sexta-feira, 31 de agosto de 2018

DO OUTRO LADO

No consultório, o homem muito doente perguntou ao médico: 
-Doutor, o que existe do outro lado da vida? 
O médico olhou seu paciente nos olhos, repousou a caneta sobre a mesa, cruzou os braços e respondeu calmamente: 
-Eu não sei! 
-Como não sabe? – Falou exasperado o paciente.- Eu vou morrer, não sei o que existe do outro lado e o senhor me fala com esta tranquilidade?  
Neste momento, ganidos se fizeram ouvir do lado de fora da porta. Logo em seguida, arranhões na madeira. O médico se levantou, foi até a porta e a abriu. Um belo cão saltou feliz, nos braços do dono. Agitava a cauda, lambia o médico, manifestando a sua alegria. Então, o profissional atencioso olhou para o homem desolado e lhe disse: 
-Você viu o que fez este cão? Ele nunca estivera aqui, antes. No entanto, ele entrou na sala confiante, alegre, tão logo lhe foi aberta a porta. E sabe por quê? Porque ele sabia que nesta sala estava seu dono. Eu também. Não sei o que existe do outro lado da vida. Mas de uma coisa eu tenho certeza: o meu Senhor estará lá! Então, não há o que temer.
 * * * 
Ao longo das eras, o homem tem se indagado o que existe para além da tumba, como será a outra vida. Em torno disso, teólogos e religiosos se têm posto a pensar e têm até estabelecido discussões acerca das ideias que fazem do que seja essa outra vida para onde todos iremos. No século XIX, na França, um pedagogo francês indagou dos imortais a respeito e o véu começou a ser levantado, revelando um mundo cheio de vida. Vida abundante como falou o Mestre de Nazaré. Livros foram escritos dizendo de como essa vida prossegue para os Espíritos imortais que somos todos nós. Mas nem todos creem nos Espíritos, nessas vozes dos céus. Nem todos creem na mediunidade e nos fenômenos da comunicação dos chamados mortos. Contudo, todos os que nos dizemos cristãos, com certeza recordamos das palavras do Mestre Jesus, em Seu discurso de despedida, naquela noite de quinta-feira, precedendo a Sua prisão: 
-Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus. Crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito. Eu vou para vos preparar o lugar. 
Portanto, tem razão o médico. Se nosso Senhor estará lá, se disse que iria à frente para nos preparar o lugar, é que nos aguarda. Dessa forma, não importa o que mais exista lá. Não importa se temos ideias mais nítidas ou não do que exista para além da vida física. Uma certeza temos: Jesus estará lá. Ele nos aguarda, Pastor de todas as ovelhas deste planeta e, como bom Pastor, nos receberá. Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita, com base em texto que circula pela Internet, sem título e sem autoria e dos versículos 1 a 3 do cap. XIV do Evangelho de João. Disponível no CD Momento Espírita, v. 17, Imortalidade e no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP. Em 21.11.2016.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A CARIDADE E A SALVAÇÃO

Segundo o Mestre Jesus, toda a Lei e os profetas se resumem no amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O homem possui deveres para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo. A caridade se refere ao relacionamento do homem com seu semelhante. Trata-se de uma norma de cunho universal, que todos podemos atender. O mesmo não se verifica quando pretendemos vincular a salvação a uma determinada religião ou à posse da verdade. As religiões traduzem diferentes modos de pensar pelos quais os homens entendem conveniente louvar a Deus. Mais ou menos formalistas, agregam pessoas com concepções semelhantes a respeito da Divindade. Contudo, todas as agremiações religiosas possuem membros virtuosos e viciosos. A bondade e a dignidade não são exclusivas de nenhuma religião e nem se fazem presentes em todos os adeptos de qualquer delas. Não é possível considerarmos eleito de Deus alguém cruel e mesquinho, exclusivamente porque professa determinada fé. Também não é viável pensarmos que um homem genuinamente bondoso e leal esteja no caminho da perdição, apenas por não aderir a uma agremiação específica.
Ao eleger o amor como o mandamento maior, o Cristo não fez referência a nenhuma formalidade obrigatória. Se houvesse, ele certamente a teria revelado. A verdade também não pode ser considerada base para a harmonia do ser humano com a Divindade. Em nossa esfera material, a verdade é essencialmente alternável e fugidia. A cada dia se alarga o horizonte do pensamento humano e surgem novas concepções da vida. A verdade absoluta é simplesmente uma miragem, no atual estágio da evolução humana. No entanto, a caridade é acessível e praticável por todos. A caridade envolve o perdão, a indulgência e a benevolência. O perdão se refere à forma pela qual sentimos o semelhante e seus atos. Em face dos equívocos alheios, é necessário perdoar. O perdão é uma espécie de filtro, e evita que o mal que há no mundo penetre em nosso íntimo. É necessário disciplinar o próprio sentir, para que o ato de perdoar se torne instintivo e automático. Quem perdoa não se desonra, mesmo frente às maiores agressões. A indulgência reside no pensamento. Ela implica fazer um juízo suave do semelhante. É impossível não refletir sobre o que nos ocorre e sobre as pessoas que nos rodeiam. Ser indulgente não significa ser tolo ou ignorante. Quando somos indulgentes, simplesmente não valorizamos os defeitos do próximo, embora os percebamos. Ao contrário, procuramos ressaltar todas as virtudes alheias. A benevolência se refere ao modo como agimos com o próximo. A prática da benevolência pressupõe que façamos ao outro todo o bem possível. Contudo, abster-se de fazer o mal não é suficiente. Apenas seremos benevolentes quando ofertarmos ao próximo aquilo que gostaríamos de receber, se estivéssemos no lugar dele. Dessa forma, podemos perceber a riqueza de conteúdo que a caridade possui. Ela envolve todas as maneiras pelas quais interagimos com o semelhante. Perdão no sentir, indulgência no refletir e benevolência no agir. A prática da caridade nos liberta do egoísmo e prepara nossa consciência para mais elevados voos. Experimentemos! 
Redação do Momento Espírita. Em 30.8.2018.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

VIVENDO MELHOR

DIVALDO PEREIRA FRANCO
A vida, na atualidade, sobretudo nos grandes centros habitacionais, está sempre mais apressada. Parece que o dia deixou de ter vinte e quatro horas ou que os ponteiros dos segundos e dos minutos estão andando bem mais rápido. Em suma, vivemos aos atropelos, como desejando tirar o atraso por algo que ainda não fizemos ou que temos a fazer. Também, em função de tantas notícias de assaltos, violência, a intranquilidade tem rondado os nossos passos. E, alguns de nós andamos apressados pelas ruas, a pé ou de carro, como se alguém sempre estivesse nos seguindo. Em resumo, vivemos intranquilos. Conta-se que um executivo teve problemas com seu automóvel e precisou se dirigir ao trabalho de trem. Era a hora do rush. E lhe pareceu que todos os trabalhadores estavam tomando aquela condução, junto com ele. A desconfiança era a sua nota dominante, rodeado por um mar de gente de todos os tipos. Chegando à estação central, dirigiu-se à porta para descer. Um homem mal vestido, que o olhava muito, acercou-se do mesmo local. E tropeçou nele. O executivo logo teve a ideia: 
-É um ladrão. Acaba de me roubar a carteira. 
Quando o trem abriu a porta e o homem ia saindo, ele o segurou pelo paletó e gritou: 
-Devolva a minha carteira! 
O homem o olhou quase com pavor, libertou-se do paletó e saiu a correr. A porta do trem tornou a se fechar e o executivo começou a procurar a sua carteira. Não estava em nenhum dos bolsos do paletó que ficara em suas mãos. Ele foi tomado por uma crise de raiva. Que tolo ele era. É claro que o ladrão colocara a carteira em um dos bolsos da calça. Quando chegou ao escritório, amargurado, pensou: 
-Meu dia está totalmente perdido. Cedo, já fui roubado. Que mais posso esperar do restante das horas? 
Então, a secretária anunciou: 
-Sua esposa está ao telefone! 
-Era só o que me faltava! – Pensou ele. O que será agora? Mais problemas? 
Apanhou o fone e antes de qualquer cumprimento, foi logo perguntando: 
-E daí, qual é a má notícia? 
Ela respondeu calma e, ao mesmo tempo surpresa, com o tom de voz do marido. Parecia irritado. 
-Nenhuma notícia ruim, querido. Não consegui que atendesse o celular e quero lhe avisar que você esqueceu a sua carteira em cima da mesa da sala. 
O executivo sentou-se pesadamente na cadeira à frente da sua mesa de trabalho. 
-Meu Deus! Eu roubei o paletó do pobre homem. 
* * * 
Toda vez que agimos com precipitação, estamos sujeitos a cometer enganos e até injustiças. É assim que, ao interrompermos a fala das pessoas, tentando adivinhar, de imediato, o que elas têm a nos dizer, acabamos com diálogos que poderiam ser interessantes, esclarecedores. A desconfiança é outro fator que nos conduz a ações incorretas. Desconfiamos de tudo e de todos. No entanto, se olharmos bem, veremos que há muita gente boa ao nosso redor. Pessoas que nos ajudam quando tropeçamos, que nos avisam de algum problema à frente, que nos perguntam se tudo está bem conosco. Acionemos a calma, a ponderação. Enchamos nossa mente de pensamentos positivos. Sejamos cautelosos, sim. Mas, não precipitados, nem desconfiados em demasia. Como diz a canção popular: O mundo é bom. Estejamos atentos e vivamos mais tranquilos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, do livro A estrela verde, de Divaldo Franco e Délcio Carvalho, ed. LEAL. Em 29.8.2018.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

OS DONS

R. Anatoli Oliynik
Narra uma lenda de autor desconhecido que um homem entrou em uma loja e se aproximou do balcão. Quem estava a atender era uma criatura maravilhosa. Tão bela que parecia uma fada, dessas saídas de um conto infantil. O homem olhou para os lados e perguntou: 
-O que é que você tem para vender? 
Com um sorriso lindo, a jovem respondeu: 
-Todos os dons. 
O homem arregalou os olhos, manifestando interesse, e quis saber qual era o preço. 
-Seria muito caro?  
-Não, foi a resposta. Aqui, nesta loja, tudo é de graça. 
Ele olhou, maravilhado, jarros cheios de amor, vidros repletos de fé, pacotes de esperança e caixinhas de sabedoria. Resolveu fazer o seu pedido: 
-Por favor, quero muito amor, um vidro de fé, bastante felicidade para mim e toda a minha família. 
Com presteza, a moça preparou tudo e lhe entregou um embrulho muito pequeno, que cabia na sua mão. O homem se mostrou surpreso e perguntou outra vez: 
-Será possível? Está tudo aqui mesmo? É tão pequeno o embrulho!
Sorrindo sempre, a jovem falou: 
-Meu querido amigo, nesta loja, onde temos todos os dons, não vendemos frutos. Concedemos apenas as sementes.
 * * * 
As sementes das virtudes se encontram em nós. Somos a loja dos dons. O que necessitamos é investir na semeadura. Se desejamos que frutifique o amor, é preciso que nos disponhamos a amar. E o exercício começa quando executamos bem as tarefas que nos constituem dever. Prossegue no trato familiar, com pais, irmãos, cônjuges e se amplia no rol das amizades. Depois, atravessa a cerca dos afetos e passa a agir entre aqueles que simplesmente encontramos na rua, no ônibus, no mercado, no banco. A fé não é adquirida de rompante. Necessita ser pensada, estudada, reflexionada. O exercício inicia com a contemplação da natureza. Os dias frios, os dias quentes, o sol, a lua, as estrelas, as árvores que balançam ao vento e as flores multicoloridas nos jardins. Alonga-se com a visão dos mundos, das coisas infinitamente pequenas e daquelas infinitamente grandes. A harmonia de tudo nos remete a uma confiança irrestrita, uma certeza inabalável que se chama fé. A felicidade frutifica quando, plenos de amor e de fé, vivemos cada dia com intensidade, sem igual, saboreando cada minuto como se fosse o único, o último, o derradeiro. 
 * * * 
Mudar é um ato de coragem. É a aceitação plena e consciente do desafio. É trabalho árduo, para hoje. É trabalho duro, para agora. E os frutos seguramente virão no amanhã, talvez não muito distante. Mas, quando temos certeza de estar no rumo certo, a caminhada é tranquila. Quando temos fé e firmeza de propósito é fácil suportar as dificuldades do dia-a-dia. Pensemos nisso. Invistamos nas virtudes ainda hoje.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Dons, de autor desconhecido e no cap. É preciso sentir a mudança lá dentro, de R. Anatoli Oliynik, do livro Momentos de luz, organizado por Hiran Rocha, v. 1, ed. Kuarup.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

DOAÇÃO DE VIDA

Existem algumas atitudes simples que ajudam muito a outras pessoas. Doar sangue é uma delas. Dar algo de si, de seu próprio corpo, esse líquido precioso e fundamental para a vida, sem saber para quem irá, quem receberá, que pessoa irá socorrer – isso é parte de ser um doador. Se todos conhecessem a importância da doação de sangue, não haveria a necessidade de campanhas para solicitar à população. Um ato indolor e seguro, pois não provoca prejuízo algum à saúde do doador. Poucos sabemos mas cada doação pode atender e até salvar a vida de quatro pessoas. Pensar nisso é incrível. E são muitas as histórias emocionantes envolvendo esse gesto. Histórias como a de Paulo, um doador frequente. A cada três meses ele se dirige ao banco de sangue de sua cidade. Com alegria, afirma que graças a Deus não tem nenhum problema de saúde, nenhuma contraindicação e sempre fica feliz em poder ajudar. Faço questão de doar, diz ele. Porém, houve uma semana em que ele estava um pouco desanimado. Não sabia se poderia ir. Lembrou que se fazia o tempo para a doação habitual, mas aqueles dias estavam impossíveis: muito trabalho, estresse, preocupações. Faltava lugar na agenda. Na quinta-feira ele pensou:
-Vou deixar para mais tarde. Hoje não dá. Estou com muitos problemas em meu serviço. 
Era uma manhã gelada. Ir cedo até o posto de coleta não parecia uma boa ideia dessa vez. 
-Além disso sempre tem fila, fico esperando um bom tempo, pelo menos duas horas e posso até me atrasar para meus compromissos urgentes, pensou ainda.
Um certo mau humor tomou conta dele. Logo em seguida, pareceu ouvir uma voz em sua cabeça: 
-Vai lá doar. Não deixe de ir. 
Ele se incomodou com aquilo. 
-Vou ou não vou? 
Dominou a preguiça e acabou indo. Pareceu-lhe que a voz continuava a lhe dizer: 
-Como você vai doar, vá com boa vontade. Não permaneça mal humorado! 
O local estava lotado. Ele se sentou, disposto a aguardar muito tempo. Lá vou eu ficar aqui umas duas horas, como sempre fico. Mal haviam passado cinco minutos, uma das enfermeiras adentrou a sala de espera, com sinais de urgência e preocupação, anunciando: 
-Estamos com uma emergência. Quem tem o sangue tipo tal? Temos uma pessoa que está precisando urgentemente. 
Em meio àquelas dezenas de pessoas na sala de espera, três levantaram a mão, indicando terem aquele tipo sanguíneo. Uma delas foi Paulo. Os três foram conduzidos antes dos outros para doar, devido à situação excepcional. Paulo entendeu a mensagem. Ele era importante ali. Era ali que ele precisava estar naquele momento. A voz que falou em sua cabeça não era apenas a da sua consciência lhe cobrando o compromisso usual. Era algo maior, que ele não conseguia compreender no momento, mas que respeitava e admirava.
 * * *
Façamos o bem com alegria e, no ato de realizá-lo, sentiremos a nossa recompensa. Ajudemos a todos com naturalidade, como dever que nos imponhamos, a favor de nós mesmos, e nos encharcaremos de paz. Unamo-nos ao exército anônimo dos heróis e apóstolos da bondade. Ninguém nos saberá o nome, no entanto, o pensamento dos beneficiados sintonizará com a nossa generosidade estabelecendo elos de ligação e segurança para a harmonia no mundo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 9, do livro Episódios diários, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 27.8.2018.

domingo, 26 de agosto de 2018

OS DOMINGOS PRECISAM DE FERIADOS-SHABAT

 André Trigueiro
No livro bíblico de Gênesis, inicia o capítulo segundo: E havendo Deus acabado no dia sétimo a Sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou. Porque nele descansou de toda a Sua obra. Entre a comunidade judaica, o tradicional Shabat evoca questões absolutamente importantes. A palavra hebraica significa cessar, parar. Apesar de ser vista quase universalmente como descanso ou um período de descanso, uma tradução mais literal seria cessação, com a implicação de parar o trabalho. Portanto, Shabat é o dia de cessação do trabalho. Sua observância é considerada de extrema importância, aparecendo como o quarto dos dez mandamentos. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou. Portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou. O homem absorveu esta normativa e, nas leis trabalhistas, estabeleceu um dia de cessação do trabalho, implicitamente, de descanso. No entanto, muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. Se observarmos o quarto mandamento, veremos explicitados que o cessar de atividades envolve, inclusive, os animais. A Sabedoria Divina estabeleceu pausas relevantes. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue. Para um mundo no qual funcionar vinte e quatro horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta. Dessa forma, verificamos, desde a alegoria bíblica da Criação do mundo, que a questão da cessação do trabalho se faz de importância. Tudo necessita de descanso, nosso planeta também. A Terra, exaurida, explorada constantemente, exige atenção. Necessita de uma parada da exploração continuada. Necessita de uma pausa. Assim como todos os seres vivos, a Terra, conforme a hipótese formulada por James Lovelock e Lynn Margulis, que consideram o planeta um único e complexo organismo, necessita de descanso. É hora de reavaliarmos nossa forma de viver, em que tudo funciona vinte e quatro horas. Precisamos disso, realmente? Não seria interessante revermos nossos valores e, enquanto damos um descanso para a própria natureza, nós mesmos pensarmos no que fazemos de nossos dias? Cessação do trabalho habitual, descanso, repouso, que não significa necessariamente não fazer nada, mas fazer algo diferente. 
Pensemos nisso. 
Voltemos a viver e conviver com a natureza que é sagrada. 
Pausa para olhar o que nos cerca, para respirar o ar puro. 
Pausa para viver intensamente. 
Pausa para a própria Terra sofrida, espoliada. 
Pensemos nisso. 
Porque disso depende a sustentabilidade do planeta em que nos encontramos, ou seja, a nossa própria vida. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro bíblico de Êxodo, cap. 20, versículos 8 a 10 e no cap. Sustentabilidade como valor espiritual, do livro Espiritismo e Ecologia, de André Trigueiro, ed. FEB. Em 19.2.2016.

sábado, 25 de agosto de 2018

DOMINE SEUS APETITES

SÃO PAULO DE TARSO
Em uma de suas famosas Epístolas aos Coríntios, Paulo de Tarso afirmou que subjugava seu corpo, a fim de não se tornar um réprobo(detestado). Essa lição é muito oportuna nos tempos atuais em que o corpo se converte na ocupação principal dos homens. Não apenas exagerados cuidados com o corpo estão em voga, mas também uma ampla valorização de tudo o que é material. Ninguém em sã consciência advogará o descuido com a saúde e a sobrevivência. O corpo físico é o instrumento do Espírito e deve ser bem tratado. Como todo homem necessita comer, vestir-se e abrigar-se, é natural e louvável que com isso se ocupe. Condenável é antes se tornar em um fardo para os semelhantes e viver de caridade, quando pode trabalhar. Ademais, os cuidados materiais têm o condão de desenvolver e abrilhantar a inteligência. O mercado de trabalho apresenta constantes desafios, que testam o talento, a disciplina e a criatividade dos profissionais. É bom e justo que um homem se dedique com disposição e vigor a providenciar boas condições de vida para si e para os seus. É excelente que cuide de seu corpo, mantendo-o em boas condições e mesmo bonito. Contudo, há um limite que separa o cuidado da idolatria. A finalidade da vida não consiste em angariar coisas ou em ser belo. Os bens materiais são úteis, mas inevitavelmente perecerão. Por mais formoso que seja um corpo, ele fatalmente fenecerá, com o passar dos anos. Para alcançar o equilíbrio, convém refletir sobre as palavras de Paulo de Tarso. O Apóstolo dos Gentios afirmou ser necessário subjugar o corpo, a fim de não cair em erro. Subjugar o corpo não significa impor-lhe flagelos e sevícias. Significa apenas mantê-lo em seu lugar, como simples instrumento de trabalho, e não como senhor. O mesmo pode ser afirmado de todos os recursos materiais, que, embora valiosos, são apenas meios de atuação do Espírito. O Espírito deve governar a matéria, ao invés de ser por ela governado. Os prazeres materiais trazem encanto à vida terrena e nada têm de condenáveis. Mas não constituem a razão do viver. Os apetites materiais, porque não trazem plenitude ao Espírito, tendem a sempre crescer de intensidade. Quem se dedica a saciá-los sempre avança um pouco mais no terreno das sensações. Entretanto, a decepção que aguarda o hedonista é coisa certa, quando de seu retorno à pátria espiritual. Todo Espírito renasce para conquistar a redenção. Aporta no plano terreno para amealhar virtudes e reparar antigos equívocos. Deve utilizar os recursos que lhe vêm às mãos para auxiliar o progresso. Ao se entregar a todos os desfrutes, age com insensatez. Sua conduta é comparável à de um faminto que, em vez de pão, comprasse perfume. A fome de paz e redenção impulsiona o projeto reencarnatório. O desperdício dessa santa oportunidade faz o Espírito voltar desolado e arrependido ao seu ambiente de origem. Conscientize-se dessa verdade e domine seus apetites materiais. Desenvolva disciplina e torne-se o senhor de sua vida e de sua vontade. Com esse agir, evitará cruéis decepções, quando de seu retorno à pátria espiritual. 
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

LEGADO PATERNO

Easy Eddie
Easy Eddie foi um ótimo advogado, que manteve o criminoso Al Capone fora da prisão por muito tempo. Para isso, ganhava bem. Morava com a família numa mansão, sem preocupação com as atrocidades que ocorriam à sua volta. Para o seu único filho ele providenciava o melhor: roupas, carros e uma excelente educação. Apesar do seu envolvimento com o crime organizado, Eddie tentou lhe ensinar o que era certo e o que era errado. Queria que se tornasse um homem melhor do que ele mesmo. Deu-se conta, afinal, que mesmo com toda a sua riqueza e influência, havia duas coisas que ele não podia dar ao filho: um bom nome e um bom exemplo. Por isso, tomou uma decisão. Testemunhou contando a verdade sobre Al Capone. Oferecia, dessa forma, um lampejo de integridade ao filho, embora soubesse que o preço seria muito alto. Realmente foi. Um ano depois, Easy Eddie foi morto em uma rua de Chicago. Deixava para o filho o maior legado que poderia oferecer pelo preço mais alto que poderia pagar. Entre os achados em seus bolsos, a polícia encontrou um texto, recortado de uma revista: 
O relógio da vida recebe corda apenas uma vez e nenhum homem tem o poder de decidir quando os ponteiros pararão, se mais cedo ou mais tarde. Agora é o único tempo que você possui. Viva, ame e trabalhe com vontade. Não ponha nenhuma esperança no tempo, pois o relógio pode parar a qualquer momento. 
* * * 
Edward Henry Butch O’Hare
A Segunda Guerra Mundial produziu muitos heróis. Um deles foi o Tenente-Comandante Edward Henry Butch O’Hare, um piloto de caça, operando no porta-aviões Lexington, no pacífico. Em 20 de fevereiro de 1942, seu esquadrão estava em missão quando ele notou que estava ficando sem combustível e precisaria regressar ao navio. Nesse retorno, viu que um esquadrão de bombardeiros japoneses voava em direção à frota americana, indefesa, por estarem distantes, em missão, os seus caças. Não pensando em si, mas em quantas vidas poderiam ser destroçadas, ele mergulhou sobre os aviões japoneses, disparando as suas metralhadoras, até sua munição acabar e o esquadrão japonês partir em outra direção. Depois, ele voltou ao porta-aviões. O filme da câmera montada no seu avião registrou o fato com detalhes. Mostrou a extensão da ousadia do piloto ao atacar o esquadrão inimigo para proteger a frota. Por essa batalha, ele se tornou o primeiro Ás da Marinha na Segunda Guerra Mundial. Foi o primeiro aviador naval a receber a Medalha de Honra do Congresso. No ano seguinte, Butch morreu em combate aéreo. Tinha apenas vinte e nove anos de idade. Sua cidade natal, Chicago, o homenageou, dando seu nome ao principal aeroporto: Aeroporto O’Hare. A questão extraordinária é que esse piloto herói era o filho do advogado Easy Eddie. Seu pai morrera por amor à verdade, à integridade. Deixara-lhe um legado. Por esse exemplo, Butch deixou de pensar em si, na sua própria vida, para, de forma heroica, salvaguardar as vidas dos seus companheiros. Extraordinário legado o do exemplo. Como já disse alguém: 
-As palavras convencem, os exemplos arrastam. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Edward Henry Butch O´Hare. Em 24.8.2018

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

DOMINANDO IMPULSOS NEGATIVOS

Você se considera uma pessoa capaz de controlar os impulsos negativos? De certa forma, os seres racionais possuem meios de dominar os sentimentos negativos mas, de ordinário, nem todos o fazem. Aristóteles, um dos grandes sábios da Antiguidade, disse, com muita propriedade:  
-Qualquer um pode ficar zangado - isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na intensidade correta, no momento adequado, pelos motivos justos e da maneira mais apropriada - isto não é fácil. 
Salvo as raras e felizes exceções, não costumamos controlar, racionalmente, os impulsos negativos que brotam da nossa intimidade nos momentos de ira. É muito comum, quando nos sentimos acuados, perdermos totalmente o controle das emoções e investirmos contra a primeira pessoa que tenha a infelicidade de cruzar o nosso caminho naquele momento. Não passa pela nossa mente, turbada pela ira, que aquela pessoa não é responsável pela nossa desdita, e a agredimos com palavras ácidas. Isso é muito comum acontecer com os pais em relação aos filhos. Se estamos nervosos ou cansados e a criança se aproxima para nos pedir algo ou fazer alguma pergunta, despejamos sobre ela todo o fel que estava engasgado. E o pior é que, junto com as palavras, vão as nossas vibrações desequilibradas, que atingem os pequenos como uma bomba tóxica. Não raro, as crianças absorvem essas vibrações e acabam enfermando. De outras vezes, mesmo que não lhes falemos nada, elas sentem nossas emoções descontroladas e passam a apresentar sintomas de nervosismo e irritação. Ademais, os profissionais da área já alertaram para os malefícios que a ira causa a quem a agasalha na intimidade. Pessoas que se irritam com facilidade ou se deixam corroer pelo ódio, pelo rancor, não raro desenvolvem cânceres variados. Assim sendo, vale a pena investirmos um pouco mais na educação dos nossos impulsos, para nosso próprio bem. Seres racionais que somos, devemos ponderar, antes de qualquer explosão, se estamos nos zangando com a pessoa certa. Se a intensidade da nossa ira está correta. Se o momento é adequado. Se os motivos são justos, e se a maneira é apropriada ou não. Algumas pessoas dirão: Mas na hora da raiva a gente não pensa, por isso, não é fácil. E não estamos dizendo que seja fácil, mas afirmamos que é possível, basta um pouco de vontade. Se fizermos uso da nossa razão antes de nos deixarmos tomar pela ira, certamente concluiremos que a atitude mais sábia é a de mantermos a calma, sempre. 
 * * * 
Preparar a mente para as ações nobres requer disciplina e vontade firme. E para que possamos assumir o controle das nossas emoções é preciso alimentar a mente com ideias saudáveis, e isso só se dá pelo conhecimento. Estamos na Terra para evoluir e Deus nos oferece os desafios para que os superemos com sabedoria. Nossa posição social, obstáculos econômicos, compromissos familiares e profissionais são lições importantes para o nosso crescimento pessoal. Por isso, devemos estar atentos para fazer o melhor em todas as ocasiões, sempre amparados pela razão e o bom senso.
Redação do Momento Espírita Em 15.02.2012.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A PORTA MAIS LARGA DO MUNDO

Conta-se que um dia um homem parou na frente de um pequeno bar, tirou do bolso uma fita métrica, mediu a porta e falou em voz alta: 
-Dois metros de altura por oitenta centímetros de largura. 
Admirado mediu-a de novo. Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela terceira vez. E assim tornou a medi-la várias vezes. Curiosas, as pessoas que por ali passavam começaram a parar. Voltando-se para os curiosos o homem exclamou, visivelmente impressionado: 
-Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altura e oitenta centímetros de largura, no entanto, por ela passou todo o meu dinheiro, meu carro, o pão dos meus filhos; passaram os meus móveis, a minha casa. E não foram só os bens materiais. Por ela também passou a minha saúde, passaram as esperanças da minha esposa, passou toda a felicidade do meu lar... Passou também a minha dignidade, a minha honra, os meus sonhos, meus planos... Sim, senhores, todos os meus planos de construir uma família feliz, passaram por esta porta, dia após dia... Gole por gole. Hoje eu não tenho mais nada... Nem família, nem saúde, nem esperança. Mas quando passo pela frente desta porta, ainda ouço o chamado daquela que é a responsável pela minha desgraça... Ela ainda me chama insistentemente: 
“Só mais um trago! Só hoje! Uma dose, apenas!” Ainda escuto suas sugestões em tom de zombaria: “Você bebe socialmente, lembra?” 
-Sim, essa era a senha. Essa era a isca. Esse era o engodo. E mais uma vez eu caía na armadilha dizendo comigo mesmo:
“Quando eu quiser, eu paro.” 
-Isso é o que muita gente pensa, mas só pensa... Eu comecei com um cálice. Hoje, a bebida me dominou por completo. Sou um trapo humano. Por isso é que eu lhes digo, senhores: esta porta é a porta mais larga do mundo! Ela tem enganado muita gente... Por esta porta, que pode ser chamada de porta do vício, de aparência tão estreita, pode passar tudo o que se tem de mais caro na vida. Hoje eu sei dos malefícios do álcool, mas muita gente ainda não sabe. Ou finge não saber, para não admitir que está sob o jugo da bebida. E o que é pior, têm esse veneno, destruidor de vidas, dentro do próprio lar, à disposição dos filhos. Se os senhores soubessem o inferno que é ter a vida destruída pelo vício, certamente passariam longe dele e protegeriam sua família contra suas ameaças. Visivelmente amargurado, aquele homem se afastou, a passos lentos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivos de profundas reflexões. 
 * * * 
Segundo o Ministério da Saúde, o álcool é a droga mais usada pelos jovens no Brasil. De acordo com dados da pesquisa nacional de saúde escolar, divulgada pelo IBGE, em 2016, cinquenta e cinco por cento dos alunos entre treze e catorze anos, já experimentaram bebida alcoólica. E o pior é que o álcool é a porta principal de acesso às demais drogas. Nisso tudo, ainda existe a influência da televisão e do cinema nos hábitos de crianças e adolescentes. Isso foi comprovado por pesquisadores da Escola de Medicina de Dartmouth, nos Estados Unidos. Por todas essa razões, vale a pena orientar nosso filho para que não seja mais um a aumentar essas tristes estatísticas. Pensemos nisso.   
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida e no artigo Nunca se bebeu tanto na TV, publicado na Folha de São Paulo, em 24.3.2002. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. Em 22.8.2018.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

É PRECISO SABER VIVER

ROBERTO E ERASMO CARLOS
Dois grandes vultos da música brasileira, certa vez, compuseram os seguintes versos: 
Toda pedra do caminho você pode retirar. 
Numa flor que tem espinho, você pode se arranhar. 
Se o bem e o mal existem, você pode escolher. 
É preciso saber viver. 
A canção expressa uma grande verdade. A vida é feita de escolhas. Todos nós, diariamente, nos deparamos com pessoas, com situações e fatos que nos instigam, exigindo-nos um posicionamento. Não há quem transite pelas estradas do mundo sem pedras em seu caminho. Nenhum de nós pode alimentar a ilusão de que não haverá espinhos que nos poderão ferir, mesmo que levemente. O que nos cabe é escolher como encarar tais situações, como lidar com pedras e espinhos. Alguns de nós acreditamos que a melhor forma de enfrentar essas situações é tendo como lema o olho por olho, dente por dente, conforme os registros do Antigo Testamento. Em outras palavras, se alguém nos dificulta a vida, fazermos o mesmo, tanto quanto possível. Se somos vítimas de maledicência, traição, calúnia, arquitetarmos situações para retribuir da mesma forma. Se é a grosseria, a má educação, a falta de civilidade que alguém nos impõe, imediatamente adotarmos a mesma postura, repetindo aquilo de que fomos alvo. No entanto, nos esquecemos de que, conforme cantam os poetas, se o mal e o bem existem, podemos fazer nossa opção. Se somos vítimas do mal, se alguma situação inconveniente nos alcança, quer sejam coisas corriqueiras ou graves, vale a pena refletir. É importante parar e analisar a ocorrência. É valioso ponderar antes de agir. Muitas vezes, nos sentimos provocados por situações desagradáveis, reagimos por impulso para, no momento seguinte, nos arrependermos pelas consequências que nos alcançam. Sem a reflexão, a ponderação, sobram-nos os instintos e os comportamentos menos nobres, que ainda trazemos como padrões de atitude e de ação. Portanto, o que nos cabe, como sugere a canção, é saber viver. Entre tantas possibilidades de agir, é necessário saber escolher. Se nos deixamos levar pelo atropelo das circunstâncias, pelas limitações e dificuldades dos outros, não teremos outro resultado que não sejam dificuldades e problemas. Saber viver talvez possa ser simplesmente mudar nossa postura perante a vida. Perante a calúnia, nos mantermos dignos, agindo corretamente, apoiados na consciência tranquila. Frente à grosseria e à descompostura de alguém, oferecermos a paciência que aguarda, a gentileza ou o silêncio, que desarmam as pessoas. Diante da traição, da covardia e do erro, oferecermos a compreensão, que alivia; trabalharmos o perdão, que dulcifica; aguardarmos o tempo, que oferece ponderação. Recordemos as palavras sábias do Amigo Jesus: Já ouvistes: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo, amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Tudo isso, conclui o Mestre da Galileia, para que nos tornemos filhos de nosso Pai. Em síntese, vivamos bem para vivermos mais tranquilos e mais felizes. 
Redação do Momento Espírita. Em 21.8.2018.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

DOM CELESTE

JOSÉ DE ALENCAR
Deus fez o homem para viver em sociedade e, dentre todas as outras faculdades necessárias para a vida de relação, lhe deu uma faculdade especial, a palavra. Somente o homem a possui, neste extraordinário planeta. Por que será que a utilizamos tão mal, semeando desventuras, quando poderíamos somente criar alegrias e felicidade? Por que, tantas vezes, nos servimos dela para a calúnia, a mentira, espalhando as sementes da desconfiança e da maldade? A palavra é a mais sublime expressão da natureza. Ela revela o poder do Criador e reflete toda a grandeza de Sua obra divina. Rápida como a eletricidade, brilhante como a luz, colorida como o prisma solar, é mensageira da ideia. Ela agita as suas asas douradas, murmura ao nosso ouvido docemente, brinca ligeira e travessa na imaginação, embala-nos em sonhos agradáveis ou nas suaves recordações do passado. O sentimento faz dela a chave dourada que abre o coração às suaves emoções do prazer, como o raio do sol, que desata o botão de uma rosa cheia de frescor e de perfume. Muitas vezes, é a nota solta de um hino, que ressoa docemente, que vibra no ar e vai perder-se além, no espaço, ou vem afagar-nos brandamente o ouvido como o eco de uma música em distância. Simples e delicada flor do sentimento, nota palpitante do coração, ela pode se elevar até o topo da grandeza humana e impor leis ao mundo do alto desse trono, que tem por degrau o coração e por cúpula a inteligência. Todo o homem, orador, escritor ou poeta, todo homem que usa da palavra, não como um meio de comunicação às suas ideias, mas como um instrumento de trabalho; todo aquele que fala ou escreve, não por uma necessidade da vida, mas para cumprir uma alta missão social; todo aquele que faz da linguagem uma bela e nobre profissão, deve conhecer a fundo a força e os recursos desse elemento. A palavra tem uma arte e uma ciência. Como ciência exprime o pensamento com toda a sua fidelidade e singeleza. Como arte, reveste a ideia de todos os relevos, de todas as graças e de todas as formas necessárias para arrebatar o Espírito. O mestre, o magistrado, o historiador, no exercício da honrosa profissão da inteligência, da justiça, da religião e da humanidade devem fazer da palavra uma ciência. O poeta e o orador devem ser artistas e estudar no vocabulário humano todos os seus segredos mais íntimos, como o músico que estuda as mais ligeiras vibrações das cordas de seu instrumento; como o pintor que estuda todos os efeitos da luz nos claros e escuros.
 * * * 
Que fazemos desse talento com que nos agraciou o Criador? Somos os que o utilizamos para exaltar a beleza, promover a paz, semear o bem? Como nos servimos dessa arma poderosa? Atraímos as pessoas para a beleza, o bom e o belo ou as seduzimos para o que seja de nosso exclusivo agrado e serventia? Como todos os talentos de que somos dotados, teremos que dar contas à Divindade de como nos servimos dessa alavanca gigantesca, que pode emocionar pela poesia, ilustrar pelo ensino, levantar comunidades, quebrar os grilhões da ignorância. Pensemos nisso e nos sirvamos da palavra para tudo que seja grande, inspirador, promotor de maravilhas neste imenso mundo de Deus, no qual nos movemos, vivemos e desejamos ser felizes. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto A palavra, de José de Alencar e com citação do item 766, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB. Em 9.3.2017.

domingo, 19 de agosto de 2018

O DOMADOR DE ELEFANTES

MALBA TAHAN
Conta-se que há muito tempo, em um reino distante, vivia um rei que um dia anunciou ao povo que precisava, com urgência, de um domador de elefantes. Apresentou-se um homem que se dizia perito nesse perigoso ofício. Ele declarou ao rei que conhecia três maneiras seguras por meio das quais lhe era fácil domesticar um elefante. Antes mesmo que pudesse descrever ao monarca os métodos que utilizava, o rei aceitou seu oferecimento, dizendo-lhe que poderia começar o trabalho na manhã seguinte. Informou-lhe, ainda, que deveria iniciar domesticando o elefante bravio de predileção do soberano e que seria bem recompensado se obtivesse êxito. Momentos depois, quando deixava o palácio, o vaidoso treinador passou ao lado de um grupo de servos e um desses proferiu um gracejo qualquer. O domador não se conteve. Avançou impetuoso e colérico contra o jovem e o feriu gravemente. Preso pelos guardas, o agressor foi levado à presença do rei. 
-O que foi isso? – perguntou muito sério, o monarca – O que se passou, afinal? 
-Senhor, – respondeu o domador, com tremores na voz – não poderei ocultar a verdade. Ao sair do palácio, depois da audiência, cruzei na escada com um grupo de servos. Um deles dirigiu-me uma pilhéria. Não me contive. Avancei contra o gaiato e castiguei-o com extrema violência. Confesso que foi tudo obra irrefletida do impulso de um momento. 
O rei ponderou, com intencional frieza: 
-Como pretende domesticar um elefante bravio, se não é capaz de conter a fera odienta que vive dentro de você? Aprenda primeiro, meu amigo, a dominar os seus impulsos, o seu gênio, a sua cólera. 
E, numa decisão irrevogável, concluiu: 
-Retire-se, pois sua colaboração não me interessa. Eduque-se primeiro, para que possa, depois, educar. 
 * * *
JOSÉ RAUL TEIXEIRA
Eduquemos nossos sentimentos, enquanto nos encontramos a caminho do próprio enobrecimento espiritual. Reflitamos em tudo o que nossos atos, palavras e pensamentos estão gerando em nossa existência e na vida daqueles que nos cercam ou cruzam nosso caminho. Considerando que dispomos de plena liberdade para orientar as nossas forças e energias, eduquemo-nos com disposição e afinco. Tenhamos consciência de que as facilidades e os talentos que possuímos devem servir de instrumentos para nos auxiliar no crescimento moral e na iluminação espiritual. A não ser assim, estaremos desperdiçando abençoada oportunidade. Estaremos, apenas, acumulando tormentos e dores, frustrações e lágrimas para o porvir. Pensemos nisso: a vida é oportunidade abençoada para que encontremos definitivamente o caminho da verdadeira felicidade. É chegado o momento de encararmos o homem velho, que habita em nós e lapidarmos essa pedra bruta, sem brilho e com tantas arestas. Atendamos ao convite do Mestre Nazareno: façamos brilhar a nossa luz. Eduquemo-nos a partir de hoje, a partir de agora. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto do livro Novas lendas orientais, de Malba Tahan, ed. Record e no cap. 18, do livro Educação e vivências, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. Em 14.4.2016

sábado, 18 de agosto de 2018

DO JEITO QUE VOCÊ É!

MARK TUCKER
Mark Tucker produz e apresenta projetos em multimídia pelos Estados Unidos da América. Certa noite, após uma apresentação, foi procurado por uma mulher, que lhe disse: 
-Você deveria tocar a música de meu filho no seu programa. 
Mark, então, desfiou o rosário de sempre: 
-O rapaz devia mandar uma fita para demonstração. Não precisava ser uma gravação profissional, bastaria uma gravação caseira, alguns acordes de guitarra para ele ter uma ideia do tipo de música que ele fazia. 
Depois que Mark explicou todo o processo, a mulher olhou-o, sorrindo, e disse: 
-Bem, meu filho é Billy Joel. 
BILLY JOEL
Assim que se recuperou do susto, Mark rapidamente lhe assegurou que seu filho, o famoso compositor Billy Joel, não precisaria enviar uma fita! A mulher insistia que ele deveria tocar uma música específica que o filho escrevera. Ela sentia que, naquela canção, havia uma mensagem positiva sobre autoconfiança, que se encaixava perfeitamente no trabalho de Mark. E ela começou a descrever como as sementes da letra da canção haviam sido plantadas desde a infância do compositor. Quando era criança, Billy dizia, com frequência, que queria ser outra pessoa, alguém diferente de quem era. Ficava aborrecido por ser mais baixo do que os outros meninos. Era comum vir da escola ou de um jogo reclamando por não se sentir competente. Ele dizia como gostaria de ser só um pouquinho mais alto... Para sua mãe, naturalmente, o filho era perfeito. Assim, toda vez que ele exprimia um sentimento negativo sobre si mesmo, ela afirmava: 
-Não se preocupe, isso não tem a menor importância. Você não precisa ser outra pessoa, porque você é perfeito. Somos todos únicos e diferentes uns dos outros. E você também há de ter algo maravilhoso para dividir com o mundo. Amo você exatamente como você é. 
Essas palavras de uma mãe que amava seu filho exatamente como ele era, ficaram gravadas no coração do menino e permitiram que seu talento desabrochasse. Pois Billy Joel cresceu e descobriu sua vocação para fazer músicas, que se tornaram conhecidas em todo o mundo. E milhões de pessoas ouvem com o coração as palavras inspiradas, por sua mãe, na música vencedora do primeiro Grammy: 
Não mude só para tentar me agradar... 
Amo você do jeito que você é. 
 * * * 
A mudança é parte importantíssima para a evolução humana. Mas, ao mesmo tempo em que devemos nos esforçar a cada dia para sermos melhores do que antes fomos, precisamos também aprender a nos amar do jeito que somos hoje. Não é um sentimento de acomodação, e sim de respeito à natureza humana, que se modifica aos poucos. Somos extremamente diferentes uns dos outros. Cada um tem uma história única, com muitas experiências vividas através dos tempos. É por essa razão que somos singulares, que temos potencialidades tão diversas. No arco-íris, ninguém poderá, jamais, afirmar qual das cores é a mais bela, pois elas são simplesmente diferentes, e são essas diferenças que fazem a grande beleza desse fenômeno natural. Assim é também o Espírito em sua marcha evolutiva. Seguimos caminhos diversos para alcançar o mesmo fim: a perfeição. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Do jeito que você é, de Jennifer Read Hawthorne, do livro Histórias para aquecer o coração, v. 2, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Heather McNamara, ed. Sextante. Em 17.1.2014.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

UM ÓTIMO DIA

Quase todos nós costumamos iniciar o dia nos dirigindo àqueles com quem moramos, trabalhamos ou estudamos, com duas palavras, quase mecânicas: Bom dia. Será que realmente paramos para pensar no que falamos? Será que nos esforçamos para viver um bom dia, e para proporcionarmos aos outros o mesmo? Talvez um verdadeiro Bom dia seja aquele no qual nossos primeiros pensamentos sejam os de agradecer a noite dormida, e a oportunidade de acordar para um novo dia. Esses pensamentos, na forma de uma oração silenciosa, podem ser feitos enquanto nos levantamos, enquanto colocamos a água para o café, enquanto acordamos nossos familiares. Um Bom dia pode começar com uma simples e adequada refeição, em respeito ao nosso corpo que dela precisa, sem correrias ou jejuns tão prejudiciais à saúde. Que tal, ao invés do rádio, com notícias por vezes inquietantes, abrirmos a janela para vermos, nós mesmos, como está o tempo? Seja a chuva tão necessária, ou o sol tão acolhedor, recebidos por nós com um sorriso. Ao invés de enfrentar o trânsito, que façamos parte dele, entendendo que assim é a vida na cidade. Ninguém precisa reagir às atitudes erradas dos outros, apenas entendamos que eles ainda não evoluíram nesse item. Se usamos o transporte coletivo, procuremos ser gentis com todos, com destaque para os mais velhos e com quem necessita de atenções especiais, não agindo como parte de uma massa, mas, sim, como um indivíduo. Um Bom dia, no trabalho ou no estudo, significa dedicação, mesmo que a tarefa não nos agrade. Cumpramos nossa obrigação com alegria. Sejamos um exemplo. Um Bom dia no trabalho ou no estudo pode significar ajudar alguém, afinal, talvez amanhã precisemos ser ajudados. Um Bom dia no estudo significa respeitar o professor que, naquele momento se dedica a nós, e aproveitar ao máximo o aprendizado. Um Bom dia continua, em nossa volta para casa, com gentileza e paciência, sem reclamações sobre a lentidão nas ruas, ou sobre a demora do ônibus. Uma boa leitura, ou uma música de qualidade podem ser uma opção. De volta ao convívio com os familiares, perguntemos a eles como foram suas atividades, e como eles estão. Façamos as refeições juntos, sem televisão, computador ou telefone interrompendo nosso diálogo. Um Bom dia pode terminar com uma boa leitura ao invés de noticiários inquietantes, novelas com mensagens distorcidas, ou programas que nada nos tragam de bom e que servem apenas para passar o tempo. Devemos relaxar, sim, ao final do dia, mas o façamos de modo edificante, entendendo que todos os momentos devem ser aproveitados para nossa evolução. Um Bom dia pode ser finalizado com uma reflexão do que fizemos de bom, do que poderíamos ter feito diferente, do que fizemos para fazer a diferença. E, enfim, que o dia termine com uma oração, agradecendo as oportunidades que tivemos, e pedindo por uma boa noite de repouso, certos de que o próximo será, novamente, um ótimo dia! Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 17.8.2018.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

MÚSICA PARA A ALMA

JORGE BERGERO
Ele se chama Jorge Bergero. É um violoncelista da orquestra do Teatro Colón, em Buenos Aires. Mas, com certeza, seu mais importante papel e a mais extraordinária lição que confere ao mundo é o que realiza como presidente da Associação Civil Música para a Alma. Iniciada na Argentina, com apenas dez músicos, hoje conta com mais de dois mil e quinhentos e extrapolou as fronteiras do país. Já alcançou o Uruguai, Bolívia, Chile, Peru, Paraguai, Equador, Itália, França e Israel. O propósito é tocar músicas clássicas em hospitais e locais em que se encontram idosos internados. O objetivo é levar a música a quem está distante dela e alegrar a todos. Assistir aos vídeos que mostram esses artistas se apresentando em salas e corredores de hospitais é emocionante. Pacientes retidos no leito, com quase nenhuma mobilidade, erguem os braços e acompanham o ritmo das músicas, como se fossem autênticos maestros. Alguns tentam acompanhar os tenores e sopranos, na execução dos trechos de ópera. 
O projeto foi inspirado na namorada de Jorge, Maria Eugênia Rubio, uma flautista incrível e, segundo ele, muito bonita. Bonita de corpo e alma. Um sorriso maravilhoso. Em 2008, ela foi diagnosticada com câncer de mama e, na medida em que a enfermidade avançava, ficava sempre mais difícil para ela continuar a executar o seu instrumento. Internada para tratamento, Jorge e seus amigos resolveram levar a música para ela e aos demais pacientes do hospital. Nascia ali o projeto Música para a Alma. E descobriram como aquilo fazia bem. Criava momentos mágicos, inigualáveis para os internados. Alguns recordavam de momentos felizes de suas vidas. E os músicos, ao concluírem a sua apresentação, por se sentirem imensamente felizes, se indagavam: 
-Quando será nosso próximo concerto? 
Em dezembro de 2011, Eugênia partiu. Em nome do amor a ela e à música, que Jorge qualifica como o próprio oxigênio para sua vida, ele continuou com o projeto e ainda o ampliou. Hoje, são em torno de setenta a oitenta concertos realizados, por ano. E o que é grandioso é ver honrada dessa forma a lembrança de um grande amor, fonte inspiradora do trabalho inicial. Quando tantos de nós, ante a morte de um ser querido, nos isolamos e até desistimos de viver, o músico argentino continua a sorrir e a fazer sorrir aos demais. Em nome do amor. De um grande amor, que ele multiplica com suas ações. Que grandes benefícios espalha ele, além de, com seu exemplo, ter arrebatado tantos outros músicos igualmente idealistas. Profissionais que, com regularidade, deixam os palcos, os trajes de gala para se misturarem ao povo sofrido, e lhes oferecer o melhor de si: a execução de peças clássicas com seus instrumentos musicais ou as modulações impecáveis das suas vozes. 
* * * 
Em meio a tantas dores, a situações complexas que envolvem as nações, enquanto muitos discutem estratégias militares, políticas e governamentais, gente simples espalha suas sementes de alegria e amor. Gente como você e eu, gente que deseja abraçar o seu próximo e o faz com o melhor de si. Pensemos nisso: O que nós podemos fazer para tornar melhor a vida de alguém? 
Redação do Momento Espírita. Em 16.8.2018.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

“Bem aventurados os que têm sede de justiça, porque serão saciados”. Essa afirmativa de Jesus nos faz pensar se podemos nos incluir no número dos que têm sede de justiça. Segundo os dicionários, justiça quer dizer conformidade com o direito; virtude de dar a cada um o que é seu. Jesus, no entanto, se referiu à justiça, recomendando que fizéssemos ao próximo o que gostaríamos que o próximo nos fizesse. Todavia, nós, que tantas vezes temos cobrado da divindade que sacie a nossa sede de justiça, se analisarmos profundamente, não estamos verdadeiramente com sede de justiça, no real sentido do termo. No convívio diário, muitas vezes nos surpreendemos agindo de forma injusta. O trato com as pessoas que nos rodeiam é diferenciado conforme a posição social ou financeira, de subalternidade ou de autoridade, de que cada uma esteja investida. Se nos dirigimos à serviçal que faz a faxina, por exemplo, falamos de determinada forma, num tom de voz e atenção distintos dos que empregamos para falar com pessoas que ocupam cargos que, a nosso ver, são mais importantes. Se a pessoa que nos procura está vestida com trajes elegantes, mesmo que não saibamos de quem se trate, a nossa deferência é imediata. Mas, se está envolta em andrajos, bem diferente é a nossa atenção. Outro exemplo, é quando nosso veículo começa a demonstrar sinais de que em breve terá o motor fundido. Qual a primeira idéia que nos vem à mente? Se fossemos pessoas justas, certamente faríamos uma boa revisão reparando os danos e, ao ofertá-lo a alguém, no caso de venda, falaríamos a verdade ao comprador. Mas o que normalmente ocorre é a idéia de passá-lo adiante o mais rápido possível. E quem comprá-lo que fique com o prejuízo, afinal o mundo é dos espertos, pensamos. E nos dizemos pessoas justas! Se o inverso acontece conosco, imediatamente nos indignamos diante do que chamamos uma grande desonestidade. Como pode alguém nos vender um veículo prestes a fundir o motor? Que injustiça! Se observamos os governantes corruptos a tirar vantagens pessoais com os recursos públicos, imediatamente levantamos a voz e clamamos por justiça. Mas quantos de nós compramos atestados falsos, para ludibriar o patrão e receber o salário integral? Usamos, nos vários momentos, dois pesos e duas medidas. E como nos conhecemos, sabemos porque agimos dessa maneira. Sabemos quais são as nossas verdadeiras intenções. Assim, podemos nos perguntar: será que temos mesmo sede de justiça? Ou será que nos pesos e medidas só temos pensado em nós mesmos? A promessa do Cristo é real e se cumprirá quando efetivamente tivermos sede de justiça, usando, como a justiça divina, um único peso e uma única medida, com imparcialidade. 
Pense nisso!
Os Espíritos Superiores recomendam que caso tenhamos dúvidas quanto ao procedimento que devemos adotar para com o próximo, que nos coloquemos no lugar deste e façamos exatamente o que desejaríamos que nos fosse feito. Dessa forma, jamais nos equivocaremos, uma vez que todos queremos o melhor para nós mesmos.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

DESTINAÇÃO DIVINA

Narra-se que um caçador, em terras canadenses, surpreendeu certo dia um ninho de águias, construído em rocha alta, nas vizinhanças da cabana onde se abrigava, durante a temporada de caça. Resolveu tirar do ninho um dos filhotes e levá-lo consigo. A ave, ainda implume se deixou conduzir. O caçador, finda a temporada, retornou ao próprio lar e aos demais afazeres de sua vida. Porque fosse também afeiçoado à criação de algumas espécies animais, mantinha em seu vasto terreiro, um expressivo número de pintinhos. Foi ali, junto aos demais filhotes de galinha, que a pequena águia passou a viver, esquecendo-se de sua origem. O tempo passou. As penas cresceram no corpo da ave de rapina, fazendo com que ela se destacasse do grupo. Contudo, passava os dias a ciscar, tal qual o faziam os pintainhos. Certo dia, quando a pequena águia repousava tranquila, avistou uma grande águia que sobrevoava o vasto terreno. Observou-lhe o voo majestoso, o domínio dos céus. Era um ponto negro movendo-se pelo anil do firmamento. Então, uma estranha agitação tomou conta da aguiazinha. Desdobrou as asas, ficou na ponta das suas patas e começou a correr. Depois, soltou um grito estridente e alçou voo, em direção à sua irmã. Em breve, também ela não passava de um pequenino ponto escuro na linha do horizonte. Descobrira, enfim, que não nascera para viver nas estreitas vias de um quintal, limitada. Seu destino era o infinito, a amplidão, conquistar as rochas mais altas, buscar os rochedos agudos. Enfim, era a vida total, plena, de uma águia para lá das nuvens e das tempestades. 
* * * 
À semelhança da pequena águia, muitos dos que vivemos na Terra nos esquecemos de nossa origem Divina. Olvidamos que fomos criados pelo amor de Deus e destinados às alturas da perfeição. Consequentemente, da felicidade. Aquartelamo-nos na estreiteza do mundo material que nos cerca e nos ocupamos com pequenas rixas, disputas por coisas passageiras. Isso porque, no mundo, os valores que não são reais mudam constantemente, valendo hoje muito e amanhã mais nada. No entanto, como a aguiazinha, chegará um dia, breve ou distante, em que haveremos de redescobrir nossa filiação Divina e então, atraídos pelas vozes sublimes, desejaremos atingir as amplidões da verdade. Só assim alcançaremos a felicidade suprema, quando sentiremos nos abrasar pelas chamas do amor de Deus e, qual uma águia empreenderemos o garboso voo rumo à perfeição, para o Alto, para cima. Você sabia? Você sabia que é no hemisfério norte que habita a águia que é considerada a rainha dos céus? Chama-se águia real e atinge dois metros de envergadura. E que a águia-do-mar é a ave símbolo dos Estados Unidos? Ela foi escolhida pela sua coragem e beleza. Pode ser encontrada na América do Norte e na Sibéria. Mais imponente do que o voo das águias é o da alma, quando se deixa levar pelas grandiosas realizações da vida, que ultrapassam a estreiteza de uma jornada na Terra, curta e breve ante a eternidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A aguiazinha desperta, do livro Lendas do céu e da Terra, de Malba Tahan, ed. Conquista. Em 14.8.2018.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A BÊNÇÃO DO PERDÃO

Uma nuvem espessa pairava sobre a alma daquela mãe sofrida... O seu jovem filho, criado com amor e desvelo, fora assassinado por um amigo dominado pelas drogas. O desespero e a amargura eram suas companhias permanentes. Os olhos fundos e a palidez denunciavam as noites de insônia e a falta de alimentação. Uma amiga a convidou, talvez inspirada pela Providência Divina, a buscar ajuda do orador e médium espírita de extrema seriedade e profunda dedicação ao bem, Divaldo Pereira Franco. Era início da noite na cidade de Salvador, no Estado da Bahia, quando as duas senhoras adentraram a casa espírita singela, onde o médium atende aqueles que o procuram em busca de consolo e esperança. Divaldo percebeu que se tratava de um caso grave e atendeu aquela mãe prontamente, com grande ternura. Aos poucos, a senhora ia contando o drama ocorrido, falando que um amigo do filho o havia alvejado por motivos banais, de ligeiro desentendimento entre ambos. Enquanto a genitora narrava o seu drama, aproxima-se do médium a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, trazendo o jovem assassinado, ainda convalescente, e diz a Divaldo para transmitir à mãe sofrida, algumas palavras do filho. Naquele momento o filho, tomando emprestada a aparelhagem fonadora do médium, fala à mãezinha palavras de conforto. Disse para que não cometesse o suicídio, como estava pretendendo, pois esse crime a afastaria ainda mais dele, e por mais tempo. Pediu à mãe que se lembrasse da mãe do amigo que cometera o crime e agora estava detido pelas grades da justiça humana, numa cadeia, entre criminosos comuns. Aquela mãe, sim, era muito infeliz, pois seu filho era o verdadeiro desgraçado e não ele, que agora estava sob o amparo de amigos espirituais atenciosos e fraternos. Ao ouvir a voz inconfundível do filho querido, que julgava ter desaparecido para sempre, a mulher abraça com ternura o médium, por cuja boca se podiam ouvir as palavras amáveis e lúcidas do jovem assassinado. Sob a inspiração da benfeitora do Além, Divaldo aconselha a mulher a considerar o estado de alma da outra mãe, da mãe do assassino, e pensar na possibilidade do perdão. Na semana seguinte, quando o médium baiano se preparava para atender aqueles que o buscavam na singeleza da casa espírita, vê adentrarem a sala duas senhoras, pálidas e de aspecto sofrido. Uma ele já conhecia, a outra lhe era estranha. Quando chegou a vez de atendê-las, a mulher, que estivera ali na semana anterior, lhe apresentou a companheira, dizendo ser a mãe do amigo do seu filho. O médium entendeu que ela havia seguido os conselhos ali recebidos e buscava ajudar aquela mãe mais infeliz que ela própria. Conversaram por longo tempo. Ao se despedir das duas senhoras, Divaldo percebeu que um raio de luz penetrava suavemente aquelas almas doloridas. A luz do perdão se fazia bênção de paz e gerava serena harmonia naqueles corações dilacerados pela dor da separação dos filhos bem-amados, embora por motivos diversos. Na medida em que o tempo foi passando, as duas mães encontraram motivos para voltar a sorrir, e juntas visitavam o jovem no cárcere. Fundaram uma casa de recuperação de toxicômanos para ajudar outros tantos jovens a se libertar das cadeias infelizes das drogas. 
* * * 
O perdão é uma das mais belas provas de confiança nas soberanas Leis de Deus. Quem perdoa, sabe que Deus é justiça e, por isso mesmo, Suas leis jamais se enganam. Perdoar é receber com resignação os fatos que não se pode evitar ou mudar, com a certeza de que a Justiça Divina não se equivoca e nada acontece conosco se o Criador não permitir. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato narrado por Divaldo Pereira Franco, na cidade de Videira-SC, no dia 22.09.2003. Em 13.82018.

domingo, 12 de agosto de 2018

AO MEU QUERIDO PAI

Olá, pai! Eu, que já fui criança um dia e que agora sou jovem, quase adulto, gostaria de dizer o que vai aqui dentro do meu coração, neste dia especial. Eu sei que temos tido alguns desentendimentos, mas creia, papai, você é e sempre será meu grande herói. Sabe, pai, quando observo suas mãos fortes, embora algumas marcas feitas pelo tempo, penso no quanto elas significam para mim, pois foram as primeiras a acariciar as minhas, inseguras na infância. Quando vejo seus passos firmes, não esqueço de que foram eles que orientaram os meus primeiros passos. Quando você me pede para ler algumas palavras que seus olhos já não conseguem ver com precisão, faço com carinho, pois não esqueço das palavras que você repetiu inúmeras vezes para que eu aprendesse a falar. Percebo que, hoje, suas decisões são mais lentas. Mas sei também que minhas primeiras decisões foram por elas balizadas. Talvez você não esteja tão atualizado quanto às novas tecnologias, mas eu me lembro que você pensou muito pouco em si mesmo, para fazer de mim uma pessoa de bem. Se hoje sua saúde anda um pouco debilitada, sei que muito do seu desgaste foi para garantir a minha saúde. E se você não pronuncia corretamente alguma palavra, eu entendo, pois se esqueceu de si mesmo para que eu pudesse cursar uma universidade. Se hoje sua memória o trai, não esqueço das tantas vezes que advogou a meu favor, nas situações difíceis em que me envolvi. Eu cresci, papai, não sou mais aquela criança indefesa, graças a você. Hoje, a juventude me empolga as horas... Mas não esqueci minha infância, meus primeiros passos, minhas primeiras palavras, meus primeiros sorrisos. Acredite que tudo está bem vivo em minha memória, e eu sei que, nesse seu peito cansado, ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora. É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta, pois você esteve sempre ao meu lado, disposto a me proteger e a me ensinar. Sabe, velho, embora eu não tenha muito jeito para falar coisas bonitas, desejo lhe dizer o quanto você tem sido importante em minha vida. Você pode não ser mais aquele moço forte, quanto ao corpo, mas tem um certo ar de sabedoria que na sua imagem de ontem não existia. Eu sei, pai, que apesar de o tempo ter passado, em seu peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso; que o afeto que você cultivou, agora floresce em minha alma; que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos... Eu reconheço, meu pai, que apesar dos longos invernos suportados, você ainda mantém acesa a chama de amor e ternura pelos seres que embalou na infância. Por isso tudo, e muito mais, eu quero lhe agradecer de todo meu coração: 
Pela amizade que você me devota; pelos meus defeitos que você nem nota; por meus valores que você aumenta; pela minha fé que você alimenta; por esta paz que nós nos transmitimos; por este pão de amor que repartimos; pelo silêncio que diz quase tudo; por esse olhar que me reprova mudo; pela pureza dos seus sentimentos; pela presença em todos os momentos; por ser presente, mesmo quando ausente; por ser feliz quando me vê contente; por ficar triste, quando estou tristonho; por rir comigo, quando estou risonho; por repreender-me quando estou errado; por meus segredos, sempre bem guardados; por me apontar Deus a todo instante; por esse amor sempre tão constante. 
Redação do Momento Espírita, com transcrição final de mensagem de autoria ignorada. Disponível no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. Em 10.8.2018.

sábado, 11 de agosto de 2018

OS DOIS PEDIDOS

O menino ainda não tinha dez anos. Seus cabelos claros cobriam-lhe a testa displicentemente. Seus olhos tinham uma expressão de viva curiosidade. Aproximou-se da mãe e, sem cerimônia, questionou-a: 
-Mamãe, o que você quer que eu seja quando crescer? 
A mãe deixou os afazeres de lado e olhou demoradamente o pequeno. 
-Por que a pergunta, meu bem? – Devolveu o questionamento ao garoto.
-Ah, mamãe!, disse suspirando, hoje, na escola, meu amigo me disse que ele vai ser médico porque seu avô é médico e seu pai também. Então, fiquei pensando nisso. O que você e o papai querem que eu seja?  
O rostinho do menino tinha um traço de apreensão. 
-Meu querido, disse ela, abraçando o garoto, eu tenho apenas dois pedidos para lhe fazer. Quero que você seja correto e que seja feliz.
Beijou, suavemente, a testa do filho que, insatisfeito com a resposta, afastou-se para poder fitar a mãe diretamente. 
-Não, mamãe! Qual profissão você quer que eu tenha quando crescer?
Voltou à carga, achando que não havia sido compreendido. 
-A escolha da sua profissão, meu filho, cabe apenas a você. Isso não me compete, tampouco me causa maiores preocupações. O que quero de você é outra coisa. Ou melhor, como eu lhe disse, tenho apenas dois pedidos a lhe fazer. Vou repeti-los e explicá-los. Quero que você seja correto. Isso significa que espero que você escolha o caminho do bem sempre, mesmo que ele seja mais longo ou mais difícil. Que pense nas consequências dos seus atos, para você e também para os outros. Que não tema a verdade, nem a justiça. Ao contrário, que as busque sempre com serenidade e persistência. O segundo pedido, que é tão importante quanto o primeiro, é que você seja feliz. Isso quer dizer que espero que, apesar das dificuldades da vida, você tenha sempre confiança em Deus. Que acredite na Justiça Divina e que jamais se entregue ao sofrimento. Que você tenha o coração cheio de amor e de coragem para seguir em frente, sempre. 
A mãe acariciou o menino, afagando-lhe os cabelos com doçura e concluiu: 
-Para mim, meu filho, o que interessa é como você vai ser e não o título que vai carregar. 
 * * * 
Por vezes, sentimo-nos tentados a buscar realizar nossos sonhos frustrados por meio de nossos filhos. Induzimos nossos jovens a concretizar ideais de vida que não são os deles. Fazemos que eles busquem objetivos que, na verdade, eram nossos. Por mais promissoras que sejam algumas carreiras e profissões, não cabe a nós, pais, escolher os caminhos que nossos filhos trilharão. Nosso dever é prepará-los para que sejam homens e mulheres de bem. Altos salários e títulos de honra nada são se a alma permanece atormentada pela tarefa não cumprida e pelo compromisso abandonado. Se queremos que eles sejam realmente felizes, cabe-nos orientá-los para que busquem a senda da retidão moral. Somente assim nossos amores serão capazes de alcançar a felicidade possível neste mundo. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 21.7.2014.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

DOIS MUNDOS NUM MESMO MUNDO

O canal televisivo mostra bombas explodindo, mísseis sendo lançados e centenas de corpos pelo chão. Não se trata de um filme. São cenas reais e atuais. A tristeza nos envolve, num misto de compaixão e de horror. Como pode o homem ser lobo do seu semelhante? Como pode usar de tanta maldade? A um toque no controle remoto, alteramos a sintonia e outras imagens aparecem. Em rodovia movimentada, carros transitam em velocidade, ocupando as três largas pistas. No meio disso tudo, um gatinho apavorado se desvia de um carro e de outro. Alguns motoristas, ao vê-lo, desaceleram e desviam, a fim de não matá-lo. Mas, o animalzinho corre risco de morte a qualquer instante. Então, na pista da direita, um caminhão estaciona, o motorista salta rápido e, num único e ousado lance, resgata o pequeno animal, levando-o para o seu veículo. Logo mais, aparece uma localidade africana seca, poeirenta. Uma elefanta anda de um a outro lado, emitindo barridos fortes, como num pedido de socorro. Seu filhote caiu em um buraco e ela não o consegue retirar. Ele chora e se move, sem conseguir sair. De repente, chegam dois homens, trazendo cordas. Com extremo cuidado resgatam o filhote que, tão logo se vê liberto, corre para a mãe que o acaricia com sua tromba. E, numa cena comovente, o bebê elefante, faminto, busca o leite materno para saciar a fome. Em outro local, gélido, diferente resgate ocorre. Vários homens se esmeram para retirar de águas geladas um grande animal. Com as pernas congeladas, ele recebe massagem nas ancas, nas patas, até que demonstre possibilidade de se movimentar. E, antes que se erga nas próprias patas, recebe um caloroso abraço de um dos seus salvadores, como a lhe dizer: 
-Irmão, você está salvo! 
E, quando as notícias começam a tecer o panorama nacional, uma tragédia é anunciada. Quatro pessoas de uma mesma família estão soterradas sob um edifício de quatro andares que ruiu. Os bombeiros trabalham com afinco, as horas avançam, o cansaço os abraça, as forças parecem lhes faltar. Entre lágrimas, exclama um deles: 
-Daqui não me afastarei até o resgate final. 
Trinta e quatro horas passadas, é resgatada a menina de oito anos, depois o pai. Em seguida, o bebê de poucos meses. Esse apresenta problemas respiratórios e recebe massagem específica, no próprio local. Finalmente, a mãe é retirada dos escombros. Enquanto a ambulância abre caminho pelas ruas, com sua sirene estridente, levando as quatro vidas preciosas, os bombeiros se unem numa grande corrente. Braços entrelaçados, cabeças baixas, eles oram, em gratidão a Deus, pelo êxito alcançado. Que religião professam? Que importa! Deus é um só. As religiões são caminhos para religar o ser ao Pai Celeste. Todos oram, irmanados, filhos do mesmo Pai, ao Pai se dirigindo.
 * * * 
Ante quadros tão diversos, concluímos que, no abençoado planeta Terra, muitas criaturas ainda vivem o estado de guerra, de selvageria, de maldade. Entretanto, um número bem mais expressivo já elegeu o amor como seu roteiro de vida. São esses que se esmeram em conservar, resguardar, recuperar outras vidas, indo, muitas vezes, além do dever, convocando energias sobre-humanas. E nós? A que categoria pertencemos? Estamos destruindo ou preservando vidas? Somos do bem? Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 15.9.2014.