quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

UM DIA DE CRIANÇA

"O dente caiu! O dente caiu!" 
Foi assim durante todo o trajeto. A criança, no banco detrás de onde nos encontrávamos, no ônibus urbano, ia cantando pelo caminho. Repetia a frase e a cada vez em uma escala acima ou abaixo da anterior. Ficamos a imaginar que ela deveria ter perdido o dente de leite e isso lhe constituía algo inusitado. Talvez os pais lhe tivessem prometido algo, como por vezes ocorre. Talvez a família tivesse comemorado o fato, por atestar que ela estava amadurecendo, no natural processo de substituição da primeira dentição. Fosse por que fosse, ficamos a imaginar como para a criança tudo é extremamente importante. Parece que quando nos tornamos adultos, vamos perdendo essa capacidade de dar importância para pequenas coisas. Como adultos, reclamamos quando a chuva cai e precisamos sair para o trabalho, para os afazeres do cotidiano. A criança sai conosco e vai procurando todas as poças possíveis para bater os pés, adorando ver a água salpicar. Não se importa se os respingos lhe molharão a roupa, sujarão a barra da calça. O que importa é se divertir, até o ponto de cantar, anunciando: Eu vou pular nesta daqui. E nesta aqui também. Adultos saímos à rua e nossos pensamentos nos precedem. Vamos pensando no que precisamos fazer, no que temos que dizer, no que precisamos providenciar. Criança a caminho da escola vai olhando tudo, cada detalhe e o que mais se ouve é: Olha, mãe! Pai, olha lá! Quanta coisa perdemos esquecendo de observar detalhes do nosso entorno. Não vemos a flor que desabrochou, o beija-flor que dança entre os canteiros floridos, o andar displicente do sabiá nas alamedas... Nem percebemos que a rua ficou mais alegre porque o vizinho providenciou colorido novo na casa. E outro, mais acima, podou artisticamente os arbustos. Nós estamos preocupados com as contas a pagar, com o saldo bancário, com as compras a fazer, com os fornecedores que não atendem nossa demanda. A criança quer saber quantas pedrinhas encontrará pelo caminho para chutar, se conseguirá chutar para mais longe cada uma delas... Vidas despreocupadas. Vidas da infância. Período de repouso para o Espírito, ensinam os luminares da Espiritualidade. Verdade: nós adultos temos muitos compromissos, muitos deveres. Mas, vez ou outra, seria salutar que lembrássemos que fomos criança um dia e lembrássemos das tantas pequenas grandes coisas que faziam nossa felicidade. E reprisar algumas delas, enriquecendo-nos com o ouro de um dia de sol, os raios prateados da lua, o brilho exuberante das estrelas. Lembrarmos de nos encantarmos com uma clara noite de luar, uma noite quente de verão, os minúsculos grãos de areia da praia. Determo-nos para escutar o rugido do mar, o estrondo do trovão e o doce pipilar das avezitas na árvore em frente à nossa casa. Coisas pequenas. Coisas grandes. Coisas que fazem a grande diferença entre um dia insípido, sem graça alguma e um dia cheio de cor, som e alegria. Um dia de monotonia. Ou um dia de trabalho prazeroso, de contatos amistosos, de intenso viver. Permitamo-nos reviver, por vezes, as alegrias da infância descontraída e despreocupada. Com certeza, haveremos de querer repetir e repetir. E nos sentiremos rejuvenescidos, infinitamente gratos a Deus por nossa vida.
Redação do Momento Espírita. Em 11.10.2014.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A MAIS VENERADA MULHER

Uma das mais belas descrições da interferência dos Mensageiros Celestes talvez seja a conhecida como da Anunciação. Segundo o Evangelista Lucas, entrando o anjo onde estava a jovem Maria, disse: 
-Salve, cheia de graça. O Senhor seja contigo. 
E lhe diz que ela conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Jesus. Prediz que Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo e que Seu reino não terá fim. Maria estabelece com ele um diálogo, elucidando suas dúvidas a respeito de como tudo isso haveria de suceder. Afinal, ela era conhecedora das profecias a respeito do Messias. Dentre os quatro Evangelistas somente Lucas, o redator do terceiro Evangelho, desce a detalhes, não encontrados nos demais. Isso porque, seguindo as orientações e os desejos de Paulo de Tarso, o seu Evangelho foi escrito a partir de muitas entrevistas com quem vivera e convivera com Jesus. Naturalmente, Maria, Sua mãe, foi a primeira entrevistada. Justamente por essa razão, é que somente ele assinala seu canto de gratidão e louvor ao Senhor da Vida, o Magnificat
Minha alma glorifica ao Senhor. 
Meu Espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, 
porque olhou para Sua pobre serva. 
E entendendo exatamente o alcance da missão que lhe competia, e do Ser a quem ela ofereceria um corpo, completa: 
Por isto, desde agora, me proclamarão 
bem-aventurada todas as gerações
Que extraordinário alcance de visão dessa mulher. Estava absolutamente correta. Desde os tempos apostólicos, após a morte do filho, residindo com João, o Evangelista, em Éfeso, ela passaria a ser procurada por muitos. Eram pessoas que desejavam arrefecer a saudade daquele que se fora, ouvindo os relatos de quem com Ele convivera tantos anos, O acalentara, alimentara, sustentara. Outros apenas desejavam lhe beijar as mãos, chamando-a de Mãe Santíssima. De todas as grandes mulheres, com certeza, nenhuma foi e é tão exaltada em seu papel de mãe, quanto Maria de Nazaré. As canções se multiplicam no mundo chamando-a de Bem-aventurada, Santa Mãe. Quantos louvores se erguem a essa mulher, que se apequenou na grandeza da sua missão. Quantas milhares de vozes já não se uniram para louvá-la como a bendita entre todas as mulheres, ano após ano, em celebrações nos grandes teatros, em templos ou em espetáculos ao ar livre! São tenores, sopranos, corais, vozes infantis, juvenis. Quantos poetas lhe dedicaram versos, tecendo-lhe poemas! Quantos pintores a retrataram, idealizando a gruta em que buscou abrigo, em Belém; sua viagem ao Egito; as celestes alegrias de ter o Filho em seus braços, vendo-O crescer no aconchego doméstico. Sua própria dor, ao receber o Filho morto, retirado da cruz, foi imortalizada em gravuras, quadros. E no mármore, na mais perfeita ideação de Michelângelo. Os séculos se somam mas a Mãe de Jesus, que se tornou mãe de toda a Humanidade, prossegue a ser enaltecida. A Bem-aventurada. A mais extraordinária das mães. Mãe de todas as mães. Nossa mãe, Maria de Nazaré. 
Redação do Momento Espírita, com transcrições do Evangelho de Lucas, cap. 1, versículos 46 a 48. Em 27.2.2018.
PIETÁ - MICHELÂNGELO

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

PARA TODA A VIDA

A cena é quase trágica: em casa, na cama, uma mulher de setenta e seis anos, no meio de uma sala apertada, cercada por parentes. Eles a visitam, trazem presentes, desejam ofertar seu gesto de solidariedade. Misturada a aparelhos hospitalares, com um respirador preso ao rosto, ela parece se despedir de todos. Em meio a esse panorama, uma visita especial altera profundamente o clima ambiente. Outra senhora, mais idosa ainda, escala com muita dificuldade os poucos degraus da entrada da residência humilde. Ela precisa de ajuda para caminhar. Algo que se assemelha a uma filmagem em câmera lenta, pois os poucos passos levam uma eternidade. Seu objetivo é chegar ao leito da enferma. As pessoas ficam em silêncio. O momento pede atenção e respeito. Ouve-se então a voz emocionada da moradora doente: 
-Mãe! Mãe! 
Ela não segura a emoção ao ver sua mãe, de noventa e oito anos, caminhando em sua direção. Estavam sem se ver há cerca de um ano, pois ambas não podiam deixar suas casas. Os próximos segundos são daqueles que só o coração consegue descrever. Quando ela chega finalmente à cama da filha – uma espécie de vitória – elas se abraçam e choram. Talvez ninguém perceba, mas naquele instante as duas rejuvenescem. São novamente mãe e bebê, mãe e filha menina que precisa de colo, de carinho. 
* * * 
São muitos os exemplos dessas mães para toda a vida. Mães que deixam seus rebentos tomarem os barcos e saírem mar adentro, sozinhos, ou com suas novas tripulações, mas que permanecem em terra, como faróis luminosos a guiar os viajores amados durante toda a existência. Mães que recebem os filhos de volta ao lar, quando suas naus são destroçadas pelas tormentas devassadoras dos dias. Mães que oferecem abrigo ao coração para que esse tenha tempo de se reconstruir e retornar mais forte ao oceano da vida. Mães de filhos deficientes que não podem soltar os barcos em absoluto, e que passam a navegar ao lado deles por toda a existência. Mães que nunca desistem, que nunca deixam de acreditar e que por isso se assemelham tanto ao Criador. Mães que viram os filhos aparentemente desaparecer no horizonte conhecido, como num adeus, mas que continuam mães de amor, sabendo que chegará o dia do reencontro – apenas num mar diferente.
 * * * 
A maternidade é a oportunidade de conhecer o amor num grau fabuloso. É a chance de se dar por inteiro sem exigir troca. É a prova da renúncia completa. É a lição suprema para sermos menos eu e mais nós. Se você é mãe, essas linhas são para você. Se você não pôde conhecer a maternidade, não perca a chance de apreciá-la ao seu redor, como um bom ouvinte aprecia o canto de um sabiá, ou como um bom observador se encanta com os raios de sol por entre as árvores num fim de tarde qualquer. Amor de mãe é obra da natureza. E toda natureza está aí para nos ajudar e para que aprendamos com ela sempre. A mãe natureza é também mãe para toda a vida. 
Redação do Momento Espírita. Em 26.2.2018.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

DIA DA GRATIDÃO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA D'ÂNGELIS
Nos Estados Unidos e no Canadá, anualmente, comemora-se o Dia de Ação de Graças. Nos Estados Unidos é feriado nacional e se comemora na quinta-feira da quarta semana de novembro e, no Canadá, a comemoração se dá na segunda-feira da segunda semana de outubro. Remonta a tradição norte-americana ao verão de 1621, quando os colonos, na Vila de Plymouth, Massachusetts, depois de más colheitas e inverno rigoroso, tiveram uma boa colheita de milho. Os alimentos servidos foram patos, perus, peixes e milho. Dessa primeira comemoração participaram igualmente noventa índios. Todos comeram ao ar livre em grandes mesas. No Canadá, a tradição data de 1622, com interrupções e fixação posterior da data como evento nacional. Dia de Ação de Graças é um dia de gratidão, geralmente a Deus, pelos bons acontecimentos ocorridos durante o ano. Nesse dia, as pessoas agradecem com festas e orações. É um dia em que as pessoas usam seu tempo livre para estar com a família, fazendo grandes reuniões e jantares familiares. Também um dia dedicado a pensamentos religiosos e orações. Desfiles e jogos de futebol foram sendo acrescentados, através dos anos, para a mesma data. Contudo, o que se destaca é se ter um dia nacional de ação de graças que, no Brasil, o Presidente Gaspar Dutra instituiu em 17 de agosto de 1949, por sugestão de Joaquim Nabuco, entusiasmado com as comemorações que vira, em 1909, na catedral de São Patrício, quando embaixador em Washington. 
 * * *
Dia de Ação de Graças. Dia da gratidão. Gratidão é um sentimento próprio das almas nobres. Somente essas conseguem se recordar das tantas bênçãos de todos os dias e se mostram agradecidas. Talvez por isso, por ainda sermos pessoas tão esquecidas da gratidão, é que necessitemos eleger um dia especial para ela. Trata-se de um exercício executado e novamente realizado, ao menos uma vez ao ano, a fim de adquirirmos o hábito de agradecer. E há tanto a agradecer: o ar que respiramos, a brisa que refresca os dias, a chuva que dessedenta a terra ressequida e a tormenta que limpa a atmosfera. Mesmo que condições adversas nos envolvam, em forma de enfermidades, desemprego, problemas financeiros, morte de pessoas amadas, há sempre o que agradecer. A bênção de despertar na carne mais um dia, renovando as oportunidades de crescimento espiritual. A bênção de amigos ou desconhecidos que nos estendem as mãos, quando as dificuldades se tornam maiores. A ventura de observar, mesmo a distância, a solidariedade humana socorrendo uns aos outros. A vida é um hino de louvor a Deus, um poema de beleza, convite perene à gratidão. E há tantas formas de expressarmos gratidão a Deus e à vida, pela honra de estarmos conscientes da nossa existência e presença no Universo: Pela fidelidade aos compromissos assumidos, espalhando ondas de otimismo e de esperança; pela prece ungida de amor, em favor dos enfermos, dos inquietos e dos adversários; pela perseverança nas ações relevantes, quando outros desertaram. Seja o amor a nossa gratidão que se expande e se oferece a tantos quantos se acerquem de nós. 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos extraídos da mensagem Tua gratidão, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, em 31 de março de 2011. Em 12.2.2014.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

UM DIA

CHICO XAVIER
Um dia, Colombo resolveu empreender a grande viagem, rumo ao mundo novo e descobriu o caminho para a América. 
Um dia, a jovem polonesa Maria Sklodowska decidiu buscar a Cidade Luz para iluminar o próprio intelecto. Adentrou a Universidade da Sorbonne e, entusiasmada pela pesquisa, descobriu o radium, que salva vidas todos os dias. 
Um dia, Francisco Bernardone saiu do lar paterno, abandonou a si mesmo e dedicou sua vida a iluminar outras vidas. 
Um dia, Madalena, a mulher atormentada por Espíritos infelizes, conheceu Jesus. Ofereceu-se à virtude e inscreveu seu nome na História, figurando como daquelas almas inesquecíveis. 
Um dia, a caminho de Damasco, o rabino Saulo teve um encontro com o Nazareno e mudou sua forma de ver o mundo. Serviu a Jesus até a morte, entregando-se em holocausto por amor à verdade que distribuiu aos povos. 
Um dia, Levi deixou a coletoria onde servia a César, e foi servir ao Mestre de Nazaré. Deixou de anotar mercadorias, dracmas e bens ilusórios, para registrar para a posteridade os ditos e os feitos do Senhor. Legou ao mundo o Evangelho segundo Mateus, que inicia com a genealogia de Jesus e conclui com a gloriosa ressurreição. 
No dia de Pentecostes, os Apóstolos iniciaram o seu ministério e derramaram pela Terra as bênçãos das claridades do reino de Deus. Judas era um discípulo fiel a Jesus. Mas, um dia, acreditou mais no poder frágil da Terra do que na administração do céu, e perdeu a si mesmo. Tudo no Universo começa um dia. Tudo, no mundo dos homens, começa um dia. Os grandes impérios, as extensas jornadas, as gigantescas construções. O bem e o mal, a felicidade e o infortúnio, a alegria e a dor guardam o exato momento de início. Quando plantamos, sabemos que um dia surgirá a produção. Num dia se semeia, em outro se colhe. Se entregamos o dia para a erva ingrata, ela se alastrará, sufocando o horto. Se abandonamos os minutos aos vermes daninhos, eles se multiplicarão, impedindo a colheita. Das resoluções de uma hora, podem sobrevir acontecimentos para mil anos. Do gesto impensado de um momento, podem advir consequências danosas para muitos anos. Da correta decisão de um instante, pode se delinear o panorama de alegrias para logo mais. Tudo depende da nossa atitude na intimidade do tempo. O amanhã será sempre aquilo que hoje projetamos. Alcançaremos o que procuramos. Seremos o que desejamos. Acordemos para a realidade do momento e amontoemos bênçãos, prestando serviços em nossas horas. Um dia chegará em que necessitaremos dos braços amigos que hoje conquistamos, dos afetos que hoje aninhamos, dos bens que hoje produzimos. 
 * * * 
O tempo é o rio da vida, cujas águas nos devolvem o que lhe atiramos. Enquanto dispomos das horas, realizemos a boa semeadura. Se acreditamos no bem e a ele atendemos, cedo atingiremos a messe da felicidade. Contudo, se desrespeitamos o tempo, desacreditando o valor do dia, em algum momento, agora, ou mais tarde, faremos a colheita amarga das horas vazias e dos momentos ociosos. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Um dia, pelo Espírito Isabel de Castro, do livro Falando à Terra, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Em 12.8.2015.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

AS DEZ VIRGENS

Rodolfo Calligaris
Em certa parábola, Jesus compara o Reino dos Céus a Dez virgens. Elas apanharam suas lâmpadas e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram descuidadas e cinco, prudentes. As descuidadas não levaram azeite, mas apenas as lâmpadas. Já as prudentes trataram de também levar azeite. Como o noivo tardava para chegar, elas ficaram sonolentas e adormeceram. À meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saiam todas ao seu encontro. Então, elas se levantaram para preparar as lâmpadas. As descuidadas pediram às prudentes que lhes dessem azeite, pois suas lâmpadas estavam apagando. As prudentes responderam que não havia o bastante para todas. Sugeriram que as outras fossem comprar o de que necessitavam. Enquanto as descuidadas foram comprar o azeite, o noivo chegou. As noivas prudentes entraram com ele para as bodas e a porta foi fechada. Quando as outras virgens chegaram, clamaram para que a porta lhes fosse aberta. O noivo se negou, dizendo que não as conhecia. A recomendação final é que se vigie, pois não se sabe o dia e nem a hora. Nessa parábola, as virgens simbolizam as criaturas que procuram se resguardar da corrupção do mundo. As cinco descuidadas representam os que se preocupam apenas em se abster de equívocos. Acham que viver de forma disciplinada e austera basta para assegurar seu lugar no Reino dos Céus. Todavia, esquecem que a pureza deve ser complementada pela bondade. Pureza sem bondade é como uma lamparina mal provida. No meio da noite, ela não dá mais luz e deixa seus portadores mergulhados nas trevas. Já as virgens prudentes retratam os que cuidam de amealhar as denominadas virtudes ativas. Eles não se contentam em se abster desse ou daquele comportamento. Também tratam de amar e amparar o semelhante.
O amor é combustível que se converte em luz e garante a iluminação de seus passos no caminho da realização espiritual. A chegada do noivo representa a era de paz e alegria que se instalará na Terra em um futuro próximo. A recusa das virgens em partilhar o azeite simboliza que as virtudes são intransferíveis. Cada qual deve cultivá-las à custa de esforço pessoal. Ritos religiosos não suprem a bondade que cada um deve construir em seu coração. É preciso vigiar. Ou seja, trabalhar firme no próprio aperfeiçoamento para merecer reencarnar na Terra na era de paz que se avizinha. Caso contrário, as portas se fecharão e os incautos serão convidados a viver em mundos inferiores, onde aprenderão as lições de que necessitem. Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XI do livro Parábolas evangélicas, de Rodolfo Calligaris, ed. Feb. Em 26.11.2008.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

PARA NÃO PERDER A HUMANIDADE

Diariamente, nos deparamos com as mais diversas notícias do que ocorre no mundo. Porque estamos todos conectados, vinculados às redes sociais, às notícias que tomam de assalto as telas de nossos aparelhos portáteis em tempo real, sabemos muito do que ocorre, a toda hora. Entretanto, muitas dessas informações apresentam um caráter nocivo. Multiplicam-se as notícias sobre crimes, comportamentos exóticos, desequilíbrios das mais variadas formas. Sucedem-se, no rol das informações que nos chegam, a corrupção por toda parte, as mortes banalizadas pela repetição, os crimes que se diversificam. E nos sobra, então, a sensação de que nada, nem ninguém pode deter essa marcha incontrolável de uma sociedade que se desestrutura. Como reflexo dessa avalanche de más notícias que nos chegam, que nos enchem os olhos e os ouvidos, vamos nos acostumando com essas paisagens. No início nos chocávamos. Depois, era uma breve indignação. Com o tempo, por se tornar comum, passou a receber um olhar de quase normalidade de nossa parte. Vamos nos convencendo de que tudo é normal, que a vida é assim, que as pessoas são assim. Contudo, nenhuma violência é normal, nenhum crime pode ser visto com leveza, nenhum desrespeito ao nosso próximo deve ganhar cidadania. Esse sentimento de falsa normalidade que nos invade, sutilmente vai roubando de nós aquilo que temos de mais precioso: nossa capacidade de nos indignarmos com o erro, de nos chocarmos contra aquilo que não é da nossa natureza. E, aos poucos, sem nos darmos conta, vamos perdendo nossa humanidade, nossa sensibilidade, nossa solidariedade, a nossa empatia com o próximo. É necessário refletir. Esses que agem mal e que ganham as manchetes, se tornando a notícia do dia, são exceção. Longe estão de ser a regra. A grande maioria de nós somos pessoas de bem, que queremos agir corretamente, cumprir nossos deveres, criar nossos filhos, pagar nossas contas, estar em paz. Por isso, não nos deixemos convencer de que a humanidade está perdida.
Se acreditarmos nisso, a cada olhar de indiferença que lançarmos sobre a miséria alheia, estaremos, gradativamente, perdendo nossa própria humanidade. Assim, perdemos um pouco de nossa humanidade a cada julgamento cruel que fazemos frente ao erro do outro. Esvai-se de nós aos poucos nossa humanidade quando julgamos a todos como potencialmente desonestos, corruptos, criminosos. Se alguns se permitem conduzir pelas suas fraquezas e enriquecem ilegalmente, são milhares os que honram seus empregos e salários trabalhando dignamente. Se alguns decidem trilhar pelas veredas do crime e da violência, são milhares os que vivem pacificamente, distribuindo gentilezas e pacificação no meio onde vivem. Portanto, cultivemos nossa humanidade. Será através dela que compartilharemos o que trazemos de melhor em nossa alma. E, quanto mais fortalecermos nossa humanidade, mais nos reconheceremos em nosso próximo. A partir disso, mais fácil será seguir o conselho de Jesus, de amar ao próximo como a nós mesmos.
Redação do Momento Espírita. Em 22.2.2018.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

INVESTIMENTO INFALÍVEL

O mundo nos apresenta um rol diversificado de problemas e situações na atualidade. Enquanto vemos pessoas que se esforçam, lutam, trabalham para saírem da situação caótica, em que se encontram, outras parecem nada querer fazer. A impressão que nos passam é de que se encontram no palco da vida, assistindo a vida passar. Não se importam com sua aparência, com o lugar onde vivem, com os acontecimentos que as rodeiam. Olhando-as, quase sempre cogitamos de que pouco ou nada se tem a fazer por elas, desde que parecem indiferentes a tudo. Por isso, quando nas frentes de voluntariado, é comum alguns de nós nos deixarmos envolver pelo desânimo. E nos assaltam dúvidas como: 
-De que adianta todo meu esforço? 
-Valerá alguma coisa todo esse empreendimento nessas criaturas? 
* * * 
Naquela manhã, atrasada para o seu voluntariado, Carla solicitou um carro, servindo-se do aplicativo. Ao fornecer o endereço para onde desejava ir, a motorista exultou: 
-Nossa, a senhora trabalha lá? Conhece o Túlio? 
Ante a afirmativa, Fernanda rompeu em emocionadas palavras: 
-Há uns trinta anos minha família chegou nessa instituição, numa situação muito difícil.Queria que a senhora dissesse ao Túlio que deu tudo certo. Eu me formei, fui trabalhar numa multinacional. Estou agora como motorista, porque fiquei desempregada. Minha mãe, meu irmão e eu somos muito gratos a tudo que recebemos daquela instituição. 
Chegando ao destino, Carla não tardou a encontrar Túlio e lhe falar a respeito de Fernanda. 
-Claro que lembro dela, emocionou-se ele. Ela e o irmão colocavam fogo por aqui. Eram crianças levadas. Lembro como a família chegou. A mãe, Dorinha, tinha dificuldades com o aprendizado da costura. Por fim, se tornou uma costureira de mão cheia. Ela costumava falar que a costura salvara a sua vida, que a tirara da situação miserável em que se encontrava. 
A essa altura, Carla verificara o telefone da motorista no aplicativo de mobilidade e ligava para ela. Estendeu o telefone ao amigo que, ao atender, silenciou por mais de um minuto. Lágrimas e corações se conectaram por satélite e em Espírito. Do outro lado da linha, trinta anos depois, a eterna menina das suas lembranças se comovia: 
-Tio Túlio? Obrigada por tudo. Deu certo. Eu me formei, meu irmão é policial. Nós dois já somos pais. Lembro como o senhor nos recebia na porta da instituição e enchia minha mãe de esperança pela vida. Hoje sou uma mulher de bem, com princípios e valores muito presentes na minha vida. Tio Túlio, o seu esforço deu certo. 
As poucas palavras de Túlio precisavam competir com suas lágrimas e com o acelerar do seu coração. Desligaram com a promessa de um reencontro com a família. Então, Túlio levantou os braços, como se tivesse ganho na loteria e gritou: 
-Deu certo! Deu certo!
* * * 
Invistamos sempre. Muitas vidas dependem de que alguém as estimule a crescer, a conquistar, a aprender. A olhar a vida, com esperança e vigor. Pensemos nisso. E não deixemos de oferecer nosso ombro, nosso saber, nosso incentivo. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato colhido no artigo Deu certo! Deu certo!, de Thiago Vieira, da Revista Cultura Espírita, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, outubro de 2017. Em 21.2.2018.
http://momento.com.br

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

DEVOÇÃO FILIAL

APPIUS CLAUDIUS
E
O VELHO PAI
Existem exemplos, ao longo da História, que falam do amor e da extrema dedicação filial. Recordamo-nos de uma lenda romana dos tempos finais da República. Muitas foram as perseguições injustas a velhos servidores daquele regime. Afinal, o Império estava por surgir. Os governantes de Roma chegaram a decretar que velhos servidores da República fossem banidos da cidade. Entre esses, havia um velho doente. Ora, ele adoecera simplesmente servindo a Roma, que tanto amava. Por isso mesmo decidiu, apesar da insistência do filho, que não sairia da cidade. Velho estava, pensou. E doente. Se deveria aguardar a morte, por que fazê-lo distante das terras que tanto amava e que servira, com total dedicação? Preferiria morrer em sua própria cama. Chegou finalmente a noite do último dia que lhe era permitido ficar. Se fosse apanhado dentro dos muros de Roma, após o prazo, seria morto. O filho tornou a insistir para que o pai se salvasse. Sei que você nem consegue andar, meu pai. Mas eu o carregarei. Deixe-me cuidar de você. Reunirei todas as minhas forças para levá-lo para fora da cidade. Tanto insistiu que o pai acabou por ceder. O rapaz carregou a preciosa carga às costas e seguiu pelas ruas de Roma. A multidão se apinhava para ver a incrível cena e, ante os esforços do filho, aplaudia, incentivando-o. Os poderosos simplesmente olhavam. De certa forma, se comoveram e decidiram não interferir. Aproximava-se a hora em que o velho seria morto se fosse encontrado dentro dos muros da cidade e era ainda grande a distância que separava os dois do portão. As forças estavam quase no fim. O rapaz se curvava ante o peso do fardo. Mesmo assim avançava, devagar, lento. E a multidão aplaudia. Conseguiu sair da cidade nos últimos instantes do prazo. Porém, o velho cônsul ainda não estava a salvo. Era preciso deixar as terras romanas. Encobertos pelas sombras da noite, Appius carregou seu pai até a praia, onde embarcaram para outras terras, a salvo. Para que nunca fosse esquecido esse gesto de amor filial, ele foi inscrito nos anais da quase extinta República romana.
 * * *
O mandamento Honrai a vosso pai e a vossa mãe quer dizer muito mais do que respeitar os que deram a vida aos filhos. Quer dizer também assisti-los na necessidade e lhes proporcionar repouso na velhice. Cercá-los de cuidados como eles fizeram com os pequenos, no período da infância. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que fazem as vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm, por abrigarem os filhos alheios em seu seio, alimentando-os com seu amor e carinho. Os filhos devem aos pais não só o estritamente necessário, devem-lhes também os pequenos nadas supérfluos, os cuidados amáveis, os agradinhos que, ao final, não são mais do que apenas o retorno do que receberam em sua infância e juventude. Este o verdadeiro sentido do mandamento do Decálogo. 
Redação do Momento Espírita, com base no item 3 do cap. XIV do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb e na lenda romana Appius, recontada por H. Twitchell, de O livro das virtudes, v. II, de William J. Bennett, ed. Nova fronteira. Disponível no cd Momento Espírita, v. 19, ed. Fep. Em 12.08.2011.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

DEVER

Freqüentemente o dever entra em conflito com o interesse pessoal. A criatura deseja ardentemente fazer algo, mas sente que não deve. Ou quer fugir de uma situação, abster-se de determinada conduta, quando a consciência indica não ser essa a melhor solução. Surge a dúvida: 
-Por que não é possível a satisfação do desejo? Qual a razão para o senso do dever contrariar os sonhos e as fantasias? Há alguma lógica nisso? 
Há uma lógica, que decorre de uma compreensão mais ampla da vida. Os espíritos reencarnam infinitas vezes. A evolução é uma conquista individual, por meio da qual se transita da ignorância para a sabedoria. Em suas primeiras experiências terrenas, os espíritos são grandemente guiados pelos instintos. De modo gradual, desenvolvem a vontade e conquistam a liberdade de optar. Em decorrência de sua ignorância, as opções que fazem nem sempre são felizes. Todos trazem as leis divinas gravadas na consciência. Com o tempo, inteiram-se do teor dessas leis. Equívocos, maldades, leviandades, tudo é registrado na consciência. Somente goza de perfeita harmonia quem aprendeu a respeitar e valorizar a vida. A paz interior é conquista daquele que se acertou com os estatutos divinos. Isso apenas é possível mediante a recomposição dos tesouros dilapidados ao longo do tempo. Onde se insuflou a guerra, impõe-se a labuta pela paz. Quem induziu os outros ao abismo dos vícios, deve auxiliá-los na recuperação. Se outrora as bênçãos do trabalho foram repudiadas, o tempo perdido deve ser recuperado. Por outro lado, alguns hábitos da época da ignorância cristalizam-se no ser, dificultando a evolução. Embora o processo de evoluir seja vagaroso, é necessário fazer esforços para transformar os hábitos viciosos e conquistar virtudes. Também se impõe o amadurecimento do senso moral. A lucidez espiritual traduz-se por uma conduta pautada no trabalho, no estudo, na lealdade e na compaixão. Essa transição da infância para a maturidade espiritual não se faz sem esforço. É preciso romper com o homem velho e seus hábitos infelizes. Esse é o propósito da existência terrena. Antes de renascer, o espírito faz um balanço de suas vivências. Ele identifica os vícios que necessita vencer, os erros que precisa reparar, e projeta sua nova vida. Todo homem traz em seu íntimo o resultado das experiências vividas. Falta a lembrança do que ocorreu, mas há intuições e tendências. Eis a razão da contradição entre o dever e as fantasias, pois a consciência cobra o dever. De um lado há o passado: paixões, interesse, egoísmo, preguiça e vaidade. De outro, os projetos para o futuro, na forma de disciplina, renúncia, devotamento ao próximo ou a uma causa. Cada qual é livre para escolher seu caminho, mas o trabalho não feito hoje ressurgirá mais tarde, provavelmente acrescido de novos encargos. A paz e a plenitude pressupõem o dever cumprido, a tarefa feita, a lição aprendida. Pense nisso! 
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O DEVER E O ALTRUÍSMO

Conta A. J. Cronin, em sua obra, Pelos caminhos da minha vida, o exemplo de Olwen Davies, uma enfermeira que, aos vinte e cinco anos, recém-saída do seu curso prático de hospital, foi nomeada para o cargo de enfermeira visitante. Apesar da recepção gélida que teve no lugarejo para onde foi mandada, ela se entregou entusiasticamente ao trabalho. Com qualquer tempo, saía a pé, visitando os doentes, subindo montes, e andando por caminhos desertos. O médico da localidade era um mau profissional e tantos foram os obstáculos, que Olwen teve que lutar para vencer a tentação de se demitir. Quando uma violenta epidemia de febre tifoide atacou a pequena cidade, ela foi até o responsável pela Saúde Pública, a fim de receber instruções para combater a epidemia. Irritado, ele a despachou, dizendo que o surto não era novidade. Os doentes seriam tratados - e pronto! Era o que bastava. A enfermeira colheu amostras da água de diversos poços artesianos, onde a população se abastecia, e encaminhou para análise laboratorial. Quarenta e oito horas depois, um telegrama oficial dava contas de que o tifo tinha origem num determinado poço que abastecia a parte baixa da cidade. O Centro de Saúde interditou o poço e a enfermeira sofreu protestos de toda ordem, por ter exorbitado dos seus deveres, metendo-se onde não devia. No entanto, não apareceram mais casos de tifo e a epidemia foi cortada em tempo recorde. A opinião pública mudou e o povo lhe abriu as portas. Uma comissão de moradores, ao final do ano, a presenteou com uma bicicleta. Agora, ela chegava mais rápido aos doentes mais carentes. Por iniciativa própria, inaugurou uma clínica para crianças e velhos, em um quarto alugado e pago com o seu dinheiro. Quando lhe diziam que ela deveria estar ocupando cargos de diretoria em importantes hospitais, como algumas das moças que haviam se formado na mesma turma, ela respondia: O meu lugar é este, onde me encontro. Prefiro trabalhar no anonimato, tratando de crianças e velhos carentes.
Certo dia, ela saiu em sua bicicleta para atender a um chamado. Em um trecho da estrada, foi de encontro a uma pilastra que havia caído atravessada. Olwen Davies ficou ali, toda a noite, sob o vento e a chuva. Encontrada pela manhã, foi levada para o hospital de uma cidade maior. Ela havia fraturado a coluna vertebral. Uma série de cirurgias longas e complicadas, massagens e eletroterapia resultaram em nada. Nunca mais ela poderia andar. A corajosa enfermeira não se abateu. Anos mais tarde, numa cadeira de rodas, com o cabelo embranquecido, mais magra e com as pernas cobertas por uma manta, mas ainda de uniforme, estava ela firme no trabalho a benefício do próximo. Cercada pelos seus doentes, na maioria crianças, ela impelia com as mãos práticas as rodas da sua cadeira. Quando as pessoas lhe perguntavam como se sentia, ela sorria, traduzindo alegria e bem-estar, e dizia: Não está vendo? Estou ótima! Voltei ao trabalho e ainda sobre um par de rodas.
 * * * 
 Recordemos sempre da nobre aplicação dos valores de que dispomos: a visão, a palavra, a audição, movimento, lucidez e tantos outros, distribuindo bênçãos entre os que conduzem um fardo mais pesado que o nosso. E lembremos que o homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O dever e o altruísmo, de José Ferraz, da Revista Presença espírita, nº 229, e no item 7, do cap. XVII de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. Em 5.3.2014.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

DEVER E FANTASIA

Em sua busca pela felicidade, o homem não raro embrenha-se em caminhos tortuosos. É frequente a confusão entre ser feliz e realizar fantasias. Para a criatura irrefletida pode parecer necessário que todos os seus sonhos se concretizem para que ela se considere plena. Ocorre ser a felicidade, sob esse enfoque, uma utopia de impossível efetivação. O ser humano é ilimitado em seus devaneios e fantasias. Realizado um projeto, surge logo outro, mais ambicioso. Se é a falta da casa própria que infelicita, após sua aquisição, com frequência, deseja-se outra maior. Ao desejo de possuir automóvel em bom estado sucede o anelo de adquirir um carro do ano. Quem tem casa e carro, por vezes almeja viajar ou garantir a faculdade dos filhos. Idêntico fenômeno dá-se nos mais variados quadrantes da existência. É o desejo de notabilizar-se na carreira, frequentar o melhor clube da cidade, possuir roupas luxuosas ou jóias. Muitos desses desideratos são legítimos mas sempre surge algo novo a ser buscado e nem tudo que se deseja acontece. Se for necessário realizar todos os sonhos para o homem se sentir pleno, a frustração será sua constante companheira. Por outro lado, ao desavisado pode parecer que tudo é legítimo para alcançar suas metas. Talvez toda dificuldade seja considerada uma desgraça, um obstáculo a ser removido a qualquer preço. Se o casamento não vai bem, pode parecer melhor terminá-lo de vez, para encontrar outra pessoa que seja perfeita. O familiar doente ou de difícil convívio quiçá se afigure alguém a ser evitado a todo custo, sob o falso pretexto de preservar a própria paz. Ora, a infantilidade e a superficialidade desse modo de viver são por demais óbvias. O progresso é uma das leis da vida e o homem é sempre chamado a burilar-se, aperfeiçoar-se, tornar-se melhor e mais forte. As dificuldades têm a finalidade de ajudar a desabrochar o anjo que em todos reside, mediante o exercício das virtudes cristãs. Felicidade não é sinônimo de cofres cheios, vaidades satisfeitas, absoluta ausência de problemas e desafios. O Cristo, Modelo e Guia da Humanidade, afirmou que oferecia Sua paz mas que a cada qual seria dado conforme suas obras. Também disse que quem quisesse deveria tomar sua cruz e segui-Lo. Os obstáculos, os desejos não realizados, as limitações têm o objetivo de sensibilizar-nos para a beleza da mensagem do Cristo. Eles nos auxiliam a valorizar o que é eterno, em detrimento do transitório. A conquistar, mediante o abandono das ilusões, a tão sonhada paz: o tesouro colocado onde ninguém pode roubar. Felicidade, pois, não é ter tudo o que se quer mas estar em harmonia com a própria consciência e com as Leis Divinas. Entre concretizar uma fantasia e atender as próprias obrigações, o homem sensato não pode titubear. Se um sonho demandar, para realizar-se, violação de nobres compromissos assumidos ou não se amoldar a uma consciência tranquila é melhor desistir dele, por mais sedutor que seja. Consciência pesada é algo inconciliável com a plena realização do ser. Não há felicidade sem paz e não há paz sem deveres rigorosamente cumpridos. Pensemos nisso! 
 Redação do Momento Espírita.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

DEVER DOS RELIGIOSOS

O ano de 2016 foi anunciado, pelo Papa Francisco, como o ano da misericórdia. Com tanto terrorismo, guerras e rumores de guerras, misericórdia é verdadeiramente algo a ser trabalhado em todas as almas. Neste panorama de dores e tragédias, que o mundo assiste, estarrecido, todos os dias, os que se afirmam religiosos são os primeiros a serem convocados a esse exercício. Exatamente em função da exortação de Jesus, anotada pelo Evangelista Lucas:
- "Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado."  
A maioria dos habitantes do planeta declara-se crente. Isso deveria ser motivo para o diálogo entre as religiões. Não devemos deixar de orar por isso e colaborar com quem pensa de modo diferente. Se fizermos uma análise das religiões espiritualistas, veremos que todas têm pontos convergentes. Todas lecionam a crença em um Ser Superior e na Imortalidade da alma. Não importando como seja denominado esse Ser Superior ou como se pretenda lhe prestar culto ou adoração, nessa variedade de religiões, só há uma certeza: somos todos filhos de Deus. Se somos todos irmãos é de nos indagarmos por que resolvemos nos digladiar tanto em nome justamente do que deveria nos unir. Se todos cremos nesse Pai Criador, de quem dependemos como o fruto da árvore, é tempo de nos unirmos. É tempo de valorizarmos mais os pontos convergentes e trabalhar pela instalação do bem na Terra. É tempo de nos darmos as mãos, tomarmos do arado e nos lançarmos ao trabalho na Seara do Senhor, que prossegue tendo poucos dedicados e nobres trabalhadores. E como as religiões enfatizam o amor, de importância se faz que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça. O mundo espera a nossa ação decidida e eficaz. Se não podemos calar a boca dos canhões, podemos nos eximir de disseminar calúnias e divergências na comunidade em que nos encontramos. Se não temos o poder de receber os exilados de tantas fronteiras, que exerçamos a nossa capacidade de bem recepcionar quem de nós se aproxime. Que ele sinta o calor de uma mão amiga, a alegria de um sorriso. Se não detemos o poder de estancar a onda de corrupção que se instala em repartições que deveriam ser o exemplo da hombridade, sejamos os que demonstremos honestidade, onde estejamos atuando. Que a calúnia que nos chegue aos ouvidos, não receba acolhida; que o grito de cólera não encontre ressonância em nós. Demonstremos que somos os seguidores do bem, que nosso lema é o amor, que nossa crença é verdadeira, não mero adjetivo para abrilhantar nosso ego. Afinal, quem ama, somente deseja e faz o bem ao próximo. Quem ama, deseja que o mundo seja um lugar melhor; Que as crianças possam brincar nas praças sem medo; que os namorados possam fazer seus passeios pelos jardins; que as mães possam levar seus bebês a tomar sol, sem susto; que os pais de família possam sair de casa sem bombas a alcançá-los; que todos possamos, enfim, viver em paz. 
Redação do Momento Espírita, com citação do versículo 48, do capítulo 12, do Evangelho de Lucas e citações do Papa Francisco, colhidos no 
Em 1.4.2016.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

ESQUECENDO DE AMAR

Eles se encontram em toda parte. Nós os vemos pelas ruas, andando devagar, esperando que o sinaleiro indique a sua possibilidade de atravessar de um para outro lado. Nós os vemos nos parques, observando a criançada brincar. Ou jogando damas nas mesas de pedra. Ou simplesmente aproveitando o sol da manhã. Muitas vezes se fazem acompanhar da bengala, para melhor apoio. Estão nos cinemas, nos teatros, nos supermercados, em filas especiais. São os idosos, cuja população aumenta, em todo mundo, graças às pesquisas médicas, de medicamentos que previnem ou retardam o aparecimento de certas enfermidades ou atenuam as suas manifestações. As descobertas na área terapêutica aumentam a longevidade humana para além do limite que calculamos. Se isso é louvável, nesse intuito de permitir que as pessoas fiquem mais anos conosco, dando-nos do seu saber, da sua companhia, há um item que não podemos esquecer: a qualidade de vida de cada um deles. E dessa qualidade de vida o item mais importante se chama afeto. Para todos aqueles que desfrutam da ventura de terem amores que os amparem, tudo vai muito bem. Contudo, temos assistido a muita solidão. Viúvos e viúvas que andam sós, vivem sós. E precisam carregar um corpo que nem sempre lhes obedece à vontade. Enquanto suas mentes saltitam, eles têm pernas que não se movem com a velocidade da juventude. Ademais, precisam conviver com a presença constante das ausências de tantos amigos, companheiros, familiares que já partiram. Precisam dar conta de sua própria vida: ir ao mercado, ao banco, providenciar a alimentação. Precisam lembrar do remédio a tomar, na dose e na hora certa. Tanto a fazer. Nem sempre de forma fácil. 
Por isso, o que aconteceu com aquele idoso no caixa do supermercado mereceu a atenção do consumidor que estava atrás dele, na fila, e relatou a cena. Ele viu o senhor retirar moedas do bolso para fazer o pagamento das suas compras. Suas mãos tremiam. Ele estava confuso e não conseguia contar o dinheiro. Ansioso, disse à atendente do caixa: 
-Desculpe, sinto muito. 
Exatamente nesse momento a funcionária tocou-lhe as mãos e falou: 
-Isso não é um problema, querido. Contaremos o dinheiro juntos. 
E começou a contar as moedas. Quando a contagem foi concluída, o pagamento realizado, o velho senhor apanhou suas compras e seguiu seu caminho. O senhor Bowlin, o cliente seguinte, elogiou o comportamento da atendente e agradeceu pela paciência que ela tivera com o idoso. A resposta que recebeu foi rápida e franca: 
-O senhor não deveria me agradecer. O que está errado no mundo é que nos esquecemos como é amar o outro. 
* * * 
Amar o outro. Exatamente como nos lecionou o Mestre da Galileia, há milênios: Amar ao próximo como a nós mesmos. Amar ao nosso irmão. No entanto, para amar o outro é preciso que nos demos conta de que ele existe, de que caminha ao nosso lado, de que tem necessidades. Enfim, que podemos e devemos estender a mão, o olhar, o auxílio; que devemos nos preocupar com ele. Amar o outro. Pensemos nisso. Neste momento, olhemos para quem segue ao nosso lado em casa, na rua, no estabelecimento comercial, onde estejamos. Talvez descubramos alguém necessitado. Alguém que simplesmente espera nosso: Olá, como vai? Precisa de alguma ajuda? Façamos isso... hoje... agora. 
Redação do Momento Espírita, com relato de fato. Em 15.2.2018.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A MAIS IMPROVÁVEL LIÇÃO DE AMOR

Léon Denis
O que é o amor? Alguém escreveu que o amor é como uma flor no deserto. Nasce, aparece, cresce, amadurece e transforma em oásis qualquer lugar hostil, áspero e cruel. É comum, no entanto, em noticiários que divulgam crimes passionais, ouvirmos que quem matou o fez por amor. Terá o amor esse viés de agressividade, de maldade, ao ponto de perseguir, agredir, acabar com a vida de quem dizemos amar? Será esse o sentido do amor? O amor que se registra como posse e se não puder ser nosso, ninguém mais o terá? O Mestre de Nazaré nos instituiu como lei máxima a do amor. Amor a Deus, o Criador, e ao nosso próximo. Detalhou ainda que deveríamos amar a nós mesmos. Eis uma regra especial, algo que nos deve levar a reflexionar com profundidade: quem deseja algo ruim para si mesmo? Não desejamos para nós somente o melhor, o bom, o agradável? Talvez, alguns de nós, tenhamos uma ideia distorcida do que seja o amor. Como aquele jovem presidiário que conta que seu padrasto costumava lhe bater com extensões elétricas, cabides, pedaços de pau, o que tivesse à mão. E toda vez que assim o agredia, repetia: 
-Isso dói mais em mim do que em você. Faço isso porque amo você. 
Foi assim que ele cresceu com a falsa ideia de que o amor tinha de fazer mal. E passou a medir a extensão desse sentimento exatamente pela dor que alguém poderia sofrer. Por isso, aos que dizia amar, ele magoava, machucava. Andando pela viela dos desacertos, acabou preso e condenado à prisão perpétua. Segundo ele, pena merecida por ter cometido um terrível crime. Um duplo assassinato: de uma mulher e de uma criança. Foi no ambiente da prisão que ele entendeu o que era e o que não era amor. O que via ali era maldade, crueldade, desespero, desesperança. Seria mesmo isso o amor? E a lição chegou de uma forma totalmente improvável. Foi uma mulher, Agnes, quem lhe ensinou o que era o verdadeiro amor. Ela tinha razões para odiá-lo porque era a mãe e avó das suas vítimas. Contudo, ela o foi visitar na prisão e viu naquele jovem o ser humano sofrido, marcado por traumas, desorientado, perdido e lhe ofereceu amor. Aquele amor que compreende, que apoia, que perdoa. O amor que salva, que ergue um novo edifício em meio aos escombros de uma vida marcada pela violência. Um amor que transforma, que leva a criatura a refletir sobre o que fez e lhe indica rumos novos, para os anos que ainda tem à frente. 
* * * 
O amor é o olhar de Deus! O amor é o sentimento superior em que se fundem e se harmonizam todas as qualidades do coração: é o coroamento das virtudes humanas, da doçura, da bondade. É a manifestação na alma de uma força que nos eleva acima da matéria, até alturas divinas, unindo todos os seres. O amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as criaturas. Deus é o seu foco. Assim como o sol se projeta sobre todas as coisas e aquece a natureza inteira, assim também o amor divino vivifica todas as almas. Deus é amor. E como somos Seus filhos, fomos criados para amar. Amemos. A nós mesmos, ao nosso semelhante. Amemos. 
Redação do Momento Espírita, com fato colhido em https://www.youtube.com/watch?v=2liy_1kyaz0 e com pensamentos do cap. XLIX, pt. 5, do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. FEB. Em 14.2.2018.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

UMA CAMARADAGEM INUSITADA

Aquele ônibus, ao longo dos anos, se tornou especial. Opção preferida de quem deseje ir do bairro diretamente ao centro da cidade, de forma rápida. As pessoas vão chegando no ponto e formando a fila. E quem quer que costume se servir dele, no horário da manhã, encontrará, quase sempre, as mesmas pessoas: a senhora que vai para a natação várias vezes na semana, faça frio ou faça sol; aqueloutra que trabalha no shopping, a jovem que se dirige à faculdade. Com o passar dos anos, natural que o conhecimento entre os passageiros tenha ocorrido e as conversas, no ponto de aguardo, giram em torno de filhos, as dificuldades financeiras, o tempo que insiste desabar aguaceiro todos os dias... Quem chega logo pergunta: 
-Já passou o amarelinho? 
Amarelinho é o nome com que foi batizado o ônibus, por causa de sua cor amarela, que o diferencia de outras linhas. Quando as pessoas vão embarcando, começam os diálogos com o motorista: 
-Bom dia. E aí, como vai, José Luís? 
Exatamente nesse momento é que se evidencia a diferença entre esse ônibus que faz o horário da manhã e outros. Uma camaradagem se revela, de imediato. 
-Perdeu o horário, ontem? – Pergunta o motorista a uma senhora. 
E a resposta vem pronta: 
-Ontem fui mais tarde, fiz horário especial no escritório. 
Passageiros acomodados, o ônibus segue pela rota convencionada, parando aqui, ali, ao comando dos usuários, que se alternam nas subidas e descidas da condução. O diálogo assume um tom de cordialidade e a conversa flui. Então, se ouve um espirro de José Luís. Outro. E outro. Alguém grita do meio do ônibus: 
-Saúde! Espero que não seja gripe! – Fala ele. 
Um brincalhão fala: 
-Não se preocupe. É alergia... ao trabalho. 
Todos riem. Uma senhora experiente nos anos arrisca a prescrever sua receita infalível para gripe, que consiste em chá de determinada erva, associada a uma boa noite de sono. Quando ele entra em férias, o ônibus deixa de ser o mesmo. Torna-se mais silencioso. Parece faltar o elo de ligação entre eles. No seu retorno, todos entram, cumprimentam e cada qual vai fazendo seu comentário: 
-Nossa, que férias longas! 
-E aí, viajou? 
-Descansou bastante? 
-Pronto pra levar a gente? 
Ele parece ser alguém da família. Alguém que participa, ao menos brevemente, alguns minutos diários da vida de cada um. Não é somente o contratado da empresa de ônibus. É alguém que sabe aguardar, pacientemente, que o idoso desça ou suba os degraus, um a um, bem devagar. Também antes de prosseguir com o veículo, espera que se assente o idoso ou aquela mãe com o bebê ao colo. Tudo para que ninguém caia ou se machuque. Um motorista. Uma pessoa especial. Alguém que merece elogios pela forma de se conduzir. E os recebe. De muitos desses passageiros, conhecidos de tempos, que vão descendo e falando: 
-Até logo! Obrigado por me conduzir até aqui. 
-Bom final de semana. 
-Bom feriado. 
-Até amanhã. 
-Deus o abençoe. 
Um tratamento VIP em um ônibus de uma linha urbana de uma capital... Uma inusitada camaradagem construída ao longo dos anos entre um servidor e habituais usuários. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. Em 12.2.2018.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

DEVER DE TRABALHAR

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Em conhecida passagem do Evangelho, Jesus afirma que o Pai Celeste trabalha até agora e que Ele também trabalha. Trata-se de um interessante ensino, em um mundo que não costuma perceber o trabalho como uma bênção. Em todos os quadrantes das atividades humanas, é possível observar criaturas queixosas e insatisfeitas. Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido. A maioria revolta-se contra o gênero de seu trabalho. Os que varrem a rua querem ser comerciantes. Os comerciantes desejam a condição de industriais. Os trabalhadores do campo preferem a existência na cidade. Quem obedece almeja mandar. Os convocados aos altos postos falam do peso de suas atribuições. O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas de compreensão da oportunidade recebida. De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça inconsciente. Trata-se do desejo de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas do próprio passado. O anseio pelas altas posições sinaliza uma visível vaidade. O desejo de muito ganhar e pouco fazer evidencia ganância e preguiça. Todo homem é herdeiro de si mesmo, em especial quanto a seus pendores e aptidões. Ele é sabiamente colocado pela vida nas posições mais adequadas ao próprio burilamento. Por certo o esforço individual tem o seu papel a cumprir nos destinos humanos. É sempre louvável o homem que vence as injunções de sua vida e supera todos os obstáculos. Contudo, enquanto atua em determinada área, deve honrá-la e honrar-se com o seu desempenho profissional. No contexto de uma única vida material, nem todos podem mandar ou deter as posições de fortuna. Estas se alteram conforme as necessidades de experiência das criaturas. As posições modestas costumam ser das mais úteis no aprendizado da obediência, da humildade e da frugalidade. Já as altas colocações são convites à doação ao semelhante. Não se destinam a satisfazer a vaidade, mas a realizar o bem coletivo. O importante é valorizar o trabalho, conforme se apresente. Trabalhar é uma bênção e um dever incontornável. Nesse sentido, Jesus afirmou que Deus não cessa de agir em Sua obra eterna de amor e sabedoria. Também aduziu que Ele próprio Se dedica de modo incansável à raça humana. Assim, quando sentir cansaço ou vontade de reclamar, lembre-se de que Jesus está trabalhando. A Humanidade começou ontem seu humilde labor. Mas o Mestre Se esforça por todos desde quando? Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4, do livro Caminho, verdade e vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 05.04.2012.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

DEVER DE IRMÃO

Diana Dwan Poole
Diana desejava ser médica. Por não ter condições de pagar a faculdade de medicina, optou por enfermagem. No ano de 1966, depois de uma palestra na escola, alistou-se no exército. Aquilo equivalia a trabalhar e ser muito bem paga. Durante dois anos, trabalhou no presídio, em São Francisco. Duas vezes foi chamada para ir ao Vietnã e recusou. Na terceira, com o posto de capitão, acreditou que estava preparada para enfrentar qualquer coisa e foi. Designada como enfermeira-chefe da ala de ortopedia, tomou contato com soldados que sofriam amputações traumáticas. Logo sua reputação de muito rígida se espalhou. Uma de suas principais regras era que às enfermeiras era proibido chorar. Os homens feridos e à beira da morte, dizia, precisam de nossa força. Também era muito direta com os soldados. Jamais disse a um ferido que iria ficar bom, se não fosse verdade. Não mentia. Então, um quase garoto foi trazido ao hospital. Não devia ter mais de dezoito anos. Imediatamente, Diana viu que nada mais poderia ser feito para lhe salvar a vida. Embora com muita dor, o soldado jamais reclamou ou se queixou. Quando ele lhe perguntou se iria morrer, ela respondeu indagando qual era a opinião dele. Como ele dissesse que achava que iria morrer, ela o orientou para que orasse, se soubesse. O soldado lhe pediu que segurasse sua mão, enquanto ele fizesse a prece. Aí, alguma coisa estalou dentro dela. Aquele garoto merecia mais do que uma mão que apertasse a sua. Ela colocou seus braços à volta dele, permitiu que ele se aninhasse em seu colo e tocou seu rosto. Beijou-o e juntos, recitaram a oração que ele lembrava:
-Ao deitar-me, peço ao Senhor que guarde a minha alma. Se eu morrer antes de acordar, peço a Deus que cuide da minha alma.
Ele deu um suspiro, olhou-a e disse apenas uma frase mais:
-Amo você, mamãe, amo você.
E morreu, nos braços de Diana, calma e tranquilamente, como se tivesse mergulhado em repousante sono. Quando Diana ergueu os olhos, deu-se conta de que não somente ela quebrara suas regras, mas igualmente as demais enfermeiras. Todas choravam, silenciosamente. A enfermeira-chefe retirou-se para seu quarto, pensando na mãe do soldado morto. Ela receberia um telegrama dizendo que o filho morrera de ferimentos de guerra. Diana ficou a pensar o quanto aquela mãe se perguntaria como morrera seu filho. Teria sido no campo de batalha? Alguém estava com ele? Teria sofrido muito? Por isso, tomou de uma folha de papel e caneta e escreveu uma carta. Seria bom que a mãe soubesse que, nos últimos momentos, o filho pensara nela. Mas, com certeza, o mais importante para aquele coração materno seria saber que seu filho não morrera sozinho. 
 * * * 
Uma enfermeira que serviu no Vietnã dizia que todos os soldados pertencem a alguém. Eles têm pai, mãe, mulheres, filhas... Têm alguém que os ama. Importar-se com essas pessoas, com certeza, vai muito além do dever de qualquer enfermeira. Importar-se com quem está aguardando notícias e vive a angústia da espera, é dever de irmão que entende o drama do seu irmão. Isso se chama amor ao próximo. Isso se chama dever de irmão.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Ao deitar-me em meu leito, de autoria de Diana Dwan Poole, do livro Histórias para aquecer o coração dos pais, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jeff Aubery, Mark & Chrissy Donnelly, ed. Sextante. Em 20.3.2014

sábado, 10 de fevereiro de 2018

UM DEVER DE CONSCIÊNCIA

ALAN KARDEC
O fato de médicos e hospitais de vários municípios do Rio Grande do Sul terem se recusado a fazer o abortamento em uma adolescente de 14 anos, apesar da autorização judicial que trazia consigo, foi manchete nas mídias, no ano de 2005. Segundo as notícias, a jovem disse que sua gravidez foi fruto de estupro e obteve do juiz a permissão para realizar o aborto, isentando médicos e hospitais que se dispusessem a eliminar a vida que pulsava em seu ventre. Embora o juiz tenha autorizado o aborto, não lhe caberia o direito de obrigar ninguém a realizar o feito, pois nem sempre a legalidade de um ato o torna moral. O que vale ressaltar na atitude desses médicos, é a consciência do dever. O dever de defender a vida, assumido perante si próprios. O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. Ao concluírem o curso os médicos fazem um juramento, o mesmo juramento feito por Hipócrates, um sábio grego que viveu no século V antes de Cristo, e é considerado o Pai da Medicina. O juramento diz o seguinte: Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da Humanidade. Darei, como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra. Ao fazer tal juramento, o médico passa a ter um dever moral consigo mesmo. E, se o violar, estará ferindo a própria consciência. Ao se comprometer com esse ideal, o médico também estabelece o dever para com os outros, que é o segundo passo do dever ético-moral. Lamentável é que muitos desses homens e mulheres que juraram, solene e livremente, que manteriam o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção, usem seus conhecimentos médicos para eliminar a vida que pulsa no santuário do ventre materno. Por outro lado, é admirável a coragem e a honra desses homens e mulheres que não se permitem sujar as mãos com sangue inocente, mesmo sob qualquer pressão. Isso porque sabem que, se agirem em desacordo com o juramento feito por livre vontade, não terão como se olhar no espelho da consciência e enxergar um cidadão honrado. 
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O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós. O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento. O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da Sua obra resplandeça a seus próprios olhos. 
Redação do Momento Espírita, com base no item 7 do cap. XVII de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Em 24.09.2009.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

CONVITE À TRANQUILIDADE

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
Você sabia que produzimos melhor quando fazemos tudo com equilíbrio? Sabia que podemos ajudar mais quando conseguimos cooperar com tranquilidade? As ações pacientes e constantes têm maior eficiência, isto é, conseguem alcançar melhor seus objetivos. Por essa razão, a tranquilidade, em todos os momentos da vida, é de salutar necessidade. Vivemos sob condicionamentos decorrentes da violência que se espalha por toda parte. Somos convidados a decisões e atitudes imediatas. A inquietação e a ansiedade tomaram conta de todos e, sem percebermos, nos acostumamos com elas. Assim, raramente agimos impulsionados pela tranquilidade que reflexiona e inspira diretrizes de segurança. O impacto resultante da alta carga de informação de variada ordem que nos assalta, através dos veículos de comunicação, nos leva a reagir. Reação que nos conduz a precipitadas resoluções de consequências poucas vezes felizes. Castigados por necessidades imediatas, no imenso campo das competições, à revelia da vontade, exasperamo-nos por ninharias, intoxicando-nos, em regime de demorado curso, até a exaustão ou desequilíbrio total, na rampa da alucinação. Quase sempre nos manifestamos dizendo que manter a tranquilidade ante a injustiça, face às surpresas desagradáveis que nos assaltam, sob condições inesperadas é de todo impossível. Não é verdade, porém. É fundamental facultar condições para que se desenvolvam as expressões da paciência no coração e na mente, em perene tranquilidade. Para isso, devemos confiar em Deus plenamente, entregando-lhe a vida e deixando-nos por Ele conduzir. Nessa entrega estão dois pontos cruciais: Primeiro, estar consciente de que todo mal aparente resulta num bem real. Segundo, que toda aflição proporciona resgate de dívida passada. Com a certeza desses dois pontos, nenhuma conjuntura infeliz conseguirá alterar o ritmo da nossa tranquilidade interior. Mesmo quando experimentando sofrimento, tal estado não nos conduzirá à rebeldia, à desesperação, à deserção. O estudo das leis da causalidade, a que se refere a doutrina espírita, a pouco e pouco esclarece o entendimento humano, consolidando convicções em torno da Divina Justiça, que estabelece as linhas do destino e da vida de modo a felicitar o Espírito na jornada evolutiva. O exercício da vontade bem dirigida, mediante pequenos esforços, constantes disciplinas, necessárias continências; a meditação como norma de elevação dos pensamentos e cultivo das ideias superiores; a oração que faculta o estabelecimento da ponte entre a criatura e seu Criador, são todos métodos excelentes para a aquisição da tranquilidade. Dessa forma, em qualquer situação, mantenhamos a tranquilidade e não nos desesperemos. Muitas vezes parece que o auxílio Divino chegará tarde demais. No entanto, fazendo revisão dos acontecimentos, verificaremos que o socorro celeste sempre chega dez minutos antes da hora grave, resolvendo o problema. Perseveremos, pois, em tranquilidade sempre. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 58, do Livro Convites da vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 9.2.2018.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

SE EU PUDESSE VIVER DE NOVO

Quando os anos vão se somando, formando décadas, é comum olharmos para trás e analisar o que fizemos. Naturalmente, nos felicitamos pelas conquistas: a família constituída, os filhos crescidos, os netos chegando. Também a empresa consolidada, o livro publicado, a carreira de sucesso. Igualmente nos lembramos de algo que fizemos e que gostaríamos de não ter feito. Ao menos, não da forma que realizamos. Ou lembramos de algum item que se encontra em nossa lista de coisas a realizar. Se ainda nos sobram anos pela frente, ao menos em nossa matemática de vida, é bem possível que alteremos comportamentos, tomemos atitudes diferentes, iniciemos um novo projeto. Contudo, se verificamos que muitos anos se passaram e talvez não dê para consertar aquilo em que nos equivocamos, ou completar o projeto tão pensado, uma frase pode nos atravessar a mente: Se eu pudesse viver de novo... Então, pensamos: 
-Se eu pudesse viver de novo, conduziria minha vida de forma diferente. Ia falar menos e ouvir mais. Convidaria mais amigos para minha casa, sem me importar com o tapete manchado da sala e o sofá desbotado. Ia comer pipoca na sala, tranquilamente, com a criançada, assistindo a animação que eles apreciam e não o filme que eu desejaria ver. Ia arranjar tempo para ouvir as ricas histórias das experiências de vida dos meus avós, prestaria mais atenção ao idioma pátrio deles e me esmeraria em aprendê-lo, como uma segunda opção de língua. Sentaria na grama com meus filhos, sem me importar com as manchas na roupa. Estaria mais com eles. Iria rir e chorar menos pelo que assistisse na televisão e mais pelas observações da vida em si mesma. Quando estivesse doente, me permitiria ficar acamado, a fim de me restabelecer devidamente, em vez de ir trabalhar, acreditando que sou insubstituível e que sem mim as coisas não seriam feitas. Ou não seriam feitas muito bem. E quando meu filho me viesse beijar intempestivamente, jamais diria: “Agora, não. Estou ocupado.” Nem o mandaria se lavar antes por estar com as mãos sujas de terra. Enfim, haveria muito mais “Eu te amo”, “Sinto muito”, “Fique comigo”, “Me ajude”. Mas, especialmente, se tivesse outra oportunidade de viver, eu iria agarrar cada minuto, olhar para ele e vivê-lo. Vivê-lo de forma intensa, como único. 
* * * 
Se ainda dispomos deste dia, façamos algo diferente, já, agora. E vivamos muito bem as próximas horas, meses, anos o que tenhamos, o que nos reste. Se, no entanto, estamos no declínio da vida e a enfermidade ou outra questão de relevância nos tolhe a execução de tudo que ansiamos fazer, pensemos que haverá, sim, uma oportunidade de viver de novo. Ela se chama reencarnação. Dessa forma, se nos for impossível reformular caminhos agora, pensemos no amanhã como algo concreto. Retornaremos ao cenário da Terra, num corpo novo, tudo recomeçando. Então, desde já nos esmeremos em tecer propósitos de uma vida plena de idealizações positivas. Guardemos a certeza de que os amores conquistados nesta vida estarão conosco, acompanhando-nos os ideais. E que tudo que construímos no hoje se refletirá nesse amanhã de retorno. Pensemos nisso: todos retornaremos. Por isso, a melhor decisão é contribuir para um mundo melhor, desde o hoje, o mundo que encontraremos quando estivermos de volta. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Se eu pudesse viver de novo, de Erma Bombeck, da Revista Seleções Reader’s Digest, dezembro 1982. Em 8.2.2018.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

ENQUANTO OS VENTOS SOPRAM

Conta-se que, há muito tempo, um fazendeiro possuía muitas terras ao longo do litoral do Atlântico. Horrorosas tempestades varriam aquela região extensa, fazendo estragos nas construções e nas plantações. Por esse motivo, o rico fazendeiro estava, constantemente, a braços com o problema de falta de empregados. A maioria das pessoas estava pouco disposta a trabalhar naquela localidade. As recusas eram muitas, a cada tentativa de conseguir novos auxiliares. Finalmente, um homem baixo e magro, de meia-idade, se apresentou. 
-Você é um bom lavrador? Perguntou o fazendeiro. 
-Bom, respondeu o candidato, eu posso dormir enquanto os ventos sopram. 
Embora confuso com a resposta, o fazendeiro, desesperado por ajuda, o empregou. O homem trabalhou bem ao redor da fazenda, mantendo-se ocupado do alvorecer ao anoitecer. O fazendeiro deu um suspiro de alívio, satisfeito com o trabalho dele. Então, numa noite, o vento uivou ruidosamente, anunciando que sua passagem pelas propriedades seria arrasadora. O fazendeiro pulou da cama, agarrou um lampião e correu até o alojamento dos empregados. O pequeno homem dormia serenamente. O patrão o sacudiu e gritou: 
-Levante depressa! Uma tempestade está chegando. Vá amarrar as coisas antes que sejam arrastadas. 
O empregado se virou na cama e calmo, mas firme, disse: 
-Não, senhor. Eu não vou me levantar. Eu lhe falei: posso dormir enquanto os ventos sopram. 
A resposta enfureceu o empregador. Não estivesse tão desesperado com a tempestade que se aproximava, ele despediria naquela hora o mau funcionário. Apressou-se a sair para preparar, ele mesmo, o terreno para a tormenta sempre mais próxima. Para seu assombro, ele descobriu que todos os montes de feno tinham sido cobertos com lonas firmemente presas ao solo. As vacas estavam bem protegidas no celeiro, os frangos estavam nos viveiros e todas as portas muito bem trancadas. As janelas estavam bem fechadas e seguras. Tudo estava amarrado. Nada poderia ser arrastado. Então, o fazendeiro entendeu o que seu empregado quis dizer. Retornou ele mesmo para sua cama para também dormir, enquanto o vento soprava. 
* * * 
Se os ventos gélidos da morte nos viessem, hoje, arrebatar um ser querido, estaríamos preparados? Se reveses financeiros, instabilidade econômica levassem nossos bens de rompante, estaríamos preparados? A religião que professamos, a fé que abraçamos devem nos preparar o Espírito, a mente e o corpo para os momentos de solidão, pranto e dor. Enquanto o dia sorri, faz sol em nossa vida, fortifiquemo-nos, preparemo-nos de tal forma que, ao chegarem os tsunamis, soprarem os ventos e a borrasca nos castigar, continuemos firmes, serenos. Pensemos nisso e comecemos ainda hoje a nossa preparação. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida. Em 7.2.2018.