sexta-feira, 4 de setembro de 2015

APRENDENDO COM AS ÁRVORES

Olavo Bilac
O poeta Olavo Bilac, em poucos versos, nos convida a olharmos as árvores, as velhas árvores, tanto mais belas quanto mais antigas, vencedoras da idade e das procelas. As árvores têm muito a nos ensinar. Uma das suas grandes lições é sua capacidade de adaptação. Elas tanto crescem num cantinho do quintal, a partir de um caroço que foi jogado a esmo quanto, inconformadas, destroem a calçada de concreto com a força das suas raízes. Na juventude, se dobram, ao sabor dos ventos fortes, vergam como em um grande exercício de flexibilidade. Depois, passada a tormenta, ei-las de tronco ereto. E, com o passar dos anos, vão se deixando enrijecer, alargando aqui, rompendo outros galhos logo acima, enriquecendo a cabeleira frondosa e amiga. Copa de sombra. Ninho de tantos pequenos alados. Alegria da criançada que adora se aninhar aqui e ali, para observar a paisagem de melhor ângulo. Ou amarrar cordas para um balanço. Ou montar uma casa ali mesmo, nas alturas. Ou, simplesmente, subir até onde possa para saborear os frutos, diretamente da generosa fonte. Caprichosas, as árvores se enchem de flores, explodindo em cores. E, para que todas possam ter seu momento especial de desfile, elas se revezam no calendário. As quaresmeiras roxas em março, os ipês rosa em julho, os jacarandás mimosos, com sua chuva lilás, em novembro. Ainda se permitem servir de palco e auditório para a passarinhada que, mesmo nas grandes cidades, canta acima de todos os decibéis dos carros do trânsito alucinado. Velhas árvores amigas, veem as gerações se sucederem. Observam a criança crescer, amadurecer. Acompanham-lhes os filhos que, também, delas irão se servir. Servir da sombra, dos frutos, das flores. Envelhecem com dignidade, não se esquecendo de romper em flores, em frutos, em atapetar o chão com maestria, em derrubar alguns dos frutos maduros para adubar o chão. Velhas árvores amigas... Não temem ver seus galhos se retorcerem e seu tronco ficar enrugado. A cada ano, encontram forças e ofertam o melhor de si: as frutas mais doces, mais coloridas, que se tornam as mais cobiçadas. Como se fossem se aprimorando, no transcorrer dos anos, esmeram-se na produção: frutos mais graúdos e mais saborosos. Velhas árvores. Tão sábias. Quando chega o outono, trocam a roupagem, aproveitando as cores estonteantes e absurdas da estação. E se fazem mais admiradas. E quando o enregelante inverno chega, consumindo-lhes a folhagem, ficam ali, recolhem-se para dentro de si mesmas. Hibernam. E basta um leve toque de sol, um aceno suave da primavera, para se espreguiçarem, alongarem os galhos e despertarem em botões. Sem reclamações da invernia, do rigor dos ventos, das tempestades enfrentadas. Tudo serviu para mais fortalecê-las. E prosseguem, servindo, nenhuma desejando ser como a outra. As amoreiras dão amoras, as jabuticabeiras penduram seus frutos no tronco, as uvas formam cachos caprichosos. Nem inveja, nem imitação, nem orgulho. Apenas cumprimento do dever. Alegria de servir. Aprendamos com as árvores. Despojemo-nos do orgulho e do egoísmo. Sirvamos sorrindo, reclamemos menos e produzamos mais, com o que temos, onde estamos. 
Redação do Momento Espírita, inspirado no texto Minha árvore, meu amor, de Roberta Faria, da revista Sorria, de abril/maio 2015 e versos da poesia Velhas árvores, de Olavo Bilac. Em 6.7.2015.

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