segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

UM HOMEM DIFERENTE

Thrity Umrigar
O que faz que uma pessoa se destaque, no contexto social? 
Dirão alguns, talvez, que a soma dos valores que detém em contas bancárias, aplicações, rendas, bens móveis e imóveis. 
Poderão pensar outros que o destaque se pode dar no ambiente artístico, cultural, político. 
A pessoa também poderá se destacar pela inteligência, pela visão de mundo, adiante de seu próprio tempo. 
Ou pela beleza, pelo porte, pelo discurso fácil, ágil, atilado. 
No entanto, o maior destaque, com certeza, é no campo moral. 
A intimidade do ser. 
Porque alguém pode ser muito rico, belo, de discurso impecável, um cientista, uma alta inteligência e ser moralmente pobre. 
Na atualidade, o tom dominante parece ser o de fazer o que todos fazem. 
Assim, os homens desejam mostrar virilidade, sendo comandantes de sua própria casa. 
As mulheres desejam demonstrar que são belas e desejadas, que jamais a solidão as haverá de abraçar. 
E assim por diante... 
Dizemos que isso faz parte da cultura do país onde se vive, do mundo onde nos movemos. 
Será que não podemos destoar do comum? 
Será que não podemos nos destacar, exatamente por sermos diferentes? 
Na Índia, entre os parses, a mulher é educada para servir ao homem. 
Ela deve lhe dar muitos filhos, pois se assim não for, significa que algo errado existe na relação matrimonial.
Ela deve ser-lhe a servidora, preparando-lhe os pratos de arroz, lentilhas, carnes, a cada dia. 
Deve zelar pela sua roupa, porque ele precisa parecer impecável aos olhos do mundo. 
Pois aquela mulher nascida em Calcutá se apaixonara por um jovem de Bombaim. Conhecera-o em casa de uma amiga, em uma festa. Pouco mais de quatro meses depois, estava casada. Logo que os dois se casaram, ela havia insistido em passar a ferro as camisetas finas para ele. Ele, no entanto, fincara pé e lhe dissera que se casara com ela por amor e para ter a sua companhia. Se desejasse simplesmente alguém que lavasse e passasse a sua roupa teria se casado com quem trabalhava exatamente para cuidar do seu vestuário. Seu senso de justiça, sua indignação moral diante do status inferior das mulheres, entre os seus, era inigualável. Mais de uma vez a jovem sentira a inveja das amigas. 
-Qual é o segredo? Indagavam-lhe. 
-Como foi que você o treinou tão bem? 
Mas ela dizia que nada tinha a ver com isso. Ele chegara a ela desse jeito. 
-Ele é a pessoa mais justa que eu conheço. Acredita na igualdade de direitos para as mulheres. 
* * * 
Um homem diferente, destoando entre os de sua estirpe.
Dentro de sua própria comunidade. 
Isso nos diz que não importa onde vivamos, a cultura que se nos impõe. 
Cada qual pode, dentro de seus parâmetros de justiça e moral, ser diferente. 
Destoar para melhor. 
Ser uma flor perfumada, colorida, num campo cinzento de erva seca e dura. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, a partir de informações colhidas no livro A doçura do mundo, de Thrity Umrigar, ed. Nova Fronteira. 
Em 21.1.2020.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O HOMEM DE NAZARÉ

Vinte séculos já se escoaram no tempo. 
Ao finalizar-se o último milênio, a figura de Jesus foi muito lembrada. Ao mesmo tempo, contestada. Ainda existem pessoas que afirmam que Ele jamais existiu. E procuram algumas anotações distorcidas da História, para justificarem a sua tese. Contudo, quem, na História do mundo, realizou o que Ele fez, em tão pouco tempo e com tão pouco? 
Ao nascer, não tinha sequer um berço e Lhe foi improvisada uma manjedoura, onde os animais buscavam o alimento. Os primeiros momentos da Sua vida passou em um estábulo, entre o calor dos animais e o amor dos pais. O teto não Lhe pertencia. Na infância, esteve no Egito, na qualidade de estrangeiro, submetendo-Se às leis dos homens. Depois, de retorno a Nazaré, viveu no lar humilde de um carpinteiro, moldando com Suas mãos a madeira para a transformar em mesas, bancos, utensílios vários. Ao iniciar o Seu messianato, entre os homens, escolheu doze trabalhadores do povo. À exceção de um deles, Mateus, todos os demais, homens rudes, acostumados à lide com redes e comércio. Não dispunha de recursos amoedados. Pregava à beira do lago, nas praças, nos vilarejos. Utilizava-Se das oportunidades nas sinagogas e no templo. Os exemplos, para a pregação do Reino que vinha implantar no coração dos homens, colhia das coisas simples, mas expressivas, da natureza. Um grão de mostarda para lecionar o tamanho da fé que remove montanhas. Uma figueira que se negava a dar frutos, desatendendo a sua missão, para dizer da necessidade de se produzir sempre. Flores do campo e aves do céu para ensinar a lição inigualável da Providência Divina, que por todos vela. Ovelhas para falar de mansidão e da preocupação do pastor para com cada uma delas. Pérolas para dizer da preciosidade das lições que Ele trazia do Pai para a Terra. Sementes, campos férteis e terras áridas para Se referir ao próprio coração humano ao qual Se dirigia. Falou de justiça numa Terra cansada de injustiças sociais. Trouxe a lição da não violência, num mundo envolvido em muitas guerras. Ensinou que o Divino Criador é Pai de todos, sem diferença de nacionalidade ou condição social. Ninguém disse o que Ele disse e da forma que O fez. E até hoje, ninguém teve o Seu aniversário comemorado, todos os anos, pelo mundo todo, durante mais de dois mil anos. 
* * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Jesus é o mais notável Ser da História da Humanidade. 
A Sua vida e a Sua obra são as mais comentadas e discutidas dentre todas as que já passaram pela cultura e pela civilização, através dos tempos. 
O Seu Testamento, o Evangelho, é o mais belo poema de esperanças e consolações de que se tem notícia. 
Ainda hoje, a Sua voz alcança os ouvidos de todos aqueles que sofrem, ou que aspiram pelos ideais de beleza e de felicidade, os que aguardam por melhores dias. 
O Seu convite é para o prosseguimento da autosuperação, na rota da perfeição. 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais colhidos na apresentação do livro Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Disponível no CD Momento Espírita Especial de Natal, v. 15, ed. Feb. 
Em 19.11.2012.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

O HOMEM DE JERICÓ

Jericó era um oásis. 
O seu clima suave e tépido era propício para fartos pomares, roseirais e palmeiras. Era ali que morava Zaqueu. Era um coletor de impostos para o Império Romano. Também tinha seus lucrativos negócios. Zaqueu e sua mulher viviam isolados da vida social de Jericó. Quando davam festas, os únicos convidados eram sempre os parentes e os funcionários da alfândega. Extremamente rico, ele tinha uma consciência de inferioridade, face ao tratamento que recebia do seu povo. Todos o desprezavam porque trabalhava para o opressor romano. Sua consciência lhe dizia que nunca prejudicara a ninguém, pois que procurava ser justo. Então, às vésperas da Páscoa, se espalhou a notícia de que o Rabi da Galileia, a quem chamavam Jesus de Nazaré, chegaria a cidade. Zaqueu ouvira falar dEle e uma secreta simpatia o invadira. Aquele era o Homem que dizia que todos dever-se-iam amar como irmãos, que comia à mesa dos publicanos e se misturava com o povo. Junto a numerosas pessoas, ele foi receber Jesus à entrada da cidade. De pequena estatura, gordo, pernas curtas, por mais se pusesse na ponta dos pés, não conseguia ver coisa alguma. Ofereceu moedas a um homem para que lhe vendesse um jumento. Pensou que subindo nele, talvez pudesse enxergar. Mas o homem desprezou o seu dinheiro. Pediu a um homem muito alto que o erguesse, em troca de sua bolsa cheia de moedas. Em vão. Empurrado e pisado pela multidão, finalmente Zaqueu conseguiu ver, à beira da estrada, uma árvore. Era uma mistura de figueira e amoreira, um sicômoro, com raízes grossas para fora da terra. Mais do que depressa, nela subiu e sorriu feliz. Dali, ele podia ver o Mestre se aproximando. E uniu a sua voz a de todos os demais, gritando hosanas a Jesus. Quando o Mestre passou pela árvore, olhou para cima e ao ver aquele homem agarrado aos galhos, como se fosse um fruto, lhe disse: 
-Zaqueu! Desce depressa, porque hoje me convém pernoitar em tua casa. 
O homem desceu rápido, correu para casa para, junto com a mulher, preparar o melhor para o conviva. Na sua intimidade dizia que não era digno que criatura de tão nobre estirpe entrasse em sua casa. Mentalmente, reviu os negócios. Teria lesado alguém? Teria recebido a mais? Talvez tivesse comprado terras a preço irrisório e as vendido com lucro excessivo. Sente-se atormentar. Quando observa o Amigo chegando, acompanhado por grande multidão, vai ao encontro dEle e exclama:
-Senhor, eis que dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado! Entra na minha casa! 
Jesus sorriu, um riso leve e bom como um sopro de amor. 
-Hoje - disse suave - veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. 
Narram tradições evangélicas que, anos mais tarde, Simão Pedro convidou o antigo publicano a dirigir florescente comunidade cristã, nas terras de Cesareia. E Zaqueu, rico de amor e humildade, foi servir a Jesus, servindo aos homens. 
* * * 
Somos muitos os que aguardamos por Jesus, nas estradas amarguradas em que nos encontramos.
Atendamos ao chamado e nos tornemos criaturas felizes.
Sirvamos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 18, do livro Vida e mensagem, pelo Espírito Francisco de Paula Vitor, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 23.10.2015.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

OS DIAS DE NOSSA INFÂNCIA

Aprendemos, com os instrutores espirituais, que a infância se constitui em período de repouso para o Espírito. Vindos do mundo espiritual, retornamos à cena no palco da vida física. Trazemos as conquistas realizadas, em existências anteriores. E todos passamos pelo período da infância, que se reveste de muita importância. É nesse período que se nos alicerçam as virtudes e que a educação realiza o seu grande papel. O Espírito é mais acessível durante esse tempo às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação. É também um período mágico em que acreditamos que tudo é possível. Por isso sonhamos tanto, por isso a magia, o encanto são companhias constantes. Quem de nós não recorda de lances desse período e, ao mesmo tempo, das peraltices, das brincadeiras, no tempo em que os celulares e os games não faziam parte do universo infantil. 
O poeta Casimiro de Abreu cantou em versos as saudades da sua infância. As tardes fagueiras, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais. Ia colher as pitangas; trepava a tirar as mangas; brincava à beira do mar. 
De um modo geral, são salutares as lembranças desse período em que achamos o céu sempre lindo, em que adormecemos sorrindo e despertamos a cantar. Interessante notarmos que quanto mais avançam os anos, mais nos afloram as lembranças daqueles dias de despreocupação, em que corríamos pelas campinas, cabelos soltos ao vento. Tempo em que andávamos descalços, sentindo a terra molhada, a grama fazendo cócegas nos pés. Tempo em que subíamos em árvores, em muros, sem nos importarmos com a altura. Tempos em que vivíamos com o joelho ralado, o braço esfolado, as mãos machucadas. O nosso desejo era explorar, conhecer, experimentar. 
Segundo Jean Piaget a infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano. Possivelmente, nenhum de nós tenha pensando que chegaria onde se encontra. Sonhamos, idealizamos, mas, no final, a vida nos conduz para outros caminhos e trilhamos outras estradas. 
O importante é que aqui nos encontramos, vivendo o hoje. Vencemos os dias primeiros da infância e os vivemos com intensidade. Correndo ao sol ou debaixo da chuva, divertindo-nos na tentativa de fugir aos pingos grossos, como se pudéssemos andar entre eles. 
Dias gloriosos cujas lembranças nos sustentaram através dos anos da juventude, da madureza. 
Dias lembrados, com certa nostalgia. 
Uma saudade cálida, doce, de algo intensamente vivido. E com imensa gratidão. 
Gratidão por todos aqueles que fizeram a diferença em nosso caminho. 
Os que nos desvendaram o mistério das letras, dos números, os que nos ilustraram em outro idioma além do pátrio. 
Aqueles que nos ensinaram a reverenciar os símbolos nacionais, a amar esta terra que, no dizer do poeta Olavo Bilac, não veremos outra igual! 
Os que nos ensinaram que, acima de todos nós, a imensa família universal, há um Pai Amoroso e Bom, cujo Amor nos criou e nos sustenta. 
Um Pai que nos ama e que aguarda nosso retorno ao lar paterno, com o livro da vida assinalado: Vitória! 
Redação do Momento Espírita, com transcrição da questão 383, De O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB e versos da poesia Meus oito anos, de Casimiro de Abreu, do livro Poesias completas de Casimiro de Abreu, de Murillo Araújo, ed. Ediouro. 
Em 25.2.2022.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

UM HOMEM DE DECISÃO

Walter Elias Disney
No dia 5 de dezembro de 1901, na cidade de Chicago, nascia o maior gênio do desenho animado de todos os tempos, Walter Elias Disney, quarto filho de uma família pobre. Walt Disney, como é conhecido no mundo inteiro, foi um homem que sempre acreditou em seus sonhos e fez de tudo para realizá-los. Decisão, vontade, persistência e muita criatividade eram as virtudes mais marcantes daquele homem que construiu um império, tendo como capital inicial apenas o seu talento artístico. Seu lema era: Se nós podemos sonhar, nós podemos fazer. E quem não conhece muitos de seus sonhos que viraram realidade e até hoje encantam adultos e crianças, como, por exemplo, o personagem Mickey Mouse, e Disneylândia, o primeiro parque temático do mundo? Walt Disney não pretendia sensibilizar somente os corações infantis, conforme ele mesmo afirmou, certa feita: 
-Não faço filmes especialmente dedicados às crianças. Chamemos a criança de inocência. Mesmo o pior de nós não é desprovido de inocência, ainda que ela esteja profundamente enterrada. Em minha obra, tento alcançar e falar a essa inocência. 
Walt Disney não se deixou levar pelas circunstâncias desfavoráveis que o rondavam. Um dia resolveu segurar o leme de sua própria embarcação. Eis o que ele escreveu: 
"E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar... Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las. Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução. Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis. Decidi ver cada noite como um mistério a resolver. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz. Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de superá-las. Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir. Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de "amigo". Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida." Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente. Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais. Naquele dia, decidi trocar tantas coisas... Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para se tornarem realidade. E desde aquele dia já não durmo para descansar... simplesmente durmo para sonhar."
* * * 
Certamente, um homem de decisão. 
Um exemplo de perseverança e força de vontade. 
E você, já resolveu tomar o leme da sua embarcação?
Se ainda não, hoje é um bom dia. 
Afinal, se nós podemos sonhar, nós podemos fazer.
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em texto atribuído a Walt Disney. 
Em 9.8.2012.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

MÃOS CONSTRUTORAS

JESUS E CHICO XAVIER
Nada há oculto que não venha a ser revelado. E nada em segredo que não seja trazido à luz do dia. 
As anotações, feitas pelo Evangelista Marcos, reproduzem a fala do Messias para os dias futuros. 
As afirmativas se confirmam, em nossos dias. 
As leis da natureza vão sendo descobertas pelos homens, a pouco e pouco. 
O desenvolvimento da física, da química, da astronomia descerrou véus anteriormente tidos como mistérios insondáveis. 
Produto dos deuses. 
Na cultura nórdica, Thor é o deus consagrado ao trovão e às tempestades. É a divindade mais forte de todos os deuses. 
Entre os celtas, Taranis era um dos deuses mais populares. Deus do fogo e das tempestades. A lenda conta que o barulho do trovão era causado pelas rodas de sua carruagem e a luz dos relâmpagos pelas fagulhas que saltavam dos cascos de seus cavalos. 
Para os romanos, os raios eram lanças poderosas que Júpiter, o rei dos deuses, lançava contra os homens. 
As ciências nos aclaram o entendimento e fomos encontrando as razoáveis explicações para os fenômenos naturais. 
Deixamos de considerar maremotos e tsunamis como manifestações da ira de Netuno, o deus dos mares. 
No entanto, existem detalhes que somente a sensibilidade de nossas almas consegue detectar, surgindo-nos como intuições. 
É assim que compomos canções que se referem a um par de mãos que construiu as montanhas. 
Um par de mãos que formou o mar. 
Um par de mãos que fez o sol e a lua, cada pássaro, cada flor, cada árvore. 
Um par de mãos que formou os vales, os rios, os oceanos e a areia. 
Esses versos representam uma grande verdade. 
Foi às mãos generosas do Senhor Jesus que Deus Pai confiou a bola de fogo, desprendida da nebulosa solar.
Foram as mãos dEsse Governador Planetário que operaram a escultura geológica e grandiosa de nossa morada. 
Será por isso que as grandes montanhas com seus bordados extraordinários nos encantam? 
As cores do solo, das rochas, das milhares de espécies da fauna, da flora. 
Sob Sua direção, legiões de trabalhadores divinos organizaram o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres que a viriam habitar. 
A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na intimidade das energias que vitalizam o organismo do globo. 
No entanto, as almas sensíveis lhe detectaram o trabalho paciente, ao longo dos milênios. 
Por isso, criaram versos e exaltam Suas mãos fortes.
Mãos que nos protegem quando a vida dá errado. 
As mãos de Jesus, o Divino Escultor. Pastor das nossas almas. 
A Ele nos devemos entregar quando as dificuldades nos pareçam difíceis de contornar. 
Quem melhor pode nos acolher, nos atender senão quem conhece, em detalhes, as leis que regem todos os fenômenos da nossa Terra-lar? 
As mãos de Jesus. 
Mãos construtoras, mãos protetoras, mãos que traduzem o amor na beleza dos detalhes de uma Terra que já foi planeta primitivo. 
Que estagia entre os mundos de provas e expiações e se encaminha para a regeneração. Beleza no fogo, na água, nos ares. 
Produto das Celestes mãos. 
Invisíveis. 
Sempre protetoras. 
Mãos de um Divino Escultor. 
Redação do Momento Espírita, com versos da canção One pair of hands, de Billie Campbell e Mann Curtis; no Evangelho de Marcos, cap. 4, vers. 22 e no cap. I do livro A caminho da luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEP. 
Em 23.2.2022.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O HOMEM DE BOA VONTADE

A jovem mãe se aproximou do leito do filhinho. Ela queria tanto que o filho crescesse e concretizasse os seus sonhos. Entretanto, a leucemia o estava matando. Lembrou-se de que, um dia, o filho lhe dissera que queria ser bombeiro, quando crescesse. Ela foi ao Corpo de Bombeiros local, na cidade de Phoenix, Arizona, explicou a situação do filho a um bombeiro de enorme coração, chamado Bob. 
-Seria possível, perguntou, meu filho de seis anos dar uma volta no carro de bombeiros, em torno do quarteirão? 
-Nós podemos fazer muito mais, respondeu Bob. Se estiver com seu filho pronto às sete horas da manhã, na próxima quarta-feira, nós faremos dele um bombeiro honorário por todo o dia. Ele poderá vir ao quartel, comer conosco, sair para atender as chamadas de incêndio. Se você nos der as medidas dele, conseguiremos um uniforme verdadeiro, com chapéu, com o emblema do nosso batalhão, um casaco amarelo igual ao que vestimos e botas. 
Três dias depois, o bombeiro Bob pegou o garoto Billy. Vestiu-o com o uniforme de bombeiro e o escoltou do leito do hospital até o caminhão dos bombeiros. Billy ficou sentado na parte de trás do caminhão e foi levado ao quartel central. Ele estava muito, muito feliz. Acompanhou os três chamados que aconteceram naquele dia e saiu no caminhão tanque, na van dos paramédicos e no carro especial do chefe do Corpo de Bombeiros. Até foi filmado pelo programa de televisão local. Com o seu sonho realizado, Billy ficou tão contente que viveu três meses além da previsão dos médicos. Uma noite, a enfermeira chefe começou a chamar toda a família ao hospital. Billy estava morrendo. Ela se lembrou do passeio com os bombeiros. Por isso, ligou para o quartel e perguntou se um bombeiro poderia fazer uma visita rápida ao garoto. Com certeza, ele ficaria feliz. O chefe dos bombeiros respondeu: 
-Nós podemos fazer muito mais do que isso. Estaremos aí em cinco minutos. Quando você ouvir as sirenes e vir as luzes de nossos carros, avise no sistema de som que não se trata de um incêndio. É apenas o Corpo de Bombeiros vindo visitar, mais uma vez, um de seus mais distintos integrantes. E, por favor, abra a janela do quarto dele. 
Cinco minutos depois, uma van e um caminhão com escada Magirus chegaram ao hospital, estenderam a escada até o andar onde estava o garoto. Dezesseis bombeiros subiram pela escada e, com a permissão da mãe, abraçaram e saudaram o melhor bombeiro de todo o quartel. Billy deu um sorriso tímido e perguntou: 
-Sou mesmo um bombeiro? 
E, ante a afirmativa sorridente do chefe dos bombeiros, Billy fechou seus olhos pela última vez. 
* * * 
O Mestre de Nazaré ensinou: 
-Se alguém te obrigar a dar mil passos, vai com ele mais outros dois mil. Ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica. 
Reflitamos a respeito e nos perguntemos como temos respondido aos pedidos de nossos amigos, filhos, parentes e da comunidade em geral. 
Que tal começarmos a colocar em prática, em nossa vida, a frase: 
-Eu posso fazer mais do que você me pede? 
Redação do Momento Espírita, a partir do artigo O homem de boa vontade sempre faz mais, de Ary Brasil Marques, publicado no jornal Correio fraterno do abc, de dezembro de 2000. 
Em 10.01.2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

A GENTILEZA CONTINUA EM ALTA

Eugenio Mussak
A educação, a polidez, a gentileza são fatores de transformação na sociedade. De um modo geral, pensamos que posição social, cultura, estudo universitário sejam condições que garantem a gentileza, a polidez, a educação. Infelizmente, não são. Cenas que observamos, situações que vivenciamos nos demonstram isso, em variadas oportunidades. 
Um médico e colunista de interessante revista relata que, estando no aeroporto, porque seu voo estivesse atrasado, resolveu gastar o tempo na sala VIP. Naquele ambiente teria mais conforto e alguns mimos, como sucos, cafés, jornais. Lembremos que VIP quer dizer Very Important Person, ou seja, pessoa muito importante. Imaginou que ali somente deveriam se encontrar pessoas educadas. No entanto, um dos VIPs andava pela sala, aos gritos, em seu celular. O constrangimento era geral, sobretudo, porque ele dizia palavrões para o interlocutor. Em altos brados, discutia assuntos pendentes em sua empresa. De uma forma criativa, frisou o colunista que talvez ele devesse ser chamado de very inconvenient person, ou seja, pessoa muito inconveniente. Por outro lado, ele observou, certo dia, cruzando de balsa, entre Salvador e a ilha de Itaparica, um homem de chinelos. A pele curtida pelo sol o identificava como um pescador. Pois esse homem, de maneira gentil, cedeu o seu banco para que uma senhora se assentasse. Isso nos diz que a polidez, a gentileza, dependem da educação. Normalmente, é no lar que aprendemos, desde cedo, a utilizarmos, de forma corrente, as palavras mágicas: 
-Obrigado, Por favor, Com licença, Desculpe. 
Pais atentos não perdem oportunidade para ensinar aos filhos que devem respeito a todas as pessoas, não importando a idade. 
Que devem ser gentis com seus colegas, com seus familiares, com qualquer pessoa. 
Por isso, aquele casal francês chamou a atenção no hotel em que se hospedavam com seu filho de cinco anos. Eles chegaram no saguão para aguardar o elevador e um outro casal já se encontrava ali. Quando o elevador chegou, o garoto, mais do que depressa, correu para dentro. Pois o pai o repreendeu, pediu que ele saísse do elevador e deixasse que os que estavam à frente entrassem antes. Enquanto acontecia a curta viagem vertical, o menino perguntou ao pai por que precisou sair, se já estava no elevador. E ouviu a explicação do pai: 
-Não é porque você está com pressa, que vai esquecer de ser educado. 
E concluiu: 
-A educação é muito importante. 
Esse pai está criando um cavalheiro. 
Pequenas gentilezas, em nossos dias, estão sendo esquecidas. 
Porque disputam o mesmo mercado de trabalho, competem em igualdade de condições, alguns homens acreditam que gentileza é coisa do passado. 
No entanto, os verdadeiros cavalheiros mostram a sua elegância quando cedem a passagem para uma mulher, quando lhe abrem a porta do edifício, quando seguram a porta do elevador, porque a veem chegando. 
Sem se falar da elegância de enviar flores, em momentos específicos, demonstrando a sua sensibilidade e gentileza agradecendo, simplesmente, pela amizade, pelo companheirismo, pelo coleguismo. 
Pensemos a respeito. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Elegância, de Eugenio Mussak, da revista Vida Simples, de agosto 2014, edição 148, ed. Abril. 
Em 21.2.2022.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

UM HOMEM DE BEM

Luís Martins de Souza Dantas.
Embora vivamos o século XXI, respirando os ares do Terceiro Milênio, os preconceitos de séculos anteriormente vividos acompanham muitos de nós. Habitualmente, dizemos que não temos preconceito. Contudo, nas coisas pequenas, vamos verificando que sombras dele persistem em nós. Por exemplo, quando se menciona um homem de bem. Idealizamos que deva ser um ser quase perfeito. Dessa forma, quando olhamos para quem viaja pelo mundo, que frequenta as altas rodas sociais, que aprecia festas e lugares ruidosos, sequer cogitamos que possa ser uma dessas criaturas.
Recordamos do grande e um tanto esquecido brasileiro Luís Martins de Souza Dantas. 
Com uma larga folha de serviços, assumiu a chefia da Embaixada Brasileira em Paris, em dezembro de 1922 permanecendo até 1944. Paris era a capital política e intelectual do mundo. Souza Dantas gostava da noite, participava e promovia jantares e festas, era o que se pode chamar de bon vivant. Por isso, ninguém poderia imaginar o que fazia, além do seu dever. Ele transitava com muita facilidade por vários países, era amigo de reis e rainhas, de jornalistas, empresários, intelectuais, artistas. Mas, andava, também, entre os mais pobres, os mais necessitados. Foi considerado um dos mais importantes e competentes embaixadores brasileiros de seu tempo. Sua vida diplomática esteve pautada em apaziguar questões nevrálgicas, em negociar empréstimos, lutou por salvaguardar os direitos dos brasileiros no Tratado de Versalhes. Diziam que ele não era o embaixador importante e burocrata, era o irmão zeloso, cheio de cuidados e interesse, para o mais simples caso até o mais complicado. Nas décadas de 1930 e 1940, como embaixador em Paris, concedeu mais de oitocentos vistos de entrada no Brasil a judeus e outros perseguidos pelo regime nazista, contrariando ordens expressas das circulares secretas do Presidente. Ele colocou em risco sua vida e sua carreira, em nome do que acreditava ser o correto: auxiliar àqueles que o buscavam. Assim procedeu até a Embaixada Brasileira ser invadida, vindo a sofrer sanções por parte dos alemães e se tornou alvo de um inquérito administrativo do Itamaraty. Às vésperas de deixar Paris, Souza Dantas visitou várias pessoas a quem ajudava, em sigilo, regularmente, entregando-lhes uma quantia de dinheiro um pouco maior do que a habitual, considerando os tempos difíceis e que ele não estaria mais ali. Seu nome se encontra no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Jerusalém. É um prêmio de reconhecimento a todos os não judeus que, durante a Segunda Guerra Mundial, salvaram vidas de judeus perseguidos pelo regime nazista. Quando morreu, em 16 de abril de 1954, no seu inventário listava poucos bens. Vivia de sua aposentadoria, usou tudo o que tinha para auxiliar o próximo. 
Eis aí um homem de bem e que, conforme a orientação evangélica, praticava seus benefícios sem alarde. 
A mão esquerda não sabia o que fazia a direita. 
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos de Luís Martins de Souza Dantas. 
Em 3.7.2019.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O HOMEM DE BEM

JESUS
E
ALLAN KARDEC
Você se considera uma pessoa de bem? 
Antes que você responda, vejamos alguns dos aspectos que caracterizam o homem de bem. 
É aquele que cumpre a Lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. 
Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa Lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia. 
Enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. 
Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. 
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar. 
Faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, e sacrifica sempre seus interesses à justiça. 
Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. 
Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si. 
É para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. 
O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. 
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não odeia ou persegue aos que como ele não pensam. 
Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança.
A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra. 
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: 
-Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado. 
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. 
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente, em combatê-las. 
Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera. 
Não procura dar valor ao seu Espírito, nem aos seus talentos às custas de outrem. 
Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado. 
Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas. 
Se a ordem social colocou sob seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus. 
O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. 
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos dos seus semelhantes como quer que sejam respeitados os seus. 
Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz. 
* * * 
Allan Kardec, Codificador do Espiritismo, perguntou aos Espíritos Superiores qual é a melhor religião que existe na face da Terra. 
Os Benfeitores responderam que a melhor religião é aquela que maior número de homens de bem fizer, isto é, que maior número de homens conduzir a Deus. 
Essa resposta prova que não importa a que religião pertençamos, mas que sejamos homens de bem.
Redação do Momento Espírita com base no cap. XVII, item 3 do livro O evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed.Feb. 
Em 18.05.2009.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

NOSSAS LÁGRIMAS

Que são as lágrimas? 
O que expressam? 
Por que choramos? 
Não é interessante observarmos que choramos quando o coração está ferido? 
Mas também quando está pleno de felicidade? 
A lágrima é um mistério que os pesquisadores começam a desvendar para nos dizer que as gotas que escorrem do choro emocional contêm 25% mais tipos de proteínas e quatro vezes mais potássio do que as funcionais, produzidas somente para limpar ou proteger os olhos. 
Ou quando cortamos uma cebola. 
Possivelmente, isso queira dizer que as lágrimas que procedem da nossa intimidade são muito mais do que água salgada... 
Elas traduzem nossas dores ou nossas alegrias. 
E são importantes para lavar a alma, para desanuviar o estresse, para acalmar tempestades interiores. 
Quem tudo guarda dentro de si, não se permitindo extravasar, pode, inclusive, ter agravados problemas físicos e emocionais. 
Se Deus nos concedeu a lágrima, usemo-la. 
Não tenhamos vergonha de chorar em público ou a sós.
Podemos chorar quando contemplamos a emoção do campeão de Fórmula Um, depois de tanto esforço, subir ao pódio, erguer a taça, envolto na bandeira do seu país.
Podemos comungar da emoção de quantos participam de show de talentos e alcançam boa pontuação, ou o prêmio máximo. 
Deixemos as lágrimas correrem quando contemplarmos a nossa bandeira nacional desfraldada, dobrando-se ao vento, gentil, enquanto os versos do Hino Pátrio escapam dos nossos lábios. 
E quem de nós já não se emocionou em país estrangeiro, a trabalho ou a passeio, ao descobrir em algum monumento, em algum museu, em uma praça, as cores da nossa Bandeira? 
Quando choramos dizemos que nossa sensibilidade está se aprimorando. 
Estamos dizendo que não somos uma máquina que trabalha, realiza, executa. 
Somos um Espírito que sente, que se emociona, ante uma paisagem de beleza, uma obra de arte, algo que nos remeta a um passado feliz, uma lembrança delicada. 
Não ocorre de, por vezes, um perfume nos levar às lágrimas? 
O que despertou em nós senão um doce e agradável momento, vivido nesta vida ou em experiências anteriores? 
Choremos, pois, quando a alegria extrapolar, porque nosso filho passou no vestibular, porque nossa filha recebeu o diploma universitário, porque nosso amigo se está casando, em singela e íntima cerimônia. 
Que pode haver de mais belo do que contemplar o êxito de alguém, a felicidade do outro? 
Choremos, também, quando a dor nos alcançar. Igualmente ante a dor do amigo que tem arrebatado de sua presença física o amor mais amado. 
Choremos com o pai que tem seu filho enfermo, na incerteza da recuperação ou da partida para outras paragens da vida. 
Choremos quando chorarem nossos amores, choremos quando chorar o mundo, pelas tragédias que assistimos em tempo real. Choremos pela incompreensão dos homens, como fez um dia o Nobre Nazareno. 
Choremos porque ainda estamos tão distantes da perfeição. 
Choremos, de alegria, porque, nesta Terra, Deus nos permite o despertar de uma nova manhã, o convívio familiar. 
Choremos de emoção feliz. 
Choremos por sermos humanos, a caminho da angelitude. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 18.2.2022.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

ADMIRAÇÃO E RECONHECIMENTO

Aquele cirurgião era realmente especial. Diziam que suas mãos eram miraculosas. Certa feita, quando um paciente veio lhe dizer da gratidão pelos resultados positivos da intervenção cirúrgica a que fora submetido, ele confessou que tudo devia a uma professora. Explicou que, em sua juventude, fora rebelde e difícil. Vivia metido em problemas e era alvo constante de críticas de toda sorte. Então, exatamente em um momento em que estava prestes a ser suspenso na escola, uma professora de determinada matéria, na qual ele estava longe de se dedicar, lhe disse algo que mudou o rumo da sua vida. Acostumado a ouvir recriminações e apelos para alterar a sua conduta, as palavras dela soaram, aos seus ouvidos, como um clarim: 
-Você tem mãos maravilhosas e sensíveis. Certamente, fará coisas importantes com elas. 
Ele olhou para as suas mãos e ficou a pensar o que poderia fazer com elas. 
-Mãos sensíveis. Mãos maravilhosas. – Dissera ela. 
Como ele as poderia transformar, de forma efetiva, em maravilha e sensibilidade? 
Aquele elogio o motivou a alterar o comportamento. Tanto que se manteve na escola. Concluiu o curso e decidiu ser cirurgião. Nunca mais, confessou ele ao seu agradecido paciente, consegui afastar do meu pensamento aquelas frases. E, em todos os momentos difíceis, as recordo. 
* * * 
Este não é um caso isolado de alguém que reformulou sua vida, a partir de um elogio, de um reconhecimento. Sabemos de outros tantos, em que se incluem, inclusive, gênios da Humanidade. 
Pessoas que foram motivadas à grandeza por uma observação elogiosa. 
Diante disso, é de nos perguntarmos por que somos tão econômicos em elogios, em observações positivas, especialmente em nosso lar, com aqueles com os quais convivemos todos os dias? 
No dia a dia da vida familiar, parece que nossa visão está embaçada, não nos permitindo constatar tantas ações positivas que se apresentam. 
Parece que as virtudes como a nobreza, a honestidade, a prudência, o cumprimento dos deveres, tudo é visto como algo natural. 
Esquecemos do quão maravilhoso é conviver com pessoas desse nível, que não criam problemas, ao contrário, são excelentes na dedicação, atenção e boas realizações. 
Mesmo com as crianças, quase sempre, temos muitas palavras de críticas, quando deveríamos lhes oferecer mais palavras de admiração. 
Naturalmente, não estamos dizendo que o errado não deva ser apontado. 
Estamos alertando para termos olhos de ver o bom, o positivo, as virtudes que se apresentam. 
Bom será que adotemos como norma o incentivo, a admiração para que a pessoa se sinta valorizada. 
Quem sabe, de uma das nossas ponderadas e justas observações, surja o estímulo para algo grandioso, na vida de alguém. 
O reconhecimento se efetua em muitos níveis. 
Alguns das formas mais simples, como Você tem mãos maravilhosas! 
Que tal começarmos uma campanha de reconhecimento e admiração aos que compartilham sua vida conosco? 
O primeiro e efetivo efeito será um convívio mais agradável e harmonioso porque a admiração pode embelezar um dia. 
Até modificar uma vida. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato extraído do artigo Palavras que aquecem o coração, de Margaret Cousins, de Seleções Reader’s Digest, julho 1972. 
Em 17.2.2022.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

INSTRUMENTO NAS MÃOS DE DEUS

PAULO TORRES DA GRAÇA
Qual é a minha missão? 
Não é esta uma pergunta que, por vezes, nos vem à mente?
Gostaríamos de saber para que estamos aqui, em que contribuímos para a melhoria das pessoas ou do mundo.
Quando nos extasiamos com a performance de um grande músico, dizemos que a sua música nos alimenta a alma, nos traz recordações, nos emociona. Contudo, o primeiro violinista da Orquestra Sinfônica do Paraná, maestro convidado e maestro adjunto por alguns anos, descobriu o maravilhoso sentido da sua vida, de forma surpreendente. De uma família de músicos, ele é Doutor em artes musicais pela Universidade Estadual de Michigan. É sobrinho-neto do maestro Bento Mossurunga, compositor do hino do Paraná. Pode-se dizer, portanto, que a música lhe está no sangue. Mais do que isso, na alma. Confessa que abraçou o violino porque suas três irmãs tocavam piano e ele cansou de ouvir tantas horas diárias desse instrumento. Certo dia, visitando uma tia hospitalizada, levou seu violino e tocou para ela. A música atraiu muitos pacientes. Ele percebeu o benefício da música e passou a tocar, voluntariamente, em hospitais, clínicas e presídios. Ele narra surpreendentes fatos. Ouvindo-o, constatamos, verdadeiramente, como Deus se serve dos homens de boa vontade. Certa feita, tocando no corredor de um hospital, ao chegar em frente ao quarto de um senhor, se deteve. Quando concluiu a execução musical, viu que o enfermo estava em pé, na porta entreaberta. Paulo Torres o olhou e lhe desejou que Deus estivesse com ele. Ouviu a fala, entre lágrimas: 
-Acredite, maestro, Deus acabou de me fazer uma visita. 
O violinista fala do poder da música e como se sente feliz em realizar o que faz. Em um dos hospitais de Curitiba, toca semanalmente, enquanto peregrina por vários outros. Emociona-se ao narrar que, entrando em um quarto, viu uma menina que dormia, enquanto sua mãe, sentada ao lado, mantinha a bíblia aberta. Ele tocou um hino, com alma e coração e verificou que a menina abriu os olhos. Parecia querer falar sem que palavras compreensíveis lhe saíssem da garganta. A mãe se precipitou sobre a filha, em choro convulsivo. Médicos, enfermeiros invadiram o quarto. O maestro ficou preocupado. O que acontecera? O que ele provocara? E foi saindo do quarto, de mansinho. Então, a mãe foi até ele, o abraçou e lhe disse: 
-Obrigada. Minha filha estava em coma há três anos. Sua música a despertou. 
Em suas entrevistas, ele fala dos benefícios da arte musical e como se descobriu instrumento nas mãos de Deus. Uma senhora lhe disse que, na UTI, teve o diagnóstico de morte breve. Religiosa, orou intensamente a Deus: 
-Senhor, dá-me uma prova de que não Te esqueceste de mim.
Na manhã seguinte, o maestro visitou a UTI. Tomou do seu instrumento e executou o hino Não me esqueci de ti. Lágrimas romperam dos olhos da enferma. Duas semanas depois, recuperada, encontrando o maestro no corredor do hospital, lhe beijou as mãos, dizendo que ele fora o mensageiro do recado divino. 
Instrumento nas mãos de Deus. 
Oxalá nós mesmos possamos descobrir como podemos nos tornar esse instrumento dócil, nas mãos divinas. 
Redação do Momento Espírita, com dados colhidos em entrevistas do maestro paranaense Paulo Sérgio da Graça Torres Pereira. 
Em 15.2.2022.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

UM HOMEM CHAMADO JESUS

Certa vez, um Espírito Sublime deixou as estrelas, revestiu-Se de um corpo humano e veio habitar entre os homens. 
Porque fosse um exímio artista plástico, habituado a modelar as formas celestes, compondo astros e globos planetários, tomou da madeira bruta e deu-lhe formas úteis. 
Durante anos, de Suas mãos brotaram mesas e bancos, onde amigos e irmãos se assentavam para repartir o pão. 
Para receber os seus corpos cansados, ao final do dia, Ele preparou camas confortáveis e, porque amasse a todos os seres viventes, não esqueceu de providenciar cochos e manjedouras onde os animais pudessem vencer a fome.
Porque fosse artista de outras artes, certo dia deixou as ferramentas com que moldava a madeira e partiu pelas estradas poeirentas. 
Tomou do alaúde natural de um lago, em Genesaré, e ali teceu as mais belas canções. 
Seu canto atraía crianças, velhos e moços. 
Vinham de todas as bandas. 
A entonação de Sua voz calava o choro dos bebês e as dores arrefeciam nos corações das viúvas e dos desamparados. 
As harmonias que compunha tinham o condão de secar lágrimas e sensibilizar corações endurecidos. 
Como soubesse compor poemas de rara beleza, subiu a um monte e derramou versos de bem-aventuranças, que enalteciam a misericórdia, a justiça e o perdão. 
Porque Sua sensibilidade Se compadecia das dores da multidão, multiplicou pães e peixes, saciando-lhe a fome física. 
Delicado na postura, gentil no falar, por onde passava deixava impregnado o perfume de Sua presença. 
Possuía tanto amor que o exalava de Si aos que O rodeassem. 
Uma pobre mulher enferma tocou-Lhe a barra do manto e recebeu os fluidos curadores que lhe restituíram a saúde.
Dócil como um cordeiro, abraçou crianças, colocou-as em Seus joelhos e lhes falou do Pai que está nos céus, que veste a erva do campo e providencia alimento às aves cantantes.
Enérgico nos posicionamentos morais, usou da Sua voz para o discurso da honra, defendendo o templo, a casa do Pai, dos que desejavam lesar o povo já por si sofrido e humilhado.
Enalteceu os pequenos e na Sua grandeza, atentava para detalhes mínimos. 
Olhou para a figueira e convidou um cobrador de impostos a descer a fim de estar com Ele mais estreitamente.
Acreditavam que Ele tomaria um trono terrestre e governaria por anos, com justiça. 
Ele preferiu penetrar os corações dos homens e viver na sua intimidade, para que eles usufruíssem de paz e a tivessem em abundância. 
Seu nome é Jesus, o Amigo Divino que permanece de braços abertos, declamando os versos do Seu poema de amor: 
Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei... 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais do cap. 3 do livro Quem é o Cristo?, pelo Espírito Francisco de Paula Vítor, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em 25.07.2011.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O HOMEM CERTO

Elisabeth Kübler-Ross
De um modo geral, catalogamos as pessoas pelo seu exterior. Quem trabalha com voluntários, deve ter se surpreendido, mais de uma vez, com resultados de pessoas que pareciam, a princípio, totalmente inadequadas. 
A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross narra uma das suas mais positivas experiências. Ela fora chamada à casa de um homem para uma consulta. Largado em uma cama, totalmente paralisado, incapaz de falar, era um farrapo humano. Através de um quadro de fala que utilizava para se comunicar com doentes que não conseguiam se expressar, a doutora soube do seu drama. Segundo ele, a esposa estava tentando se livrar dele. Há quatro anos o cuidava e agora estava fazendo arranjos para mandá-lo a um hospital. Ele sabia que tinha poucas semanas de vida. Durante quatro anos, ele vira os seus filhos crescerem e isso lhe dera forças para suportar a doença. Queria que a doutora pedisse à esposa que aguentasse só mais um pouco. Ele prometia que morreria logo para não continuar a ser uma carga tão pesada para ela. Indagada, a esposa, em lágrimas, confessou estar procurando um internamento. Ela não suportava mais. Estava no fim da sua força física. Precisava de um homem forte que pudesse ficar com seu marido das oito da noite às oito da manhã, para que ela pudesse dormir. Não há como cuidar de um paciente vinte e quatro horas por dia, durante quatro anos, sem exaurir-se. A doutora Elisabeth pediu que ela tivesse paciência por cinco dias. Nesse período, dispunha-se a encontrar alguém para ajudar. Era preciso que fosse um voluntário. A família não tinha mais recursos. Nos dias que se seguiram, a psiquiatra começou a procurar o homem ideal. O tempo foi se esgotando e quem se apresentara era um extremista, conforme apreciação dela. Ele era cheio de manias. Alimentava-se somente de arroz integral e vegetais crus. Viajava de um lado a outro, à procura de gurus. Sentava-se todo encolhido. Enfim, nada que o credenciasse. Contudo, ele disse: 
-Quero fazer esse tipo de trabalho. 
A doutora indagou se ele estaria disposto a trabalhar doze horas por dia; a cuidar de um homem que não conseguia falar nem escrever um bilhete. 
-Dia e noite? Sem remuneração? 
Ele aceitou todas as condições. Pois o voluntário, que parecia tão estranho, fez o melhor trabalho que qualquer outro poderia ter feito. Durante as semanas que antecederam a morte do paciente, ele lhe preparou refeições especiais, massageou-lhe os pés, leu para ele. Realmente cuidou dele, com carinho, dedicação. Depois da morte do enfermo, permaneceu na casa por mais duas semanas. Queria ter certeza de que a família ficaria bem. 
* * * 
Não nos deixemos enganar pelas aparências. 
Nem façamos juízo precipitado de quem não conhecemos.
Permitamos que a pessoa possa demonstrar os tesouros que guarda na intimidade. 
Permitamos-lhe a floração. 
Se houver necessidade de uma poda, um pequeno arranjo, sempre poderemos providenciar. 
Mas não abafemos as sementes da bondade que desejam florescer e frutificar no coração das criaturas. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O casulo e a borboleta, do livro O túnel e a luz, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. Verus. 
Em 22.4.2016.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

UM HOMEM BOM

Em O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos a informação de que os homens de bem ignoram que são virtuosos. 
Eles deixam-se ir ao sabor de suas aspirações e praticam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos. 
Pessoas assim existem muitas espalhadas por esse imenso mundo de Deus. 
Em todas as épocas, em todas as nações. 
Longe, muito longe. 
E bem perto de nós. 
Por isso, prestemos atenção para não perdermos a chance de nos mirarmos em seu exemplo.
Markus Zusak
Assim era com Hans. Um pintor de paredes no século XX. Um homem simples que morava numa rua pobre, perto de Munique, na Alemanha. Ele fora convocado para a Primeira Guerra Mundial. E voltara para casa, ileso. Agora, a Segunda Guerra Mundial batia às portas e apertava o cerco a cada dia. Como uma megera que avançasse, penosamente se movimentando, entre as brumas do medo e da insegurança. Quando a perseguição aos judeus se estabeleceu, ele perdeu muitos clientes. Afinal, os judeus tinham posses e, até há pouco, eram seus melhores clientes. Agora, eles eram os indesejados sobre a face da Terra. Ao menos naquele pedaço de terra governado pela loucura daqueles dias. Então, veio o aviso de que as bombas estavam chegando sempre mais próximas. Havia quem não acreditasse que aquela cidadezinha dos arredores de Munique pudesse constituir um alvo. Mas os abrigos foram marcados e as janelas tinham que passar pelo processo de escurecimento para as horas noturnas. Para Hans, foi uma oportunidade de trabalho. As pessoas tinham venezianas que precisavam ser pintadas. De preto. Verdade que a tinta logo se esgotou. Mas ele pegou pó de carvão e foi misturando. Foram muitas as casas de todas as regiões de Molching das quais ele confiscou dos olhos inimigos a luz das janelas. Muitas vezes, na volta para casa, mulheres que nada tinham além de filhos e miséria, corriam para ele e imploravam que pintasse suas janelas. Ele poderia sugerir que elas utilizassem cobertores para pendurar nas janelas. No entanto, sabia que eles seriam necessários quando chegasse o inverno. 
-Desculpe, não me sobrou tinta preta. – Dizia ele.-Amanhã bem cedo. – Marcava. 
E lá estava ele, na manhã seguinte, pintando as tais janelas. Por nada. Ou por um biscoito e uma xícara de chá quente. Por vezes, uma conversa, no degrau da frente dessa ou daquela casa. E o riso se erguia da conversa, antes de partir para o trabalho seguinte. 
Um homem bom. 
Pobre, servia a quem mais pobre fosse. 
E servia com alegria. 
A bondade é assim: 
Espalha a sua graça, deixa as suas benesses, enquanto o doador segue adiante, para continuar a distribuí-la a mãos cheias. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XVII, item 8, do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB e na pt. 7, do livro A menina que roubava livros, de Markus Zusak, ed. Intrínseca. 
Em 29.5.2015.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

HOMEM, CORPO DE ALMA

Gibran Khalil Gibran
No transcorrer dos séculos, muitos foram os filósofos que refletiram a respeito de nossa essência: 
Existe verdadeiramente uma alma que prossegue no além-túmulo? 
O que nos aguarda no pós-morte? 
Em um de seus livros, de genial beleza e delicadeza, o autor libanês Gibran Khalil Gibran escreveu, metaforicamente, a respeito da criação da alma e da sua união com o corpo: 
"E o Deus dos deuses separou de Si mesmo uma alma e a dotou de beleza. E deu-lhe a suavidade da brisa matinal. E o perfume das flores do campo e a doçura do luar. E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe: 
-"Só poderás beber desta taça se esqueceres o passado e não te preocupares com o futuro." 
E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo: 
-"Bebe dela, e compreenderás a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria ao primeiro suspiro de saciedade. E uma meiguice que a abandonaria à primeira manifestação de orgulho. E fez descer sobre ela, do céu, um instinto que lhe revelaria os caminhos da verdade. E depositou nas suas profundezas uma visão que vê o que não se vê. E criou nela sentimentos que deslizam com as sombras e caminham com os fantasmas. E vestiu-a de um vestido de paixão que os anjos teceram com as ondulações do arco-íris. E colocou nela as trevas da dúvida, que são as sombras da luz. E tomou fogo da forja do ódio, e ventos do deserto da ignorância, e areia do mar do egoísmo, e terra pisada pelos pés dos séculos e amassou todos esses elementos e fez o homem. E deu-lhe uma força cega que se inflama nas horas de loucura e se apaga diante das tentações. Depois, depositou nele a vida, que é o reflexo da morte. E sorriu o Deus dos deuses. E chorou. E sentiu um amor enorme e infinito. E uniu o homem e a alma."
 * * * 
Corpo e alma são os elementos constituintes de todos os seres humanos. Imortal, o Espírito em progresso une-se à matéria a fim de experienciar situações as mais diversas, que lhe permitem conquistar virtudes, ajustando-se paulatinamente às imutáveis Leis Divinas. 
Quando encarnado, o Espírito se esquece, provisoriamente, de suas experiências passadas, de forma tal que possa escrever nova História no livro da vida. 
Assim, reflitamos por um instante: 
Que registros temos feito? 
Que valor temos dado à abençoada oportunidade de regressarmos a este planeta-escola? 
Permitimo-nos sentir o revigorante soprar do perdão diante do mal que nos fizeram? 
Soubemos nos perdoar em face do mal que também causamos? 
Quanto ao bem recebido: 
Conservamos gravada a lembrança dele em nossos corações, de forma que vivamos em estado de gratidão? 
E finalmente, sobre os bons atos que praticamos: 
Soubemos fazê-los humildemente, de maneira a não torná-los fonte de elogios vazios que nos engrandecem o orgulho e nos empobrecem o Espírito? 
* * * 
Dia virá, a todos nós, em que a vida material se encerrará. A maré alta apagará nossas pegadas. 
Porém, o céu infinito e luzidio do perdão concedido, do bem distribuído, do amor ofertado, esse permanecerá e brilhará por toda a Eternidade. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro O Mensageiro, de Gibran Khalil Gibran, ed. ACIGI. 
Em 26.9.2020.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

HOJE SOU SEU PAI

Andrey Cechelero
Meu filho. 
A manhã está linda lá fora. 
O sol vigoroso, que parecia ter esquecido de brilhar nas últimas horas, em verdade nunca nos deixou. 
Viramos o rosto, giramos a Terra, para que a noite embalasse nossos sonhos e nos restituísse a vitalidade. 
Tanto o dia como a noite são nossos mestres. 
Enquanto a alvorada nos convida ao recomeço, à nova chance, o breu é pedido de recolhimento e reflexão. 
Enquanto o astro rei ilumina nosso caminho, prevenindo perigos, a lua nova comanda a prova e nos faz criar lucidez própria. 
No entanto, você poderá perguntar: mas, e quando as nuvens cobrirem o sol? 
Quando chegarem os dias molhados de escuridão? 
Como poderei prever as ameaças do caminho? 
Como terei de volta o vigor da alma encharcada de chuva?
Nesses dias então, filho, eu serei o seu guia. Serei uma espécie de candeia, de luz acanhada, por certo - pois ainda estou aprendendo a ser sol - mas que será suficiente para suportar a breve caminhada pelas trevas. 
Breve. 
Toda caminhada pela escuridão pode ser breve, se fizermos pequenos esforços. 
A nebulosidade não dura mais do que o necessário e logo haverá um novo raiar. 
Temos muitas certezas na vida, ao contrário do que você pode ouvir por aí. 
Certeza de poder aprender, certeza de poder sorrir, certeza de poder amar e ainda, a certeza de que não há fim para nenhum amor. 
Hoje sou seu pai. 
Recebi essa missão com muita honra. 
Espero poder ser parte desse solo fecundo que lhe cerca e estrutura o ser. 
O crescimento é seu, a árvore, as flores e os frutos serão seus. 
Não vim para colher ou me saciar com saborosos alimentos de arvoredos. 
Vim para ser adubo, para ser base. 
Entendo que quanto mais você crescer em direção ao azul, mais longe do meu chão parecerá. 
Porém, sempre estaremos conectados de alguma forma. 
Um laço de amor verdadeiro é como uma raiz debaixo da terra, escondida, discreta, entretanto, vigorosa, necessária e pulsante. 
Meu filho, a manhã está linda lá fora, e sempre bela dentro de mim, pois hoje posso ser seu pai.
* * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. 
Evidentemente as técnicas psicológicas e a metodologia da educação tornam-se fatores nobres para o êxito desse cometimento. 
Entretanto, o amor – que tem escasseado nos processos modernos da educação com lamentáveis resultados – possui os elementos essenciais para o feliz propósito. 
Não deixemos de lado os deveres nobres que nos permitem amar como nunca antes amamos. 
Somos almas infantis ainda, aprendendo sobre esse sentimento solar. 
Cada instante, cada manhã e cada dia ao lado dos nossos filhos são tesouros da alma, que jamais iremos deixar de ter.
Estejamos sempre ao lado deles, nas experiências de sol e de chuva. 
A paternidade e a maternidade são escolas magníficas ao nosso dispor. 
Abracemos essa oportunidade com todas as nossas forças.
Não poupemos esforços na educação dos tesouros chamados filhos. 
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Ao meu filho, de Andrey Cechelero e do cap. 14, do livro S.O.S. Família, por Espíritos Diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 9.8.2019.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

OUVIDOS DE OUVIR

Uma reunião com índios americanos revela um ensinamento importante e urgente. 
Agrupados os participantes, ninguém fala. 
Há um longo, longo silêncio. 
Todos calados à espera do pensamento essencial. 
Aí, de repente, alguém fala. 
Curto. 
Todos ouvem. 
Terminada a fala, novo silêncio. 
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. Esses pensamentos são estranhos aos demais. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se alguém falar logo a seguir, são duas as possibilidades que se pode pensar.
Primeira: quem falou está dizendo: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua fala. 
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou. 
Em ambos os casos, está se chamando o outro de tolo. O que é pior do que uma bofetada. 
O longo silêncio quer dizer: 
-Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
Não basta o silêncio de fora. 
É preciso silêncio dentro. 
Ausência de pensamentos. 
E aí, quando se faz silêncio dentro, começa-se a ouvir coisas que não se ouvia. 
* * * 
Muitos são os cursos oferecidos pelo mundo afora, pretendendo ensinar a falar. 
Ter uma boa oratória é fundamental nos dias de hoje. 
Mas será que apenas saber falar é suficiente? 
Não estamos esquecendo o que vem antes? 
Não estamos esquecendo de aprender a ouvir? 
Não existem cursos de escutatória, é certo, mas aprender a ouvir corretamente é de suprema importância. 
A postura humilde de quem ouve, de quem presta atenção nas palavras do outro, do que o outro diz ou não diz, é a postura do homem de bem. 
Ninguém se educa, ninguém cresce, se não aprende a escutar.
Alberto Caieiro dizia que não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Silêncio dentro da alma significa que os pensamentos devem emudecer de quando em vez. 
As ideias preconcebidas, a tal maneira como sempre pensei, devem calar um pouco, e considerar algo distinto, saborear o novo. 
Todos os grandes da Terra souberam ouvir, souberam se desprender de suas ideias e considerar novas, considerar o algo mais. 
Grandes escritores são antes grandes leitores. Sabem escutar outros livros, antes de recitar os seus próprios. 
Que possamos aprender a ouvir mais, a respeitar mais a opinião do outro, e assim aprender com todos, independente se sabem mais ou menos do que nós. 
Exercitemos a tal escutatória e cultivemos o silêncio na alma, nos pensamentos. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Escutatória, do livro O amor que acende a lua, de Rubem Alves, ed. Planeta. 
Em 9.2.2022.