar, em nossa vida, Seus ensinamentos, colocando-os em prática. 
Como nosso amigo e terapeuta, Ele espera que possamos abrir coração e mente para as reflexões que há dois mil anos estão espargidas no ar que respiramos, esperando solo fértil para germinar e florescer. 
Redação do Momento Espírita, com base no Seminário O significado de Jesus: o encontro real - mudanças internas, desenvolvido no Encontro Fraterno com Divaldo Pereira Franco, realizado na Praia de Guarajuba - BA, em setembro de 2009 e na introdução do livro Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 20.01.2021.

sábado, 18 de março de 2023

AMIGO OU INIMIGO?

Débora Zanelato
Quando o ano chega ao fim, é comum dizermos que os meses passaram muito rápidos, que não conseguimos fazer tudo o que havíamos pensado.
Parece que o mundo girou mais rápido e os dias deixaram de ter vinte e quatro horas. 
Nesse tempo, não conseguimos assistir todas as séries televisivas que havíamos planejado, não lemos todos os livros que queríamos, não curtimos todas as mensagens, fotos e vídeos recebidos. 
Não estivemos com os amigos tanto quanto gostaríamos, nem com nossa família.
Nessa análise, parece que o tempo é nosso inimigo e não o dispensador de oportunidades para nosso progresso. 
Vivemos condicionados às horas, consultando o relógio, passo a passo. 
Mas, nem sempre foi assim. 
A invenção do relógio mecânico na Europa data do século XIII. 
Passamos séculos sem nos pautarmos pelos minutos e segundos. 
Quando Sócrates criou a filosofia, não sabia se eram duas da tarde ou se faltavam alguns minutos para as três. 
E Leonardo da Vinci, ao pintar A última ceia, não ficou consultando o relógio, verificando quanto tempo já empreendera. Simplesmente, investiu na sua criação. 
A invenção do relógio mudou o tempo. 
Claro que isso nos ajudou. 
Como poderíamos marcar um encontro? 
A que horas devemos entrar e sair do trabalho? 
A que horas devemos ir para a escola, para o templo religioso? 
Porém, a partir de então, entraram para o nosso vocabulário palavras como gastar, poupar, desperdiçar... tempo. 
Criamos o conceito de que tempo é dinheiro, que é preciso ter mais tempo, que não podemos perder tempo. 
Em verdade, o que nos compete é administrar nosso próprio tempo, providenciando um bom espaço em branco, onde possamos fazer coisa alguma.
Um tempo para relaxar, para sonhar acordado, para contar estrelas e olhar as nuvens. 
Tempo que pode ser de minutos, horas, ou uma tarde inteira, num dia qualquer.
Não importa, desde que o saibamos bem aproveitar. 
Tão importante dimensionarmos o bom uso do tempo e gozar, intensamente, cada atividade que nos propomos realizar. 
Quantas vezes saímos de nossos apartamentos para levar o cão a passear. 
Na maioria das vezes, andamos apressados, puxando o cãozinho. O ritmo é ditado pela nossa pressa. 
Deveríamos permitir que ele comandasse a marcha. 
Que ele vá tomando ciência dos cheiros, todos os cheiros diferentes daqueles onde fica por horas. 
Que ande aqui, que marque seu território logo adiante... 
O passeio é dele. 
Nós o devemos seguir, parar, aguardar. 
De igual forma, quando levamos crianças conosco. 
Já nos demos conta de quantas vezes vamos à frente, de passo acelerado, puxando os pequenos pela mão? 
Eles seguem atrás, tentando colocar os olhos nas belezas do dia que nós deixamos de prestar atenção, desde algum tempo. 
Tempo é preciosa dádiva que nos é renovada a cada dia, a cada ano.
Desaceleremos. 
Vamos rir de qualquer coisa, conviver, viver intensamente cada minuto. 
Lembremos: A cada dia bastam as suas próprias aflições. 
Lição de um Mestre que lecionou amor, convivência, amizade. 
Tempo para cada coisa em seu tempo. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Como ter mais tempo, de Débora Zanelato, da Revista Vida Simples, ed. 179, de janeiro/2017, ed. Caras. 
Em 17.3.2023.

sexta-feira, 17 de março de 2023

MIMO DE DEUS

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Narra uma velha lenda que Deus, após o magnífico feito da Criação, visitou o planeta azul.
Era um dia de verão. 
O sol iluminava a natureza, traduzindo em beleza luzes, cores, perfumes e encantamentos. 
A brisa perfumada passava entre a folhagem das árvores, acariciando-as. 
As águas cantavam nos córregos, abundavam nos rios, atropelavam-se para despencar das alturas, em cascatas de tirar o fôlego. 
As aves bailavam nos ares, repousavam em ramos altos, cantando operetas recém compostas. 
As florestas exibiam sua imensa riqueza, na diversidade de espécies vegetais e animais. 
Montes altaneiros pareciam, apenas, a tudo observar, mostrando suas encostas floridas ou os picos altíssimos. 
E a Bondade Divina a tudo contemplava, jubilosa pela colaboração de tantos Espíritos que se lhe haviam associado à vontade para essa extraordinária produção.
Então, buscou a obra-prima da Sua Criação: o ser humano, que enviara ao planeta tão amorosamente preparado para ele. 
Foi encontrá-lo trabalhando o solo, com um instrumento rude. 
O semblante marcado pelo cansaço e pelo suor. 
Transmitia mal-estar e desencanto. 
O trabalho lhe constituía desconforto inigualável, chegando quase a praguejar.
Deus contemplou aquele filho amado, sabendo que lhe cabia trabalhar para seu próprio crescimento. 
No regato de água cristalina, ele tomou de um bolo de barro. 
Enquanto continuava olhando o homem revoltado, foi moldando, com Suas mãos, uma avezita. 
Era delicada e bela. 
O Senhor do Mundo lhe abriu o bico e determinou: 
-Tu serás a calhandra. Cantarás para que o ser humano se sinta feliz ao te escutar, espancando a tristeza e a revolta. 
Lançou-a no ar e falou, com alegria: 
-Canta! 
Desde esse dia, quando o homem se aflige, recorda da calhandra. 
Então, sorri e murmura uma melodia. 
* * * 
A vida é uma bênção de Deus. 
Não importando as circunstâncias que nos envolvam, é sempre oportunidade de aprendizagem e evolução. 
Existir significa lutar, conquistar o infinito, inebriar-se de valores grandiosos e de conquistas sucessivas. 
Conseguir alcançar a vitória de viver, neste planeta, é honra que, de forma alguma, deve ser desprezada ou desperdiçada. 
Dessa forma, ante as dores que nos chegam, roguemos o auxílio divino, e prossigamos. 
Ante os problemas que nos pareçam insolúveis, paremos um pouco, cheguemos à janela, contemplemos a paisagem, busquemos ouvir o canto da avezita. 
Extasiemo-nos com a melodia, emocionemo-nos com esse especial mimo que Deus nos ofereceu. 
E, gratos por respirarmos, gratos por usufruirmos de mais um dia no corpo físico, retornemos às nossas lides, enfrentando os desafios. 
Não desistamos de viver. 
Não nos permitamos esmorecer, desalentar. 
Pensemos em quantos apreciariam estar no mundo, como nós, com a possibilidade de encontrar amigos que nos sustentam, de usufruir do aconchego da família. 
A glória de viver. 
Jamais desistamos dela. 
Porque, por maiores sejam os problemas, lembremos de que tudo passa. 
O que quer que estejamos sofrendo, passará. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Suicídio, de Divaldo Pereira Franco, publicado na coluna Opinião, do jornal A Tarde, de Salvador, Bahia, em 8.9.2022. 
Em 15.03.2023.

quinta-feira, 16 de março de 2023

FILOSOFIA INFANTIL

GAROTO SHANE E O CÃO BELKER
Ele era um veterinário experiente e foi chamado para examinar um cão de raça irlandesa, chamado Belker. Os proprietários do animal, Ron, sua esposa Lisa e seu garotinho Shane eram muito ligados a Belker e esperavam por um milagre. O veterinário examinou o cão e descobriu que ele estava morrendo de câncer. Disse à família que não haveria milagres no caso de Belker, e se ofereceu para proceder à eutanásia para o velho cão, em sua casa. Enquanto faziam os arranjos, Ron e Lisa contaram ao profissional que estavam pensando se não seria bom deixar que Shane, de quatro anos de idade, observasse o procedimento. Eles achavam que Shane poderia aprender algo da experiência. No dia seguinte, o veterinário sentiu o familiar aperto na garganta, enquanto a família de Belker o rodeava. Shane, o menino, parecia tão calmo, acariciando o velho cão pela última vez, que o profissional ficou a pensar se ele entendia o que estava se passando. Dentro de poucos minutos, Belker se foi, pacificamente. O garotinho parecia aceitar a transição do amigo, sem dificuldade ou confusão. Então, após a morte do animal, todos se sentaram juntos, pensando alto sobre o fato da vida dos animais ser mais curta que a dos seres humanos. Shane, que tinha estado escutando silenciosamente, finalmente disse: 
-Eu sei porquê. 
Abismados, todos se voltaram para ele. O que saiu de sua boca, os assombrou. Nunca haviam escutado uma explicação mais reconfortante. Ele disse: 
-As pessoas nascem para que possam aprender a ter uma boa vida, como amar todo mundo todo o tempo e serem bons, certo? 
O garoto de quatro anos continuou: 
-Bem, cães já nascem sabendo como fazer isto. Portanto, não precisam ficar por tanto tempo. 
* * * 
Interessante pensamento de um menino de quatro anos que traduz o sentimento de conforto e proteção que o cão lhe passava. 
Filosofia infantil que nos leva a meditar. 
Todos nascemos e renascemos na Terra para o aprendizado, para o crescimento intelectual e moral. 
Exatamente nesta ordem. 
O que nos compete, portanto, é aproveitar ao máximo os anos de vida, aprimorando o intelecto e progredindo em moralidade. 
Aprender a desculpar as pessoas, relevar atitudes de criaturas enfermas da alma, perdoar. 
Amar a todos todo o tempo, com certeza, demorará um tanto mais. 
Mas valem as tentativas, o aplacar o desejo de vingança, o não desejar mal a quem nos magoou fortemente, a quem nos relegou ao abandono. 
Conviver com os diferentes, compreender atitudes que nos podem, à primeira vista, parecer estranhas, faz parte do crescimento individual. 
O Senhor das Estrelas, estando entre nós, lecionou o amor incondicional a todos.
Mestre incomparável, amou aos próprios algozes, suplicando ao Pai perdão para os atos insanos que cometiam, condenando-o à terrível morte na cruz. 
Vivamos, pois, cada dia, conquistando intelectualidade e moral, sem desânimo.
Um dia, que poderá não estar tão distante, vestidos de luz, haveremos de sentir o prazer de ser bom, de viver no bem, de amar de forma plena e incondicional.
Pensemos nisso... 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autor desconhecido. 
Em 16.03.2023.

quarta-feira, 15 de março de 2023

LIBERTAÇÃO PELO PERDÃO

Cornelia Arnolda Johanna Ten Boom
Libertação pelo perdão Ela se chamava Cornelia Arnolda Johanna Ten Boom, conhecida como Corrie Ten Boom. 
Na Holanda, sua família, durante a Segunda Guerra Mundial, abrigou, nas várias salas de sua casa, judeus e membros da Resistência, procurados pela Gestapo e sua contrapartida holandesa.
Em tempos de racionamento, o mais difícil era conseguir alimentar tantas bocas. Corrie conduzira, anteriormente, um programa especial na igreja, para crianças portadoras de deficiência. O pai de uma delas era um civil, encarregado do escritório que controlava os cartões de comida. Certa noite, sem aviso, ela foi à casa desse homem. Ele parecia saber o porquê. Quando perguntou quantos cartões ela precisava, Corrie abriu a sua boca e pediu cinco. No entanto, a quantia que, inesperada e espantosamente, lhe foi entregue foi de cem cartões. Era o atestado de que ele sabia o que estava acontecendo na casa dos Ten Boom e prestava sua colaboração, sem palavras. Contudo, no dia 28 de fevereiro de 1944, os alemães prenderam toda a família Ten Boom, delatada por um informante holandês. Enviado para a prisão, o pai morreu dez dias após. As duas irmãs, Betsie e Corrie foram para um campo de concentração na Holanda, depois, para o de Ravensbrück, na Alemanha. Betsie, portadora de uma anemia perniciosa, não suportou as duras condições. Sua mensagem, pouco antes de deixar o corpo físico, foi de que não há abismo tão profundo que o amor de Deus não seja ainda mais profundo. Corrie foi solta um dia após o Natal de 1944. Mais tarde, soube que sua soltura havia sido um erro burocrático. As prisioneiras de sua idade, daquele campo, foram todas mortas, uma semana após sua libertação. Se Corrie a tudo resistiu, em nome do amor ao seu semelhante, motivo de sua prisão e de tantas perdas afetivas, a maior lição ela daria, anos depois, enquanto lecionava, na Alemanha. No ano de 1947, teve contato com um dos mais cruéis guardas do campo alemão de concentração. A lembrança da morte da irmã e os próprios sofrimentos que padecera, lhe conferiram certa relutância em lhe conceder o perdão. Narra ela que orou para que conseguisse fazê-lo. Depois, escreveria: Por um longo momento, nos tocamos as mãos, o ex-guarda e a ex-prisioneira. Eu jamais havia conhecido o amor de Deus tão intensamente quanto naquela hora. Em seu livro mais famoso, O refúgio secreto, ela afirma que, em sua experiência do pós-guerra com outras vítimas da brutalidade nazista, aqueles mais capazes de perdoar foram os que mais facilmente puderam reconstruir suas vidas. 
Especial mensagem que nos afirma a propriedade da orientação de Jesus de perdoarmos aos nossos inimigos. 
Perdoando, quebramos os laços com os que nos feriram, magoaram.
Ficamos livres para seguir com nossas próprias vidas, para perseguirmos nossos ideais. 
O perdão é sempre o melhor caminho. 
Algo que precisamos treinar, a cada dia, com as pequeninas coisas que nos atingem. Coisas corriqueiras que nos afetam, irritam, magoam e que agasalhamos na intimidade, fazendo-nos mal física e espiritualmente.
Libertemo-nos. 
Sigamos a lição do Mestre. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Cornelia Arnolda Johanna Ten Boom. 
Em 13.3.2023.

terça-feira, 14 de março de 2023

LIÇÃO NUMA CAPELA

ÉVORA-IGREJA DE SÃO FRANCISCO
A CAPELA DOS OSSOS
Évora faz parte da rede de cidades mais antigas da Europa. 
Sua fundação é atribuída à época da dominação romana. 
No entanto, existem alguns vestígios de presença humana de mais de seis mil anos.
Uma prova disso são os menires, monumentos de pedra, em círculo, na localidade de Almendres, descobertos em 1964. 
A cidade, situada a cem quilômetros de Lisboa, recebe muitos turistas, que se extasiam com suas ruazinhas no centro, entre muralhas. 
E com monumentos bem conservados, como o Templo a Diana. 
Mas, o mais excepcional é a Capela dos Ossos. 
Os frades franciscanos chegaram na região, no Século XIII. 
Seu objetivo era pregar a fé e a humildade. 
Construíram uma igreja e uma escola. 
Foi no interior do que hoje é um imponente monumento da cidade, a igreja, que os franciscanos resolveram criar um espaço para intensa reflexão sobre a vida. Queriam algo verdadeiramente tocante. 
Para isso, fizeram um monumento à morte. 
A morte, única certeza que temos, inimiga do nosso instinto de conservação, da nossa vontade de viver. 
Ao construírem a capela, também resolveram um problema da cidade, que desejava desativar mais de quarenta cemitérios abandonados e não sabia que destino dar a tantos esqueletos. 
Os monges os requisitaram e os colocaram nas paredes e nas colunas, unidos por uma massa cinzento azulada. 
Parece algo macabro. 
Mas, quem visita a capela observa que a estética é muito interessante. 
Centenas de crânios, fêmures e colunas vertebrais se acomodam, num estranho mosaico. 
Embora tenha se tornado um local turístico, cumpriu seu objetivo inicial: um lugar para meditação e estímulo à humildade. 
Começando pela inscrição na porta de entrada: 
-Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos. 
Cada um que visita a Capela dos Ossos tem uma reação particular. 
Alguns sentem acender sua religiosidade. 
Para outros, é simples curiosidade histórica. 
Entretanto, a grande mensagem é mostrar que a vida é breve. 
Por isso, a devemos viver com intensidade, com responsabilidade, com humildade.
Para que brigarmos tanto, para que disputarmos tanto, se a vida é tão curta? 
E, afinal, por que nos apegarmos tanto a ela? 
A grande inspiração provocada pela capela é de que a brevidade da vida é um dos elementos que a fazem ser tão maravilhosa. 
A sabedoria, portanto, está em sabermos viver cada minuto das nossas vidas, valorizar as relações afetivas. 
O poeta cubano José Martí cunhou uma frase, que foi popularmente editada e é muito usada: 
-Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro: três coisas que toda pessoa deve fazer durante a vida. Podemos plantar muitas árvores para deixar como nosso legado: a da amizade, do bem querer, do otimismo. Marcas indeléveis que assinalarão nossa passagem por aqui. Podemos ser pais biológicos ou abraçarmos filhos da carne alheia, de forma ampla ou apadrinhamento. Quanto bem a fazer! Finalmente, o mais precioso livro que possamos escrever é o do nosso próprio jornadear pela Terra. Um livro que retrate feitos de trabalho, de perseverança nos bons propósitos, de crescimento intelecto-moral. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A capela da humildade, de Eugênio Mussak, da revista Vida Simples, edição 194, de abril de 2018, ed. Caras.
Em 10.3.2023.