quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

NOSSAS ALMAS SÃO BORBOLETAS

A psiquiatra suíça Elizabeth Klüber Ross especializou-se no tratamento de pacientes terminais.
Passou mais de trinta anos no trato de pessoas na iminência do processo de morte do corpo físico. 
Em suas experiências, ela percebeu que crianças portadoras de doenças graves e terminais não apresentavam nenhum tipo de receio da morte, porém, tinham verdadeiro horror de serem enterradas. 
Tinham em suas mentes as lembranças dos enterros de que já haviam participado, de algum avô ou outro parente próximo e sentiam medo de ter seus corpos fechados em uma caixa e enterrados, sem a possibilidade de respirar e se movimentar.
Mas ao perguntar-lhes sobre a morte, viam-na com verdadeira naturalidade, sem nenhum tipo de medo. 
Assim são as crianças: conseguem ensinar-nos que os processos da vida são naturais e, por conseguinte, não há por que ter medo. 
Elas falavam do medo de serem enterradas, do momento do funeral, não conseguindo dissociar morte e enterro, confundindo-se entre aquilo que sobrevivia e o que verdadeiramente acabava, no momento da morte. 
Conta-se que, quando as tropas aliadas invadiram os campos de concentração na Alemanha e Polônia, encontraram algo que lhes chamou a atenção, nos barracões designados às crianças. 
Nesses diferentes campos de concentração havia, por todas as paredes, nos barracões onde essas crianças passaram sua última noite, desenhos de borboletas. 
Eram desenhos arranhados à unha, feitos com pedras ou pedaços de tijolos. 
Essas crianças, em meio à miséria, fome e dor, apartados de seus afetos, conseguem nos dar a explicação maior da vida.
As borboletas que desenhavam era aquilo que intuitivamente percebiam ser a morte: a liberdade de um casulo pesado. 
* * * 
Ao morrer, somos todos borboletas a sair de seu próprio casulo, para conseguir alçar voos maiores. 
No enterro, apenas o casulo permanece encerrado no cofre fúnebre enquanto a alma, a borboleta, tem a possibilidade de, liberada, alçar voos em céus de liberdade e de felicidade.
Quando entendermos a morte como processo de libertação do casulo e que a vida continua pujante e real, ela deixará de ser momento de conclusão da vida, como muitos pensamos, para ser momento de transformação, de continuidade em diferente etapa. 
* * * 
Ao deparar-nos com a morte de alguém que amamos, lembremos que o corpo que vemos é apenas o casulo que lhe foi emprestado, para as experiências necessárias. 
E pensemos na borboleta que se liberta, para poder alçar voos, sob os desígnios amorosos de Deus. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 20, ed. FEP. 
Em 28.1.2025

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

SE EU PUDESSE ESCOLHER

Se eu pudesse escolher, seria feliz por, pelo menos, oito horas por dia, todos os dias. 
Reservaria o tempo restante para viver as pequenas agruras naturais. 
Mas seriam leves, porque haveria a certeza de que a cada dia, eu teria a minha cota de felicidade. 
Se eu pudesse escolher, reservaria algumas horas todos os dias, para fazer só o que fizesse os outros felizes. 
Dedicação total. 
Se eu pudesse escolher, pararia qualquer coisa que estivesse fazendo às cinco horas da tarde, e me sentaria para assistir ao pôr do sol. 
Escolheria lugares especiais. 
Procuraria não me repetir muito. 
O horário do pôr do sol seria algo assim, sagrado. 
O meu horário para observar Deus. 
Se eu pudesse escolher, viveria entre o mar e as montanhas.
No meio do caminho. 
Nem muito longe de um, nem muito longe de outro. 
Plantaria flores. 
Teria vasos na janela. 
Muitos livros na cabeceira da cama à noite. 
Depois do trabalho, porque se eu pudesse escolher, trabalharia sempre, produziria sempre, eu me sentaria para contemplar a noite bordada de estrelas e o luar. 
Se eu pudesse, sorriria muito. 
Mas choraria também, às vezes, para não esquecer o que a lágrima significa. 
Viver só de sorrisos não é uma boa opção. 
Faz-nos esquecer de que a dor campeia no mundo e que é companheira quase inseparável de muitas criaturas. 
Se eu pudesse escolher, faria uma declaração de amor todos os dias. 
Uma declaração de amor sem estardalhaço, sem alarde, que afirmasse ao coração eleito que pode contar comigo todos os dias, todas as horas, para todas as crises e as alegrias. 
Se eu pudesse escolher, viveria a vida de uma forma mais leve, menos dolorosa, mais intensa, menos angustiante. 
Se eu pudesse escolher... 
* * * 
 As condições de nossas vidas são escolhidas por nós, antes do berço, normalmente. 
Onde iremos renascer, quais os seres que nos receberão, dando-nos a vida física, o lar, a família como um todo.
Escolhemos a área profissional de atuação, porque a profissão é alavanca de progresso ao ser humano.
Estabelecemos diretrizes acerca da família que constituiremos mais tarde, elegendo o companheiro ou companheira e os filhos que virão através de nós. 
Em linhas gerais, o gênero de vida e de morte. 
Contudo, ficam por nossa conta, do nosso livre-arbítrio seguir ou não o planejamento estabelecido antes da reencarnação. 
Podemos guardar a certeza precisa: sempre há escolhas que nos são oferecidas. 
A de provocar sorrisos, de abraçar, de declarar nosso amor. 
A possibilidade de transformar dentro de nós o cenário e aprender que podemos viver ao menos quinze minutos de felicidade com tanta intensidade que eles possam ser transformados em horas, dias, meses, no tempo que escolhermos. 
* * * 
A vida é uma escolha contínua. 
Quando o sol ilumina o dia, a nossa escolha ditará se o dia nos será de felicidade ou infelicidade. 
Tudo depende de como encaramos os acontecimentos. 
Para aqueles que reclamam de tudo e pintam de negro o céu da existência, tudo será canseira e tédio. 
Para aqueles que saúdam o dia com disposição de aprendiz, o dia será sempre uma nova oportunidade de experimentar, crescer e aprender a gozar felicidade nas pequenas coisas.
Redação do Momento Espírita, com base no texto Escolhas, de autoria ignorada. 
Em 29.1.2025

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

MEDO DO DESCONHECIDO

Contam as lendas que um espião foi preso e condenado à morte pelo general do exército persa. 
Sua sentença era o fuzilamento, mas o general tinha um hábito diferente e sempre oferecia ao condenado outra opção.
E essa outra opção era escolher entre enfrentar o pelotão de fuzilamento ou entrar por uma porta preta. 
Com a aproximação da hora da execução, o general ordenou que trouxessem o espião à sua presença para uma breve entrevista. 
Diante do condenado, fez a seguinte pergunta: 
-O que você quer - a porta preta ou o fuzilamento? 
A escolha não era fácil, por isso o prisioneiro ficou pensativo e, só depois de alguns minutos, deu a resposta: 
-Prefiro o fuzilamento. 
Depois que a sentença foi executada, o general virou-se para o seu ajudante e disse: 
-Assim é com a maioria dos homens. Preferem o caminho conhecido ao desconhecido. 
-E o que existe atrás da porta preta? Perguntou o ajudante. 
-A liberdade, respondeu o general. E poucos foram os homens corajosos que a escolheram. 
Essa é uma das mais fortes características do ser humano: optar sempre pelo caminho conhecido, por medo de enfrentar o desconhecido. 
Geralmente as pessoas não abrem mão da acomodação que uma situação previsível lhes oferece. 
É mais fácil ficar com a segurança do que já se sabe do que aventurar-se a investigar novos caminhos. 
É por essa razão que muitos não abrem mão de conceitos e preconceitos para não se expor às novas ideias e raciocínios que exigem uma certa dose de ousadia. 
Em vez da liberdade de pensar e agir, preferem o bombardeio de ideias já elaboradas pelos outros, nem sempre bem intencionados. 
Acomodam-se facilmente a copiar modos e costumes em vez de usar a razão e o discernimento para construir seu próprio modo de viver, sua personalidade. 
A tudo isso se chama clonagem das ideias. 
É por essa razão que os adolescentes são facilmente levados por um único caminho, já trilhado pela maioria, por necessidade de aceitação no grupo, ou por insegurança. 
É por essa razão que muitos daqueles que detêm o poder insuflam ideias e medos em pessoas que não se arvoram a pensar com liberdade. 
Para se ter uma amostra disso, basta observar o sucesso que as músicas de mau gosto, de rimas pobres, de palavras chulas e conteúdo pernicioso têm feito junto à população, através dos meios de comunicação de massa. 
É a clonagem das ideias, dos maneirismos, dos modismos...
Aos domingos, pode-se ligar a televisão e passear pelos canais abertos para que esta tese se confirme: só se veem as mesmas imagens e o mesmo batuque, os mesmos conjuntos musicais, com os mesmos gestos combinados, a mesma rima pobre. 
É preciso ousar e sair desse círculo vicioso da mesmice. 
É preciso criar programas nobres, que desenvolvam nas crianças, jovens e adultos, um senso crítico capaz de lhes propiciar a conquista da própria liberdade. 
Liberdade de pensar, de agir, de ser... 
Liberdade de discordar da maioria, quando se está convicto de que se está certo. 
Liberdade de consciência, de fé religiosa, liberdade de sentir. 
 * * * 
Nem sempre o caminho já batido por muitos é o caminho que nos conduzirá à liberdade. 
Nem sempre nadar a favor da correnteza é indício de chegada a um porto seguro. 
Às vezes, é preciso escolher um caminho ainda desconhecido da maioria, mesmo que tenhamos que seguir a sós. 
Por vezes, é preciso nadar contra a corrente, optar pela porta estreita, para que se possa vislumbrar um mundo livre, feliz, sem constrangimentos que tolhem a liberdade e infelicitam os seres. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita 
Em 31.01.2011.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

MEDO DAS PROVAS

E CHICO XAVIER
Nos dias em que a experiência na Terra se faça amarga e difícil, não convertamos a depressão em veneno. 
Quando a aflição nos ronda o caminho, anunciamos carregar a alma de sombras, semelhante a quem se encontra ausente do lar, ansiando pelo retorno. 
No entanto, que isso não se torne motivo para que nos precipitemos no desânimo arrasador. 
Olhemos adiante, ergamo-nos uma vez mais lembrando quantas coisas já enfrentamos, quantos desafios, quanta dor.
Nada disso nos fez menores, nada disso nos destruiu. 
Pelo contrário, tudo foi construção, tudo foi aprendizado. 
Por vezes é difícil, em meio às trevas, mentalizar pensamentos de otimismo e fraternidade. 
Ou conseguir retratar nas pupilas o fulgor do sol e a beleza das flores. 
Por vezes, preferimos a mudez ou a reclamação constante, como forma de defesa ou espécie de revolta contra o Universo. 
Quando o estudante é surpreendido por prova surpresa na sala de aula e a matéria é difícil, ele não teve tempo de se preparar, o primeiro impulso é a revolta ou o desespero. 
Não consegue perceber que a prova é instrumento de avaliação, visando aperfeiçoamento. 
Prefere, como mecanismo de defesa, proclamar que o professor é cruel ou que o sistema de ensino está errado.
Quando falamos dos métodos educacionais das leis divinas, estamos falando de mecanismos que agem com perfeição.
Agem na hora certa, com os critérios mais objetivos possíveis.
O sistema educacional divino é enérgico e, ao mesmo tempo, amoroso. 
É disciplinado, firme. 
Também repleto de adaptações, de concessões e de muita compaixão. 
Assim, não temamos as lições duras do caminho. 
Todas elas são aplicadas com muita sabedoria e critério.
Obviamente que sendo provas, sempre nos trarão instantes de tensão, desconforto e podem nos colocar em situações em que não teremos controle de coisa alguma. 
Tudo isso é lição. 
Tudo isso faz parte do mecanismo da evolução. 
Como faz parte também da autoeducação o trabalhar em nós a maneira de enxergar e vivenciar cada um desses momentos. 
Em nossa alma, ainda imatura, por vezes existem medos exagerados, existem visões distorcidas, existe ansiedade inflada, que amplificam dores sem real necessidade. 
Tudo isso faz parte do educar-se: desde o suportar com sabedoria as tempestades, passando por entender o que significa cada uma delas, até pela análise de nós mesmos, de nossas lentes, que podem estar vendo temporais em garoas finas. 
As provas nos exigem atenção, olhar cuidadoso, apoio e confiança nos mais próximos. 
Exigem a oração que acalma a mente inquieta e que sabe pedir auxílio aos mais preparados. 
Exigem a calma de quem sabe que todas elas têm hora para começar e para acabar. 
Exigem a certeza de que tudo está sob controle superior, embora possa não parecer. 
Recordemos dos tempos de escola, da aflição dos dias de prova. 
O medo do branco mental. 
O medo de não estar preparado. 
O que diríamos para nossa versão criança ou jovem com a experiência que temos hoje? 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do Livro da Esperança, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC. 
Em 20.11.2023.

domingo, 26 de janeiro de 2025

MEDO DA SOLIDÃO

Você já sentiu medo alguma vez, na vida? 
É comum ouvirmos as pessoas confessando o sentimento de algum tipo de medo. 
Seja medo de ficar só, medo da morte, medo da solidão e outros mais. 
Dentre as várias nuanças do medo, vamos destacar o medo da solidão, que é muito comum na sociedade moderna. 
Diz um grande pensador, que a solidão do homem da metrópole não é a solidão que o rodeia, mas a solidão que o habita. 
Há pessoas que se sentem sós mesmo estando rodeadas de gente. 
Por essa razão, percebemos que o problema não é externo, mas da intimidade do ser. 
E por que é que se sente só, mesmo não se estando a sós?
Talvez a solidão se instale na alma porque encontra nela um vazio propício a agasalhá-la. 
Se não houvesse espaço, é bem possível que ela ali não fizesse morada. 
Mas, afinal, como é que podemos preencher esse vazio e espantar a solidão? 
A fórmula é bem simples. 
É tão simples que talvez por isso mesmo ninguém acredite na sua eficácia. 
Há mais de dois milênios ouvimos falar dela, portanto, não se trata de nenhuma descoberta recente. 
Estamos falando da caridade, como a prescreveu Jesus. 
Se abandonássemos o nosso estreito mundo e buscássemos o contato com nossos irmãos carentes e infelizes, por certo preencheríamos o vazio em nossa intimidade, de tal forma que a solidão não encontraria ali espaço para se acomodar, embora tentasse. 
E isso acontece de forma tão natural que, ao nos envolvermos com os sofrimentos alheios, tentando aliviá-los, esquecemos de nós mesmos e isso causa uma satisfação muito salutar.
Quem ainda não experimentou essa terapia, tente. 
Vale a pena! 
E não custa nada, a não ser o investimento da vontade firme e da disposição de vencer a solidão. 
E nesse caso, o campo é muito vasto. 
É fácil encontrar alguém que precise de você. 
Seja um doente solitário num hospital, uma criança num orfanato, uma pessoa idosa abandonada pela família, uma mãe que precise de ajuda para cuidar dos filhos, um pai desesperado com os filhos cuja mãe faleceu, um estômago vazio para saciar, um corpo tiritando de frio para agasalhar e assim por diante... 
Não é outra a razão pela qual Jesus recomendou o amor ao próximo como condição para quem deseja conquistar o reino dos céus que, como Ele mesmo afirmou, está dentro de cada um de nós. 
* * * 
Se você está triste porque perdeu seu amor, lembre-se que há tantos que não têm um amor para perder. 
Se você está triste porque ninguém o ama, lembre-se que o amor é para ser ofertado e não para ser exigido. 
Se para você a vida não tem sentido, oferte-a a alguém, dedicando-se aos infelizes que lutam por um minuto a mais de existência física. 
E se lhe faltam as forças necessárias para lutar contra a solidão, abra o seu coração ao Divino Pastor e peça-Lhe para que o ajude nessa empreitada. 
Lembre-se sempre que foi o próprio Cristo que assegurou:
Aquele que vier a mim, de forma alguma eu lançarei fora. Redação do MomentoEspírita. 
Em 20.10.2011.

sábado, 25 de janeiro de 2025

MEDO DA MORTE

Richard Simonetti
Um homem transitava por estrada deserta, altas horas. Noite escura, sem luar, estrelas apagadas... 
Seguia apreensivo. 
Por ali ocorriam, não raro, assaltos... 
Percebeu que alguém o acompanhava. 
-Olá! Quem vem aí? - perguntou, assustado. 
Não obteve resposta. 
Apressou-se, no que foi imitado pelo perseguidor. 
Correu... 
O desconhecido também. 
Apavorado, em desabalada carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no peito, pulmões em brasa, passou diante de um poste de luz. 
Olhou para trás e, como por encanto, o medo desapareceu.
Percebeu que seu perseguidor era apenas um velho burro, acostumado a acompanhar andarilhos. 
A história assemelha-se ao que ocorre com a morte. 
A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. 
No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera no Mundo Espiritual. 
O Espiritismo é o poste de luz que ilumina os caminhos misteriosos do retorno, afugentando temores sem fundamento e constrangimentos perturbadores. 
De forma racional, esclarece acerca da sobrevivência da alma, descerrando a cortina que separa os dois mundos. 
Com a Doutrina Espírita aprendemos a encarar com serenidade a morte, que chamamos de desencarnação, porquanto ninguém morre. 
Isso é muito importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência humana: todos desencarnaremos um dia. 
A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação. 
Um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas. 
Uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores. 
Uma escola para os que já compreendem que a vida não é simples acidente biológico, nem a existência humana uma simples jornada recreativa. 
Mas não é o nosso lar. 
Este está no plano espiritual, onde poderemos viver em plenitude, sem limitações impostas pelo corpo carnal.
Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar a nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz. 
O primeiro passo é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural... 
Há condicionamentos milenares nesse sentido. 
Existem pessoas que simplesmente se recusam a conceber o falecimento de um familiar ou o seu próprio. 
Transferem o assunto para um futuro remoto. 
Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação.
-Onde está, ó morte, o teu aguilhão? - pergunta o Apóstolo Paulo, a demonstrar que a fé raciocinada supera os temores e angústias da grande transição, dando-nos a compreensão de que o fenômeno chamado morte nada mais é do que o passaporte para a verdadeira vida. 
O Espiritismo, se estudado, nos proporciona uma fé inabalável. 
O conhecimento de tudo o que nos espera, e a disposição de lutarmos para que nos espere o melhor. 
* * * 
Um dos maiores motivos de sofrimento no além túmulo, é o apego aos bens terrenos. 
Muitas pessoas não aceitam as normas estabelecidas pela aduana do túmulo, que não nos permite levar os bens materiais no momento em que passamos para o outro lado.
Isso demonstra que tais pessoas ainda não entenderam que os bens materiais nos são emprestados por Deus como meio de progresso, e que os teremos que devolver, mais cedo ou mais tarde. 
É importante que reflitamos sobre isso, não nos deixando possuir pelos bens dos quais somos apenas usufrutuários.
Um dos motivos de sofrimento dos que ficam, é o fato de não terem se dedicado o quanto deviam àqueles dos quais se despedem. 
Por isso, convém que, enquanto estamos a caminho, façamos o melhor que pudermos aos nossos afetos, para que o remorso não nos dilacere a alma depois. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Quem tem medo da morte?, de Richard Simonetti, ed. Ceac. 
Em 19.12.2008.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

PERDA DE AFETOS

Wallace Leal Rodrigues
Quando a morte arrebata do convívio um ser amado, algumas pessoas perdem a vontade de viver. 
De uma forma até egoísta, esquecem os que convivem no mesmo lar e se enclausuram na própria dor. 
Não se dão conta que, agindo assim, maltratam os corações que os amam e que, exatamente como eles, sofrem a ausência daquele que partiu para a pátria verdadeira. 
Assim aconteceu com Hamilton, um trabalhador dos correios. 
Ele era muito feliz. 
Pai dedicado, costumava chegar em casa e ler histórias para seus filhos. 
À noite, antes de adormecerem, beijava-os e com eles orava, rogando a proteção dos seres imortais. 
Um dia, a morte veio e ceifou a vida do seu menino de sete anos. 
A partir deste dia, ele começou a realizar com desleixo o seu trabalho, não mais sorriu, não contou mais histórias. 
Tornou-se triste e cabisbaixo. 
O ambiente no lar foi ficando sempre mais difícil. 
Certo dia, separando a correspondência para entrega, descobriu uma carta sem envelope. 
O destinatário era Jesus. 
O endereço: Céu. 
Curioso, abriu e leu: 
" Querido Jesus Resolvi lhe escrever para pedir uma coisa muito especial. Aqui em casa todos estamos muito tristes: papai, mamãe e eu. O meu irmãozinho Felipe morreu há alguns meses. Quando ele estava conosco, adorava brincar com seu trem, sua bola e seu caminhãozinho. Pois é Jesus, eu queria que o senhor levasse todos esses brinquedos para ele lá no céu. Tenho certeza de que ele vai querer continuar a brincar com eles. Acredito que ele sinta falta, principalmente do trem, com que mais brincava. Outro pedido é que o Senhor traga meu pai de volta. Não que ele tenha ido embora, mas é como se tivesse ido. É que desde a morte de Felipe, ele não sorri, não conta histórias, nem ora mais comigo. Eu gostaria muito que meu pai me tomasse nos braços e contasse histórias, como fazia antes. Eu queria ver meu pai sorrir de novo. É tão bonito o sorriso do meu pai! Eu queria que, de novo, ele viesse me dizer boa noite, orasse comigo e esperasse eu adormecer. Era tão bom, Jesus. Eu ouvi meu pai dizer para minha mãe que só a eternidade poderia curá-lo. Será que o Senhor poderia trazer um pouquinho disso para ele melhorar? Se for possível, eu ficarei muito feliz. Assinado: Rita". 
O trabalhador dos correios sentiu os olhos marejarem de lágrimas. 
Deu-se conta de como, em sua dor, fora egoísta. 
Esquecera esposa e filha, que também sofriam. 
Naquele dia, voltou para casa diferente. 
Ao chegar, chamou a filha, tomou-a nos braços, estreitou-a ao peito demoradamente, beijou-a e lhe perguntou: 
-Quer ouvir uma história? 
* * * 
Quando a dor da separação pela morte nos ferir o coração, não nos recolhamos em concha, desistindo da vida. 
A dor deve nos motivar à continuidade da luta diária, principalmente porque guardamos a lição da imortalidade. 
Os que partiram estão mais próximos de nós do que possamos imaginar. 
E não nos esqueçamos dos que partilham conosco da mesma dor e de idêntica saudade. 
Em nome do amor, não nos tomemos egoístas. 
Não nos isolemos, nem firamos ainda mais os que, ao nosso lado, aguardam pela migalha do nosso carinho, o sorriso da nossa ternura, nutrindo-se do nosso afeto. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim. Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. 
Em 24.01.2025