sábado, 31 de março de 2018

O DIÁRIO DE UMA CRIANÇA QUE NÃO NASCEU

05 de outubro. 
Hoje teve início a minha vida. Papai e mamãe não sabem. Eu sou menor que um alfinete, contudo, sou um ser individual. Todas as minhas características físicas e psíquicas já estão determinadas. Terei os olhos de papai e os cabelos castanhos e ondulados da mamãe. E isso também é certo: eu sou uma menina. 
19 de outubro
Hoje começa a abertura de minha boca. Dentro de um ano poderei sorrir quando meus pais se inclinarem sobre meu berço. A minha primeira palavra será Mamãe. Seria verdadeiramente ridículo afirmar que eu sou somente uma parte de minha mãe. Isso não é verdade, pois sou um ser individual. 
25 de outubro. 
O meu coração começou a bater. Ele continuará sua função sem parar jamais, sem descanso, até o fim dessa minha existência. De fato, é isso uma grande dádiva de Deus. 
02 de novembro. 
Os meus braços e as minhas perninhas começaram a crescer até ficarem perfeitas para o trabalho; isto requererá algum tempo, mesmo depois de meu nascimento. Assim que for possível, enroscarei meus bracinhos no pescoço da mamãe e lhe direi o quanto eu a amo. 
20 de novembro. 
Hoje, pela primeira vez, minha mãe percebeu, pelo seu coração, que me traz em seu seio. Acho que ela teve uma grande alegria. 
28 de novembro. 
Todos os meus órgãos estão completamente formados. Eu sou muito grande. 
02 de dezembro
Logo mais poderei ver, porém, meus olhos ainda estão costurados com um fio. Luz, cor, flores... como deve ser magnífico! Sobretudo, enche-me de alegria o pensamento de que deverei ver minha mãe... Oh! Se não tivesse que esperar tanto tempo! Faltam ainda mais de seis meses. 
12 de dezembro. 
Crescem-me os cabelos e as sobrancelhas. Já imagino como minha mãe ficará contente com a sua filhinha! 
24 de dezembro
O meu coraçãozinho está pronto. Deve haver crianças que nascem com o coração defeituoso. Nesse caso, precisam sujeitar-se a delicada cirurgia para corrigir o defeito. Graças a Deus o meu coração não tem nenhuma anomalia, e serei uma menina cheia de vida e forças. Todos ficarão alegres com meu nascimento. 
28 de dezembro
Hoje minha mãe amanheceu diferente, está um pouco angustiada. Mas uma coisa é certa: nós vamos sair para um passeio. Creio que ela quer se distrair um pouco, talvez comprar roupinhas para mim. É isso mesmo, estamos saindo para algum lugar. Ih! Acho que estamos entrando em uma clínica. Deve ser para checar se a minha saúde vai bem. Que ótimo! Quando eu sair daqui, direi à minha mamãe o quanto lhe sou grata. O médico está chegando... Mas... esses instrumentos não são para um exame... Não, mamãe! Não o deixe se aproximar! Ai, que horror! Esta é uma clínica de abortamento! Socorro! Deixem-me nascer! ... Ninguém escuta meus gritos! E meus sonhos de felicidade... Minha vontade de ver a luz, as flores, as cores... Tudo acabado... Sim... Hoje... Hoje minha mãe me assassinou... 
 * * * 
A história é dramática e triste, mas, infelizmente, se repete diariamente nas clínicas de abortamento do nosso país ou em casas de pessoas que se alimentam com o dinheiro ganho com o sangue de vítimas indefesas. Hoje já não se pode mais alegar que o feto não é um ser individual, distinto da mãe, pois a ciência afirma o contrário todos os dias. Assim, tanto quem pratica o abortamento quanto quem o consente, deverá responder perante as Leis Divinas sobre esse crime. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em texto atribuído a H. Schwab ( Nur ein Hinderland ist ein Vaterland), ed. Herder. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1 e no CD Momento Espírita, v. 4, ed. Fep. Em 29.03.2010.

sexta-feira, 30 de março de 2018

NOSSA FELICIDADE

Todos desejamos ser felizes. Todos pensamos alcançar a felicidade. E cada um de nós a idealiza de uma forma. Ocorre que, nos dias atuais, em que a depressão se tem tornado tão comum, em que mais ouvimos falar de tristezas e de dificuldades, em que encontramos muitas pessoas de cenho carregado, de semblante sombrio, é de nos perguntarmos se existe mesmo essa tal de felicidade. Muitos falamos dos problemas que precisamos enfrentar, da vida dura que levamos, das horas cansativas que o trabalho profissional nos exige sem, por vezes, a compensação salarial que apreciaríamos ou que nos daria melhores condições de vida. O noticiário não colabora muito para mudar essa forma de ver a vida, considerando os relatos de cataclismas, que destroçam vidas e acabam com patrimônios construídos a muito esforço. Ou da violência que alcança, parece, todas as gentes, em todo lugar. E se vamos nos fixando nesse viés de vicissitudes, próprias de um planeta de provas e expiações, qual o que nos encontramos, natural que acabemos por nos permitir abraçar pela tristeza. Que o desânimo nos faça curvar os ombros e arrastar os pés, como se tivéssemos uma bola de ferro a eles acorrentada. No entanto, basta uma olhada rápida para direção diversa para percebermos outro panorama. Seria como vermos a atmosfera pesada, as nuvens negras escurecendo o céu. Chegam os ventos em fúria e a água jorra abundante, lavando o ar e penetrando o solo. A terra sorve com rapidez o líquido precioso e agradece, exalando um característico perfume de terra molhada, que nos chega às narinas. Dissipada a tempestade, sentimos o ar leve. O céu se oferece claro, o sol se manifesta. Logo, esquecemos a tormenta de há pouco! Constatamos que assim também acontece em nossas vidas. Depois de momentos difíceis, descobrimos cores de felicidade em nossos dias. E, nesse exercício, enumeramos tantas coisas que fazem nossa felicidade. Damo-nos conta de que somos felizes. Felizes por termos um corpo que nos permite a mobilidade, que nos permite ouvir, ver, falar. Felizes por desvendarmos o alfabeto e descobrirmos o segredo das letras que nos narram o belo, o bom, o extraordinário. Somos felizes por termos um teto, uma família grande ou pequena ou minúscula. Ou por vivermos sós, mas contarmos com um cão que nos recebe feliz ao chegarmos em casa. Ou por termos um gato para alimentar, uma flor para regar. Somos felizes por termos quem nos abrace, nos queira bem. Felizes por termos a capacidade de apreciar um bom filme, um espetáculo de ballet, uma sonata, uma peça de teatro. Felizes por podermos cantar uma canção, dedilhar um instrumento, soprar uma flauta, imitando o vento. Indaguemo-nos hoje, agora, o que nos faz felizes. Comecemos a escrever uma lista. Iremos nos surpreender, com certeza, com a abundância de itens que fazem nossa felicidade tantas vezes no dia, na semana. Permitamo-nos descobrir essas pequenas grandes felicidades diárias. E, enquanto morrem os acordes da música que compõem a harmonia deste texto, abramos um sorriso dentro d´alma, iluminando este dia. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.3.2018.
http://momento.com.br

quinta-feira, 29 de março de 2018

DIVINA PRESENÇA

Quando você nasceu na Terra, parecia um pássaro semimorto que a tempestade arremessara numa praia esquecida. Então, apareceu uma imensa ternura num coração de mulher. Pelas mãos maternas você foi lavado e alimentado milhares de vezes. Simplesmente por amor. Você cresceu forte. Quando o véu da ingenuidade infantil envolvia sua cabecinha, os professores se deram conta da sua inteligência. E a alimentaram com as primeiras letras e com toda a riqueza que a escola proporciona. Você se tornou jovem. E no vigor da sua juventude, a despreocupação era a tônica dos seus dias. Foi então que amigos notaram o seu caráter de nobreza nos gestos e direcionaram a sua jornada para as bênçãos do trabalho. Você se enriqueceu de experiência. Na madureza, a enfermidade veio lhe fazer uma demorada visita.
EMMANUEL
Quando todos já imaginavam que você partiria para a grande viagem, médicos diligentes estenderam o remédio eficaz e a força sublime que havia dentro de você venceu a doença. Recuperado, você retornou às lides. Então houve horas de incompreensão, pressões profissionais, situações de desconforto, criadas pela inveja e pela calúnia. Nessas horas, em meio às lágrimas doridas, você pôde ouvir canções de conforto, conclamando-o à esperança e à alegria. Passou o tempo. Dobraram-se os anos. Por onde quer que você siga, percebe a luz invisível que clareia os seus pensamentos. Se você sofre, é o apoio que chega. Se você erra, é a voz que corrige. Se você teme ou vacila, ante inusitada situação, é o braço que sustenta. Se você se encontra mergulhado em solidão, é a companhia que consola. Em todos os momentos da sua vida, dos primeiros vagidos aos da atualidade, em qualquer circunstância, você depende desse alguém. Falamos de Deus, Nosso Pai, a quem devemos aprender a amar e respeitar, pois nos encontramos nEle como o fruto na árvore. Ele nos sustenta e Sua seiva nos dessedenta. E mesmo que tudo pareça contra nós, abandonados ou incompreendidos pelos afetos, sofrendo os golpes da adversidade mais rude, nunca estaremos distantes da presença de Deus. 
* * * 
CHICO XAVIER E DIVALDO PEREIRA FRANCO
Você sabia? 
Você sabia que Deus nos proporciona momentos diversos para enriquecermos nosso Espírito? 
Assim, a presença da enfermidade é momento para meditação sobre a fragilidade orgânica. A manifestação da saúde é momento de agir no bem, valorizando-a. O ensejo da oração é momento de iluminação interior. A hora da provação é momento de resgate libertador. Pensemos nisso e aproveitemos todos os momentos como dádivas de Deus. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 44, do livro Justiça Divina, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e no prefácio do livro Momentos enriquecedores, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 29.3.2018.

quarta-feira, 28 de março de 2018

A FELICIDADE NO CURRÍCULO DA ESCOLA

Riverbend School
Você pensou alguma vez na possibilidade do estudo e a busca da felicidade se tornarem matéria escolar? E se essa matéria valesse mais do que as notas das demais do currículo escolar? Pois isso é realidade em instituições de ensino na Holanda. E deverá se concretizar em um colégio na Índia. A ideia é que os estudantes utilizem espaços de meditação repletos de árvores, um laboratório e cozinhas. Salas de aula? Nenhuma. Preparação para provas? Pode esquecer. A escola primária Riverbend School quer ensinar felicidade antes das disciplinas tradicionais. Os fundadores dessa escola, atualmente em construção, vêm do universo do empreendedorismo, e não da educação. Para eles, essa é a oportunidade de abordar o mundo da aprendizagem de uma maneira radicalmente diferente. O campus imita uma vila. Em vez de uma praça central, um espaço comum. Eles acreditam que a felicidade vem das relações, em primeiro lugar. Ao invés de prédios comerciais, construções acadêmicas. Escrituras hindus serão utilizadas para ensinar os alunos a viverem uma vida mais feliz e plena. Segundo o cofundador, a ideia é subverter um conceito ocidental: o de que o ambiente controla a felicidade e, por causa disso, é preciso tomar conta desse espaço. Ao contrário de seguir uma grade específica, os estudantes decidirão o que querem aprender. E farão isso através de experiências próprias, seja em um seminário de literatura indiana, meditação ou ajudando a desenvolver um software com colegas, em um laboratório específico para essa função. A escola deve ser concluída em 2020. O campus também incluirá um instituto de pesquisas para estudar a efetividade das técnicas ali aplicadas. 
* * * 
A humanidade tem realizado, até o presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos do passado, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho. Tal o período em que doravante vão entrar e que marcará uma das fases principais da vida da Humanidade. Essa fase, que neste momento se elabora, é o complemento indispensável do estado precedente, como a idade madura o é da juventude. Essa fase foi predita, há muito tempo e aguardada por muitos. A pouco e pouco, ela vai se sedimentando, se concretizando, ora aqui, ora acolá. Isso nos diz que são chegados os tempos determinados por Deus. Tempos marcados por revoluções de ordem moral, pelo aparecimento de instituições que se preocupam mais com o íntimo do que com a exterioridade, pura e simples. Preparemo-nos para a boa recepção desses tempos. E façamos a nossa parte para que se acelere a chegada desses melhores dias.
Redação do Momento Espírita, com base em notícia publicada no site www.sonoticiaboa.com.br, em 19 de fevereiro de 2018 e no cap. XVIII, item 5, do livro A gênese – os milagres e as predições segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEP. Em 28.3.2018.

terça-feira, 27 de março de 2018

O DIÁRIO DAS NOSSAS VIDAS

O quarto estava pouco iluminado. O filho, silenciosamente, abriu a porta e contemplou o pai. Ele dormia profundamente. O filho se aproximou, sentando-se num pedacinho desocupado da cama. Deixou que os dedos corressem soltos pelos cabelos do idoso, já cobertos pela neve do tempo. Grossas lágrimas lhe correram pelo rosto. Aquele homem que ele tanto admirava, outrora tão forte, estava ali, acamado, doente, com as forças abandonando-o aos poucos. O filho lembrou de sua infância. Quantas vezes o pai o carregara ao colo. Quantas vezes haviam brincado juntos. Na adolescência, os sábios conselhos paternos. Na vida adulta, os esclarecimentos, as recomendações, os cuidados com o neto. Agora a respiração difícil, o semblante cansado, os gemidos entrecortados. Não lhe restavam muitos dias neste plano, bem sabia o filho. Três semanas se passaram. Numa noite, o pai adormeceu e não despertou na manhã seguinte. O filho, ainda que em luto, sentia-se grato. Os últimos dias haviam sido agradáveis para ambos. Tinham conversado, dado boas risadas, recordado o passado. Ele guardava no coração a certeza de que o pai havia partido em paz. Algum tempo depois, ao organizar-lhe os pertences, encontrou um diário. Nele, estavam registrados, ao longo de décadas, os acontecimentos mais importantes da vida do filho. Os primeiros passos, a primeira palavra, o primeiro dia na escola, a formatura na universidade, as conquistas profissionais, a mudança de cidade, o casamento. Quando o filho chegou à página na qual o pai escrevera sobre o nascimento do neto, as palavras calaram fundo em seu coração: 
- Meu filho, hoje você se torna pai e eu me torno avô. Quanta alegria! Desde que você nasceu, tenho me esforçado para ser digno da responsabilidade que Deus me outorgou. Você é a maior alegria dos meus dias. E tenho muito orgulho do homem honrado que você se tornou. Agora você também é pai e, portanto, capaz de compreender o meu amor, a minha alegria, as minhas preocupações. Lembre-se: um filho é a extensão de nosso coração. Esteja ele onde estiver, nós estaremos lá também. Nos pensamentos, na comemoração das conquistas, no amargor das derrotas, em cada uma das aflições. A idade me chega. Logo minha memória não será mais a mesma. Por isso escrevo. Desejo lembrar-me da exata felicidade que encontrei nos seus olhos, quando os fitei pela primeira vez. Através deles, descobri o verdadeiro sentido do amor: amor é doação. Fite hoje você também o olhar de seu filho. Descubra, filho meu, o que é verdadeiramente amar! 
 * * * 
Naquele mesmo diário antigo, com as páginas desgastadas e amareladas, o filho abriu uma nova página. Com as mãos trêmulas e com os olhos vertendo abundantes lágrimas, começou a narrar a história de seu próprio filho... 
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Amor é doação. Amor é sacrifício, perdão, fé, esperança. Amor é exemplo. Amor é a única condição para que registremos, no diário de nossas consciências, dias plenos de aprendizados, realizações e conquistas. O convite para escrever se apresenta a cada um. Tomemos do papel da boa vontade e do lápis do esforço. Deus a todos nos fornece as linhas, mas o escrever é de nossa responsabilidade. Sejamos os redatores de nossa própria felicidade. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita Em 31.10.2017.

segunda-feira, 26 de março de 2018

O DIA QUE AGUARDAMOS

A Humanidade aguardou, esperançosa, o Terceiro Milênio. Os que lemos, de forma apressada, informações de uma ou de outra ordem, entendemos que ao raiar do século vinte e um, tudo mudaria... para melhor. O dia haveria de amanhecer radioso e os homens seriam melhores. O mundo estaria melhor. Contudo, passaram-se os dias, somaram-se os meses e, escoada mais de uma década, não verificamos grandes mudanças. Ainda aguardamos que a criatura humana se esqueça de si mesma e que todos os seres nos abracemos, de forma amiga e carinhosa. Aguardamos que se apresse o dia em que o lobo feroz beberá no mesmo regato do cordeiro. Em que as criaturas estreitarão os corações numa doce afetividade. Um dia no qual os templos de oração serão verdadeiros altares da natureza, nos quais os homens se reunirão para louvar ao ser supremo da criação. Também para confraternizarem, sob os véus do trabalho e da solidariedade. Esperamos pelo dia em que nos amaremos uns aos outros com ternura. E teremos para nosso próximo somente palavras doces, de encantamento, de bom ânimo, de alegria. Um dia, enfim, em que o amor conseguirá superar o ódio e a amargura. Em que os homens, irmanados, dando-nos as mãos, nos apoiaremos mutuamente e as lágrimas serão enxugadas pelo amparo irrestrito de uns para com os outros. Como aguardamos que o reino de Deus se implante nas paisagens tristes da Terra, nos lugares onde a dor estagia e a vergonha marca com sinete de fogo os corações derrotados. Aguardamos... 
 * * * 
Se desejamos apressar esse dia tão esperado, preciso se faz que estendamos as mãos da caridade, que deixemos que o amor penetre pelo cérebro, desça através da voz e caminhe pela ternura das mãos, brilhando no coração. E isso deve ser não amanhã, mas desde hoje. Não mais tarde, pois agora é o momento santo de ajudar. Então, os que nos lamentamos, em sentindo o apoio dos irmãos, recobraremos o ânimo para suportar os embates. Os que nos encontramos sozinhos, nos sentiremos amparados ao escutarmos as vozes a nos segredarem aos ouvidos: Aqui estamos, os que vos amamos. Somos irmãos. Prossigamos juntos. Em nossos lares, haveremos de amar nossa família, honrando-a com nossos beijos de carinho. Amaremos, enriquecendo de vida, os que estão sedentos de amor e esfaimados de compreensão. Teremos, para cada um, momentos de paciência, dedicação, na compreensão de que se o Senhor nos reuniu sob o mesmo teto, razões muito poderosas assim o determinaram. Razões que têm a ver com o progresso, com nosso crescimento espiritual. E, por essa razão, nos cabe nos utilizarmos de cada hora de cada dia. Haveremos de aguardar, então, o raiar de um novo dia com esperança redobrada, certos de que o Celeste Amigo vela por nós. Finalmente, certos de que Ele conta conosco, com nossa ação direta, precisa, para a instauração do mundo de paz, de que tanto falamos. Que Ele, como o Divino Pastor, que asseverou que nenhuma de Suas ovelhas se perderia, espera que cada um de nós realize a sua parte, maior ou menor, para benefício da Humanidade inteira. Pensemos nisso. Coloquemo-nos em ação. 
Redação do Momento Espírita, com base na mensagem Virá um dia, pelo Espírito Bezerra de Menezes, psicofonia de Divaldo Pereira Franco, proferida no Grupo Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro, na noite de 22.9.2016. Em 12.11.2016.

domingo, 25 de março de 2018

DIANTE DO AMANHÃ

CHICO XAVIER E EMMANUEL
São compreensíveis os cuidados que todo ser humano adota em seus negócios e afazeres mundanos, com vistas à própria tranquilidade. Ele organiza com esmero a casa em que vive. Protege as vantagens imediatas de sua parentela. Preserva de forma apaixonada a segurança dos filhos. Atende, com extremado carinho, ao seu grupo social. Valoriza o que possui. Arranja habilmente o leito calmo e confortável. Seleciona com gosto os pratos que compõem o cardápio do dia. Defende, como pode, a melhoria de suas rendas. Aspira a conquistar um salário mais amplo. Garante o seu direito à frente dos tribunais. Vasculha com avidez o noticiário para saber o que ocorre no mundo. Procura, com pontualidade e respeito, os serviços de médicos e dentistas. Vai ao cabeleireiro. Escolhe com atenção o filme que deseja ver. Examina a moda, ainda que com simplicidade e moderação, como quem cumpre um ritual. Interessa-se por ocorrências políticas e as questiona. Discute de modo veemente a eficiência dos serviços públicos. Tenta, até de forma instintiva, influenciar opiniões e pessoas. Desvela-se em atrair a simpatia de colegas de trabalho, chefes e subordinados. Observa, a cada instante, as condições do tempo. Todos esses comportamentos são compreensíveis, normais e mesmo úteis. Eles traduzem preocupações naturais da existência terrena. No entanto, é preciso cuidado para não transformar questões transitórias e instrumentais no objetivo da vida. Os pequenos interesses e comodidades do dia-a-dia são relevantes, em certa medida. Mas o apego a eles não pode justificar o descuido com questões magnas da experiência humana. É compreensível que alguém gaste tempo na busca de conforto, segurança e bem-estar material. Mas é incompreensível que não dedique alguns minutos de seu dia para refletir sobre a transitoriedade dos recursos humanos. Afinal, absolutamente nada do que é material poderá ser levado no retorno à pátria espiritual. Não há conquista, cuidado ou dedicação a algo físico cujo resultado perdure mais do que algumas décadas. Na jornada para o Além-túmulo, somente os bens do Espírito seguem na bagagem. Da mesma forma que, ao renascer, apenas são trazidas as conquistas espirituais, entre elas as virtudes e inteligência. Não se trata de convite a fixar a mente na ideia obcecante da morte. Mas de concluir que, nessa ou naquela convicção, ninguém foge do porvir. O Senhor Jesus afirmou: Andai enquanto tendes luz. Isso quer dizer que é preciso aproveitar a luz do mundo para acender a luz do próprio íntimo. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. LXV, do livro Justiça Divina, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 15.04.2010.

sábado, 24 de março de 2018

DIANTE DAS ADVERSIDADES DA VIDA

Recuperar-se de um tombo não é uma tarefa das mais fáceis, devemos concordar. Não são todos que conseguem colocar em prática o refrão popular: Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, criado na música de Paulo Vanzolini. Muitas vezes, quando caímos, por qualquer motivo, como seja o fim de um relacionamento; a perda de um emprego; um acidente, ou até mesmo a pressão do dia a dia, tendemos a ficar estatelados no chão. Como continuar? Como seguir adiante? Vale a pena todo esforço novamente? Felizmente existem pessoas que conseguem contornar tudo isso com maior facilidade. Mesmo quando tudo parece conspirar negativamente, elas vão em frente, com um sorriso no rosto e dispostas a enfrentar o que for preciso. Intrigados em descobrir o que levava algumas pessoas a enfrentar tão bem esses contratempos da vida, especialistas em comportamento humano passaram a estudar os traços desses sobreviventes. Os primeiros chegaram a concluir que se tratava de uma invulnerabilidade inata, algo como um verdadeiro dom com o qual as pessoas já nasciam. Porém, parece que isso não respondia tudo, e há pouco mais de uma década começou-se a investigar o termo invulnerabilidade. Este parecia sugerir que as pessoas seriam 100% imunes a qualquer tipo de adversidade - o que não seria a realidade. Embora sejam pessoas que passem pelos problemas com maior facilidade, isso não quer dizer que saiam dessas experiências totalmente ilesas. Os estudiosos passaram a buscar um termo mais adequado, e foi então que emprestaram uma terminologia da física: resiliência. Resiliência é uma propriedade de alguns materiais, que mostra sua capacidade em retornar ao seu estado original, após sofrer grande pressão. Assim seriam as pessoas com alto grau de resiliência: teriam capacidade de encarar as adversidades como oportunidade de mostrar e aprimorar sua competência, seu entusiasmo. Tais pessoas encontram também soluções criativas e determinadas para se levantar do chão. Neste instante você poderá estar imaginando qual o seu grau de resiliência, certo? Cabe destacar aqui que ser resiliente não é ser indiferente, insensível. Não se trata de sentir ou não sentir, mas sim de como atravessar as experiências. Seria uma habilidade, que todos podemos adquirir, de suportar o sofrimento, extraindo dele tudo que tem para nos ensinar. Aí está a chave de tudo. Léon Denis afirma com propriedade, que se, nas horas de provação, soubéssemos observar o trabalho interno, a ação misteriosa da dor em nós, compreenderíamos melhor sua obra sublime de educação e aperfeiçoamento.
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 A razão da dor humana procede da proteção divina. Os povos são famílias de Deus que, à maneira de grandes rebanhos, são chamados ao aprisco do Alto. A Terra é o caminho. A luta que ensina e edifica é a marcha. O sofrimento é sempre o aguilhão que desperta as ovelhas distraídas à margem da senda verdadeira. 
Redação do Momento Espírita com base em artigo publicado na revista Vida simples, de Janeiro de 2008; no cap. XXVI do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, ed. Feb e no cap. 31 do livro Jesus no lar, do Espírito Néio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 10.04.2008.

sexta-feira, 23 de março de 2018

EU TENHO A FORÇA

HE-MAN
O homem, através dos tempos, reconhecendo sua própria fragilidade, concebeu a existência de seres especiais que o defendessem dos maus. Entre todos os povos, surgiram as lendas e abundaram as histórias de seres dotados de poderes mágicos, alguém com superpoderes. Ou guerreiros de extraordinária força. Para a imaginação infantil, foram concebidos heróis de todas as formas e espécies: aqueles que salvavam as donzelas dos dragões; os que derrotavam os maus em combates extraordinários; os que vinham em socorro do povo maltratado pela tirania. Transferidos para as histórias em quadrinhos, faziam a diversão dos pequenos e de muitos adultos que, semana a semana, aguardavam a continuidade dos episódios eletrizantes. Posteriormente, esses heróis tomaram conta das telas televisivas, com suas peripécias e conquistas. Foi assim que surgiu o príncipe Adam, do reino de Eternia. Possuidor de uma espada mágica, ele a levantava na direção do céu e proclamava: Pelos poderes de Grayskull... E se transformava em He-man. Uma vez completa a transformação, ele dizia: 
-Eu tenho a força! 
E partia, como um guerreiro mágico que era, a lutar contra o mal, utilizando de sua agilidade e superforça. 
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Possivelmente, alguns de nós, ante problemas graves, apreciaríamos ter em mãos essa espada mágica que nos conferisse poderes de solução rápida e segura. Embora não nos demos conta, somos todos dotados de um grande poder. Infelizmente, nos esquecemos de acioná-lo, devidamente. Esse poder se chama vontade. A vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental. É o leme de todos os tipos de força incorporados ao nosso conhecimento. A eletricidade é energia dinâmica. O magnetismo é energia estática. O pensamento é força eletromagnética. A vontade, contudo, é o impacto determinante. Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina. O cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria. Na vontade temos o controle que dirige essa energia mental nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino. Só a vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do Espírito. Vontade. Vontade de acertar, de fazer, de crescer. Vontade de superar os óbices que se apresentam e seguir em frente. Importante que aprendamos a acionar essa força, mais vezes. Dizermos a nós mesmos que somos capazes e que alcançaremos o objetivo a que nos propomos. Que lutaremos contra a enfermidade que nos toma de assalto as energias e batalharemos para que ela não nos vença. Que equacionaremos os problemas que nos impedem o crescimento e seguiremos em frente, galgando degrau a degrau, mesmo devagar, mesmo precisando nos deter um pouco antes de prosseguir. Vontade, comandante de nossa energia mental. Pensemos nisso e não nos detenhamos tanto a examinar as nossas fraquezas e admitir as nossas dificuldades. Digamos a nós mesmos que somos capazes, que avançaremos mesmo que sejam milímetros, que iremos adiante. Digamos para nós mesmos: eu tenho a força. Ela se chama vontade. E nos transformemos nos conquistadores e heróis de nós mesmos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2, do livro Pensamento e vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Em 23.3.2018.

quinta-feira, 22 de março de 2018

DIANTE DA PERFEIÇÃO

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Sede perfeitos como nosso Pai celestial. Esta foi a advertência do Cristo aos nossos corações de aprendizes. Todavia, à maneira de quem contempla estrela longínqüa, sabemos quão imensa é a distância que nos separa da meta. Impedimentos, compromissos e inibições caminham ainda em nosso íntimo, vindos do nosso ontem. Sob essa influência, asfixia-se, a cada momento de hoje, nosso anseio de movimentação para a luz. Por certo ainda nos situamos muito longe do justo aprimoramento que nos integrará na Excelência Divina. Mas, é imperioso começar a grande romagem, oferecendo ao avanço as melhores forças de que dispomos. Ninguém lhe exige que seja de imediato o exemplo do amor que o Mestre nos legou. Mas você pode ser, desde agora, o cultor da compreensão e da gentileza dentro da própria casa. É inviável pedir-lhe a renúncia integral aos bens que enriquecem seus dias terrestres. Entretanto, você pode doar, de improviso, a migalha do que lhe sobra ao conforto doméstico. Sem abrir mão de tudo, você certamente pode ofertar um pouco para auxiliar os companheiros necessitados. Não se espera que você desempenhe, ainda hoje, o papel de herói na praça pública. Mas está ao seu alcance calar, de imediato, a palavra maldosa que chicoteia seus semelhantes. Ninguém aguarda que você seja o remédio para todas as doenças. Todavia, está ao seu alcance ser o enfermeiro diligente, balsamizando as úlceras dos enfermos relegados ao abandono. Não há como lhe solicitar a realização de prodígios, em manifestações prematuras de fé. Contudo, você pode ser, sem delongas, o reconforto que ampare os que atravessam os maus momentos do caminho. Pensemos no exemplo da semente e aprendamos a começar. A planta ontem era simples promessa. Hoje ela é a garantia do pão que nos supre a mesa. As maiores e as mais famosas viagens iniciam-se com um passo. Esforcemo-nos por fazer o melhor ao nosso alcance, desde agora. A perfeição será uma conseqüência natural dos primeiros esforços. Embora a jornada seja longa, é preciso iniciá-la em algum momento. Protestos de inferioridade, com o fim de protelar a marcha, são apenas desculpas. Embora o autoconhecimento seja uma virtude, a falsa modéstia e a preguiça não o são. Somos herdeiros do Universo, em nossa qualidade de filhos de Deus. Todas as virtudes dos anjos dormem em nosso íntimo. Tesouros de luz e paz aguardam-nos no porvir. Mas é preciso que nos decidamos a conquistá-los. Como o Reino dos Céus não se toma de assalto, ele deve ser diligentemente construído no seio das criaturas. Para isso não servem arroubos de misticismo. É preciso esforço concentrado no bem, mediante o abandono de velhos hábitos e a conquista de virtudes. Mesmo que tal tarefa pareça inglória, a princípio, seu resultado invariavelmente aparece. O que o ser humano não pode é, por considerar muito longo o caminho para o pai, recusar-se a dar os primeiros passos. Jesus afirmou que nenhuma das ovelhas que Deus lhe confiou se perderia. Conseqüentemente, deixar de realizar a jornada não é uma opção. Resta a cada qual decidir como a fará: se com boa vontade ou premido por chamados cada vez mais diretos e firmes. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XVII do livro Nascer e renascer, do Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. GEEM. Em 01.09.2008

quarta-feira, 21 de março de 2018

DIÁLOGO IMPRESCINDÍVEL

Casais existem que vivem e convivem por anos a fio. Quem os olha, de fora, os imagina felizes. Porque marido e mulher não discutem, não se desentendem. E o que um deseja, parece ser o desejo do outro. Nesse diapasão, criam os filhos, casam-nos, se tornam avós. Para os filhos e os netos, eles são felizes. Por isso, é traumático para esses mesmos filhos e netos descobrir, um dia, que aquele homem e aquela mulher estão se separando. E, pior do que isso, cada qual guardando intensa mágoa do outro. Por que isso acontece? Quase sempre, a grande problemática é a falta de diálogo. Não esse diálogo que é o tratar das coisas de todos os dias. Falar da economia do lar, das dificuldades das crianças na escola, dos problemas na profissão de um e de outro. Diálogo a respeito de seu próprio relacionamento, de seus desejos, de suas vontades. Do que verdadeiramente um espera do outro, do que anseia. Do que os faz felizes ou infelizes. Do que os magoa, os fere. A propósito, recordamos a história de um casal. Durante mais de 60 anos, tudo compartilharam. Conversavam sobre tudo. Ou quase tudo. Porque entre eles havia um segredo. Em cima de um armário, a mulher guardava uma caixa de sapato. O marido recebera a recomendação de nunca abri-la e nem perguntar o que nela havia. Assim foi por anos e anos. Porque se considerava feliz, o homem jamais pensou sobre o que estaria naquela caixa de sapato. Mas, um dia, a velhinha adoeceu e o médico avisou que ela teria poucos dias de vida. Então, o velhinho tirou a caixa de cima do armário e a levou para perto da cama da mulher. Ela concordou que era a hora dele saber a respeito do conteúdo. Ele abriu e viu que ali estavam duas bonecas de crochê e um pacote de dinheiro. Somados, nada menos de 95 mil dólares. E ela explicou: 
-Quando nos casamos, minha avó me disse que o segredo de um casamento feliz era nunca brigar por nada. E se alguma vez eu ficasse com raiva de você, deveria ficar quieta e fazer uma boneca de crochê. 
O marido ficou muito emocionado, mal contendo as lágrimas. Eles haviam vivido mais de 60 anos casados. Como havia somente duas bonecas na caixa, significava que ela ficara com raiva dele somente duas vezes. Tinha sido, verdadeiramente, uma longa vida de amor. E resolveu perguntar: 
-Querida, você me explicou sobre as bonecas. Mas e esse dinheiro todo, de onde veio? 
-Ah, meu bem, disse a velhinha, com a voz quase sumida, esse é o dinheiro que eu consegui com a venda das bonecas. 
 * * * 
Nunca deixe de dialogar com seu cônjuge. Mas fale das coisas importantes. Não brigue, nem estrague os dias de ventura com tolices. Converse, no entanto, do que faz bem e do que faz mal à vida conjugal. Do que um e outro devem mudar para serem mais felizes. Não construa um mundo de mentiras. Construa a sua felicidade em sólidas bases de confiança e entendimento. Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita com base em história de autoria ignorada.

terça-feira, 20 de março de 2018

A CONQUISTA DO MUNDO

No ano de 1995, estreou no Brasil a série americana animada de televisão: Pink e o Cérebro. Foram quase oitenta episódios que fizeram a alegria da criançada e de adultos aficionados a desenhos infantis, durante três anos. Os personagens eram dois ratos brancos típicos de laboratório, que utilizavam exatamente esse espaço como base para seus planos mirabolantes para dominar o mundo. Cada episódio era caracterizado, no início e no final pela indagação de Pink, o rato alto, magrela, completamente infantil: 
-Cérebro, o que você quer fazer esta noite? 
E o Cérebro, o rato baixote, e com uma enorme cabeça, evidenciando inteligência, respondia: 
-A mesma coisa que fazemos todas as noites.
Pink... Tentar conquistar o mundo. Naturalmente, seus planos eram frustrados a cada noite, por interferência de terceiro ou por equívocos do próprio Pink. 
* * * 
O mundo conheceu muitos conquistadores. Alguns que dominaram extensos territórios, por largo tempo. Alguns que, para a concretização das suas conquistas, usaram de crueldade e frieza, ensanguentando as mãos. Tantos que sacrificaram os afetos, as amizades, a saúde mental a fim de alcançar os seus objetivos. A História nos mostra, no entanto, que essas conquistas sempre foram de limitada duração. Impérios desapareceram, cabeças coroadas foram substituídas, o poder transferido de um para outro, por maquinações arbitrárias ou pelas lutas por justiça e liberdade. Existe, no entanto, uma conquista do mundo que todos deveríamos empreender. Uma conquista que, alcançada, é de caráter definitivo: a conquista do mundo... íntimo. Essa exige um grande empreendimento, em que devem se associar o autoconhecimento, o esforço, a perseverança, a vontade. O autoconhecimento requer exame profundo de nós mesmos, ou seja, passar em revista as nossas ações, verificando se não faltamos ao cumprimento de algum dever, se ninguém tem alguma queixa a nosso respeito. Um exame de consciência diário, na hora do recolhimento para o repouso, se faz de importância capital. Indagarmos a nós mesmos se neste dia, que se finda, fizemos alguma coisa que machucou alguém, física ou emocionalmente; se praticamos alguma ação que merece censura; se faltamos com a verdade em proveito próprio; se desperdiçamos o tempo; se fizemos, enfim, algo contra o nosso próximo. As respostas nos indicarão exatamente o que já melhoramos em nós. E em que ainda precisamos insistir para nossa melhoria, acionando a nossa vontade. O empreendimento deve ser no sentido de identificar e eliminar nossas más tendências, como quem arranca as ervas daninhas do jardim. Procurar saber o que pensam de nós aqueles que não têm simpatia por nós nos ajudará muito, pois considerando que esses não têm interesse em disfarçar a verdade, nos dirão como realmente somos. Autoexame, indagações à nossa própria consciência sobre o que fazemos e como fazemos nos darão a dimensão do bem ou do mal que ainda existe em nós. Isso nos auxiliará no conhecimento de nós mesmos, que é a chave para o melhoramento individual ou seja, para a conquista do nosso mundo íntimo. Então, principiemos hoje, enquanto as horas ainda nos sorriem, essa importante conquista. 
Redação do Momento Espírita. Em 20.3.2018.

segunda-feira, 19 de março de 2018

O PIOR INIMIGO

NEIO LÚCIO
Um homem, admirável pelas qualidades de trabalho e pelas virtudes do caráter, foi percebido pelos inimigos da Humanidade que conhecemos por ignorância, calúnia, maldade, discórdia, vaidade, preguiça e desânimo. Juntos, eles tramaram agir contra ele, conduzindo-o à derrota. A ignorância começou a sua perseguição, apresentando-o ao povo como mau observador das obrigações religiosas. Dizia que ele se isolava cuidando da terra, cheio de ambições desmedidas para enriquecer à custa do alheio suor. Não tinha fé, nem respeitava os bons costumes. O lavrador ativo recebeu as notícias da adversária, sorriu calmo e falou com sinceridade: 
-A ignorância está desculpada. 
Surgiu, então, a calúnia e o denunciou às autoridades por espião de interesses estranhos. Aquele homem vivia, quase sozinho, para melhor comunicar-se com vasta quadrilha de ladrões. O serviço policial tratou de minuciosas averiguações e, ao término do inquérito vergonhoso, a vítima afirmou sem ódio: 
-A calúnia estava enganada. 
E trabalhou com dobrado valor moral. Logo veio a maldade, que principiou incendiando-lhe o campo. Destruiu-lhe milharais enormes, prejudicou-lhe a vinha, poluiu-lhe as fontes. O operário incansável tudo refez, respondendo: 
-Contra as sombras do mal, tenho a luz do bem. 
Os perseguidores, reconhecendo que haviam encontrado um Espírito robusto na fé, instruíram a discórdia, que passou a assediá-lo dentro da própria casa. Provocações o cercaram de todos os lados e, em breve, irmãos e amigos o abandonaram. O bom homem sofreu bastante mas, ergueu os olhos para o céu e falou: 
-Meu Deus, estou só. No entanto, continuarei agindo e servindo em Teu nome. Esquecerei a discórdia.
Apareceu, então, a vaidade que foi lhe dizendo: 
-Você é um grande herói... Venceu aflições e batalhas! Deverá ganhar a auréola dos justos e dos santos!
O trabalhador sincero continuou imperturbável: 
-Sou apenas um átomo que respira. Toda glória pertence a Deus!
Foi a vez da preguiça lhe acariciar a fronte, com mãos traiçoeiras: 
-Seus sacrifícios são excessivos. Repouse. Você já perdeu as melhores forças! 
Vigilante, o interpelado replicou sem hesitar: 
-Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao fim da luta. 
Afastando-se a preguiça, o desânimo compareceu. Não atacou de longe, nem de perto. Não se sentou na poltrona para conversar, nem lhe cochichou aos ouvidos. Entrou no coração do operoso lavrador e, depois de se instalar, começou a lhe perguntar:
-Para que se esforçar? Por que servir? Não vê que o mundo está repleto de colaboradores mais competentes? Que razão justifica tamanha luta? Não será melhor deixar tudo por conta de Deus? Que espera? Tudo é inútil... Não se lembra de que a morte destruirá tudo? 
O homem forte e valoroso, que triunfara de tantos combates, começou a ouvir aquelas interrogações, deitou-se e passou anos sem se levantar. 
* * * 
CHICO XAVIER
Não permitamos que o desânimo nos impeça de viver, de agir e de sonhar. Sempre que o percebamos por perto, coloquemo-nos em oração, afirmando: 
-Minha alma é maior e mais forte do que você. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 22, do livro Alvorada Cristã, pelo Espírito Néio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Em 19.3.2018. 

domingo, 18 de março de 2018

DIÁLOGO FRIO

Qual é o local mais usado em seu lar para dialogar com os familiares? Talvez alguns respondam que é a porta da geladeira ou outros, mais modernos, digam que é a tela do computador, a Internet. Pode parecer absurdo, mas não é. Certa vez, uma senhora falou-nos que as fábricas deveriam aumentar as dimensões das geladeiras, pois assim ela teria mais espaço para conversar com a família. Uma filha, tentando encurtar a distância existente entre ela e a mãe, enviou um e-mail, um bilhete eletrônico, dizendo:
-Oi, mamãe! Agora eu tenho o meu e-mail. Se você quiser pode se corresponder comigo. Um beijo. 
E assinou seu nome ao final. Se tais situações acontecem é porque as pessoas acreditam que essa é uma forma de diálogo, quando é apenas uma forma de se corresponder com alguém. Para que haja um diálogo efetivo, é preciso estar frente a frente com o interlocutor a fim de perceber o que ele sente nas suas expressões mais secretas. Como é que um filho, por exemplo, grafará suas amarguras e suas inquietações num pedaço de papel? A letra mata o sentimento, seja ele saudável ou não. Mas, quando olhamos nos olhos, temos uma noção mais exata do que vai na alma daquele que nos fala. Certa vez, lemos a carta de uma jovem que vivia distante dos pais e escrevia para sua mãe dando-lhe notícias. A jovem havia dialogado conosco por algumas horas. Contara os seus dramas. Falara que estava envolvida com um rapaz de conduta duvidosa e engravidara dele. Agora não sabia o que fazer, estava perdida. Mas não conseguia contar os fatos aos pais e escrevia para a mãe dizendo que estava tudo bem. Quando lhe questionamos porque ela não escrevia a verdade, ela nos respondeu, entre lágrimas, que o papel aceita tudo e que os pais nunca se importaram com os sentimentos, uma vez que sempre se utilizaram de bilhetes para se comunicar. Talvez muitos de nós optemos pela correspondência à distância para fugir das dificuldades, que sabemos existir. Todavia, de nada vale tentar enganar-nos adiando os problemas indefinidamente. Chegará um dia em que os teremos que enfrentar face a face. E, nesse dia, talvez eles já tenham tomado dimensões tão grandes que se torne bem mais difícil encontrar a solução adequada. Dessa forma, não importa que o nosso local de diálogo em família seja um cantinho qualquer. Basta que caiba, pelo menos, duas pessoas frente a frente. Olhar nos olhos, que são as janelas da alma, é de suma importância para se detectar o que vai por trás de simples gestos e palavras. E que a porta da geladeira, além de servir para pendurar os cartões de disque tudo, nos sirva apenas para deixar um lembrete simples, um recado importante, uma declaração de amor. E que o correio eletrônico da Internet possa nos servir para transmitir um arquivo, uma mensagem de carinho, um cartão de congratulações e, de preferência, para os que estão realmente distantes. Pense nisso!
Redação do Momento Espírita Em 07.06.2010.

sábado, 17 de março de 2018

DIÁLOGO E RECEPTIVIDADE

Palha italiana é um doce preparado com brigadeiro e biscoito. A mistura fica muito saborosa e chega a ser a preferida de muitas pessoas. O preparo é simples, rápido e o resultado é delicioso. Por essa razão aquela jovem, cursando arquitetura, pensando em fazer um dinheirinho, começou a preparar e levar palha italiana para a faculdade. As colegas aderiram, as pessoas de outros cursos também gostaram e as vendas iam muito bem. Ana começou cobrando um real o pedaço. Os parentes sugeriram que ela aumentasse o preço. Afinal, os ingredientes não são baratos e, ademais, ela precisava valorizar o próprio produto. Eles diziam: 
-Existem outros doces semelhantes no mercado, por valor superior e nem sempre tão bons quanto o seu. Suba o preço! 
Ela resistia. Olhava para os colegas estudantes e achava que seria talvez dispendioso para eles continuarem a comprar como faziam. A tia insistia: 
-Você precisa valorizar-se e ao seu produto. Não é questão de extorquir o cliente, mas de colocar o preço do real valor.  
Ana continuava insegura. Consultou alguns colegas, que acharam caro dois reais. Então, ela saiu de casa com sua palha italiana e pelo caminho, foi pensando: 
-Será que continuo cobrando um real? Será que subo o preço para um real e cinquenta? Ou será que passo para dois reais? 
Que seu produto valia, ela tinha certeza. Nesse dia, ela encontrou um jovem de outro curso fazendo o mesmo que ela, ou seja, vendendo doces. Só que era brownie. O preço? Dois reais. Foi o suficiente para encorajá-la. Ela subiu o preço da sua palha italiana para dois reais. A essa altura, poderíamos cogitar de questões de regulamentação do mercado e de concorrência. Alunos com pouco dinheiro em mãos, com um doce a um real e outro a dois, poderia ser mais competitivo. Porém, Ana enxergou o fato como uma possibilidade de subir o preço do doce que oferecia. O outro estudante conhecia o produto dela. E, apesar de estarem disputando o mesmo nicho de mercado de doces, ou seja, os mesmos estudantes, tiveram ambos uma ideia singela. Ao mesmo tempo, bonita. Pensaram em trocar os doces entre eles: um pedaço de brownie por uma palha italiana. Um verdadeiro escambo. Eles não se sentiram competindo. Cada qual valorizou o produto do outro. E saíram a vender. Ela, a sua palha, enquanto comia um brownie e ele, os seus brownies, enquanto saboreava a palha italiana. E os clientes comuns compraram brownies e palha. Todos felizes, com açúcar e com afeto. 
 * * * 
Como seria bom se todos agíssemos assim, sem ver no outro um competidor. Alguém que devemos derrubar, seja com preços incompatíveis de serem mantidos a longo prazo, somente para conquistar o mercado, seja depreciando o produto alheio. Como seria tão mais ameno se entendêssemos que sob esse imenso mundo de Deus, há lugar para todos. O que conquista o cliente aqui ou ali é o diferencial do atendimento, um jeitinho especial conferido ao produto em oferta, algo simples, que faz a diferença. E assim continuam todos vendendo, ganhando, vivendo. Pensemos nisso. Redação do Momento Espírita, com base em fato. Em 4.9.2015.

sexta-feira, 16 de março de 2018

LIÇÃO NA MORTE

Comparecemos ao cemitério a fim de abraçar a amiga, cujo pai desencarnara. Amigos, parentes, familiares se aglomeravam na capela. Um religioso lia, vez ou outra, trechos do Novo Testamento, enaltecendo a vida imortal. Chegado o momento do sepultamento, seguimos o carro que levava o caixão. Observamos que as pessoas andavam de cabeça baixa, silenciosas. Estaríamos todos pensando quem, dos que ali nos movimentávamos, seria o próximo a partir? Quem estaria a morte espreitando, naquele exato momento? Quando retornaríamos àquele mesmo local, para acompanhar outro féretro? Ou outros viriam ali para nos conduzir o corpo à sepultura? Enquanto se ultimavam os preparativos dos funcionários para a descida do caixão à cova, novamente se elevou a voz do religioso. Era jovem, e falou com o entusiasmo de quem traz a luz da fé na própria alma. Lembrou de fatos positivos daquele homem, que vivera mais de oito décadas e que há pouco mais de dois anos, iniciara sua grande luta contra a enfermidade. Falou da fé daquele homem. Uma fé que conduzira pessoas em desespero, perdidas na vida a se voltarem para a religiosidade. Pessoas que haviam encontrado na fé um sustentáculo para continuar na nobreza das lutas. Falou de templos que ele auxiliara a erguer. Relatou os benefícios distribuídos na sua longa trajetória. Enalteceu a sua confiança na Divindade, que não se abalara, mesmo entre as dores e as dificuldades, que o mantinham mais no hospital do que no próprio lar. 
-Davi era um homem de fé. – Disse ele. Jamais a perdeu. Fácil é se dizer confiar em Deus e nas coisas do Espírito, quando tudo vai bem. Mas, no hospital, mesmo entre os tantos inconvenientes que a doença lhe trazia, as transfusões, a diálise, ele mantinha a sua confiança inabalável no Poder Divino. E era de tal sorte a sua fé que aos demais contagiava: médicos, enfermeiros, seu vizinho de enfermaria. Esse, em recebendo os familiares, certo dia, pediu que todos orassem por ele, por sua recuperação. Isso porque ouvira o companheiro dizer que Deus atende as nossas rogativas. 
Finalizando sua oratória, o jovem religioso afirmou: 
-Hoje nos despedimos de um homem que realizou uma boa semeadura em sua vida. Por isso, nossa despedida, apesar da dor da separação é tranquila. Sabemos que adentrou a Espiritualidade e está bem. Que os bons Espíritos o receberam. Agradecidos por termos conhecido Davi, por termos convivido com ele, uns mais, outros menos, pensemos: Se o Senhor Deus hoje nos chamasse, estaríamos preparados? Poderíamos partir em paz? 
E, enquanto o corpo era baixado, lentamente, ele convocou a todos para uma oração. Oração que falava de dor, de despedida e de alegria. Finalmente, ele pediu que nenhum de nós se esquecesse da família, que deveria administrar a dor da ausência física do ser amado. Que lembrássemos de telefonar, de visitar, de abraçar, sustentando-a nos dias seguintes. Que lição de vida na morte! Que momento oportuno para orar, para ensinar como se deve lembrar quem parte, como se deve auxiliar quem fica. Sobretudo, como nos devemos indagar: E se fosse hoje o meu dia de partir, estaria pronto? 
Redação do Momento Espírita. Em 16.3.2018.

quinta-feira, 15 de março de 2018

OS SERVIDORES DE DEUS

Samuel Broder
De um modo geral, a expressão servo de Deus nos remete a religiosos, encerrados em templos, envoltos em orações e atos de caridade. No entanto, a grandeza do Pai não é limitada. Consequentemente, nem o campo que oferece aos Seus filhos para a semeadura do bem. Por isso, Seus servidores se multiplicam pela Terra e se apresentam em inúmeras e extraordinárias facetas. Samuel Broder é um exemplo. Chegara na América com um punhado de poloneses sobreviventes do holocausto hitleriano. Crescera nas ruas de um subúrbio de Detroit. Logo descobrira que as carreiras científicas eram aquelas em que se podia vencer na vida sem dinheiro e sem status social. Conseguindo as melhores notas em ciências, ganhou uma bolsa para a Universidade de Michigan. Conforme suas próprias palavras, ele adentrou a um outro planeta. Para um rapaz saído de um gueto operário, cujo sonho mais grandioso deveria ser um emprego de metalúrgico na Ford ou na Chrysler, surpreendeu-se ao dividir o quarto com um colega que estudava noite e dia para se tornar compositor. Em poucos meses, a imaginação daquele jovem imigrante sedento de saber, se inflamaria e ele definiria sua verdadeira vocação: a ciência. Inspirado pela Oração do homem de ciência, idealizada por um grande escritor americano, gravara em seu coração e em sua memória cada palavra: 
"Ó Deus, dai-me uma visão sem nuvens e livrai-me da pressa. Dai-me a coragem de opor-me a toda vaidade e de perseguir, como puder e até o fim, cada uma de minhas tarefas. Dai-me a vontade de não aceitar nunca o repouso ou a homenagem antes de ter podido verificar se meus resultados correspondem a meus cálculos. Ou de poder descobrir e consertar meus erros. "
Com essa disposição, ao adentrar ao laboratório que lhe abriu um dos seus professores, teve a inspiração para a sua vida profissional: o câncer. Dias e noites inteiros ele se fechava no laboratório para aprender a fabricar anticorpos destinados a combater as células cancerosas. Nem sempre eram produtivos seus esforços. Reconhecia, contudo, que mesmo seus fracassos não eram inúteis. A diferença, dizia, entre um grande sábio e um pesquisador medíocre está no fato de que um sabe fazer as perguntas certas, o outro não. Um é capaz de se servir das tecnologias de ponta, o outro, não. Dessa forma, ele se colocara na vanguarda da luta contra o câncer. Com a irrupção da AIDS, ele tomou uma grande decisão: enfrentar o vírus suspeito de ser seu causador, pesquisando um medicamento capaz de bloquear a sua ação. Era uma iniciativa perigosa porque ninguém podia avaliar os riscos que poderia causar a manipulação, em laboratório, de concentrados importantes de vírus vivos. Dos seus cinco colaboradores, dois, de imediato, deixaram o laboratório. Na época, primavera-verão de 1983, a equipe de Samuel Broder foi a única que aceitou trabalhar na pesquisa, apesar dos riscos. Para o Dr. Samuel, com seus quarenta anos, pai de duas meninas, havia ainda o risco de levar esse vírus para casa e as contaminar. Mas, ele aceitou todos os riscos em nome do amor. Samuel Broder, como outros tantos pesquisadores devotados, é um servidor de Deus, materializando Sua misericórdia entre os seus irmãos, na Terra. Aprendamos a reconhecê-los e agradeçamos a Deus pelas suas existências. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 38, do livro Muito além do amor, de Dominique Lapierre, ed. Salamandra. Em 15.3.2018.

quarta-feira, 14 de março de 2018

DIÁLOGO ENTRE MÃES

Rachel Naomi Remen
O filho de Mary veio passar em casa a semana de férias da Universidade. Sentia-se cansado e estava pálido. Perdera a vitalidade. Preocupada, ela o levou ao médico, que diagnosticou uma forma rara de câncer. Incurável. Quando Mary ouviu o diagnóstico, o filho já voltara para a faculdade. Ela subiu os degraus da entrada de sua casa, abriu a porta com violência e uivou com todas as suas forças. Gritando de revolta, correu de quarto em quarto abrindo as janelas com ímpeto e dando socos no ar. O marido tentou acalmá-la, sem resultado. Assustado, ele telefonou para um terapeuta que vinham consultando juntos e correu com o telefone até o quarto onde Mary gritava diante da janela aberta. Mary, o terapeuta está ao telefone. Ao ouvir isso, ela tornou a gritar: 
-O terapeuta? Fale você com o terapeuta. Eu vou falar com Deus. 
Ela precisou de toda a sua raiva, força de vontade e energia para atravessar os quatorze meses que se seguiram. Tudo foi tentado. Em vão. O câncer avançou com fúria, transformando o filho numa sombra de si mesmo, até que, finalmente, ele morreu nos braços da mãe. Tinha apenas vinte anos. Todo aquele amor materno não fora capaz de lhe impedir a morte. Mary sentiu que sua vida se fora com o filho. Passou vários meses entorpecida. Inconsolável. Cerca de dois anos mais tarde, Mary foi com seu irmão a um templo religioso. Sem conseguir orar, ela se sentou. De repente, a dor que estava congelada em seu coração encontrou palavras e ela perguntou em voz alta: 
-Como a senhora conseguiu, Maria? Como conseguiu renunciar a seu filho? Como conseguiu encontrar uma maneira de continuar vivendo depois que ele morreu? Onde descobriu alguma esperança de conforto? 
Com lágrimas descendo pelo rosto, ela disse para a mãe de Jesus tudo que lhe ia na alma. Contou como seu filho era jovem, como ele se esquecia de comer, como não sabia lavar direito as próprias roupas. 
-Ele precisava de uma mãe, disse, em lágrimas. Ele ainda precisa de uma mãe. Não posso compreender, mas o entrego aos Seus cuidados. 
Virou-se de costas e saiu do local. Dois dias depois, enquanto dirigia para o trabalho, ela se surpreendeu cantarolando. Com o passar do tempo, devagarinho, foi conseguindo aliviar seu coração. A mãe de Jesus ouvira sua prece de dor e a atendera. Com a certeza de que seu filho estava sob os cuidados de Maria, seu coração se acalmou e ela recobrou a tranquilidade. 
 * * * 
Por mais terrível se te apresente a situação, segue adiante. Nunca estás sozinho. Vão-se umas pessoas. Outras chegam. Não te amargures com as que partem. Não te entusiasmes com as que chegam. As criaturas passam como veículos vivos: têm um destino e não as podes deter. Por isso, não desejes reter ao teu lado quem já cumpriu sua missão. Permite-lhe a libertação. E se a dor da saudade te parecer intensa, lembra-te de orar e entrega o que partiu ao Pai de todos nós, que é Deus. E nunca te permitas sentir revolta ou solidão. Porque, mesmo que não percebas, Deus permanece sempre contigo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Mary, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante e no cap. 13, do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 7.5.2014. http://momento.com.br

terça-feira, 13 de março de 2018

A INDESEJADA DAS GENTES

Já nos perguntamos, alguma vez, o que faríamos, se, repentinamente, uma doença cruel nos abraçasse e fosse decretada nossa sentença de morte? Ou, se em plena atividade, a morte chegasse e nos arrebatasse? A proximidade da morte já levou muitas mentes privilegiadas a refletir sobre a vida. Alguns transformaram essa reflexão em palavras. O neurologista e escritor inglês Oliver Sacks, com câncer de fígado, aos oitenta e um anos, escreveu, em fevereiro de 2015, no jornal americano The New York Times: 
OLIVER SACKS
-Sinto-me intensamente vivo, quero e espero, no tempo que resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus aos que amo, escrever mais, viajar. Se eu tiver forças, alcançar novos níveis de compreensão e entendimento. 
Professor de neurologia e psiquiatria, estudioso de temas como percepção e consciência, escreveu ainda: 
-Acima de tudo, fui um ser consciente, neste belo planeta, e só isso já foi um enorme privilégio e uma aventura. 
Em sua carta-despedida confessou: 
-Não posso fingir que não tenho medo, mas meu sentimento predominante é a gratidão. Amei e fui amado, recebi muito e dei algo em troca, li, viajei, pensei, escrevi. 
Pouco mais de seis meses depois, em agosto daquele ano, ele desencarnou. 
RUBEM ALVES
Por sua vez, o escritor, educador, teólogo e psicanalista Rubem Alves, que morreu no ano de 2014, deixou uma carta para ser lida, em sua cerimônia fúnebre. Escrita nove anos antes, além de reflexões sobre a terminalidade da vida, havia instruções para quando sua hora chegasse, como a declamação de poemas de autores que cantavam a morte. Escreveu ele: 
-Não tenho medo da morte, embora tenha medo de morrer. O morrer pode ser doloroso e humilhante, mas para a morte tenho uma pergunta: Voltarei para o lugar onde estive sempre, antes de nascer, antes do Big Bang? Durante esses bilhões de anos, não sofri e não fiquei aflito para que o tempo passasse. Voltarei para lá até nascer de novo. 
* * * 
Serenidade ante a morte. Gratidão pela vida. Não foi outro o ensino ofertado e vivido por nosso Mestre Jesus. Na chamada última ceia, em Jerusalém, antes de Sua prisão, julgamento arbitrário e a crucificação, Ele dá orientações aos apóstolos. Detém-se em pormenores, prediz sofrimentos que lhes viriam, e finaliza com uma sentida oração, em que traduz a grandeza de Seu Espírito, preocupando-se com os que ficariam: Pai, é chegada a hora. Glorifica a Teu filho, para que também o Teu filho Te glorifique. Glorifiquei-Te na Terra. Consumei a obra que me deste a fazer. Manifestei Teu nome aos homens. Eu rogo por eles. Já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo. Eu vou para Ti. Pai, guarda em Teu nome aqueles que me deste. Não rogo somente por estes. Mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim. Pai, agora vou para Ti. E não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Depois disso, saiu com os Apóstolos para o Horto das Oliveiras, onde se manteve em oração, comungando com o Pai, até que O viessem prender. Jesus, o exemplo. Tantos outros, na Terra, O imitaram. Imitemo-lO, também. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Adeus à vida sob o sentimento de gratidão, da revista Iátrico, nº 36, de agosto de 2017, ed. do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná, e com transcrição do Evangelho de João, cap. 17, versículo 1ss. Em 13.3.2017.

segunda-feira, 12 de março de 2018

SEMPRE COM ALEGRIA

Dominique Lapierre
Ananda quer dizer alegria. Irmã Alegria. Desde sua mais tenra infância, acostumara-se a mergulhar nas águas do rio Ganges, para resgatar vestidos, joias, o que pudesse ser transformado em dinheiro. Dessa forma, ela se constituía no sustento de toda a família. Sua agilidade e habilidade em nadar, até os lugares mais fundos eram elogiáveis. No entanto, quando manchas estranhas começaram a aparecer em sua pele escura, quando a palavra terrível foi pronunciada, ela foi jogada na rua, pela família mesma por quem tanto trabalhara. Não poderiam, de forma alguma, permanecer com uma leprosa no lar. E a menina, impedida de se misturar aos demais, impedida de retirar do rio sagrado o seu sustento, sentiu a fome abraçá-la. Sozinha, enferma, esfomeada, foi acolhida pelas Irmãs de Caridade que, não somente lhe providenciaram o teto, a vestimenta, o alimento, como lhe deram o melhor presente. Submeteram-na a tal tratamento que ela foi declarada curada da hanseníase. Agora, passados os anos, cumprido seu noviciado, ela recebeu das mãos de Madre Teresa de Calcutá, o sari branco, com lista azul. Dali em diante, essa seria sua única vestimenta. Vestimenta que a identificaria como uma das Missionárias da Caridade em qualquer dos mais de cento e trinta países em que ela fosse designada a servir. Ela foi enviada a Nova Iorque, com mais três companheiras. Sua bagagem chamou a atenção: eram baldes, caixas de papelão amarradas, colchões de palha enrolados em pedaços de pano presos por cordas. Tudo endereçado para Madre Teresa de Calcutá – Nova Iorque. Estados Unidos. A maior recomendação de Madre Teresa era de que servissem sempre com alegria. Era um dia frio e a menina indiana, transformada em missionária, se encantou com os flocos de neve que caíam. Jamais vira tal espetáculo. Então, seu coração exultou na recitação dos versos do profeta Daniel: 
Orvalhos e geadas, gelos e neves, bendizei ao Senhor por todos os séculos
Quando chegou ao local em que trabalharia, dirigiu-se ao subsolo. Era ali que ficavam as suas acomodações. Embora Madre Teresa houvesse especificado que não deveria haver conforto algum, quem viera reformar o prédio tudo ignorara. E lá estavam quatro chuveiros à disposição. Ananda ficou olhando-os, admirada. Desde sempre, ela tinha algo muito especial com a água. Na Índia, carregava os baldes da fonte para casa. Emocionada, Ananda estendeu uma mão trêmula e abriu a torneira. Um verdadeiro dilúvio caiu imediatamente do teto. Hipnotizada, ela olhou a água correr. Aquilo parecia um milagre. Com os braços abertos, a cabeça caída para trás, ela se jogou toda vestida debaixo do chuveiro. Teve vontade de cantar. E cantou os versos do profeta:
 Chuvas e orvalhos, exaltai o Senhor. E vós, astros do céu, bendizei-O por todos os séculos. 
Sua voz atraiu as demais companheiras que vieram correndo. Ao verem Ananda se divertir como uma criança, explodiram todas numa sonora gargalhada. Felicidade. Sim, Madre Teresa de Calcutá poderia ficar tranquila. Era com alegria no coração que suas irmãs começavam sua tarefa em Nova Iorque. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 52, do livro Muito além do amor, de Dominique Lapierre, ed. Salamandra. Em 12.3.2018.

domingo, 11 de março de 2018

DIÁLOGO DE GERAÇÕES

Padre Paul Eugene
Charbonneau
Você já se deu conta como podemos colher lições, a cada passo, em nossa vida? Há algum tempo, assistimos a um filme que traduzia as peripécias de duas crianças órfãs. Pequenas, foram morar com o avô. Um senhor não muito idoso, mas muito amargo. Daqueles que parecem ter esquecido que um dia foram crianças, fizeram travessuras, teceram fantasias, tiveram sonhos. Homem prático - dizia-se. Os meninos adorariam ter um cão, mas o avô não permite. 
-Para que um cão? Não se pode comer um cão! 
Sem permitir o diálogo, o avô não percebe que cria distanciamento dos netos, que desejam carinho, alguém para brincar. Então, um dia, na praia, eles encontram um bebê, sozinho, perdido. Escondem-no no seu esconderijo e passam a cuidá-lo. Sempre às escondidas lavam o bebê, trocam fraldas, ordenham a vaca e dão o leite morno ao pequenino. À noite, deixam a cama quente para dormir no esconderijo, abraçadinhos a ele. Para eles, é algo muito importante. Algo que lhes pertence e pelo qual são responsáveis. A história envolve, no entanto, polícia, um processo judicial, pois o bebê, em verdade, não estava perdido, só deixado a sós por alguns minutos. Então, e só então, ouvindo da boca de um dos netinhos a narrativa da sua solidão, que redundara num pequeno rapto involuntário, medita o avô. 
-Como fora insensível. 
E se penitencia, confessando: 
-Se alguém é culpado, sou eu porque não ouvi meus netinhos. Não permiti que se aproximassem, me contassem, eles me temem. Temiam que eu fizesse mal ao bebê. Tudo porque não conversamos. Sou culpado por fazer sofrer meus netos, por fazer sofrer os pais do bebê, pelo transtorno em que toda a vila se envolveu, procurando-o. 
Não é necessário dizer que a história acabou muito bem, com o avô retornando ao lar com os netinhos, com outra disposição. Até lhes comprou o tão desejado cachorro. E, diga-se de passagem, vendeu as únicas botas que tinha para conseguir o dinheiro. Aí vem a lição que nos propõe uma reflexão: 
-Como vai nosso diálogo com nossos filhos? Sabemos o que eles precisam? O que sentem? Damos-lhes tempo para estarem conosco e jogarem conversa fora? Eles nos amam ou nos temem? Sabemos do que nosso filho gosta? Sentamos ao lado dele para vibrar, no jogo de basquete ou futebol, com ele, torcendo pelo time dele? Escutamos quando ele nos conta as mil travessuras que fez durante o dia todo? Percebemos que o primeiro dente do nosso filhinho apareceu? Há quanto tempo não rolamos na grama, não pulamos na cama, não realizamos uma boa brincadeira com travesseiros com nosso filho? Lembramos como era gostoso fazer todas essas coisas em criança? 
Aproveitemos agora e reprisemos tudo, com muito amor, com nossos filhos. Não sejamos indiferentes, frios ou mudos com nosso filho. Lembremos: ele é carne da nossa carne, sangue do nosso sangue e, de uma certa maneira, a mesma vida, os mesmos amores e dores. Pais e filhos temos necessidade uns dos outros. 
 * * * 
Todo filho é empréstimo sagrado que deve ser valorizado e melhorado pelo cinzel do amor dos pais, para oportuna devolução ao Genitor Celeste. 
Redação do Momento Espírita, com base no filme Os pequenos raptores e no cap. V do livro Diálogo de gerações, de Paul Eugene Charbonneau, ed. E.P.U. Em 12.11.2012.