terça-feira, 31 de agosto de 2021

QUANDO SE FAZ NOITE NAS ALMAS

Na noite que parecia de infinitas tristezas, ante as palavras proféticas do Mestre, uma nota de esperança. 
Uma esperança que não apenas bruxuleia como uma chama tímida, mas incendeia corações, ante a perspectiva deslumbrante. 
Jesus se despedia dos amigos, eles o sentiam. 
Jamais, mesmo no reduzido círculo apostólico, suas instruções haviam soado tão prenunciadoras de dores futuras. 
A ceia pascal, que lembrava a libertação da escravidão do Egito, que falava de um Deus que havia olhado para o Seu povo e o havia abrigado em Seu amor, fora povoada de atos, nem por todos percebidos. 
As palavras caíam naqueles corações que se indagavam: 
-O que faremos, quando Ele se for? Ele é a nossa fortaleza, nosso refúgio. Que faremos, depois?
Eles haviam deixado seus afazeres, seus lares para estarem com Ele, que lhes acenara com um reino jamais conhecido. 
Algo totalmente diverso do que viviam, naqueles dias de domínio romano.
No entanto, aquela despedida os atemorizava: 
-Filhinhos, ainda por um pouco estarei convosco. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. 
Então, o Poeta de um reino ainda não alcançado, ergueu a súplica ao Pai.
E nos versos da Sua oração, brotaram flores de esperança: 
-Pai, é chegada a hora. Glorifica a teu filho, para que também o teu filho te glorifique a ti. Eu te glorifiquei na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste e guardaram a tua palavra. Agora, já têm conhecido quanto tudo que me deste provém de ti. Eu rogo por eles. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. Não estou mais no mundo mas eles estão no mundo e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste para que sejam um, assim como nós. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a glória que me deste. Porque tu me hás amado antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu. Mas eu te conheci e estes conheceram que tu me enviaste a mim. Eu lhes fiz conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles. E eu neles esteja.
Como uma suave balada, a rogativa acalmara aqueles corações. 
O Bom Pastor os entregava, em totalidade, ao Pai Amoroso e Bom. 
E prometia que estaria sempre com eles. 
Que mais poderiam almejar senão estar com Ele, na glória, na dor, onde quer que fosse e como fosse. 
Quando a voz se calou, permaneceram todos mudos. 
Nada mais havia para ser dito.
A declaração fora do mais puro amor de um Ser aos Seus tutelados. 
Por isso, quando se fez a hora, eles saíram a pregar as belezas do reino dos céus, desejando atrair todos para Ele, a fim de que gozassem da mesma felicidade que lhes invadia as almas. 
Na noite pandêmica que nos assombra, lembremos: o Pastor está conosco! 
Redação do Momento Espírita, com transcrição do Evangelho de João, cap. 13, vers. 33 e do cap. 17, vers. 1, 4, 6, 7, 9, 11, 15, 18, 20, 24 e 25.
Em 31.8.2021.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

UMA GOTA D'ÁGUA!

Você já parou, alguma vez, para observar uma gota d'água? 
Sim, uma pequena gota d'água equilibrando-se na ponta de um frágil raminho... 
Com graciosidade, a gotícula desafia a lei da gravidade, se balançando nas bordas das folhas ou nas pétalas de uma flor. São gotas minúsculas, que enfeitam a natureza nas manhãs orvalhadas ou permanecem como pequenos diamantes líquidos, depois que a chuva se vai. 
É por isso que um bom observador dirá que a vida seria diferente se não existissem gotas de água para orvalhar a relva e amenizar a secura do solo. 
Madre Tereza de Calcutá foi uma dessas almas sensíveis. 
Um dia, um jornalista que a entrevistava lhe disse que, embora admirasse o seu trabalho junto aos pobres e enfermos, considerava que o que ela fazia, diante da imensa necessidade, era como uma gota d'água no oceano. E aquela pequena sábia mulher lhe respondeu: 
-Sim, meu filho, mas sem essa gota d'água o oceano seria menor. 
* * * 
Sem dúvida uma resposta simples e extremamente profunda, pois, sem os pequenos gestos que significam muito, a vida não seria tão bela... 
Um aperto de mão, em meio à correria do dia a dia... 
Um minuto de atenção a alguém que precisa de ouvidos atentos, para não cair nas malhas do desespero... 
Uma palavra de esperança a alguém que está à beira do abismo. 
Um sorriso gentil a quem perdeu o sentido da vida. 
Uma pequena gentileza diante de quem está preso nas armadilhas da ira.
O silêncio, frente a ignorância disfarçada de ciência... 
A tolerância com quem perdeu o equilíbrio. 
Um olhar de ternura para quem pena na amargura. 
Pode-se dizer que tudo isso são apenas gotas d'água, que se perdem no imenso oceano, mas são essas pequenas gotas que fazem a diferença para quem as recebe. 
Sem as atitudes, aparentemente insignificantes, que dentro da nossa pequenez conseguimos realizar, a Humanidade seria triste e a vida perderia o sentido. 
Um abraço afetuoso, nos momentos em que a dor nos visita a alma... 
Um olhar compassivo, quando nos extraviamos do caminho reto... 
Um incentivo sincero de alguém que deseja nos ver feliz, quando pensamos que o fracasso seria inevitável... 
Todas essas são atitudes que embelezam a vida. 
E se um dia alguém lhe disser que esses pequenos gestos são como gotas d'água no oceano, responda, como Madre Tereza de Calcutá, que sem essas gotas o oceano de amor seria menor. 
E tenha certeza disso, pois as coisas grandiosas são compostas de minúsculas partículas. 
* * * 
Sem a sua quota de honestidade, o oceano da nobreza seria menor. 
Sem as gotas de sua sinceridade, o mar das virtudes seria menor. 
Sem o seu contributo de caridade, o universo do amor fraternal seria consideravelmente menor. 
Pense nisso! 
E jamais acredite naqueles que desconhecem a importância de um pequeno tijolo na construção de um edifício. 
Lembre-se da minúscula gota d'água, que delicadamente se equilibra na ponta do raminho, só para tornar a natureza mais bela e mais romântica, à espera de alguém que a possa contemplar. 
E, por fim, jamais esqueça que são essas mesmas pequenas e frágeis gotas d'água que, com insistência e perseverança, conseguem esculpir a mais sólida rocha. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 10, ed. Fep. 
Em 12.06.2009.

domingo, 29 de agosto de 2021

GOSTE DAS PESSOAS

Kent não era mais do que um adolescente quando aprendeu, com seu amigo da mesma idade, uma das lições que mais lhe encheram de prazer a vida. Ambos estavam estudando e, da janela, observaram um dos professores atravessando o estacionamento. Kent explicou a Craig que não gostaria de reencontrar aquele instrutor. No semestre anterior, ele e o professor tinham se desentendido. 
-O cara não gosta de mim – finalizou. 
Craig observou o professor e falou: 
-Talvez você esteja se afastando porque tenha medo de ser rejeitado. E ele provavelmente acha que você não gosta dele, por isso não é simpático com você. Por que não vai falar com ele? 
Hesitante, Kent desceu as escadas, cumprimentou o professor e perguntou como tinha sido seu período de férias. Ele se mostrou surpreso, mas respondeu. Juntos caminharam um pouco e conversaram. 
O amigo tinha lhe ensinado algo simples. 
As pessoas gostam de quem gosta delas. 
Quando se mostra interesse por elas, elas se interessam por nós. 
A partir daquele dia, o mundo se transformou para Kent numa grande descoberta. 
Certa vez, viajando de trem pelo Canadá, ele começou a conversar com um homem que todos evitavam, porque cambaleava e enrolava a língua, ao falar. Todos pensavam que ele estivesse bêbado. Em verdade, ele estava se recuperando de um derrame. Tinha sido engenheiro naquela mesma linha férrea e passou a viagem contando histórias fascinantes passadas naquela ferrovia. Quando o trem foi se aproximando da estação, ele segurou a mão de Kent e agradeceu por ele ter ouvido, com tanta atenção. Mas Kent sabia que o prazer tinha sido muito maior para ele próprio. 
Em um outro momento, em uma esquina barulhenta, numa cidade da Califórnia, uma família o parou pedindo informações. Eram turistas da isolada costa norte da Austrália. Em pouco tempo, tomando café, eles encheram de conhecimento a sua cabecinha, com histórias sobre lugares e costumes que possivelmente ele nunca teria conhecido. Cada encontro se tornou uma aventura. Cada pessoa, uma lição de vida. Ricos, pobres, poderosos e solitários: ele percebeu que todos tinham tantos sonhos e dúvidas quanto ele mesmo. 
Todos tinham uma história única para contar. 
Bastava alguém querer ouvir. 
Uma jovem esteticista lhe confidenciou a alegria que tinha sentido ao ver os moradores de um asilo, sorrindo, depois que ela cortou e penteou seus cabelos. 
Um guarda de trânsito revelou como tinha aprendido alguns dos seus gestos, observando toureiros e maestros. 
Até mesmo um andarilho, com a barba por fazer, lhe contou como tinha conseguido alimentar sua família durante o período da depressão, nos Estados Unidos, recolhendo peixes atordoados que flutuavam na superfície, depois de explosões na água. 
Em suma, todas as pessoas tinham histórias para contar. 
Histórias ricas de experiências. 
E todas sonhavam com alguém que as quisesse ouvir. 
Pensamento 
Parafraseando Francisco de Assis, poderíamos pensar em uma oração, mais ou menos assim: 
Senhor, permita que eu procure muito mais ouvir do que ser ouvido; muito mais ver do que desejar ser visto. Finalmente: que eu aprenda a gostar das pessoas primeiro, e faça as perguntas depois, para que eu possa descobrir, com alegria, que a luz que projeto nos outros, se reflete em mim mesmo, multiplicada por cem. 
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Goste das pessoas primeiro, do livro Histórias para aquecer o coração dos adolescentes, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Kimberly Kirberger, ed. Sextante.

sábado, 28 de agosto de 2021

GLÓRIAS E INSUCESSOS

Na Terra, ninguém se encontra em clima de privilégio. 
Triunfos, fortuna e saúde não significam concessões de que se pode usufruir sem o ônus da responsabilidade. 
Tudo o de que se dispõe na esfera material representa um empréstimo de Deus. 
O homem é um simples mordomo, que terá de dar contas de como usou o que lhe veio às mãos. 
Poder, riqueza e beleza são pesados testes, face às ilusões que podem provocar. Mas também representam a Misericórdia Divina a se movimentar em favor de todos. Esses recursos tão precários podem ser fonte de enorme bem ao seu detentor e à coletividade, se bem empregados. 
No devido tempo, cada um é chamado a desempenhar o encargo da abastança e responde pelo que faz. 
O encargo costuma ser pesado, pelo condão que possui de suscitar inveja, servilismo e falsidade em torno de quem o desempenha. 
Sem falar na vaidade e no orgulho que podem surgir naquele que se imagina especial por dispor momentaneamente de algumas posses.
Contudo, por dourada que pareça determinada situação, ela fatalmente passa e sempre chega o momento em que a vida física se extingue. Somente perdura o que se fez das posses, o quanto se armazenou em bênçãos, o que se dividiu em nome do amor. 
De outro lado, ninguém transita no mundo em estado de desgraça.
Solidão, pobreza, doença e limitações constituem provas redentoras. 
Os excelsos condutores da vida planetária delas se utilizam para educar os Espíritos ainda necessitados de transes dolorosos. 
Os que se fizeram egoístas, quando ricos, precisam vislumbrar o reverso da medalha. 
Os criminosos, os defraudadores da paz alheia, todos sentem necessidade de educar o próprio íntimo, mediante experiências retificadoras. 
A desgraça real é sempre o mal que se faz, nunca o que se recebe.
Insucesso social, prejuízo econômico e fatalidades são terapêuticas enérgicas da vida. Por meio delas, são erradicados cânceres morais de que é portador o Espírito imortal. 
A solidão sempre termina por se extinguir, na figura de novas pessoas que chegam. 
O abandono, cedo ou tarde, desaparece e a limitação física ou intelectual invariavelmente cessa. 
A pobreza também não dura muito, considerando-se a eternidade da vida que jamais se esgota. 
Sob a luz do Evangelho, êxitos e fracassos costumam se apresentar em sentido oposto à interpretação humana. 
* * * 
Jesus foi pobre, conviveu com pecadores, exerceu trabalho humilde, foi perseguido e assassinado pelos detentores do poder transitório. Mas ressurgiu sumamente glorioso, logo após cessar a experiência carnal que viveu por amor a todos. 
Tome-O por Modelo e não se perturbe nunca. 
Na glória ou na desdita, permaneça em paz interior e persevere no amor.
Ao final, quando tudo o mais tiver terminado, sua dignidade, a converter-se em luz, será o seu tesouro. 
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XLV do livro Leis morais da vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 09.09.2010.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

TRISTEZA SEM RAZÃO!

CAMILO CASTELO BRANCO
Por vezes, erguemo-nos pela manhã envoltos em nuvens de tristeza. 
Se alguém nos perguntar a causa, com certeza não saberemos responder. Naturalmente, atravessamos as nossas dificuldades. Não há quem não as tenha. É o filho que não vai bem na escola, o marido que vive a incerteza do desemprego, um leve transtorno de saúde. 
Nada, contudo, que seja motivo para a tristeza profunda que nos atinge. Nesse dia tudo parece difícil. Saímos de casa e a entrevista marcada não se concretiza. A pessoa que marcou hora conosco cancelou por compromisso de última hora. E lá se vão as nossas esperanças de emprego, outra vez. O material que vimos anunciado com grande desconto já se esgotou nas prateleiras, antes de nossa chegada. A fila no banco está enorme, o cheque que fomos receber não tinha saldo suficiente. 
É... Nada dá certo mesmo! 
Dizemos que nem deveríamos ter saído de casa, nesse dia. Agora, à tristeza se soma o desalento, o desencanto. Consideramo-nos a última pessoa sobre a face da Terra. Infelizes, abandonados, sozinhos. Ninguém que nos ajude. 
E, no entanto, Deus vela. 
Ao nosso lado, seguem os seres invisíveis que nos amam, que se interessam por nós e tudo fazem para o nosso bem-estar. 
O que está errado, então? 
Com certeza, a nossa visão do que nos acontece. 
Quando a tristeza nos invade no nascer do dia, provavelmente tivemos encontros espirituais, durante o sono físico, que para isso colaboraram.
Seja porque buscamos companhias não muito agradáveis ou porque não nos preparamos para dormir, com a oração. 
Seja porque reencontramos amores preciosos e os temos que deixar para retornar à nossa batalha diária, entristecendo-nos sobremaneira. 
Ao nos sentirmos assim, busquemos de imediato a luz da prece, que fortalece e ilumina, espancando as sombras do desalento. 
Abrir as janelas, observar a natureza, mesmo que o dia seja de chuva e frio. 
Verifiquemos como as árvores, quando castigadas pelos ventos e pela água, balançam ao seu compasso. 
Passada a tempestade, se recompõem e continuam enriquecendo a paisagem com seus galhos, folhas, flores e frutos. 
Olhemos para as flores. 
Mesmo que a chuva as despedace, elas, generosas, deixam suas marcas coloridas pelo chão, ou permitem-se arrastar pela correnteza, criando um rio de cores e perfumes pelo caminho. 
Aprendamos com a natureza e afugentemos o desânimo com a certeza de que, depois da tempestade, retornará o tempo bom, o sol, o calor. 
Não nos permitamos sintonias inferiores, porque se vibrarmos mal, nos sentiremos mal e, naturalmente, tudo se nos tornará mais difícil. 
Nunca estaremos sós. Jesus está no leme das nossas vidas, atento, vigilante, e não nos faltará em nossas necessidades. 
* * * 
RAUL TEIXEIRA
Se estamos tristes, abramos os ouvidos para as melodias da vida, melodias que soam das mais profundas regiões do Amor Celeste.
Busquemos ajuda, peçamos socorro, não dando campo a essas energias de modo que possamos, na condição de filhos de Deus, alegrar-nos com tudo quanto o Pai construiu e colocou à nossa disposição a fim de que pudéssemos crescer, amar e servir. 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais do cap. 12, do livro Revelações da luz, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 27.8.2021.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A GLÓRIA DO ESFORÇO

CHICO XAVIER E NÉIO LÚCIO
Toda vez que as lições do doce Rabi da Galileia são colocadas na pauta das reflexões humanas, os comentários que se ouvem, a respeito de sua inadequação à vida atual, são muitos. Falam que é quase impossível praticar as lições da Boa Nova neste mundo avesso à bondade, à renúncia e ao perdão. Neste mundo em que o que vale é a conta bancária polpuda, roupas caras, o último modelo do carro. A maioria das criaturas vive na indiferença e no endurecimento. 
A respeito de tais questões, conta-se que, em tempos antigos, existiu um grande artista que se especializou na harpa. Tamanha era a perfeição com que executava as peças musicais que pessoas importantes vinham de longe para ouvi-lo. Senhores de terras estranhas vinham até sua moradia, em caravanas, somente para escutar as suas sublimes execuções. Graças a isso, o mestre da harpa fez fama e fortuna. Comentava-se que não havia ninguém na Terra que o pudesse igualar na expressão musical. Esse músico possuía um escravo para seu serviço pessoal. Era ele quem servia água, frutas e doces aos convidados. Com uma aparência um tanto tola, nunca conversava. A harpa do seu amo, contudo, o atraía e, por vezes, ele olhava fascinado para as mãos do artista dedilhando o instrumento, em quase adoração. Certa noite, o artista voltou para casa bem mais cedo do esperado. Ao adentrar nos jardins percebeu que uma melodia celeste estava no ar. Alguém tocava de forma magistral na casa solitária. O artista se comoveu. 
Quem seria o estrangeiro que lhe tomara o lugar? 
Ou quem sabe seria um anjo exilado na Terra que assim expressava sua grandeza através das notas musicais? 
Sensibilizado por pressentir a existência de alguém com ideal artístico muito superior ao seu, avançou devagar para não ser percebido. Qual não foi a sua surpresa ao verificar que o harpista maravilhoso era o seu velho escravo tolo. Usando os minutos que lhe pertenciam por direito, sem incomodar ninguém, ele exercitava as lições do seu senhor há muito tempo. O artista generoso e famoso decidiu libertar o escravo, conferindo-lhe posição ao seu lado, nas apresentações musicais, dali por diante. 
* * * 
A aquisição de qualidades nobres se dá pelo esforço, da mesma forma que pelo exercício se adquire maestria em uma arte. 
Toda criatura que utilizar as horas que dispõe na harpa da vida, com sabedoria, depressa absorverá a grandeza e a sublimidade de que falam os Evangelhos e se tornará um representante dos céus, perante os seus irmãos na Terra. 
* * * 
O tesouro das horas é distribuído de forma generosa a todos. 
Cada um faz dele o que bem entende. 
Quem trabalha somente pela paga que recebe, quem não aproveita a oportunidade das horas para crescimento pessoal, de verdade nada terá além do salário do mundo. 
Investir em si mesmo, na sua reforma pessoal, interessar-se pelos outros e se doar é condição que todos podemos desfrutar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 43 do livro Jesus no lar, pelo Espírito Néio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 21.01.2011.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

GLÓRIA DE DEUS

DIVALDO PEREIRA FRANCO
O salmista Davi escreveu, em seu cântico 18: 
Os céus publicam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos. 
Contemplando-se a noite estrelada, pode-se ter ideia do que desejou expressar o salmista. Não há quem não se sinta tocado em sua intimidade, e se deixe extasiar pela beleza de uma noite bordada de estrelas. Tantas são as maravilhas do Universo que somente nos levam a reconhecer a existência de uma Inteligência Superior à humana. E é esse mesmo Deus que, como artista, colore os céus no cair da tarde, salpica de cores as flores e estende o tapete verde na pradaria, como uma imensa colcha de retalhos, bordada em motivos variados. Como esteta, capricha nos detalhes das escarpas que apontam para cima, como se esmera nos contornos das rochas, recortando montanhas, vales e planícies. Qual um exímio químico transforma terra e água em seiva e açúcar. 
No milagre que se chama Vida, toma uma simples semente e faz surgir a árvore generosa, plena de galhos, folhas, flores e saborosos frutos. 
Sábio, concedeu instinto aos animais para a perpetuação e conservação da espécie. Por isso se observa a vespa preparar cuidadosamente o local para colocar seus ovos, pois o instinto lhe diz que ela não viverá para ver a sua prole. Com sua técnica de dar inveja a qualquer entomologista, ela imobiliza um gafanhoto e ao seu redor põe os ovos. 
Morre em seguida. 
As larvas, ao nascerem, têm o alimento assegurado. 
É o instinto que guia o joão-de-barro a construir sua casa com a porta para o lado oposto ao vento do inverno, jamais se enganando. E assim protege seus filhotes do terrível frio, que poderia matá-los. 
E enquanto dotou os animais com o instinto, que é uma nota melódica monótona, concedeu ao homem o raciocínio, que é uma sinfonia completa. 
Tem razão o salmista ao proclamar que a Lei do Senhor é perfeita, que os Seus preceitos são retos e deleitam o coração. 
Um dia transmite esta mensagem ao outro dia, e uma noite comunica-a a outra noite. 
Não é uma palavra nem uma linguagem, cuja voz não possa perceber-se.
O seu som estende-se por toda a Terra e as suas palavras até às extremidades do mundo, e nada se pode subtrair do seu calor. 
* * * 
A Sabedoria Divina se descobre em todos os detalhes da Criação. 
Para a filtragem conveniente dos raios solares para a Terra, a Providência Divina edificou usinas de ozônio a 40 e 60 quilômetros de altitude. 
Assim, em todos os tempos a beleza, junto à ordem, constituem um dos traços marcantes da Criação. 
Redação do Momento Espírita, com base em conferência proferida por Divaldo Pereira Franco, intitulada Deus, em 20.03.1974. Disponível no CD Momento Espírita, v. 16, ed. Fep. 
Em 22.11.2010.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

O GABINETE DA VONTADE

EMMANUEL E CHICO XAVIER
A mente humana pode ser comparada a um grande escritório, dividido em diversas seções de serviço, em vários departamentos, cada um com sua função específica. 
Podemos enfocar os quatro principais: 
O departamento do desejo, em que se operam os propósitos e as aspirações da alma, acalentando o estímulo ao trabalho. Ele nos projeta no futuro, naquilo que queremos realizar, vinculando nosso coração a um alvo, a uma meta. 
A segunda seção é o departamento da inteligência, onde encontramos os patrimônios da evolução e da cultura, isto é, todas as conquistas do intelecto. Tudo que foi conquistado em nosso processo evolutivo na área intelectual. 
O terceiro departamento é o da imaginação. A responsabilidade dele é trabalhar as riquezas do ideal e da sensibilidade. Ali está tudo aquilo que nos leva a abstrair, a dar um voo mais alto, a deixar, por vezes, a esfera acanhada de nossas atividades. Ali estão as conquistas da arte e do belo.
Por fim, temos a quarta divisão: o departamento da memória, cujo objetivo é arquivar todas as experiências do Espírito, ao longo das encarnações.
No entanto, toda organização, todo escritório, necessita de uma gerência.
Surge então, acima de todos eles, o gabinete da vontade. 
Léon Denis
A vontade é a gerência esclarecida e vigilante que governa todos os setores da ação mental. 
É a maior das potências da alma. 
Nela dispomos do botão que decide o movimento ou a inércia da máquina.
Sem essa administração segura, sem essa gerência, os departamentos passam a correr grandes riscos, pois tendem a operar por conta própria, de acordo com seus entendimentos particulares. 
A coordenação e a liderança da vontade garantem que todos os setores trabalhem em harmonia, sintonizados com um objetivo maior, cada um cumprindo sua função e todos vinculados ao mesmo fim. 
Quando a vontade não cumpre seu papel, o desejo pode tomar conta e comprar enganosamente séculos e séculos de aflição e comprometimento.
Vemos isso quando somos dominados pelas paixões, pelos desejos do imediato, dos interesses transitórios. 
Se a vontade está fragilizada, o departamento da inteligência pode se aprisionar à criminalidade. 
É o que vemos quando temos grandes inteligências ligadas a interesses mesquinhos e não ao bem, e não às realizações coletivas. 
Assim também se dará quando o departamento da imaginação e da memória resolverem agir sem esse comando seguro da vontade. 
Eles se perdem, um podendo criar monstros na sombra e o outro caindo em relaxamento. 
Só a vontade, como auréola da razão, tem capacidade e lucidez para gerenciar todos esses setores com sabedoria. 
* * * 
A vontade é, sem dúvida, a maior das potências da alma. 
O poder da vontade é ilimitado. 
O homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços. 
Sabe que tudo o que de bem e bom desejar há de, mais cedo ou mais tarde, realizar-se inevitavelmente, ou na atualidade ou na série das suas existências, quando seu pensamento se puser de acordo com a lei divina.
E é nisso que se verifica a palavra celeste: 
“A fé transporta montanhas.” 
Redação do Momento Espírita, com base no cap II, do livro Pensamento e Vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier e no cap. XX, da parte terceira, do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, ambos ed. FEB. 
Em 24.8.2021.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

PARA ONDE ESTAMOS OLHANDO?

Márcio Vassallo
Dizem que devemos manter o foco no que fazemos. Nestes dias de tantas plataformas digitais e redes sociais, é bom nos permitirmos extraviar de vez em quando. Vivemos tão conectados a celulares e computadores que, por vezes, esquecemos de quem está ao nosso lado. Falamos com quem está distante, mas esquecemos de olhar para quem está sentado bem juntinho. Respondemos a todas as mensagens de WhatsApp, com presteza, mas nem respondemos a quem está perto e nos pergunta se preferimos macarrão ou salada para o almoço. Com os fones nos ouvidos, nos tornamos alheios ao entorno. Vimos pessoas quase sendo atropeladas por atravessarem a rua, conversando ao celular, sem olhar para o semáforo ou para os lados. 
No supermercado, vimos uma atendente de caixa aguardando que a cliente se aproximasse. Ela tinha os olhos fixos no celular. Estava tão ligada às mensagens, que não ouviu ser chamada mais de uma vez. Quando finalmente, quem estava atrás, lhe tocou o braço, sinalizando para que ela chegasse ao caixa, ficou zangada. 
Estamos vivendo muito mais o virtual do que o real. 
Pensemos a respeito. 
Utilizamos a aparelhagem eletrônica para nossas lives, reuniões de trabalho e de lazer. 
Adoramos ver-nos e ver aos outros na telinha. 
Será que com idêntico ardor olhamos para os que estão próximos? 
Um escritor contou que foi à maternidade com um amigo. 
Aproximando-se do berçário, viu um rapaz segurando um recém-nascido, com pose de pai exibido. 
Parentes observavam através do vidro a cena feliz. 
A enfermeira apanhou o bebê e o colocou no berço mais próximo ao vidro, entusiasmando quem estava ali para vê-lo. 
Então, uma mulher convidou: 
-Venham ver o João Pedro aqui. 
Na sala de espera, havia um telão onde os recém-nascidos apareciam, numa imagem feita logo que chegavam ao berçário. 
Todos correram para ver o pequeno no telão. 
Para ver o bebê virtual e deixaram o bebê real. 
Diz o escritor que olhou para o pequenino e lhe disse: 
-Rapaz, seja bem-vindo. Não é nada pessoal. Mas aqui neste mundo, se não está na mídia, você não existe. 
* * * 
Reflitamos a respeito. 
Vivemos tempos em que nos é exigido o distanciamento social, por uma questão de preservação da própria e da vida alheia. 
A tecnologia tem nos auxiliado a superar distâncias, a nos abraçarmos de forma virtual, a ver e rever amigos, colegas de trabalho, pelas janelinhas.
Temos nos servido das redes sociais para manifestar o que vai em nossa intimidade ou portas adentro do nosso lar. 
Alguns até exageramos, filmando tudo, postando tudo, como se o mundo inteiro precisasse saber o que nos acontece. 
Estamos esquecendo de que algumas ações são exatamente maravilhosas por serem únicas e particulares. 
Os primeiros passos do nosso filho são importantes para nós. 
Mais do que nos preocuparmos em filmá-lo para postagem nas redes sociais, estendamos os braços e convidemos que ele venha ao nosso encontro. 
Lembremos disso: o virtual tem sido importante nestes dias. Mas, nunca deverá substituir nossas manifestações de amor, de afeto, de amizade.
Um abraço virtual é simplesmente virtual. 
Abracemos quem está ao nosso lado. 
Redação do Momento Espírita, com descrição de fato extraído do artigo A arte de respirar sem ajuda de aparelhos, de Márcio Vassallo, da revista Vida Simples, de dezembro de 2018, ed. Abril. 
Em 23.8.2021.

domingo, 22 de agosto de 2021

OS GIRASSÓIS

Você já viu um girassol? 
Trata-se de uma flor amarela, muito grande, que gira sempre em busca do sol. E é por essa razão que é, popularmente, chamada de girassol. Quando uma pequena e frágil semente dessa flor brota em meio a outras plantas, procura imediatamente a luz solar. É como se soubesse, instintivamente, que a claridade e o calor do sol lhe possibilitarão a vida. E o que aconteceria à flor se a colocássemos em uma redoma bem fechada e escura? Certamente, em pouco tempo, ela morreria. 
 * * * 
Assim como os girassóis, nosso corpo físico também necessita da luz e do calor solar, da chuva e da brisa, para nos manter vivos. 
Mas não é só o corpo físico que precisa de cuidados para prosseguir firme. 
O Espírito igualmente necessita da Luz Divina para manter acesa a chama da esperança. 
Precisa do calor do afeto, da brisa da amizade, da chuva de bênçãos que vem do alto. 
Todavia, é necessário que façamos esforços para respirar o ar puro, acima das circunstâncias desagradáveis que nos envolvem. 
Muitos de nós permitimos que os vícios abafem a nossa vontade de buscar a luz, e definhamos dia a dia como uma planta mirrada e sem vida.
Ou, então, nos deixamos enredar nos cipoais da preguiça e do desânimo e ficamos a reclamar da sorte, sem fazer esforços para sair da situação que nos desagrada. 
É preciso compreender os objetivos traçados por Deus para a elevação de Seus filhos, que somos todos nós. 
E para que possamos crescer, de acordo com os planos divinos, o Criador coloca à nossa disposição tudo o de que necessitamos. 
É o amparo da família, que nos oferece sustentação e segurança em todas as horas... 
A presença dos amigos nos momentos de alegria ou de tristeza a nos amparar os passos e a nos impulsionar para a frente. 
São as possibilidades de aprendizado, que surgem a cada instante da caminhada, tornando-nos mais esclarecidos e preparados para decidir qual o melhor caminho a tomar. 
Mas, o que acontece conosco quando nos fechamos na redoma escura da depressão ou da melancolia e assim permanecemos por vontade própria?
É possível que, em pouco tempo, nossas forças esmoreçam e não nos permitam, sequer, gritar por socorro. 
Por essa razão, devemos entender que Deus tem um plano de felicidade para cada um de nós e que, para alcançá-lo, é preciso buscar os recursos disponíveis. 
É preciso imitar os girassóis. 
Buscar sempre a luz, mesmo que as trevas insistam em nos envolver. 
É preciso buscar o apoio da família, nos momentos em que nos sentimos fraquejar. 
É preciso rogar o socorro dos verdadeiros amigos quando sentimos as nossas forças enfraquecendo. 
É preciso, acima de tudo, buscar a Luz Divina que consola e esclarece, ampara e anima em todas as situações. 
 * * * 
Quando as nuvens negras dos pensamentos tormentosos cobrirem com escuro véu o horizonte de tuas esperanças, e o convite da depressão rondar-te a alma, imita os girassóis e busca respirar o ar puro, acima das circunstâncias desagradáveis. 
Quando as dificuldades e os problemas se fizerem insuportáveis, tentando sufocar-te a disposição para a luta, lembra-te dos girassóis e busca a Luz Divina através da oração sincera. 
Redação do Momento Espírita utilizando pensamentos finais extraídos do texto do Momento Espírita Na barca do coração, disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. Fep. Disponível no CD Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. 
Em 09.03.2009.

sábado, 21 de agosto de 2021

UM GESTO TÃO SIMPLES

GLEN OLIVER
Quem poderia imaginar que um gesto tão simples pudesse determinar o destino de uma vida? 
Normalmente, o noticiário nos fala de heróis que, com risco da sua própria vida, se jogaram nas águas da inundação para salvar alguém prestes a se afogar ou ser levado de roldão, pela enxurrada bravia. 
Ou dos heróis que se lançaram em meio às chamas, resgatando uma vítima prestes a morrer sufocada pela fumaça ou consumida pelo fogo.
São fatos que nos emocionam e nos fazem meditar a respeito do desprendimento dessas criaturas, da sua coragem. 
E do efeito benéfico para quem foi salvo. 
No entanto, um canadense, sem sequer pensar nas consequências positivas do seu gesto, salvou a vida de um desconhecido, alguém que jamais viu. 
Esse cidadão, que se considera muito rico e feliz por ter casado com o amor da sua vida e ter quatro filhos maravilhosos, adotou, há bastante tempo, o lema de fazer o dia de outra pessoa feliz. 
Assim, duas vezes na semana, quando compra o seu café em um drive-thru local, ele deixa pago um café e um bolinho para a pessoa seguinte na fila. 
Sua única exigência ao caixa é que diga à pessoa premiada que ela tenha um bom dia. 
O jornal Durham Region, de Ontário, no Canadá, certo dia, recebeu uma carta anônima, na qual o remetente contava que alguém havia pago o seu café e lhe desejado um bom dia através do caixa. 
Dizia o autor da carta que a sua vida estava tão ruim que ele decidira não viver mais. 
Definira acabar com a sua existência naquele mês. 
Mas escrevia: 
Eu me perguntei por que alguém compraria café para um estranho sem motivo algum. Por que eu? Por que hoje? Se eu fosse religioso, tomaria isso como um sinal. Esse ato aleatório de bondade foi dirigido a mim naquele dia com um propósito. 
Surpreso com o gesto, ele se sentiu inspirado e decidiu ajudar a algum estranho. 
Naquele dia, auxiliou sua vizinha descarregando as compras do carro, levando-as, de forma segura, para dentro da casa dela. 
Um verdadeiro contágio do bem. 
Finalmente, o anônimo encerrava com um agradecimento: 
Cara gentil da caminhonete: obrigado do fundo do meu coração. Saiba que o seu gesto de bondade salvou uma vida. Esse dia foi um dos meus melhores. 
O jornal não somente publicou a carta, como uma demonstração de algo muito positivo, quanto pesquisou até chegar no beneficiário: Glen Oliver. Ao ser entrevistado pelo Buzzfeed Canadá, Oliver disse que chorou ao saber da consequência de algo que ele faz, por gratidão à vida, há tanto tempo. Quem poderia imaginar que algo tão simples pudesse dar tal reviravolta em uma vida prestes a se acabar? 
* * * 
O fato nos leva a pensar quantas vezes já iluminamos a vida de alguém, tornamos o seu dia mais feliz com um sorriso, um cumprimento, um agradecimento. 
Quantas vezes ao manifestarmos nossa gratidão ao atendente do comércio não lhe teremos amenizado as horas do trabalho exaustivo.
Pensemos nisso. 
E se a consciência nos disser que não costumamos sorrir, nem agradecer, nem dar uma flor a alguém por coisa nenhuma, que tal começarmos agora?
Redação do Momento Espírita, com base em fato noticiado no site www.sonoticiaboa.com.br de 8.2.2018. 
Em 12.4.2018.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

SEMELHANTES AO CRIADOR

A declaração de um astronauta da Arábia Saudita, descrevendo o efeito na tripulação, na primeira viagem ao espaço, nos chamou a atenção: 
-Nos dois primeiros dias, apontávamos para nossos países. No terceiro e quarto, estávamos apontando para nossos continentes. Quando chegamos ao quinto dia, só percebíamos a Terra. De imediato, nossa mente recordou de tantas coisas lidas a respeito da nossa visão de mundo. 
De tantos convites de filósofos e religiosos, no sentido de que se busque olhar a nossa vida, de um ponto mais alto. 
Realmente, tudo muda de perspectiva. 
Quando estamos no meio de um problema, a impressão que temos é de que nunca conseguiremos sair dele. 
Sentimo-nos como que envolvidos em uma rede muito bem tecida, que não nos permite saída. 
No entanto, quando nossa visão se faz de um ponto mais alto, descobrimos que a vida não é somente aquele problema. 
Ela é feita de muitos e poucos nadas, que fazem a grande diferença.
Olhando do alto, deixamos de perceber somente o ponto obscuro e esmagador. 
Descobrimos que temos, ao nosso lado, preciosidades que devemos preservar, pelas quais devemos zelar. 
O filho pequeno que brinca na sala, que corre, pula no sofá, nos enlaça fortemente e fala: 
-Amo você! 
Ele faz muita bagunça. 
Mas que maravilha é a bagunça dele, com brinquedos espalhados no chão da sala. 
Descobrimos que temos o amor de nossos pais, mesmo avançados em anos, mas que nos admiram e diariamente nos endereçam as suas bênçãos, em nome de um Deus todo Poder, Bondade e Justiça.
Descobrimos que temos um lar, minúsculo que seja, mas onde abrigamos nossos amores, onde nos aglomeramos, entre móveis, livros, pequenos pertences que fazem a nossa felicidade. 
Temos a faculdade de ver, ouvir, sentir. 
Sabemos ler, o que nos permite descobrir os extraordinários encantos de um mundo e de um Universo cheio de surpresas, de coisas inacreditáveis, em termos de diversidade. 
Descobrimos... que somos um filho de Deus, colocado neste mundo para progredir, para trabalhar, para aprender, para lutar. 
Descobrimos que temos um propósito na vida, que pode ser viver mais um dia, simplesmente, ou ser responsável por outras vidas, ou fazer algo útil, ou transformar as horas seguintes de alguém em algo fantástico. 
Somos um ser humano, criado à imagem e semelhança de um Criador Onipotente, portanto, podemos muito. 
Podemos nos erguer e prosseguir lutando, contra o desânimo, contra a pandemia, reunindo forças que nos restam. 
Estamos vivos! 
Onde quer que estejamos, deixemos que nossas pálpebras se fechem.
Fiquemos cientes de onde nos encontramos. 
Ouçamos os sons que nos rodeiam. No silêncio, até o voar de um inseto podemos perceber.
Sintamos os cheiros que nos alcançam. 
A poeira do dia ou da terra que acabou de ser regada pela chuva.
Sintamos a temperatura: calor, frio. 
Tornemos a abrir os olhos e percebamos de quanta riqueza desfrutamos.
Estamos vivos! 
Vivamos este dia! 
A luta prossegue, mas somos filhos de Deus, que nascemos para sermos vencedores. 
Recordemos sempre disso. 
Redação do Momento Espírita
Em 20.8.2021.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A CHAMA DO ACONCHEGO

PINGUIM DINDIM E "SEU"JOÃO
O que faria um pinguim nadar oito mil quilômetros, todos os anos, das águas geladas da Patagônia até uma praia de correntes mornas na costa do Rio de Janeiro? 
Esta é a indagação que se fazem, nos últimos anos, os pescadores de uma aldeia que veem o retorno do pinguim, ao qual até deram nome: Dindim. 
Há mais de cinco anos, ele foi recolhido pelo pescador João de Souza.
Estava exausto, faminto e coberto de óleo. João o alimentou com sardinhas e palavras doces. 
Deu-lhe banho e o deixou livre. 
Mas, Dindim acabou ficando por ali mesmo, durante onze meses. 
Quando ninguém imaginava que fosse embora, ele partiu. 
A grande surpresa foi vê-lo de retorno aos braços do pescador, ano após ano. 
Para aquele animal, João significa carinho, proteção, segurança, alimento.
A felicidade é de ambos. 
Um oferece tudo de novo e manifesta a sua alegria. O outro, se felicita em receber. 
* * * 
Isso nos confere a lição do quanto gestos simples, no dia a dia, tornam os seres humanos mais generosos. E como todos necessitamos de um colo, de um aconchego. Nestes dias de pandemia, diremos que não podemos abraçar, que não podemos oferecer o ombro a quem padece, que nem podemos fazer visitas a quem está hospitalizado. 
Quem poderia imaginar que chegaríamos a esse patamar? 
Doentes isolados em hospitais, longe do carinho familiar. 
A pandemia trouxe mudanças. 
E precisamos reinventar maneiras de estar com o outro, mesmo que seja à distância. 
Que o outro saiba que pensamos nele e que lhe enviamos as vibrações mais sinceras do nosso sentimento. 
O coração cá fora se despedaça por não poder abraçar quem está internado. 
Por sua vez, o enfermo, se consciente, com certeza, se indaga se sobreviverá, se tornará a ver os seus amores. 
Mais do que nunca, necessitamos aconchegar, acarinhar. 
Vivemos em tempo de muitas perdas. 
E as mais profundas são de ordem emocional. 
Quantos nos sentimos destroçados por dentro, longe dos familiares, dos amigos, dos colegas... 
É tempo de aconchego. 
Aprendamos a nos importar mais com o outro e a demonstrar isso.
Usemos o telefone, as mensagens de WhatsApp, o Instagram, o Facebook, as salas de bate-papo. 
Digamos para aqueles que nos importam o quanto eles são importantes.
Se alguém não entra em contato conosco, há algum tempo, tomemos a iniciativa. 
Utilizemos os meios possíveis para lhe perguntar como vai, como está vivendo esses dias. 
Alonguemos a conversa. 
Deixemos que sinta o quanto ele significa em nossa economia de vida. 
Se no grupo de Whats, alguém simplesmente nem espera a madrugada para dizer Olá, não pensemos que ele é inconveniente. 
Pensemos que é alguém que está procurando colo. 
E o nosso colo será a palavra amiga, respondendo, transmitindo o nosso Olá, atencioso. 
É momento de compaixão, de paciência, de atendimento, de estender braços virtuais e preces de ternura. 
Pensemos nisso. 
Não deixemos esfriar o amor, a solidariedade, a atenção. 
Logo mais, haveremos de tornar a nos encontrar. 
Que não sejamos, então, simplesmente estranhos porque, durante meses, estivemos presentes uns nas vidas dos outros. 
Distantes, mas presentes.
   
Redação do Momento Espírita, com base em fato extraído do artigo Saiba acolher, de Liane Alves, da revista Vida Simples, de março 2017, ed. Abril.
Em 18.8.2021.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

GESTOS QUE SALVAM VIDAS

Jack Canfield, Mark Victor Hansen
A chuva caía fina e gélida na tarde quieta. 
Longe, na estrada, um carro parou. 
Era pequeno e meio velho. 
Um rapaz saltou, levantou o capô e se pôs a mexer em tudo que viu. 
O fazendeiro, de onde estava, pensou: 
-Coitado. Pelo jeito, não entende de mecânica. 
Vestiu sua capa de chuva e caminhou até a estrada. 
O jovem estava muito nervoso, mexia no carro, voltava, tentava dar a partida, passava as mãos pelos cabelos. 
-Quer ajuda? 
O rapaz parecia prestes a chorar. 
-É a bobina. – Diagnosticou o fazendeiro, depois de uma boa olhada.
Buscou seu cavalo, rebocou o carro até o seu celeiro e, com seu próprio carro, foi à cidade comprar uma bobina nova. 
Estranhou que, ao chegar à loja, o rapaz não quisesse entrar. 
Deu-lhe o dinheiro necessário e disse que tinha vergonha, por estar molhado. 
Mais tarde, com o carro funcionando, pronto para partir, a esposa do fazendeiro insistiu para que ficasse para o jantar. 
Não era hábito convidar estranhos para adentrar a casa. 
Contudo, aquele rapaz parecia aflito, meio perdido. 
Poderia, talvez, ser seu filho. 
Ele quase não comeu. 
Continuava preocupado, ansioso. 
A chuva se fez mais forte. 
O casal preparou o quarto de hóspedes. 
Na manhã seguinte, suas roupas estavam secas e passadas. 
Ele se mostrava menos inquieto. 
Alimentou-se bem e despediu-se. 
Quando pegou a estrada, aconteceu uma coisa estranha. 
Ele tomou a direção oposta da que seguia na noite anterior. 
O casal concluiu que ele se confundira na estrada. 
Os anos passaram. 
Então, chegou uma carta endereçada ao fazendeiro: 
Sr. McDonald, não imagino que o senhor se lembre do jovem a quem ajudou, anos atrás, quando o carro dele quebrou. Imagine que, naquela noite, eu estava fugindo. Eu tinha no carro uma grande soma de dinheiro que roubara de meu patrão. Sabia que tinha cometido um erro terrível, esquecendo os bons ensinamentos de meus pais. Mas o senhor e sua mulher foram muito bons para mim. Naquela noite, em sua casa, comecei a ver como estava errado. Antes de amanhecer, tomei uma decisão. No dia seguinte, voltei ao meu emprego e confessei o que fizera. Devolvi o dinheiro ao meu patrão e lhe implorei perdão. Ele podia ter me mandado para a prisão. Mas, por ser um homem bom, me devolveu o emprego. Nunca mais me desviei do bom caminho. Estou casado. Tenho uma esposa adorável e duas lindas crianças. Trabalhei bastante. Não sou rico, mas estou numa boa situação. Então, resolvi criar um fundo para ajudar outras pessoas que cometeram o mesmo erro que eu. Dessa forma, acredito poder pagar pelo meu erro. Que Deus o abençoe, senhor, e a sua bondosa esposa. 
Os olhos do casal se encheram de lágrimas. A esposa colocou a carta sobre a mesa e citou versículos do capítulo vinte e cinco do Evangelho de Mateus: 
Era peregrino e me recolheste. 
Tive fome e me destes de comer. 
Tive sede e me destes de beber. 
Estava nu e me vestistes. 
Estava enfermo e me visitastes. 
Estava no cárcere e me fostes ver. 
Em verdade, todas as vezes que fizestes isto 
a um desses meus irmãos mais pequeninos, 
a mim o fizestes. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O visitante da noite, de Hartley F. Dailey, do livro Histórias para aquecer o coração dos pais, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jeff Aubery, Mark & Chrissy Donnely, ed. Sextante e no Evangelho de Mateus, cap. 25, vers.35, 36 e 40. 
Em 4.11.2015.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

NOSSO FUTURO PLANETA

Um grande número de pessoas, independente da crença religiosa, acredita que nascemos muitas vezes. 
Acredita que voltaremos a este mundo. 
Alguns pesquisadores e cientistas já incorporaram essa verdade, provada por anos de experimentações, envolvendo, entre elas, a regressão de memória. 
De forma muito estranha, no entanto, não temos nos comportado como quem acredita nessa verdade. 
Vejamos o exemplo do nosso planeta. 
Seria óbvio que, se temos a certeza de que retornaremos a este local, desejássemos que ele nos oferecesse, em nosso retorno, as melhores condições de vida. 
Entretanto, não temos nos preocupado com ele. 
Os exemplos demonstram que, de um modo geral, estamos preocupados em ganhar dinheiro. 
Dinheiro para gastar agora, nesta vida. 
Dinheiro para adquirir uma mansão, um carro, um iate. 
Dinheiro para viajar pelo mundo. 
Não estamos absolutamente pensando que se o desmatamento prosseguir, teremos problemas para respirar, para a manutenção das chuvas regulares, para a preservação dos mananciais. 
Aliás, as reservas do precioso líquido, água, não estão a nos merecer maior atenção? 
Destruímos as matas ciliares, em total desleixo pela preservação de rios preciosos. 
Tudo porque dinheiro é mais importante do que zelarmos pela natureza.
Entretanto, bastaria um pouco de investimento, maior cuidado, mais atenção. 
Teríamos boa colheita e a preservação ambiental, ao mesmo tempo. 
E quanto à camada de ozônio, que temos feito? 
Preocupamo-nos em não utilizar materiais que a agridem, de forma paulatina? 
Ou estamos mais ocupados em gozar dos bens que a vão destruindo?
Temos zelado e exigido que as nossas indústrias criem mecanismos não invasivos a esse precioso espaço que nos preserva a saúde? 
O que estamos preparando para o nosso futuro? 
Vivemos exatamente como quem, de forma egoística, vê somente o hoje. O importante é gozar o mais possível. 
As gerações futuras haverão de dar um jeito para sua sobrevivência.
Damo-nos conta de que as gerações do futuro, por essa lei chamada reencarnação, seremos nós mesmos de retorno? 
Que planeta estamos preparando para nós? 
Se somos tão egoístas a ponto de não pensar em nossas crianças, será que pensamos no que estamos deixando para nós, no amanhã que virá? 
A reflexão se faz de oportunidade. Não se trata de um mero apelo, ou de digressões filosóficas, visando convencimento de quem quer que seja.
Trata-se de uma questão de bom senso e discernimento. 
Pensemos: onde desejamos ser recebidos, em nosso retorno? 
Num planeta árido, enfermo, com condições insalubres? 
Ou num planeta abençoado pela mata verde, o ar puro, as fontes cristalinas cantando melodias de vida? 
Um planeta de pedras e montanhas de picos agudos, nus, erguendo-se para o céu? 
Ou um local cheio de flores, pássaros cantantes e animais de espécies variadas, mantendo o perfeito equilíbrio ecológico? 
A decisão nos pertence. 
O amanhã depende de nós. 
A hora de construir e preservar é agora. 
O melhor local: onde nos encontramos, no lar, na escola, no escritório, na rua. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 17.8.2021.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

GESTOS DE AMOR

Uma frase escrita em um muro, perdida no meio de rabiscos e desenhos, diz o seguinte:
O amor não existe, o que na verdade existe, são os gestos de amor.
Ao ler esta frase, a primeira questão que nos vem à mente, quase como um reflexo, é nos perguntar como alguém ousa dizer que o amor não existe. Porém, no esforço de tentar compreender essa afirmativa, questionamos: 
-Como podemos conhecer o amor, sem a ação que o coloca em movimento? 
A partir daí, somos capazes de compartilhar da ideia desse desconhecido autor, que nos convida a pensar que o amor somente se revela através das atitudes de cada pessoa. 
 * * * 
Gestos de amor... 
Envolver um bebê recém-nascido nos braços, com encantamento e ternura, e perceber naqueles traços pueris, a manifestação da perfeição Divina. 
Demonstrar interesse frente à empolgação de uma criança quando vem partilhar uma nova descoberta, por mais que, para nós adultos, não seja uma novidade. 
Simplesmente escutar o outro, fixando-o nos olhos com atenção, mergulhando na profundidade do que está sendo falado. 
Quanto bem somos capazes de proporcionar ao próximo nos colocando apenas na posição de ouvintes. 
Presentear... 
Por mais singelo seja o presente, ele chega impregnado de bons fluidos de quem o oferta e carrega a mensagem: 
-Lembrei-me de você. 
Um afago, um abraço... 
O toque leva ao outro um pouco da energia salutar de quem o oferece.
Cuidar... do filho, do amigo, do irmão, do cônjuge, dos pais, dos avós e também daquele que pouco conhecemos. 
Tratar quem quer que seja com respeito e consideração. 
Partilhar, doar... qualquer coisa que o outro esteja precisando: alimento, agasalho, tempo, atenção, sorriso e afeto. 
Dividir conhecimento... 
Cada ensinamento que passamos adiante é mensageiro de um pouquinho de amor. 
Aconselhar, dialogar, preocupar-se, enfim, perceber a necessidade do outro e se fazer presente. 
Perdoar... os afetos, os desafetos e a nós mesmos. 
Ser caridoso. Jesus nos ensinou que a caridade nada mais é do que o amor em ação. 
* * * 
É certo que o amor por si só existe. 
Enquanto Espíritos imortais, todos carregamos sua semente em nosso íntimo. 
Mas para que façamos essa semente germinar, crescer e produzir frutos, é preciso que coloquemos o amor em movimento através das nossas atitudes. 
As ações têm o seu início no pensamento e na vontade de realizá-las. 
Mas a virtude de fazer o bem só se torna ativa e tem valor, quando transformamos a nossa intenção em prática. 
Façamos com que todos os nossos gestos, por mais simples que sejam, estejam envolvidos por esse nobre sentimento, o Amor. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.09.2012.

domingo, 15 de agosto de 2021

GESTO NECESSÁRIO

Orson Peter Carrara
Jornal de grande circulação nacional teve oportunidade de oferecer reportagem especial, em um de seus cadernos, enfocando a gratidão.
Relata que um ex-aluno fez expressiva doação à Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo. O médico, que endereçou oitenta e cinco mil dólares para a Faculdade, é o primeiro filho de um pedreiro e de uma dona de casa. Reconhecendo que deve sua oportunidade à escola pública e gratuita em que estudou, afirmou estar devolvendo à sociedade o que dela recebeu. Segundo ele, saiu da pobreza e entrou na riqueza, graças aos impostos pagos por todos. A doação é sua forma de devolver o benefício. A doação ajudou a criar um laboratório de virologia, para estudar e combater a dengue. 
O caso não é único, embora raro, em nosso país. 
A Universidade Federal de Minas Gerais recebeu quatro milhões e trezentos mil dólares de um seu ex-aluno, que se tornou banqueiro. Os recursos foram canalizados para o setor de gastroenterologia daquela Universidade. 
A Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, São Paulo também recebeu uma fazenda de um seu ex-aluno. O imóvel, no valor de dezesseis milhões de dólares, foi deixado em testamento. Independente de terem seus nomes divulgados pela imprensa, o importante é que suas doações beneficiam a muitos. 
Expressam desprendimento de posses em favor de iniciativas coletivas. Um sentimento de gratidão pelas inúmeras bênçãos recebidas, durante a vida.
Demonstram uma preocupação com o bem-estar alheio, desde que as instituições voltadas para o bem coletivo dependem, quase sempre, de doações. 
Tais gestos colocam em evidência o sentido imediato de uma palavra simples, de grande significado: gratidão. 
Sentimento que surge nos corações onde residem a justiça e a bondade.
E, diga-se, também um entendimento excelente de cidadania. 
A quantia doada é questão secundária. 
O importante é o exemplo e o benefício proporcionado.
Assim, qualquer um de nós a pode expressar, seja pelo simples pagamento de uma mensalidade em favor de uma instituição. 
Ou o oferecimento de uma cesta básica para uma família carente. 
Quem sabe uma contribuição anual para uma pesquisa médica. 
Ou o apadrinhamento de um estudante, facilitando-lhe o acesso aos sempre preciosos livros. 
Ou ainda, a doação de horas de trabalho voluntário. 
As lições do Evangelho de Jesus se referem ao óbolo da viúva e a responsabilidade de quem muito recebeu. 
Dessa forma, agraciados com a escola, não nos esqueçamos de contribuir para que outros tenham acesso a ela. 
Abençoados com a saúde, colaboremos com quem depende de medicação específica para viver cada dia. 
Beneficiados pela atividade profissional, que nos garante a vida digna, criemos condições de acesso ao primeiro emprego a quem aguarda oportunidade. 
Enfim, agradeçamos à vida o que ela nos oferece, multiplicando oportunidades a quem segue na retaguarda. Isto se chama gratidão.
* * * 
Ampliemos o contingente dos benfeitores anônimos. 
Participemos das iniciativas salutares, que possibilitam o progresso e o amparo social. 
Exerçamos a nossa cidadania. 
Enfim, preocupemo-nos em devolver à sociedade o que ela nos deu.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Gesto necessário, de autoria de Orson Peter Carrara, publicado na Revista Internacional de Espiritismo, de outubro/2003. 
Em 16.10.2015.

sábado, 14 de agosto de 2021

GESTO INUSITADO

O dia estava nublado. Várias pessoas aguardavam o ônibus na estação tubo, resguardando-se do vento frio, que soprava forte. Os olhares de todos se revezavam entre o relógio de pulso e a rua à esquerda, de onde deveria vir a condução. De repente, a porta central se abriu e os olhares ali se concentraram, não entendendo o porquê, desde que nenhum ônibus estava à vista. Então, viram que o cobrador saiu de seu posto, saltou para a rua e se dirigiu alguns metros adiante, à direita. Um rapaz aguardava na calçada. O cobrador lhe ofereceu o braço e juntos atravessaram a rua. O rapaz era cego. Os passageiros que aguardavam o ônibus se entreolharam, admirados. O gesto fora inusitado, considerando-se ainda que ninguém se apercebera da dificuldade do deficiente visual. Contudo, o cobrador estava atento e, deixando seu posto, foi prestar solidariedade ao seu irmão, deixando-o, tranquilo, do outro lado da rua. Houve cumprimentos de alguns para ele. Houve quem fosse além e lhe desejasse bênçãos celestes. Ele corou e disse: 
-Nada fiz demais. Eu vi que ele estava inseguro para atravessar e resolvi ajudar.
* * * 
O cobrador era um jovem. 
Para aqueles que costumam dizer que o mundo está perdido, que ninguém se importa com ninguém; que a juventude vive alheia ao seu entorno, o gesto inusitado prova o contrário. 
Poder-se-á dizer, quem sabe, que é um em um milhão. 
Pelo contrário, para quem tem olhos de ver, esses exemplos se multiplicam às dezenas. 
O que ocorre é que, normalmente, da mesma forma que os passageiros, temos os olhos postos somente em uma direção, não nos permitindo alargar a visão, buscando outras paisagens. 
O bem está no mundo e se apresenta, diariamente, em gestos anônimos e desinteressados como o da pessoa que vê cair a carteira da bolsa de alguém, a apanha e corre até alcançá-la, a fim de a devolver. 
Ou de quem percebe que o cadeirante está com dificuldades para subir à calçada e se oferece para auxiliar.
Da vizinha que se predispõe a cuidar das crianças, enquanto os pais necessitam atender a uma emergência; da atendente hospitalar que, extrapolando seu horário de trabalho, fica com o paciente até que chegue seu familiar, para que ele não se sinta só ou entre em pânico; da mãe que leva pela mão seu filho a saborear um sorvete e, observando que outra criança o fixa com olhos de desejo, a essa oferece idêntica gostosura; de alguém que encontra um cão pela rua e, percebendo ser bem cuidado, cogita que deva pertencer a quem muito o quer e se esmera em descobrir seu dono. 
Pensa que possa ser de uma pessoa solitária, cuja companhia única lhe seja o animal. 
Ou, quem sabe, de uma criança que lhe chora a ausência, intranquila e medrosa. 
Sim, há muito bem no mundo. 
Há quem divida o próprio coração para amar os filhos da carne alheia. 
E adicione água ao feijão a fim de servir um prato a mais a quem tem fome. 
E subtraia pequenos desejos pessoais, a fim de atender a verdadeiras necessidades de terceiros, tudo numa bendita e especial matemática.
Uma especial matemática cujo resultado é amor, harmonia, bem-querer, um mundo melhor. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 17.02.2012.