domingo, 31 de outubro de 2021

GRATIDÃO DE FILHO

Faz bem ouvir histórias de gratidão, recheadas de ternura. 
Histórias que mostram criaturas reconhecidas pela existência, pela oportunidade de viver neste bendito planeta. 
Talvez, por isso, as pessoas frequentassem mais aquela lanchonete do que outras, na pequena cidade. O senhor, um homem maduro, tinha um certo ar de filósofo. A cabeleira mal contida por um boné, os olhos atentos, o dinamismo de quem amava o que fazia. Tinha um olhar que lhe permitia, tão logo a pessoa entrasse em seu estabelecimento, descobrir o que lhe ia na alma. Assim, quando a esposa que acabara de se despedir do marido, que partira para uma missão militar, no Exterior, adentrou o local, ele foi até a sua mesa. Antes mesmo dela fazer o pedido, ele ofereceu uma salada de frutas. 
-Bem saudável, frisou. 
-Prefiro um café preto, sem açúcar. 
Disse a jovem. Ele insistiu, com delicadeza: 
-Acredito que no seu estado deveria começar a tomar menos café e alimentar-se melhor. 
Ela se surpreendeu. Como ele poderia saber da sua gravidez se somente há poucos dias ela tivera a certeza? E, antes que se recuperasse da surpresa, continuou o senhor: 
-Se resolver doar mesmo o bebê, acredite que ele não irá querer mal a você. Ficará agradecido por tê-lo deixado nascer. 
Aquilo ia além dos limites. Ele parecia ter lido na sua mente as tantas ideias que a atormentavam com respeito a ficar ou não com o bebê. Algumas lágrimas lhe escorreram pela face. Ele continuou, bem humorado, como quem deseja plantar uma semente de esperança: 
-Sabe, eu sou adotado. Digo para mim mesmo que tive duas mães. Tenho certeza de que quando eu decidi que queria nascer nesta Terra, procurei uma mulher para ser minha mãe. Vi uma jovem amorosa, bonita e falei: -"Eu vou nascer desta mulher. Quero ser filho dela!" Depois, encontrei outra mulher. Senti o amor que exalava dela e disse: -"Esta será a minha mãe." Então, eu tenho duas mães. A mãe biológica, que me gerou, me deu um corpo, me permitiu nascer. E a mãe que me abrigou em seu colo, me recebeu como filho de sua carne, me aninhou. Ela me alimentou, esteve comigo nos dias da infância, da juventude. Sou muito agradecido a ambas. Cada uma me amou de uma forma e me deu algo precioso: o corpo, o lar, o carinho. Penso que todos os que sejam adotados deveriam ter esse pensamento de gratidão por quem lhes permitiu nascer. E por quem os recebeu nos braços, acompanhando-lhes o dia a dia. 
* * * 
Quanta gratidão havia naquele coração! 
Algo que nem sempre observamos nos filhos, biológicos ou do coração. 
Como são preciosas as atuações das mulheres mães. 
Filhos biológicos devemos ser infinitamente gratos pela vida, pelos cuidados recebidos, por todo o amor que nos alimentou. 
Filhos adotados, de igual forma, considerando que a generosidade de um coração materno nos acolheu quando outro coração registrou dificuldades em continuar conosco. 
Gratidão deve ser a palavra gravada profundamente em nossos corações.
Pensemos nessas criaturas que nos devem merecer respeito, carinho, atenção.
Redação do Momento Espírita, com base em capítulo da série televisiva Os casos de Cedar Cove. 
Em 10.12.2020.

sábado, 30 de outubro de 2021

JOÃO DE DEUS (PAPA SANTO)

João de Deus foi o apelido carinhoso que o papa João Paulo II recebeu dos brasileiros, quando esteve em nosso país pela primeira vez, em 1980. Um homem valoroso que trazia nos olhos a ternura, e no coração o profundo desejo de ajudar na construção de um mundo melhor. João Paulo II é, sem dúvida, um homem de Deus. Todo homem que luta pela paz mundial, pela justiça, pelo bem geral, é um homem de Deus. 
E o papa o foi. 
Sempre disposto, aquele homem jamais se deixou vencer pelo cansaço, pelo frio nem pelo calor, e abraçou pessoas das mais variadas religiões, cores e posições sociais, em muitos países do mundo. 
Foi um verdadeiro cristão. 
Em seus discursos enalteceu sempre a democracia, a liberdade, a dignidade humana. 
Foi agredido com palavras, foi atingido por uma bala, mas nem assim se deixou desestimular, pois acreditava que o mal é uma escolha temporária do ser humano... 
Desde a infância, o pequeno Karol Wojtyla, teve contato com a dor da separação, causada pela morte. 
Despediu-se, com apenas nove anos de idade, de sua querida mãe que retornou à pátria espiritual. 
Experimentou a dor da orfandade e, antes dos vinte e dois anos já estava só no mundo. 
Seu irmão e seu pai haviam falecido. 
O jovem Karol experimentou a solidão... 
Mas não se deixou abater. 
Fez o que seu coração lhe pediu: buscou, através da oração, a ajuda da veneranda mãe de Jesus, Maria de Nazaré, em cujo coração encontrou alento e esperança. 
Ao receber o título máximo de líder religioso da igreja católica, o cidadão polonês fez muitas renúncias, a começar pelo próprio nome. 
E foi assim que João Paulo II ficou conhecido em quase todo o mundo. 
O garoto pobre tornou-se o papa estrangeiro, em Roma. 
Como papa, teve papel importante na Terra. 
Com humildade e firmeza de propósitos, sua voz ecoou em vários continentes, clamando por paz. 
Sem dúvida, um missionário de Deus, como tantos outros que defendem a paz e a liberdade do ser humano... 
Sem dúvida, um homem de princípios, que não hesitou em pedir perdão à Humanidade pelos erros cometidos por seus antecessores, que acenderam as fogueiras da inquisição e dizimaram muitas vidas, em nome de Deus... 
Para o povo brasileiro, esse homem é apenas João de Deus... 
Mas, de tudo isso o que realmente importa agora, é que sua herança já foi legada em vida. 
A herança de amor pela Humanidade e sua total doação por um mundo melhor.
Hoje o cetro do poder repousa neste lado da vida... 
E o menino Karol repousa, serenamente, aconchegado ao colo da mãezinha, que não via desde os recuados e doces nove anos de idade, na saudosa Polônia, sua terra natal... 
Um breve e merecido descanso para logo mais iniciar o trabalho novamente.
Afinal, há muita coisa ainda a ser feita antes que a paz mundial seja uma realidade. 
E para o bom combatente não há tempo a perder, há apenas uma pequena pausa para restabelecer as forças e continuar a nobre batalha. 
Não há porque lamentar a partida de um homem de bem, que foi libertado do corpo físico, enfermo, pelas mãos hábeis dessa cirurgiã chamada morte... 
* * * 
Que em nossas mentes possam ficar gravadas essas palavras do papa João Paulo II, ditas na celebração do Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 2005: 
-O mal não é uma força anônima que age no mundo devido a mecanismos deterministas e impessoais. O mal passa através da liberdade humana. No centro do drama do mal e constantemente relacionado com ele está precisamente esta faculdade que distingue o homem dos demais seres vivos sobre a Terra. O mal tem sempre um rosto e um nome: o rosto e o nome de homens e mulheres que o escolhem livremente. E se o mal é uma escolha, o bem também pode ser. Se temos a liberdade de escolher o mal, temos também para escolher o bem. Basta apenas movimentar a vontade e optar pelo bem. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, em homenagem ao Papa João Paulo II, desencarnado em 2 de abril de 2005. Disponível no CD Momento Espírita, v. 11, ed. FEP. 
Em 29.10.2021.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

GRATIDÃO À VIDA

É possível que você pense que poderia ser mais inteligente e se aborreça com suas limitações pessoais e com os esforços necessários para estudar, aprender, avançar. 
Mas talvez nunca tenha pensado naqueles que renascem com profundas limitações na área do intelecto, desconectados da própria mente, imersos nessa ou naquela sequela física, em vidas de resgate e expiação. Talvez esses tenham dificuldades maiores do que as suas. 
Você já pensou que poderia ter um corpo mais harmonioso, mais elegante e condizente com os padrões de beleza instituídos. Mas, talvez nunca tenha pensado naqueles que trazem deformações, mutilações, limitações na veste orgânica, com dificuldades para andar, falar, ouvir ou enxergar. Esses desejariam muito ter o corpo exatamente igual ao seu. 
Você já pensou que poderia ter mais dinheiro, morar em uma casa maior, ter um carro da moda ou viajar para países distantes. Mas, talvez nunca tenha pensado naqueles que vivem da caridade alheia, sem a opção de um trabalho digno para se sustentar, sem garantia de moradia ou de alimentação diária. Esses, possivelmente, sonhem em ter a casa e o salário que você dispõe. 
Você já pensou que sua família é um peso imenso em seus ombros, que gostaria de ter os filhos semelhantes àqueles que você vê em outros lares e ter o cônjuge igual a outros casais que você conhece. Mas, talvez nunca tenha pensado naqueles que vivem sós, sem família, sem alguém para dizer oi ao chegar em casa, para dividir suas frustrações e seus sonhos, ou para compartilhar a mesa de refeições. É possível que esses sonhem todos os dias em ter uma família como a sua, problemática e de difícil trato, mas pelo menos teriam seres próximos a quem pudessem entregar o seu amor, compartilhar suas carências. 
* * * 
Muitas vezes sonhamos com outra vida, outro corpo, outros entes queridos, outra trajetória. 
Sonhamos com aquilo que, infantilmente, imaginamos nos faria felizes. 
Mas, possivelmente, a beleza do corpo nos trouxesse a vaidade desmedida. 
A inteligência privilegiada nos tornasse arrogantes e pretensiosos. 
O dinheiro em excesso talvez nos conduzisse a vícios e comportamentos comprometedores. 
E nos destituirmos da família seria o caminho para o egoísmo e a solidão. 
Dessa forma, percebemos que a vida é feita de bênçãos, de oportunidades de aprendizado. 
Tudo ao nosso redor é aquilo que Deus provê para melhor aproveitarmos a oportunidade da vida. 
E os Seus desígnios são de sabedoria e amor irretocáveis. 
Assim, ao analisarmos tudo que temos, nosso corpo, nossa condição financeira, nossas capacidades e nossa família, agradeçamos a Deus por tudo isso. 
Afinal, de nossa existência, o que nos pertence mesmo é aquilo que podemos guardar no cofre do coração. 
Tudo o mais é empréstimo Divino para que possamos galgar a estrada rumo à perfeição. 
São empréstimos que nos cabe usufruir de forma consciente, deles extraindo o melhor. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 8.4.201

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

TEMPOS DE OUVIR

Foi em 1984, que cientistas notaram sons pouco comuns, próximo ao tanque de golfinhos e baleias brancas. Pareciam ser de uma conversa distante entre duas pessoas, embora não fosse possível compreender o que diziam. Dias depois, ficaram mais surpresos, quando uma mergulhadora emergiu do tanque e perguntou aos colegas quem tinha dado a ordem para que ela saísse. Uma análise acústica determinou que os sons vinham de uma fonte surpreendente: uma baleia chamada Noc. Os sons foram gravados pela Fundação Nacional de Mamíferos Marítimos, de São Diego, na Califórnia. 
Voz parecida ou imitação da humana, não importa. 
O que sabemos, com certeza, é que os animais têm sua forma peculiar de comunicação. 
Quem ouve o cantar dos pássaros pode se esforçar para entender o que comentam entre si. 
Uma amiga, que tem uma árvore frondosa, bem em frente à sua casa, diz que costuma ficar se deliciando com a algazarra dos periquitos, no final do dia. 
-Sempre imagino, diz ela, que eles discutem para decidir quem ficará em qual galho, na noite que se aproxima. Ou será que estão relatando uns aos outros tudo que lhes aconteceu durante o dia? 
Nessa hora, penso que nos oferecem uma grande lição de vida. 
Deveríamos ser assim, como eles, chegar em casa e desejar ouvir um do outro o que aconteceu naquele dia. 
Como foi o trabalho, o estudo. Como estava o trânsito. 
Pequenas tolices mas que nos aproximam. 
Ouvir as crianças contando como foi o jogo de futebol, como conseguiram a melhor nota da classe na redação. 
Ou não foram muito bem na prova de matemática. 
Como repartiram o seu lanche com o amiguinho que ficou olhando, enquanto eles começavam a desembrulhar a sua delícia. 
Sim, os animais, até mesmo quando se comunicam entre si, podem nos dar lições.
Por exemplo, lição de saber ouvir. 
Observo meu cão, sempre atento aos latidos dos caninos da vizinhança. Conforme o que ouve, ele se agita, responde latindo. Percebo: os amiguinhos lá do começo da rua estão avisando que uma pessoa estranha passou em frente a suas casas. E ele fica alerta, a postos, no portão. No entanto, por vezes, ele simplesmente ouve. Fica ali, postado, quieto, ouvindo e ouvindo. Devem ser somente coisas banais que aqueles latidos traduzem. 
Nesses momentos, me dou conta de que seria muito bom se, entre nós, humanos, aprendêssemos a ouvir. 
De um modo geral, somos muito impacientes com as falas que acreditamos bobas, sem sentido. 
Contudo, o que pode nos parecer simples tolice é a fala de um solitário, que deseja compartilhar com alguém o que observou, o que viveu há pouco. 
Seria bom que ouvíssemos mais, que procurássemos entender, além de tudo, o que a pessoa quer transmitir. 
Afinal, a Divindade, ao elaborar a perfeição do corpo humano, dispôs que tivéssemos dois ouvidos, um de cada lado da cabeça. 
Exatamente para ouvir o bom e o ruim, o agradável e o incômodo, a voz de quem amamos ou, simplesmente, a de quem somente espera ser ouvido por alguém que lhe sorria. 
Pensemos a respeito. 
Tempos difíceis no mundo. 
Tempos de ouvir. 
Redação do Momento Espírita 
Em 28.10.2021.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

DECISÃO DE SER FELIZ

Já paramos para pensar que ser feliz pode ter mais a ver com uma decisão do que com um conjunto de circunstâncias e acontecimentos esperados? 
Num primeiro momento, pode parecer ingênuo falar em felicidade num mundo como este, certo? 
Os que pensamos dessa forma, estamos partindo de um princípio contaminado por uma ideia principal: a de que a felicidade depende de fatores externos a nós. É um conceito comum, construído pela visão materialista da vida, ao longo do tempo. Ele é frágil e perigoso porque colocamos a felicidade na dependência de fatores que, na maioria, estão fora do nosso controle: riqueza, beleza física, poder, sucesso. 
Clarice Lispector
E se imaginássemos a decisão de ser feliz como uma lente que colocamos em frente aos olhos? 
Isso mesmo, uma forma diferente de ver as mesmas coisas, de lidar com as mesmas questões de todos os dias. Dessa maneira, retiramos muito do que é externo e passamos para o interno, porque, quem decide como enxergar as coisas, qual o seu significado, seu valor, é cada um, individualmente. 
Mas, e se os nossos valores internos estiverem contaminados? 
Se a nossa lente distorcer as coisas?
Consideremos, em primeiro lugar, que cada lente é única. 
Nunca esperemos igualdade. 
Em segundo lugar, entra o desenvolvimento da visão espiritual da vida, que, de muitas formas, vai tornando nossas lentes mais límpidas, sensatas e maduras. 
Crescer intelectualmente, sobretudo, nas virtudes morais, esculpe lentes sábias na alma. 
Com isso, perceberemos que passamos a escolher uma vida de paz, mais feliz. 
A escolha não nos isenta, de forma alguma, dos percalços, dos sofrimentos e de duras provas. 
Porém, a forma com que lidamos com tudo isso será distinta. 
Males passam a ser desafios. 
Desgraças tornam-se lições preciosas. 
Doenças são processos de libertação. 
As pequenas belezas dos dias, as maravilhas do Universo perfeito, o equilíbrio das leis maiores, passam a ser sentidos com maior frequência. 
Aí está a lente modificada, a proposta de ser feliz. 
Quando, na trajetória terrestre, só enxergamos sofrimento, só derrota, precisamos de auxílio direto. 
As patologias cada vez mais mostram que algumas lentes chegam a distorcer a realidade de uma forma tão significativa, que sozinhos não damos conta de resolver. 
Não é demérito pedir ajuda. Pelo contrário, é sinal de sabedoria, de consciência, de despertamento. 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

GRATIDÃO AO SENHOR DA VIDA

Quando ouvimos falar em gratidão, uma forte lembrança, misto de saudade, nos acode ao pensamento. Recordamos de uma criança que conhecemos. Desde pequenina, padecia de um problema físico, que muito a fazia sofrer. No entanto, acordava pela manhã, com esforço sentava-se na cama, juntava as mãozinhas e falava: 
-Senhor Jesus, obrigada por eu ter acordado em mais este dia e poder ver o sol.
Ao receber as refeições, os medicamentos, os cuidados, expressava seu agradecimento com palavras positivas. E à noite, ao ser preparada para dormir, novamente conversava com Jesus. Aí, ela formulava um pedido especial. Queria que enquanto seu corpo estivesse adormecido, ela pudesse correr na areia da praia e sentir o abençoado ar marinho. Certa vez, lhe perguntamos se ela ia mesmo à praia enquanto dormia. Sorrindo ela respondeu: 
-Claro que sim, são os momentos mais lindos da minha vida! Quando meu corpo doente dorme, eu posso ir aonde quero. 
Ela nos emocionou com sua forma de entender a sua problemática e, ao mesmo tempo, ter discernimento para gozar, de forma plena, sua liberdade como Espírito.
* * * 
Compete-nos ter muita gratidão pela vida que Deus nos deu, pela família, pelo lar, pelo pão, pelo ar... 
Sermos gratos pelos pais que nos permitiram nascer e nos cuidaram, que nos deram a oportunidade de estudar, trabalhar. 
Agradecer por nos levantarmos toda manhã e nos dedicarmos às atividades que a vida nos oferece; por podermos preencher, durante o dia, mais uma página do livro da nossa vida; por termos no coração os ensinamentos do Mestre Jesus, Modelo, Guia e Amigo de todas as horas, que nos direciona positivamente em nossa jornada. 
Agradecer por contarmos com um guardião espiritual, que nos acompanha constantemente na função de protetor, nos inspirando, aconselhando, levantando o ânimo. 
E, com um detalhe importante: sempre respeitando nossa liberdade de escolha. Agradecer por termos uma família com quem podemos contar nas horas árduas, nas angústias, nas incertezas. 
Mesmo quando difícil de conviver, ela constitui o remédio necessário para curar nossos males internos. 
Gratidão por termos amigos sinceros que vibram conosco nas horas felizes e nos amparam nas horas de necessidades. Verdadeiros tesouros a quem nem sempre valorizamos devidamente. 
Gratidão aos professores que nos transmitiram ensinamentos que ressoarão em nossas almas para sempre. Seres dos quais só lembramos de agradecer depois de seguirmos rumos distantes. 
Gratidão pela fé que nos sustenta, nos preparando para a continuidade da caminhada, depois desta realidade. 
Essa fé que nos demonstra que a Terra é um grande educandário onde aprendemos a valorizar tanta riqueza que recebemos, até mesmo as enfermidades e limitações que nos machucam. 
Gratidão pelo fiel exemplo de almas em resgate, muitas vezes, presos a uma cama, quase imóveis. Mas que podem, durante o sono físico, gozar das liberdades conferidas ao Espírito sempre livre. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.3.2019.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

NOSSO PRÓPRIO PESO

Do lado de fora do Palácio da Justiça, na cidade de Lyon, na França, uma escultura chama a atenção. Denomina-se o Peso de si mesmo e representa um homem de pé, carregando outro homem, inanimado, nos braços, parecendo ter sido salvo de um afogamento. O que causa estranheza é que, para quem quer que preste atenção, constatará que os rostos dos dois personagens são idênticos. Segundo alguns, o significado primeiro é que o homem veste seu duplo, tornando-se seu próprio salvador. Igualmente seu próprio fardo. 
No entanto, muitas considerações podemos extrair a partir da visualização da escultura magnífica. 
Podemos cogitar que cada um de nós precisa ter consciência de que deve enxergar seu próprio caminho. 
Ninguém poderá nos emprestar seus olhos e sua mente. 
Viver é de cada um, o que fazer das nossas horas, dos tantos anos que nos serão dados neste bendito lar, escola, hospital.
Se resolvermos ficar imóveis, nada fazer, nem estudar, nem trabalhar, ficaremos estagnados porque ninguém poderá se ilustrar, aprender e produzir por nós. 
O trabalhador é digno do seu salário, asseverou Jesus, garantindo o justo mérito a cada um. 
Em termos humanos, podemos até burlar a lei, apanhar o que não nos pertença.
Jamais, porém, perante a Lei Divina que tudo sabe, tudo vê. 
O que quer que, eventualmente, usurpemos de outrem, precisaremos devolver, mais cedo ou mais tarde. 
Eis aí o grande papel das vidas sucessivas, que nos permitem devolver ao erário, ao particular, o que, em certo tempo, usufruímos, de forma indevida. 
E, como o amor cobre a multidão de pecados, conforme os registros do apóstolo Pedro, em sua Epístola, poderemos devolver salvando vidas através da educação, da instrução, da devolução real pelo nosso próprio esforço. 
Como somos herdeiros de nós mesmos, as falhas leves ou erros graves, que cometermos, serão de nossa competência exclusiva. 
Dessa forma, ninguém, a não ser nós mesmos deveremos pagar por eles. 
A Justiça Divina estabelece, sabiamente, que a cada um será dado conforme as suas obras. 
Podemos herdar fortuna dos nossos pais, podemos receber bens materiais presenteados por alguém que nos queira bem. 
Mas, os valores morais, o acervo intelectual ninguém no-los poderá emprestar ou ceder. 
Temos, portanto, a liberdade de agir, de ir e vir, de pensar, de tomar decisões próprias. 
A salvação deve se iniciar por nós mesmos, enxergando nossos erros, nos modificando, e nos transformando em seres melhores. Isso nos garante melhores condições sobre a Terra. 
Não necessariamente materiais, mas de caráter íntimo. 
Ou seja, nos sentirmos felizes conosco mesmos, pelo bem realizado, pela cota de bênçãos ofertada. 
Fomos criados por amor e a perfeição é a nossa meta final. Todos, sem exceção, deveremos chegar lá. 
Alguns vamos de mãos dadas, auxiliando-nos mutuamente e chegaremos antes.
Outros, que preferirmos ir por caminhos escusos e sozinhos, demoraremos mais tempo. 
Portanto, mãos à obra. 
Hoje é o tempo de fazermos o melhor para que o peso de nós mesmos seja de coisas positivas, grandiosas, benéficas para a nossa e as vidas alheias. 
Redação do Momento Espírita, com citação do vers. 8, do cap. 4 da 1ª Epístola de Pedro; do vers. 7, cap. 10 do Evangelho de Lucas e do vers. 27 do cap. 16, do Evangelho de Mateus. 
Em 25.10.2021.

domingo, 24 de outubro de 2021

GRÃOS DE AREIA

Você já brincou com uma ampulheta? 
Aquele instrumento quase lúdico de medir o tempo? 
Dificilmente conseguimos ficar indiferentes quando nos deparamos com uma. 
Seja por nos remeter às histórias e contos orientais, seja pelo fascínio de vermos os grãos de areia escorrendo intermitente e pacientemente, ou ainda pela harmonia de suas curvas, se insinuando perante o tempo... não há como ficarmos indiferentes. 
Ainda hoje utilizada, ela se mostrou instrumento precioso quando não se dispunha de outros medidores de tempo mais precisos. 
Utilizada em navios, igrejas e, quando surgiu o telefone, em alguns locais, servia para contar o tempo de uma chamada telefônica. 
No Judiciário, era usada para marcar o tempo das sustentações orais dos advogados e, simbolicamente, é utilizada nas artes plásticas para representar a transitoriedade da vida. 
Ela tem um princípio simples e básico. 
A quantidade de areia que escorre constantemente marca um ciclo de tempo.
Quanto maior a quantidade, maior o ciclo que conseguimos marcar. 
Quanto maior o estrangulamento para a passagem da areia, mais tempo ela levará para escoar. 
Nessa observação de grãos de areia escorrendo do recipiente superior para o inferior, podemos nos questionar o que temos feito do tempo de que dispomos. 
Um grão de areia parece insignificante, mas cada um deles contribui para a contagem do tempo na ampulheta. 
Assim é o tempo de nossa vida, nossos segundos, minutos, nossas horas. 
Se somarmos as horas, dias e anos, teremos a construção de toda uma vida, conquistas, sonhos e aprendizado. 
Mas será sempre o somatório dos nossos minutos, de nossos dias que construirão nosso sonho ou nossa desdita. 
O tempo tem algo mágico nele mesmo. 
Quando se faz futuro, parece demorar tanto para passar, mas basta chegar até nós e se transformar em passado, para ganhar uma velocidade incrível. 
Lembramos de como os anos escolares eram demorados para terminar? 
E hoje, ao nos recordarmos deles, percebemos como foi tudo muito rápido. 
E o primeiro ano de Faculdade? 
Parece que nunca chegaria, e hoje, a formatura já se faz longe. 
Dessa forma percebemos que, assim como cada grão da ampulheta cumpre seu papel, cada minuto de nossa vida deve ter sua utilidade. 
Cada minuto soma-se aos demais para o objetivo maior da vida, de progresso e aprendizado intelectual e moral. 
Por isso, sempre será útil fazermos breves balanços, de tempos em tempos, para sabermos como estamos utilizando nosso tempo. 
Rapidamente, ao final do dia, perguntarmo-nos o que nos sucedeu e como as coisas ocorreram. 
Ao final do mês, um breve balanço das atividades e objetivos alcançados. 
Na conclusão de um ano, repensar o que foi feito e quais conquistas obtivemos. 
E também em tantos outros momentos, seja quando algum ciclo se concluir, ou nas despedidas, nas alegrias... 
Assim procedendo, conseguiremos saber como nossos grãos de areia da ampulheta da vida são importantes, e como o grande tesouro chamado tempo, dádiva Divina, vem sendo utilizado em nossas mãos. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 15.2.2013.

sábado, 23 de outubro de 2021

GRÃO DE MOSTARDA

CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ
Em uma parábola, Jesus afirma que o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem semeou no seu campo. Embora seja a menor das sementes, ao crescer se torna a maior das plantas e faz-se uma árvore, que abriga as aves do céu. 
Como sempre acontece em se tratando de parábolas, são possíveis muitas interpretações. 
Uma delas reside na necessidade de se prestar atenção em questões aparentemente ínfimas. 
Raras pessoas costumam pensar com seriedade a respeito da vida e dos deveres que ela lhes apresenta. 
Muitos homens, investidos de importantes responsabilidades, evidenciam paixões nefastas e destruidoras, seja no campo dos sentimentos, dos negócios, da família ou das relações sociais. Por conta dessas paixões, oferecem tristes espetáculos de conduta indigna. 
As mentes desequilibradas pela irreflexão encontram-se por toda parte. Isso evidencia um descuido com as coisas mínimas. 
O coração humano muitas vezes parece um campo abandonado. Por falta de cuidado, nele crescem ervas daninhas que, com o tempo, produzem grandes tragédias. Todo grave desequilíbrio surge lento na rota humana. 
Embora a aparente sensatez, quem de repente comete uma baixeza pensou nela durante algum tempo. Permitiu que a ideia má crescesse, empolgasse seu coração e finalmente tomasse conta de sua vida. O homem nunca deve esperar colheitas milagrosas. 
Ele precisa amanhar a terra de seu coração e cuidar do plantio. 
A semente de mostarda constitui o pensamento, a palavra e o gesto. 
Muitos falam bastante em humildade, mas nunca revelam um gesto de obediência.
Contudo, ninguém jamais realizará a bondade em si se não começar a ser bom nas ocasiões mais singelas. 
Alguma coisa pequenina há de ser feita, antes de ser edificada uma obra grandiosa. 
Extrai-se facilmente da mensagem de Jesus que o Reino de Deus está dentro de cada um. 
Portanto, é no seu íntimo que o homem deve construí-lo. 
É no interior que se desenvolve o trabalho da realização Divina. 
A maior floresta do mundo começou de sementes minúsculas. 
O mesmo se dá com o ser humano. 
Se ele se permite pequenos pensamentos infelizes e gestos indignos, caminha para a vivência de graves males. 
Entretanto, pode decidir cuidar das coisas pequenas, prestar atenção no que pensa, diz e faz em seu cotidiano. Se cuidar das coisas pequenas, crescerá em força, paz e virtudes. 
É preciso semear na própria vida os ínfimos grãos da gentileza, da conversa sadia e dos hábitos dignos. 
Essa pequenina semeadura com o tempo se converterá na plenitude íntima de quem possui uma larga faixa de céu no coração. 
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 35 do livro Os mensageiros, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. 
Em 27.03.2012.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

UM VIOLINO

Na manhã londrina, o salão para leilões foi aberto. 
A expectativa era grande, face ao anúncio de antiguidades nos lotes de ofertas.
Entre os itens, estava um violino escuro e sujo. 
O leiloeiro o mostrou e, com entusiasmo, o descreveu como uma peça de raro valor. 
Era um genuíno Cremona, fabricado pelo famoso Antonio Giacomo Stradivarius.
Logo, os presentes duvidaram da autenticidade da peça. 
Afinal, não havia a assinatura Stradivarius. 
Embora a explicação de que, inicialmente, ele não assinava suas criações, a consideração geral continuou a mesma. 
O valor oferecido foi tão baixo que mereceu do leiloeiro a reclamação de que jamais venderia aquela raridade por preço tão vil. 
Enquanto as manifestações se sucediam, de um lado e do outro, um homem de meia-idade, alto, magro, vestindo um casaco de veludo, entrou na sala e caminhou na direção do leiloeiro. 
Tomou o violino entre suas mãos e, com seu lenço, limpou o instrumento. 
A atenção estava concentrada nele, agora. 
Com habilidade, ele reajustou a tensão das cordas, levou-o ao ouvido, como se desejasse escutar alguma coisa. 
Finalmente, colocou o violino, ao ombro, na posição correta e o arco feriu as cordas, enquanto um murmúrio se fez uníssono: Paganini. 
Sim, ali estava o compositor e o maior virtuose do século XIX. 
Um dos criadores da estética musical romântica. 
Uma melodia suave invadiu a sala e, na medida em que os acordes alcançavam os ouvidos, a emoção tomava a todos. 
Quando a música cessou, a disputa foi acirrada, os lances, sempre mais ousados, aconteceram. 
O instrumento fora desprezado, até o momento em que o mestre colocara nele as mãos e extraíra o encanto da sua sonoridade. 
Aquela gente desconhecia seu valor, não tinham a mínima ideia da sua autenticidade. 
Somente quando o virtuose extraiu dele os sons quase divinos, eles puderam perceber quão valioso era. 
No entanto, quem arrematou o instrumento, naquela tarde, foi o próprio Paganini. 
***
Nós podemos nos considerar como esse violino. 
Muitos nos olham e não nos concedem valor algum. 
Somos pessoas simples, desataviadas, sem beleza invulgar, nem dotes extraordinários. 
Somos pais e mães do mundo, profissionais competentes, trabalhadores dedicados. 
Nada de grandioso a se ressaltar em nós. 
Mas, quando o Mestre nos toma nas mãos e permitimos que Ele acione as cordas dos nossos valores morais, mostramos a música que em nós reside. 
Ele, o Mestre, conhece nossa intimidade. 
Sabe das nossas lutas para a superação das paixões inferiores, sabe das batalhas para nos mantermos honestos, nobres, em nossa vida. 
Quando Ele executa a música da Sua Boa Nova, alguns poderão ouvir a melodia que brota das nossas almas. 
O Mestre dos mestres extrai de nós o melhor, bastando que nos deixemos manusear por Ele. 
Tornemo-nos o violino de Jesus, o Dono da seara. 
Permitamo-nos que Ele use Seu arco de amor nas cordas dos nossos sentimentos, da nossa boa vontade. 
Então, muitos poderão se encantar e beneficiar com a melodia do amor. Deixemos que o Mestre extraia de nós a mais doce música para aliviar as dores do mundo.
Redação do Momento Espírita, com base em narrativa colhida no cap. 4, do livro Quando tudo falha, de Rodolpho Beltz, ed. Casa Publicadora Brasileira. 
Em 22.10.2021.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O PERDÃO

O perdão incondicional no mundo atual é muito raro. 
Além de não perdoar com facilidade as ofensas de parentes e amigos, encontramos impedimentos enormes para a sua prática, no que se refere aos inimigos. 
O orgulho é de tal ordem que basta um familiar cometer um deslize qualquer para ficarmos furiosos. 
Em vez de desculpar a fragilidade moral do infeliz e procurar lhe dar apoio para suavizar as punhaladas do remorso, ficamos a atirar pedras. 
Pedras do desprezo, da indiferença, sem medir as consequências de tal atitude.
Conta o escritor John Lageman um fato contemporâneo. 
Ocorreu com um ex-presidiário, que sofreu na alma a incompreensão e o abandono dos seus familiares, durante todo o tempo em que esteve recluso numa penitenciária. Os seus parentes o isolaram totalmente. Nenhum deles lhe escreveu sequer uma linha. Nunca foram visitá-lo na prisão durante a sua permanência lá. Tudo aconteceu a partir do momento em que o ex­-presidiário, depois de conseguir a liberdade condicional, por bom comportamento, tomou o trem de retorno ao lar. Por uma coincidência que somente a Providência Divina explica, um amigo do diretor da penitenciária se sentou ao seu lado. Por ser uma pessoa sensível, identificou a inquietação e a ansiedade na fisionomia sofrida do companheiro de viagem e, com gentileza, lhe falou: 
-O amigo parece muito angustiado! Não gostaria de conversar um pouco? Talvez pudesse diminuir o desconforto. 
O ex-detento deu um profundo suspiro e, constrangido, falou: 
-Realmente, estou muito tenso. Estou voltando ao lar. Escrevi para minha família e pedi que colocasse uma fita branca na macieira existente nas imediações da estação, caso tivesse me perdoado o ato vergonhoso. Se não me quisessem de volta, não deveriam fazer nada. Então eu permanecerei no trem e rumarei para lugar incerto. 
O novo amigo verificou como sofria aquele homem. Ele sofreu uma dupla penalidade: a da sociedade que o segregou e a da família que o abandonou.
Condoeu-se e se ofereceu para vigiar pela janela o aparecimento da árvore. 
A macieira que selaria o destino daquele homem.
Dez minutos depois, colocou a mão no braço do ex­-condenado e falou quase num sussurro: 
-Lá está ela! 
E mais baixo ainda, disse: 
-Não existe uma fita branca na macieira! 
Fez uma pausa, que parecia uma eternidade e falou novamente:
-... A macieira está toda coberta de fitas brancas. 
A terapia do perdão dissipou, naquele exato momento, toda a amargura que havia envenenado por tanto tempo uma vida humana. 
O pobre homem reabilitado deixou que as lágrimas escorressem pelas faces, como a lavar todas as marcas da angústia que até então o atormentara.
* * * 
A simbologia das fitas brancas do perdão incondicional deve ficar gravada em nossa mente. 
Deve nos lembrar sempre as palavras de Jesus: 
Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra. 
Quem de nós não necessita de perdão? 
Quem já não errou, se equivocou, faliu? 
A própria reencarnação é, para cada um de nós, o perdão incondicional de Deus, a nos oferecer uma nova chance para o resgate dos débitos e retomada do caminho, do aprendizado sem fim. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto publicado na Revista Presença Espírita, nº 155, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. 
Em 21.10.2021

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

COM PESAR?

Não soa estranho que aqueles que afirmamos crer na imortalidade da alma, que divulgamos, aos quatro ventos, que a vida prossegue para além desta vida, sejamos aqueles que, cientes da morte de alguém, expressemos nosso pesar?
Talvez devamos tornar a ler as páginas que nos foram endereçadas e que nos indagam: 
Acaso deveremos lastimar que, estando prisioneiros, um de nós se liberte antes, por ter cumprido toda sua sentença? 
Naturalmente, sempre que a morte abraça alguém a quem estimamos e, sobretudo, se amarmos intensamente, nosso coração padece. 
Dizem que, na Terra, a dor mais pungente é a da separação física dos nossos amores. Isso porque aquele ser amado, deixando de estar conosco, nos impede de privar da sua presença, do seu calor. Sentimos falta do riso, do sorriso, do carinho. Sim, a partida dos afetos, dos amigos, dos que ombreiam conosco nas tarefas de ordem profissional ou voluntária, nos machuca. Sua ausência é sentida a cada passo. Sua presença é recordada, a cada momento, em que retornamos a realizar algo que fazíamos juntos. 
Em alguns dias, a saudade parece amenizar. 
Em outros, parece ficar mais aguda e mais intensa. 
No entanto, pensemos que aquele que parte concluiu a sua tarefa e os que ficamos, a precisamos concluir. 
Recordemos que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao corpo. Portanto, deveríamos nos felicitar com aquele que se libertou, sobretudo se, examinando seus atos, nos damos conta das tantas bênçãos distribuídas por ele. 
É comum, ante o corpo daquele que fechou os olhos da carne, recordarmos do quanto era importante para nós, para a comunidade, para os colegas. Pois continuemos a lembrá-lo assim, louvando por poder comparecer perante a consciência liberta, com muitos frutos nas mãos. Com muitas boas ações, que o referendam a ser bem acolhido pelos Espíritos do bem, a ser bem recepcionado por tantos amores que, desta vida ou de experiências anteriores, o aguardam, jubilosos. 
Aqui, é uma despedida. 
Do outro lado, o retorno de alguém que realizou uma curta ou longa jornada.
Lembramos dos primitivos cristãos que entravam na arena, para enfrentar as feras, que os haveriam de trucidar, entre hinos de louvor. Cantavam, unindo-se ao Pai Celeste, que os envolvia em vibrações superiores, de forma a lhes insuflar ainda maior coragem para o martírio. 
Assim, ante a morte que se apresenta e, quase sempre, no momento em que menos se espera, aprendamos a orar. 
E, interpretando a dor que vai na alma dos familiares, manifestemo-nos a eles de forma diferente. 
Sejam as nossas palavras de bom ânimo, de encorajamento, de apoio. 
Se precisarmos anunciar, a quem quer que seja, a morte de um colega, de um amigo, de um amor, escrevamos algo que expresse nossos melhores sentimentos.
Compreendemos a sua dor, nesse momento. 
Oramos pelo seu fortalecimento moral. 
Vibramos, em prece, pelo companheiro que partiu. 
Que os bons Espíritos o envolvam em luz. 
Conte conosco. 
Estamos aqui. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 20.10.2021.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

A GRANDEZA INIGUALÁVEL DE DEUS!

Não há quem visite as Cataratas do Iguaçu e não se mostre extasiado ante a imponência do espetáculo das águas e das quedas. São duzentas e setenta e cinco quedas d’água, com uma altura superior a setenta metros, ao longo de mais de dois quilômetros do Rio Iguaçu. 
O termo Iguaçu, na língua guarani, deriva de y – água, rio e guasu ou guaçu – grande. Isso quer dizer, água grande ou rio de grandes águas. 
Ao lado da exuberância da paisagem, quer seja nos dias de cheia ou de escassez, a dança incessante das águas cantantes, não cansa os olhos. Há sempre mais um detalhe a ser observado. 
As aves, que fazem seus ninhos, no interior da rocha, entrando e saindo pela cortina de água; as águas que descem barrentas, na cheia, e despejando-se com força, levantam uma nuvem de impecável brancura; as gotas que se debatem, ao final da queda, correndo lépidas, desejando vencer o leito do rio, brilhando aos beijos do sol, como cristal líquido. 
Há os que olham e ficam quietos. 
Há os que tiram fotos para mostrar para os amigos. 
Ninguém vai acreditar numa coisa tão incrível, como esta queda d’água! – dizem alguns, contemplando a garganta em forma de U invertido, com cento e cinquenta metros de largura e oitenta metros de altura. 
A famosa Garganta do Diabo. Há os que se deliciam, se encharcando com as nuvens de água formadas pelas quedas. 
E capturam o momento, deixando-se fotografar. 
Outros ainda se deixam levar pela emoção da lenda da criação das Cataratas. Uma lenda tupi-guarani que fala que, há muito tempo, o Rio Iguaçu corria livre, sem corredeiras e sem cataratas. Em suas margens, viviam os índios Caigangues, que reverenciavam o deus-serpente, filho de Tupã. O cacique da tribo tinha uma filha, formosa, chamada Naipi. Ela deveria ser consagrada ao culto da divindade, da grande serpente. Um jovem guerreiro, de nome Tarobá, se enamorou de Naipi. No dia da consagração da jovem, o casal fugiu para o rio. Ambos desceram o rio numa canoa. Furiosa com os fugitivos, a grande serpente penetrou na terra e retorceu-se. Provocou desmoronamentos, que foram caindo sobre o rio, formando os abismos das cataratas. Envolvido pelas águas, o casal caiu de uma grande altura. Então, Tarobá se transformou numa palmeira à beira do abismo. Naipi se transformou numa pedra junto da grande cachoeira, constantemente açoitada pela força das águas. Vigiados pelo deus-serpente, eles permanecem ali. Tarobá condenado a contemplar eternamente sua amada, sem a poder tocar. 
A lenda é apaixonante e envolvente. 
Os namorados a apreciam e se encantam, descobrindo a palmeira e a pedra. 
Em verdade, quem se detenha a observar a majestade do conjunto das cataratas, quedas, corredeiras, luxuriante vegetação, não pode deixar de pensar na grandiosidade de Deus. 
Deus, o escultor incansável que talhou as rochas, no decurso do tempo, com Sua vontade. Deus, que criou a abundância das águas e lhes conferiu sonoridade, de forma que quem ouve a sequência das quedas, constante, pode perceber um mantra. 
Ou um cantochão. 
E embalar a própria alma. 
Enquanto ainda nem havíamos acordado como homens, senhores de nossa razão, Deus espalhava as sementes do Seu amor, criando a mata diversificada, de mil nuances diferentes. 
De verdes que se sucedem e se misturam.
De folhas, flores, diversidades, onde as borboletas ensaiam bailados de intraduzível colorido. 
E, pintor inigualável, continua até hoje, alternando as cores nos arco-íris. 
Um aqui, outro acolá, indo de um lado a outro da enorme cratera por onde se esvaem, constantemente, as águas no leito do rio. 
Pai Excelso, ainda idealizou uma lição de fraternidade para os povos. 
A maioria das quedas d’água fica em território argentino. 
Mas, efetivamente, é do lado brasileiro que se apreciam os mais belos panoramas.
Então, os povos se abraçam. 
Brasileiros vão à Argentina para ter a vista de lá. 
Argentinos vêm ao Brasil para assistir ao espetáculo das suas próprias quedas d'água. 
Ah! A Grandeza inigualável de Deus! 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 23 e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. 
Em 6.1.2014.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

A GRANDEZA DO PEQUENO

O garoto, de apenas oito anos de idade, chega feliz da festa de aniversário do seu melhor amigo e vai contar as novidades para sua mãe. Com toda a espontaneidade de uma criança fala das brincadeiras, dos amigos que estavam presentes, de como havia se divertido e, o que é mais importante, conta uma de suas atitudes, que deixa a mãe com lágrimas nos olhos, pela sua grandeza. Diz ele que, em determinado momento, procura a mãe do aniversariante para pegar uma ficha e jogar fliperama, que era uma das brincadeiras proporcionadas na festa. 
-Tia, o que é preciso para ganhar uma ficha e brincar no fliperama? 
-Ah!, é preciso jogar boliche pelo menos cinco minutos, depois ganha a ficha. Mas você não precisa fazer isto, pois é o melhor amigo de meu filho. Tome a ficha. Pode brincar. 
-Não, tia, eu vou jogar boliche depois venho pegar a ficha como todos os meus amigos. 
A mãe do amigo tentou entregar-lhe a ficha mas ele já estava longe, correndo na direção dos demais garotos que estavam jogando boliche para adquirir direito ao fliperama. A mãezinha, emocionada, perguntou por que ele não aceitou a oferta e ele respondeu simplesmente: 
-Eu não quero ser diferente dos outros. Isso não é justo. 
Naquele momento, a mãe se deu conta da importância da educação para a construção de um mundo mais justo e mais humano. Parabenizou o filho pela grandeza da sua atitude, pois ele havia sacrificado um interesse pessoal por amor à justiça. 
* * * 
Talvez muitos digam que o garoto é um tolo e que deixou escapar uma chance de levar vantagem. Mas, para quem tem olhos de ver, perceberá que esse mundo tem jeito pois, quando esse garoto crescer, agirá de forma diferente da de muitos adultos de hoje, e ajudará na construção de uma sociedade mais justa. 
Muito se fala que a justiça é cega, mas nem sempre assim é, quando se leva em conta a importância ou a influência de uma das partes. 
No entanto, uma criança de apenas oito anos deu um exemplo de verdadeira justiça, pois não levou em conta o seu interesse e, sim, a justiça, de forma imparcial. 
E você, tem agido com imparcialidade em se tratando de justiça? 
Se lhe oferecem uma chance de passar à frente de alguém, você a aceita ou diz que não é justo? 
Se surge a oportunidade de apressar um processo, subornando o funcionário, você aceita? 
E se você é o funcionário e lhe oferecem benefícios para desconsiderar a fila de espera, você concorda? 
Se encontra um amigo na fila do banco e ele se oferece para pagar as suas contas, passando à frente de todos os demais que estão ali esperando, há horas, você aceita? 
Se há um congestionamento no trânsito, você dá um jeitinho de passar à frente, pela lateral, deixando os outros para trás? 
Jesus afirmou que serão bem-aventurados os que têm sede de justiça, mas somente tem sede de justiça quem a respeita integralmente. 
Por essa razão, vale a pena que pensemos muito bem antes de erguermos a voz para pedir justiça. 
É preciso, antes de tudo, avaliar como anda o nosso senso de justiça. 
* * * 
A Justiça Divina não usa de pesos e medidas diferentes para julgar nossos atos. 
Deus sempre leva em conta a intenção e o grau evolutivo das criaturas, jamais a posição social ou as posses materiais. 
Por essa razão, vale a pena pensarmos em justiça nesses moldes, para que não venhamos a nos arrepender mais tarde. 
Redação do Momento Espírita 
Em 13.09.2010.

domingo, 17 de outubro de 2021

A GRANDEZA DE SERVIR

Gabriela Mistral
Servir tem sido um verbo difícil de ser conjugado. 
Todos apreciam ser servidos. 
Vê-se como as crianças apreciam que todos estejam ao seu serviço. Gostam de pedir as coisas e que essas lhes sejam dadas de forma rápida. 
O Mestre Jesus, contudo, lecionou diferente. 
Quem quiser ser o maior, seja esse o servo de todos. Na última ceia que fez com os discípulos, lavou os pés de todos, ante a surpresa deles. Aquela era uma noite de despedidas e Jesus lhes deixou as mais belas lições de serviço ao próximo. Como se já não bastasse ter exemplificado durante seus quase três anos de vida pública. No lago de Genesaré, nas estradas da Galileia, em casa de Pedro, na sinagoga, no templo, Ele serviu aos Seus irmãos. 
Se observarmos bem, perceberemos que toda a natureza serve ao homem. 
Serve a chuva, serve o vento, serve a nuvem. 
A semente enclausurada na terra, rebenta, brota e se transforma em árvore frondosa, servindo ao homem, dando-lhe sombra, abrigo, flores e frutos. 
Os animais se esmeram por servir. Dão ao homem alimento, produzindo leite, ovos, carne. Envolvem-no nas noites de inverno, com suas peles e lãs. Conduzem-no por ruas, praças e avenidas com segurança, quando o homem se apresenta desprovido de visão.
Aprendamos com a natureza. 
Aprendamos com Jesus. 
Onde houver uma árvore para plantar, sejamos voluntários. 
Onde houver um erro a ser corrigido, coloquemo-nos à disposição para corrigir.
Onde houver uma tarefa que ninguém deseje, aceitemos e a desempenhemos com alegria. 
Se houver uma pedra no caminho, não esperemos por outros. Retiremo-la nós mesmos. Mas também nos disponhamos a retirar as pedras das dificuldades e o ódio dos corações. 
Tenhamos em mente que não devemos fazer somente as coisas fáceis. 
É maravilhoso poder executar o que os outros se recusam a fazer. 
Existem pequenas tarefas que são bons serviços: enfeitar uma mesa para a refeição; arrumar livros sobre a estante; colher flores e dispô-las no vaso; pentear uma criança; acomodar um idoso em seu leito. 
O mundo é verdadeiramente belo porque há muito por fazer. 
Imaginemos como ele seria triste se tudo estivesse feito. 
Se não houvesse uma roseira para plantar; uma iniciativa para tomar; uma cerca para pintar; uma casa para embelezar; uma criança para educar; um idoso para acarinhar; um amor para amar. 
* * * 
Servir é um verbo que se conjuga na comunidade. 
O primeiro tempo se inicia no ninho doméstico, entre as quatro paredes do lar. 
É o tempo presente. 
Desde cedo, a criança aprende a servir, executando pequenas tarefas, sentindo-se responsável e útil. 
O aprendizado prossegue com os vizinhos, os colegas, os amigos. 
É a conjugação do futuro. 
Um animal a alimentar, um jardim para regar, uma árvore para podar. 
Servindo sempre, estaremos dando o exemplo àqueles que nos são próximos.
Redação do Momento Espírita, com base no poema O prazer de servir, de Gabriela Mistral. 
Em 7.7.2017.

sábado, 16 de outubro de 2021

ATÉ QUANDO SEREMOS ASSIM?

Andrey Cechelero
Até quando cairemos Sem aprender as lições da queda? 
Até quando faremos escolhas egoístas Quando tudo aponta para uma existência de colaboração? 
 Até quando nos perderemos por tão pouco Confundindo o que é meio com o que é fim? 
Até quando afundaremos na lama Segurando o fôlego, em agonia, Desejando estar em outro lugar? 
* * * 
Os erros se repetem. 
A História se repete, em muitos aspectos. 
Mudam as gerações e vemos os mesmos vícios ainda tão presentes. As questões sociais, as disputas políticas, os problemas familiares. Tudo isso reflete ainda o ser em transformação lenta. 
Olhando assim, é bastante desanimador. 
No entanto, não nos enganemos e não nos permitamos contagiar pelos pessimistas de plantão. Nem por aqueles que insistem em apenas enxergar a doença e não, também, o trabalho silencioso e necessário que ela realiza na intimidade da alma humana. 
As mudanças são lentas, graduais. 
Mas, elas têm acontecido. 
Basta ter olhos de ver. 
Há uma geração antiga, que persiste nos mesmos caminhos desastrosos. 
Há, também, já encarnando na Terra, há algum tempo, uma geração nova, fazendo tudo isso mudar. 
E, quando falamos de geração antiga e geração nova não nos referimos aos que somos mais velhos ou mais novos de idade. 
Referimo-nos a uma geração de hábitos e pensamentos viciados em ideias ultrapassadas, que cultivam o individualismo, o preconceito e a violência. 
A geração nova, falando em termos espirituais, é aquela que está aberta ao diálogo, que sabe ouvir, que desenvolve a compaixão, que não consegue ver o próximo em sofrimento ao seu lado, sem fazer algo em seu benefício. 
Vivemos tempos em que as duas gerações se misturam no planeta. 
A antiga, recebendo a última chance de mudar. 
A nova, tendo como missão liderar, influenciar e carregar multidões, pelo seu exemplo. 
Independente de geração, somos irmãos em evolução no planeta, aprendendo uns com os outros, diariamente. 
Dessa forma, a resposta para o Até quando? é individual, é de cada um. 
* * * 
Só você pode dizer até quando irá aceitar certas coisas como normais ou toleráveis. 
Só você poderá dar aquele próximo passo e dizer Chega! 
Não sou mais assim. 
Ou, Não quero mais essa vida para mim. 
Só você consegue estancar, pelo perdão, o ódio de séculos. 
Ou a raiva, de alguns dias, dizendo: 
-Vamos deixar isso de lado e seguir adiante. 
Só você, com todo seu empenho e persistência, poderá dizer: 
-Venci mais essa! 
Até quando? – é uma pergunta a se fazer todos os dias. 
É um questionamento necessário para quem deseja crescer, ir adiante, conquistar e conquistar-se. 
Até quando? - vai além de uma indignação de sofá, de quem observa o mundo em chamas, mas não é capaz de apanhar sequer um balde d’água. 
É a questão da mudança, do despertar, do agora. 
* * * 
Até quando cairemos Sem aprender as lições da queda? 
Até quando faremos escolhas egoístas Quando tudo aponta para uma existência de colaboração? 
Até quando nos perderemos por tão pouco Confundindo o que é meio com o que é fim? 
Até quando afundaremos na lama Segurando o fôlego, em agonia, Desejando estar em outro lugar? 
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Até quando, do livro O Essencial e o Invisível, de Andrey Cechelero, ed. Immortality Books. 
Em 15.10.2021.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

GRANDEZA DA RENÚNCIA

Alberto Dürer, o excelente pintor alemão, antes de notabilizar-se, necessitando estudar, combinou com um jovem amigo, igualmente artista, sobre a necessidade de procurarem um núcleo de maior cultura. Mudariam de cidade para que ambos pudessem aprimorar seu estilo. Porque não dispusessem de um mecenas, ou seja, um financiador ou padrinho que os ajudasse, estabeleceram um plano: um trabalharia como lavador de pratos, enquanto o outro iria estudar pintura. Assim, com a venda dos primeiros quadros, o que trabalhava passaria também a estudar. Chegando ao local pretendido, Alberto afirmou: 
-Eu me dedicarei ao trabalho de lavar pratos. 
Contudo, o companheiro respondeu: 
-Não. Eu sou mais velho e já tenho emprego no restaurante. 
Dessa forma, graças à disposição do amigo, Dürer começou a estudar e a pintar. Depois de um tempo, Alberto reunira uma soma que permitiria que o companheiro estudasse. Ele deixou o trabalho no restaurante e se dirigiu à escola. Percebeu, porém, que a atividade rude lhe destruíra a sensibilidade táctil, desequilibrara o ritmo motor. Deu-se conta de que nunca atingiria a genialidade, ainda mais, descobrindo a qualidade superior de Dürer. Dotado de sentimentos nobres, renunciou à carreira e retornou ao trabalho de lavador de pratos. Numa noite em que Dürer voltou ao estúdio, ao abrir silenciosamente a porta, estacou na sombra, vendo pela claraboia do teto o reflexo do luar que adentrava pelo cômodo. A luz alumiava duas mãos postas em atitude de prece. Era o amigo, ajoelhado, que rogava bênçãos para o companheiro triunfar na pintura. O artista, comovido ante a cena, imortalizou-a numa pequena tela, que passou à posteridade como Estudo para as mãos de um Apóstolo, para o altar de Heller, hoje na galeria Albertina, em Viena. 
* * * 
Será que somos capazes de viver tal grau de renúncia? 
Em dias em que a competição nos desespera e afoga, exigindo que sejamos sempre melhores do que os outros, senão não somos ninguém - será que já descobrimos o caminho seguro da renúncia? 
A renúncia é a emoção dos Espíritos superiores transformada em bênçãos pelo caminho dos homens. 
Quem renuncia estabelece, para o próximo, a diretriz do futuro em clima de paz. A renúncia é melhor para quem a oferta. 
Poder ceder, quando é fácil disputar; reconhecer o valor de outrem, quando se lhe está ao lado, ensejando-lhe oportunidade de crescimento; ajudar sem competir, são expressões elevadas da renúncia que dá à vida um sentido de significativa grandeza. 
Felizes aqueles que hoje cedem para amanhã receber; os que agora doam para mais tarde enriquecer-se; os que compreendem que a verdadeira felicidade consiste em ajudar e passar, sem impor nem tomar. 
Quem renuncia, enfloresce a alma de paz, granjeando a gratidão da vida pelo que recebe. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 8, do livro Receitas de paz, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 11.9.2012.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A GRANDEZA DA COMPAIXÃO

Algumas das mais lindas histórias da Humanidade podem ser encontradas na literatura da velha Índia. A que você vai conhecer agora está no poema épico Mahabharata. 
Uma grande batalha estava prestes a ocorrer: os Kurus e seus primos Pandavas se enfrentariam, dentro de poucas horas. Mas, instantes antes do início da batalha, os olhos do príncipe Krishna pousaram sobre uma avezinha que estremecia diante dos ruídos da guerra. Era uma ventoinha. O passarinho havia feito seu ninho em meio à grama alta. Logo, os elefantes e cavalos da guerra esmagariam os ovinhos que abrigavam os filhotes. Os olhos claros de Krishna se encheram de compaixão. Desceu da carruagem e aproximou-se. Viu a avezinha que se recusava a abandonar o ninho indefeso. Ouviu seus pios desesperados. Observou como ela se debatia, aflita, adivinhando o perigo iminente. Comoveu-se. 
-Mãezinha – disse Krishna – que bela é a devoção que tens à tua família! Que elevada forma de amor há em teu coração. 
Buscou então um pesado sino de bronze e, cuidadosamente, cobriu a mãe e o ninho. Conta a história que a batalha foi terrível, mas, quando terminou, a família de passarinhos estava a salvo. Os milênios se passaram e aquele campo de batalha ainda existe na Índia. E nele se pode ouvir os pios das ventoinhas que ali fazem seus ninhos. São a lembrança viva do gentil Krishna e de sua compaixão por todos os seres vivos. 
Que lição temos nesta história singela! 
E como podemos estendê-la às nossas vidas. 
Compaixão é enxergar o sofrimento do outro, mesmo quando estamos em meio aos nossos próprios problemas. 
Compaixão é uma doce palavra, que torna o coração sensível e está muito além de somente comover-se com o sofrimento material de alguém.
É claro que fome, pobreza e doença sensibilizam a alma, mas a compaixão também pode ser traduzida pelo sentimento de compreensão perante as pessoas difíceis, pelo perdão a quem nos ofende e maltrata. 
Diga-se, a mais difícil forma de compaixão é tolerar aqueles que são desagradáveis ou causam prejuízos. 
Portanto, a mais séria pergunta é: 
-Como amar os que nos humilham sem nos tornarmos covardes? 
A resposta foi dada por Jesus: 
-Seja o teu dizer sim, sim; não, não. 
Isto é: sinceridade, transparência sempre. 
Mas tudo isso dulcificado pela compaixão. 
Não se trata de achar que o outro é um coitado ou um medíocre. 
Quem pensa assim está desprezando a outra pessoa. 
O estado de compaixão compreende o próximo verdadeiramente. 
Não se põe em posição superior a ele. 
Não o humilha. 
A verdadeira compaixão é generosa. 
Ela entende o momento e as razões da outra pessoa. 
Um exemplo de gesto de compaixão está em Jesus: no alto da cruz, fustigado por fome e sede, traído pelos amigos, torturado pelos homens, Ele ergueu os olhos para o céu. E pediu simplesmente ao Pai Celeste: 
-Perdoa-os, Pai, pois não sabem o que fazem. 
Não lhes enumerou os erros, mas suplicou para eles o perdão divino. 
Certamente cada um dos que feriram Jesus carregou, durante anos a fio, o peso do remorso. 
A lei divina não deixou de agir neles. 
Mas, enquanto seus algozes permaneciam na Terra, açoitados pela própria consciência, o Cristo seguia adiante, em paz consigo mesmo.
Hoje - pelo menos hoje - pense na grandeza desse gesto e imite Jesus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.1.2017.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A GRANDEZA DA AMIZADE

Você já pensou na grandeza da amizade? 
Diz um grande pensador que quem encontra um amigo, encontra um tesouro valioso. 
A amizade verdadeira é sustentáculo para muitas almas que vivem sobre a face da Terra. Ela está presente nos lares e fora deles, na convivência diária das criaturas.
A amizade é tão importante que já foi comparada com muitas coisas de valor. 
Um pensador anônimo compara a amizade com as estrelas, e aqueles que não têm amigos ele compara com os cometas, que vêm e vão, mas não permanecem, nem iluminam como as estrelas. 
Diz ele mais ou menos assim: 
-Há pessoas estrelas e há pessoas cometas. Os cometas passam. Apenas são lembrados pelas datas que passam e retornam. As estrelas permanecem. O Sol permanece. Passam-se anos, milhões de anos e as estrelas permanecem. Os cometas desaparecem. Há muita gente como os cometas, que passa pela vida da gente apenas por instantes. Gente que não prende ninguém e a ninguém se prende. Gente sem amigos. Gente que apenas passa, sem iluminar, sem aquecer, sem marcar presença. 
Assim são as pessoas que vivem na mesma família e que passam um pelo outro sem serem presença. 
O importante é ser como as estrelas. 
Permanecer. 
Clarear. 
Estar presente. 
Ser luz. 
Ser calor. 
Ser vida. 
Ser amigo é ser estrela. 
Podem passar os anos, podem surgir distâncias, mas a marca da amizade fica no coração. 
Corações que não querem se enamorar de cometas, que apenas atraem olhares passageiros e passam. 
São muitas as pessoas cometas. 
Passam, recebem as palmas e desaparecem. 
Ser cometa é ser companheiro apenas por instantes. 
É explorar os sentimentos humanos. 
A solidão de muitas pessoas é consequência de não poderem contar com alguém.
É resultado de uma vida de cometa. 
Ninguém fica. 
Todos passam uns pelos outros. 
Há muita necessidade de criar um mundo de pessoas estrelas. 
Aquelas com as quais todos os dias podemos contar. 
Todos os dias ver a sua luz e sentir o seu calor. 
Assim são os amigos estrelas na vida da gente. 
Pode-se contar com eles. 
Eles são presença. 
São coragem nos momentos de tensão. 
São luz nos momentos de escuridão. 
São segurança nos momentos de desânimo. 
Ser estrela neste mundo passageiro, neste mundo cheio de pessoas cometas, é um desafio, mas, acima de tudo, uma recompensa. 
É nascer e ter vivido e não apenas existir. 
E você? É cometa? Ou é estrela? 
* * * 
Enquanto o desejo é chama que se consome e deixa um vazio nas almas, a amizade é bênção que alimenta e sustenta em todos os momentos da vida. 
Quem compartilha apenas do desejo corre o risco de ficar só, tão logo o desejo cesse, mas quem divide a amizade tem a certeza de que nunca estará sozinho. 
É por essas e outras razões que a amizade é sempre comparada às coisas belas e de grande valor. 
Pode ser comparada a um tesouro... 
A uma flor perfumada que jamais fenece... 
A uma estrela que aquece e vivifica, ou com a luz que jamais se apaga... 
O importante mesmo é ter amigos ou ser amigo de alguém, porque só assim teremos a certeza de que nunca estaremos desamparados. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria desconhecida. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed. Fep e no CD Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. 
Em 02.03.2009.