sábado, 18 de maio de 2024

EU OS AMEI O SUFICIENTE

Carlos Hecktheuer
Meus filhos, um dia, quando vocês forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de lhes dizer: 
Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão. 
Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia. 
Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram da mercearia e os fazer dizer ao dono: “Nós roubamos isto ontem e queríamos pagar.” 
Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês por uma hora, enquanto limpavam o seu quarto; tarefa que eu teria realizado em quinze minutos. 
Eu os amei o suficiente para os deixar ver, além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos. 
Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as consequências eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso.
Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. 
Estou contente... 
Venci... porque no final vocês venceram também! 
E, qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, meus filhos vão lhes dizer quando eles lhes perguntarem se a sua mãe era má: “Sim... nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo. "
As outras crianças comiam doces no café da manhã e nós tínhamos de comer pão, queijo, leite. 
As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos de comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. 
Ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães, que deixavam os filhos comer vendo televisão. 
Ela insistia em saber onde nós estávamos a toda hora. 
Era quase uma prisão. 
Mamãe tinha que saber quem eram os nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos quando íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos. 
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis de trabalho infantil. 
Nós tínhamos de lavar a louça, fazer as camas, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o pó do chão, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. 
Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. 
Ela insistia sempre conosco para lhe dizer a verdade, e apenas a verdade. 
E quando éramos adolescentes, ela até conseguia ler os nossos pensamentos. 
A nossa vida era mesmo chata. 
Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que nós saíssemos. 
Tinham de subir, bater na porta para ela os conhecer.
Enquanto todos podiam sair à noite com doze, treze anos, nós tivemos de esperar pelos dezesseis. 
Nossos amigos dirigiam o carro dos pais, mesmo sem ter habilitação, mas nós tivemos que esperar os dezoito anos para aprender, como pede a lei. 
Por causa da nossa mãe, nós perdemos muitas experiências da adolescência. 
Nenhum de nós esteve envolvido em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. 
Foi tudo por causa dela. 
Agora já saímos de casa. 
Somos adultos, honestos e educados, e estamos fazendo o possível para ser, também, ‘pais maus’, tal como a nossa mãe. 
Achamos que este é um dos males do mundo de hoje: não há suficientes mães más como a nossa mãe o foi... 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria de Carlos Hecktheuer. Disponível no CD Momento Espírita, Coletânea v. 8 e 9 e no livro Momento Espírita, v. 4, ambos ed. FEP. 
Em 18.5.2024

sexta-feira, 17 de maio de 2024

LUZES DO AMANHECER

Conserva contigo os companheiros idosos, com a alegria de quem recebeu da vida o honroso encargo de reter, junto ao coração, as luzes do próprio grupo familiar. 
Pensa naqueles que te preservaram, quando jovens, a existência frágil, nos panos do berço. 
Naqueles que atravessaram noites em claro, simplesmente para te velar o sono febril. 
Reflete nos que te equilibraram os primeiros passos, enquanto tentavas andar sozinho. 
Todas as vezes que caíste, eles te ergueram, sem reclamar de dores nas costas, por terem que se agachar quase até o chão, porque eras tão pequenino... 
Recorda os que te afagaram os sonhos da meninice, que sorriram com as tuas primeiras conquistas, que sempre estiveram presentes nas festas de aniversário, nos encerramentos escolares, nas peças de teatro em que figuravas. 
Quando chegavas em casa tristonho, insatisfeito com o resultado da disputa do jogo de futebol entre colegas, sempre tiveram uma palavra de consolo e um colo amigo. 
Já que eles atravessaram o caminho de muitos janeiros, pensa no heroísmo silencioso com que te ensinaram a valorizar os tesouros do tempo. 
Medita nas dificuldades que terão vencido para serem quem são. 
Também foram adolescentes, jovens. 
Tiveram sonhos... 
Pensa no suor que lhes alterou as linhas da face. 
Suor das tantas tarefas profissionais e no lar. 
Tantas tarefas para que não te faltasse o teto, o pão, o abrigo e o carinho. 
Pensa nas lágrimas que lhes alvejaram os cabelos. 
Muitas delas ocasionadas por tua rebeldia de criança que teimava em não amadurecer. 
Quando, hoje, porventura, te mostrem azedume ou desencanto, escuta-lhes a palavra com bondade e paciência.
Não estarão te ferindo. 
Provavelmente estão murmurando contra dolorosas recordações de ofensas recebidas, que trancam no peito, a fim de não complicarem os dias dos seres que lhes são tão especialmente queridos. 
Ama e respeita os companheiros idosos! 
Eles são as vigas que te escoram o teto da experiência para seres o que és. 
Auxilia os idosos, quanto puderes, porquanto é possível que, no dia-a-dia da existência humana, venhas igualmente a conhecer o brilho e a sombra que assinalam no mundo, a hora do entardecer. 
* * * 
Exercita a gentileza e a gratidão para com todas as pessoas, especialmente os idosos. 
A velhice é uma fase que alcançarás, com certeza, caso a morte não te arrebate o corpo antes. 
Pode parecer cansativa a presença do idoso. 
Ele, porém, é rico da experiência que te pode brindar, mas também é carente dos recursos que lhe podes oferecer.
Redação do Momento Espírita, a partir da mensagem Luzes do entardecer, pelo Espírito Meimei, psicografia de Francisco Cândido Xavier e do cap. XXIX, do livro Vida feliz, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 6.8.2012.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

OLHEMOS OS PÉS

É comum quando nos deparamos com alguém, pela primeira vez, fazermos um julgamento apressado. 
Pode ser alguém que nos é apresentado num evento social, no templo religioso ou no ambiente de trabalho. 
Analisamos sua roupa, sua expressão corporal, sua maneira de se comunicar, o vocabulário de que se utiliza. 
Em poucos minutos, concluímos nossa análise e temos pronto o julgamento. 
Por vezes, na fila do supermercado ou enquanto aguardamos o atendimento em uma loja, observamos as pessoas e emitimos nosso juízo. 
Julgamos seu modo de vestir, a forma como prendem ou mantêm soltos os cabelos. 
Até mesmo o estilo de seus acessórios.
O olhar rápido nos é suficiente para efetuarmos nossa análise e tirarmos conclusões.
Não raro, julgamos de maneira severa, rigorosa, quando não desrespeitosa e irônica. 
Temos essa capacidade de fazer isso com poucos minutos de contato superficial e pontual. 
Porém, ao analisarmos alguém, prestamos atenção, alguma vez, nos pés dessa pessoa? 
Não nos referimos ao seu calçado, se está na moda, se nos agrada ou não, se está bem conservado ou já gasto.
Referimo-nos aos pés que a sustentam, que a mantêm ereta.
Seria interessante olhar para eles e tentar avaliar quantos caminhos já percorreram. 
Quantas estradas difíceis foram vencidas, quantos milhares de passos foram dados para o trabalho, para a instituição de ensino, para o lar.
Observamos alguém não nos lembrando que essa criatura tem uma história de vida, que pode ser complexa e desafiadora. 
Portanto, antes de tirarmos conclusões sobre qualquer pessoa, atentemos para seus pés, descalços ou calçados.
Talvez esses pés tenham percorrido caminhos inseguros de um lar desestruturado na infância, ou podem ter andado pelas estradas difíceis da dependência alcoólica ou química. 
Antes de julgar o colega de trabalho, que se mostra intransigente e irritadiço, imaginemos por quais estradas terá ele transitado, quais dificuldades terá enfrentado para se colocar nessa situação. 
É possível que o lar lhe exija demasiado nos compromissos com o cônjuge difícil, ou com filhos indiferentes e viciosos.
Pode ser que os caminhos que o trouxeram até este momento o tenham levado a assumir compromissos financeiros elevados, que lhe corroem o humor e a paciência. 
Todos temos uma história que construímos no tempo. 
É o resultado dos caminhos bons ou ruins que percorremos.
Bem verdade que algumas das nossas opções podem ter sido equivocadas e imaturas. 
De qualquer forma, antes de julgarmos, pensemos que os caminhos do outro podem ter sido pedregosos ou lamacentos.
Lembremos que nós também temos nossas dificuldades e limitações que se refletem em nossa maneira de ser. 
Nossos pés podem ter percorrido caminhos errados e tortuosos. 
Portanto, antes de julgarmos, olhemos os pés de quem observamos e tenhamos compaixão. 
Talvez, eles estejam sangrando, pelo longo percurso entre espinhos. 
Menos julgamentos e mais vontade de compreender, auxiliar e aceitar nosso próximo. 
Redação do Momento Espírita
Em 16.5.2024.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

SÃO CHEGADOS OS TEMPOS

São chegados os tempos em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da Humanidade. 
Para os incrédulos, nenhuma importância têm essas palavras proféticas. 
Aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença sem fundamento. 
Para a maioria dos religiosos, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da natureza. 
Ambas as interpretações estão equivocadas. 
A primeira, porque envolve uma negação da Providência. 
A segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da natureza, mas o cumprimento dessas leis. 
Tudo na Criação é harmonia. 
Tudo revela uma previdência que não se desmente, nem nas menores, nem nas maiores coisas. 
Por isso, é equivocada toda ideia de capricho divino, por inconciliável com a Sua sabedoria infinita. 
Se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que elas têm uma razão de ser na marcha do conjunto. 
O nosso globo, como tudo que existe, está submetido à lei do progresso. 
Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem. 
Moralmente, pelo aprimoramento dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. 
O primeiro aspecto é relativamente fácil de ser observado.
Basta perceber os fenômenos geológicos que continuam acontecendo em todos os cantos do planeta. 
O segundo aspecto, o que nos fala de uma evolução moral dos seres imortais que somos, talvez seja aquele que mais gere controvérsias. 
Ainda existe um grande número de observadores, de estudiosos que não acreditam no melhoramento da Humanidade. 
Alguns, inclusive, sequer admitem que o ser humano, em si, possa se transformar. 
Falta-lhes uma visão mais ampla, em termos de espiritualidade. 
Moralmente a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. 
A inteligência se desenvolve e esse desenvolvimento do intelecto proporciona um discernimento mais apurado, quando a razão madura nos faz optar pelas melhores escolhas.
Obviamente, isso não se dá de imediato. 
Continuamos a ter inteligências mal aproveitadas ou a serviço de nossos vícios morais. 
No entanto, tudo tem seu limite. 
As leis maiores promovem seu basta, o que nos permite ver, aqui e ali, brotarem as iniciativas do bem, da consciência, para se instalarem em definitivo. 
São os sinais dos tempos, que nos dizem que está absolutamente correta a expressão: São chegados os tempos. 
Vivemos o momento do despertar da consciência, do senso moral. 
Como toda revolução, essa também incomoda aqueles que desejam se manter onde estão, os que dominam pela força e cujas viciações os mantêm em condições comodistas. 
Toda mudança exige esforço e paciência. 
Não é uma mudança de fora para dentro. 
Não é um cataclismo que inaugurará o mundo novo. 
O mundo novo surgirá quando cada um de nós, em nossa família, em nossa comunidade, junto aos nossos, decidir que é o momento de mudar. 
São chegados os tempos. 
Vamos viver juntos um novo mundo? 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XVIII, item 1, do livro A Gênese, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 15.05.2024

terça-feira, 14 de maio de 2024

UM MINUTO APENAS

Suely Caldas Schubert
Lúcia era uma mulher feliz. 
Como poucas, acreditava. 
Casada com o homem por quem se apaixonara nos verdes anos da adolescência, vivia o sonho da mulher realizada. 
Um filho lhe viera coroar a felicidade. 
Que mais ela poderia desejar? 
Acordava pela manhã e saudava o dia cantarolando. 
Com alegria realizava as tarefas do lar, cuidava do filho, aguardava o marido. 
Tudo ia muito bem. 
Até o dia em que descobriu que o homem que tanto amava, a traía. 
E não era de agora. 
O problema vinha tomando corpo de algum tempo. 
Magoada, se dirigiu ao marido. 
Exigiu-lhe e falou-lhe de respeito. 
A resposta foi brutal, violenta. 
O homem encantador tornou-se raivoso, briguento. 
Chegou a bater-lhe. 
Foi nesse dia que Lúcia teve a certeza de que seu casamento acabara. 
Era o cúmulo. 
Não poderia prosseguir a viver com alguém que chegara à agressão física. 
Então, acordou na manhã de tristeza, depois de uma noite de angústia e tomou uma séria decisão. 
Iria se matar. 
Acabar com a própria vida. 
Mais do que isto. 
Ela desejava vingança. 
Por isto, tomou o filho de quatro anos pela mão e decidiu que o mataria. 
Queria que o marido ficasse com drama de consciência. 
Seu destino era o Farol da Barra, na cidade de Salvador, na Bahia, onde residia. 
Ela sabia que era um local onde o mar batia com violência no penhasco. 
A rua por onde transitava era movimentada. 
Muitos carros. 
Enquanto aguardava para atravessar a rua, a criança lhe escapou das mãos e correu, entre os carros. 
Ela se desesperou. 
Estranho paradoxo. 
Conduzia a criança pela mão e tencionava jogá-la do penhasco ao mar para que morresse. 
Mas, quando a vê correr perigo, esquecida de si mesma, vai-lhe ao encontro, agarra-o, até um pouco raivosa. 
Puxa-­o pela mão. 
Neste momento, a criança se abaixa, alheia a tudo que se passava, e recolhe do chão um papel. 
Lúcia o arranca das mãos do pequeno e um título, em letras grandes, lhe chama a atenção: Um minuto apenas.
Ela lê:
Num minuto apenas, a tormenta acalma, a dor passa, o ausente chega. O dinheiro muda de mão, o amor parte, a vida muda.
Vai andando, puxando a criança e lendo a página. 
Era uma página mediúnica que vinha assinada por um Espírito. 
Ela terminou de ler. 
Passou o ímpeto. 
Em um minuto. 
Parou, olhou ao redor e verificou que tinha chegado ao seu destino. 
O penhasco estava próximo. 
Sentou-se e teve uma crise de choro. 
O impulso de se matar havia desaparecido. 
Tornou a ler a mensagem. 
Ela se recordou de um senhor que era espírita e trabalhava no Banco, no mesmo onde seu marido trabalhava. 
Foi para casa. 
Lembrou que um dia, jantando em casa dele, ele falara algo sobre Espiritismo. 
Algo que ela e o marido, por terem outra formação religiosa, rechaçaram de imediato. 
Ela lhe telefonou, pediu-lhe orientação e ele a encaminhou a um Centro Espírita. 
Atendida por companheiro dedicado, que lhe ouviu os gritos da alma aflita, passou a buscar na oração sincera, na leitura nobre, no passe reconfortante, as necessárias forças para superar a crise.
O marido, notando-lhe a mudança, a calma, no transcorrer dos dias, a seguiu em uma das suas saídas do lar.
Desconfiado, adentrou ele também à Casa Espírita. 
Para descobrir uma fonte de consolo e esclarecimento. 
Hoje, ambos trabalham na seara espírita. 
Reconstituíram sua vida, refizeram-se. 
Os anos rolaram. 
O garoto é um adolescente e mais dois filhos se somaram a ele. 
* * * 
Mudança de rumo. 
A vida muda. 
Em um minuto apenas. 
Em um minuto apenas Deus providencia o socorro. 
Pode ser um coração atento, uma mão amiga ou um pedaço de papel impresso caído na calçada. 
Papel que o vento não levou para longe. 
Um minuto apenas e o amor volta. 
A esperança renasce. 
Um minuto apenas e o sol rompe as nuvens, clareando tudo.
Não se desespere. 
Espere. 
Um minuto apenas. 
O socorro chega. 
O panorama se modifica. 
A vida refloresce. 
Tenha paciência. 
Não se entregue à desesperança. 
Aguarde. 
Enquanto você sofre, Deus providencia o auxílio. 
Aguarde. 
Um minuto apenas. 
Sessenta segundos. 
Uma vida.
Um minuto a mais... 
* * * 
Em um minuto apenas, a Misericórdia Divina se derrama, cheia de bênçãos, nas vielas escuras dos passos humanos.
Corrige, saneia, repara, transformando-as em estradas luminosas no rumo da Vida Maior. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 24, do livro O semeador de estrelas, de Suely Caldas Schubert, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 1 e no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. 
Em 14.5.2024.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

A LUZ EM NOSSAS VIDAS

RAUL TEIXEIRA
Foi um sonho, há muito tempo acalentado, esse de o homem poder viver num ambiente iluminado. 
Em 1828, Thomas Alva Edison conseguiu, pela primeira vez, a lâmpada elétrica de filamento. 
A partir desse momento, tudo se modificou na sociedade.
Cinquenta anos depois, Joseph Swan patenteou a lâmpada incandescente, que passou a ser industrializada. 
É inconcebível hoje, para nossa mentalidade, um mundo sem luz elétrica. 
Ficamos a pensar no que seria uma casa iluminada por tochas, por candelabros, por velas. 
Pode ser muito romântico um jantar à luz de velas. 
Contudo, viver uma vida inteira tendo que ler, fazer os serviços domésticos, tratar de doentes, costurar utilizando-se de velas, de tochas, de lampiões, de lamparinas...
Inconcebível! 
A própria natureza nos fala da importância da luz porque nos dá, ao longo do dia, o brilho solar. 
Quando estamos vivendo sob o brilho do sol, complicado pensar na noite escura. 
Quando estamos refletindo sobre a noite escura, temos a oportunidade de pensar no brilho do luar e nos beijos cintilantes das estrelas. 
A luz é, em verdade, a grande mensagem do Criador diante das trevas que ainda empanam a vida humana. 
Diz o Velho Testamento, no livro do Gênesis: 
-E o senhor fez a luz. 
Faça-se a luz. 
Fiat lux. 
E a luz se fez. 
E Jesus de Nazaré afirmou sem rebuços: 
-Eu sou a luz do mundo. Aquele que andar em mim, jamais conhecerá as trevas. 
Naturalmente que a luz de que falava Jesus Cristo não era uma luz física. 
Ele falava de uma luz mental, de uma claridade espiritual, de algo que Ele viera trazer ao mundo para nos retirar das nossas sombras. 
Sombras de ignorância, noites de maldade, escuridão dos tormentos. 
Então, Ele veio como um astro do dia, uma estrela de primeira magnitude, com essa coragem de dizer, em pleno período das sombras: 
-Eu sou a luz do mundo. 
Mas o Homem de Nazaré ainda propôs que nós também trabalhássemos por desenvolver a nossa própria claridade:
-Brilhe a vossa luz. 
Jesus propõe que façamos brilhar a nossa própria luz, porque somos lucigênitos. 
Fomos criados, gerados pela luz de Deus. 
Esse é um convite para que trabalhemos o quanto nos seja possível para sairmos das trevas do não saber, do não sentir, do não amar, do não viver. 
Em outro momento, asseverou o Celeste Amigo: 
-Quando os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz.
Os nossos olhos bons não são os olhos da face. 
É a nossa maneira de ver as coisas, nossa visão de mundo, nosso olhar sobre as pessoas. 
Na medida em que formos misericordiosos, atenciosos, fraternos para com os outros e seus problemas, é natural que estaremos evoluindo, crescendo na direção do Altíssimo. 
Todo o nosso ser espiritual, o nosso corpo espiritual, nosso corpo astral brilhará: 
-Todo o teu corpo terá luz. 
Todos os grandes gênios espirituais do mundo valorizaram a luz. 
Não é à toa que Siddhartha Gautama, o grande Buda, é chamado a Luz da Ásia. 
Por isso, quando Jesus afirma ser a Luz do Mundo, Ele ultrapassa as dimensões de todas as Terras, de todos os seres e se mostra de fato como a Luz, Modelo e Guia para todos nós. 
Redação do Momento Espírita, com base no programa televisivo Vida e Valores – A luz elétrica, gravado por Raul Teixeira, em agosto de 2009, no Teatro da Federação Espírita do Paraná. Disponível no CD Momento Espírita, v. 24, ed. FEP

domingo, 12 de maio de 2024

DUAS MÃES

MARIA E ISABEL
Narra o Evangelista Lucas que um anjo do Senhor foi enviado a uma cidade da Galileia chamada Nazaré. 
Sua missão era transmitir um recado muito importante. 
Entrou em casa de uma jovem chamada Maria e a saudou, apresentando-se: 
-Sou Gabriel, um dos mensageiros de Yaweh. Venho confirmar-te o que Teu coração aguarda, de há muito. Teu seio abrigará a glória de Israel. Conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado filho do altíssimo e o seu reino não terá fim. 
O Mensageiro Celeste ainda lhe disse que sua prima Isabel se encontrava grávida, alcançando já o sexto mês de gestação. 
E Maria foi ao encontro dela, que habitava uma cidade da Judeia. 
O encontro de ambas é comovente. 
Isabel, ao ver sua prima à porta do jardim, corre-lhe ao encontro e a saúda. 
-Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. E donde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
E explica que, tão logo a voz de Maria cumprimentando-a, à distância, chegou aos seus ouvidos, o menino exultou de alegria em seu ventre. 
Duas mulheres. 
Duas mães. 
Isabel deu à luz a João, o arauto do Senhor. 
Depois de lhe ter acompanhado a infância, a adolescência, a juventude, o viu buscar as estradas do mundo. 
Ela sabia, desde o anúncio espiritual a seu marido, no templo, que seu filho nasceria para ser aquele que aplainaria as veredas do Senhor. 
Ele iria à frente, anunciando a chegada do Reino de Deus e que o Rei já se encontrava entre os homens. 
Terá sabido das tantas coisas que se diziam a respeito dele?
Louco, lunático, ermitão. 
Quantos lhe terão rido nas ruas, apontando-a como a mãe do estranho homem que se vestia com pele de animal e trazia cabelos e barba crescidos... 
Terá sabido da sua prisão, da morte por degola? 
Terá sabido de que aquela cabeça, que ela tantas vezes acarinhara, retendo-a tão próxima do seu colo, foi oferecida, em uma salva de prata, como prêmio a uma mulher alucinada pela vingança? 
E Maria? 
Ao afirmar ao Mensageiro Celeste que tudo nela se cumprisse, conforme ele anunciava, tinha plena consciência de todas as dores que a alcançariam. 
Viúva, ela viu o filho sair de casa para cumprir a Sua missão.
Um filho sempre contestado, perseguido e, por fim, supliciado da forma mais torpe. 
Crucificado como um celerado, quando Ele nada mais fizera que semear estrelas de amor nos corações. 
Maria e Isabel. 
Duas mães que bem souberam cumprir sua missão. 
Deram à luz a filhos cujas missões não desconheciam elas, desde o princípio. 
E, despojadas de egoísmo, os viram partir, sofrendo à distância, pelas notícias inquietantes. 
Duas mães que nos levam a meditar profundamente na missão da maternidade. 
Gerar filhos, educá-los, entregá-los ao mundo para realizarem as grandes reformas do pensamento, da ciência, das artes.
Pensemos nisso nesses tempos de transição do mundo.
Redação do Momento Espírita. 
Em 3.5.2024.