terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A CORÇA

Mamífero da família dos cervídeos, a corça é um animal mais comumente encontrado na Europa. Devido a sua adaptabilidade, ele sobrevive bem em ambientes alterados pelo homem. Tem a interessante característica de não suportar o confinamento e, por esse motivo, tem costume migratório. É um animal dotado de olfato privilegiado que lhe possibilita sentir o cheiro de água a quilômetros de distância. Consegue perceber, metros abaixo da superfície, a existência de um lençol de água. Também a presença de água dentro de tubulações subterrâneas e, nessas situações, tenta encontrar um local para alcançá-la. Descobriu-se que a corça anseia desesperadamente pela água por questão de sobrevivência. Não para sanar a sede, mas para escapar dos seus predadores: onças, jacarés e cobras. Ela exala um odor muito forte, próprio de sua natureza, facilmente detectável por esses predadores e necessita livrar-se dele constantemente para continuar viva. E a água é o que a pode salvar, mantendo-a limpa e livre. * * * Sobre esses fatos, façamos uma analogia com a vida cristã. Podemos comparar o anseio de uma corça pelas águas com a busca que carregamos em nosso íntimo por algo que dê sentido à nossa existência, que nos traga paz, alegria e que nos aproxime de Deus. A corça suspira e anseia pelas águas farejando e correndo. Usa o seu olfato privilegiado para localizar a fonte certa. Ela faz isso continuamente, todos os dias, não se permitindo acomodar. E nós? Temos nos contentado com nosso comodismo?Ou estamos buscando diariamente a fonte certa, que é o Cristo? É provável que cada um de nós tenha motivos que nos prendam ou nos impeçam de sair em busca da água fresca de que tanto precisamos. Pode ser que existam pessoas ou situações que nos levem ao desânimo. Mas assim como a corça, precisamos sair do nosso isolamento e correr em direção ao que nos dá força para seguir em frente. Corremos em busca de muitas coisas nesta vida e, por vezes, acabamos em desertos, valorizando tanto os bens materiais e outras questões de menor importância, que nos esquecemos de saciar a sede de nossa alma. Todos precisamos que essa fonte de águas cristalinas venha jorrar com abundância em nossas vidas. E, para que isso aconteça, busquemos conhecer os ensinamentos de Jesus, pois é a vivência verdadeira da sua mensagem que nos trará a paz almejada e nos aproximará de Deus. Assim como a corça luta para se livrar de algo que é próprio de sua natureza, busquemos também lutar constantemente para nos melhorarmos e superarmos as dificuldades e imperfeições que carregamos. Vivamos uma busca diária para que o pensamento e as atitudes se sobreponham à nossa natureza ainda tão cheia de falhas. Estamos longe de sermos um modelo de perfeição, mas nos mantenhamos em um esforço contínuo para sermos hoje melhores do que fomos ontem. 
Redação do Momento Espírita. Em 6.4.2013.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A GRANDEZA DA COMPAIXÃO

CRISTO E PRÍNCIPE KRISHNA
Algumas das mais lindas histórias da Humanidade podem ser encontradas na literatura da velha Índia. A que você vai conhecer agora está no poema épico Matabichara. Uma grande batalha estava prestes a ocorrer: os Kurus e seus primos Pandavas se enfrentariam, dentro de poucas horas. Mas, instantes antes do início da batalha, os olhos do príncipe Krishna pousaram sobre uma avezinha que estremecia diante dos ruídos da guerra. Era uma ventoinha. O passarinho havia feito seu ninho em meio à grama alta. Logo, os elefantes e cavalos da guerra esmagariam os ovinhos que abrigavam os filhotes. Os olhos claros de Krishna se encheram de compaixão. Desceu da carruagem e aproximou-se. Viu a avezinha que se recusava a abandonar o ninho indefeso. Ouviu seus pios desesperados. Observou como ela se debatia, aflita, adivinhando o perigo iminente. Comoveu-se. 
-Mãezinha – disse Krishna – que bela é a devoção que tens à tua família! Que elevada forma de amor há em teu coração. 
Buscou então um pesado sino de bronze e, cuidadosamente, cobriu a mãe e o ninho. Conta a história que a batalha foi terrível, mas, quando terminou, a família de passarinhos estava a salvo. Os milênios se passaram e aquele campo de batalha ainda existe na Índia. E nele se pode ouvir os pios das ventoinhas que ali fazem seus ninhos. São a lembrança viva do gentil Krishna e de sua compaixão por todos os seres vivos. Que lição temos nesta história singela! E como podemos estendê-la às nossas vidas. Compaixão é enxergar o sofrimento do outro, mesmo quando estamos em meio aos nossos próprios problemas. Compaixão é uma doce palavra, que torna o coração sensível e está muito além de somente comover-se com o sofrimento material de alguém. É claro que fome, pobreza e doença sensibilizam a alma, mas a compaixão também pode ser traduzida pelo sentimento de compreensão perante as pessoas difíceis, pelo perdão a quem nos ofende e maltrata. Diga-se, a mais difícil forma de compaixão é tolerar aqueles que são desagradáveis ou causam prejuízos. Portanto, a mais séria pergunta é: 
-Como amar os que nos humilham sem nos tornarmos covardes?
A resposta foi dada por Jesus: 
-Seja o teu dizer sim, sim; não, não. 
Isto é: sinceridade, transparência sempre. Mas tudo isso dulcificado pela compaixão. Não se trata de achar que o outro é um coitado ou um medíocre. Quem pensa assim está desprezando a outra pessoa. O estado de compaixão compreende o próximo verdadeiramente. Não se põe em posição superior a ele. Não o humilha. A verdadeira compaixão é generosa. Ela entende o momento e as razões da outra pessoa. Um exemplo de gesto de compaixão está em Jesus: no alto da cruz, fustigado por fome e sede, traído pelos amigos, torturado pelos homens, Ele ergueu os olhos para o céu. E pediu simplesmente ao Pai Celeste:
-Perdoa-os, Pai, pois não sabem o que fazem. 
Não lhes enumerou os erros, mas suplicou para eles o perdão divino. Certamente cada um dos que feriram Jesus carregou, durante anos a fio, o peso do remorso. A lei divina não deixou de agir neles. Mas, enquanto seus algozes permaneciam na Terra, açoitados pela própria consciência, o Cristo seguia adiante, em paz consigo mesmo. 
 * * * 
Hoje - pelo menos hoje - pense na grandeza desse gesto e imite Jesus. Redação do Momento Espírita. Em 30.1.2017.

domingo, 29 de janeiro de 2017

CORAGEM

Linda e Richard Eyre
Coragem é definida como a ousadia para tentar coisas boas mas difíceis. É força para não fazer simplesmente o que fazem os outros, mas, ao contrário, manter sua posição e até influenciar os demais. É ser fiel às próprias ideias, seguir os bons impulsos mesmo que possam parecer, para a grande maioria, inconvenientes ou tolos. É, enfim, a audácia de ser amigo, demonstrar seus sentimentos, ser expansivo. Coragem é uma qualidade de caráter e pode ser ensinada aos nossos filhos. Por definição, sabe-se que coragem é uma coisa difícil. Mas como disse uma criança a um grupo de colegas, quando insistiam com ela para que os seguisse em uma malvadeza: 
-É preciso muita coragem para ser covarde, isto é, quando todos tentam obrigar você a fazer uma coisa que você acredita não seja certa, e eles o chamam de covarde, é preciso muita coragem para afirmar: “Sim, eu sou covarde". 
Importante esclarecer aos filhos a diferença entre coragem e fanfarronice. Coragem silenciosa é a que devemos procurar incutir em nossos pequenos. Coragem de dizer não ao que se tem certeza seja errado. Coragem de se aproximar de uma criança sem amigos e lhe dizer: 
-Olá, como vai? Quer brincar comigo? 
Como pais, devemos estar atentos às tentativas que as crianças realizam, para superar dificuldades e incentivá-las. Se uma criança pequena está aprendendo a andar de bicicleta, somente o fato dela conseguir sentar-se nela, deve ser motivo de elogio. O importante é tentar, mesmo que não tenha sucesso. Toda tentativa deve ser incentivada, estimulando-a a tentar outra vez e outra e outra, enquanto vamos lhe afirmando que ela está cada vez melhor. Quando o bebê consegue levar o alimento à boca com a colher, quando sobe no sofá, quando se mantém em pé, sozinho, pela primeira vez. São todos momentos de suma importância e que devem ser incentivados.
-Caiu? Levante. Tente outra vez. Não conseguiu montar o brinquedo? Vamos tentar juntos, de novo. 
Nossos filhos terão coragem se os prepararmos corretamente, se os ensinarmos a pensar sempre antes de agir, a dizer não com confiança e encorajando-os a praticar o que lhes pareça mais difícil. Não há quem, frente a algo novo, não sinta o coração bater descompassado. É bom que nossos filhos saibam que nós, adultos, também temos coisas difíceis a realizar e que nos exigem coragem. Incentivemos neles a coragem moral, aquela que se expressa em não ir atrás dos demais colegas ou amigos que estão fazendo alguma coisa errada. A coragem moral de dizer a verdade quando seria bem mais oportuno pregar uma mentira. Sejamos para os nossos filhos um modelo de coragem, pois as crianças aprendem aquilo que vivem. E todos os dias elas nos observam, veem e imitam. 
 * * * 
Uma boa maneira para exercitar a coragem é incentivar as crianças a falar, olhando nos olhos do outro. Ser corajoso significa também não ter o que ocultar do outro. Quando olhamos uns nos olhos dos outros é como se estivéssemos dizendo em alto e bom som: Confio em você e você pode confiar em mim. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2, do livro Ensinando valores a seus filhos, de Linda e Richard Eyre, ed. Ediouro. Em 25.1.2013.

sábado, 28 de janeiro de 2017

CORAGEM PARA MUDAR

CAMILO CASTELO BRANCO
Muitos dos conflitos que afligem o ser humano decorrem dos padrões de comportamento que ele próprio adota em sua jornada terrestre. É comum que se copiem modelos do mundo, que entusiasmam por pouco tempo, sem que se analisem as consequências que esses modos comportamentais podem acarretar. Não se tem dado a devida importância ao crescimento e ao progresso individual dos seres. Alguns creem que os próprios equívocos são menores do que os erros dos outros. Outros supõem que, embora o tempo passe para todos, não passará do mesmo modo para eles. Iludem-se no sentido de que a severidade das leis da consciência atingirá somente os outros. Embriagados pelo orgulho e pelo egoísmo deixam-se levar pelos desvarios da multidão, sem refletir a respeito do que é necessário realmente buscar. É chegado o momento em que nós, Espíritos em estágio de progresso na Terra, devemos procurar superar, de forma verdadeira, o disfarçado egoísmo, em busca da inadiável renovação. Provocados pela perversidade que campeia, ajamos em silêncio, por meio da oração que nos resguarda a tranquilidade. Gastemos nossas energias excedentes na atividade fraternal e voltada à verdadeira caridade. Cultivemos a paciência e aguardemos a benção do tempo que tudo vence. Prossigamos no compromisso abraçado, sem desânimo, sem vãs ilusões, confiando sempre no valor do bem. É muito fácil desistir do esforço nobre, comprazer-se por um momento, tornar-se igual aos demais, nas suas manifestações inferiores. Todavia, os estímulos e gozos de hoje, no campo das paixões desgovernadas, caracterizam-se pelo sabor dos temperos que se convertem em ácido e fel, passados os primeiros momentos. Aprendamos a controlar nossas más inclinações e lograremos vencer se perseverarmos no bom combate. Convertamos sombras em luz. Modifiquemos hábitos danosos, em qualquer área da existência, começando por aqueles que pareçam mais fáceis de serem derrotados. Sempre que surgir a oportunidade, façamos o bem, por mais insignificante que nosso ato possa parecer. Geremos o momento útil e aproveitemo-lo. Não nos cabe aguardar pelas realizações grandiosas, e tampouco podemos esperar glorificação pelos nossos acertos. O maior reconhecimento que se pode ter por fazer o que é certo é a consciência tranquila. Toda ascensão exige esforço, adaptação e sacrifício, enquanto toda queda resulta em prejuízo, desencanto e recomeço. Trabalhemos nossa própria intimidade, vencendo limites e obstáculos impostos, muitas vezes, por nós mesmos. Valorizemos nossas conquistas, sem nos deixarmos embevecer e iludir por essas vitórias. Há muitas paisagens, ainda, a percorrer e muitos caminhos a trilhar. Somente a reforma íntima nos concederá a paz e a felicidade que almejamos. A mudança para melhor é urgente, mas compete a cada um de nós, corajosa e individualmente, decidir a partir de quando e como ela se dará. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 10, do livro Revelações da luz, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter e no cap. 11, do livro Vigilância, pelo Espírito Joanna de Ângelis, ed. LEAL. Em 11.11.2014.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O FEIXE DE LENHA

Conta-se que um próspero fazendeiro, dono de muitas propriedades, estava gravemente enfermo. Mas, muito mais que sua doença, o que mais o incomodava era o clima de desarmonia que reinava entre seus quatro filhos. Pensando em dar uma lição importante, ele chamou os quatro para fazer uma revelação importante: 
-Como vocês sabem, eu estou velho, cansado e creio que não me resta muito tempo de vida. Por isso, chamei-os aqui para avisá-los que vou deixar todos os meus bens para apenas um de vocês. 
Os filhos, surpresos, se entreolharam e ouviram o restante que o pai tinha a lhes dizer: 
-Vocês estão vendo aquele feixe de gravetos ali, encostado naquela porta? Pois bem, aquele que conseguir partir ao meio, apenas com as mãos, este será o meu herdeiro. 
De início acharam um tanto absurda a proposta, mas pensando no prêmio, logo começaram a tentar quebrar o feixe. Tentaram, tentaram, e por mais esforços que fizessem, nenhum foi bem sucedido no tentame. Indignados com o pai, que lhes propusera algo impossível, puseram-se a reclamar. Este então se colocou em pé, e disse que ele mesmo iria quebrá-lo. Os filhos, incrédulos, permitiram obviamente. O velho homem começou a retirar, um a um, os gravetos do feixe, e foi quebrando-os separadamente, até não mais restar um único graveto inteiro. Voltou o olhar aos filhos e concluiu: 
-Eu não tenho o menor interesse em deixar os meus bens para só um de vocês. Eu quero, na verdade, que vocês, juntos, sejam os sucessores do meu trabalho. Sucessores que trabalhem com garra, dedicação e, acima de tudo, repletos de amor, uns pelos outros. 
E disse ainda: 
-Enquanto vocês estiverem unidos, nada poderá pôr em risco tudo que construí para vocês. Nada, nem ninguém, os quebrará. Mas, separadamente, vocês serão tão frágeis quanto cada um destes gravetos. 
 * * * 
Albigenor e Rose Militão
Dois pedaços de madeira podem sustentar mais peso do que a soma que cada um pode aguentar separadamente. Da mesma forma, ajudando-nos uns aos outros, mantendo-nos unidos por bons sentimentos, suportaremos muito melhor os impactos que a vida nos apresentará. A tão presente expressão: Cada um por si, e Deus por todos, precisa desaparecer de nossos valores, de nossa filosofia de vida. O mundo individualista não tem futuro. O egoísmo cederá lugar à caridade, ao importar-se um com o outro, à vida em grupo. As famílias estarão muito mais fortes, preparadas para enfrentar desafios, quando unidas. As organizações terão mais êxito e sucesso, quando cultivarem o espírito de equipe em seu ambiente diário. As comunidades farão mais conquistas, crescerão mais rápido, quando perceberem que as pessoas juntas têm mais voz, têm mais poder de atuação. As nações, por sua vez, entenderão que estamos todos juntos, neste globo, por uma causa muito especial: juntos evoluímos, juntos alcançamos os novos patamares celestes de felicidade. 
 * * * 
Um pensamento antigo diz que a união do rebanho obriga o leão a ir dormir com fome... Tão frágil parece o rebanho, se observarmos as características individuais de cada um de seus membros. Mas tão forte se faz, quando unido, a ponto de escapar dos maiores predadores. A força unida é mais forte. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto apresentado no livro S.O.S. Dinâmica de Grupo, de Albigenor e Rose Militão, ed. Qualitymark. Em 27.1.2017.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

E SE AVIDA FOSSE UMA ESTRADA!

Cada um de nós caminha pela vida como se fosse um viajante que percorre uma estrada. 
Há os que passam pouco tempo caminhando e os que ficam por longos anos. 
Há os que veem margens floridas e os que somente enxergam paisagens desertas. 
Há os que pisam em macia grama e os que ferem os pés em pedras pontudas e espinhos. 
Há os que viajam em companhias amigas, assinaladas por risos e alegria. 
E há os que caminham com gente indiferente, egoísta e má. 
Há os que caminham sozinhos – inclusive crianças - e os que vão em grandes grupos. 
Há os que viajam com pai e mãe. E os que estão apenas com os irmãos. 
Há quem tenha por companhia marido ou esposa. Muitos levam filhos. Outros carregam sobrinhos, primos, tios. Alguns andam apenas com os amigos. 
Há quem caminhe com os olhos cheios de lágrimas e há os que se vão sorridentes. Mas, mesmo os que riem, mais adiante poderão chorar. 
Nessa estrada, nunca se conheceu alguém que a percorresse inteira sem derramar uma lágrima. Pela estrada dessa nossa vida, muitos caminham com seus próprios pés. Outros são carregados por empregados ou parentes. Alguns vão em carros de luxo, outros em veículos bem simples. 
E há os que viajam de bicicleta ou a pé. 
Há gente branca, negra, amarela. Mas se olharmos a estrada bem do alto, veremos que não dá para distinguir ninguém: todos são iguais. 
Há gente magra e gente gorda. Os magros podem ser assim por elegância e dieta ou porque não têm o que comer. Alguns trazem bolsas cheias de comida. Outros levam pedacinhos de pão amanhecido. Muitos gostam de repartir o que têm. Outros dão apenas o que lhes sobra. Mas muita gente da estrada nem olha para os viajantes famintos. 
Há pessoas que percorrem a estrada sempre vestidas de seda e cobertas de joias. Outros vestem farrapos e seguem descalços.
Há crianças, velhos, jovens e casais, mas quase todos olham para lugares diferentes. Uns olham para o próprio umbigo, outros contemplam as estrelas, alguns gostam de espiar os vizinhos para fofocar depois. Uma boa parte conta o dinheiro que leva e há os que sonham que um dia todos da estrada serão como irmãos. Entre os sonhadores há os que se dedicam a dar água e pão, abrigo e remédio aos viajantes que precisam. 
Há pessoas cultas na estrada e há gente muito tola. Alguns sabem dizer coisas difíceis e outros nem sabem falar direito. Em geral, os sabichões não gostam muito da companhia dos analfabetos. O que é certo mesmo é que quase ninguém na estrada está satisfeito. A maioria dos viajantes acha que o vizinho é mais bonito ou viaja de forma bem mais confortável. É que na longa estrada da vida, esquecemos que a estrada terá fim. 
E, quando ela acabar, o que teremos? Carregaremos, sim, a experiência aprendida durante o tempo de estrada e estaremos muito mais sábios, porque todas as outras pessoas que vimos no caminho nos ensinaram algo. A estrada de nossa existência pode ser bela, simples, rica, tortuosa. Seja como for, ela é o melhor caminho para o nosso aprendizado. Deus nos ofereceu essa estrada porque nela se encontram as pessoas e situações mais adequadas para nós. Assim, siga pela estrada ensolarada. Procure ver mais flores. Valorize os companheiros de jornada, reparta as provisões com quem tem fome. E, sobretudo, não deixe de caminhar feliz, com o coração em festa, agradecido a Deus por ter lhe dado a chance de percorrer esse caminho de sabedoria.
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v.7 e CD Momento Espírita, v. 14, ed. FEP. 
Em 26.1.2017. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

É PRECISO AGIR!

Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram alguns desempregados, mas como eu tenho um emprego, também não me importei. Agora... Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo. 
 * * * 
Bertolt Brecht
O poema grave é de Bertolt Brecht, influente dramaturgo e poeta alemão do século XX. A questão gravíssima é do ser humano, desnudado em linhas poéticas, exposto pelo pensador que aqui nos convida a refletir sobre a indiferença. A vida individualista, que prioriza o eu em detrimento do outro, apresenta-se como um dos problemas mais sérios da atualidade humana. O egoísmo, a cobiça, o medo, transformaram grande parte dos seres em autômatos ilhados. Autômatos, sim, pois evitam pensar, refletir, ponderar, em nome de uma falsa falta de tempo. Autômatos que se plugam na tomada pela manhã, e se desplugam à noite, sem terem realmente estado presentes em seus dias, em suas próprias vidas. Ilhados também, pois se isolam das pessoas, do contato humano. Não se pode mais confiar em ninguém, não se pode mais contar com ninguém. 
-Todos são suspeitos... 
Afirmam alguns. Ilhados, usam das tecnologias do mundo moderno, que visam apenas auxiliar o homem em suas tarefas, para manterem uma distância segura do mundo. E o virtual parece ser mais seguro, mas fácil do que o real... Enganamo-nos em nome de uma suposta segurança. Assim deixamos de nos importar com os outros, vivendo um constante salve-se quem puder, como se o desespero fosse grande auxílio. E quanto mais nos afastamos, mais difícil é a volta. Amizades que deixamos de cultivar na infância, na juventude, hoje fazem falta a muitos homens e mulheres, vítimas de transtornos psicológicos, como a depressão. Relacionamentos familiares fortes, envolvendo cumplicidade e carinho, no futuro nos farão falta, pois quando precisarmos nos abrir, desabafar, perceberemos que não temos intimidade com ninguém para tal. É preciso agir. Agir enquanto há tempo. Será tão difícil dar atenção, se importar com aqueles que estão ao nosso redor? Será tão difícil romper esta barreira da indiferença, e perguntar: 
-Como você está? – realmente desejando saber como anda a vida do outro? 
O mundo não sou eu mas os outros. O mundo somos nós. Estamos todos expostos ao mesmo tipo de experiências, às mesmas provações, aos mesmos aprendizados. É preciso agir. É preciso se importar mais. 
 * * * 
Martin Niemoller
Quebra o gelo da indiferença, e perceberás que as águas que irão verter aplacarão tuas sedes mais secretas. Desperta ainda hoje, e perceberás que o brilho do sol é mais seguro do que a escuridão dos olhos fechados. 
Redação do Momento Espírita, com base em poema de Bertolt Brecht (1898-1956), a partir de poema escrito originalmente por Martin Niemoller, que viveu na Alemanha nazista. Disponível no livro Momento Espírita, v. 7, ed. FEP. Em 24.1.2017.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

CORAGEM E OUSADIA

Era uma vez um riacho de águas cristalinas, muito bonito, que serpenteava entre as montanhas. Em certo ponto de seu percurso, notou que à sua frente havia um pântano imundo, por onde deveria passar. Olhou, então, para Deus e protestou:
-Senhor, que castigo! Eu sou um riacho tão límpido, tão formoso, e o Senhor me obriga a atravessar um pântano sujo como este! Como faço agora?
Deus então lhe respondeu:
-Isso depende da sua maneira de encarar o pântano. Se ficar com medo, você vai diminuir o ritmo de seu curso, dará voltas e, inevitavelmente, acabará misturando suas águas com as do pântano, o que o tornará igual a ele. Mas, se você o enfrentar com velocidade, com força, com decisão, suas águas se espalharão sobre ele. A umidade as transformará em gotas que formarão nuvens, e o vento levará essas nuvens em direção ao oceano. Aí você se transformará em mar, realizando seu grande objetivo, seu grande sonho!
*   *   *
Assim é a vida, diz-nos esta singela passagem. Na maioria das vezes, quando as pessoas ficam assustadas, paralisadas, pesadas, tornam-se tensas e perdem a rapidez e a força. É preciso entrar para valer nos projetos da vida, até que o rio se transforme em mar. Há milhares de tesouros guardados em lugares onde precisamos ir para os descobrir. Há tesouros guardados numa praia deserta, numa noite estrelada, numa viagem inesperada. O mais importante é ir ao encontro deles, ainda que isso exija uma boa dose de coragem e desprendimento. É certo que não precisamos procurar o sofrimento, mas se ele fizer parte da conquista, vamos enfrentá-lo e superá-lo. Arrisquemos. Ousemos. Avancemos. A vida é uma aventura gratificante para quem tem coragem. Coragem de tentar ser melhor do que já se é. Coragem de se aproximar das pessoas, abrir seu coração, e lhes pedir perdão. Coragem de parecer covarde aos olhos do mundo, quando oferecermos a face do amor a quem nos oferecer a face da violência. Coragem de assumir nossos erros perante os outros, dominando, enfim, o ego orgulhoso. Coragem para declarar-se crente em Deus, adepto de uma filosofia, de uma religião discriminada por muitos. Coragem de mostrar nossos sentimentos nobres, sem ter receio de parecer tolo. Coragem de dizer Eu te amo.
*   *   *
Somos riachos perenes que aguardam o momento de encontrar o mar sublime. Cada passo que damos, cada obstáculo contornado, cada vitória conquistada, mostra-nos que estamos a cada dia mais perto de descobri-lo. Há muito pela frente ainda, é certo, mas na medida em que avançamos, verificamos que tudo se torna cada vez mais fácil e mais possível de ser alcançado. E nunca esqueçamos de que, nesta jornada, não estamos sozinhos. A pátria espiritual – nosso verdadeiro lar – através das preces de amigos queridos, envia-nos chuvas de tempos em tempos, que preenchem nossas águas, dando volume e força para continuar, sempre.  
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada. Em 9.1.2014.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

CORAGEM E FIDELIDADE

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Pilatos, Procurador da Judéia na época em que Jesus foi crucificado, ficou famoso na História da Humanidade pela falta de coragem de tomar uma decisão justa com relação ao condenado à morte, que ele sabia ser inocente. E a expressão lavar as mãos é relativa à covardia de Pôncio Pilatos, que deixou que o povo decidisse sobre a vida de Jesus, quando poderia ter se posicionado com firmeza e libertado o Mestre de Nazaré. Se o Procurador tivesse sido fiel ao cargo que ocupava, a História do Cristianismo poderia ter mudado seu rumo. Outras autoridades da época, como os senadores romanos, poderiam, se quisessem, ter intercedido em favor de Jesus, mas não o fizeram. Mas esse tipo de covardia moral ainda é comum nos tempos atuais. Há os modernos Pilatos que ainda lavam as mãos na hora de tomar decisões firmes e justas, jogando a incumbência a terceiros, para se isentarem de comprometimentos com este ou aquele grupo de opositores. Ficar de bem com todos é a meta, embora a consciência acuse a imoralidade e a falta de ética. Assim, vemos autoridades de vários setores jogando a responsabilidade que seria sua, nas costas de outras pessoas, que são os chamados testas de ferro ou bodes expiatórios. No entanto, a Humanidade sempre teve exemplos de dignidade e honradez de homens que, mesmo sem assinar um compromisso, defenderam com fidelidade as causas que abraçaram. Gandhi, mesmo não sendo político, mudou a escala de valores políticos do mundo, sem usar as armas habituais dos políticos. Luther King, mesmo sem ser sociólogo, provocou mudanças radicais nos valores sociais da Humanidade. Albert Schweitzer, mesmo não assumindo um compromisso na área humanística, alterou os valores humanitários da Terra. E a escala de amor do mundo jamais foi a mesma depois de Jesus Cristo. Assim, seja qual for a nossa área de ação, busquemos tomar as decisões que nos cabem, com coragem e fidelidade. Em qualquer profissão, desde a mais humilde até a mais significativa, temos oportunidade de agir com segurança ou lavar as mãos. Pilatos e os demais homens que tinham poder de decisão mas lavaram as mãos, certamente amargaram o gesto por muitos séculos. Não sejamos nós a nos comprometer negativamente em situações que nos solicitam firmeza e fidelidade. Ninguém responderá pela parte que nos cabe a não ser nós mesmos. Seja essa parte grande ou pequena, se é de nossa responsabilidade teremos que prestar contas às Leis Divinas, mais cedo ou mais tarde. Dessa forma, antes de nos decidirmos por ficar bem com todos, pensemos primeiramente em ficar bem com a nossa própria consciência e com Deus.
*   *   *
A fidelidade ao bem mede a estatura moral do homem, fala dos seus sentimentos espirituais, expressa sua evolução e candidata-o a mais elevadas responsabilidades.
Redação do Momento Espírita com pensamento final colhido   no verbete Responsabilidade, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Em 07.12.2009.

domingo, 22 de janeiro de 2017

A CORAGEM DE FAZER A DIFERENÇA

Irena Sendler
Uma pessoa sozinha pode fazer alguma diferença em pleno caos? As ações de uma única pessoa poderão modificar um sistema social vigente? Quantas vezes utilizamos como desculpa a frase:
-De que adianta? Sou somente um na multidão...
Mas, uma mulher, durante a Segunda Guerra Mundial, pensou diferente, agiu e fez a diferença para nada menos de duas mil e quinhentas vidas. Pouco conhecida embora, é chamada de A Schindler feminina. Irena Sendler arriscou sua vida para salvar outras vidas. Enfermeira, tinha trânsito livre no gueto de Varsóvia, um quarteirão de quatro quilômetros quadrados, onde foram colocadas quinhentas mil pessoas. Espalhando notícias, entre os nazistas, de que tifo e outras doenças contagiosas acometiam os confinados no gueto, ela planejou e colocou em prática arriscada estratégia. Seu objetivo: salvar o maior número possível de crianças judias, retirando-as do gueto. A parte mais difícil era convencer as mães a lhe entregarem os filhos. Lamentos, choro, gritos. Mas, em caixas de ferramentas, sacolas, malas, cestos de lixo, sacas de batatas, por dentro do casaco, ela ajudou a retirar crianças do quarteirão. Por ser idealista, o horror da guerra não lhe arrefeceu a esperança da primavera de paz. E ela preservou em dois frascos, enterrados sob uma árvore, as identidades de cada uma das crianças: nome verdadeiro e para onde fora encaminhada. Conseguiu adesão de mais de uma dezena de pessoas, através das quais conseguia documentação falsa para os pequenos. Em 1943, ela foi presa e levada à prisão de Pawiak. A Gestapo desejava que ela confessasse o paradeiro das crianças:
-Quantas seriam? Quem seriam? Onde estavam? Quem a havia auxiliado?
Irena teve quebrados seus pés e suas pernas e sofreu as mais vis torturas. A ninguém delatou e nada informou. Condenada à morte, foi salva a caminho da execução por um oficial alemão, subornado pela Resistência. As pernas fraturadas e as torturas sofridas tiveram como consequência a cadeira de rodas, que ela suportou sem reclamações nem queixas. Manteve, até o final dos seus dias, a serenidade no olhar e o sorriso nos lábios. Essa mulher corajosa desencarnou no dia 12 de maio de 2008. Foi indicada pelo governo polonês, com o apoio do governo de Israel, ao Prêmio Nobel da Paz. As vidas que salvou das garras do horror nazista e frutificaram em filhos e netos, não a esquecem. Muitos a foram visitar, no pós-guerra. Ela figura entre as seis mil polonesas que ganharam o título de Justo entre as nações, concedido aos que trabalharam pelas vidas dos seus irmãos, nos negros dias da guerra vergonhosa. Uma mulher que fez a diferença, com vontade e determinação. Fez a diferença porque não ficou reclamando da situação em que mergulhara a Polônia, mas colocou mãos à obra e realizou a sua parte, acenando esperanças.
*   *   *
Pensemos nisso, reflitamos e verifiquemos se, nos dias que vivemos, a nossa voz, a nossa atitude, o nosso gesto não pode fazer a grande diferença entre a morte e a vida, entre o desespero e o cântico de esperança. Pensemos...
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Irena Sendler, colhidos nos sites www.slideshare.net; noticias.uol.com e pt.wikipedia.org. Disponível no livro Momento Espírita, v. 8, ed. FEP. Em 8.1.2014.

sábado, 21 de janeiro de 2017

CORAGEM DE ESCOLHER

John Ronald Tolkien
John Ronald Tolkien, em seu memorável O Senhor dos Anéis, escreveu: 
-Onde não falta vontade, existe sempre um caminho. O mundo é um sem fim de possibilidades. Basta, por exemplo, que pela manhã, ao sairmos de casa para o trabalho, tomemos o caminho da esquerda ao invés da direita, ou vice-versa, e tudo pode mudar. Novos serão os cenários, as paisagens, os odores, os rostos, os quais nos influenciarão os pensamentos, sentimentos, comportamentos. Basta que façamos uma pequena escolha e tudo pode mudar. Nossa vida pode mudar. A vida dos que amamos pode mudar. A vida de pessoas que nem sequer conhecemos pode mudar. Não raro, encontramos aqueles que dizem não saber que caminho seguir. Entretanto, o que é a vida senão um eterno caminhar? E o que é esse caminho senão um sem fim de direitas, esquerdas, avanços, atalhos e... escolhas, escolhas, escolhas. Não saber que caminho seguir, portanto, é seguir um caminho. Porém, às cegas. Continuamos a fazer escolhas, a ser responsáveis pelos acontecimentos presentes e futuros de nossas existências. Embora muitas vezes nos coloquemos numa posição de vítimas, como, se ao largo do caminho fôssemos arrastados e não tivéssemos voz ou voto, são nossos passos que nos conduzem. São nossas escolhas que nos levam à felicidade ou ao sofrimento. Nenhum dos mestres que nos serviram de exemplo no curso da Humanidade, nem mesmo o Mestre por excelência, Jesus, caminharam ou fizeram escolhas por nós. Todos nos apontaram a direção. Ofertaram-nos diretrizes, despertaram nossa consciência para que nossas decisões fossem mais acertadas. Todavia, não ceifaram nosso poder de deliberação. Se não soubermos para onde estamos caminhando, lembremos: nosso caminho são nossas escolhas. São nossas decisões que determinam o chão no qual pisamos, a liberdade da qual desfrutamos, os corações que habitamos, os sorrisos que sorrimos, as lágrimas que derramamos, os laços que estreitamos. Caminhar é escolher... 
 * * * 
Escolhamos a paz, pois a paz muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo. Escolhamos ofertar e receber o perdão, pois perdoar é curar-se, é lembrar sem se ferir, sem sofrer. É uma decisão. Escolhamos a caridade, virtude que, discreta, nos torna irmãos. Escolhamos a humildade, a fim de valorizarmo-nos o necessário, mas sem nos sentirmos superiores a ninguém. Escolhamos o silêncio, para ter as respostas de todas as perguntas. Escolhamos a alegria, pois, para sermos felizes, não dependemos daquilo que nos falta e sim do bom uso daquilo que temos. Escolhamos o amor, pois, escolhendo o amor, estaremos garantindo que todas as nossas escolhas sejam corretas. Tenhamos coragem de escolher, ainda que envoltos por indecisões tamanhas. Lembremo-nos: são as nossas escolhas que determinarão por onde seguirá a nossa estrada. 
Redação do Momento Espírita, com citação inicial do livro O Senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, ed. Martins Fontes. Em 26.10.2015.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

EDUCAÇÃO PELO EXEMPLO

Laércio Furlan
É voz corrente que as crianças adoram os avós. Seja porque eles lhes fazem as vontades ou porque lhes dispensam mais tempo, considerando que, normalmente, o tem mais livre, por estarem aposentados. Enfim, os netos adoram ficar com os avós. Por isso, em muitas famílias, existe até uma programação específica, durante o mês, para um ou outro final de semana em que os netos se instalam na casa deles. O pequeno Gabriel, nos seus quatro anos, não era exceção. Com sua mochila, com tudo e mais um pouco do que poderia precisar, passava alguns finais de semana na casa dos avós. Eram sempre dias um tanto tumultuados porque o pequeno parecia um furacão. Adorava jogar bola com as mãos, com os pés. E, por vezes, atingindo lustres e abajures. Na hora de dormir, desejava ouvir histórias contadas pelo avô. Histórias do tempo em que ele era criança. Gostava de ouvir aquelas coisas que o avô fazia, na sua infância, que parecia perdida nos anos. Algumas brincadeiras um tanto diferentes das suas: subir em árvores, jogar bolinha de gude, pescar no riacho perto de casa... Tudo isso deliciava, especialmente, o avô, o mais falante, o que mais interagia com o pequeno. Foi na hora do café da manhã, que tudo aconteceu. O avô ofereceu uma fruta ao neto, que a rejeitou. Também a outra não foi aceita. Desejando que o menino se servisse de algo saudável na primeira refeição do dia, o avô apanhou uma caneca, que trazia os dizeres: 
-Para o meu sobrinho mais querido. 
Como um grande ator, ele traduziu, entusiasmado, os dizeres:
-Então, vamos tomar um leite com chocolate nesta caneca espetacular, que comprei especialmente para você? 
Aqui está escrito: 
-Para o meu neto querido, Gabriel, com todo meu amor.
Naturalmente, as intenções daquele avô eram as melhores possíveis. No entanto, o garoto se mostrou desconfiado. 
-Deixe eu ver, vô, pediu ele. 
E tomou o utensílio em suas pequenas mãos. Como um especialista, inspecionou, devagar, todos os símbolos e sinais escritos nela e indagou: 
-Vô, me diga uma coisa. Onde está o G e depois o A para fazer GA, de Gabriel? Eu não estou vendo nada disso aqui. Eu sei como se escreve meu nome. 
Como a situação se resolveu, não nos foi contado. Não sabemos se o avô admitiu sua aparentemente inocente mentira, e o que se desenrolou na sequência. No entanto, é bom pensarmos quantas vezes, em nossa vontade de acertar, erramos. Ou seja, quantas vezes, faltamos com a verdade para com os nossos pequenos? Verdade que, cedo ou tarde, eles descobrem. Diante disso, é de nos questionarmos com que direito lhes desejamos ensinar que devem dizer a verdade, que devem ser honestos, que não devem enganar a ninguém? Se os desejamos homens de bem, que no futuro poderão ocupar cargos na política, no empresariado, no comércio, na ciência, nas artes, no que for, primemos pela sua correta educação. Se os exemplos falam muito mais alto do que as palavras, é bom repensarmos as nossas atitudes. Afinal de contas, todos somos educadores: pais, avós, professores, tios, primos. Educamos para as coisas positivas ou não. Educamos com nosso exemplo, com nossa forma de ser. Tenhamos isso em mente antes de tentarmos distrair-lhes as mentes ou lhes conquistar os corações com invenções tolas ou inverdades.
Pensemos nisso. 
Os pequenos têm os olhos postos em nós, a todo momento e aguardam a melhor condução para as suas vidas. 
Redação do Momento Espírita, a partir de fato relatado por Laércio Furlan. Em 20.1.2017.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

TEMPO DE AMOLAR O MACHADO

Conta-se que um jovem lenhador ficara impressionado com a eficácia e rapidez com que um velho e experiente lenhador, da região onde morava, cortava e empilhava as madeiras das árvores. O jovem o admirava, e o seu desejo permanente era de, um dia, tornar-se tão bom, senão melhor, do que aquele homem, no ofício de cortar madeira. Certo dia, o rapaz resolveu procurar o velho lenhador, no propósito de aprender com quem mais sabia. Enfim ele poderia tornar-se o melhor lenhador que aquela cidade já tinha ouvido falar. Passados apenas alguns dias daquele aprendizado, o jovem resolvera que sabia tudo, e que aquele senhor não era tão bom assim quanto falavam. Impetuoso, afrontou o velho lenhador, desafiando-o para uma disputa: em um dia de trabalho, quem cortaria mais árvores. O experiente lenhador aceitou, sabendo que seria uma oportunidade de dar uma lição ao jovem arrogante. Lá se foram os dois decidir quem seria o melhor. De um lado, o jovem, forte, robusto e incansável, mantinha-se firme, cortando as suas árvores sem parar. Do outro, o velho lenhador, desenvolvendo o seu trabalho, silencioso, tranquilo, também firme e sem demonstrar nenhum cansaço. Num dado momento, o jovem olhou para trás a fim de ver como estava o velho lenhador, e qual não foi a sua surpresa, ao vê-lo sentado. O jovem sorriu e pensou: 
-Além de velho e cansado, está ficando tolo. Por acaso não sabe ele que estamos numa disputa? 
Assim, ele prosseguiu cortando lenha sem parar, sem descansar um minuto. Ao final do tempo estabelecido, encontraram-se os dois, e os representantes da comissão julgadora foram efetuar a contagem e medição. Para a admiração de todos, foi constatado que o velho havia cortado quase duas vezes mais árvores que o jovem desafiante. Este, espantado e irritado, ao mesmo tempo, indagou-lhe qual o segredo para cortar tantas árvores, se, uma ou duas vezes que parara para olhar, o vira sentado. Ele, ao contrário, não havia parado ou descansado nenhuma vez. O velho, sabiamente, lhe respondeu: 
-Todas as vezes que você me via assentado, eu não estava simplesmente parado, descansando. Eu estava amolando o meu machado! 
 * * * 
Reflitamos sobre o ensino trazido pelo conto. Obviamente, com um machado mais afiado, o poder de corte do velho lenhador era muito superior ao do jovem. Este, embora mais vigoroso na força, certamente não percebeu que, com o tempo, seu machado perdia o fio, e com isso perdia a eficácia. Quando chegamos em determinadas épocas de nossas vidas, como o fim de mais um ano de trabalho, de esforço, de empreendimento, esta lição pode ser muito bem aplicada. É tempo de amolar o machado! Embora pensemos que não possamos parar, que tempo é dinheiro, que vamos ficar para trás, perceberemos, na prática, que, se não pararmos para amolar o machado, de tempos em tempos, não conseguiremos êxito. Amolar o machado não é apenas descansar o corpo, é também refletir, avaliar, limpar a mente e reorganizar o nosso íntimo. Amolar o machado é raciocinar, usar a inteligência para descobrir se estamos utilizando nossas forças da melhor forma possível. Assim, guardemos algum tempo para essas práticas realmente necessárias, e veremos, mais tarde, que nosso machado poderá cortar as árvores com maior eficiência. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto da obra S.O.S. Dinâmica de Grupo, de Albigenor e Rose Militão, ed. Qualitymark. Em 19.1.2017.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

CORAGEM DE AMAR

Será que, para amar, é necessário ter coragem? A pergunta, a princípio, parece sem propósito. Afinal, é tão natural amarmos aos nossos filhos, ao companheiro, à esposa, que longe está a necessidade de se ter coragem para isso. Porém, e se mudarmos a pergunta: para aprender a amar, é necessário ter coragem? Será que precisamos de coragem para aprender a amar aqueles que ainda não amamos? Conta-se que Madre Teresa de Calcutá, ao abandonar o convento, onde atuava como professora de jovens de famílias ricas, levou consigo apenas o hábito e as sandálias de religiosa, deixando tudo para trás. Ao final de sua existência, tinha mais de quatrocentas casas erguidas pelo mundo, em nome do seu amor ao próximo, entre asilos, orfanatos, hospitais, escolas. Certa feita, ao ser homenageada em uma solenidade, um dos convidados interpelou-a dizendo não saber como ela dispunha de coragem para fazer tudo o que fazia. E ela, tranquilamente, respondeu que não entendia como tantas cabeças coroadas tinham coragem de não fazer nada, frente a tanta miséria no mundo. 
Albert Schweitzer era um jovem músico, consagrado nas mais famosas salas de concerto europeias, quando decidiu abandonar a carreira musical e cursar medicina. Sonhava ele ajudar o próximo e elegeu a carreira médica como ferramenta de auxílio. Deixou o conforto da fama e do reconhecimento ao seu talento musical para começar uma nova vida. Ao se formar, foi trabalhar no coração da África, numa região isolada e sem recursos. Ao final de sua existência, havia sido reconhecido com um prêmio Nobel da Paz, e, em uma região onde nada havia, construiu um hospital que se expandira para mais de setenta prédios, com quinhentos leitos para internamento. 
Não são poucos os exemplos que encontramos de pessoas que, com coragem, optam por amar àqueles que ainda não amam. Jesus nos alerta que amar àqueles que nos são caros, até os maus o fazem. Porém é necessário ir além. É necessário aprender a amar àqueles que ainda temos dificuldades em amar, que ainda não aprendemos a amar. Para esses, é necessário armar-se de coragem. Pois o amor ao próximo exige dedicação, esquecimento do orgulho, da vaidade, da presunção. Podemos não ter a estrutura moral ou a coragem de Madre Teresa e de Albert Schweitzer, que deixaram marcas permanentes na História da Humanidade. Mas já podemos deixar marcada a nossa presença, se nos decidirmos a amar ao próximo. Podemos começar com o parente difícil, sempre disposto a fazer comentários e insinuações maldosas. Ou ainda com aquele vizinho sempre pronto a uma nova provocação. Outras tantas vezes aprender a amar pode vir através da paciência que desenvolvemos diante das limitações de quem ainda não tem as mesmas capacidades que nós. Ou que se mostra arrogante e pretensioso, com falsas capacidades que não possui. Não há verdadeiramente um dia em nossa vida, onde não surja a oportunidade de aprender a amar. Aprendamos com Jesus, Mestre Maior de todos nós, que não devemos nos contentar com o amor na intimidade do lar ou no relacionamento a dois. Que possamos, a cada dia, armarmo-nos de coragem e exercitar o sentimento do amor ao próximo, na oportunidade que a vida nos oferecer. 
Redação do Momento Espírita. Em 28.11.2016.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

A CORAGEM DA PALAVRA ESCRITA

RAQUEL DE QUEIROZ
Todos os dias, publicações das mais diversas chegam às prateleiras das livrarias. Vivemos um tempo em que publicar um livro se tornou fácil. Isso permite que abundem as nulidades e que se publique tantas e tantas páginas sem verdadeiro conteúdo. Literatura que não soma, que não acrescenta algo de útil e bom ao ser humano. Ao longo da história da Humanidade, contudo, a palavra escrita se fez presente, iluminando mentes, alertando o povo. Inúmeros são os exemplos nos tempos passados e, na atualidade, ainda em alguns países, de escritores que ousaram utilizar a sua pena para criticar governantes, denunciar ditaduras, protestar contra a injustiça. Romancistas, jornalistas, amantes da verdade se serviram da palavra escrita para lutar por direitos humanos, para esclarecer as mentes. Em épocas de repressão, se tornaram heróis, tendo alguns deles, pago sua ousadia com prisão e tortura. Mulheres corajosas, nesse contexto, não faltaram. 
Recordamos de Rachel de Queiroz que, com apenas dezessete anos, enviou uma carta ao jornal O Ceará, ironizando determinado concurso. O sucesso foi tão grande que ela foi convidada a colaborar com aquele veículo da imprensa. Durante trinta e um anos foi cronista exclusiva da extinta revista O Cruzeiro. Enquanto o Brasil tentava a sua redemocratização, Rachel usou o espaço que dispunha nesse veículo de alcance nacional para conclamar o povo a bem utilizar da sua qualidade de cidadão. Mulher de coragem em tempos tão conturbados, escreveu: 
-Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político, que se chama governo democrático, ou governo do povo. Em política, a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de fazer o governo. Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vai governar por determinado prazo de tempo. Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas – e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia. E conclui: Votem, irmãos, votem... Mas não se esqueçam de que dentro da cabine indevassável vocês são homens livres... O voto é secreto. 
 * * * 
Sim, escritores os há muitos. Também brasileiros de valor que se preocuparam e se preocupam com os destinos da Pátria do Cruzeiro. Por amá-la, a desejam grandiosa, livre, vitoriosa. E felizes os seus filhos, com direito de trabalhar e progredir. Unamo-nos a eles, realizando a parte que nos cabe. 
Redação do Momento Espírita, com frases da crônica Votar, de Rachel de Queiroz, da revista O Cruzeiro, de 1947. Em 8.2.2013.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

PREVISÕES QUE DERAM ERRADO

Como lidamos com os obstáculos que o mundo apresenta em nossa caminhada? 
Como recebemos as oposições das pessoas, em relação a nossas habilidades, ao nosso potencial? 
Do que realmente somos capazes? 
Alguns casos célebres de previsões e julgamentos do mundo que deram errado, talvez possam iluminar estas reflexões e inspirar nossa jornada: 
Após o primeiro teste cinematográfico de Fred Astaire, o memorando do diretor de testes da MGM, datado de 1933, dizia assim: 
-Não sabe representar! Ligeiramente calvo! Dança um pouco.
Astaire conservou este memorando pendurado sobre a lareira, em sua casa em Beverly Hills. 
Beethoven segurava o violino desajeitadamente, e preferia tocar suas próprias composições, ao invés de aperfeiçoar sua técnica. Seu professor julgava-o um compositor sem futuro. 
Os pais do famoso cantor de ópera Enrico Caruso queriam que ele fosse engenheiro. Seu professor lhe disse que ele não tinha voz e que não poderia cantar. 
Um dos professores de Albert Einstein o descreveu como: 
-Mentalmente lento, insociável e eternamente mergulhado em seus sonhos imbecis. 
Louis Pasteur foi apenas um aluno mediano nos estudos do ensino fundamental. Ficou em décimo quinto lugar entre os vinte e dois alunos de química. 
Dezoito editores recusaram a história de dez mil palavras de Richard Bach sobre a gaivota sublime. Finalmente, em 1970, uma editora resolveu publicá-la. Em 1975, havia mais de sete milhões de exemplares vendidos, apenas nos Estados Unidos. 
 * * * 
Todos esses expoentes mostraram ao mundo que seu julgamento estava errado. Mostraram que somos nós apenas, na intimidade de nossa força de vontade, de nosso brilhantismo secreto, os únicos aptos para saber do que realmente somos capazes. Os julgamentos do mundo, das pessoas, são completamente insuficientes para avaliar o que somos verdadeiramente. Avaliam situações momentâneas, cenas estanques, experiências isoladas, mas nunca aquilatam a potencialidade da alma. Assim, todos esses gênios e tantos outros anônimos na Terra, de tempos em tempos surpreendem o mundo com seu esplendor. Ninguém melhor do que eles conheceram a palavra obstáculo. Mas, certamente, não encararam as adversidades, as barreiras, como a maioria de nós ainda as enfrenta. Onde ainda vemos impedimento, oposição, eles veem superação, veem oportunidade. Oxalá se faça próximo o dia em que possamos olhar para trás, em nossas vidas, após uma grande conquista, e dizer: O mundo estava errado. Eu fui capaz. Celebremos a auto-superação sempre que possível. Instauremos este hábito em nossos filhos desde pequenos, mostrando-lhes que as derrotas fazem parte do caminho, e que, ao invés de nos puxar para trás, quando bem compreendidas, nos impulsionam para frente. E quando das vitórias, ao invés de erroneamente inflar-lhes o orgulho, fazendo comparações tolas com os outros, lembremos de lhes mostrar que estão melhores do que eram, e que isso é o mais importante. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 7, ed. FEP. Em 16.1.2017.

domingo, 15 de janeiro de 2017

A CORAGEM DA FÉ

Em várias passagens do Evangelho, Jesus salienta a importância da coragem de testemunhar a própria fé. Por exemplo, em determinado ponto da narrativa evangélica, o Cristo afirma que ninguém deve se envergonhar Dele e de Suas palavras. Das exortações do Mestre, extrai-se que não basta crer em algo. O homem deve viver na conformidade de suas crenças. Esposar um ideal é muito pouco. É necessário ser fiel a esse ideal. Em um mundo corrompido, a fidelidade a uma concepção de vida mais pura não costuma ser fácil. Os exemplos que se recebe diariamente são bastante tristes. A Humanidade vive um período de grave crise moral. Sob o nome de liberdade, impera a libertinagem. A título de diversidade de costumes, as criaturas se permitem os mais estranhos desregramentos. Há inúmeros desonestos ocupando elevados cargos e vivendo no luxo. Seres viciosos posam de modelo para a sociedade. Muitos artistas bonitos, mas levianos e desequilibrados, ditam modas e tendências de comportamento. A promiscuidade e a troca constante de namorados ou esposos não mais chocam. Nesse contexto, ser sóbrio, trabalhador, honesto e responsável parece quase exótico. O homem pouco reflexivo pode se sentir tentado a seguir a “onda da modernidade”. Entretanto, é preciso ponderar um pouco. Hábitos que destroem a integridade física e psíquica, o lar e a própria dignidade de quem os adota não podem ser saudáveis. A corrupção dilacera a sociedade. Ela implica o desvio de dinheiro que poderia salvar e melhorar inúmeras vidas. A promiscuidade sexual deixa um rastro de desencanto e doença nas vidas de quem a adota. Perante um Mundo conturbado e violento, o homem precisa refletir a respeito de seus ideais. Quais são os valores que se consideram necessários para uma vida harmoniosa e saudável? Identificados esses valores, impõe-se a fidelidade a eles. O que não vale é viver ao sabor das circunstâncias, como um animal que se guia pelo movimento da manada. A inteligência é um dom precioso demais para ser desperdiçado. Urge lançar um olhar crítico sobre os hábitos da sociedade e meditar sobre eles. Se todos adotarem determinado padrão de comportamento, será possível uma convivência pacífica e proveitosa? Certo naipe de conduta é louvável? Seria agradável ver os próprios filhos ou pais vivendo de forma destrambelhada? Ou ver um ente querido sofrendo as conseqüências da conduta inconseqüente de outrem? O que não é bom e honroso, o que torna infelizes os outros deve ser combatido. Aí surge a necessidade de ser corajoso. Viver de acordo com padrões mundanos é fácil. Difícil é esposar ideais nobres e viver com nobreza. Ser fiel a um Ideal não implica tornar-se conversor compulsório dos semelhantes. A liberdade de consciência é um imperativo da vida em sociedade. Entretanto, respeitar a liberdade dos outros não significa ser conivente com seus equívocos. Para viver em paz é necessário aprender a conviver com o diferente. Mas viver pacificamente não é sinônimo de ser passivo. Em certos momentos, a omissão é um escândalo. Sempre que chamado a dar opinião sobre uma questão ética, é importante ser honesto, embora mantendo a gentileza. Se a opinião não agradar, paciência. Perante condutas que prejudicam inocentes ou o patrimônio público, deve-se atuar na defesa do bem e da ética. Em todo e qualquer caso, agir corretamente, mesmo em prejuízo dos próprios interesses imediatos. Uma vida honrada é o maior e mais corajoso testemunho que um homem pode dar de suas crenças. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Quem de nós é o maior?

AMÉLIA RODRIGUES
Jesus era possuidor de paciência e compreensão inigualáveis. Ouvia as questões mais simples com atenção e, em cada oportunidade, deixava lições profundas, completas, que poderiam ser entendidas naquele momento, bem como servirem aos séculos vindouros. Certa feita escutou os discípulos discutindo entre eles, sobre qual seria o maior, o mais amado, o de importância mais significativa. Todos reconhecemos que João é distinguido pelo vosso amor; Pedro é merecedor da mais expressiva confiança; Judas guarda as moedas e se encarrega do controle das nossas modestas finanças... E os demais? Que somos e que papel desempenhamos no grupo? Afinal, qual de nós é o maior? Certamente se sentiram constrangidos pela disputa, mas como ela aconteceu, era justo serem honestos, libertando-se das dúvidas. Jesus envolveu-os na luz da compaixão, e com a sabedoria habitual, respondeu-lhes: O grão de mostarda, menor e mais insignificante que qualquer outra semente, reverdece com o mesmo tom o solo abençoado pelo trigo vigoroso. O fruto do carvalho desenvolve a árvore grandiosa que nela jaz, assim como o pólen quase invisível de todas as flores, se encarrega de transmitir beleza e perpetuar a espécie em outras plantas. Todos são importantes na paisagem terrestre. O grão de areia se anula ante outro para construir a praia imensa, que recebe o carinhoso movimento das ondas arrebentando-se no seu leito reluzente. Tudo é importante diante de Meu Pai, não pela grandeza, mas pelo significado de que cada coisa se reveste para a utilidade da vida. 
 * * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Nos dias atuais, em que ainda tanto se faz questão de ser o melhor, o mais importante, o número um, precisamos refletir sobre as orientações do Cristo. A competição desenfreada tem nos feito escravos do sucesso e das aparências. A vaidade tem ditado as regras em todas as áreas, transformando algumas em mais importantes que outras, por questões puramente materialistas. Julga-se a importância dessa ou daquela atividade, por sua visibilidade na mídia, ou por sua remuneração material. O mundo moderno e seus valores descabidos parece muito semelhante à conversa dos discípulos em torno de quem seria o mais amado. Desejamos ser amados, desejamos preencher essa carência, esse vazio existencial que nos incomoda tanto, mas não sabemos como. Jesus já havia dado a resposta naqueles idos tempos... Além de dizer que todos são importantes, disse ainda que entre os homens, o maior sempre seria aquele que se esquecesse de si mesmo, tornando-se o melhor servidor. Seria aquele que não se cansasse de ajudar, de cooperar com os outros. É sempre bom ouvir o Mestre, que permanece atual, que permanece nos esperando como Aquele que oferece o caminho da Verdadeira Vida. 
Redação do Momento Espírita, com base no capítulo A importância de ser pequeno, do livro Até o fim dos tempos, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 13.1.2017.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

CORAÇÕES DISTANTES

Meher Baba
Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos: 
-Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas? 
-Gritamos porque perdemos a calma. Disse um deles. 
-Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?
Questionou novamente o pensador. 
-Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo. 
E o mestre volta a perguntar: 
-Então não é possível falar-lhe em voz baixa? 
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador. Então ele esclareceu: 
-Vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir essa distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.  
Por fim, o pensador conclui, dizendo: 
-Quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta. 
 * * * 
Quando você for discutir com alguém, lembre-se de que o coração não deve tomar parte nisso. Se a pessoa com quem discutimos não concorda com nossas ideias, não é motivo para gostar menos dela ou nos distanciar, ainda que por instantes. Quando pretendemos encontrar soluções para as desavenças, falemos num tom de voz que nos permita uma aproximação cada vez maior, como a dizer para a outra pessoa: 
-Eu não concordo com suas ideias ou opiniões, mas isso não me faz gostar menos de você. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em ensinamento atribuído ao pensador indiano, Meher Baba. Disponível do livro Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. Em 09.03.2012.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

UM CORAÇÃO SOLIDÁRIO

Tom Crabtree
O progresso tecnológico trouxe para a Humanidade uma série de benefícios, isso é indiscutível. Por um lado isso é bom, mas por outro, deixa as pessoas menos sensíveis, menos humanas, mais indiferentes. As Instituições seguiram pelo mesmo caminho e foram se tornando frias, embora eficientes. Mas esse problema não passou despercebido aos olhos do jovem psicólogo inglês, Tom Crabtree. Ele estava sempre disposto a entender quando as pessoas precisavam dele para dividir suas dores. E compreendia também que nem sempre falar é a melhor solução. Conta ele que, logo que iniciou sua carreira profissional, numa clínica de orientação para crianças, no Noroeste da Inglaterra, certo adolescente chegou para vê-lo. Ele foi até à recepção e percebeu o rapaz que andava de um lado para o outro, agitado e assustado. Levou-o até sua sala e lhe indicou a cadeira do outro lado da mesa. Era fim do outono. A árvore em frente à janela não tinha folhas. 
-Sente-se, disse ao jovem. 
David vestia uma capa preta impermeável, abotoada até o pescoço. O rosto estava pálido. Torcia as mãos com nervosismo e olhava fixamente para os pés. Seu pai falecera quando era bebê. Foi criado pela mãe e pelo avô. Mas no ano anterior, quando David tinha 13 anos, o avô faleceu e a mãe morreu num acidente de carro. Agora, com 14 anos, estava em tratamento. O diretor da escola o havia encaminhado, com um bilhete: 
-Este garoto encontra-se muito triste e deprimido, o que é bastante compreensível. No entanto, ele se recusa a falar com quem quer que seja. Estou muito preocupado. Você pode ajudar? 
O jovem psicólogo olhou para o garoto. Como poderia ajudá-lo? Há tragédias humanas para as quais a psicologia não tem respostas, para as quais não há palavras. Às vezes, ouvir com toda a atenção e sentimento é o mais apropriado, pensou. Nas duas primeiras visitas, David não falou. Afundado na cadeira, só levantava os olhos para fixá-los nos desenhos infantis que decoravam a parede. Quando David saía do consultório, após a segunda sessão, Tom colocou a mão sobre o seu ombro. O garoto parou. Não se retraiu, mas, ainda assim, não olhou para o psicólogo. 
-Venha na próxima semana, se quiser, disse Tom. 
Fez uma pausa e acrescentou: 
-Sei que é doloroso. 
David veio e Tom sugeriu que jogassem xadrez. O rapaz fez que sim com a cabeça. Os jogos de xadrez continuaram todas as quartas-feiras à tarde, em silêncio total e sem contato visual da parte do garoto. Embora não seja fácil trapacear no xadrez, Tom fazia o possível para que David ganhasse uma ou duas vezes. O menino chegava cedo, procurava o tabuleiro e as peças na estante. Começava a arrumá-las antes mesmo que Tom sentasse. Parecia estar gostando da ideia. 
-Mas por que nunca me olha? 
Pensava Tom. 
-Talvez ele precise simplesmente de alguém com quem dividir a dor. Talvez sinta que respeito a dor dele. Concluiu. 
Numa tarde, quando o inverno dava lugar à primavera, David tirou a capa e a colocou nas costas da cadeira. Enquanto arrumava as peças do jogo de xadrez, seu rosto parecia mais animado, os movimentos mais vivos. Alguns meses depois, quando flores já recobriam a árvore lá fora, Tom olhava David enquanto ele se inclinava sobre o tabuleiro. Pensava que pouco se sabe sobre terapia, sobre os misteriosos processos de cura. De repente, o garoto levantou os olhos e disse: 
-Sua vez. 
Depois disso, David começou a falar. Fez amigos na escola e entrou para o clube de ciclismo. Um dia, chegou um cartão postal de David que dizia: 
-Estou passeando de bicicleta com amigos e me divertindo muito.
Tempos depois Tom recebeu uma carta em que David falava que pretendia ir para a Universidade.
 * * * 
Tom ofereceu algo a David, mas certamente aprendeu como o tempo pode tornar possível superar o que parece dolorosamente insuperável. Aprendeu, ainda, como estar presente quando alguém precisa dele. E que se pode entrar em contato com outro ser humano sem usar palavras. Só é preciso um abraço, um toque gentil, um ouvido atento, um coração solidário. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Alguém para ouvir, da Revista Seleções Reader’s Digest, de março de 1998. Em 08.10.2010.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

CORAÇÃO DO MUNDO

Andrey Cechelero
Coração do mundo, pulsa... 
Pulsa e empurra tua seiva de vida para todos os cantos dessa terra. 
Para as almas cansadas de guerra, para os corpos caídos no chão. 
Coração do mundo, pulsa... 
Celebra o áureo raiar de uma nova era. 
Celebra a fraternidade e a diversidade. 
Leva o sorriso a quem ainda tem medo de sorrir, e aos galhos secos, o verde da afetividade. 
Coração do mundo, descobre tua missão bendita. 
Coração do mundo... 
Pátria do Evangelho, Brasil. 
 * * * 
O Espírito Humberto de Campos, respeitado jornalista e escritor brasileiro, homem da Academia Brasileira de Letras, é escolhido pela Espiritualidade para trazer ao mundo uma obra de extrema importância. Pela mediunidade luminosa de Francisco Cândido Xavier, nasceu em 1938, o livro Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho. A obra trata essencialmente da missão espiritual da pátria brasileira. O Brasil é escolhido por Jesus para reviver Seu Evangelho primitivo, sem as deturpações que o fizeram sair de seus objetivos principais, ao longo dos séculos pretéritos. O país do Cruzeiro recebe o título de coração do mundo, pois passa a abrigar e a acolher muitos Espíritos que, após inúmeras encarnações na Terra, ainda não haviam encontrado o caminho do bem, do acerto. Seres muito inteligentes, seres com vastas experiências na civilização europeia, sobretudo, mas que se haviam perdido por conta do mau uso da inteligência, do mau uso das suas potencialidades. Na nova terra, teriam a oportunidade de refazer seus destinos e encontrar sua redenção. O coração do mundo acolheu, assim, os que faliram, os que vêm de séculos de abuso de poder, abuso do dinheiro, abuso das energias sexuais... O coração do mundo passou a ser símbolo da diversidade, pois aqui aprendemos a conviver com o diferente, de forma toda especial. O brasileiro é uma mistura de muitas raças, de muitas culturas, de muitas religiões, e todas elas têm sua importância. Com o passar dos anos vimos edificando essa árvore do Evangelho... Que ainda não está madura, exuberante, mas que carrega um potencial de beleza inimaginável. As estatísticas mostram a relação do brasileiro com o Cristianismo e como ele é forte e diferente de todo o restante do globo. Temos a chance de mostrar ao mundo o Cristianismo da fraternidade, do amor ao próximo, da tolerância racial, da aceitação das diferenças. Esse é o tronco da árvore do Evangelho de Jesus, independente da religião que abracemos, independente dos rótulos que exibamos. Aí está o Brasil espiritual, o Brasil luminoso, que não precisa ser a primeira economia, o primeiro em consumo, o primeiro nas competições materiais da Terra. Ser grande em amor já nos basta...
 * * * 
Coração do mundo, pulsa...
Celebra o áureo raiar de uma nova era.
Celebra a fraternidade e a diversidade.
Leva o sorriso a quem ainda tem medo de sorrir
E aos galhos secos, o verde da afetividade.

Redação do Momento Espírita com trechos do poema Coração do Mundo, de Andrey Cechelero. Em 6.12.2013