sábado, 4 de abril de 2015

AMOR A DOIS

Carlos Drummond de Andrade
Numa época, qual a que vivemos, em que o número de separações, divórcios e desvinculações afetivas supera o número dos casamentos, falar a respeito do verdadeiro amor parece ser quase uma loucura. Mas, possivelmente, por termos esquecido o que ele seja e como deva ser trabalhado, é que as estatísticas se apresentem tão tristes. Por isso, é bom termos em mente que o amor a dois começa quase sempre numa troca de olhares, em que a tônica mais forte é o brilho intenso, demonstrando a chama interna que aguardou, desde muito, aquele momento. O amor começa quando se encontra alguém e esse alguém quase nos faz parar o coração por alguns segundos, para depois desandar num ritmo tão acelerado, que nos recorda o tropel de corcéis selvagens em extensa campina. Os olhos se enchem de lágrimas à simples visão do outro e, tudo que se refere a ele parece ter um toque de magia. Quando o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar junto chegar a apertar o seu coração, não deixe de agradecer a Deus pelo presente divino. O amor chegou. Se um dia você tiver que pedir perdão ao seu par por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos; se os gestos valerem mais que mil palavras, tenha certeza: a chama do amor está bem acesa. Se, por algum motivo, a tristeza envolver os seus dias, se você tiver um revés e o seu amado sofrer com seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, guarde a certeza de que você poderá contar com ele em qualquer momento de sua vida. Porque ele ama você. Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas, chinelos de dedo e cabelos emaranhados... Se, na ausência dela, de olhos fechados, você conseguir senti-la ao seu lado... Se você ficar ansioso pelo encontro que está marcado à noite, depois de vários anos de consórcio matrimonial... Se você não consegue se imaginar sem o apoio daquela pessoa a seu lado... Se você tiver a certeza de que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção de que vai continuar querendo e amando... Se você preferir doar a sua vida, antes de ver a outra partindo... É o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva. É um dom. É uma conquista. Existem pessoas que se apaixonam muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou, às vezes o encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem permitir que aconteça na totalidade. Por isso, viva com atenção. Esteja atento aos sinais. Não deixe que as loucuras do dia a dia o ceguem para o que há de melhor na vida: o amor. 
* * * 
Não se canse de amar e permita-se amar. Cultive o amor a dois, para que ele possa se multiplicar na bênção dos filhos e se ramificar, nos anos da velhice, aconchegando os netos. Ame todos os dias, mas nunca o demonstre da mesma maneira. Modele gestos, inclua novas atitudes, surpreenda, tempere-o sempre com o sabor de novidade. E, se tudo isso lhe parecer inusitado, diferente, comece hoje a cultivar o amor a dois, na intimidade do seu lar, para sua e felicidade de seu par, para alegria de seus filhos e consolidação do seu lar. 
Redação do Momento Espírita, com base na poesia O amor, de Carlos Drummond de Andrade. Em 8.8.2014.

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