sexta-feira, 31 de maio de 2019

ENTENDEMOS TÃO POUCO

William J. Bennett
Era uma vez dois irmãos que passaram a vida inteira na cidade e nunca haviam visto um campo ou uma pastagem. Mas, um dia, resolveram fazer uma viagem para o Interior. Enquanto caminhavam, observaram um fazendeiro arando a terra e ficaram intrigados com o que aquele homem estava fazendo. 
-Esse sujeito fica o dia inteiro marchando para frente e para trás, escavando sulcos profundos na terra. Que tipo de comportamento é esse? Por que alguém iria destruir uma campina tão bonita assim? - Perguntou um dos irmãos. 
À tardinha, tornaram a passar pelo mesmo lugar e viram o lavrador colocando as sementes nas covas. Dessa feita pensaram: 
-O que estará fazendo? Deve ser louco. Está jogando trigo bom dentro dessas valas! O campo não é lugar para mim. As pessoas agem como se fossem malucas. Vou voltar para casa, disse um dos rapazes. 
E, de fato, retornou para a cidade. Mas o outro ficou e, poucas semanas depois, verificou uma mudança maravilhosa. Os pés de trigo começaram a brotar, recobrindo os campos com um verdor que nunca havia imaginado. Admirado com o que vira, tratou de escrever para o irmão a fim de que este viesse ver aquele crescimento milagroso. E o irmão voltou da cidade e também ficou maravilhado com as mudanças. Passados alguns dias, o verde dos brotos foi dando lugar ao dourado dos trigais maduros. Só então os dois compreenderam o trabalho do fazendeiro. O trigo amadureceu completamente e o lavrador tomou a foice e começou a ceifá-lo. Um dos irmãos não entendeu o que estava acontecendo e exclamou com indignação: 
-O que estará fazendo esse louco? Trabalhou o verão inteiro para cultivar esse lindo trigal e agora o está destruindo com as próprias mãos! Não passa mesmo de um doido varrido! Para mim já chega, vou voltar para a cidade. 
Mas o outro tinha mais paciência. Ficou no campo e assistiu o trabalho de colheita e viu quando o trabalhador levou o trigo para o celeiro. Observou o esmero com que ele separou o joio e o cuidado ao armazenar o bom grão. Ficou admirado ao constatar que a semeadura de apenas um saco de sementes havia produzido todo um trigal. Só então compreendeu que havia uma razão por trás de cada ato do fazendeiro. 
 * * * 
É isso que, tantas vezes, acontece conosco com relação aos desígnios Divinos. Muitos de nós enxergamos apenas uma parte dos planos de Deus e, por não os compreendermos, os julgamos mal. E, por não sermos capazes de compreender toda a extensão dos propósitos e dos objetivos do Criador, nos revoltamos. Mas Deus, que é a Inteligência Suprema do Universo, Criador de todas as coisas, sabe o porquê de cada uma das Suas ações com relação aos Seus filhos. Por essa razão, mesmo que não possamos abranger totalmente o plano de felicidade que Deus traçou para cada um de nós, tenhamos a confiança plena de que O Grande Fazendeiro do Universo sempre sabe o que está fazendo. 
 * * * 
Quando o homem se detém a contemplar as estrelas do firmamento infinito, não se pode furtar a reflexões e emoções de variada grandeza, nas quais, inevitavelmente, sente refletida a Presença da Divindade. 
Redação do Momento Espírita, com base em lenda judaica, de O livro das virtudes, v. I, de William J. Bennett, ed.Nova Fronteira e no verbete Deus, do livro Repositório de sabedoria, v. I, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 05.07.2010.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

ENSINOS DO ONTEM

PROFETA EZEQUIEL
Como é emocionante se compulsar escritos bíblicos e descobrir que, embora redigidos há séculos, têm o sabor da atualidade. Isso atesta a sua qualidade divina, a inspiração superior. Ensinos emanados dos céus para os homens, e que transcendem o tempo, os costumes. No Velho Testamento, no livro do profeta Ezequiel, encontramos a descrição do que deveriam ser os domínios do povo de Israel e a advertência: Repartireis, pois, esta terra entre vós, segundo as tribos de Israel. Será, porém, que a sorteareis para vossa herança e para a dos estrangeiros que peregrinam no meio de vós, que gerarem filhos no meio de vós. E vos serão como naturais entre os filhos de Israel. E será que na tribo em que peregrinar o estrangeiro, ali lhe dareis a sua herança. Nos dias em que vivemos, grande tem sido o número dos imigrantes, que buscam asilo nas terras da Europa e da América. Fugindo de países em que domina a guerra, a turbulência, a fome, eles enfrentam as mais adversas condições em busca de um novo lar. Um local que os possa receber e onde não lhes seja negado o alimento, o abrigo. Uma nova vida. Onde não sejam discriminados por causa da cor da pele, da sua religião, sua raça, sexo ou país de origem. Naturalmente, muitas são as questões que se levantam ante essa onda migratória, contando-se aos milhares os que já adentraram fronteiras de outros países. Um problema, sem dúvida, para as nações, para a economia dos países. O Papa Francisco, durante uma visita ao Campo de Moria, na ilha grega de Lesbos, conclamou a que se responda de maneira digna de nossa humanidade comum à crise migratória. Os imigrantes, disse ele, antes de serem números, são pessoas. Unindo-se a outros líderes religiosos, assinou uma declaração pedindo ao mundo para mostrar coragem para enfrentar esta crise humanitária colossal. 
-Que todos os nossos irmãos e irmãs deste continente, como o bom samaritano, venham ajudá-los no espírito da fraternidade, solidariedade e respeito pela dignidade humana que marcou sua longa história, acrescentou. O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás, pois estrangeiro fostes na terra do Egito, diz o livro de Êxodo. Exortações do ontem que se fazem precisas e necessárias no hoje. Olhar para nossos irmãos, que fogem de seus países, enfrentando o mar, o deserto, as condições mais adversas, em busca de um lugar para viver. Para alimentar os próprios filhos. 
Palavras a respeito das quais nos cabe meditar. Exortações que devem ser pensadas, antes de erguermos muros pessoais e de gritarmos pelo fechamento das fronteiras. Os refugiados não são migrantes econômicos, que geralmente procuram melhores condições noutro país. São homens, mulheres e crianças de todas as idades que buscam um país que os acolha. Antes de cerrarmos os olhos à miséria alheia, lembrar que somos todos irmãos, neste imenso lar em que vivemos. Todos irmãos, embora tenhamos cores de pele diferentes, e falemos idiomas estranhos uns aos outros. Algo, no entanto, nos é comum: somos humanos. Somos Espíritos, filhos de Deus. Que nossa humanidade entre em ação. Dividamos o problema, busquemos soluções. Perguntemo-nos: e se fôssemos nós o estrangeiro, com um filho nos braços, como gostaríamos de ser recebidos? 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 47, versículos 21 a 23 do livro bíblico Ezequiel e no cap. 19, versículo 34, do livro bíblico Levítico. 
Em 13.6.2016.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

RECORDANDO O PASSADO

James Huston Jr
Tudo era muito natural. As frases eram ditas nos momentos mais descontraídos e menos esperados. Como naquele dia em que, passando por um bazar, a mãe viu no cesto de brinquedos um avião e o comprou, dando-o ao filho James. Veja, comentou ela, é um avião de caça. Tem até uma bomba presa na parte de baixo. O garoto olhou para o aviãozinho, virou-o de cabeça para baixo e declarou: 
-Não é uma bomba, mamãe. É um tanque “decatável”. 
Andrea não tinha a menor ideia do que era um tanque descartável. Foi somente ao falar com o marido que soube se tratar de um tanque extra de gasolina. Algo que os aviões usavam para estender a autonomia de voo. Os pais estavam surpresos. Seu filho nem sabia pronunciar corretamente a palavra mas dizia que aquilo era um tanque descartável. Como ele poderia saber desse detalhe? Seus desenhos também registravam uma peculiaridade. Eram cenas de batalhas, com balas e bombas explodindo pela página inteira. Claramente violentos. Ele desenhava uma batalha naval, mas sempre havia aeronaves no céu. E se alguém pudesse pensar que ele vira na TV, não era verdade. A mãe era extremamente cuidadosa quanto aos programas. Os detalhes eram impressionantes. As cenas retratavam aviões com hélices. Nada de jatos ou mísseis. Era um ambiente antigo, que lembrava cenas da Segunda Guerra Mundial. E havia mais uma particularidade. James sabia o nome dos aviões que desenhava. Eram aviões americanos Wildcats e Corsairs. Sabia também os nomes dos aviões com o sol vermelho na fuselagem: Zekes ou Bekys. Quando o pai perguntou por que os aviões japoneses tinham nomes de meninos e de meninas, ele explicou: Os aviões dos meninos são caças. Os das meninas são bombardeiros. A busca realizada pelo pai, na Internet, revelou ser a mais pura verdade. Extraordinariamente, o garotinho de três anos assinava seus desenhos como James três. Afirmava que ele era o terceiro James. Sou o James três. Isso somente bem mais tarde os pais descobririam o significado. O seu pequeno, que começou a ter lembranças estranhas, aos dois anos de idade, era a reencarnação do piloto americano James Huston Jr. Ora, se era Junior, seu pai se chamara James. E como agora, ao renascer, ele recebera o nome de James, era o terceiro. 
 * * * 
Lembranças espontâneas são registradas por algumas crianças. Esses casos são estudados, com detalhes e apresentados como provas da existência das vidas múltiplas. Crianças que, mesmo nascidas em famílias que não cogitam e nem admitem a reencarnação, afirmam com todas as letras e provam, com detalhes, que viveram anteriormente. Reencarnação não é doutrina recente. Encontramos o ensino na Antiguidade egípcia, grega, entre os hebreus. Jesus a ensinou dizendo que para entrar no reino dos céus era preciso nascer de novo. Uma Lei Divina que a pouco e pouco vamos entendendo um tanto mais e constatando que somente através do progresso das vidas sucessivas podemos admitir a integral Justiça Divina. 
Redação do Momento Espírita, com base nos cap. 2 e 16, do livro A volta, de Bruce e Andrea Leininger, com Ken Gross, ed Best Seller. 
Em 29.5.2019.

terça-feira, 28 de maio de 2019

ENVELHECENDO

Dizem que o tempo é implacável. Alcança tudo e todos. Os imóveis, os monumentos necessitam de cuidados constantes ou deixam à mostra os resultados do desleixo dos seus responsáveis: a pintura descascada, o mofo, as marcas negras das chuvas. As próprias árvores, que envelhecem rindo, como escreveu o poeta Olavo Bilac, necessitam da poda prudente, de apoio em suas raízes salientes, a fim de prosseguirem vivas e belas. Da mesma forma, o ser humano. Os dias avançam, e rapidamente, vão se somando as semanas, meses e anos. O cabelo embranquece, a saúde fica mais ou menos comprometida, o vigor físico diminui seu ritmo, a memória oscila entre lembranças do ontem e do agora... Envelhecimento. Todos os que não morremos, nos verdes anos, envelhecemos. E isso é uma dádiva: viver mais anos sobre esta Terra, cujo objetivo é escalar degraus na montanha da evolução. No entanto, o importante é ter em conta como estamos envelhecendo. Alguns, ao sermos tocados pelo tempo, murchamos, nos entregamos a uma fase de descanso e amolentamento. Os anos pesam, afirmamos. A juventude se foi há muito tempo. Sim, os anos trazem algumas consequências. Contudo, é importante verificarmos que aqueles que admitimos, simplesmente, que estamos velhos, adoecemos, perdemos a alegria de viver e nos permitimos morrer, como quem não pode nada de mais nobre realizar. Outros, no entanto, prosseguimos vivendo. Recordamos daquela senhora de 91 anos, vivendo sozinha, em seu apartamento, em pleno coração de grande cidade. Ela faz todo o trabalho da casa. Cozinha e ainda se permite inventar novas receitas, para surpreender quem a visita. Aliás, quem a deseja visitar, deve telefonar antes para saber a que horas ela estará em casa. E se estará. Porque essa senhora, que viu os filhos se casarem, constituírem família, o esposo desencarnar, vive todos os dias como se fosse o primeiro. Também o último da sua vida. Usufrui cada hora. E não deixa de apreciar o belo, a harmonia, o bom. Não perde um concerto da Orquestra Sinfônica. Fica atenta à pauta de espetáculos da cidade e se permite o êxtase em cada um deles. Não se detém porque está sozinha. Ela toma o ônibus, até para outra cidade, se for o caso. Não se intimida. Quando recebe visitas, nada fala que seja desagradável. Não menciona eventuais problemas de saúde, a ida ao médico, os exames a que precisou se submeter. Absolutamente nada disso. A sua conversação gira em torno do espetáculo de ballet a que foi assistir, de como ficou emocionada com a cena desse ou daquele filme. Enfim, fala do que leu, do que viu, das belezas da música, da dança, das boas notícias. Sim, visitá-la é uma aula de rejuvenescimento. Porque ela contagia, com seu entusiasmo, com sua disposição, com sua independência, a quem quer que dela se aproxime. 
- Velha senhora, diremos. 
Ela responderá: 
-Ainda tenho anos pela frente e os desejo viver muito bem. 
Oxalá, ao alcançarmos as suas décadas, possamos preservar essa lucidez, essa gratidão à vida, essa vontade de viver. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 28.5.2019.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

A METAMORFOSE

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Interessante se observar uma borboleta pousada sobre uma folha nova, especialmente escolhida por ela. Uma que não caia antes da saída das lagartinhas do ovo. Ela dobra o abdome até sentir a face inferior da folha e ali coloca o ovo. Por essas maravilhas da natureza, que somente a Providência Divina explica, cada espécie de borboleta sabe exatamente qual o tipo de planta que deve escolher para colocar o ovo que, graças a uma substância viscosa de secagem rápida, se fixa imediatamente. As borboletas são muito admiradas pela leveza dos seus voos e a beleza do colorido de suas asas. Elas procuram, nas flores, na areia úmida ou em frutos fermentados, o seu alimento. As flores são muito frequentadas pelas borboletas fêmeas, enquanto os machos preferem as areias úmidas. Existem algumas espécies que têm a capacidade de permanecer imóveis por tempo considerável, enquanto outras fazem voos curtos, por vezes muito rápidos, indo de uma flor a outra. Elas buscam a pradaria, as ramadas das árvores, beijam as folhas farfalhantes e driblam o vento apressado. Bailam em meio às gotículas que se desprendem das quedas d'água ou como pétalas voam, balançando no espaço. Seu colorido é mensagem de alegria. A sua liberdade é um convite à paz. No entanto, dias antes de se mostrarem tão belas não passavam de larvas rastejantes no solo úmido ou na casca apodrecida de algum tronco abandonado. Lagartas, jamais sonhariam com os beijos do sol ou com o néctar das flores. Mas, passam as semanas e após a fase de crisálida, elas surgem maravilhosas, coloridas, exuberantes, plenas de vida.
 * * * 
RAUL TEIXEIRA
À semelhança da lagarta, vivemos no terreno das experiências humanas. Afinal, chega um dia em que somos convidados a adormecer na carne para despertar na Espiritualidade, planando acima das dificuldades que nos afligiam. É a morte que nos alcança e nos ensina que a vida não se resume num punhado de matéria que entrará em decomposição. Também não é simplesmente um amontoado de episódios marcantes ou insignificantes, promotores de esparsos sorrisos e rios de pranto. A vida é a do Espírito, que vive para além da aduana da morte, tendo como destino a vida na amplidão. Por isso, quando acompanharmos, com lágrimas, aquele afeto que se despede das lutas do mundo, rumando para a Espiritualidade, não lastimemos, nem nos desesperemos. Mesmo com dores na alma, despeçamo-nos do coração querido com um suave “Até logo” porque exatamente como as borboletas, ele alcançou a liberdade. 
 * * * 
Tenhamos em mente que, ao morrer o corpo, o Espírito que dele se utilizava como de um veículo, se liberta. Ninguém se aniquila na morte. Mudamos, simplesmente, de estado vibratório, sem que aconteça uma mudança nos nossos sentimentos, paixões e anseios. Continuamos a ser o que éramos, enquanto no corpo de carne. E prosseguiremos, além das fronteiras desta vida, numa outra dimensão, a vida espiritual. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 10, do livro Rosângela, pelo Espírito homônimo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter; no verbete Morte, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL e no verbete Borboleta, da Enciclopédia Mirador, v. 4, ed. Encyclopaedia Britannica do Brasil. 
Em 27.5.2019

domingo, 26 de maio de 2019

ENSINAR COM SABEDORIA

William J. Bennett
Você já teve alguma dificuldade para convencer seu filho a fazer alguma coisa que ele não desejava ou se sentia incapaz de fazer? 
Em caso afirmativo, qual foi a tática usada para esse convencimento? 
As respostas são as mais variadas possíveis, mas, geralmente, não usamos estratégias eficientes porque a nossa paciência não o permite. Todavia, para que consigamos um resultado satisfatório na educação dos filhos, é preciso ensinar com sabedoria. Uma pequena história de dois irmãos nos dará mostra disso. O menino, parado diante da alta montanha, disse à irmã mais velha: 
-“Não consigo subir este morro. É impossível! O que vai acontecer comigo? Vou passar a vida inteira aqui no pé do morro? Isso é terrível demais!” 
-“Que pena!” Disse a irmã. “Mas olhe, maninho, descobri uma brincadeira ótima!” 
No mesmo instante, pisou com força no solo e desafiou o irmão: 
-"Duvido que você consiga deixar uma pegada tão nítida, na terra, quanto a minha." 
O menino aceitou o desafio e deu um passo à frente. Colocou o pé no chão e respondeu com alegria: 
-“Veja! A minha pegada está igual à sua!” 
-“Você acha?” Perguntou a irmã. “Olhe a minha de novo. Agora eu vou pisar mais fundo, porque sou mais pesada que você. Tente outra vez, e veja se consegue pisar mais forte”, continuou a irmã. 
-“Agora a minha está tão funda quanto a sua”, gritou o menino com alegria. 
E, com satisfação continuou a dar passos e fazer pegadas cada vez mais fortes.
-“Olhe, mana! Esta, esta e esta, estão o mais fundo possível.” 
-“É, está muito bom mesmo”, disse a irmã. “Mas agora é minha vez, deixe eu tentar de novo e vamos ver.”
E eles continuaram, passo a passo, comparando as pegadas e rindo da nuvem de poeira que deixavam para trás. Não demorou muito tempo e o menino olhou para cima. 
-“Ei”, disse ele, “nós estamos no alto do morro.” 
-“Nossa!” Disse a irmã. “Estamos mesmo.” 
A garota, usando a sabedoria, conseguiu convencer o irmão que não estava disposto a enfrentar a caminhada morro acima. Sua tática foi a de caminhar à sua frente e desafiá-lo a fazer o mesmo, em forma de brincadeira. Mas, ao contrário da sua atitude, muitos de nós usamos a maneira mais difícil, que é a do empurrão. Desejamos que os filhos vençam as dificuldades e as limitações na base da chantagem ou do tradicional "sopapo". Talvez esse seja o motivo pelo qual nossas tentativas muitas vezes não dão bom resultado. Por essa razão, vale a pena pensar na melhor forma de conduzir nossos educandos para que eles consigam chegar ao ponto que desejamos, sem cicatrizes e sem traumas. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O morro, de Laura E. Richards, de O livro das virtudes, v. 2, de William J. Bennett, ed. Nova Fronteira.

sábado, 25 de maio de 2019

ENSINANDO OS FILHOS A VIVER

Você considera fácil a arte de educar os filhos? Salvo raríssimas exceções, os educadores bem intencionados enfrentam grandes dificuldades para atingir suas metas referentes à educação. Por essa razão, vale a pena lançar mão das experiências de alguns pais que obtiveram bons resultados com lições simples e eficientes. Esta é uma das tantas histórias de pais que se debatem com filhos preguiçosos ou desanimados. Certa tarde, o paizão saiu para um passeio com as duas filhas, uma de oito e a outra de quatro anos. Em determinado momento da caminhada, Helena, a filha mais nova, pediu ao pai que a carregasse, pois estava muito cansada para continuar andando. O pai respondeu que estava também muito fatigado e, diante da resposta, a garotinha começou a choramingar e fazer corpo mole. Sem dizer uma só palavra, o pai cortou um pequeno galho de árvore e o entregou à Helena dizendo: 
-Olhe aqui um cavalinho para você montar, filha! Ele irá ajudá-la a seguir em frente. 
A menina parou de chorar e pôs-se a cavalgar o galho verde tão rápido, que chegou em casa antes dos outros. Ficou tão encantada com seu cavalo de pau, que foi difícil fazê-la parar de galopar. A filha mais velha ficou intrigada com o que viu e perguntou ao pai como entender a atitude da irmã. O pai riu e respondeu dizendo:
-Assim é a vida, minha filha. Às vezes, a gente está física e mentalmente cansado, certo de que é impossível continuar. Mas encontramos então um “cavalinho” qualquer que nos dá ânimo outra vez. 
Esse cavalinho pode ser um bom livro, um amigo, uma canção...Assim, quando você se sentir cansada ou desanimada, lembre-se de que sempre haverá um cavalinho para cada momento, e nunca se deixe levar pela preguiça ou o desânimo. 
 * * * 
A educação é uma arte e, como tal, necessita de sensibilidade e dedicação por parte de quem educa. Medidas singelas podem dar resultados excelentes quando movidas pelo amor legítimo e a vontade sincera de fazer crescer espiritualmente o educando. Ao contrário do que se pensa, as crianças são maleáveis aos ensinos que lhe são ministrados, desde que sintam, juntamente com a teoria, as vibrações de afeto e carinho por parte dos educadores. 
 * * * 
A melhor, a mais eficiente e econômica de todas as modalidades de assistência é a educação, por ser a única de natureza preventiva. Não remedeia os males sociais. Evita-os. 
Redação do Momento Espírita, com base em Seleções Reader’s Digest, de ago/1946. 
Em 30.7.2018.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

A MELHOR PARTE DE AMAR

As declarações de amor revelam muito do que vai em nossa alma. Por vezes, elas nos descrevem com perfeição. Elas contam se somos possessivos ou ciumentos, se deixamos espaço para o outro crescer como indivíduo ou não. Por exemplo, quando somos enfáticos demais no Eu preciso de você; no Não consigo viver sem você, revelamos, mesmo sem querer, que nosso amor é mais carência do que doação. Amar o outro, tendo, como razão e sustento desse amor, tudo aquilo que o outro nos dá, isto é, tudo que recebemos do parceiro, é certamente um amar frágil, que pode não se manter por muito tempo. Basta que o outro não mais nos forneça o que estava nos oferecendo, que não mais atenda nossas expectativas, para que todo aquele dito grande amor desapareça, como em um passe de mágica. Recentemente, ouvimos uma declaração de amor que nos chamou a atenção, por apontar uma direção um pouco diferente da comum. Dizia assim: 
- A melhor parte de amar é ser o alguém de outra pessoa, e eu quero ser este alguém, o seu alguém... 
Vejamos que o princípio por trás da frase é diferente, e bastante nobre. Muito mais compatível com o verdadeiro sentido do amor, o amor maduro. Querer ser o alguém da outra pessoa é identificar que o outro também tem expectativas, que também quer ser amado, e se colocar na posição de dar-se ao outro, e não só na de receber, o que é bastante egoísta. As jovens e os jovens, em determinada idade, quando das primeiras paixões, chegam a fazer listas de exigências. Como ele ou ela precisam ser para ganhar o meu coração?... Notemos que, em momento algum, consideramos que o outro também tem sua lista, suas expectativas. Pensamos apenas em preencher a nossa, o que eu quero, o que eu sonho. Mas e o outro? Não tem sonhos? Será que podemos atender aos anelos da outra pessoa? Será que preenchemos a lista dele ou dela? E que esforços fazemos para isso? Assim, querer ser o alguém do outro é levar tudo isso em consideração sempre, e não apenas exigir e exigir constantemente. Nesse nível de amor perceberemos que o que nos completa, o que nos faz feliz numa relação, é também o quanto fazemos pelo outro, o quanto nos doamos à outra pessoa. Dessa forma, esse patamar de amor nunca nos fará frustrados. Precisamos enxergar a tal via de mão dupla das relações amorosas, através de uma nova perspectiva, mais inteligente e mais altruísta. Querer ter outra pessoa ao lado, apenas para nos preencher, como se diz, é muito perigoso e frágil. A relação a dois é muito mais do que isso. Amar precisa sempre vir antes do ser amado. É o amar que nos fará grandes no Universo e não o ser amado. Foi o amar de tantos Espíritos iluminados que garantiu que a Terra continuasse a existir, e não sucumbisse por inteiro nas mãos do orgulho e do egoísmo. Que eu procure mais amar do que ser amado, pois é dando que se recebe... 
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.5.2019.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

OS INSTRUMENTOS DA PERFEIÇÃO

CHICO XAVIER E NÉIO LÚCIO
Naquela noite, Simão Pedro trazia na alma grande desgosto. Havia tido problemas com parentes complicados e rudes. Velho tio o havia acusado de esbanjar os bens da família e um primo o ameaçara esbofetear na via pública. Guardava, por isso, a face carregada. Quando o Mestre leu algumas frases dos sagrados escritos, o pescador desabafou e descreveu o conflito com a parentela. Ao término do longo relatório afetivo, Jesus indagou:
- “E o que você fez, Simão, ante as agressões dos familiares incompreensivos?” 
- “Sem dúvida, reagi como devia!” – Respondeu o apóstolo com veemência. Coloquei cada um em seu devido lugar. Anunciei, sem disfarce, as más qualidades de que são portadores. Meu tio é raro exemplar de mesquinharia e meu primo é um grande mentiroso. “Provei que ambos são hipócritas e não me arrependi do que fiz.” 
O Mestre refletiu por minutos longos e falou, compassivo: 
- Pedro, me diga: Que faz um carpinteiro na construção de uma casa? 
-Naturalmente trabalha. – respondeu, com certa irritação, o apóstolo.
- “Com o quê?” – tornou a questionar o Amigo Celeste.
- “Usando ferramentas.” 
Após a resposta breve de Simão, Jesus continuou: 
- “As pessoas com as quais nascemos e vivemos na Terra são os primeiros e mais importantes instrumentos que recebemos do Pai, para a edificação do reino do céu em nós mesmos”. Quando falhamos no aproveitamento deles, que constituem elementos de nossa melhoria, é quase impossível triunfar com recursos alheios, porque o Pai nos concede os problemas da vida, de acordo com a nossa capacidade de lhes dar solução.” “A ave é obrigada a fazer o ninho, mas não lhe é pedido outro serviço”. A ovelha fornece a lã; no entanto, ninguém lhe exige o agasalho pronto. Ao homem foram concedidas outras tarefas, quais sejam as do amor e da humildade, na ação inteligente e constante para o bem comum, a fim de que a paz e a felicidade não sejam mitos na Terra. Os parentes próximos, na maioria das vezes, são o martelo ou o serrote que podemos utilizar a benefício da construção do templo vivo e sublime, por intermédio do qual o céu se manifestará em nossa alma. Em todas as ocasiões, o ignorante representa para nós um campo de bênçãos; o mau é desafio que nos põe a bondade à prova; o ingrato é um meio de exercitarmos o perdão; o doente é uma lição para nossa capacidade de socorrer. “Aquele que bem se conduz, junto de familiares endurecidos ou indiferentes, prepara-se com rapidez para a glória do serviço à humanidade, porque, se a paciência aprimora a vida, o tempo tudo transforma.” 
Pedro não falou mais nada. E talvez porque ainda mantivesse os olhos questionadores, Jesus completou: 
- “Se não ajudamos o necessitado de perto, como auxiliaremos os aflitos de longe? Se não amamos o irmão que respira conosco os mesmos ares, como nos harmonizaremos com o Pai Celeste?”
 * * * 
Ninguém que figura entre nossos familiares ali se encontra por acaso. Há imensa sabedoria divina em nos colocar no lugar certo, na hora oportuna, com as pessoas certas. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 6, do livro Jesus no lar, pelo Espírito Néio Lucio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Em 23.5.2019.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

ENSINANDO A COOPERAR

RAUL TEIXEIRA
Na nobre tarefa de educar os filhos, é muito comum vermos os pais pouparem as crianças e jovens de colaboração na manutenção da organização e limpeza do lar. Não nos passará pela mente, em realidade, que os pequenos ou jovens devam, quando não houver necessidade, ser postos para que realizem trabalhos pesados, que lhes absorvam as horas de estudo e aprimoramento de si mesmos. Invocamos as possibilidades de aprenderem a arte de auxiliar, de prestar colaboração, o que, a cada dia, se torna mais raro. São muitas as mães que se transformam em serviçais de seus filhos, não para que cresçam, mas, para que se encharquem nos caldos de terrível egoísmo, sem que aprendam, nos dons do amor, a se fazerem úteis. 
Onde o problema de ensinar-se aos pequenos a esticar a cama donde se levantaram?
Onde a dificuldade de fazer-lhes atender a essa ou àquela pequena higiene doméstica?
Onde a impossibilidade de que aprendam a pregar um botão ou costurar uma bainha?
Como ignorar que é importante para os jovens lavar ou passar uma peça do vestuário, para si ou para alguém que precise?
Por que tanto constrangimento em ensinar ao jovem, rapaz ou moça, a passar um café ou preparar um arroz, considerando-se a honra da cooperação fraterna?
Identificamos muitos filhos que se tornaram incapazes pelos caminhos, em razão da displicência ou descaso dos que lhes deviam educação. Não os deveremos preparar para os tempos de facilidade e abastança, mas para os dias de necessidade e carência, de modo que a incapacidade não os mutile, desnecessariamente. 
 * * * 
Pensemos na educação que estamos oferecendo aos nossos filhos, em como os devemos educar para o mundo. O lar é a primeira escola. É onde serão aprendidos todos os valores. Da mesma forma que nos esmeramos para oferecer a melhor educação escolar aos nossos filhos, lembremos de ofertar-lhes a educação cristã, plantando neles a semente da cooperação. Os membros de uma família devem se sentir incentivados a se ajudarem mutuamente, sempre que necessário.
 * * * 
Evoquemos o Divino Mestre, na carpintaria do Pai, cooperando. Coloquemos a luz do Evangelho em seus corações sem deixarmos, contudo, de lhes ocuparmos as mãos, ainda que seja nos pequenos afazeres domésticos ou da oficina, pois ajudar no trabalho do bem, onde quer que ele apareça, é também evangelização. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap.18, do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de J. Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 27.05.2011.

terça-feira, 21 de maio de 2019

O ENSINAMENTO VIVO

CHICO XAVIER E NÉIO LÚCIO
Era um dia de sol. Mãe e filha saíram a passear. Pararam defronte a uma construção. O trabalho era incessante. Máquinas, sob a direção de homens habilitados abriam enormes crateras para os alicerces, no chão duro. Veículos pesados transportavam terra daqui para ali, com rapidez e segurança Pedreiros já estavam a postos, sob o comando vigilante dos técnicos que orientavam os trabalhos. O engenheiro chefe, vendo-as tão atentas, se aproximou e, porque fosse indagado, esclareceu: 
- O investimento que está sendo feito neste local é muito grande. O projeto é de um edifício de grandes proporções, possivelmente um dos mais altos da cidade. Muitas centenas de trabalhadores especializados serão convidados a colaborar em toda a sua estrutura, até o acabamento final. Precisaremos de carpinteiros, vidraceiros, pintores, encanadores, eletricistas, decoradores para completar o serviço. 
Qualquer construção precisa de um grande número de profissionais. A garota estava impressionada e comentou: 
- Quanta gente para pensar, cooperar e servir! 
- Sim, disse o técnico, construir é sempre muito difícil. 
Mãe e filha continuaram o passeio e, após algumas quadras, chegaram em frente a uma casa em demolição. Ali havia somente um homem, empunhando um gigantesco martelo. Ele batia nas paredes de alvenaria e madeirame e elas ruíam, com estrondo, de forma muito rápida. Lembrando o trabalho grandioso da construção que acabara de ver, a menina exclamou: 
- Como é terrível arruinar tão rapidamente o trabalho de tantos. 
Foi então que a mãe, sempre atenta para as questões da educação de sua filha, falou: 
- Pois é, minha filha, toda realização útil na Terra exige paciência e suor, trabalho e sacrifício de muita gente. Construir, edificar é muito difícil. Mas, como você pode ver, destruir é sempre muito fácil. Uma pessoa com um martelo na mão destrói o esforço de muitos. 
A crítica que usamos contra o nosso semelhante é como o martelo na velha construção: destruidora. Quando ficamos a ver defeitos nas obras alheias e nos entregamos à crítica, estamos destruindo. E, normalmente, sem oferecer nada melhor em troca. Pensemos, antes de criticar, agredir e prejudicar. Se o nosso intuito é o de ajudar, apontemos as falhas, sim, mas sobretudo apresentemos soluções. 
 * * * 
Quem deseja ajudar, não se satisfaz em apontar erros nas pessoas e nas instituições porque esta é a crítica que destrói. Quem deseja ajudar, apresenta sugestões de melhoria moral a fim de que o outro tenha opções para buscar a própria renovação. Quem pensa em auxiliar, arregaça mangas, coloca mãos à obra, olha para o companheiro ao lado e convida: Vamos construir um lugar melhor para nós e para todos? 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 19, do livro Alvorada cristã, pelo Espírito Néio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. 
Em 25.02.2011.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

OS INVISÍVEIS QUE ESTÃO CONOSCO

A noite seguia festiva no amplo auditório da Universidade. Pais, familiares, amigos tomavam quase todas as poltronas. A entrada dos formandos, um a um, sob os flashes dos fotógrafos, se sucedia, num mar de emoções. Pais orgulhosos, lembrando as horas intermináveis de estudo, o esforço para a conquista do diploma universitário do filho; pais que mal continham as lágrimas, nas recordações dos pequenos há pouco e agora recebendo os louros de um curso concluído. Havia esposos, namorados, padrinhos e madrinhas. E as manifestações de uns e outros, aconteciam, a cada formando que tomava assento no grande palco. Depois, foram os discursos. E as homenagens aos professores, aos pais, aos colegas. No entanto, houve um momento mais especial de todos os demais. Foi quando a festa transcendeu as paredes do auditório. Transpôs fronteiras e estabeleceu uma ponte com a Espiritualidade. Anteriormente, o nome de Deus, o Senhor da vida, fora lembrado mais de uma vez. Prece de gratidão se erguera e fossem religiosos ou não, os minutos se transformaram em envolvente vibração. Então, o mestre de cerimônias anunciou que seria prestada uma homenagem aos que não estavam presentes. As luzes se apagaram e todos foram convidados a acender a lanterna dos seus celulares. O ambiente parecia um céu de minúsculas estrelas brilhantes. E, enquanto eram lembrados pais que haviam partido, uma esposa, um amigo, aquelas pequenas luzes brilhando, nas mãos que se movimentavam, diziam que eles, os invisíveis, estavam ali. Sim, essa era a mensagem. Eles estavam invisíveis, mas presentes, ao lado dos seus amores. Não houve quem não derramasse uma lágrima, furtiva que fosse. As vozes embargadas das formandas, responsáveis pela homenagem, quase não conseguiam chegar ao final do texto previamente preparado. Foram instantes de uma vivência espiritual. Instantes em que os dois mundos se interpenetraram e os do lado de cá nos demos conta disso. Os mais sensíveis sentiram os abraços, os afagos dos que estavam na Espiritualidade. Com certeza, foi o momento mais extraordinário daquela noite. 
 * * * 
Como seria bom se reprisássemos mais vezes essas vivências, em nossas vidas. Se lembrássemos de estabelecer essa ponte de comunicação com os que se foram. Afinal, a fronteira da Espiritualidade inicia exatamente quando finda a fronteira da vida material. E bastará um pensamento de tempos felizes juntos vividos, para que façamos a conexão com as suas mentes. Eles, como nós, sentem saudades. E, muitas vezes, nas horas do dia ou nas horas mortas da madrugada, nos procuram. Não os sentimos, habitualmente, porque nos encontramos imersos em preocupações. Então, vez ou outra, permitamo-nos sentir abraçados por esses que prosseguem nos amando. Porque o amor não acaba nunca. Não fica encerrado em uma urna ou vira cinzas. A alma imortal leva consigo o perfume dos seus amores, a doce lembrança dos que ficaram e, de onde se encontra, envia seu carinho. São como pequenos ramalhetes de delicadas flores que nos são endereçados. Permitamo-nos sentir-lhes o perfume. Oremos. Pensemos neles, endereçando-lhes nosso amor, a eles, os invisíveis que estão conosco. 
Redação do Momento Espírita.
Em 20.5.2019.

domingo, 19 de maio de 2019

ENSINA-NOS A ORAR!

Contam as tradições espirituais que Jesus, após atender a multidão, ao concluir de uma jornada, não raro se refugiava a sós em um local. Ali ficava por longos minutos, como que absorto e isolado do meio, deixando momentaneamente a todos para se isolar do mundo naqueles instantes. Como a cena se repetia, frequentemente, com o tempo, aqueles mais próximos do Mestre passaram a se perguntar qual o motivo de tal atitude. Provocados pela curiosidade, e sedentos pelo aprendizado, em momento oportuno, propuseram a questão a Jesus, tentando entender qual a necessidade de se apartar deles vez ou outra. Qual a necessidade de permanecer a sós, em alguns momentos? Jesus, então, percebendo a oportunidade do ensinamento que se fazia, os reuniu em torno de Si. 
-Se assim procedo, explicou o Mestre, é para conversar com o Pai, é para orar e estar em comunhão com o Senhor da vida. 
Maravilharam-se ao ver que Jesus fazia da natureza o Seu altar de oração, que abria mão de qualquer intermediário para orar, e que dispensava os ritos e exteriorizações, tão comuns à época. Sem perder tempo, um dos seus, na ansiedade do aprendiz atento, rogou ao Mestre: 
-Senhor, ensina-nos a orar! 
E Jesus, naquele momento, propôs aos Seus discípulos que assim orassem: 
-Pai nosso que estás nos céus! – Já não mais o Deus vingador, que persegue e castiga, mas o Pai que cuida e ampara. Santificado seja Teu nome. – Nas nossas ações, pensamentos, no nosso falar, que haja sempre consonância com as leis Divinas, santificando-o não externamente, mas na intimidade da alma. Venha a nós o Teu reino. – Dando-nos consciência da necessidade de insculpirmos na intimidade de nosso mundo o reino de Deus, o reino da paz, o reino do bem. Seja feita a Tua vontade... – No entendimento de que os desígnios de Deus, muito embora não os consigamos compreender de imediato, serão sempre os mais adequados para nós, em qualquer circunstância. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. – Seja o alimento físico que mantém o corpo, sejam os desafios morais que alimentam a alma, é a rogativa para que não fiquemos na inanição física e espiritual. Perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos a quem nos deve. – Ensinando-nos que estamos vinculados uns aos outros, no aprendizado da alma e que jamais conseguiremos seguir deixando dores na retaguarda. E não nos deixes cair em tentação. – Na clara percepção que ainda trazemos o mal em nossa intimidade, que se não vigiarmos, insistiremos no erro e permaneceremos na infelicidade. Livra-nos de todo o mal. – É a rogativa da proteção ao mal que ainda permeia nosso mundo, num convite a que nós mesmos façamos opções mais felizes e lúcidas. 
E assim, a partir daquele dia, estava exarada, na História da Humanidade, a síntese perfeita da comunhão com Deus através da oração. 
* * * 
Orar não é apenas falar a Deus, em longos recitativos, ou guardar a alma em atitude extática numa contemplação sem obras, totalmente improdutiva. Orar é mais do que abrir a boca e pedir. É comungar com Deus, banhando-se de paz e renovação íntima. 
Redação do Momento Espírita
Em 12.10.2013

sábado, 18 de maio de 2019

VISUALIZAR

Vivemos, na atualidade, fenômenos culturais muito curiosos. Um deles é o das novas palavras e novos significados para termos antes pouco utilizados. Pela primeira vez na História, no ano de 2015, o Dicionário Oxford elegeu não uma palavra propriamente dita, mas um emoji, como palavra do ano. O emoji é uma imagem pictográfica que representa uma palavra ou frase. No caso, a imagem vencedora representava um rosto com lágrimas de alegria. Todos os anos, a editora elege a palavra que, naquele período, atraiu muito interesse. Os termos candidatos ao prêmio são debatidos por um júri que, segundo a instituição, escolhe o vencedor com base no potencial duradouro e na significância cultural. Uma outra palavra que ganhou novo significado foi o verbo visualizar
Visualizar é diferente de olhar, de ver ou ler. 
Visualizar é tomar ciência de algo, num golpe de olhar apenas, sem qualquer tipo de aprofundamento. O verbo visualizar também instaurou uma urgência pela resposta, pois se alguém visualiza algo e não responde de imediato, desperta do lado de lá uma imensa preocupação. 
Visualizou: precisa responder imediatamente. 
Visualiza-se algo, mas não se reflete sobre aquilo. Visualizamos uma mensagem e temos pouco ou nenhum tempo de elaborar, seja um pensamento ou uma resposta. Jacques Lacan, importante psicanalista francês, levanta uma questão que ele chama de tempo lógico. Para ele, haveria uma diferenciação entre três tempos: o tempo de ver, de compreender e de concluir. O tempo de ver é o tempo no qual uma certa percepção chega até cada um de nós. É o impacto sensorial que temos quando percebemos alguma coisa. O tempo de compreender é aquele no qual lemos essa percepção a partir de acontecimentos anteriores de nossa vida, e que fazem com que essa percepção ganhe algum sentido para nós. Finalmente, é a partir do tempo de concluir que cada um realiza um certo ato, se implica numa decisão, escolhe o que fazer a partir daquilo que compreendeu. Diante do novo sentido utilizado para o verbo visualizar, temos uma espécie de achatamento entre o que vemos e a precipitação no ato. Encontramo-nos impelidos sempre a uma resposta, como se ela pudesse ser automática. Não há o tempo de pensar, de refletir, de analisar. O novo sentido do verbo passa a ter ares de indiferença, pois é um olhar apressado, quase desinteressado. Podemos deixar de ver, de compreender e concluir, diante das dores alheias, diante do mundo que pulsa a nossa volta e pede ajuda. Podemos começar a apenas visualizar nossos amores, suas falas e dificuldades. Podemos começar a simplesmente visualizar o mundo, ao invés de fazer parte dele ativamente. 
 * * *
Em tempos em que se contam e comemoram visualizações, é fundamental lembrar que relações saudáveis exigem atenção e tato, exigem dedicação e tempo. Precisamos nos dar e dar ao outro o tempo de compreender e concluir. Decisões e respostas apressadas trazem consequências graves e, muitas vezes, irreversíveis. Aceitamos com facilidade as demandas urgentes de um mundo agitado e impaciente. Está na hora de reassumirmos o controle de tudo, com calma, análise e profundidade. 
Redação do Momento Espírita, com base em palestra proferida pela psicanalista Julieta Jerusalinki, no Programa Café Filosófico, em março de 2018.
Em 17.5.2019.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

ENSINA-NOS A AMAR!

AMÉLIA RODRIGUES e DIVALDO FRANCO
Nos primeiros anos da era cristã, Cafarnaum era apenas uma aldeia de pescadores situada à margem do mar da Galileia. Jesus, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum. Foi ali que, em certa noite, Simão Pedro, Seu discípulo, emocionado O interrogou: 
- "Amigo, na minha modesta existência e pobreza moral de homem do mar, jamais imaginei quanto grandioso é o amor. Ajuda-me, dizendo-me qual o primeiro passo que deverei dar na conquista do novo caminho. Ensina-nos a amar, a mim e a todos aqueles que te seguimos." 
O Amigo Incomparável relanceou o dúlcido olhar pelo arquipélago de estrelas e deteve-o na face do pescador, orvalhada por lágrimas e suores de emoção, logo lhe respondendo:
- "Ama Simão, em qualquer circunstância e situação, por mais adversas se te apresentem. O amor é o primeiro e o último passo de quem busca a perfeição e ruma na direção do Excelso Pai. Nunca te detenhas no exame do mal de qualquer procedência, que gera sombras, perturbando-te. Ademais, guarda na mente e no coração que tudo quanto te acontecer tem uma razão de ser, embora não o saibas, não te exaltando no triunfo nem te desesperando na dor. Preserva a tua paz no vasilhame da consciência honrada, mesmo quando erres, porque ela é a base para tua felicidade futura, mediante a tranquilidade dos teus sentimentos nobres. Nunca revides mal por mal, confiando em nosso Pai e entregando-te a Ele sem reservas nem receios. Porque Ele cuidará de ti investindo os mais preciosos recursos da inspiração e dando-te resistência para os enfrentamentos necessários ao teu processo de evolução. Perdoa sempre e sempre a tudo e a todos, até mesmo àquilo e àquele que aparentemente não mereçam perdão. O braço da Divina Justiça utiliza-se, às vezes, da aparente injustiça para corrigir e educar os infratores das Soberanas Leis. Nunca te permitas dúvidas a respeito da lei de causa e de efeito. Conforme a tua semeadura, assim se te apresentará a colheita. Ninguém passa no mundo livre do sofrimento no seu processo de depuração das tendências inferiores, lapidando as arestas morais e espirituais do ser humano. Desse modo, tudo possui uma razão própria de ser. Quanto a ti, porém, faze sempre o bem, o melhor que estiver ao teu alcance, não esperando aplauso, nem temendo reproche. E já estarás amando..."
 * * * 
Jesus marcou a Sua passagem terrestre de forma permanente, deixando a todos os seres humanos um roteiro de segurança para a conquista da plenitude. Apesar de transcorridos vinte séculos desde aqueles inesquecíveis e formosos dias das Suas jornadas pela Palestina, é importante que lembremos constantemente Dele como nosso Guia e Modelo. Coloquemo-nos no lugar de Simão Pedro, escutando os ensinamentos contidos nas doces palavras do nosso Divino Amigo. Glorioso será o dia em que passemos a amar verdadeiramente! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 9, do livro A mensagem do amor imortal, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 21.06.2011

quinta-feira, 16 de maio de 2019

AGINDO ALÉM DO DEVER

Chris Benguhe
Richard era professor de Direito Criminal. Resolveu deixar as salas de aula para se transformar num especialista em segurança. Depois de trabalhar para uma série de bancos e agências de corretagem, chegou à empresa Dean Witter. Sua missão era cuidar da matriz, no World Trade Center. No dia 11 de setembro de 2001, ele colocou um terno azul escuro. Cantando uma música alegre, de um de seus atores favoritos, divertiu a esposa. Ele deveria ir a uma festa de casamento naquele dia. Mas, um colega precisou de um dia de folga, por motivos pessoais, e ele o foi substituir. Richard estava no 44º andar da Torre Sul, às oito horas da manhã. Conseguiu uns minutos para ligar para a esposa e dizer que a amava. Às oito horas e quarenta e cinco minutos, o primeiro avião se chocou contra a Torre Norte. A autoridade policial informou que estava tudo sob controle e instruiu as pessoas da Torre Sul para que ficassem onde estavam e aguardassem novas instruções. Richard sabia que cabia a ele zelar pela vida de duas mil e setecentas pessoas. De imediato, principiou a evacuação do 44º ao 74º andares. Enquanto fazia isso, telefonou para a polícia alertando que deveriam ordenar a evacuação dos andares que não estavam sob o seu comando. Tinha certeza de que o prédio desabaria. Não lhe deram atenção. Os funcionários foram saindo de forma ordenada, exatamente como ele os havia treinado tantas vezes. Para os confortar, cantava músicas inspiradoras da Cornualha, condado no extremo sul da Inglaterra, de onde viera. Richard era um homem pesado, de sessenta e um anos de idade. Naquele dia, foi além dos seus limites. Percorreu andar por andar, para se certificar de que todos os funcionários da empresa tinham saído. Foi quando o segundo avião, pouco depois das nove horas da manhã, atingiu a Torre Sul. Quase todos daquela empresa estavam do lado de fora. Todos, com exceção de Richard e de alguns poucos encarregados de segurança, que ficaram ao seu lado. Ele foi subindo em direção às chamas, enquanto acontecia a descida pelas escadas... Queria se certificar de que todos haviam saído. Verificava escritórios... Ajudava aqueles em apuros... Em meio à confusão, fez outra ligação para a esposa, dizendo-lhe: 
-Se alguma coisa acontecer comigo, quero que saiba que você foi e será, sempre, a minha vida. 
Naquele dia, somente seis funcionários da empresa morreram, incluindo-se Richard. Tão poucos mortos, graças aos planos de evacuação que ele aperfeiçoara. Periodicamente realizava treinamentos contra incêndio, mesmo quando o alto escalão dizia que não era necessário. Ou quando os funcionários reclamavam dos exercícios repetitivos. Ele insistia. Queria estar preparado. Estar um passo à frente das catástrofes, pelo bem daqueles pelos quais era responsável. Via seu trabalho como uma missão. Entendia que o seu dever era para ser cumprido, todos os dias, como se um dia, vidas fossem depender disso. Morreu cumprindo seu dever. 
 * * * 
O dever é uma forma de ver a vida. É servir a um propósito maior: amar e ajudar os outros. Os que abraçam esta filosofia se transformam em heróis. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O princípio do dever, do livro Muito além da coragem, de Chris Benguhe, ed. Butterfly. 
Em 16.5.2019.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

FALTA AMAR!

Falta amar Um vídeo circulou pelas redes sociais. Mostrava algo bastante singelo e valioso: filhos adolescentes, jovens, ligando para seus pais para dizer simplesmente: 
-Eu te amo. 
Eram ligações de celular, inesperadas, a qualquer hora do dia. O pai ou a mãe atendiam, ouviam um Olá e logo depois: 
-Pai, mãe, eu queria dizer que te amo. Só liguei para dizer isso. 
As reações foram belíssimas. Pais dizendo: 
-Puxa, como é bom ouvir isso. Eu também te amo, meu filho. 
E do lado de cá, de quem estava fazendo as chamadas, da mesma forma: lágrimas de emoção de jovens que, raramente, ou nunca haviam proferido tais palavras. Como se o simples contato com essas palavras mágicas, quando verdadeiramente sentidas, já provocasse neles algum tipo de transformação. Muitos podem dizer que o amor está subentendido, está nos gestos, na companhia diária, não exige provas. E que talvez não precise ser declarado. Muitos temem ser pieguismo expressar-se dessa forma. 
Será? 
Banalizamos o Eu te amo, é certo, recitando-o da boca para fora muitas vezes, automaticamente. As paixões avassaladoras e efêmeras se apropriaram dele, tornando-o menor, pois da mesma forma que o amor nasce, voraz, também morre, triste, pouco tempo depois em relações vazias. O Eu te amo dos altares enfeitados, das grandes festas, não sobrevive às primeiras intempéries de muitos casamentos. Esse amor das infinitas canções, das belas obras, mas também das puramente sentimentalistas, que nada acrescentam para a verdadeira arte. Curioso. O Eu te amo foi dito tantas vezes que parece ter enfraquecido pelo mundo afora, praticamente caindo no esquecimento. 
 * * * 
Não falta amor nos poemas, nas músicas, nas bocas. Falta, sim, amar. Não falta amor nos lares, nas famílias: falta amar. Não falta amor nos pensamentos, nas ideias: falta amar. Não falta amor nas potências de nossa alma. Falta, sim, o movimento do amar. E muitas vezes, a expressão pura e simples desse amor já é grande parte desse amar. Quando verdadeiramente sentimos dentro de nós essa afeição profunda, esse querer bem, essa consciência do quão importante é aquela pessoa, nada mais natural do que dizer, do que extravasar. Bom para quem diz, pois se encharca de suas vibrações benfazejas e revigorantes. Bom para quem ouve, pois recebe muito mais que palavras. Recebe o conforto, o aconchego e a gratidão que tal declaração guarda em si. Ouvir um Eu te amo de verdade, é como ser levado pelas mãos a um passeio, uma viagem para um mundo melhor, de menos preocupações e sofrimentos, um refrigério para a alma em luta na Terra. Voltamos renovados, dispostos a seguir adiante e mais, voltamos conhecendo o amor um pouco melhor. Ainda sabemos pouco do amor em sua profundidade. Estamos dando os primeiros passos depois de deixar o primitivismo necessário. Falta amar para encontrá-lo e permanecer nele por mais tempo. Falta amar para podermos declará-lo sem medo de pieguismos empobrecedores. Falta apenas amar, nada mais. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 15.5.2019.

terça-feira, 14 de maio de 2019

ENSAIOS PARA O AMOR

Cynthia Rylant
Ela era uma velhinha que morava sozinha, em uma grande casa. Não tinha amigos porque, ao longo dos anos, ela os vira morrer, um a um. Seu coração era um poço de saudade e de perdas. Por isso, ela decidira que nunca mais se ligaria afetivamente a ninguém. E, para se lembrar de que um dia tivera amigos, passara a chamar as coisas pelos nomes dos amigos que haviam morrido. Sua cama se chamava Belinha. Era grande, sólida e confortável. A poltrona da sala de visitas se chamava Frida. Haveria de durar muitos anos mais. A casa se chamava Glória. Tinha sido construída há mais de cem anos, mas não aparentava mais de vinte. Era feita de uma madeira muito forte, vigorosa. E o carro, grande, espaçoso se chamava Beto. Haveria de servir, pensava a velhinha, para alguém, depois de minha morte. E assim ela vivia. Solitária. Certo dia, quando estava lavando a lama de Beto, um cachorrinho chegou no portão. (O portão não tinha nome, porque ela achava que ele logo iria ter que ser substituído. Suas dobradiças estavam enferrujadas e a madeira apodrecida). O animalzinho parecia estar com fome e ela tirou um pedaço de presunto da geladeira e lhe deu, mandando-o embora. Porém, no dia seguinte, ele voltou. E no outro e no outro. Todos os dias, ele vinha, abanava o rabo e ela o alimentava, mandando-o embora. Ela dizia que Belinha não comportava um adulto e um cachorro, que Frida não gostava que cães sentassem nela e Glória não tolerava pelo de cachorro. E Beto? Bom, esse fazia os cachorros passarem mal. Um ano depois, o animal estava grande, bonito. E tudo continuava do mesmo jeito. Até que um dia ele não apareceu. Ela ficou sentada na escada, esperando. No dia seguinte, também. Nada. Resolveu telefonar para o canil da cidade e perguntar se eles tinham visto um cachorro marrom. Descobriu que eles tinham dezenas de cachorros marrons. Quando perguntaram se ele estava usando coleira com o nome, ela se deu conta de que nunca dera um nome para ele. Sentou-se e ficou pensando no cachorro marrom que não tinha coleira com um nome. Onde quer que estivesse, ninguém saberia que ele tinha de vir todos os dias até seu portão para que ela lhe desse de comer. Tomou uma decisão. Dirigiu Beto até o canil e falou para o encarregado que queria procurar o seu cachorro. Quando ele lhe perguntou o nome do cachorro, ela se lembrou dos nomes de todos os amigos queridos aos quais havia sobrevivido. Viu seus rostos sorridentes, lembrou-se de seus nomes e pensou em como fora abençoada por ter conhecido esses amigos. Sou uma velha sortuda, pensou. 
- O nome do meu cachorro é Sortudo, ela disse.  
E gritou, ao ver os cães no grande quintal: 
-Aqui, Sortudo! 
Ao som da sua voz, o cachorro marrom veio correndo. Daquele dia em diante, Sortudo morou com ela. Beto parece que gostou de transportar o cachorro. Frida não se incomodou que ele sentasse nela. Glória não ligou para os pelos do cachorro. E, todas as noites, Belinha faz questão de se esticar bem para que nela possam se acomodar um cachorro marrom sortudo... e a velhinha que lhe deu o nome. 
 * * * 
Não temamos nos afeiçoar às pessoas. Ninguém consegue viver sem amor, sem amigos, sem ninguém. Não nos enclausuremos em solidão, nem percamos a oportunidade extraordinária de amar. Amemos a quem nos rodeia. Também à natureza e os animais, recordando que tudo é obra do Excelente Pai que nos criou. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro A velhinha que dava nome às coisas, de autoria de Cynthia Rylant, ed. Brinque Book. 
Em 13.4.2015.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

NOSSOS PROTETORES INVISÍVEIS

Andrey Cechelero
Essa brisa singela que te sopro, 
É meu desejo de te ver navegante. 
Minhas mãos... Não podem tocar teu leme. 
Meus braços... Não podem içar tuas velas. 
Para ti, sou apenas vaga inspiração, que se mistura aqui e ali aos teus próprios pensares.
Sou ideia sem nome.
Sou sentido distante. 
Sou vento. 
* * * 
Diz um provérbio popular que há um Deus para as crianças, para os loucos e para os bêbados. Há mais veracidade nesse ditado do que se imagina. Esse suposto Deus, outro não é senão nosso Espírito protetor, que vela pelo ser incapaz de se proteger, utilizando-se da sua própria razão. Da mesma forma que a criança descida do berço ensaia seus primeiros passos, sob os olhares enternecidos de seus carinhosos pais, assim também, sob o amparo invisível de nosso Pai espiritual, somos muito bem assistidos nos combates da vida terrestre. Todos temos um desses gênios tutelares que nos inspira nas horas difíceis e nos orienta para o bom caminho. É o nosso anjo da guarda. Não há concepção mais grata e consoladora. Saber que temos um amigo fiel e sempre disposto a nos socorrer, de perto como de longe, influenciando-nos a grandes distâncias ou conservando-se junto de nós nas provações; saber que ele nos aconselha por intuição e nos aquece com o seu amor, eis uma fonte inapreciável de força moral. O pensamento de que testemunhas benévolas e invisíveis veem todos os nossos atos, alegrando-se ou se entristecendo, deve nos estimular a mais sabedoria e ponderação. É por essa proteção oculta que se fortificam os laços de solidariedade que ligam o mundo celeste à Terra, o Espírito livre ao homem, Espírito prisioneiro da carne. É por essa assistência contínua que se criam, de um a outro lado, as simpatias profundas, as amizades duradouras e desinteressadas. O amor que anima o Espírito elevado vai pouco a pouco se estendendo a todos os seres, revertendo tudo para Deus, Pai das almas, foco de todas as potências efetivas.
Léon Denis
O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o nascimento e, muitas vezes, o segue após a morte, na vida espiritual. Até mesmo em muitas existências corporais. Vejamos o quanto é maravilhoso saber disso. Quanto cuidado do Criador para com cada um de nós, independente de quem somos, raça, credo e até mesmo, se somos homens de bem ou não. Nunca poderemos dizer que não fomos ajudados, que não se importavam conosco ou que estivemos abandonados em algum momento. Portanto, contemos com eles, nossos anjos de guarda, nossos protetores invisíveis. Criemos uma linha de comunicação mais frequente, tentemos elevar nosso pensamento para que ele vibre nas frequências sutis dos pensamentos deles. Então, poderemos ouvir seus alertas, buscando nos guiar, suas sugestões e respostas aos nossos apelos. Benditos sejam nossos Espíritos protetores, carinhosos amigos que do anonimato nos amam intensamente. 
Redação do Momento Espírita, com base no poema A voz do vento, de Andrey Cechelero; na questão 492, de O livro dos Espíritos; no cap. 3, item 14, do livro A Gênese, ambos de Allan Kardec e no cap. 35, do livro Depois da Morte, de Léon Denis, todos ed. FEB. 
Em 13.5.2019.

domingo, 12 de maio de 2019

ENQUANTO OS VENTOS SOPRAM

Conta-se que, há muito tempo, um fazendeiro possuía muitas terras ao longo do litoral do Atlântico. Horrorosas tempestades varriam aquela região extensa, fazendo estragos nas construções e nas plantações. Por esse motivo, o rico fazendeiro estava, constantemente, a braços com o problema de falta de empregados. A maioria das pessoas estava pouco disposta a trabalhar naquela localidade. As recusas eram muitas, a cada tentativa de conseguir novos auxiliares. Finalmente, um homem baixo e magro, de meia-idade, se apresentou. 
-Você é um bom lavrador? Perguntou o fazendeiro. 
-Bom, respondeu o candidato, eu posso dormir enquanto os ventos sopram. 
Embora confuso com a resposta, o fazendeiro, desesperado por ajuda, o empregou. O homem trabalhou bem ao redor da fazenda, mantendo-se ocupado do alvorecer ao anoitecer. O fazendeiro deu um suspiro de alívio, satisfeito com o trabalho dele. Então, numa noite, o vento uivou ruidosamente, anunciando que sua passagem pelas propriedades seria arrasadora. O fazendeiro pulou da cama, agarrou um lampião e correu até o alojamento dos empregados. O pequeno homem dormia serenamente. O patrão o sacudiu e gritou: 
-Levante depressa! Uma tempestade está chegando. Vá amarrar as coisas antes que sejam arrastadas. 
O empregado se virou na cama e calmo, mas firme, disse: 
-Não, senhor. Eu não vou me levantar. Eu lhe falei: posso dormir enquanto os ventos sopram. 
A resposta enfureceu o empregador. Não estivesse tão desesperado com a tempestade que se aproximava, ele despediria naquela hora o mau funcionário. Apressou-se a sair para preparar, ele mesmo, o terreno para a tormenta sempre mais próxima. Para seu assombro, ele descobriu que todos os montes de feno tinham sido cobertos com lonas firmemente presas ao solo. As vacas estavam bem protegidas no celeiro, os frangos estavam nos viveiros e todas as portas muito bem trancadas. As janelas estavam bem fechadas e seguras. Tudo estava amarrado. Nada poderia ser arrastado. Então, o fazendeiro entendeu o que seu empregado quis dizer. Retornou ele mesmo para sua cama para também dormir, enquanto o vento soprava. 
* * * 
Se os ventos gélidos da morte nos viessem, hoje, arrebatar um ser querido, estaríamos preparados? Se reveses financeiros, instabilidade econômica levassem nossos bens de rompante, estaríamos preparados? A religião que professamos, a fé que abraçamos devem nos preparar o Espírito, a mente e o corpo para os momentos de solidão, pranto e dor. Enquanto o dia sorri, faz sol em nossa vida, fortifiquemo-nos, preparemo-nos de tal forma que, ao chegarem os tsunamis, soprarem os ventos e a borrasca nos castigar, continuemos firmes, serenos. Pensemos nisso e comecemos ainda hoje a nossa preparação. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida. 
Em 7.2.2018.

sábado, 11 de maio de 2019

ENQUANTO HOUVER AMIZADE

Um professor perguntou, certa vez, a um de seus alunos qual era o significado da palavra amigo. O menino não soube, de pronto, responder. Ficou, por alguns momentos, em silêncio e, por fim, repetiu a palavra amigo separando devagar as sílabas O professor, porém, insistiu: 
-Vamos! Responda-me. Que significa a palavra amigo? 
Ao fim de dois ou três minutos, então, o garoto respondeu: 
-Penso que amigo é uma pessoa que nos conhece perfeitamente, sabe da nossa vida e, apesar de tudo, ainda nos quer muito bem! 
-Bravo! – Exclamou o mestre. Eis uma resposta que me parece simples e perfeita! Um dos tesouros mais preciosos na vida é a boa amizade! – terminou dizendo ele, com vibração.
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A amizade redobra as alegrias e reparte as penas em duas metades. A amizade é um raio de sol que ilumina a vida. Não há rosto por mais imperfeito, nem espírito por mais sofredor, que um relâmpago da verdadeira amizade não possa tornar encantador. A amizade é um sentimento raro; só são capazes de senti-lo aqueles que são capazes de inspirá-lo. Eis as palavras do escritor Malba Tahan, elevando à sublimidade esse laço bendito que nos une ao próximo. Talvez apenas a arte, tocada pelo condão da Espiritualidade, consiga trazer em versos pronunciáveis, o que a amizade significa para o Espírito. Eis um poema de autor desconhecido: Pode ser que um dia deixemos de nos falar. Mas enquanto houver amizade, Faremos as pazes de novo. Pode ser que um dia o tempo passe. Mas, se a amizade permanecer, um do outro há de se lembrar. Pode ser que um dia nos afastemos. Mas, se formos amigos de verdade, A amizade nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos. Mas, se ainda sobrar amizade, Nasceremos de novo, um para o outro. Pode ser que um dia tudo acabe. Mas, com a amizade construiremos tudo novamente, Cada vez de uma forma diferente, Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos, e nos lembraremos para sempre. 
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A dádiva de um coração amigo é sempre acolhida com benevolência. Ter amizade é ter coração que ama e esclarece, que compreende e perdoa, nas horas mais amargas da vida. A amizade pura é uma flor que nunca fenece. Talvez tenha sido por isso que o filósofo francês Voltaire disse: 
-Todas as glórias deste mundo não valem um amigo fiel. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Amigo, do livro Lendas do Céu e da Terra, de Malba Tahan, ed. Record e no poema Enquanto houver amizade, de autoria desconhecida. 
Em 26.3.2013.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

O SAL DA TERRA E A LUZ DO MUNDO

Algumas estatísticas apontam que ao menos um terço da população do nosso globo é cristã. Cristão é quem segue o Cristo. O termo foi cunhado pelo Apóstolo Lucas, a fim de identificar os que aderiam à Boa Nova, substituindo a denominação anterior de homens do caminho. Com esse número, é de crermos que essa massa qualificada deve fazer a diferença no mundo. Isso porque a regra máxima do Cristianismo é Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Contudo, entre os que nos dizemos cristãos, quantos verdadeiramente harmonizamos nossas ações às propostas do Cristo? Quando levantamos pela manhã, por exemplo, qual é nosso primeiro pensamento? Lembramo-nos de, mesmo em uma frase rápida, agradecer o retorno ao corpo físico, após o repouso noturno e pedir as bênçãos celestes para o dia que se anuncia? Ou será que nosso primeiro pensamento é para o trabalho árduo que teremos que enfrentar e com isso, iniciarmos nossa gama de reclamações? Um rol de reclamações no qual se inclui o ônibus totalmente lotado na ida ao trabalho, as pessoas mal-educadas que não obedecem a fila, aqueloutras apressadas que ficam na porta, criando obstáculos a quem precisa descer no ponto seguinte? Ao tomarmos a primeira refeição, agradecemos o pão, o leite, o café? Ou reclamamos por que falta o queijo, a manteiga, o iogurte, o cereal? Lembramos de agradecer quem nos providencia a roupa ou somente reclamamos por que a camisa não está bem passada ou aquela que queríamos vestir hoje ainda está na lavanderia? Enfim, o exame que devemos nos propor é: somos especialistas em reclamação? Verifiquemos que se primamos por reclamar de tudo e de todos, se vemos defeitos em tudo que nos rodeia: do governo municipal ao nacional, da escola pública à Universidade, da panificadora local ao grande mercado, com certeza, nos tornaremos expert. Expert na arte de reclamar, expert em poluir a psicosfera espiritual do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país. Em tempos em que falamos da transição pela qual passa o nosso mundo, em que aguardamos o mundo novo, com menos violência e um tanto mais de cooperação e paz, que estamos fazendo nós, os seguidores do Cristo? Nosso compromisso é sermos o sal da Terra. O sal que com sua presença minúscula confere um sabor especial aos dias terrenos. Nosso compromisso é sermos a luz do mundo. Luz que deve iluminar os ambientes em que trabalhamos, em que nos movemos. Nosso compromisso é sermos o diferencial, aquele que exercita a capacidade de descobrir o bem, o bom, o belo, em toda parte. Entre as pedras da calçada não tão bem feita, descobrir a pequena flor, que tenta abrir suas pétalas e mostrar a sua beleza. Entre o caos do trânsito, ter o bom senso da paciência, e agradecer a Deus por ter ouvidos para ouvir. Mesmo que sejam as buzinas impacientes dos demais. Ouvir apenas, não aderindo à mesma atitude. Enfim, cumprirmos o que o Cristo espera de nós: a adesão às normas que estabeleceu e espalhar o perfume da nossa presença amiga, acolhedora, harmoniosa, onde quer que nos encontremos. Pensemos nisso, enquanto o sol se espreguiça, as nuvens bocejam e o dia deseja despertar... 
Redação do Momento Espírita 
Em 10.5.2019.