quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A FAIXA PRETA

Alexandre Rangel
O dia, tão esperado, afinal chegara. 
O disciplinado aluno de artes marciais preparou-se para receber a faixa preta. Contudo, antes de recebê-la das mãos do seu mestre, lhe foi dito que precisaria passar por um derradeiro teste. Deveria responder a uma pergunta: 
-Qual é o verdadeiro significado da faixa preta? 
O jovem respondeu, de imediato, com uma pontinha de orgulho. Afinal, ele se esforçara para chegar a esse ponto. Ela representa o fim de minha jornada. Será uma recompensa merecida por meu bom trabalho. Logo percebeu que a sua resposta não satisfizera ao seu professor. O silêncio constrangedor foi interrompido pela sentença: 
-Você não está pronto para receber a faixa preta. Volte dentro de um ano.
Desapontado, o aluno se foi. Ansioso, um ano depois, tornou a se apresentar, com a certeza de que, agora, lhe seria entregue a tão desejada faixa preta. Como da vez anterior, lhe foi feita a pergunta: 
-Qual é o verdadeiro significado da faixa preta? 
Ele se preparara para isso e respondeu, com convicção: 
-É o símbolo da excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte. 
O silêncio disse ao jovem que, novamente, a sua resposta não fora satisfatória. 
-Você ainda não está pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano.
Foi o que ouviu. 
Pela terceira vez, passado o tempo exigido, chegou ele diante do seu mestre. Para a indagação habitual, respondeu, respirando fundo: 
-A faixa preta representa o começo. É o início de uma jornada sem fim de disciplina, trabalho e busca por um padrão cada vez mais alto. 
Com um sorriso, o mestre lhe entregou a faixa. Agora, lhe foi dito, ele estava pronto para recebê-la e iniciar o seu trabalho. 
* * * 
Todos nos encontramos a caminho. 
A caminho do progresso, da elevação moral, do crescimento intelectual.
Alguns percorremos um longo trecho. 
Outros, nos encontramos apenas nos primeiros quilômetros da grande jornada. 
De toda forma, olhando para trás, vemos o quanto realizamos, o quanto vencemos. 
Atravessamos vales extensos, rios de correnteza inclemente, desfiladeiros traiçoeiros, pântanos sombrios. 
Enquanto estávamos na tribulação, na dificuldade, talvez, mais de uma vez, tudo tenha parecido impossível de ser alcançado ou superado. 
É possível que tenhamos pensado, em algum momento, que seríamos derrotados.
E desejamos abandonar a luta. 
Entretanto, nessa retrospectiva da vida, também lembramos de termos andado pelos campos floridos da amizade, pelas praias de areia branca do apoio de familiares. 
Lembramos dos que se transformaram em árvores frondosas oferecendo-nos sombra e abrigo. 
Tudo parece distante. 
Algumas paisagens nos enchem de saudade. 
Outras nos sinalizam a nossa força, a nossa determinação. Continuamos a caminho. 
A jornada somente finda no último passo. 
Olhamos para frente e cenários novos se apresentam. 
O que nos reservarão as curvas da estrada? 
Dores esperam por nós. 
Apoio, conquistas, alegrias também. 
Vencemos tantos quilômetros. 
Haveremos de vencer todos os demais que nos estão estabelecidos a percorrer, nesta vida. 
Sigamos. 
Em frente.
Redação do Momento Espírita, com base no livro As mais belas parábolas de todos os tempos, v. II, organizado por Alexandre Rangel, ed. Leitura.
Em 13.1.2022.

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