Ela viveu com “um
pires na mão” rogando a Deus e aos homens que a ajudasse a socorrer os
desamparados. Essa foi a determinação de seu espírito: fazer de sua vida um
instrumento da fé e da caridade.
Maria Rita de Souza
Brito Lopes Pontes nasceu em Salvador, dia 26 de maio de 1914, e, aos 20 anos
de idade, consagra sua vida à castidade, pobreza e obediência, recebendo o nome
de Irmã Dulce. Sua pequena estatura e fragilidade física contrastavam com o
caráter independente e obstinado que marcaram sua luta e sua coragem para
defender os pobres e os doentes. Um dos fatos mais marcantes dessa coragem foi
ter invadido cinco casas vazias, na Ilha dos Ratos, para abrigar e cuidar de
mendigos e doentes que recolhia nas ruas. Incompreendida pelo seu gesto
fraterno, foi expulsa do local por ordens municipais, e durante dez anos bateu
de porta em porta, na cidade de Salvador, apelando ao povo, nos mercados e
feiras livres, por um pouco de comida para alimentar seus assistidos, assim
como foi ao encontro das autoridades, prefeitos e governadores, rogando por um
espaço onde pudesse abrigar a sua obra. O único lugar que lhe ofereceram foi um
antigo galinheiro no Convento de Santo Antônio, que sua criatividade e o amor
transformaram num albergue. Mais tarde, com a doação de um terreno pelo governo
da Bahia, seu trabalho e o sonho de servir transformaram o albergue no Hospital
Santo Antônio A dedicação e o tempo fariam desse local a sua grande obra de
caridade, estruturada num centro médico, social e educacional que atende
pobres, doentes e abandonados de toda parte
Sua imensa bondade
começou a repartir-se aos treze anos, entre os miseráveis e carentes que
cruzavam o caminho de seu coração no portão de sua casa, transformada num
centro de atendimento aos filhos do calvário. Contudo, os passos determinados
na sua missão começam aos 20 anos, como professora e enfermeira voluntária,
ensinando e assistindo as comunidades pobres nas favelas de Alagados e de
Itapegipe, na Cidade Baixa, área onde viriam a se concentrar as principais
atividades das suas Obras Sociais, na cidade de Salvador.
Em 1936, ela fundou
o primeiro movimento cristão operário de Salvador chamado União Operária São
Francisco. Para conseguir financiar o número sempre crescente dos seus
assistidos, sua criatividade não tinha limites. Com o franciscano alemão Frei
Hildebrando Kruthaup construiu três cinemas, uma fonte autossustentável com
cuja renda mantinha o Círculo Operário da Bahia, aberto por ambos em 1937, para
atender os filhos dos trabalhadores pobres proporcionando atividades culturais
e recreativas, além de uma escola de ofício.
Sua grande obra é o
Hospital Santo Antônio, capaz de atender setecentos pacientes e duzentos casos
ambulatoriais. A assistência médica conta com especialização geriátrica,
cirúrgica, hospital infantil, centro de atendimento e tratamento de alcoolismo,
clínica feminina, unidade de coleta e transfusão de sangue, laboratórios, um
centro de reabilitação e prevenção de deficiências. A instituição, que atende a
população carente e oferece exames de alta complexidade, é considerada pelo
Ministério da Saúde como o maior complexo de saúde do Brasil com atendimento
100% SUS.
Mas a dimensão das
suas obras sociais não para por aí. Irmã Dulce criou também o Centro
Educacional Santo Antônio, instalado na pequena cidade de Simões Filho, na
Região Metropolitana de Salvador, onde são abrigadas mais de trezentas crianças
de 3 a 17 anos, educadas e encaminhadas para cursos profissionalizantes. Sua
imensa obra social se completa com o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, um
asilo que é tido como referência do Ministério da Saúde no atendimento ao
idoso, pela qualidade integral da assistência ambulatorial e hospitalar para
casos graves e pacientes crônicos.
Suas Obras Sociais
– um complexo de 15 núcleos, que prestam atendimento nas áreas de saúde,
assistência social, educação, ensino e pesquisa médica — estão entre as mais
notáveis realizações assistenciais do Brasil. Católica por convicção, Irmã
Dulce tornou-se uma das figuras mais proeminentes na área da religiosidade do
séc. XX. Sua fé e a entrega de sua vida abraçando a bandeira da caridade foi,
como a vida e a obra do espírita Francisco Cândido Xavier, um exemplo
irretocável de ecumenismo e de amor aos semelhantes, que conquistou respeito de
todos aqueles que colocam o Cristo acima das barreiras das religiões.
Assim a descreve a
jornalista baiana Danutta Rodrigues:
“O que me chamava
atenção em Irmã Dulce era a preocupação que ela tinha com o outro. Ela poderia
estar cansada e era incapaz de transferir isso ao outro. Sempre procurava
ouvir, ajudar, acompanhar. Ela sempre tinha um tempo para todos. Ela era um
evangelho vivo”.
Em 11 de novembro
de 1990, Irmã Dulce foi internada no Hospital Português com problemas
respiratórios e depois transferida à UTI do Hospital Aliança e finalmente ao
Hospital Santo Antônio. Em 20 de outubro de 1991, recebe no seu leito de
enferma a visita do Papa João Paulo II. No dia 13 de março de 1992, aos setenta
e sete anos, seu espírito deixa o corpo físico para voltar ao Mundo Maior com a
certeza de sua missão cumprida. Inicialmente sepultada no alto do Santo Cristo,
na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, seu corpo foi
posteriormente transferido para a Capela do Hospital Santo Antonio, centro das
Obras Assistenciais Irmã Dulce.
Nos jardins deste
hospital há uma pequena placa onde se lê:
“O Galinheiro
Este espaço é o
marco inicial das Obras Sociais de Irmã Dulce. Aqui existia o galinheiro do
Convento Santo Antônio, onde em 1949, Irmã Dulce teve a permissão da madre
superiora para abrigar 70 doentes que cuidava em espaços públicos e privados da
cidade baixa.”
Bibliografia:
Gaetano Passarelli. O Anjo bom da Bahia. Paulinas, 2011.
❗Obs: Nós espíritas
reconhecemos seu grandioso trabalho em prol dos mais necessitados e
reconhecemos-a como gigante espírito de luz!
Texto Divulgado pelo Mundo Espírita (Canal de divulgação da Federação Espírita do Paraná)