terça-feira, 30 de abril de 2019

HÁBITOS ADQUIRIDOS

Será que paramos para pensar nos hábitos que temos? 
Podemos recordar de algum, neste exato instante? 
Talvez nos lembremos, de imediato, dos hábitos relativos à saúde do corpo, da higiene diária. Importantes, necessários, salutares. Quem sabe recordemos dos hábitos de cordialidade, de agradecer, de pedir por favor, de sermos gentis com as pessoas em lugares públicos. Porém, nossos hábitos vão além disso. Um hábito é uma ação que se repete com frequência e regularidade, um comportamento. Ou um pensamento que temos seguidamente, quando determinada situação se apresenta. Um exemplo: o hábito de julgar as pessoas por sua aparência, pelo seu jeitão. Toda vez que encontramos alguém novo, um estranho, fazemos rapidamente um julgamento prévio daquela pessoa em nossa mente. E basicamente nos servimos de nossos clichês. Isso é um hábito, um costume que, por vezes, nem percebemos possuir. Outro exemplo: o costume de interromper as pessoas quando estão explanando uma ideia, desenvolvendo um raciocínio. Não conseguimos esperar que elas finalizem. Nosso pensamento apressado faz com que interrompamos, tentemos concluir o pensamento delas. Tudo sem aguardar as palavras finais. Consequentemente, deixamos de ouvir o que verdadeiramente elas desejavam expressar. Outro hábito é o de elogiar os outros. Sentimos ser importante destacar seus pontos positivos e, sempre que possível, de uma forma simpática, proferimos um elogio sincero. São hábitos adquiridos. Alguns que vêm de nossa formação familiar, cultural, do agora. Outros tantos trazemos do nosso passado, das experiências vividas no antes pelo Espírito imortal. Esse conjunto de hábitos que vamos criando e apresentando ao longo da vida, forma nosso caráter, nosso jeito de ser, nossa educação. A educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. 
Tendo isso em vista, seríamos capazes de fazer um balanço de nossos hábitos? 
Quais os que promovem o bem, nosso e dos demais? 
Quais são os prejudiciais? 
Especialmente aqueles que não fazem bem a nós, nem aos que convivem conosco, nem à sociedade em geral. Se nos conhecêssemos melhor teríamos uma autoavaliação mais precisa do nosso caráter. Enquanto isso, continuamos a fazer julgamentos apressados para dizer se fulano é bom ou mau caráter, normalmente baseados numa conduta específica em determinada área. Uma pessoa de bom caráter é aquela que tem predominantes os bons hábitos, para consigo e para com o próximo. É o homem de bem que conseguiu construir dentro de si condutas e pensamentos agregadores, de fraternidade e entendimento. Reflitamos, dessa forma, sobre os nossos principais hábitos adquiridos ao longo desta caminhada. E nos perguntemos: 
Quais deles queremos manter? 
Quais deles precisamos substituir por melhores? 
Façamos esta saudável viagem para dentro de nosso eu e perceberemos que podemos melhorar muitas coisas que, afinal, irão nos propiciar dias melhores. Os bons hábitos permitem a consciência tranquila, o sentimento de dever cumprido e o consequente amor a nós mesmos. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.4.2019.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

ABRAÇOS GRÁTIS

Na praça movimentada de um grande centro urbano, por onde circulam milhares de pessoas diariamente, uma pessoa solitária estende um cartaz que diz: 
Abraços grátis. 
Reverendo Kevin Zaborney
Possivelmente tenhamos visto alguns vídeos que circulam pela internet, mostrando cenas muito interessantes e emocionantes envolvendo os heróis dos Free hugs, os Abraços grátis. Segundo o site Free Hugs Movement, o registro mais antigo desse tipo de manifestação coletiva aconteceu em 1986, quando o reverendo Kevin Zaborney criou em sua igreja o Dia Nacional do Abraço, celebrado todo ano, em vinte e um de janeiro. Posteriormente, a esse movimento aderiram outras instituições como ONGs, hospitais, escolas dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Austrália, Alemanha e Rússia. 
Em 2001, Jason Hunter deu início ao movimento Abraços grátis, após a morte de sua mãe. 
-Um dia, que começou em completa tristeza, terminou em grande alegria porque eu percebi que minha mãe tinha feito exatamente o que Deus solicitou dela. Disse ele, no site da sua campanha. 
-Ela adorava abraçar as pessoas, independente da raça ou sexo, e fazer com que soubessem o quanto eram importantes. Que mundo maravilhoso poderíamos ter se fôssemos conhecidos como pessoas que têm um sorriso e uma palavra amável para todos.  
Jason quis dar continuidade à missão de sua mãe e saiu pelas ruas da praia, ao sul de Miami, com o cartaz escrito: Abraços grátis
Cada pessoa reage de forma diversa. Há os que rejeitam. Mas os que cedem ao convite simpático, saem com um sorriso no rosto. Há muito mais ali do que o simples ato de abraçar um estranho. Há a doação daquele que se coloca à disposição dos outros para um pequeno gesto de carinho. Imaginamos que nem todos trazem boas vibrações, energias positivas, em seus abraços, pois cada um vem de uma realidade diferente e, muitas vezes, essa realidade é dura e triste. Porém, acabam levando um pequeno mimo, um pequeno consolo, uma breve mensagem que diz: Eu me importo com você. Há também o processo psicológico de se romper com a barreira do afastamento físico, pois muitos de nós trazemos bloqueios nas expressões mais simples de carinho e não aprendemos sequer a dar um abraço. Por isso, podemos ver os mais diferentes tipos de abraços possíveis: de lado, de longe, com medo, quase sem tocar o outro. É uma verdadeira sessão de psicoterapia, descomprometida, ao ar livre, de onde todos saem melhor. A frase encontrada no cabeçalho do site oficial do movimento resume tudo: Às vezes, um abraço é tudo o que precisamos. Talvez, muitos de nós não nos sintamos à vontade para abraçar estranhos. Mas, cabe uma reflexão: Será que estamos abraçando os nossos suficientemente? Os mais próximos, os nossos amores? Será que por vermos nossos pais, filhos, esposos e amigos, constantemente, não estamos deixando de lado os abraços?
Respondamos, por fim, a esta pergunta: 
-Quantos abraços já demos hoje?
Redação do Momento Espírita, inspirado na campanha do site: http://www.freehugscampaign.org
Em 29.4.2019.

domingo, 28 de abril de 2019

ENFRENTANDO A DEPRESSÃO

Considerada pelos especialistas como o Mal do século XXI, a depressão já atinge cerca de 15% da população mundial. A depressão é um estado d'alma que tem como causa diversos fatores. Mas o principal deles, e muitas vezes ignorado pelos especialistas, está radicado no cerne do Espírito imortal. O Espírito eterno é herdeiro de si mesmo. Pela Lei de Causa e Efeito ele traz, ao nascer, as experiências acumuladas ao longo dos milênios. O que geralmente ocorre é que o Espírito que se reconhece culpado cria, inconscientemente, um mecanismo de autopunição. Sabe que infringiu as Leis Divinas e por isso não se permite ser feliz. Assim, nos porões da consciência, o que Freud chama ID, estão esses clichês mentais que muitas vezes são causadores de depressões graves. Por essa razão, nem sempre é possível reverter esse mal sem uma ação profunda e efetiva, nas raízes do problema. O que acontece, muitas vezes, é que, sem se aperceberem da gravidade da enfermidade, muitos pais fortalecem as bases da depressão nos primeiros anos de existência dos filhos, adotando um comportamento inadequado. Quando a educação se baseia principalmente em questões materiais, visando uma projeção social e a abastança financeira do ser, geralmente está se criando fortes bases para que a depressão possa se instalar. Um exemplo simples está no fato de pais e educadores massificarem a ideia de que o sucesso é de quem consegue um lugar de destaque na sociedade. E que vencer na vida significa ter um cargo importante e dinheiro sobrando. Desde pequena a criança aprende a fazer cálculos, ouve falar em investimentos financeiros, juros, aprende a comparar seus brinquedos com os do amigo, o carro do pai com o carro do vizinho, etc. É iniciada desde cedo num mundo de competições, de concorrências, de incentivo ao ter em detrimento do ser. Por tudo isso, quando essa criança se torna adulta e mergulha numa profissão, não está preparada para lidar com as emoções e fraquezas que trouxe consigo de outras eras. Saberá muito bem calcular o quanto seu colega ganha mais do que ele, mas não subtrair uma simples ofensa do companheiro de trabalho. Saberá lutar pela primeira posição na empresa, mas não tolerar a mínima frustração de um afeto não correspondido. Conseguirá traçar metas brilhantes para elevar os lucros da empresa, mas não vencer o abismo que o distancia dos entes queridos. Criará estratégias eficientes para elevar-se na hierarquia, galgando postos de relevância, mas não compartilha a mínima tarefa em equipe. Quando não consegue nenhuma dessas façanhas que julga importantes, frustra-se e acredita-se imprestável, impotente, inútil. E, no final de tudo, aparece a depressão. Esse mal que tem origem nas raízes do ser imortal e que é causa de muitas desgraças nos dias atuais. Outro ponto falho é deixar de passar às crianças a ideia de Deus como um Pai amoroso e justo, além de extremamente misericordioso. Se ele cresce com a certeza da existência de Deus e do Seu amor, saberá confiar e alimentar a esperança de dias melhores, mesmo tendo que enfrentar algumas noites sem estrelas. A criatura que crê em Deus jamais se desespera, mesmo sabendo-se devedora das leis que regem a vida, pois tem a certeza de que Deus não quer o castigo nem a morte daquele que dá um passo em falso. Sabe que Deus deseja, tão somente, que acertemos o passo no compasso das Suas soberanas leis.
 * * * 
Se o seu coração lhe diz que você já tropeçou antes, e as feridas abertas em sua alma o impedem de ser feliz, é momento de parar um instante para refletir. É o momento de abrir a alma ao Criador, reconhecendo os atos insanos e rogar o Seu perdão em forma de oportunidades para refazer o caminho. Certamente ouvirá a resposta do Pai amoroso a lhe dizer com suavidade: Filho, cada dia que amanhece é a renovação da Minha confiança na sua redenção, no seu aprendizado, no seu progresso, como filho da luz que é. E enquanto houver dias amanhecendo, você saberá que o convite do Criador está se repetindo ao seu coração de filho bem-amado. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 6, ed. Fep. 
Em 29.09.2009.

sábado, 27 de abril de 2019

ENFERMIDADES

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
Quando o assunto é doença, todos temos uma história para relatar. Não existe quem não a conheça, por si mesmo, ou através da experiência dos amigos, parentes, familiares, colegas. Alguns a temem e não desejam sequer pronunciar a palavra, como se tal fato pudesse atrair a enfermidade. O de que mais se fala é a respeito das enfermidades do corpo. Conversamos sobre infecções, contágios, epidemias, traumatismos físicos, acidentes. Também mencionamos as várias enfermidades da mente, em seu quadro de fenômenos psicológicos e psiquiátricos, que se apresentam como insatisfações, desajustes, conflitos, alienações. 
Contudo, nos esquecemos das doenças do Espírito. Ouvimos relatos assombrosos de dores amargas e continuamos indiferentes. Sabemos de crianças apartadas de seus pais, de pequeninos entregues a trabalhos árduos para sua tenra idade e isto não nos sensibiliza. 
 A enfermidade da impiedade que nos leva a arquitetar planos de vingança, espalhando dor e desesperança. 
A doença do ódio que tanto mais nos consome quanto mais lhe fornecemos combustível, tornando-nos seres destruidores da paz alheia, semeando calúnias, difamações, envenenando pessoas umas contra as outras.
Enfermidade do ciúme que nos infelicita as horas e nos torna insuportáveis para aqueles a quem afirmamos amar de forma total. 
É a falta de finalidade aplicada à existência que cria a ociosidade, que fomenta a maldade, que nos faz gastar o tempo de forma inadequada. Sem ideais a perseguir não há ações nobres a realizar e as horas passam com lentidão, sem ter algo proveitoso que as preencha. 
Doença da soberba que nos faz acreditar que somos melhores do que os outros, que ninguém mais do que nós merece a felicidade, as compensações da vida, tudo de bom que se possa imaginar. 
Portadores de tal vírus, desprezamos afeições, esquecemos da gratidão e do quanto necessitamos uns dos outros para viver. Todas as enfermidades do Espírito, em resumo, nos levam a esquecer e desrespeitar as leis humanas e as divinas. E seria tão fácil acabar com todas essas doenças. Bastaria que colocássemos em pauta a nossa vontade e eliminássemos do mapa dos nossos comportamentos o egoísmo, a raiva, o medo, o ódio, a ansiedade. O conhecimento e o respeito aos mecanismos de funcionamento da vida alteram a nossa maneira de ser e nos proporcionam a saúde real, aquela que emana do Espírito para o corpo, refletindo a nossa harmonia exterior. 
 * * * 
Jesus jamais adoeceu. Mestre por excelência, a Sua vida era de amor e pelo amor. Com Seus atos e palavras demonstrou a grandeza da verdadeira saúde convidando-nos a vencer as nossas paixões inferiores e a nos tornarmos semelhantes ao Pai que nos criou, perseguindo a perfeição. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 17 do livro Momentos de alegria, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 23.12.2009.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

ADORAÇÃO A DEUS

Em seu Evangelho, o Apóstolo João relata, com sentimento e poesia, o encontro de Jesus com a mulher samaritana. No longo diálogo, percebe-se que Jesus conhece a intimidade daquela alma sofredora e perturbada, enquanto ela mesma somente aos poucos vai se dando conta da condição de Jesus, à medida que ouve suas palavras. Acredita-o um profeta. Mas Israel tinha tantos profetas. No desdobramento das falas, o Mestre lhe informa acerca da verdadeira adoração ao Criador, que dispensa lugares geográficos, mas que busca o íntimo das criaturas. A mulher ouve e entende, mas não consegue perceber a autoridade naquelas palavras. É como se ela pensasse: 
-O que tu me dizes é interessante, é importante mesmo, mas aguardo o Messias, o Cristo, que virá, e, quando Ele vier, nos anunciará todas as coisas.
 * * * 
CAMILO CASTELO BRANCO
Muitos de nós somos como a samaritana. Guardamos as palavras de Jesus na memória, sem lhe darmos o verdadeiro crédito, como à espera de uma confirmação. Contudo, os ensinos de Jesus seguem claros e disponíveis a todos os que os queiram entender em espírito e verdade. Para o Cristo, a adoração ao Pai não é importante se dê aqui ou ali, em algum templo luxuoso, em lugar minúsculo ou em plena natureza. Em síntese, a alma humana também compõe a natureza, e é a alma humana a que tem condições de pensar em Deus. Por isso mesmo, não há lugar mais apropriado para a adoração ao Criador do que a intimidade do ser. Para adorar a Deus não há necessidade de nada material: nem símbolos, nem flores, nem velas, cânticos ou palavras. Nem mesmo posturas especiais. Basta o coração que sente e a mente que pensa, fechando o circuito entre a criatura e o Criador. 
 * * * 
J.RAUL TEIXEIRA
Porque a samaritana esperasse a chegada do Messias, para tudo confirmar, o Mestre apresentou-se a ela não como mais um profeta de Israel, mas como sendo o próprio Messias esperado com tanta ansiedade: 
-Eu o sou, Eu que falo contigo. 
Especial momento aquele, de insuperável sublimidade. Jesus é assim mesmo: o Caminho da Verdadeira Vida. Quando nos demoramos em dúvidas, ou quando damos passos indecisos, Ele se mostra de diversas maneiras, em nossas existências, afirmando-se o Cristo de Deus, o Messias. Eu o sou, Eu que falo contigo. E os que temos ouvidos de ouvir, podemos perceber-lhe a voz terna, assegurando-nos o constante ensino.  
Você sabia? ...que o episódio de Jesus com a samaritana, ocorreu num mês de dezembro ou janeiro? 
No Seu diálogo, Jesus selou o ensino acerca da verdadeira adoração ao Pai com estas palavras: 
-Virá a hora em que adorareis ao pai, não neste monte, nem em Jerusalém, mas em espírito e verdade, pois Deus é espírito e os que o adoram, em espírito e verdade é que devem adorá-lo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 14 do livro Quem é o Cristo?, pelo Espírito Camilo, psicografia de J.Raul Teixeira, ed. FRÁTER. 
Em 26.4.2019.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA

Dolorido o drama daquela mãe. Seu filho Rafael, seu companheiro e confidente, foi morto em um assalto, aos vinte e cinco anos. Quando o criminoso invadiu a padaria onde Rafael trabalhava, ele reagiu. E recebeu um tiro à queima-roupa. A dor materna era superlativa. Em algum momento, as notícias lhe chegaram de que o infeliz homicida tentara o assalto porque precisava conseguir dinheiro para o aluguel da casa. Mas, a dor de Daisy era maior do que qualquer compaixão que pudesse sentir por quem lhe tirara o bem mais precioso: seu filho. Transcorrido algum tempo, a manicure, que a atendia, comentou que sua mãe ajudava a família do criminoso, fornecendo alimentos. Ele fora preso e ficaria na prisão por um largo tempo. A situação da esposa e dos filhos pequenos era nevrálgica. Então, Daisy se compadeceu e, em segredo, passou a colaborar na cesta básica para aquela família tão ou mais infeliz do que ela mesma. Mais tarde, auxiliou a conseguir um emprego para a esposa e creche para as crianças. Longe estava, no entanto, de perdoar o que aquele homem lhe tirara. Nada devolveria a vida do seu filho. Certo dia, foi surpreendida por uma desconhecida que veio lhe entregar uma carta recebida por determinado médium e a ela endereçada. Tudo lhe pareceu estranho porque jamais tivera contato com médiuns ou fora a qualquer centro espírita. Contudo, ao começar a leitura, deu-se conta de que era mesmo seu filho quem escrevia. Tudo o identificava. Entre muitas letras, ele afirmava estar bem, no mundo espiritual. Sentia muito ter tido aquele gesto precipitado, que redundara na sua morte. Sabia o quanto sofria sua mãe. Mas, pedia que ela perdoasse o assassino, uma alma necessitada. Se perdoasse, isso aliviaria o seu sofrimento. E foi o que aconteceu. Daisy descobriu que a mágoa, não importa a origem que tenha, somente atrapalha. Confessa que ao trabalhar o perdão para quem tanto a ferira, principiou a retornar para a vida. É como se tivesse se livrado de uma enorme bagagem, um grande peso. Mágoa é isso. Um peso que atrapalha a nossa caminhada, que nos detém. Relevar ofensas, em verdade, não é nada fácil. Por vezes, podem ser necessários anos de dedicação. Mas vale insistir, pois o caminho do perdão limpa o coração, restabelece o fluxo do amor. Perdoar, dizem, é antes de tudo um ato de inteligência porque beneficia a quem o doa, em primeiro lugar. Estudos revelam benefícios sociais, espirituais, psicológicos e até fisiológicos ao se desculpar o passado. Depois de sua libertação, Nelson Mandela afirmou que deixou de sentir raiva dos responsáveis por seus vinte e sete anos de prisão porque se continuasse odiando, continuaria a ser prisioneiro. 
-Preferi ser um homem livre. – disse ele. Deixei a raiva ir embora. 
Perdoar é libertar o outro e a si mesmo. É encontrar paz de espírito, do lado de fora da prisão da mágoa, do ódio, da raiva. Vale a pena meditar sobre a recomendação daquele filósofo francês: 
-Não importa o que fizeram a você. Importa o que faz com o que fizeram a você. 
Pensemos a respeito. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Mágoas que vão embora, de Raphaela de Campos Mello, da revista Bons fluidos, de novembro/2014, ed. Escala. 
Em 25.4.2019.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

ADVERTÊNCIA

Existem joias raras na literatura mundial, por vezes até de autor considerado anônimo. Há alguns dias, em uma obra, colhemos a seguinte advertência, exatamente nesses moldes de que falamos: Um dia chegará em que, num determinado momento, um médico comprovará que meu cérebro deixou de funcionar e que, definitivamente, minha vida neste mundo chegou ao seu fim. Quando tal coisa acontecer, não digas que me encontro em meu leito de morte. Estarei em meu leito de vida e cuida para que esse corpo seja doado para contribuir de forma que outros seres humanos tenham uma vida melhor. Dá meus olhos ao desgraçado que jamais tenha contemplado o amanhecer, que não tenha visto o rosto de uma criança ou, nos olhos de uma mulher, a luz do amor. Dá meu coração a alguma pessoa cujo coração só lhe tenha valido intermináveis dias de sofrimento. Meu sangue, dá-o ao adolescente resgatado de seu automóvel em ruínas, a fim de que possa viver até poder ver seus netos brincando ao seu lado. Dá meus rins ao enfermo, que deve recorrer a uma máquina para viver de uma semana à outra. Para que um garoto paralítico possa andar, toma toda a totalidade de meus ossos, todos os meus músculos, as fibras e os nervos todos de meu corpo. Mexe em todos os recantos de meu cérebro. Se for necessário, toma minhas células e faze com que se desenvolvam, de modo que, algum dia, um garoto sem fala consiga gritar com entusiasmo ao assistir a um gol, e uma garotinha surda possa ouvir o repicar da chuva contra o vidro da janela. O que sobrar do meu corpo, entrega-o ao fogo e lança as cinzas, ao vento, para contribuir com o crescimento das flores. Se algo tiveres que enterrar, que sejam os meus erros, minhas fraquezas e todas as minhas agressões contra o meu próximo. Se acaso quiseres recordar-me, faze-o com uma boa obra e dizendo alguma palavra bondosa ao que tenha necessidade de ti. 
 * * * 
As palavras de advertência desse anônimo nos convidam a meditar no tesouro que possuímos, que é nosso corpo físico. Tantos esquecemos de render graças a Deus por essa maquinaria maravilhosa, tanto quanto nos olvidamos de lhe providenciar, após a morte física, o devido destino. Tantas são as campanhas em prol da doação de córneas, de rins e vamos protelando sempre para mais tarde a decisão de prescrever nossa doação. Sem nos esquecermos de que, enquanto ainda dispondo do corpo de carne, podemos nos tornar regulares doadores do valioso líquido, que representa a vida e se chama sangue. Meditemos se não estamos sendo demasiado egoístas em não disponibilizar esse tesouro para que outros vivam e vivam de forma abundante. 
Você sabia? ... que a retirada das córneas, após a morte, de forma alguma deforma ou mutila o cadáver? 
Essa é a preocupação de alguns possíveis doadores, que não desejam agredir a família. 
E você sabia que os rins podem ser retirados do cadáver até seis horas após ter ocorrido a morte? 
E, finalmente, que para o Espírito do doador não ocorre mutilação, ao contrário, tais atitudes revelam desprendimento e grandeza d'alma? 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Em minha lembrança, de autoria anônima.
Em 24.4.2019.

terça-feira, 23 de abril de 2019

ENFERMIDADE DA ALMA

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
O cansaço da vida, o desânimo e o desagrado em relação à existência são sinais de problema grave. Por vezes, os levamos à conta do trabalho contínuo, da falta de repouso, da pressão profissional. Contudo, é nossa alma que se encontra enferma. São causas do desalento a nossa revolta e o nosso pessimismo. Revolta contra situações do cotidiano, pessimismo em relação aos fatos que nos atingem ou observamos. A insatisfação que sentimos face à dureza dos sentimentos das criaturas, a má vontade sistemática que percebemos em muitos seres. Sim, essas causas produzem o quadro desalentador que nos toma de assalto e consome. É de urgência que retiremos o traje da infelicidade que nos asfixia e retomemos o controle das nossas aspirações, renovando-nos. Importante que alteremos o ritmo das nossas atividades, que encontremos uma nova motivação. Algo que desfaça a onda de indiferença em que nos percebemos envolvidos. Há quanto tempo não nos permitimos um passeio descompromissado pelas ruas? Um passeio sem tempo, para observar tudo que há de novo. Afinal, passamos todos os dias pelos mesmos locais e não temos tempo de observar o que está sendo mudado, alterado. Observemos as pinturas das casas, os jardins floridos, pois a primavera já enviou suas cores à frente, para anunciá-la. Permitamo-nos deliciar os ouvidos e encher a alma com os sons harmoniosos de uma música. Ouçamos os versos. Cantemo-los. Toda nova ação produz um estímulo específico, que renova o homem que assim se empenha em executá-la com entusiasmo. Sejam modificações pequenas ou grandes, o importante é que se façam constantes. Modificações que nos projetem para frente. Retornemos ao hábito da leitura salutar. Mergulhemos o pensamento nos ditos do Senhor. Redescubramos o Evangelho de Jesus. Recordemo-Lo andando pelas ruas da Galiléia, distribuindo Suas bênçãos, consolando, amparando, ensinando. Imaginemo-nos a segui-Lo. E O sigamos. Estabeleçamos um roteiro de auxílio ao próximo em nossas vidas. Enfrentemos cada novo dia com uma disposição salutar, sabendo-nos úteis na obra de Deus. Ele nos concede recursos ilimitados para que triunfemos, libertando-nos dessa postura enferma, a que damos o nome de cansaço. 
 * * * 
Resguarda-te da hora vazia mas também não te atires ao excesso de trabalho. Abre-te ao amor e combaterás as ocorrências depressivas, movimentando-te em paz, com o pensamento em Deus. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16 do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal, e no cap. 11 do livro Receitas de Paz, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 18.04.2008.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

MEDITAR...RESPIRAR...

É natural. 
Nossa mente sofre sede de paz, como a terra seca tem necessidade de água fria. Por isso, venha a um lugar à parte, no país de você mesmo, a fim de repousar um pouco. Esqueça as fronteiras sociais, os controles domésticos, as incompreensões dos parentes, os assuntos difíceis, os problemas inquietantes, as ideias inferiores. Retire-se dos lugares comuns a que ainda se prende. Concentre-se, por alguns minutos, em companhia do Cristo, no barco de seus pensamentos mais puros, sobre o mar das preocupações cotidianas... Ele lavará a sua mente repleta de aflições. Balsamizará suas úlceras. Basta que você se cale e sua voz falará no sublime silêncio. Ofereça-lhe um coração valoroso na fé e na realização, e Seus braços divinos farão o resto. Você regressará, então, aos círculos de luta, revigorado, forte e feliz. Seu coração com Ele, a fim de que possa agir, com êxito, no vale do serviço. Ele com você, para escalar, sem cansaço, a montanha da luz. 
 * * * 
A meditação dulcifica a aspereza da luta, harmoniza o intelecto com o sentimento e mantém acalmado o homem. Vale esclarecer que não será por efeito de uma a outra experiência mágica que perceberemos o efeito, mas sim através de expressivo esforço. A disciplina, a frequência do exercício, os conteúdos do pensamento, são essenciais para o êxito desse empreendimento íntimo. Tomemos, por exemplo, de uma página do Evangelho. Leiamos pausadamente, digerindo-lhe o significado e nos concentrando nela, para fixá-la. Retiremos a grande quantidade de informações e reflexionemos em cada mensagem revelada, na sua essência. Insistamos em verificar a forma e o sentido de como aquelas linhas poderão nos ser úteis. Analisemos sem pressa para que da letra retiremos seu espírito. Habituemo-nos a esse pequeno costume e estaremos iniciando a meditação que nos levará à paz de consciência e à alegria de viver. Mesmo que disponhamos de pouco tempo, busquemos utilizá-lo para a meditação, descobrindo, logo depois, que os benefícios serão imensos. A meditação nos irá abrir as portas para a perfeita união com Deus que a oração proporcionará. 
 * * * 
Respiremos profundamente e com calma. Reservemos alguns momentos do nosso dia para realizar essa singela tarefa de bem-estar. Recordemo-nos dessa faculdade incrível que temos de fazer com que o ar externo penetre nossos pulmões. O ar é vida e cada vez que respiramos conscientemente estamos nos ligando a ela com mais intensidade. Respiramos automaticamente, respiramos mal, por vezes tomados pela ansiedade e nervosismo que quase nos tiram o fôlego. Aproveitemos, a cada expiração, para retirar de nosso íntimo as preocupações, as revoltas, os sentimentos pouco elevados. Respiremos melhor e vivamos melhor. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 168, do livro Caminho Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e no cap. 1, do livro Momentos de Esperança, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 22.4.2019.

domingo, 21 de abril de 2019

PÁSCOA

Você já deve ter percebido, pelas prateleiras abarrotadas de ovos e coelhos de chocolate, que se aproximam os dias da Páscoa. Os meios de comunicação, em geral, não lhe deixariam esquecer tal data. Se, no entanto, alguém lhe perguntasse o que é a Páscoa, você saberia responder? Qual a relação com ovos, coelhos e chocolates? Tem-se notícias de que os israelitas, bem antes de Moisés, celebravam a Páscoa, sempre na primeira lua cheia da primavera, quando ofereciam à Divindade os primogênitos do seu rebanho. A palavra em aramaico pashã, em hebraico pesah (pessach), significa a passagem. Segundos uns, do sol pela constelação do carneiro ou da lua pelo seu ponto mais alto. Nas línguas saxônicas o nome indica uma associação com o mês de abril, quando se comemorava a morte do inverno e a recuperação da vida, a chegada da primavera. O sentido de passagem é relacionado no livro bíblico Êxodo. Foi na época da Páscoa que se deu a libertação do povo hebreu. Cerca de quinze séculos antes de Cristo, depois de ter vivido cerca de quatro séculos no Egito, duramente tratado pelos faraós, conseguiu o povo de Israel abandonar para sempre a terra da escravidão. Naquela noite, os hebreus se serviram da carne assada de um cordeiro, pães ázimos, isto é, sem sal e fermento e alfaces amargas. Em memória daquela noite, todo ano, pelo catorze de Nisan (o mês de abril), os chefes de família celebravam a Páscoa comemorando agora a libertação do cativeiro egípcio. Os Evangelhos nos dão notícias da última ceia de Jesus com os Apóstolos justamente à época da Páscoa. A paixão, morte e ressurreição de Jesus coincidiram com essa festa. Para os cristãos, a data deve lembrar a ressurreição do Cristo. Após a Sua morte na cruz, Ele se mostra vivo para os Apóstolos, discípulos e amigos. Em corpo espiritual, Ele penetra em recintos fechados, aparece e desaparece, fala em tom breve. Seus discípulos sentem que já não é um homem. É, no entanto, o amigo que retorna para orientar, esclarecer. Jesus voltou, indicando que a morte não existe, provando todas as Suas palavras, dando testemunho da Imortalidade. Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios, afirmava que se o Cristo não ressuscitara, vã seria nossa fé. O costume de oferecer ovos como presente, nessa época, remonta aos antigos egípcios. Entre nós, o costume foi trazido por missionários que visitaram a China. Só que antigamente, eram ovos mesmo, de pata ou de galinha, coloridos e enfeitados, depois transformados em ovos de chocolates. Para alguns historiadores, o coelho, por ser o animal que mais se reproduz, traduz antigos ritos da fertilidade. Assim, a Páscoa para o cristão deve lhe trazer à memória o ensino vivo da Imortalidade, atestado pelo próprio Cristo. Recordar Jesus, pois, Seus ditos e Seus feitos: eis a verdadeira comemoração da Páscoa. Importante que nos libertemos de ritualismos, de cultos exteriores, que nos retardam o progresso. Só então o Reino de Deus fará morada em todos os corações, realizando-se a reforma íntima de todos os homens. 
 * * * 
Os ovos de chocolate foram introduzidos no Brasil entre os anos de 1913 e 1920, por imigrantes alemães. Foi a partir do século XVIII que se passou a incorporar o ovo de chocolate na comemoração da Páscoa. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 22.08.2011.

sábado, 20 de abril de 2019

ENFERMEIRA MUITO ALÉM DO DEVER

Conta A. J. Cronin, em sua obra, Pelos Caminhos da Minha Vida, o exemplo de Olwen Davies, uma enfermeira que, aos 25 anos, recém-saída do seu curso prático de hospital, foi nomeada para o cargo de enfermeira visitante. Apesar da recepção gélida que teve no lugarejo para onde foi mandada, ela se entregou entusiasticamente ao trabalho. Com qualquer tempo, saía a pé visitando os doentes, subindo montes, e andando por caminhos desertos. O médico da localidade era um mau profissional e tantos foram os desencorajamentos, que Olwen teve que lutar para vencer a tentação de demitir-se. Quando uma violenta epidemia de febre tifoide atacou a pequena cidade, ela foi até o responsável pela saúde pública, a fim de receber instruções para combater a epidemia. Irritado, ele a despachou, dizendo que o surto não era novidade. Os doentes seriam tratados e pronto. Era o que bastava. A enfermeira colheu amostras da água de diversos poços artesianos, onde a população se abastecia, e encaminhou para análise laboratorial. Quarenta e oito horas depois, um telegrama oficial dava contas de que o tifo tinha origem num determinado poço que abastecia a parte baixa da cidade. O Centro de Saúde interditou o poço e a enfermeira sofreu protestos de toda ordem, por ter exorbitado dos seus deveres, metendo-se onde não devia. No entanto, não apareceram mais casos de tifo e a epidemia foi cortada em tempo recorde. A opinião pública mudou e o povo lhe abriu as portas. Uma comissão de moradores, ao final do ano, a presenteou com uma bicicleta. Agora, ela chegava mais rápido aos doentes mais carentes. Por iniciativa própria, inaugurou uma Clínica para crianças e velhos, em um quarto alugado e pago com o seu dinheiro. Quando lhe diziam que ela deveria estar ocupando cargos de diretoria em importantes hospitais, como algumas das moças que haviam se formado na mesma turma, ela respondia: 
-O meu lugar é este, onde me encontro. Prefiro trabalhar no anonimato, tratando de crianças e velhos carentes. 
Certo dia, ela saiu em sua bicicleta para atender um chamado. Em um trecho da estrada, foi de encontro a uma pilastra que havia caído atravessada. Olwen Davies ficou ali, toda a noite, sob o vento e a chuva. Encontrada pela manhã, foi levada para o hospital de uma cidade maior. Ela havia fraturado a coluna vertebral. Uma série de operações longas e complicadas, massagens e eletroterapia resultaram em nada. Nunca mais ela poderia andar. A corajosa enfermeira não se abateu. Anos mais tarde, numa cadeira de rodas, o cabelo embranquecido, mais magra, as pernas cobertas por uma manta, mas ainda de uniforme, estava ela firme no trabalho a benefício do próximo. Cercada pelos seus doentes, na maioria crianças, ela impelia com as mãos práticas as rodas da sua cadeira. Quando as pessoas lhe perguntavam como se sentia, ela sorria, traduzindo alegria e bem-estar, e dizia: 
-Não está vendo? Estou ótima! Voltei ao trabalho e ainda sobre um par de rodas. 
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Recorda sempre da nobre aplicação dos valores de que dispões: a visão, a palavra, a audição, movimento, lucidez e tantos outros, distribuindo bênçãos entre os que conduzem um fardo mais pesado que o teu. E lembra que O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. 
Redação do Momento Espírita, a partir do artigo O dever e o altruísmo, de autoria de José Ferraz, inserido na revista Presença Espírita, nº 229, ed. Leal e do item 7, cap. XVII de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 19.07.2010.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

AS ENERGIAS DA ALMA

O quarto dele mais parecia um depósito. Sobre um móvel havia quadros, fotos, tudo amontoado, sem ordem alguma. Pelo chão, estavam espalhadas caixas de aparelhos eletrônicos, há muito tempo sem utilidade. Pastas, cadernos, livros, papéis faziam pilhas pelos cantos, em cima de mesas e cadeiras. Numa grande estante, estavam fitas cassete, de vídeo, DVDs e CDs. Notava-se, além da desorganização, o desleixo, porque uma grossa camada de poeira podia ser vista. O armário, por sua vez, mal podia ter as portas encostadas, abarrotado que estava de roupas, casacos, sapatos, chinelos. Interessante que a quase totalidade desses itens já não lhe servia. No entanto, tudo ficava ali guardado para ser utilizado, algum dia. A casa toda era uma grande confusão, demonstrando que organização e limpeza, andavam longe dali, há muito tempo.
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A organização do ambiente em que vivemos ou no qual trabalhamos, dos móveis, objetos, roupas, retratam o nosso mundo interior. Por causa disso, importante aprendamos a renovar a energia dos ambientes em que nos encontramos, abrindo janelas, permitindo que os raios do sol a tudo invadam e que o vento realize a sua visita benfazeja, varrendo para longe os miasmas acumulados. Da mesma forma, nos disciplinarmos para manter estantes e armários organizados, descartando ou doando a terceiros tudo o que não mais nos seja de utilidade. Roupas que permanecem o verão, primavera, outono e inverno sem deixarem as gavetas, as prateleiras, estão exigindo doação. Quando abrimos espaços em caixas, baús, estantes, ao mesmo tempo estamos dilatando nossas próprias percepções mentais. Arejando a casa, o escritório, igualmente arejamos a mente. E se nos dispomos a doar roupas e utensílios que não nos estão sendo úteis, pensemos em quantos benefícios poderemos proporcionar a quem deles necessita. Dilatando espaços físicos, nos sentiremos mais leves, com um ar de renovação a nos envolver. 
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Com o nosso ambiente externo organizado, é igualmente importante analisar mais profundamente outra situação. Na maioria das vezes, também costumamos guardar entulho dentro de nós mesmos. São mágoas, desgostos, tristezas, sofrimentos passados, lembranças de dores vividas e revividas que vamos arquivando na intimidade. E se objetos amontoados se enchem de poeira e roupas encerradas em armários tendem a ficar emboloradas e se tornarem alimento para traças, esses sentimentos e emoções retidos em nossa intimidade, somente nos causam incômodos, desconforto, gerando doenças. E, da mesma forma que a luz solar fica impedida de adentrar um local abarrotado de coisas, a luz do amor fica impossibilitada de adentrar um coração cheio de sentimentos negativos. Para nosso próprio bem, façamos circular as energias, as boas energias. Ventilemos os ambientes externos, organizando e retirando o que não usamos, e renovemos nossos sentimentos, deixando o amor fluir. A higiene física nos auxilia a ter boa saúde. As boas energias da alma nos auxiliam a manter o equilíbrio interior. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita.
Em 29.4.2017.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

SOLO DE VIOLONCELO

Zuill Bailey
Um belíssimo solo de violoncelo do premiado músico Zuill Bailey. Ouve-se ao fundo, misturando-se com as notas harmoniosas, ruídos de monitores de frequência cardíaca e respiratória, que soam em repetição no tempo. Bailey está de olhos fechados, sentado ao lado de algumas incubadoras de uma UTI neonatal, num Hospital do Texas, Estados Unidos. Ele é diretor artístico, desde o ano 2000, do Pró-Música, um grupo que toca em centros médicos para ajudar no processo de cura de pacientes. 
- A música é projetada para acalmar e curar e você vê que há uma mudança no estado da saúde dos pacientes, disse Felipa Solis, diretora executiva da El Paso Pró-Música.
Acrescenta ainda que tocar música para pessoas hospitalizadas é uma extensão da missão do grupo de tornar a música clássica acessível a todos. Pacientes no Hospital, desde o início da vida na Unidade de Terapia Intensiva neonatal, até o final, recebem música por razões confortantes e é realmente incrível de ver, disse Solis.
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LÉON DENIS
Ainda estamos longe de descobrir tudo que a música é capaz de proporcionar às nossas almas tão imaturas. Seu poder misterioso e soberano se estende sobre todos os seres, sobre toda a natureza. Efetivamente, a lei das vibrações harmônicas rege toda a vida universal, todas as formas da arte, todas as criações do pensamento. É um meio seguro de elevar o pensamento às alturas sublimes, onde reside o talento inspirador. Ela introduz equilíbrio e ritmo em todas as coisas. Influi até sobre a saúde física por sua ação sobre os fluidos humanos. Sabe-se que Saul, em suas crises nervosas, mandava chamar Davi, que, com os sons de sua harpa, acalmava a irritação do monarca. Em todos os tempos, e ainda em nossos dias, a arte musical foi aplicada à terapêutica, e com resultados positivos. Multiplicam-se os estudos na área, mostrando os benefícios do contato com as artes, para crianças, jovens e adultos. A expressão artística, quando comprometida com o belo e o bom, sensibiliza e penetra no profundo do Espírito, colocando-o em contato com a beleza universal, que provém de Deus. E a música realiza esta tarefa de uma forma toda especial. Para muitos, é a mais sublime das artes, pois, melhor que a palavra, representa o movimento, que é uma das leis da vida. A música é a própria voz do mundo superior! 
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Que a música esteja em nossas vidas não apenas como um entretenimento. A verdadeira arte não existe somente para entreter e sim para elevar o ser. Que possamos escolher momentos para ouvir músicas feitas para a alma, as que nos enternecem o coração, as que, de alguma forma, nos remetem a outras esferas, mais sublimes. O homem precisa contemplar o excelente para desenvolver seu bom gosto. Que a arte sensual, ainda tão presente neste mundo, possa ir dando lugar a uma arte mais madura, comprometida com propostas transcendentes, que faça pensar e, acima de tudo, seja sempre o belo expressando o bom. 
Redação do Momento Espírita, com base em matéria do site sonoticiaboa.com.br de 13.2.2019, e da pt. VII,do livro O Espiritismo na Arte, de Léon Denis, ed. CELD. 
Em 17.4.2019.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

A MENSAGEM DE UM MENINO

Ele tinha apenas oito anos, contudo, detinha a sabedoria das grandes almas. Era uma criança no corpo. Mas, seu Espírito já se dera conta de que breve seria sua vida sobre a Terra. Generoso, como todas as almas nobres, a sua era a preocupação com outras pessoas. Como ficaria sua mãe sem ele, por exemplo? Quando soprou as oito velas do seu bolo de aniversário e sofreu uma nova e grave crise que o levou ao hospital mais uma vez, Peter resolveu fazer uma lista. Era uma lista de alguns itens que ele desejava executar, antes de morrer. Dos itens constava encontrar alguém que se encarregasse de retirar a neve da frente da casa. E isso não foi muito difícil, porque um dos vizinhos disse que teria prazer em assumir esse encargo. E, porque se preocupasse com a qualidade de vida de sua mãe, desejava conseguir, de alguma forma, que ela concluísse a canção que começara a compor quando ele nascera. Seria o reconhecimento e a consagração dela como compositora. Para si mesmo, duas coisas eram muito especiais: morrer em casa, cercado de seus amigos e colocar um grande mastro, frente à sua casa, sinalizando que era ali que Peter se encontrava. Ele iria morrer e desejava que os anjos soubessem onde ele morava, para o virem buscar. A mãe, descobrindo a lista e reconhecendo a sua importância, se esmerou e, mesmo com o coração a sangrar, concluiu a canção. Ela a chamou de O salmo 151. Explicou que lera os cento e cinquenta salmos da Bíblia, mas que nenhum deles traduzia a alegria que ela sentira ao dar à luz a seu filho. A dificuldade em conclui-la se dera em função da descoberta da enfermidade de que ele era portador e do pouco tempo de vida que teria. Todos os recursos possíveis foram empreendidos para que o convênio de saúde aprovasse cuidados ao pequeno enfermo, no lar. E, numa tarde fria, enquanto Peter se despedia da vida física, os amigos se reuniram para cantar, junto com sua mãe, O salmo 151. Quando Peter deixou exalar o último e tranquilo suspiro, os olhos dos amigos se ergueram para contemplar a bandeira tremulando ao vento. E, em todos os corações, havia a certeza: a bandeira indicativa era desnecessária. Pela forma como suportara a enfermidade e as dores, como se preparara para a morte, pelo seu desprendimento e amor, os anjos sabiam, com certeza, onde estava Peter. E o tinham vindo buscar. 
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Existem Espíritos que estão entre nós por pouco tempo. Especiais, destacam-se pela sua forma de ver e sentir a vida. Vem e vão rapidamente. No entanto, a sua mensagem de amor é de tal forma forte, vigorosa, que deixam o aroma da sua presença indelével entre os que tiveram a ventura de com eles conviver. A sua lição é do amor que não se apaga, da bondade que se preocupa com o outro e da sábia resignação ante aquilo que não pode ser alterado. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no episódio O salmo 151, do seriado televisivo O toque de um anjo. Disponível no CD Momento Espírita, v. 16, ed. FEP. 
Em 16.4.2019.

terça-feira, 16 de abril de 2019

O ENDEREÇO CERTO

O jovem rapaz fazia os últimos preparativos para a viagem que se avizinhava. Ficaria distante da família, do país, na busca de novos desafios profissionais. Estava às portas de iniciar uma nova fase da vida, na qual precisaria se afastar do lar, dos amigos. Pela primeira vez, pensava ele, estaria sozinho, dono de si e de seu destino. Os vinte e poucos anos davam-lhe o combustível para correr em busca dos sonhos e das aventuras, no desejo natural de se descobrir e descobrir a vida. Certo dia, o avô o chamou, pois queria ter com ele uma conversa antes de partir. Recebido entre abraços e brincadeiras carinhosas, o velho senhor o convidou a ouvi-lo, pois tinha um último conselho a lhe dar antes da viagem. O jovem, afeito aos cuidados naturais do avô, imaginou que seriam as falas de sempre, aqueles conselhos para se cuidar, mandar notícias, e outras coisas do gênero. Sentou-se e esperou. Contudo, com o peso da sabedoria que os anos lhe possibilitavam, o avô o olhou, profundamente, nos olhos e lhe disse: 
- Meu filho, por onde quer que você vá, não importam os caminhos e possibilidades que a vida lhe oferte, lembre-se de nunca perder o endereço de sua casa. 
O rapaz achou, a princípio, que se tratava de alguma brincadeira, ou mesmo que o juízo do avô falhara por alguns instantes. Afinal, como ele iria esquecer o nome da rua, o número da casa que lhe fora lar por toda a vida? 
-Como assim, vovô, perder o endereço de casa? O senhor acha que eu não vou me lembrar onde moro?
Depois de uma pausa natural, o ancião explicou: 
-Meu filho, muitos serão os convites que lhe chegarão. E cada convite, será uma bifurcação na estrada de sua vida. Você terá a opção de ir para um lado ou para outro. Terá sempre a chance de dizer sim ou de dizer não. A sua resposta, para cada convite é que definirá o rumo de sua caminhada, o destino que você estará construindo para si mesmo. Assim, quando tiver dúvidas, quando se perguntar se vale a pena isso ou aquilo, lembre-se do endereço de sua casa. Lembre-se dos valores com que foi educado. Lembre-se de que é aqui que você aprendeu a ser honesto, honrado, solidário com o próximo, a ser uma pessoa de bem. As propostas que o afastarem da sua casa, tenha certeza, não valerão à pena. Não importa se possam acenar com sucesso, conquistas, dinheiro ou reconhecimento social. 
Escutando as valiosas palavras do avô, o jovem, emocionado, o abraçou, guardando na alma a lição. 
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Os valores recebidos no lar deverão nos acompanhar vida afora, aonde quer que nos conduzam nossos passos e nas mais diversas circunstâncias, sorria-nos o sucesso ou as momentâneas nuvens do fracasso. Os conselhos dos que nos antecederam na jornada reencarnatória devem nos merecer acurada reflexão, uma vez que, tendo experienciado determinadas lutas, eles têm, além do peso natural dos anos, a própria vivência a lhes guiar as palavras. Pensemos nisso. Fiquemos atentos às ponderações dos que nos querem bem e somente desejam que sejamos felizes nesta vida, sob a bandeira da honestidade e da dignidade. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 28, ed. FEP. 
Em 9.9.2015.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

VIDA OU MORTE

Todos os seres vivos nascemos, vivemos um determinado tempo. E morremos um dia. Nada mais certo, nesta Terra. Fatal é o instante da morte. Contudo, muitos fatores podem determinar que aceleremos o momento da nossa morte ou a retardemos. Alguns pensamos que existe um dia, com hora e segundo certo de morrer. No entanto, isso não retrata a verdade. Vejamos que as flores que plantamos em nosso jardim dependem de nossos cuidados. Podemos lhes abreviar a vida, deixando de lhes fornecer a água de que necessitam. Ou podemos, simplesmente, arrancá-las e jogá-las no lixo. Os animais domésticos igualmente aguardam que lhes providenciemos o alimento, a água, o abrigo. Quantos de nós lhes aceleramos o processo da morte por descuidos, abandono ou negligência? Quantos não providenciamos os medicamentos e cuidados especiais que necessitam? E nem temos ideia correta por quantas espécies animais extintas somos direta ou indiretamente responsáveis. Se falarmos de nós mesmos, a questão não se faz muito diversa. Podemos acelerar nossa passagem por este planeta, nos entregando a vícios, por exemplo. Alguns acreditamos que são simples hábitos, que não nos causarão maiores males. Esquecemos de que uma gota de veneno pode causar a morte. E existem venenos que aceitamos, diariamente, como o fumo, o álcool. Um e outro podem nos ocasionar enfermidades que abreviarão a nossa estada nesta Terra. Ou irão, a pouco e pouco, minando cargas vitais, com igual resultado. Também nossa forma de reagir ao que nos ocorre depõe contra nossa vida. Uma explosão de raiva pode destruir energias preciosas, causando danos ao cérebro, aos neurônios. De acordo com um estudo realizado por cientistas americanos, o mau humor, a impaciência e a raiva podem causar ataque cardíaco. Afirmam que jovens, que reagem rapidamente ao estresse com raiva, tem três vezes mais chances de desenvolver doenças do coração. Esses jovens têm cinco vezes mais chances do que as pessoas calmas de sofrer um ataque cardíaco prematuro, mesmo sem ter histórico de doenças cardíacas na família. Conclui-se que temperamentos explosivos podem desenvolver doenças muito antes que qualquer outro fator de risco se torne aparente, como diabetes ou hipertensão. Verificamos, assim, que nossa vida depende de nós. Mais longa ou mais curta. Mais calma, com menos dores de cabeça, de estômago e problemas biliares. Ou mais estressada, recheada de manifestações agressivas e ataques de raiva. A questão é como desejamos viver. E quanto mais desejamos viver. Alguns homens na face da Terra atestam que respirar o saudável, em pensamentos e atos, coopera para a longevidade. Ultrapassando os noventa ou os cem anos, mantêm a lucidez, excelente memória. E cooperam com a Humanidade, onde se encontrem. Alguns constituíram família, criaram filhos e abençoaram os netos e bisnetos, deixando-lhes um exemplo de nobreza e dignidade. Tudo recheado com muita calma e muito amor. Pensemos nisso e nos amemos. Amemos nosso corpo, nosso instrumento de trabalho. Amemos nossa vida, talento divino que nos foi concedido para a realização do melhor.
Redação do Momento Espírita. 
Em 15.4.2019.

domingo, 14 de abril de 2019

ENCOSTOS

Richard Simonetti
Uma ouvinte escreveu para o nosso programa e nos pediu que falássemos sobre encostos. Antes de tudo, é bom esclarecer que o que vulgarmente se entende por encosto é a suposta presença de um Espírito junto a um encarnado, ou seja, um morto que se liga a um vivo a fim de perturbá-lo. Convém que tenhamos em mente que o mundo espiritual não fica em região distante do mundo dos vivos, ao contrário, ambos se interpenetram. Assim, os Espíritos nos percebem, assim como alguns encarnados os percebem através da faculdade mediúnica. A reger esses dois mundos, há a Lei de afinidade ou de sintonia. Dessa forma, é pelos pensamentos que atraímos os desencarnados e somos atraídos por eles. Se for um familiar, um ente caro que está do lado de lá e nós o chamamos constantemente pelo pensamento, ele sente as nossas vibrações. Se forem vibrações equilibradas de carinho, afeto, saudade, ele se sentirá bem. Todavia, se nos lembramos dele com revolta, mágoa, nós é que nos constituiremos em encosto, isto é, não lhe damos sossego no além-túmulo. Se por outra, o chamamos para que nos auxilie e ele não se acha em condições para tanto, sentirá nosso assédio mental e sofrerá com isso. Considerando-se, ainda, que raras são as pessoas que têm um retorno tranquilo à vida espiritual, por lhes faltar conhecimento e, sobretudo, preparo, essas são como náufragos do além, que precisam de socorro. Isso ocorre por terem se ligado tão intensamente aos interesses materiais que, ao desencarnar não apresentam a mínima condição para reconhecer onde estão e o que lhes compete fazer, como atordoado sobrevivente de um naufrágio em ilha desconhecida. Espíritos assim podem permanecer no próprio lar, ao lado dos familiares. Ignorando sua nova condição, solicitam ajuda e se desesperam ao sentir que não são atendidos. Se na casa há alguém com razoável sensibilidade psíquica, passa a colher algo das angústias e inquietações do desencarnado e, não raro, sensações relacionadas com os sintomas da doença que motivou seu falecimento. Nesse, como nos demais casos, cabe-nos o dever de ajudar. Seja fazendo uma prece, rogando a Jesus que encaminhe esse Espírito, seja vibrando com carinho em seu favor, ou simplesmente endereçando-lhe um bom pensamento. O importante é que tenhamos sempre em mente que os ditos encostos nada mais são do que os homens e mulheres que viveram na Terra e que agora habitam o mundo dos Espíritos. Não há razão para temê-los, nem para expulsá-los com indiferença. São nossos irmãos, rogando auxílio e compreensão. 
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Muitos Espíritos ficam presos no lar algemados pelas vibrações desajustadas de familiares que não aceitam a separação. Evitando o desespero e a inconformação estaremos ajudando os seres que amamos, na viagem de retorno à pátria espiritual. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Presença invisível, do livro Uma razão para viver, de Richard Simonetti, ed. Gráfica São João. 
Em 12.08.2010.

sábado, 13 de abril de 2019

BASTA!

Andrey Cechelero
Até quando cairemos, sem aprender as lições da queda... 
Até quando faremos escolhas egoístas, quando tudo aponta para uma vida de colaboração... 
Até quando nos perderemos por tão pouco, confundindo o que é meio, com o que é fim.. Até quando afundaremos na lama... segurando o fôlego, em agonia, desejando estar em outro lugar. 
Nossa vida precisa de bastas. Estancar, interromper, ou então: começar, agir. Algumas coisas merecem decisões drásticas de nossa parte, senão permaneceremos como estamos para sempre... Todos colecionamos histórias valiosas dos bastas que demos em tantas situações. e como foram importantes... A partir daquele dia eu decidi..., ou, foi naquele dia que parei; ou ainda, foi naquele momento que mudei isso ou aquilo em definitivo. Foram instantes divisores de água, quando percebemos que a vida até então havia sido de um jeito e precisava ser de outro. Paulo de Tarso teve seu basta na estrada de Damasco, naquele encontro inesquecível, quando decidiu mudar. e mudou. Não foi por uma ação externa ou por imposição do Cristo. Não, ele decidiu que seria diferente. Maria de Magdala teve seu basta no encontro com o Mestre na casa de Simão Pedro. Ouviu-lhe a proposta iluminada e deixou a humilde residência do Apóstolo dizendo: Senhor, doravante renunciarei a todos os prazeres transitórios do mundo, para adquirir o amor celestial que me ensinastes!... Acolherei como filhas as minhas irmãs no sofrimento, procurarei os infortunados para aliviar-lhes as feridas do coração, estarei com aleijados e leprosos... Francisco de Assis deu seu basta na solitude de seus pensamentos, quando, ao retornar, enfermo, de uma guerra, aceitou o convite do Cristo que lhe falava em pensamento. São todos exemplos grandiosos de personagens que receberam missões grandiosas. Contudo, somente se fizeram grandes porque tomaram decisões. É certo que as grandes mudanças da alma vêm, paulatinamente, são construídas com as experiências, as encarnações. No entanto, há muitos momentos em que necessitamos mudar de direção subitamente, tomar atitudes enérgicas em relação a nós mesmos. Se assim não fizermos, o comodismo nos manterá inertes e mais, nos levará ao sofrimento desnecessário. Assim, que possamos nos autoanalisar e verificar qual é o basta que precisamos dar, neste momento. Algum vício? Alguma situação familiar que incomoda? Algo importante que precisemos dizer e não consigamos? Algo que sentimos, no fundo da alma, que não está certo? Algo que sabemos que precisamos fazer e ainda não fizemos? Acreditemos em nossa força, contando com o auxílio do Alto, que sempre está presente, quando nos dispomos a gestos de nobreza e vitória pessoal. Acreditemos que o que não está certo pode ser transformado. Por vezes, tudo que falta é um sonoro e imponente basta! 
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O basta é um choque que damos na própria alma, quando percebemos que está passando da hora de mudar. O basta é convite à ação imediata, no campo da intimidade ou da vida de relação. Não nos permitamos permanecer apenas no campo do remorso ou da indignação. É necessário agir, com os instrumentos que temos. E agir agora.  
Basta! 
Redação do Momento Espírita, com base em poema de Andrey Cechelero e no cap. 20, do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 11.4.2019.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

UM ENCONTRO SINGULAR

Na manhã apenas desperta, o homem se levantou. Na tristeza de que se sentia envolvido, olhou para o filho doente, que gemia no leito pobre. A esposa dormia e ele se preparou para sair antes que ela despertasse, com o mau humor habitual. Seu rumo era o mercado, onde ele recolhia os frutos desprezados por aqueles que têm em demasia e desconhecem a dor do estômago vazio. Um movimento inusitado, no entanto, lhe chamou a atenção. Eram gritos, correria. O povo se acotovelava formando um cortejo barulhento. Soldados da Roma dominadora e audaciosa conduziam um condenado à morte. O homem parou a observar aquela cena e pensou que Aquele prisioneiro era muito mais infeliz do que ele próprio. As suas eram as dores morais: doíam por dentro. Mas aquela criatura se apresentava machucada, sem forças, a carregar aos ombros um madeiro bruto e pesado. Seus passos eram vagarosos, como num compasso de sinfonia fúnebre. Arcado, a túnica que vestia arrastava-se pelo chão, embaraçando-Lhe os pés, dificultando-Lhe ainda mais o caminhar. Cireneu estava extático. O homem estava sendo conduzido para o terrível suplício da cruz. Era, sim, muito mais infeliz que ele próprio. Nisso, a voz de Roma, na aspereza de um dos soldados, lhe ordenou auxiliar o condenado que caíra. Não que o soldado se condoesse da Sua dificuldade. É que tinha pressa de se desvencilhar daquela tarefa. Cireneu foi praticamente jogado para debaixo daquela madeira bruta, cheia de farpas. Colocou o ombro ao lado do condenado e suspendeu o peso. Sentiu uma dor profunda no ombro e o olhar do auxiliado o penetrou. Eram dois olhos de luz estampados numa face de sofrimento. Jamais Cireneu haveria de esquecer aquele olhar. A dor no ombro aumentava. Logo adiante, o prisioneiro voltou a tropeçar e cair. As chicotadas da brutalidade O atingiram. Um pouco mais e o Cireneu teria o peso da madeira tosca aliviado. O homem a estava utilizando. Crucificado. Cireneu aguardou-lhe a morte. Algo nEle o atraía, magnetizava-o . Quando tudo se consumou, foi para casa e, porque chegasse de mãos vazias, a esposa o repreendeu. Cireneu não revidou. Uma paz diferente tomava conta dele. O filho veio correndo e o abraçou: 
-Estou bem, papai! 
Cireneu recordou os olhos azuis da gratidão do homem que ele auxiliara. Um perfume sem igual penetrou o lar pobre. A mulher sentiu e se enterneceu. Uma delicada e sutil presença sentiram os três. A vida de Cireneu se transformou. Apesar das lutas e dissabores, nunca mais o fantasma do desespero fez morada em sua casa. Curioso, no dia seguinte, foi indagar a respeito da identidade do condenado. Descobriu-lhe o nome. Chamava-se Jesus de Nazaré. 
 * * * 
Quando Jesus penetra o coração da criatura, tudo se transforma. O deserto da solidão descobre o oásis do amor e abandona a tristeza. As dores se amenizam. A paz se faz presente. Jesus é sempre o meigo Pastor a convidar: Vinde a mim, vós todos que sofreis, estais aflitos e sobrecarregados... 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4 do livro As testemunhas da paixão, de Giovanni Papini, ed. Saraiva. 
Em 7.1.2013

quarta-feira, 10 de abril de 2019

AÇÕES E PALAVRAS

Ralph Waldo Emerson
O que você faz fala tão alto, que não consigo ouvir o que você diz. O pensamento do filósofo e escritor americano, Ralph Waldo Emerson, precisa de nossa atenção. Ações falam muito mais de nós mesmos do que nossas palavras. Nossas palavras articulam-se por conveniência, por convenções e podem ser muito bem dissimuladas por força de nossa vontade, isto é, nem sempre contarão a verdade. As ações mostram o que há em nossa alma, nossa índole, nossos valores. É muito fácil falar. Mais difícil agir.
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Francisco de Assis, missionário que resgatou a essência da mensagem do Cristo na Terra, em uma de suas pregações, afirmou: A paz proclamada por vós com palavras deve habitar de modo mais abundante em vossos corações. Isso significa que precisamos vivenciar algo para que nossas palavras e opiniões tenham peso. É a chamada autoridade moral. Ela é válida na educação dos filhos, por exemplo. Esses precisam identificar, nos genitores, o mesmo comportamento que estão exigindo deles. Caso não encontrem essa referência, dificilmente seguirão qualquer recomendação educacional. Os filhos poderão até obedecer, mas por medo, por ascendência da força, naquele momento. Esse tipo de ascendência, porém, não dura. Tão logo se desvencilhem dos pais ou desenvolvam uma independência maior, voltarão a repetir as mesmas atitudes do ontem equivocado. Resumindo: não aprenderam. Simplesmente atenderam à uma recomendação, por determinado tempo. Por isso ouvimos falar na força do exemplo. Os filhos copiam os pais em muitos aspectos. Imitam suas ações, sua forma de lidar com isso ou aquilo na vida. Seus conselhos só serão ouvidos se perceberem a força da autoridade moral embasando as falas. A sabedoria de alguém não é medida pelo quanto ela sabe, conhece, mas pela qualidade de suas ações. Vemos assim, no mundo, grandes vozes, de retórica impecável, mas cujas ações, no dia a dia, não condizem com seu verbo afiado. Sobem nas tribunas do mundo, cantando a igualdade, a justiça, a defesa da população, quando em seu coração há apenas a busca pela satisfação de sua vaidade e egoísmo, tirando vantagem de tudo e de todos. E muitas consciências de hoje estão tão doentes, tão obnubiladas, que nem sequer sentem algum tipo de remorso, culpa ou responsabilidade. Despertarão mais tarde, possivelmente com a dor, com a força da lei de causa e efeito, colocando tudo de volta nos trilhos da alma descarrilhada. Assim, cuidemos de nossas palavras e cuidemos de nossas ações. O que fazemos fala muito mais alto do que aquilo que dizemos. Lembremos do pensamento do filósofo: O que você faz fala tão alto, que não consigo ouvir o que você diz. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 10.4.2019.

terça-feira, 9 de abril de 2019

ENCONTROS ESPIRITUAIS

Léon Tolstoi
Léon Tolstoi, o escritor russo, teve oportunidade de, depois de sua morte, escrever através da mediunidade de Ivone do Amaral Pereira. Em uma de suas obras assim psicografadas, ele narra que, quando ainda vivendo na Terra, tivera um amigo de nome Boris. Eram muito afeiçoados e apreciavam ficar horas discutindo questões de filosofia. Boris, contudo, morreu jovem, na flor dos vinte anos. Tolstoi sentiu muito a morte do amigo. E fosse porque muito pensasse nele ou porque, de alguma forma, desejasse ter dele notícias, lhe ocorria sonhar com ele repetidas vezes. Via-o jovial e alegre. Sempre a conversar sobre as questões do Evangelho. Embora ao acordar não conseguisse recordar a totalidade do diálogo, lembrava de alguns trechos do sonho. Contudo, as peripécias da vida, as preocupações que se foram somando, fizeram com que muitas tribulações cercassem Tolstoi. Até ele não mais sonhar com o amigo. Sessenta e dois anos se passaram. Tolstoi também partiu para a verdadeira pátria e teve oportunidade de reencontrar Boris. A primeira coisa que reparou é que ele, recém saído da carne para a Espiritualidade se apresentava como um homem velho, na casa dos oitenta, enquanto o amigo estava jovem, no verdor dos vinte anos. 
- Quanta saudade, falou-lhe Tolstoi. Há quanto tempo não nos víamos. 
-Engano seu, disse Boris. Sempre nos encontramos. Você, somente pelas tantas dificuldades que o cercavam na carne, não conseguia guardar as lembranças. Mas eu aqui estou para, especialmente, lhe agradecer pelas tantas preces que me endereçou. Toda vez que pensava em mim com amor e saudade, um jato de luz se desprendia do seu coração e do seu cérebro e vinha em minha direção. Era como uma irradiação de forças poderosas que me ajudava a caminhar para Deus. Não importava onde eu me encontrasse, eu ouvia como que me chamarem, prestava atenção, e parecia reconhecer a sua voz. Isto é, a sua vibração que parecia sua voz. Ouvia o que me dizia, comovia-me e chorava de alegria. Às vezes, junto com sua voz eu passava a enxergar a sua imagem refletida no longo jato luminoso que de você se desprendia, embora nem eu nem você saíssemos do local onde estivéssemos. Foi assim que, ao longo desses anos, eu vi, ouvi, compreendi os seus pensamentos. 
Tolstoi diz que sentiu muito reconforto com as informações do amigo. E passou a meditar no alto valor da prece, realizada com desprendimento e amor. Prece que tem o poder de alargar o círculo afetivo entre os homens e os Espíritos e também alimentar os elos afetivos entre eles. Diz, ele finalmente, que se os homens soubessem verdadeiramente o que é orar, se compreendessem o enorme poder da oração, do que é capaz o pensamento em prece, os homens não teriam tantas razões para chorarem os seus mortos, se desesperando ante os túmulos silenciosos! 
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YVONE DO AMARAL PEREIRA
Se você perdeu afetos, não os magoe com o seu desespero. Ore intensamente. Recorde os momentos de alegria, de felicidade juntos vividos. Transmita a eles a sua saudade, como um ramalhete de flores de delicado perfume para que eles, onde estejam, como estejam, o recebam, como demonstração de que os que ficaram na Terra ainda e sempre os amam. Neles pensam com carinho e doce saudade. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. VI, do livro Ressurreição e vida, pelo Espírito Léon Tolstoi, psicografia de Yvonne do Amaral Pereira, ed. FEB. 
Em 12.7.2013.