JOSÉ DE ALENCAR |
Deus fez o homem para viver em sociedade e, dentre todas as outras faculdades necessárias para a vida de relação, lhe deu uma faculdade especial, a palavra.
Somente o homem a possui, neste extraordinário planeta.
Por que será que a utilizamos tão mal, semeando desventuras, quando poderíamos somente criar alegrias e felicidade?
Por que, tantas vezes, nos servimos dela para a calúnia, a mentira, espalhando as sementes da desconfiança e da maldade?
A palavra é a mais sublime expressão da natureza. Ela revela o poder do Criador e reflete toda a grandeza de Sua obra divina.
Rápida como a eletricidade, brilhante como a luz, colorida como o prisma solar, é mensageira da ideia.
Ela agita as suas asas douradas, murmura ao nosso ouvido docemente, brinca ligeira e travessa na imaginação, embala-nos em sonhos agradáveis ou nas suaves recordações do passado.
O sentimento faz dela a chave dourada que abre o coração às suaves emoções do prazer, como o raio do sol, que desata o botão de uma rosa cheia de frescor e de perfume.
Muitas vezes, é a nota solta de um hino, que ressoa docemente, que vibra no ar e vai perder-se além, no espaço, ou vem afagar-nos brandamente o ouvido como o eco de uma música em distância.
Simples e delicada flor do sentimento, nota palpitante do coração, ela pode se elevar até o topo da grandeza humana e impor leis ao mundo do alto desse trono, que tem por degrau o coração e por cúpula a inteligência.
Todo o homem, orador, escritor ou poeta, todo homem que usa da palavra, não como um meio de comunicação às suas ideias, mas como um instrumento de trabalho; todo aquele que fala ou escreve, não por uma necessidade da vida, mas para cumprir uma alta missão social; todo aquele que faz da linguagem uma bela e nobre profissão, deve conhecer a fundo a força e os recursos desse elemento.
A palavra tem uma arte e uma ciência. Como ciência exprime o pensamento com toda a sua fidelidade e singeleza.
Como arte, reveste a ideia de todos os relevos, de todas as graças e de todas as formas necessárias para arrebatar o Espírito.
O mestre, o magistrado, o historiador, no exercício da honrosa profissão da inteligência, da justiça, da religião e da humanidade devem fazer da palavra uma ciência.
O poeta e o orador devem ser artistas e estudar no vocabulário humano todos os seus segredos mais íntimos, como o músico que estuda as mais ligeiras vibrações das cordas de seu instrumento; como o pintor que estuda todos os efeitos da luz nos claros e escuros.
* * *
Que fazemos desse talento com que nos agraciou o Criador? Somos os que o utilizamos para exaltar a beleza, promover a paz, semear o bem?
Como nos servimos dessa arma poderosa? Atraímos as pessoas para a beleza, o bom e o belo ou as seduzimos para o que seja de nosso exclusivo agrado e serventia?
Como todos os talentos de que somos dotados, teremos que dar contas à Divindade de como nos servimos dessa alavanca gigantesca, que pode emocionar pela poesia, ilustrar pelo ensino, levantar comunidades, quebrar os grilhões da ignorância.
Pensemos nisso e nos sirvamos da palavra para tudo que seja grande, inspirador, promotor de maravilhas neste imenso mundo de Deus, no qual nos movemos, vivemos e desejamos ser felizes.
Redação do Momento Espírita, com base no texto
A palavra, de José de Alencar e com citação do item
766, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec,
ed. FEB.
Em 9.3.2017.
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