quinta-feira, 3 de julho de 2025

QUANDO DEUS SE CALA

Alguma vez já nos sentimos assim: sozinhos, desamparados, como em meio a um imenso deserto? 
Oramos, pedimos, suplicamos auxílio, amparo... 
E tudo o que recebemos é silêncio. 
É natural que, em momentos de dor ou incerteza, esperemos por uma resposta clara, uma palavra de consolo, um sinal evidente. 
No entanto, muitas vezes, a resposta divina vem envolta em profundo silêncio. 
Será que esse silêncio expressa ausência, descaso da Divindade, indiferença? 
Ou será uma forma sutil de presença, que somente nosso desespero ou angústia não consegue perceber? 
Alguns relatos afirmam que, certa feita, durante uma entrevista, um jornalista perguntou à Madre Teresa de Calcutá, Prêmio Nobel da Paz de 1979: 
-Madre, quando a senhora ora, o que diz a Deus? 
Ela respondeu serenamente: 
-Nada, eu só escuto. 
O jornalista então continuou: 
-E o que Deus diz à senhora? 
Com a mesma calma, ela respondeu: 
-Nada. Ele só escuta. 
* * * 
Esse diálogo, simples e profundo, revela uma verdade espiritual grandiosa: a oração não precisa de palavras. 
E o silêncio, longe de ser ausência, pode ser comunhão.
Quantas vezes buscamos uma resposta audível, imediata, quando o céu, em sua sabedoria, apenas nos convida à confiança? 
É nesse silêncio que a alma se aquieta, que a fé se fortalece, que a Presença Divina se insinua sem alarde, sem barulho, sem urgência, mas com infinita delicadeza. 
Importante nos darmos conta de que nem sempre o alívio, o socorro vem sob a forma de soluções imediatas. 
Às vezes, se apresenta no simples fato de sabermos que não estamos sozinhos. 
De outra, chega o socorro na voz de um amigo querido, uma mensagem de bom ânimo, um abraço reconfortante de alguém que nos oferece o ombro amigo para o desaguar das nossas lágrimas. 
Como uma mãe observa, em silêncio, os primeiros passos do filho, pronta para ampará-lo no tropeço, Deus também nos observa com amor. 
Permite que caminhemos… que descubramos… que cresçamos. 
Ninguém mais sábio do que Ele, para intervir exatamente quando se faz o momento devido. 
Por vezes, a resposta divina é justamente a liberdade que Ele nos concede para viver as perguntas. 
Ele não apressa nossa jornada, não encurta os caminhos.
Mas jornadeia ao nosso lado, mesmo quando não ouvimos Seus passos. 
O Seu silêncio não é ausência, nem rejeição. 
É confiança. 
É a certeza de que podemos seguir. 
Que a dificuldade que se apresenta nos servirá de aprendizado. 
Que conseguiremos vencer. 
Então, se oramos e o céu parece calado, não desanimemos.
Talvez não haja palavras, mas há presença. 
Talvez não haja respostas, mas há direção. 
Talvez não haja sinais, mas há amor – sempre. 
O silêncio de Deus também é resposta. 
É cuidado, é confiança na nossa capacidade de seguir adiante. 
Deus não se cala por indiferença. 
Ele silencia... porque ama. 
Ele silencia... porque confia. 
Somos Seus filhos, criados por amor, alimentados por amor e com um único destino: a felicidade da perfeição. 
Redação do Momento Espírita 
Em 03.07.2025

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A canção de qualquer mãe e pai

Lya Luft
-Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. 
* * * 
Tais as inspiradas e inspiradoras palavras de Lya Luft, em sua crônica intitulada A canção de qualquer mãe
Quando o mundo elege algumas datas para celebrar o amor de mãe, de pai, de namorados, a escritora prefere escrever a seus filhos, enviando uma mensagem inesquecível de carinho e reconhecimento. 
Sim, pois sempre será honra inestimável ser pai, ser mãe.
Participar da Criação de Deus, mesmo que de forma singela, é razão de júbilo intenso no coração. 
Quando se vivencia o amor de pai, o amor de mãe, tudo passa a ser diferente – nós nos transformamos. 
Serão tempos diferentes, quando todas as nossas relações forem assim, como a da mãe que diz aos filhos: 
-Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: Mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. 
Sim, serão tempos diferentes esses... 
Tempos do amor que independe da presença e do tempo.
Tempos de nova compreensão sobre presença e sobre tempo.
O amor de mãe e de pai está mudando o mundo, pois estes estão mais maduros, mais atentos, mais vivos... 
Nada será como antes, quando finalmente compreendermos e vivenciarmos esse amor com toda sua força. 
Nada será como antes, quando os pais aprenderem a olhar nos olhos de seu bebê, dizendo: 
-Não sabemos o que nos uniu nesta nova família, se a afinidade intensa ou o compromisso inadiável perante as leis maiores, mas não importa: tudo o amor irá superar. 
Este será o dia em que escolheremos amar, antes de tudo.
O amor precisa ser uma decisão dentro do lar, dentro da vida.
Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: Misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. 
A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada Terra. 
E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter. 
Redação do Momento Espírita, com base em artigo de autoria de Lya Luft, publicado na Revista Veja, de maio/2010. 
Em 02.07.2025

terça-feira, 1 de julho de 2025

O MILAGRE DA DOAÇÃO

John e Stephanie Reid
O ano de 2019 foi especialmente doloroso para o casal John e Stephanie Reid. 
Por conta de um atropelamento, o filho único, Dakota, de apenas dezesseis anos, teve morte cerebral. 
Ainda que tomados de profundo sofrimento, o casal não teve dúvidas: optou pela doação de todos os órgãos do adolescente.
Um ano se passou. 
Certo dia, John recebeu uma encomenda, cujo remetente era justamente quem recebera o coração de seu filho. 
No pacote, havia um presente e uma delicada carta de agradecimento pelo generoso gesto do casal. 
Nas gentis linhas, os dizeres: 
Eis os batimentos cardíacos do Dakota. 
Tomado de emoção, John encontrou na caixa um sorridente ursinho de pelúcia no qual se lia: 
O melhor pai do mundo. 
Ao apertar a patinha do brinquedo, a audição de uma gravação levou aquele pai a saudosas lágrimas. 
O ursinho reproduz o som dos batimentos cardíacos de seu filho, que agora bate em outro peito. 
O coração de Dakota proporcionou vida a outra pessoa. 
Seu filho está vivo. 
Vivo também em outras famílias que, igualmente, foram ajudadas pela doação dos demais órgãos do menino. 
Um fazendeiro recebeu os rins e o pâncreas. 
Um rapaz de vinte e um anos agora pode enxergar graças às córneas de Dakota. 
Em uma entrevista, o pai afirmou: 
-Quando recebi o pequeno urso, meu coração ficou cheio de alegria. Doar órgãos é continuar o plano de Deus para a família doadora e para o destinatário. 
E finalizou, comovido: 
-A doação de órgãos faz com que nós e os receptores sejamos sangue. Somos uma família.
* * * 
Diante do transe da morte, muitas famílias recusam doar os órgãos de seus familiares. 
Uma das razões predominantes é o desconhecimento a respeito dos procedimentos que envolvem a retirada dos órgãos. 
Quando ocorre a morte encefálica, os médicos consultam a família a fim de pedir autorização para a doação dos órgãos do ente querido. 
Um doador pode salvar até oito pessoas.
Se desejamos ser essa pessoa que pode auxiliar outras vidas a prosseguirem sua jornada terrena, importante que deixemos expressa essa vontade para os nossos familiares. 
Dessa maneira, no momento da nossa morte, eles poderão agir com segurança e sem conflitos.
* * * 
Num mundo que conjuga muito mais o verbo receber, é preciso coragem para se doar. 
As oportunidades de progresso que nos são concedidas são tantas que, até durante a morte, podemos avançar no caminho que nos conduz a Deus, à paz, à felicidade.
Espiritualmente, o ser que desencarna não passará nenhuma necessidade por conta da doação de seus órgãos. 
Ao contrário, o bondoso ato somente o iluminará. 
Afinal, a doação de órgãos nos torna instrumentos da Misericórdia Divina. 
Uma vida retorna às moradas celestes, uma vida permanece neste plano. 
Por um grandioso gesto de caridade e benevolência, ambas se unem pelo amor. 
* * * 
A verdade é que a vida jamais cessa. 
A morte é apenas um Até breve e o amor é um laço que jamais se desfaz, ainda que nosso coração bata em outro peito. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base na biografia da Família Reid e com dados colhidos no site da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. 
Em 30.06.2020.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

MICROCORRUPÇÃO

Na hora de acertar uma multa por infração no trânsito, qual é a nossa atitude? 
Reconhecemos o erro, pagamos ou tentamos, de alguma forma, escaparmos a isso? 
O gesto de burlar a lei por meio do suborno caracteriza uma sociedade em atraso, que institui uma legislação com o objetivo de transgredi-la. 
Assim, encontramos tristes e variados exemplos de condutas ilegais ou imorais que acabam por se incorporar aos atos de muitas pessoas a ponto de considerarem tudo normal, porque todo mundo faz... 
Se oferecermos presentes para funcionários públicos na tentativa de que acelerem processos, passando para trás outros que aguardam o encaminhamento, estamos nos enquadrando como corruptos ativos. 
Se comissionamos os encarregados de compras nas empresas para que deem preferência a determinado produto, mesmo que seu preço e qualidade não sejam os melhores; se, quando à frente de sindicatos nos permitirmos receber apoio financeiro a fim de convencermos os trabalhadores sindicalizados a concordar com propostas nem sempre justas e verdadeiras; se, enquanto programadores de rádio ganharmos verba de divulgação das gravadoras para que promovamos em especial algumas canções, sem importar-nos com seu conteúdo e qualidade artística; se nos permitirmos, em algum momento, embolsar quantias a fim de deixar passar produtos contrabandeados; se como vereadores, deputados, senadores, vendermos nosso voto em interesse de grupos econômicos... 
Talvez nos tenhamos encaixado em algum dos exemplos citados e desejemos dizer que não temos culpa, que o sistema é assim mesmo... 
Procuremos, então, nos colocar no lugar das pessoas lesadas por esses gestos aparentemente tão comuns. 
Acharíamos justo, depois de esperar pacientemente os trâmites legais, que alguém recebesse tratamento especial e fosse passado na nossa frente, numa repartição pública? 
Se fôssemos dono de uma empresa, acharíamos bom que nosso funcionário, que é remunerado por nós, recebesse caixinha para preferir comprar os produtos de um determinado fornecedor? 
Se fôssemos artista, acharíamos justo não executarem nossa música de qualidade, em preferência à outra ruim que está sendo paga para tocar? 
Ficaríamos alegres ao ver que alguns contrabandistas não enfrentam problemas na aduana, enquanto nós precisamos pagar todas as taxas? 
Voltaríamos a eleger o político que enriquece vendendo sua alma? 
Se acreditarmos que não tem jeito, que o mundo é dos espertos, infelizmente fazemos jus às loucuras desse mesmo mundo. 
Mas não nos iludamos, acreditando que alguém permanecerá impune. 
Antes as leis de equilíbrio que governam a vida universal, cedo ou tarde, cada um de nós responderá pelos equívocos que praticar, pelos males que provocar, pois, como disse o Cristo: 
-Nem o céu e nem a Terra passarão até que se cumpra toda a lei. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.07.2012.

domingo, 29 de junho de 2025

MEUS ÓCULOS

Andrey Cechelero
Se você encontrasse meus óculos por aí
Talvez entendesse melhor
Porque digo que há encanto em tudo e em todo lugar.

Nas flores de ipê esparramadas pelo chão
E naquelas que ainda, do alto dos galhos,
Buscam compreender as que se foram.

Na fina garoa que se mistura ao suor daquela mulher
Invisível e seu carrinho de recicláveis,
Carregando a redenção pelas ruas da metrópole inquieta.

Na arte do poema no muro,
Que é capaz de levantar cabeças pesadas,
E fazê-las ler a palavra asa.

No cenho do pai que se transforma ao final do dia, na
Calçada, em frente à escola.
É a filha que lhe chega aos braços, satisfeita, sã e salva.

Se você encontrasse meus óculos por aí
Talvez entendesse melhor
E quem sabe pudesse até aprender a olhar tudo isso assim,
Como tenho tentado aprender:
Deixando os óculos na cabeceira.
***
Há muitas formas de olhar para tudo na vida. 
E todas elas passam pelas lentes dos tais óculos de cada um de nós. 
Lentes milenares, lentes esculpidas pelo tempo, pela experiência da alma imortal. 
Lentes que podem ser aprimoradas a enxergar mais longe, que podem ser ajustadas para ver mais de perto, deixando muitas vezes de julgar, antecipadamente, sem terem visto melhor. 
Quantas coisas dizemos que enxergamos melhor depois que o tempo passa... 
Pois, são nossos óculos se aperfeiçoando, educando-nos a vista. 
Por isso, nossa mensagem é muito simples. 
É possível enxergar, interpretar e vivenciar as experiências da vida, de formas diversas, mudando nossas lentes. 
Não se trata de se autoenganar ou mesmo de distorcer a realidade, como alguns podem querer argumentar. 
Aquilo que chamamos realidade é uma mistura de fatos, ocorrências, circunstâncias, com percepções, sentimentos e interpretações de cada um de nós. 
Está no exterior, certamente. 
Mas o interior é o que determina como cada experiência será registrada. 
Por exemplo: pensemos num banho de chuva. 
A chuva sempre irá molhar, talvez encharcar, dependendo da intensidade. 
No entanto, se isso será incômodo para nós ou não, se isso nos trará desconforto ou alegria, prazer ou irritação, passa essencialmente por nossa decisão. 
Depende do dia, do momento, da companhia, depende do humor... 
A mesma chuva que celebrou a alegria de Gene Kelly, na cena do filme Cantando na chuva, correu nos rostos entristecidos de Rugter Hauer e Harrison Ford, nos momentos finais de Blade Runner. 
O fenômeno climático é o mesmo. 
Aí está a grande questão. 
Admira-nos perceber como algumas pessoas passam por situações que nós mesmos não suportaríamos. 
A diferença está na lente, nos óculos, na forma de encarar os desafios. 
Está, por vezes, numa maneira quase que intuitiva de perceber que no final tudo dará certo. 
Alguns chegamos até a ouvir essa voz consoladora, no âmago do ser, a dizer: 
-Não se preocupe, tudo vai ficar bem. 
Nosso convite singelo é apenas este: 
Vistamos outras lentes. 
Experimentemos outros pontos de vista. 
Aprendamos com cada situação, por mais assustadora que ela possa parecer, num primeiro momento. 
Quem sabe, possamos começar a encontrar encanto em tudo e em todo lugar. 
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Meus óculos, de Andrey Cechelero. 
Em 10.11.2021.

sábado, 28 de junho de 2025

MEUS ENCONTROS COM DEUS

ALLAN KARDEC
Meus encontros com Deus, no período do colegial, eram na capela da escola, durante o recreio. 
Cresci. 
E hoje nos reunimos em tantos outros lugares... 
* * * 
Estamos constantemente em presença da Divindade. 
Não há necessidade de estar nesse ou naquele local para encontrá-lO. 
O Criador não está mais para uns e menos para outros. Não tem escolhidos. 
Da mesma forma, não há uma só de nossas ações que possamos subtrair ao Seu olhar. 
Nosso pensamento está em contato com o Seu pensamento e é com razão que se diz que Deus lê o mais profundo do coração. 
Para estender Sua solicitude às menores criaturas, Ele não tem necessidade de mergulhar Seu olhar do alto da imensidade, nem de deixar o repouso de Sua glória, pois esse repouso está em toda a parte. 
Para serem ouvidas por Ele, nossas preces não necessitam transpor o espaço, nem serem ditas com voz retumbante porque, incessantemente penetrados por Ele, nossos pensamentos nEle repercutem. 
Entre Ele e nós a distância foi suprimida: já compreendemos isto e este pensamento, quando a Ele nos dirigimos, aumenta a nossa confiança, porque não podemos dizer que Deus esteja muito longe e seja muito grande para se ocupar de nós. Deus existe. 
Não poderíamos duvidar. 
É infinitamente justo e bom. 
E Sua essência, Sua solicitude se estende a tudo: também compreendemos isto. 
Ninguém está abandonado. 
Ninguém deixa de receber Seus cuidados de Pai amoroso.
Incessantemente em contato com Ele, podemos orar com a certeza de sermos ouvidos. 
Ele não pode querer senão o nosso bem. 
Por isso, devemos nEle ter confiança: eis o essencial. 
Para o resto, esperemos que sejamos dignos de compreendê-lO. 
Amadureçamos um pouco mais. 
Deixemos a arrogância derreter através do conhecimento e da humildade diante Dessa Inteligência Suprema.
Espiritualizemo-nos. 
Sensibilizemo-nos. 
Apaixonemo-nos pela vida, e veremos que a compreensão de Deus virá naturalmente com os dias. 
* * * 
Hoje encontrei Deus no sorriso de minha filha. 
Porém, o gesto espontâneo e luminoso não foi para mim, foi para um estranho, alguém que ela nunca havia visto antes, sentado à mesa ao lado, com o olhar distante e triste. 
Pude ver o Criador nos olhos dela. 
Ela acenou, como se quisesse perguntar: 
-“Está tudo bem com você?” 
Em seguida lhe jogou um beijo, espontaneamente.
Certamente ele não estava bem... 
E Deus sabia. 
No mesmo instante – instante mágico, a Divindade amorosa encontrou na mesa mais próxima um sorriso amigo, uma pequena lamparina para acender na vida daquele filho desanimado – que então sorriu, e também acenou de volta.
Hoje encontrei Deus no sorriso de minha filha... 
Mas o sorriso não foi para mim, foi para a dor do mundo, que ainda lateja incômoda por aí. 
E, sem perceber, aquele sorrir também me fez um pouco mais feliz. 
Pensando bem, acho que Ele também sorriu para mim. 
E agora sorri para você. 
Deus irradia sorrisos. 
Redação do Momento Espírita, com base em Haikai (curto poema japonês); no poema Deus no sorriso de minha filha, de Andrey Cechelero, e em trecho da Revista Espírita, de Allan Kardec, de maio de 1866, ed. FEB.
Em 30.10.2015.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

MEU PRÓXIMO, MEU IRMÃO!

Conta-se que um monge e seus discípulos iam por uma estrada e, ao cruzarem uma ponte sobre um rio, perceberam um escorpião sendo arrastado pela correnteza. 
Mais do que depressa, o monge entrou na água e apanhou o animalzinho, que estava na iminência de se afogar.
Entretanto, ao tentar retirá-lo da água, o escorpião picou o monge e, devido à dor, este o deixou cair novamente no rio.
Sem desanimar, o monge correu até a margem, tomou um galho de árvore e novamente entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. 
Em seguida, juntou-se novamente aos discípulos, os quais haviam acompanhado tudo e agora olhavam para o monge, assustados e perplexos. 
Um dos discípulos, exteriorizando a curiosidade de todo o grupo, exclamou: 
-Mestre, deve estar doendo muito! 
-Sim, está, redarguiu o mestre, comedido como sempre.
Indignado, prosseguiu o aprendiz: 
-Então, por que o senhor retornou para salvar esse bicho ruim e venenoso? Deixasse que ele se afogasse! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão! 
O mestre, sereno e brando, olhando para o grupo afirmou: 
-O escorpião agiu conforme a natureza dele e eu de acordo com a minha. 
* * * 
Desde que nascemos, todos somos incluídos na sociedade, criamos laços familiares e, aos poucos, vamos assumindo nossos papéis sociais. 
Somos pais, filhos, irmãos, tios, primos, sobrinhos. 
E também patrões, empregados, voluntários, prestadores de serviço, profissionais liberais. 
Nem sempre tais relações são livres de desavenças, discórdias, mágoas, decepções. 
Aqueles que buscamos exercer o convívio social, de forma profícua, muitas vezes caímos na cilada de querer que o outro se modifique conforme nossa própria maneira de compreender o mundo. 
Esperamos que, para o bem da relação, o outro faça os devidos ajustes morais, pois é ele quem permanece no erro.
Esperamos sempre que o próximo se modifique, para que, dessa forma, talvez nós possamos fazer alguns ajustes.
Entretanto, devemos nos lembrar de que todos nós somos Espíritos imortais em busca da elevação intelecto-moral. 
Os erros que apontamos no outro, com tanta veemência, podem estar, de forma ainda mais acentuada, gravados em nós e, por isso, temos tanta facilidade para os detectar no próximo. 
Ademais, somos todos caminheiros do progresso e temos nossas parcelas de erros e de acertos. 
Aquele que ora nos fere e que nosso coração custa a perdoar, é tão passível de se equivocar quanto nós. 
Cada um age de acordo com seus preceitos morais. 
A única certeza que temos é que não somos os donos da verdade. 
Antes, estamos em sua busca através de Jesus, que teve a oportunidade de dizer: 
-Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. 
Na dúvida, procuremos seguir as recomendações do Cristo, que nos sugere que não julguemos o nosso próximo, que perdoemos setenta vezes sete vezes, que oremos e que vigiemos - não o outro, mas a nós mesmos. 
Redação do Momento Espírita, com conto inicial de autoria ignorada. 
Em 12.3.2013.