Caminheiro, que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a dormir em paz na solidão.
É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o gozar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre a selva lhe compôs.
Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro! Do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
Estes são versos da autoria de Castro Alves, o poeta dos escravos.
É um lamento de dor pela situação do negro, escravo de uma civilização que se denominava cristã, mas não se pejava em escravizar seus irmãos, sem piedade alguma.
Retirados à força do seu país natal, alguns deles chefes tribais, tinham desprezados todos os seus direitos.
Direito de ser tratado como ser humano, direito ao descanso, à família, à expressão do seu culto religioso, à dignidade.
O desejo de ser livre, de poder se expressar em seu próprio idioma, de cultuar seus deuses, tudo lhes era vedado.
A rebeldia era punida com castigos horrendos e a morte.
É a morte que, justamente, o poeta dos escravos exalta como a libertadora.
E em seus versos revela a verdade inconteste da Imortalidade.
Extinto o corpo, a alma estava liberta para andar pelos campos espirituais.
Como ser espiritual, imortal, poderia retornar aos ares do seu país natal, poderia reencontrar os amores que houvessem partido antes dele.
Embora muitos haja na Terra que, ainda, insistem em afirmar que nada existe para além da vida física, somos imortais.
Ninguém morre. Finda-se o corpo, mas a essência permanece.
Liberta do corpo, a alma retorna ao grande lar. Busca os amores, recompõe-se das lutas travadas durante a vida terrena e prossegue na conquista do progresso.
É assim que os que sofreram muito sobre a Terra encontram o restabelecimento das forças e as recompensas pelo bem sofrer.
A imortalidade é a grande porta que se abre para o reencontro dos que se amam e daqueles que ainda necessitam exercitar o amor uns pelos outros.
É o repouso das lutas, é o reabastecer de energias para novas etapas de progresso do ser que nunca morre e cujo destino final é a perfeição.
Redação do Momento Espírita, com versos da poesia A cruz da estrada, de autoria de Castro Alves.
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