quinta-feira, 30 de novembro de 2017

UM BRASIL INTEIRINHO PARA MIM

Luciana Goldschmidt Costa
Enquanto os dias se consomem em notas tristes de corrupção, ilegalidades, violência; enquanto vemos crianças padecendo abusos de toda sorte e mães chorando a dor de filhos enfermos ou mortos; enquanto assistimos, diariamente, jovens promessas saírem de nosso país, em busca de horizontes largos para a sua criatividade, imaginação e progresso, em distantes terras, assistimos igualmente a muito desânimo tomando conta das gentes. Gente que se refere a um país adormecido que resolveu acordar e para o pior; uma nação que não tem jeito, que nada leva a sério. Por isso e outras tantas coisas, pusemo-nos a pensar, neste Brasil amado. E as letras foram surgindo, como numa catadupa imensa, jorrando abundantes: A minha terra tem o céu azul, é só olhar e ver... Sou do Sul do Brasil. Cresci no país da Amazônia, no país do Pantanal. Aprendi a amar uma bandeira com várias estrelas! Cresci com um orgulho imenso da minha gente que grita em versos e prosa o meu Brasil. Cresci imaginando o povo heroico que bradava às margens do Ipiranga. Tenho amor pelo contorno do meu país do livro de geografia em que estudei. Não desejo estar em outro lugar a não ser no meu país. Seja de corpo presente, seja em pensamentos, seja em orações, sinto orgulho de ser brasileiro. Não faço distinção entre as regiões, todas tão ricas em suas diversas nuances. Se algo desejo para este país amado é que desapareça toda ação maldosa que impede o seu crescimento. 
Desejo que diminua a distância que existe entre as urnas e a compreensão do processo democrático.
Desejo que os maus governantes e todos os que abusam da fé deste povo, visando apenas enriquecer, tomem consciência ou abandonem o poder. 
Desejo que percam força o preconceito, os desmandos, a intolerância. Que aprendamos que somos todos filhos do mesmo chão, abrigados pelo céu de anil e pelas estrelas do Cruzeiro. 
Desejo que olhemos para o pavilhão nacional e sintamos a emoção extravasar chuva pelos olhos, enquanto os versos do hino pátrio morrem na garganta. 
Desejo me sentir brasileiro ao contemplar a baía de Guanabara aos pés da estátua do Cristo Redentor. Não quero mudar a batida do meu coração que, por diversas vezes, pulsa no ritmo do samba, nem mudar as cores da minha alma que, além de um céu azul, tem as cores do frevo, as fitas coloridas do Senhor do Bonfim, e aqueloutras dos pau-de-fitas da dança gauchesca. 
Meu mais puro sentimento diz que a minha essência patriota também está regada pela garoa de São Paulo e refrigerada pelo minuano dos pampas. Diz ainda que a minha fome de justiça e minha esperança brotaram da fenda do chão rachado do sertão nordestino. Quero que a Asa branca venha passar férias no Sul porque quer conhecer nossas belezas e que volte, sem passaporte, para um lar digno no sertão. Neste torrão generoso, tenho certeza de que, enquanto houver essa mistura linda de povos e culturas, enquanto tivermos energia para encher a alma com beleza, ao invés de decepções, podemos lutar unidos. E vencer. Eu sou do Sul e tenho um orgulho imenso disso mas, por Deus, quero você, meu Brasil, inteirinho para mim. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto escrito por Luciana Goldschmidt Costa. Em 30.11.2017.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

POR QUE MATAR SEU FILHO?


RAUL TEIXEIRA
Os três funcionários daquela seção eram bons amigos.
A senhora que ocupava o cargo de chefia era uma espécie de mãe para aqueles dois rapazes.
O horário de expediente não era próprio para intensificar a amizade. Por essa razão Ronaldo, casado, convidou o amigo para visitar sua casa.
Raul, o jovem solteiro, passou a frequentar o lar do colega e os laços do afeto se estreitaram também com sua jovem esposa.
Passado algum tempo, o casal comemorava o nascimento da primeira filha, Ana Cláudia.
O tempo passou. Certo dia, Ronaldo chegou ao trabalho meio cabisbaixo, o que não passou despercebido ao amigo, sempre atencioso e sensível.
O que está acontecendo? Perguntou.
Ronaldo disse-lhe que algo o estava preocupando muito e convidou Raul para tomar o cafezinho habitual, alguns minutos antes. Precisava desabafar.
Mal se sentaram à mesa e Ronaldo foi falando: Sabe que minha esposa está grávida outra vez?
E, rápido, completou, aborrecido: Eu não vou aceitar esse filho. Já marcamos o aborto para amanhã cedo. Vamos tirar a criança.
Raul sentiu como se o chão lhe faltasse sob os pés. Como cristão, não conseguia entender como um pai e uma mãe têm coragem de cometer um crime desses.
Ronaldo continuou: Não dá para aceitar um filho logo em seguida do outro. Nossa menina está com apenas dez meses...
Raul agora entendera melhor as razões do amigo e perguntou, com sincera vontade de obter uma resposta séria: Mas, por que você deseja matar seu filho?
A pergunta caiu como uma bomba no coração de Ronaldo. Ele pensara em abortamento, não no que ele representa: um homicídio.
Raul ainda lhe fez mais uma pergunta: E se sua filha vier a morrer, como ficarão as coisas?
Ronaldo ficou desconcertado, abaixou a cabeça, terminou de tomar seu café e voltaram, ambos, para o trabalho.
Naquela noite, Raul rogou com fervor a Deus para que salvasse aquela criança.
No dia imediato, embora ansioso, não teve coragem para perguntar nada. Temia a resposta.
Porém, Ronaldo tomou a iniciativa: Minha esposa e eu não conseguimos dormir esta noite...
O coração do amigo bateu acelerado...
Logo, Ronaldo concluiu: Resolvemos deixar que venha mais um...
Raul explodiu em lágrimas de profunda alegria. Meses depois estava na festa de um ano de Ana Paula, a segunda filha do casal, contemplando, feliz, o paizão exibindo as duas meninas, uma em cada braço.
O tempo passou. Então, retornando de breve viagem, Raul não encontrou o amigo na repartição, e quis saber o que havia acontecido.
A chefe lhe falou: Então, você ainda não sabe?
Não, me diga o que houve. E a notícia o abalou ao ouvir a resposta: A filha mais velha do Ronaldo morreu.
Raul dirigiu-se imediatamente para o lar dos amigos.
Ronaldo chorando, discretamente, com a segunda filha adormecida em seu colo, disse com profunda dor ao amigo:
Quero lhe agradecer por ter salvado minha vida. Se você não tivesse evitado que eu matasse Ana Paula, a essa hora eu já teria matado a mim, movido pelo remorso e pelo desespero.
Ambos se abraçaram e choraram juntos por algum tempo. Entretanto, Raul não esqueceu de agradecer a Deus por ter atendido as suas preces, poupando a vida daquela criança, que agora dormia, serena, no colo do pai, que um dia havia pensado em matá-la, no ventre da mãe.
Redação do Momento Espírita, com base em fato narrado por Raul Teixeira em palestra na Comunhão Espírita Cristã de Curitiba – PR, em 11.4.2002.
Em 29.11.2017. 
 

terça-feira, 28 de novembro de 2017

ABRA SEU CORAÇÃO

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
A sala estava repleta de convidados, todos curiosos para ver a obra de arte, ainda oculta sob o pano branco.
Falava-se que o quadro era lindo.
As autoridades do local estavam presentes, entre fotógrafos, jornalistas e outros convidados porque o pintor era, de fato, muito famoso.
Na hora marcada, o pano que cobria a pintura foi retirado e houve caloroso aplauso.
O quadro era realmente impressionante.
Tratava-se de uma figura de Jesus, batendo suavemente na porta de uma casa.
O Cristo parecia vivo. Com o ouvido junto à porta, Ele desejava ouvir se lá dentro alguém respondia.
Houve discursos e elogios.
Todos admiravam aquela obra de arte perfeita.
Contudo, um observador curioso achou uma falha grave no quadro: a porta não tinha fechadura.
Dirigiu-se ao artista e lhe falou com interesse: A porta que o senhor pintou não tem fechadura. Como é que o Visitante poderá abri-la?
É assim mesmo, respondeu o pintor calmamente.
A porta representa o coração humano, que só abre pelo lado de dentro.
*   *   *
Muitas vezes mal interpretado, outras tantas, desprezado, grandemente ignorado pelos homens, o Cristo vem tentando entrar em nossa casa íntima há mais de dois milênios.
Conhecedor do caminho que conduz à felicidade suprema, Jesus continua sendo a Visita que permanece do lado de fora dos corações, na tentativa de ouvir se lá dentro alguém responde ao Seu chamado.
Todavia, muitos O chamamos de Mestre mas não permitimos que Ele nos ensine as verdades da vida.
Grande quantidade de cristãos fala que Ele é o médico das almas, mas não segue as Suas prescrições.
Tantos dizem que Ele é o irmão maior, mas não permitem que coloque a mão nos seus ombros e os conduza por caminhos de luz...
Talvez seja por esse motivo que a Humanidade se debate em busca de caminhos que conduzem a lugar nenhum.
Enquanto o Cristo espera que abramos a porta do nosso coração, nós saímos pelas janelas da ilusão e desperdiçamos as melhores oportunidades de receber esse Visitante ilustre, que possui a chave que abre as portas da felicidade que tanto desejamos.
E se você não sabe como fazer para abrir a porta do seu coração, comece por fazer pequenos exercícios físicos, estendendo os braços na direção daqueles que necessitam da sua ajuda.
Depois, faça uma pequena limpeza em sua casa íntima, jogando fora os detritos da mágoa, da incompreensão, do orgulho, do ódio...
Em seguida, busque conhecer a proposta de renovação moral do Homem de Nazaré.
Assim, quando você menos esperar, Ele já estará dentro do seu coração como convidado de honra, para guiar seus passos na direção da luz, da felicidade sem mescla que você tanto deseja.
*  *  *
O olhar de Jesus dulcificava as multidões.
Seus ouvidos atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se encontrasse.
Sua boca, plena de misericórdia, somente consolou, cantando a eterna sinfonia da Boa Nova em apelo insuperável junto aos ouvidos dos tempos, convocando o homem de todas as épocas à conquista da felicidade.

  Redação do Momento Espírita, com base no verbete Jesus, do livro Repositório de
sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco,
ed. LEAL e história de autoria ignorada.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 11 e no livro Momento Espírita, v. 4,  ed. FEP.
Em 18.11.2013.

http://momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2260&let=&stat=0

DETALHES DA INGRATIDÃO

Lobsang Rampa
Conta-se que em Londres vivia um funcionário da limpeza pública chamado Mollygruber. Idoso, era estimado por todos pelos valores morais que cultivava. Uma manhã, quando recolhia o lixo do parque onde trabalhava, viu que um menino se debatia desesperadamente nas águas do lago. Logo percebeu que o garoto estava se afogando. Pessoas se aglomeravam, assistindo curiosos, barulhentos, sem nada fazer em auxílio à criança. O velho trabalhador, embora com suas dores reumáticas, se atirou na água gelada. Com dificuldade, trouxe o menino são e salvo, de volta às margens do lago. Dada sua saúde precária, caiu desmaiado ali mesmo. A ambulância foi chamada e ele foi levado ao hospital. Seu feito logo ganhou as páginas dos jornais. Enquanto isso, a mãe do menino que fora salvo, chegou ao local e começou a examinar o filho, totalmente transtornada. Em dado momento, olhou para a cabeça do menino e notou a falta do boné que ela dera de presente a ele, naquele dia. Começou a gritar e a reclamar, dizendo que o velho roubara o bonezinho do seu filho. E exigia que trouxessem de volta o boné. Como ninguém lhe atendesse o desejo, por totalmente descabido, ela foi até o hospital. Nem se dera conta de que a vida de seu filho, o bem mais precioso, fora preservada. Que, graças a Deus, ele estava bem porque fora retirado da água, antes de ficar enregelado. Não. O que ela queria era o bonezinho do garoto. Chegando ao hospital, exigiu ver o velho que realizara o furto. Tanto gritou e fez escândalo, que o médico de plantão, indignado, lhe disse: 
-Se a senhora não deixar o nosso herói descansar e se recuperar em paz, eu chamo a polícia para prendê-la. 
Com o choque, a mulher se calou e foi para casa. No dia seguinte, o idoso trabalhador morreu. Os moradores da região, onde ele vinha servindo com retidão, há anos, inundaram o parque de flores e de letreiros com mensagens de gratidão. Era a sincera homenagem a quem doou a própria vida para salvar uma criança desconhecida. Por vezes, esquecemos de ser gratos a dádivas que nos são ofertadas. Em vez de lembrarmos das alegrias que nos chegam, dos amigos que nos brindam com sua presença, lembramos somente da maldade com que fomos alcançados em algum momento. Assim, um amigo nos oferece seu carinho e atenção por anos. Certo dia, em que ele não está bem, e nos dirige uma palavra infeliz, de imediato o descartamos de nossa convivência. E, dali por diante, a todos os que encontrarmos, diremos da nossa mágoa, da agressão que recebemos, da má educação do ex-amigo. Contudo, nos dias de felicidade e bem querer, não ficamos alardeando tudo o que aquela pessoa nos ofereceu. Esquecemos de que passou a noite conosco, no hospital, quando nos acidentamos e nossos familiares estavam distantes. Olvidamos que nos estendeu a carteira farta, nos dias das nossas necessidades, nunca pedindo pagamento dos dispêndios que teve conosco. Não recordamos dos dias de alegria das férias compartilhadas, dos passeios realizados, dos momentos em que nos alimentou a alma com a sua alegria e disposição. Pensamos somente no ato infeliz de um dia, de um instante. Pensemos um pouco se, ante as bênçãos que nos chegam, não estamos agindo como aquela equivocada mãe. Pensemos. 
Redação do Momento Espírita com base em antiga história de Lobsang Rampa.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

GENTE PRECISA DE GENTE

A senhora chegou ao consultório sozinha. Com suas sete décadas de vida, era totalmente independente. No entanto, embora o aparente vigor físico, as faces se mostravam emurchecidas, como flor que perdera o viço das manhãs. Iniciada a consulta, após a descrição dos pequenos males que a incomodavam, o médico decidiu ir mais fundo. Por que um olhar tão apagado, como se os dias não tivessem mais brilho? Por isso, de forma sutil, foi inquirindo a paciente, a fim de que lhe dissesse como transcorriam os seus dias, como era sua vida. Ela era viúva, disse. O marido se fora há alguns anos. Ela morava só. Tivera cinco filhos. Todos haviam cursado os bancos universitários e exerciam profissões com carreiras exitosas. Quatro deles eram casados, tinham filhos. A mais jovem, no entanto, não se consorciara. Preocupara-se em atender aos seus sonhos acadêmicos e, perseguindo-os, deixara de lado o matrimônio. Morava em um pequeno apartamento e tinha, para lhe fazer companhia, um cachorro. Entendia-se muito bem com ele, que a aguardava, toda noite, à porta, vigilante. Era o momento em que ela descontraía, servia-lhe a refeição e conversava com ele, como se falasse a uma criança. Aquilo até parecia estranho, dizia a senhora. Mas, então, marejando-lhe os olhos, confidenciou: 
-Vou lhe dizer uma coisa, doutor. Tenho netos de todos os filhos casados. Costumo visitá-los nos finais de semana, nos feriados, nos momentos em que sei que estão em casa. Eu chego, vou logo anunciando: “Vovó chegou! Oi, criançada.” Nenhum deles vem ao meu encontro. Se estão em frente à TV, não param de assistir ao que seja para me cumprimentar. Se estão de olho no celular, continuam a digitar, a passar mensagens, a ler o que alguém distante lhes mandou. É como se eu não existisse. E é sempre assim. Dói na alma, doutor. Nenhum sorriso, nenhum abraço, mesmo que eu me demore em suas casas. Não largam do celular, não se afastam da TV. Agora, eu lhe digo o seguinte: quando vou à casa da minha filha, basta que eu ponha os pés para dentro do apartamento, o cão corre ao meu encontro. Ele salta, pula de alegria, me envolve as pernas com as suas patas como se fosse um abraço. Sento-me à mesa para o café, o chá, uma conversa com minha menina. O cão deita aos meus pés e fica ali. De vez em quando, ele roça suas patas em mim, como a dizer: “Oi, estou aqui.” Pois é, doutor, até parece que o cão é o meu único neto. Dá para acreditar numa coisas dessas? 
* * * 
Todos desejamos ser amados. Todos precisamos de carinho, de atenção. Quando a dor nos dilacerar a alma, quando nos sentirmos sós, quando desejarmos ardentemente que alguém nos abrace, não importarão os milhões de amigos que tenhamos em nosso Facebook, os que nos seguem no Twitter. Ou as centenas de mensagens, fotos e vídeos que nos cheguem diariamente pelo Whatsapp. Nada disso substitui um olhar de amor, uma carícia de ternura, um abraço envolvente. Por isso, sirvamo-nos do que a tecnologia nos propicia mas não esqueçamos de que somos gente. E gente precisa de gente perto de si, de calor humano, de afago. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. Em 27.11.2017. 

domingo, 26 de novembro de 2017

UM DETALHE IMPORTANTE

Ao nos ensinar a orar, frisou Jesus que não seria pelo muito falar que seríamos atendidos por Deus, Nosso Pai. Ao contrário, enfatizou no templo, aos apóstolos, que a prece do publicano tinha maior poder, pela humildade de que se revestia. Alguns de nós, quando convidados a orar em público, declinamos da oferta, porque acreditamos não saber dizer palavras bonitas. Pensando nesses termos, é que a história seguinte se faz muito oportuna. Uma mulher morava em uma humilde casa com sua neta muito doente. Como não tinha dinheiro para levá-la ao médico, decidiu enfrentar a caminhada de duas horas até a cidade próxima, em busca de ajuda. No único hospital público da cidade, foi orientada a trazer a neta, que deveria ser examinada. Pensando em como faria para trazer a criança, pois ela não conseguia sequer se manter em pé, a mulher fez o caminho de volta, desconsolada. Ao passar defronte a um templo religioso, decidiu entrar e, porque visse outras pessoas orando, pediu a elas que orassem por sua netinha. Passados alguns minutos, ela mesma se animou a fazer sua prece e em voz alta foi falando:
-Jesus, sou eu. Olha, a minha neta está muito doente. Eu gostaria que você fosse lá para curá-la. Jesus, você pega uma caneta que eu vou dizer onde fica. 
Depois de uns segundos, continuou: 
 -Já está com a caneta, Jesus? Então, você vai seguindo em frente e quando passar o rio com a ponte, você entra na segunda estradinha de terra. Não vai errar, tá? 
Os que estavam por perto acharam interessante aquele monólogo. Alguns, no entanto, mal podiam conter o riso. Mas a senhora, de olhos fechados, continuou: 
-Andando mais uns vinte minutinhos, tem uma vendinha. Pega a rua da mangueira que o meu barraquinho é o último da rua. Pode entrar que não tem cachorro. Olha, Jesus, a porta está trancada, mas a chave fica embaixo do tapetinho vermelho, na entrada. O senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha. Mas, olha só, Jesus, por favor não esqueça de colocar a chave de novo embaixo do tapetinho vermelho, senão eu não consigo entrar.
Terminada a oração, ela se levantou e foi para casa. Ao entrar, sua netinha veio correndo recebê-la.
-Minha neta, você está de pé? Como é possível? 
E a menina respondeu: 
-Vovó, eu ouvi um barulho na porta e pensei que fosse a senhora voltando. Aí, entrou em meu quarto um homem alto, com um vestido branco, e mandou que eu me levantasse. E eu me levantei. Depois, Ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha que ir embora, mas pediu que eu avisasse a senhora que Ele iria deixar a chave embaixo do tapetinho vermelho. 
* * * 
 A verdadeira oração não necessita de palavras difíceis ou muito buriladas. É a manifestação espontânea do coração que se abre num colóquio íntimo, pedindo, agradecendo, louvando, reconhecendo a própria pequenez e a grande necessidade. A força de uma prece não reside apenas na coordenação das palavras proferidas, mas na intenção que o pensamento exterioriza, para a fonte de recursos a que se dirige. Por isso mesmo, o Mestre de Nazaré ensinou: 
-Buscai e achareis. Batei e abrir-se-vos-á. 
Redação do Momento Espírita, com base na história O tapetinho vermelho, de Célia Vieira, do jornal O espírita fluminense, de out/nov/2001 e do texto O poder da prece, de Mauro Paiva Fonseca, da revista Reformador, de nov/2001, ed. Feb. Em 22.11.2013.

sábado, 25 de novembro de 2017

O DESTINO DAS NAÇÕES

Henri Lacordaire
É, em grande parte, no seio das famílias que se prepara o destino das nações. Esta afirmativa é do papa Leão XIII e tem um sentido muito profundo. Ao dizer que o destino das nações é preparado no seio das famílias, por certo o papa quis se referir aos valores que são praticados dentro dos lares. Sim, porque aqueles que hoje governam os países e conduzem o destino dos seus cidadãos, já foram crianças e conviveram no seio familiar. Em tese, nas suas decisões sempre terão grande peso as diretrizes pelas quais foram conduzidos ao longo da infância e juventude. Quem contestar esta tese estará negando, por isso mesmo, a eficácia da educação. Henri Lacordaire, o ilustre vigário da Catedral de Notre-Dame de Paris, disse: A sociedade não é mais do que o desenvolvimento da família: se o homem sai da família corrupto, corrupto estará para a sociedade. Os valores morais vividos na família, principalmente pelos pais, são decisivos na formação do homem de bem de qualquer país. É assim que o destino das nações é resolvido no seio das famílias, pois é o lar que forma o cidadão. É o lar que forma ou deforma o profissional de todas as áreas. É a família que traça o caminho que seus membros devem percorrer. É por essa razão que o cultivo das virtudes dentro dos lares é essencial para melhorar essa célula básica da sociedade chamada família. Nas resoluções tomadas, no dia-a-dia de qualquer pessoa, pesarão as lições aplicadas na formação dos seus caracteres desde a infância. Se as lições foram de corrupção, de desrespeito à vida, de supremacia da força bruta, de egoísmo e de preconceitos variados, essas serão as diretrizes que irão nortear seus atos. Se as lições foram de honestidade, respeito pelo semelhante, fraternidade, valorização da vida no seu mais amplo sentido, essas virtudes vão basear suas decisões. É assim que a construção de um mundo melhor depende das lições que estão sendo passadas hoje no seio das famílias. Não se constrói um edifício começando pela cobertura mas pelas bases, pelos alicerces. E a base de qualquer sociedade, são os lares. Se nas bases forem fincados os pilares sólidos das virtudes, todo o edifício terá segurança e nobreza. Mas, se as bases estiverem apodrecidas pela corrupção dos costumes, então o edifício estará gravemente comprometido e tende a desabar. É necessário e urgente que as famílias pensem nisso com carinho pois o edifício social depende de cada um de nós. Se não desejamos guerras, corrupção, violência, precisamos agir hoje, fundamentando os alicerces dos lares com os pilares da paz, da honestidade, do respeito à vida. Esse é o único caminho, não há outro. Não haverá um país moralizado sem cidadãos moralizados. Não haverá uma nação pacificada sem a pacificação dos seus habitantes. 
 * * * 
PAPA LEÃO XIII
A moral, como ensinou Jesus, o Sábio de todos os tempos, é a regra de bem proceder. Por isso, existem alguns valores que não podem ser esquecidos nem negligenciados, no contexto educacional: a justiça, o amor e a caridade. Estas são as virtudes básicas para uma sociedade mais feliz. Jesus as viveu e ensinou como o resumo de todas as Leis, da seguinte forma: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um ensinamento simples e eficaz. Basta fazer. Eis o grande desafio para quem deseja construir uma família pacificada, uma cidade justa, uma nação de bem, um planeta melhor. Pense nisso, mas pense agora! 
Redação do Momento Espírita, com frases do Papa Leão XIII e de Henri Lacordaire, do livro A sabedoria dos tempos, ed. Centro de estudos Vida e Consciência. Em 31.01.2010.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

ESSÊNCIA IMORTAL

Um homem adquiriu uma casa antiga. Mais de um século de construção, mas bem conservada. Contudo, logo que entrou na edificação, se deu conta de que muitos consertos eram necessários. Um detalhe aqui, outro ali. E, com certeza, ela precisava de uma pintura nova. Por isso, ele decidiu retirar a tinta antiga e começou a raspar as paredes, a cor velha, um azul sujo e desbotado. Para sua surpresa, na medida em que ia retirando a cor azul, foi aparecendo por baixo uma outra cor, rosa, mais velha do que a anterior. Raspou tudo. Aí apareceu uma terceira camada de tinta, cor creme. Depois o branco. Ele foi descobrindo que cada morador que por ali passara, pintara a casa da cor que lhe agradava, sempre cobrindo a anterior. Constatando isso, ele decidiu descobrir qual seria a cor original daquela velha casa. Obstinado, pacientemente, foi retirando camada por camada. Finalmente, quando acabou o seu trabalho, teve uma grande surpresa. Mais bonita do que qualquer tinta, havia uma madeira linda, o maravilhoso pinho de riga, com nervuras formando arabescos cor castanha contra um fundo marfim. Ficou encantado e profundamente feliz – pinho de riga puro, sem nenhuma mão de tinta. Um tesouro para ser admirado. 
* * * 
Nós somos como a casa velha, com camadas e camadas de tintas de cores diversas. Para cada ocasião, apresentamos uma das cores: o azul para os momentos de alegria, o rosa para aqueles serenos, harmoniosos, o vermelho para as horas turbulentas... As pessoas, que privam do nosso cotidiano, nos conhecem de uma ou de outra forma, dependendo das horas que estejam conosco. Alguns dirão que somos alegres, outros que somos muito sérios, outros ainda, que somos agitados, tensos. Tantas são as cores para os períodos mais diversos que, por vezes, nós mesmos temos dificuldades em descobrir como somos realmente. Somos o amarelo do intelecto, o verde das festas ruidosas, o branco envelhecido dos dias de cansaço? Quem somos, afinal? Como somos, de verdade? Importante que nos autoconheçamos, que saibamos em profundidade dos nossos sentimentos, das nossas aspirações, dos nossos pensamentos. Autoconhecimento. E, com um detalhe muito importante: saber que não somos um corpo que anda, fala, trabalha, executa tarefas, se locomove de um para outro lado. Somos um Espírito imortal. Sim, o pinho de riga puro. A essência imortal. E esse Espírito imortal é quem sente, pensa, idealiza e conduz o corpo com todas suas camadas grossas ou finas de diferentes pinturas. Definirmo-nos como ser humano integral é o que nos compete. Permitir que apareça, com toda sua beleza, esse pinho de riga puro, com seus arabescos maravilhosos. Descobrir que precisamos retirar a camada rude da nossa indiferença para deixar que o fundo marfim do amor se apresente. Extravasar em ação nossa vontade de aprender, nosso intuito de melhorar, de apresentar o que tenhamos de melhor para esse mundo maravilhoso em que se movimenta o corpo que comandamos. Essência imortal, filhos de Deus, herdeiros da Sua luz e do Seu amor. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, pt. 1, do livro Um céu numa flor silvestre, de Rubem Alves, ed. Verus. Em 24.11.2017. 

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

MISSIONÁRIOS DO AMOR

Quando se fala em missionário, a primeira imagem que nos acode à mente é a de um religioso devotado ao bem, alguém que dedique seus dias e noites, de forma integral, para o bem dos seus irmãos, para a Humanidade. No entanto, missionários existem de diversos portes. E alguns muito próximos a nós. Por vezes, pais amorosos, que recebem nos braços filhos deficientes e os sustentam por toda uma vida, com seus cuidados e extremada ternura. De outras, amigos excepcionais, que estendem mãos de veludo para aplacar as dores dos espinhos nas carnes alheias. Filhos dedicados que nascem para iluminar nossas vidas, à semelhança de astros luminíferos em nosso céu borrascoso. Recordamos de uma família que conhecemos. O segundo filho do casal nasceu portador de séria enfermidade que, a pouco e pouco, lhe foi retirando a mobilidade. Primeiro foi o andar impreciso, depois somente com amparo forte, até à imobilidade dos membros inferiores. Da dificuldade de coordenação motora à dependência total para as mínimas necessidades: beber um copo d'agua, levar o alimento à boca. Enquanto o drama era vivido e sofrido pelos pais, a esposa engravidou pela terceira vez. O diagnóstico nada animador prescrevia um abortamento, dadas as complicações cardíacas da gestante, além da possibilidade do bebê ser portador de microcefalia. Estribado na fé, o casal aguardou o tempo. O bebê nasceu perfeito. Garoto feliz, demonstrou, desde os primeiros momentos, o quanto era grato por estar vivo. Mais de uma vez, deixava dos folguedos para correr ao pescoço da mãe, abraçá-la e dizer: Eu amo a minha vida, amo a minha casa, amo todos vocês. A nota mais interessante começou a ser observada quando o pequeno não tinha mais que ano e meio. Colocava-se em pé em sua cadeirinha e, com cuidado, ajudava colocar a alimentação na boca do irmão. Na sua linguagem infantil, pronunciava: Eu judo o mano. E na medida em que cresceu, a ajuda se tornou mais constante e efetiva. Hoje, quase aos sete anos, o pequeno é o guardião do seu irmão. Dormem no mesmo quarto, por insistência dele. Não são raras as madrugadas em que ele se levanta do leito, atravessa o corredor, se dirige ao quarto dos pais para pedir ajuda para o mano, que precisa alguma atenção maior. Nenhuma queixa, nenhuma reclamação. Deixa de brincar com os amigos para se dedicar ao irmão. Busca água, conduz a cadeira de rodas, joga vídeo-game, assiste filmes, comenta futebol. Dia desses, na sua inocência infantil, olhou para a mãe e lhe disse: Mãe, sabe por que eu nasci? E, ante a surpresa da genitora, aduziu: Eu nasci para cuidar do mano. 
* * * 
Missionários existem, sim, em nossos lares. Anônimos, ocultos, realizam sua tarefa. Missionário é todo aquele que se entrega em totalidade à tarefa de amor, na obscuridade da estrada ou nos palcos da ciência, da filosofia ou da religião. Missionário é todo aquele que traz a consciência do seu dever de servir além e acima de qualquer circunstância. Movido pelo amor, é qual chama ardente que não se extingue. Sol de primeira grandeza que ilumina outras vidas, em barracos infectos ou em mansões suntuosas. Sua missão é amar e servir. Como a violeta escondida na ramagem do jardim, exala seu perfume e se esconde na capa humilde de servidor. 
 * * * 
Quem ama, coroa as horas de luz. Quem serve, adorna o coração de ventura imorredoura. Saiamos na direção do sol para servir. 
Redação do Momento Espírita, com pensamento final do verbete Servir, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 23.11.2017.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

SER LUZ

HUMBERTO DE CAMPOS
E
CHICO XAVIER
O crepúsculo descia num deslumbramento de ouro e brisas cariciosas. Ao longo de toda a encosta, acotovelava-se a multidão. Centenas de criaturas se aglomeravam ali, a fim de ouvirem a palavra do Senhor, na paisagem que se aureolava dos brilhos singulares de todo o horizonte pincelado de luz. Eram velhinhos trêmulos, lavradores simples e generosos, mulheres do povo agarradas aos filhinhos. Entre os mais fortes e sadios, viam-se cegos e crianças doentes, homens maltrapilhos, exibindo os vermes que lhes corroíam as mãos e os pés. Todos se comprimiam ofegantes. Ante os seus olhares esperançosos, a figura do Mestre surgiu na eminência enfeitada de verdura, onde sopravam brandamente os ventos amigos da tarde. Deixando perceber que se dirigia aos vencidos e sofredores do mundo inteiro, Jesus, pela primeira vez, pregou as bem-aventuranças celestiais. Sua voz caía como bálsamo eterno, sobre os corações desditosos. Aila estava entre eles. Nunca ouvira alguém falar assim. Algo naquele estrangeiro a encantava. O filho pequeno que carregava nos braços, antes agitado, assustado com os ruídos externos da multidão, agora estava calmo, de olhos abertos, como se também prestasse atenção nas palavras do Mestre. Em determinado momento, ela teve a impressão de que seus olhares se entrecruzaram. Ele lhe parecia familiar... De onde O conhecia? Sentiu algo singular que lhe tocou as cordas íntimas da alma. Parecia um convite... mas, um convite para quê? Nesse exato instante, a voz marcante deixava no ar as palavras inesquecíveis: 
-Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte. Nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e ilumina a todos que estão na casa. Assim, resplandeça a vossa luz adiante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. Ela, então, compreendeu o suave chamado: Ele queria que ela fosse luz ao Seu lado.
* * * 
Num planeta onde se fala de tanta sombra, de tantas dificuldades, de tamanha noite na alma, temos ideia do que significa ser a luz do mundo? Parece algo pretensioso? Algo apenas para grandes Espíritos? Não, não se trata de ser a luz do mundo, isto é, uma única luz que iluminará todas as trevas do globo. O que o Mestre quis dizer foi que a claridade na Terra virá de cada um de nós, de nossas potencialidades, de nosso esforço individual, de nossas virtudes. Ele via em nós, em gérmen, tudo que tínhamos ainda por desenvolver. Via na semente pequenina a certeza da árvore frondosa. Seu recado era simples: Brilhe, deixe sair essa luz que você já dispõe, não a esconda, não permita que suas imperfeições, suas mazelas, o impeçam de irradiar essa luminescência grandiosa. E Ele foi e é a prova viva de que isso é possível, pois iluminou o mundo naqueles momentos benditos em que esteve entre nós. Ele se fez Luz do mundo e veio nos convidar a sermos igualmente luz.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.11, do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Em 22.11.2017.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

DESTINAÇÃO DIVINA

Malba Tahan
Narra-se que um caçador, em terras canadenses, surpreendeu certo dia um ninho de águias, construído em rocha alta, nas vizinhanças da cabana onde se abrigava, durante a temporada de caça. Resolveu tirar do ninho um dos filhotes e levá-lo consigo. A ave, ainda implume se deixou conduzir. O caçador, finda a temporada, retornou ao próprio lar e aos demais afazeres de sua vida. Porque fosse também afeiçoado à criação de algumas espécies animais, mantinha em seu vasto terreiro, um expressivo número de pintinhos. Foi ali, junto aos demais filhotes de galinha, que a pequena águia passou a viver, esquecendo-se de sua origem. O tempo passou. As penas cresceram no corpo da ave de rapina, fazendo com que ela se destacasse do grupo. Contudo, passava os dias a ciscar, tal qual o faziam os pintainhos. Certo dia, quando a pequena águia repousava tranquila, avistou uma grande águia que sobrevoava o vasto terreno. Observou-lhe o voo majestoso, o domínio dos céus. Era um ponto negro movendo-se pelo anil do firmamento. Então, uma estranha agitação tomou conta da aguiazinha. Desdobrou as asas, ficou na ponta das suas patas e começou a correr. Depois, soltou um grito estridente e alçou voo, em direção à sua irmã. Em breve, também ela não passava de um pequenino ponto escuro na linha do horizonte. Descobrira, enfim, que não nascera para viver nas estreitas vias de um quintal, limitada. Seu destino era o infinito, a amplidão, conquistar as rochas mais altas, buscar os rochedos agudos. Enfim, era a vida total, plena de uma águia para lá das nuvens e das tempestades. À semelhança da pequena águia, muitos dos que vivemos na Terra nos esquecemos de nossa origem Divina. Olvidamos que fomos criados pelo amor de Deus e destinados às alturas da perfeição. Consequentemente, da felicidade. Aquartelamo-nos na estreiteza do mundo material que nos cerca e nos ocupamos com pequenas rixas, disputas por coisas passageiras. Isto porque, no mundo, os valores que não são reais mudam constantemente, valendo hoje muito e amanhã mais nada. No entanto, como a aguiazinha, chegará um dia, breve ou distante, em que haveremos de redescobrir nossa filiação Divina e então, atraídos pelas vozes sublimes, desejaremos atingir as amplidões da verdade. Só assim alcançaremos a felicidade suprema, quando sentiremos nos abrasar pelas chamas do amor de Deus e, qual uma águia, empreenderemos o garboso voo rumo à perfeição, para o Alto, para cima. 
 * * * 
É no hemisfério norte que habita a águia que é considerada a rainha dos céus. Chama-se águia real e atinge 2 metros de envergadura. A águia-do-mar é a ave símbolo dos Estados Unidos. Ela foi escolhida pela sua coragem e beleza. Pode ser encontrada na América do Norte e na Sibéria. Mais imponente do que o voo das águias é o da alma, quando se deixa levar pelas grandiosas realizações da vida, que ultrapassam a estreiteza de uma jornada na Terra, curta e breve ante a Eternidade. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. A aguiazinha desperta, do livro Lendas do céu e da Terra, de Malba Tahan, ed. Record. Em 22.03.2010.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

UM HOMEM SIMPLES, UM HOMEM EXTRAORDINÁRIO!

César Soares dos Reis
César residia em Três Corações, Minas Gerais. Certo dia, um amigo o convidou a ir a Uberaba, para visitar o missionário do amor, Francisco Cândido Xavier. Era tudo o que ele sempre desejara: conhecer pessoalmente aquela criatura que exalava bondade e atendia a tantas pessoas, de forma simples, sem afetação alguma. Um homem chamado Amor. Chegou em casa alvoroçado e disse para a esposa: Aurinha, vamos para Uberaba. Arrume as malas. Ela olhou para o marido e ponderou que tinham três crianças pequenas, que exigiam cuidados. 
-Vá você, disse ela. E depois me conte. 
Na madrugada, ele despertou e preparou-se para partir. A esposa o beijou e lhe entregou um embrulho: 
-Amor, eu não poderei ir ver o Chico. Mas fiz um bolo para ele. 
Pelos longos quilômetros até Uberaba, ele foi pensando o que diria ao médium tão admirado e tão amado. Quando se aproximaram da casa de Chico, viu a fila enorme, aguardando para falar com ele. César entrou na fila. O coração pulsava acelerado. Foi quando sentiu um ponto de perfume. Era um ponto mesmo. Aquele perfume não se espalhava. 
-Que coisa estranha! – Pensou. Um ponto de perfume localizado. 
Olhou para os lados. As pessoas pareciam não sentir aquele aroma tão bom. A fila foi andando. Finalmente, ele estava em frente ao Chico. Estava tão emocionado que não conseguia falar. Ficou olhando aquele homem simples e tão extraordinário. Qualquer coisa que dissesse poderia estragar o momento tão especial. Naqueles poucos segundos, Chico levantou os olhos, sorriu e disse: 
-O Espírito Sheila foi receber você lá na porta, não é mesmo? 
César ficou mais emocionado. O ponto de perfume que ele sentira fora a presença espiritual de Sheila, que costuma, quando se aproxima, exalar delicado perfume, normalmente percebido pelos presentes. Como continuasse imóvel frente ao médium, Chico esticou a mão, pegou o embrulho e com sua voz doce e inesquecível, falou: 
-Diga à Dona Aurinha que fico muito agradecido pelo bolo que ela fez para mim, com tanto carinho. 
Quando se deu conta, César estava do lado de fora, no pátio da casa. Ele estivera frente ao Chico e não dissera uma palavra. Mas, tudo o que acontecera, calara fundo em sua alma. Especialmente, Chico saber o nome da sua esposa e que ela havia feito um bolo para ele. 
* * * 
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
O CHICO XAVIER
Muitos casos existem relatados por aqueles que estiveram próximos a Chico Xavier. Casos que dizem da sua extraordinária mediunidade, e da não menos extraordinária humildade. Um homem que se sentava para receber as pessoas, que tinha uma palavra de bom ânimo e ternura para cada um. Um homem que beijava as mãos de quem beijasse as suas, em retribuição. Um homem simples. Um homem que viveu mais de noventa anos nesta Terra e somente semeou o bem. Partiu tão delicadamente como vivera. Como ele mesmo anunciara, partiu num dia em que a nação estava feliz: comemorava o pentacampeonato mundial de futebol. Para todos os que cremos na Imortalidade da alma, a certeza de que Francisco Cândido Xavier não morreu, somente retornou ao lar primitivo, ao mundo espiritual, depois da exitosa jornada terrena. Também de que prossegue no trabalho do bem e do amor. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A primeira vez é inesquecível – um bolo e uma cirurgia, de César Soares dos Reis, da Revista Cultura Espírita, julho 2017. Em 20.11.2017.

domingo, 19 de novembro de 2017

DESSAS PEQUENAS FELICIDADES CERTAS

Houve um tempo em que na minha janela havia um pequeno jardim seco. Era um tempo de estiagem,de terra esfarelada,e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega:era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim. 
 * * * 
Meireles, Drummonds, Kolodys, Bandeiras, dos Anjos, Alves, Pessoas, Quintanas - esses menestréis das linhas escritas - parecem, por vezes, almas que enxergavam mais do que nossos olhares ordinários conseguem ver. Como se, observando uma mesma paisagem, um mesmo rosto, um mesmo sentimento, percebessem ali dimensões desconhecidas para os olhos duros, entorpecidos, de uma Humanidade cambaleante. Mostravam-se dotados de sentidos que não temos, ou talvez, como afirma despretensiosamente Cecília Meirelles (uma mulher de olhos tortos, segundo ela mesma), simplesmente aprenderam a olhar. Notar as minúcias, as pequenas grandes coisas, as singelas belezas, faz-nos desenvolver como que esse novo sentido, um novo grau de percepção, que se utiliza dos sensores físicos, porém apenas como instrumentos, pois o que sente, o que capta, habita certamente outras esferas sensoriais. Um sentido que nos faz atentos, que nos faz conscientes de toda finalidade do viver, constantemente – como se jamais deixássemos de perder o controle, o leme da embarcação que conduzimos através de tantos e tantos oceanos universais. A felicidade almejada no segredo ou no proclamar de nossos sonhares - o júbilo pleno - certamente ainda está distante de nossas possibilidades – mesmo porque nossos anseios ainda encerram a fragilidade do pueril e do imediato. Mas é certo, e muito certo, que esta conquista não é futura, ela é construída de átimos sucessivos, aos poucos, e agora. Sempre idealizamos uma felicidade prêmio, um tesouro ao final de uma longa e tortuosa jornada. Porém, a conquista da maturidade psicológica nos fará entender que ela é, em verdade, uma construção ao longo do caminho. Uma edificação gradual e certa, feita de milhares de pequenos cristais preciosos, como essas pequenas felicidades certas que a sensibilidade de Cecília nos faz divisar: Nasceres do sol. A harmonia da fauna, da flora. O encanto dos incontáveis tons que pintam o céu todas as manhãs – dos cinzas aos anis. E de tantas outras coisas...
 * * * 
Andrey Cechelero
Repare mais no mundo à sua volta. Não apenas para constatar seus problemas – como costumeiramente fazemos - mas principalmente para descobrir suas alegrias, seus valores, suas virtudes. Aprenda com os poetas e seus olhos tortos, e deixe-se encantar pelo pardal que pula no muro, pelas borboletas brancas que voam juntas; pelo fechar dos olhos de um gato, pelo cantar distante de um galo, pelo voo de um avião; pelo sorriso de um estranho, pelo encontro da água com a terra fértil de um pequeno jardim... Troque, como afirma uma jovem poetisa, um relógio de tempo rápido por um relógio de horas longas. Para olhar a natureza, e apreciar os pássaros. Troque um dia apavorado, preso, rápido, por um dia solto, leve e comprido. Troque, aprenda, cresça. Inunde sua vida dessas pequenas felicidades certas.
Redação do Momento Espírita com base no cap. A arte de ser feliz, do livro Escolha o seu sonho: crônicas, de Cecília Meirelles, ed. Record e no cap. Dessas pequenas felicidades certas, do livro O que as águas não refletem, de Andrey Cechelero, ed. do autor. Em 13.2.2013.

sábado, 18 de novembro de 2017

DESPERTA

CRISTIANO MACEDO
Na sua Carta aos Efésios, o Apóstolo Paulo escreve: 
-Desperta, ó tu que dormes. 
Nos textos da Boa Nova, o Mestre Nazareno e Seus seguidores nos apresentam várias situações em que o sono provocou dores e lágrimas, decepção e frustração. No Horto das Oliveiras, enquanto Jesus permanece vigilante, em oração, o Apóstolo Pedro sucumbe ao sono. O Amigo Celeste o desperta, pedindo para que vigie com Ele. De quantas dores não se terá depois revestido a alma de Pedro, ao lembrar que aquela era a última noite do Amigo na Terra. Que aqueles eram os derradeiros minutos em que estariam juntos na carne! Lázaro mergulha no sono da morte aparente, e o Cristo o desperta, ao comando da Sua voz.
-Vem para fora! – Ordena o Mestre. 
E, embora as tiras de pano com que se envolviam os cadáveres, Lázaro chega à porta do túmulo. Das sombras para a luz! A jovem filha de Jairo, chefe da sinagoga, despertou da sua letargia, pela ação da vontade do Mestre. Ele a fez retornar ao corpo físico para testemunhar a ação da misericórdia de Deus sobre o solo planetário. 
-Menina, levanta! 
É a ordem que expressa. E a garota, abrindo os olhos, levanta-se e diz que tem fome. O Apóstolo Paulo falava sobre a vida eterna e um jovem de nome Eutico, que assistia à palestra, dormiu e tombou de uma janela, em grave acidente. Paulo desce os degraus, vai à rua e o atende, retornando depois para a atividade de pregação. Dorcas, a costureira cristã, é dominada pela letargia. Encontra, no entanto, a força de vida ao despertar sob a ação do poder magnético do Apóstolo Pedro. Ainda hoje, um agigantado contingente de almas reencarnado sob os céus do planeta, se mantém num estado de sono. Não são poucos os que dormem sob os acolchoados da vaidade e do orgulho. Vivem pesadelos permanentes que lhes mostram o quanto estão perdidos na pauta das suas existências. São muitos os que adormecem sobre os panos da inveja e do despeito. Esses, envolvidos em seu egoísmo, se desesperam por sentir que o mundo avança em pleno espaço sem lhes pedir qualquer permissão. Multiplicam-se os que vivem entorpecidos, atados a culpas, infelicitando-se durante largo período. Existem ainda os que estão anestesiados, em pleno sono da indiferença, da agressão doméstica, da maldade e da crueldade. Há tantos seres que ainda não despertaram para a noção de si mesmos, dos deveres que os trouxeram à Terra ou dos caminhos que precisam ser trilhados. Seguem narcotizados por si mesmos, cheios de si, orgulhosos, frios, prepotentes. Vivem os dias sem maiores objetivos. Atendem suas necessidades básicas, trabalham, comem, dormem. Contudo, exatamente como no Jardim das Oliveiras, o Mestre permanece vigilante. E nos convida ao entusiasmo por crescer, à alegria de servir e de nos renovarmos. Toda Sua mensagem é um convite para o despertar da alma humana para a excelente vida que pulsa. 
 * * * 
Viemos à Terra com o nobre objetivo de progredir. Não nos permitamos o anestésico da indiferença, nem a sonolência das horas sem objetivos. Estudemos! Trabalhemos! Cresçamos! Conquistemos as estrelas! Somos filhos de Deus! Persigamos a luz, chama imortal que somos todos nós. 
Redação do Momento Espírita, com base na apresentação do Espírito Camilo, do livro O despertar da alma, de Cristian Macedo, ed. Sociedade Espírita Esperança. Em 17.6.2016.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

CONSTRUINDO A FELICIDADE

O desânimo lhe pesava aos ombros, como nunca antes. Embora tentasse ser otimista, buscar o melhor de cada situação, para ela, aqueles dias se mostravam desafiadores. Dentro do lar encontrava a incompreensão a julgar todas as suas ações. No trabalho, as exigências desmedidas de um chefe intolerante, a pedir mais e mais. E as dificuldades financeiras habituais, equilibrando-se no orçamento entre lá e cá das dívidas e compromissos assumidos. Naquele dia, as aflições pareciam tomar um volume mais intenso, a extravasar-lhe do coração. Foi assim que encontrou velho amigo, que sempre fora seu conselheiro nas horas mais cruciais. Reconhecendo-lhe na face as dores que a alma passava, convidou-a para uma conversa fraterna. 
-Parece que este mundo não é para a felicidade.– Desabafou ela, logo de início.
-Será que somos condenados às dores, suplícios, dificuldades? Não temos direito de sermos felizes?– Questionou, com a voz embargada pelas lágrimas que insistiam em inundar seus olhos. 
O amigo, profundo conhecedor da natureza humana, falou, com tranquilidade: 
-Não sei do que você está falando. Vejo você mesma, neste instante, construindo sua felicidade! Você deve estar brincando, só pode... Não vê meu estado, não percebe o que estou passando? Mesmo assim insisto, você está construindo sua felicidade. Muitas pessoas chamam de felicidade o sorriso fácil das festas sociais, ou o dinheiro gasto para amealhar bens, ou a quantidade de posses em seu nome. Essa é uma felicidade que logo se esvai... Logo que o dinheiro mude de mãos, a saúde não permita mais as extravagâncias, e as ilusões se encerrem em um golpe de dor. Existem, sim, aqueles que trafegam por estradas estreitas, em desafiadoras provas. Porém, toda prova bem entendida, corretamente vivenciada, constrói virtudes em nossa intimidade. E as virtudes que vamos conquistando serão a fonte permanente da felicidade que poderemos usufruir sem medo, quando se implantarem, em definitivo, em nós. Hoje você passa pela incompreensão no lar. Mas é lá que você está desenvolvendo a paciência. No trabalho, enfrenta a intolerância do chefe desmedido. Mas é lá que você se faz aprendiz da humildade e da compreensão. As dificuldades financeiras que lhe surgem lhe dão o ensejo de ser comedida, paciente, resignada perante a vida. Nos dias mais atribulados, nas dificuldades mais intensas, estamos realizando os esforços necessários para cultivarmos as virtudes e valores nobres de que ainda não dispomos. Imaginar que ser feliz é ter dinheiro, comprar tudo que se deseja, ou dar vazão a todas as nossas extravagâncias é tolice de nossa imaturidade emocional. 
Para concluir a conversa, ponderou o velho amigo: 
-Lembre-se de que as dores e dificuldades pelas quais está passando, logo mais deixarão de existir. Entretanto, as virtudes, insculpidas a duros golpes nestes dias difíceis, acompanharão você para sempre. Um breve silêncio se fez entre ambos. Ela olhou o amigo, abraçou-o e, aconchegando-se a ele, como alguém que sente ter encontrado um porto seguro, agradeceu. Estava renovada para prosseguir nas lutas, enfrentando as dificuldades.
Redação do Momento Espírita. Em 17.11.2017.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

AUTOESTIMA

Como o próprio nome sugere, autoestima diz respeito a essa autoavaliação, ao juízo que fazemos de nós mesmos e se, como resultado disso, sentimo-nos bem ou não conosco mesmos. A autoestima envolve o auto-respeito, a autoconfiança, a certeza do próprio valor, o bem-querer a si mesmo. Normalmente, ouvimos os termos baixa autoestima e autoestima elevada, simbolizando os dois extremos bastante comuns. A baixa autoestima é produto do Eu não valho nada; Não sou ninguém; Pior do que eu, só eu; num processo de desvalorização sistemática em grande parte das situações da vida. São vítimas constantes, que não conseguem enxergar seu valor, que se desmerecem em toda e qualquer situação. Depreciam-se sempre que têm oportunidade. Não toleram sua imagem no espelho, sua voz, sua fotografia. Nunca estão satisfeitas com seu corpo. Então, se escondem ou criam mecanismos de mascarar o que acreditam ser horrível mostrar. Nas relações amorosas frustram-se facilmente, pois não se acham merecedoras do amor do outro e acabam por auto-boicotarem-se ou mesmo sabotarem qualquer relacionamento que pareça saudável. A segunda, a autoestima elevada, fruto do Eu sou o máximo; Melhor do que eu, só eu! Um orgulho exacerbado, uma superioridade agressiva e que chega a extremos de provocar irritação nos outros. Aparentam se amarem muito, porém, tudo fica nas aparências, pois querem mais parecer do que ser. Usam demais a palavra eu. 
-Eu fiz, eu sei, eu fui. 
Falam de si, ouvem pouco. Chegam a dizer ou pensar, muitas vezes: 
-Eu não preciso de ninguém. Eu me basto. 
Ambos os casos mostram claramente visões distorcidas da realidade. Os primeiros estão enfermos. E os segundos, também. Qual o caminho, então, para se construir uma boa autoestima? Primeiro, o autoconhecimento. Se em ambos os casos nos deparamos com visões falsas, deformadas do eu, é fundamental que tomemos consciência de quem realmente somos, e ainda, de como estamos atualmente em nossa caminhada evolutiva. Tomemos consciência de nossa realidade, sem máscaras, sem distorções, sem reduções ou amplificações. Não sejamos cruéis nesta autoavaliação nem permissivos. Nenhum dos extremos nos serve. Depois de conhecer um pouco melhor nosso real estado, passamos para o segundo estágio: a aceitação. Precisamos nos aceitar como somos, ou melhor, como estamos, pois somos obra em movimento, em construção. Aceitemo-nos com nossas sombras, com nossas falhas, e não deixemos de perceber o quanto de luz emitimos. Se em algum momento a autoavaliação está nos fazendo enxergar apenas sombras ou, no outro extremo, não vê-las, voltemos ao início e recomecemos o processo, pois a visão ainda está distorcida. Somos uma coleção de conquistas, de histórias, de vitórias. As derrotas serviram para nos fazer aprender, nos deixar mais fortes e melhor vencer. Nunca nos deixemos medir apenas pelo que nos falta conseguir. Uma boa autoestima determina tudo em nossa vida: desde a disposição para acordar todo dia, passando pelo tipo de relação que construímos com os outros, que tipo de pessoas atraímos para nosso convívio, até a saúde de nosso corpo físico ao longo da existência terrestre. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 16.11.2017.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

DESPERDÍCIO

O homem é habitualmente cheio de desejos, projetos e sonhos. Na busca da felicidade, sempre parece lhe faltar algo. Pode ser dinheiro, raramente considerado suficiente. Ou uma relação amorosa, cuja ausência causa amargor. Por vezes a própria aparência física não satisfaz e isso gera desconforto. Ordinariamente, sempre há alguma coisa em falta, no balanço do viver humano. Não há nada de errado em ter desejos e sonhos. O problema reside em não valorizar o que se tem e em achar que a plenitude reside no que falta. A Espiritualidade Superior ensina que a existência terrena assemelha-se a um curso de aperfeiçoamento. As condições de vida de cada um guardam relação com suas necessidades de aprendizado. Enquanto a lição não for assimilada, ela continuará a ser repetida. Assim, importa não desperdiçar os tesouros que batem à porta. Por vezes, eles chegam em embalagens pouco atraentes. Mas sempre representam uma oportunidade de aprendizado e libertação. O familiar carente e enfermo é uma dádiva na vida de quem necessita aprender a ser abnegado. O colega difícil afigura-se uma bênção para o carente de tolerância As dificuldades financeiras trazem a preciosa lição da frugalidade. Situações de desvalimento propiciam o aprendizado da humildade. A ausência de um afeto profundo traz o ensinamento da continência e da sublimação. A saúde frágil chama a atenção para a transitoriedade da vida humana e para a importância de se espiritualizar. As experiências dolorosas em geral convidam a desenvolver empatia por quem sofre. A desencarnação de um familiar ou amigo funciona como um convite para estender os laços da fraternidade. Em tudo, há um aprendizado a ser feito. A natureza da lição que se apresenta revela em quê reside a carência espiritual. É no embate de cada dia que as lições de que se necessita lentamente chegam. Importa não desperdiçá-las, enquanto se sonha com o impossível. É bom sonhar, planejar e buscar, mas sem angústia. Os sonhos precisam ser embalados pela confiança na Providência Divina. O homem é livre para querer, apenas não deve se amargurar pelo que demora ou não se concretiza. No contexto de uma vida terrestre, há sonhos que não podem se tornar realidade. Ocorre que a experiência terrena, por longa que se afigure, sempre chega ao fim. Então, será feito um balanço das bênçãos recebidas e de sua utilização, a benefício da própria paz. Mais feliz será quem mais tiver aprendido com o que lhe coube viver no mundo. Já aquele que desperdiçou suas oportunidades terá de repeti-las. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 31.03.2011.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

A GRANDE DESPEDIDA

Nós nascemos frágeis. De todos os seres vivos do planeta, somos os mais indefesos. Sem quem nos alimente, nos cuide, vele por nós, perecemos. Guardados pelo amor de nossos pais ou de generosas mãos que se nos estendem, no carinho de tios, avós, nos desenvolvemos. Aos poucos, dominamos o corpo, erguemo-nos para andar, apoiando-nos no que esteja por perto. Depois, aprendemos a correr, a saltar, a subir em árvores. E ninguém mais nos segura. Dominamos o alfabeto, os números. Dos bancos escolares dos primeiros anos, alcançamos os universitários. Tornamo-nos profissionais, disputamos o mercado. Cada ano é uma conquista, uma vitória. Aprendemos algo mais e algo mais nos é permitido. E tudo é celebrado de forma vibrante. O diploma, o concurso, a vaga disputada na empresa de renome, a promoção alcançada. Dentre tantas conquistas, possivelmente uma das mais emocionantes é ter em mãos a Carteira Nacional de Habilitação. Entrar no carro, dirigir, ir de um lado para outro nos confere ares de liberdade mais ampla. Sem dependências, sem aguardar ser levado. Sem precisar esperar para ser apanhado depois da aula, depois da festa, depois do baile. Liberdade. E, na medida em que os anos dobram, essa independência vai se alargando mais. Ir ao mercado, ao teatro, ao cinema, ao parque. Viajar para o campo, para a praia, para a montanha. Não há limites. Planejamos e concretizamos. No entanto, quando se chega a determinada idade, parece que aos poucos tudo nos vai sendo retirado. As limitações se estabelecem, problemas de saúde vão se apresentando. Para quem ultrapassa os sessenta e cinco anos de idade, em nosso país, as regras para a renovação da Carteira de Habilitação ficam mais severas. O período de validade é de três anos, somente. E, como apresentamos limitações de saúde, a permissão para dirigir passa a ter regras exclusivas. Por exemplo, poder dirigir somente até o pôr do sol. Quando não conseguimos a renovação, não deixamos de registrar certa tristeza. Desejando homenagear alguns idosos que não terão mais sua Carta de Habilitação, uma empresa de automóveis idealizou algo emocionante. Num autódromo, eles foram convidados a andar em um dos mais rápidos carros do mundo, ao lado de motorista experiente. Depois, eles mesmos puderam tomar o volante nas mãos e dirigir, velozmente, pela pista. Tudo com direito a acompanhantes de motos e plateia vibrando por cada um deles. Uma alegria enorme! Uma bela despedida do volante! E cada um ganhou uma carteira especial de habilitação, emoldurada, como um troféu por sua proeza de dirigir tantos e tantos anos. Maravilhoso gesto de gratidão para quem deu tanto de si, através dos anos, e vai perdendo, a pouco e pouco, sua liberdade de ir e vir, sem limites. Como seria bom se lembrássemos um pouco mais dos nossos idosos e lhes pudéssemos massagear o coração e a vontade de viver, com essas pequenas grandes coisas que os fazem felizes. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no vídeo A grande despedida, da Nissan. Em 14.11.2017.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

DE SOMBRAS E DE SOL

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Todo ser humano traz dentro de si uma luz maior que a das estrelas. Um universo inteiro de amor vive latente dentro de cada um de nós. Quando esteve entre nós, aqui na Terra, Jesus nos fez um doce convite: Brilhe a vossa luz! E disse ainda mais: declarou que todos os seres humanos são deuses, são o sal da Terra e a luz do mundo. Quanta poesia nestas palavras do Cristo! Elas são um lembrete permanente para os dias em que a sombra toma conta de nossas vidas. E como são muitos esses dias sem sol! Parece que uma grande nuvem cinza encobre a luz. É quando estamos infelizes. Quando a dor encontra morada no coração, quando perdemos a alegria, quando os sorrisos parecem distantes. Mas há outras ocasiões em que uma luz radiosa parece nos iluminar. Esses dias claros traduzem nossa alegria, a harmonia interna. É a felicidade que se revela em nós. E nos perguntamos: Por que não somos sempre assim? Por que não há apenas dias solares, cheios de cor e claridade? É que ainda nos permitimos viver na sombra. Para a maior parte da Humanidade ainda é mais natural se identificar com estados de angústia, tristeza, aborrecimento. Mas um dia aprenderemos a viver de forma diferente. Privilegiaremos a bondade, esqueceremos a maledicência, cultivaremos a alegria. Daremos menos atenção a notícias e programas sensacionalistas ou que exploram o sofrimento dos outros. Não permitiremos que a morbidez encontre espaço em nossa vida. Buscaremos a felicidade nas coisas simples. Não seremos escravos do dinheiro ou do trabalho. E nos contentaremos com o necessário. Luxo e excessos não nos seduzirão mais. Nesse dia saberemos que o segredo da felicidade não está nos bens que acumulamos, mas no bem que fazemos aos outros. A maior parte das pessoas busca a felicidade em coisas externas. É que somos treinados para acreditar que seremos felizes apenas se tivermos carros, roupas e sapatos caros. Colocamos nossa alegria em uma bela casa ou em viagens espetaculares. Mas essa alegria é como uma bolha de sabão. Vai estourar à primeira dificuldade. Pense: diante do sofrimento moral, da perda de um ser amado, de um filho que se atormenta nos caminhos do mundo, de que valem as riquezas? O mundo está cheio de ricos infelizes, que vivem em um mundo de sombras. E quando o coração está cinzento, de nada adianta o sol brilhar em um dia dourado. Assim, observe o que o faz realmente feliz. Analise seu mundo íntimo e dê prioridade para pessoas e situações que lhe dão alegria: uma visita aos pais idosos, um passeio com a família, uma tarde em companhia de amigos queridos. É assim que sua vida se encherá de luz. 
 * * * 
A sombra é geratriz de equívocos como o erro é matriz de tormentos íntimos naquele que o pratica. Afugenta as sombras que tingem de escuridade as tuas esperanças. Acende no teu caminho a tua lâmpada clarificadora, iluminando a rota dos teus pés. 
Redação do Momento Espírita, com pensamento do verbete Sombra, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 21.6.2014.

domingo, 12 de novembro de 2017

DESISTIR

Já pensamos em desistir de algo em nossa existência? Em abandonar definitivamente, em não mais tentar, em dar as costas e deixar de lado? 
Pois há coisas na vida que verdadeiramente merecem isso. Coisas que deveríamos todos pensar em desistir. Quantas vezes tentamos modificar as pessoas que estão ao nosso lado, dando conselhos, brigando, insistindo e discutindo para que elas mudem o jeito de agir, de falar ou de pensar? Talvez melhor fosse abandonarmos essa postura e tentarmos modificar a nós mesmos. Analisarmos o próprio comportamento e verificarmos o que poderia ser diferente, como melhorar, como nos liberarmos de atitudes desagradáveis ou nocivas. Já pensamos em abandonar a necessidade que temos de analisar a vida alheia, julgando e ponderando o que os outros fazem? Pesamos o comportamento de nosso próximo, emitimos juízo de valor, sentenciamos e damos o veredicto para cada ação executada pelo nosso vizinho, parente ou amigo. Talvez melhor fosse desistirmos dessa atitude e iniciarmos o julgamento de nós mesmos. Quanto de nosso tempo utilizamos para verificar o que fazemos, como agimos, de que maneira nos comportamos? É verdade que, como nos lembra Jesus, é muito mais fácil ver um cisco no olho do próximo do que uma trave em nosso olho. Mas talvez seja o momento de abandonar e deixar para trás a preocupação com a atitude do outro e analisar melhor a nossa própria. Já pensamos na possibilidade de abandonar nossa postura crítica, sempre vendo o erro, o deslize, a falha de nosso próximo? Esquecemos multiplicadas vezes de valorizar a dedicação das pessoas, porque nos concentramos na procura das falhas. Assim, não temos tempo ou não conseguimos aquilatar o quanto elas se esforçaram, fizeram o seu melhor, dentro da limitação própria que possuem. Quem sabe, ao olharmos sob esse novo ângulo, consigamos eliminar a crítica destrutiva, o olhar de reprovação, o comentário pesado. Esses, muitas vezes, levam ao desestímulo, à desistência de muitos de tal ou qual atividade, sem proveito algum. Quantos de nós temos perante a vida um olhar de pessimismo, desânimo, analisando tudo e todos sob uma ótica negativa. Com certeza, melhor seria renunciar a tal posição, enchendo nosso horizonte de bom ânimo, alegria e gratidão à vida, que tanto nos oferece e oportuniza. Assim, quando tantos desistem de coisas importantes, relevantes, quando tantos abrem mão de compromissos e responsabilidades, sejamos nós os que desistamos de outra maneira. Desistamos daquilo que apenas nos pesa ao coração, que nos dificulta o progresso, que entrava a marcha para o Alto para, finalmente, optarmos pelo bem e pelo bom, tendo Jesus como referência em nossas atitudes e comportamento. Jesus, Modelo e Guia para toda a Humanidade. 
Redação do Momento Espírita. Em 22.5.2013.