Certo dia, uma senhora muito elegante chegou até a portaria de um orfanato e pediu para ver as crianças. Afirmou que desejava adotar uma delas.
Rica, sem filhos, desejava alegrar o seu lar com uma criança.
A diretora ficou entusiasmada. Afinal, não é todo dia que chega alguém disposto a adotar um pequenino.
Tomarei todas as providências necessárias e justas. Só existe um porém, disse a senhora, quero escolher.
A diretora começou as apresentações.
Entre ansiosas e assustadas, as crianças foram desfilando perante a senhora.
Olhando uma menina de olhos escuros, reclamou:
Esta não. É muito morena.
E para outra: Esta não, tem jeito de muito danadinha.
Esta não, tem olhos de gato assustado.
Ah, este menino não. É um garoto de olhar muito frio.
E por aí continuou: uma era anêmica, a outra tinha cabelos muito encrespados. Um garoto parecia ser sapeca, o outro não combinava com a cor dos olhos do marido. Ou então era muito grande. Com certeza, já deveria trazer vícios, defeitos de uma má educação. Difícil de reeducar.
Depois de examinar trinta e dois pequeninos, a senhora estava desolada:
Não tem mais nenhum? Onde estaria a criança que eu procuro?
Com serenidade, a diretora respondeu:
Minha irmã, a senhora me desculpe, mas o nosso estoque acabou. Acredito que seria bem melhor se a senhora procurasse a sua encomenda no céu, pois, nas condições que deseja, somente encontrará a sua criança entre os Espíritos de qualidade superior, os anjos.
* * *
Quantos de nós pensamos como a senhora da história?
Quantos afirmamos que desejamos adotar mas fazemos uma relação das qualidades físicas e morais da criança?
Tem que ser bonita, perfeita, recém-nascida. Ou então, de poucos meses. Se tiver mais que um ano, deve-se perceber que seja muito bem educada, gentil, delicada.
Quanta exigência!
Será que estamos procurando mercadoria? Não estamos nos dando conta que isso cheira a resquício de mercado de escravos, onde, não há muito tempo, íamos escolher os melhores espécimes, os que durassem mais, os mais fortes.
Continuamos a agir como se as crianças órfãs fossem simples mercadoria. E nas adoções não nos importamos de separar irmãos de sangue.
Onde está o amor ensinado pelo Senhor Jesus? Quem ama verdadeiramente não olha cor da pele, dos cabelos, dos olhos. Para quem ama não importam deficiências físicas ou mentais.
Mesmo porque os mais problemáticos é que devem sempre nos merecer maior atenção, redobrado cuidado, mais carinho.
Redação do Momento Espírita, com base
no cap. 14, do livro Almas em desfile, pelo Espírito Hilário Silva,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Redacionado em 1996.
Em 19.2.2014.
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